Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Por vezes a área jurídica busca instrumentos para que gere celeridade nas ânsias populares, que se
encontram travadas devido ao inchaço do sistema judiciário e a morosidade do sistema processual. O
instituto da mediação, arbitragem, no direito empresarial e cível, e do arrolamento, na área de direito
das famílias, são exemplos da celeridade gerada por novos mecanismos jurídicos. A promulgação do
Código de Defesa do Consumidor alterou a Lei de Ação Civil Pública e incluiu a possibilidade da
utilização do Termo de Ajuste de Conduta como uma ferramenta de compromisso que a parte assume
junto aos legitimados à celebrá-lo e homologado em juízo, gerando a suspensão do processo judicial
em questão e ao finalizar suas adequações o encerramento deste.
ABSTRACT
Sometimes the legal area seeks instruments to generate speed in popular anxieties, which are blocked
due to the swelling of the judicial system and the slowness of the procedural system. The institute of
mediation, arbitration, in business and civil law, and listing, in the area of family law, are examples of
the celerity generated by new legal mechanisms. The enactment of the Consumer Defense Code
amended the Public Civil Action Law and included the possibility of using the Conduct Adjustment
Term as a commitment tool that the party assumes with those entitled to celebrate it and ratified in
court, generating the suspension of the judicial process in question and, at the end of its adjustments,
the closing thereof.
1
Graduando em Direito pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Câmpus de Franca
(Unesp – FCHS)
INTRODUÇÃO
Com o avanço de novas ferramentas para a desjudicialização da civil law, o Termo de Ajuste
de Conduta na área dos direitos difusos se transforma em mais uma ferramenta para que seja possível
a celeridade da análise dos casos que envolvem o poder público e suas autarquias frente aos
indivíduos.
Não é fato novo que o Código de Processo Civil de 2015 (“Código Fux”) buscou ideias de
diminuir as lides que chegavam ao sistema judiciário, porém já buscando essa questão o Código de
Defesa do Consumidor (1990) e a Lei de Ação Civil Pública, alterada em 2007, já propunham novas
maneiras de resolução de conflitos.
O Termo de Ajustamento de Conduta, como iniciado, busca facilitar a interação entre entes
públicos e demais forças do poder administrativos que possuem pendências jurídicas que envolvam os
direitos coletivos (meio ambiente, transporte público etc.) e aqueles que possuem lesão destes
(indivíduos). Tal questão já encontra também um panorama internacional que busca trazer as
interações multilaterais e as pessoas jurídicas privadas.
1. Direitos Coletivos
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá
ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A
defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I – interesses ou direitos difusos,
assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato; II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para
efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base; III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
entendidos os decorrentes de origem comum.” (BRASIL, Código de Defesa do
Consumidor, s.p., 1990)
Para que seja possível a compreensão do arcabouço legal apresentado, os direitos difusos (inc.
I) seriam aqueles que não se pode compreender a titularidade, ou seja, quaisquer impactos gerados
nesses não são possíveis de numeração da identificação dos atingidos. Aqueles contidos no inciso II é
possível a titularidade do grupo, categoria ou classe atingida, onde há uma relação jurídica em questão
que interliga as partes anterior a lesão.
Por fim temos os direitos individuais homogêneos (inc. III), onde a relação dos indivíduos se
encontra somente com a lesão, o objeto pode ser dividido, utilizando ações coletivas com a união da
efetividade do processo e o mesmo interesse de agir, a fase de conhecimento será conjunta e a
execução individualizada.
O Termo de Ajuste de Conduta (TAC) é uma legitimidade concedida à alguns entes na Lei de
Ação Civil Pública (LACP), alterado pelo art. 113 do Código de Defesa do Consumidor, na ideia de
pactuação entre a parte ré que gerou dano se comprometendo com a outra parte em sua total
modificação de postura perante a situação em juízo.
“Art. 113. Acrescente-se os seguintes §§ 4°, 5° e 6° ao art. 5º. da Lei n.° 7.347, de
24 de julho de 1985: [...] § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante combinações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.”
(BRASIL, Código de Defesa do Consumidor, s.p., 1990)
Aqueles que possuem legitimidade para a propositura deste termo foram alterados pela lei nº
11.448/2007, se encontrando na seguinte redação:
Por não encontrar uma contrapartida das partes, não é possível enquadrar como uma transição,
figura do direito civil, a finalização do litígio ocorre após o cumprimento das próprias metas
estipuladas no TAC. Assim sendo, como figura de findar uma ação civil pública, o termo também
demonstra o reconhecimento da falha ocorrida, ou seja, uma culpa assumida dos danos gerados, o que
seria incluído e percebido na fase de conhecimento processual.
