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Lei Anticorrupção - 12.

846/2013 – Propostas de alterações que possam


melhorar o combate à corrupção no Brasil.

A corrupção não é um problema localizado, mas uma questão global, com


negativos reflexos na Democracia e na Administração Pública em todos os
quadrantes, consoante revelam as convenções contra a corrupção,
especialmente a Convenção da Organização das Nações Unidas Contra a
Corrupção e a Convenção da Organização para o Comércio e o
Desenvolvimento Econômico, essa última, fonte do compromisso assumido
pelo Brasil junto à OCDE, de legislar contra a corrupção cometida por
funcionário público estrangeiro em transação comercial internacional, que levou
o País em 2002 a reformar o seu Código Penal, e em 2013 a criar a Lei
Anticorrupção Empresarial – Lei 12.046/2013.

A Lei Anticorrupção é originária do Projeto de Lei nº 6.826, de 2010,


apresentado à Câmara dos Deputados no Governo Lula, no âmbito de
compromissos assumidos pelo Brasil com organismos internacionais como a
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE, no
sentido de instituir no país leis antissuborno e anticorrupção.

Ela é instituidora no sistema jurídico brasileiro da responsabilidade objetiva da


pessoa jurídica, em razão da prática de atos lesivos à administração pública,
nacional e estrangeira.

A lei anticorrupção foi recebida com críticas por algumas razões, entre elas que
a lei é imprecisa e pode ser interpretada de maneira diferente, resultando em
julgamentos inconsistentes. E a escolha de um modelo de acordo de leniência
que não estimula a apuração e a punição da corrupção.

O acordo de leniência, previsto na Lei 12.846/2013, deve-se submeter às


críticas da doutrina. Isso porque não há previsão da participação do Ministério
Público; as hipóteses do artigo 17 não se compatibilizam com a natureza do
instituto; e as pessoas físicas envolvidas com a prática dos atos lesivos não
são alcançadas pela avença, o que frustra as suas finalidades e inibe os seus
efeitos práticos.
O acordo de leniência pressupõe um comportamento caracterizado por uma
relação de concordância, de colaboração entre os interessados, que ao
firmarem a avença apresentam-se dispostos à consecução de fins comuns,
protegendo e preservando, de outra parte, os seus próprios interesses
(BERTONCINI, 2014, p. 189).

A ausência de previsão de participação do Ministério Público como autor ou


fiscal do acordo, e a não extensão dos efeitos da avença às pessoas físicas
responsáveis pelos estratagemas que produziram os atos lesivos descritos no
art. 5º da lei. A ausência do Ministério Público deixa a cargo da autoridade
máxima de cada órgão ou entidade, a celebração e a fiscalização do acordo de
leniência, as mesmas autoridades que, muitas vezes, são responsáveis pelos
atos de corrupção, por deter as competências para deflagrar e homologar as
licitações e celebrar os contratos administrativos

Há o interesse comum do Poder Público e da pessoa jurídica proponente do


acordo de leniência, na elucidação do ato lesivo à administração pública
nacional ou estrangeira. A administração pública, preservando o interesse
público, descobre quem são os envolvidos na prática dos ilícitos o que permite
a responsabilização dos autores e beneficiários da infração. De outro lado, os
interessados também protegem os seus próprios interesses, a pessoa jurídica
proponente obtém os favores legais aplicáveis ao colaborador, consistentes na
isenção ou na redução das penalidades que lhe seriam aplicáveis no processo
administrativo e no processo judicial.

De acordo com Betoncini (2015, p. 05) as infrações administrativas definidas


dizem respeito a fatos certos – tais como, atraso injustificado na execução do
contrato, inexecução total ou parcial do contrato, condenação definitiva por
fraude fiscal, prática de ilícitos etc. – e à autoria conhecida, não havendo a
necessidade de “identificação dos envolvidos” ou da “obtenção célere de
informações e documentos”, fins precípuos do acordo de leniência. Em outras
palavras, não há qualquer justificativa para a celebração de acordo de leniência
nas hipóteses previstas no aludido dispositivo. O acordo de leniência tem
natureza de perdão administrativo ou de atenuante isentando ou reduzindo as
sanções administrativas aplicáveis à empresa contratada que descumprir o
contrato administrativo, imunizando-a no processo administrativo da Lei
8.666/1993, o que apenas contribui e estimula a inadimplência de empresas,
em detrimento do interesse público, prestigiando-se a ineficiência e a
corrupção.

Com relação a críticas de que a lei gera insegurança jurídica, e pode ser
interpretada de maneiras diferentes, resultando em julgamentos inconsistentes.
A responsabilidade pela prática de ilícitos em empresas deve ser dos
executivos, não da companhia em si. Basílio (2019) afirma que se as empresas
forem severamente punidas, haverá uma catástrofe financeira.

O ministro do TCU Benjamim Zymler diz que o Decreto 8.420/15, que


regulamentou a Lei Anticorrupção (Lei 12.846/13), não levou em consideração
as diversas instâncias de responsabilidade pelos atos ilícitos contra a
administração pública. Isso traz insegurança jurídica, pois não impede que as
empresas que optarem pelo acordo de leniência sejam responsabilizadas e
apenadas em outros órgãos, como o próprio Tribunal de Contas da União ou a
partir de ações promovidas pelo Ministério Público.

Além disso, diz ele, ‘as vantagens da celebração do acordo de leniência para
as pessoas jurídicas podem ser esmaecidas caso o resultado do acordo seja
considerado uma confissão do ilícito a ser objeto de diferentes sanções em
outras instâncias’.

https://www.conjur.com.br/2019-set-02/lei-anticorrupcao-imprecisa-causa-
inseguranca-advogada

BERTONCINI, Mateus; COSTÓDIO FILHO, Ubirajara; SANTOS, José Anacleto


Abduch. Comentários à Lei 12.846/2013: Lei Anticorrupção. 2a ed. rev. atual. e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.

BERTONCINI, Mateus. Capítulo V - Do acordo de leniência. In: CAMBI,


Eduardo; GUARAGNI, Fábio (Coord.). Lei Anticorrupção: Comentários à Lei
12.846/2013. São Paulo: Almedina, 2014.
https://www.migalhas.com.br/depeso/332687/leniencia-anticorrupcao-e-a--in-
seguranca-juridica-na-tutela-da-moralidade-administrativa

Bachur, João Paulo; Freitas, Elísio de Azevedo. Acordos de leniência da Lei


Anticorrupção – propostas para reduzir sua insegurança jurídica. Dissertação de
Mestrado. Abr-2021. Disponível em https://repositorio.idp.edu.br//handle/123456789/3044.

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