Sua natureza jurídica é de título extrajudicial e sua assinatura do proponente e do réu o torna
título executivo. Não é necessária assinatura de duas testemunhas, porém de acordo com a formalidade
é necessário:
II – Sanções, caso ocorra seu descumprimento, e as medidas que podem ser utilizadas;
A obrigação gerada tem característica de fazer ou não fazer, via de regra, porém pode conter a
entrega de coisa (ex: entrega correta de coquetéis para soro positivos pela distribuição no SUS) ou
pagamento pecuniário (ex: pagamento de indenizações geradas devido a falta de recall por uma
fabricante de carros).
Caso haja composição da lide em que se incluam entes diversos, será aplicado benefício ao
réu, ou seja, será válida a realização do TAC pelo órgão que concorda com a propositura deste. Porém
o órgão também poderá propor ação civil pública, pois caberá assim ao judiciário a análise do termo e
o objeto compromissado.
3. Análise Jurisprudencial
De sequência, para que consigamos de maneira concreta analisar a jurisprudência atual acerca
do TAC. De início busquemos compreender que a não continuidade e conclusão do termo acabam por
gerar consequências graves no processo paralelo a este ou que possua como materialidade o
ajustamento que não foi cumprido pela parte:
2
Vide na Lei de Ação Civil Pública art. 5º : “§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte,
atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. [...] § 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação
por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.”
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE CONCESSÃO DE
TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO MUNICIPAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
DEFASAGEM DA TARIFA. PEDIDOS JULGADOS IMPROCEDENTES.
RECURSO ESPECIAL. NÃO OCORRÊNCIA DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. ÓBICES DE ADMISSIBILIDADE. SÚMULAS N. 5 E 7 DO
STJ. AGRAVO INTERNO. DECISÃO MANTIDA.
De igual forma, o papel do julgador em consonância com sua função homologatória dos
ajustamentos e sua recusa em graus superiores, do qual foi lavrado o termo. Indica tal situação que,
mesmo sendo extraoficial inter pars do termo, cabe quando há seu descumprimento, julgamento da
ação civil pública conexa:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LOTEAMENTO.
CONSTRUÇÕES. DANO AMBIENTAL. DECISÃO EXTRA E ULTRA PETITA.
CONTEXTO LÓGICO-SISTEMÁTICO DA PETIÇÃO. NECESSIDADE DE
DILAÇÃO PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES. TAC.
POSSIBILIDADE DE REANÁLISE. SUMULAS 7/STJ E 283 E 284/STF. BOA-
FÉ. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO. PEDIDOS ALTERNATIVOS OU
COMPLEMENTARES. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SUMULA
282/STF.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o intuito da proteção dos direitos coletivos e a excepcionalidade trazida na
criação do TAC, é de extrema importância que saudemos o legislador em questão com esta
ferramenta. De certo, o processo jurídico brasileiro, devido a quantidade em análise do sistema
judiciário, tornou-se moroso e tal lastro afastou o Poder Judiciário da sociedade, afinal estes possuem
prazo próprio que se torna incompreensível para a sociedade.
A garantia da justiça e seu acesso, além da própria estrutura judicial já existente e que vierem
a existir, transpassa essa ideia e se fundamenta na ideia de um Judiciário democrático de entendimento
e de atuação concreta dos casos. A figura do MP como um fiscal da justiça, nos casos em que não são
titulares da ação, mas também como “facilitador” de acordos é de extrema importância civilizatória
para totó o sistema do Estado brasileiro.
De fato é necessário uma homologação judiciária que pode ser tardia, em algumas vezes,
porém segue de extrema importância para que se torne título judicial executivo deste acordo inter
pars. Para a vigilância do cumprimento a o papel do Ministério Público, mas que se tenha uma
igualdade de armas e um termo pontualmente exequível, o Judiciário mantém sua função principal da
resolução das lides.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONAMETTI, Thiago Nemi. A eficácia da transação na solução dos conflitos coletivos. Franca: N.p.,
2011.
LOURENÇO, Haroldo. Processo Civil Sistematizado: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN
9786559640133. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559640133/.
Acesso em: 07 nov. 2022.
STJ. AgInt no AREsp 1993387/ PR, 2ª Turma STJ, rel. Min. Francisco Falcão, j. 12.09.2022
STJ. AgInt no AREsp 2040196 / SP, 2ª Turma STJ, rel. Min. Francisco Falcão, j. 15.08.2022
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de direitos coletivos e tutela coletiva de
direitos. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.