Você está na página 1de 27

Tutela do Consumidor em Juízo

Defesa do Consumidor em Juízo-


Direito Básico
 O art. 6º do CDC inclui no rol de direitos básicos do consumidor a defesa deste em
juízo quando apresenta que:

Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor:(...)

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou


reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos,
assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da


prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;
A Defesa

A tutela processual dos interesses e direitos do consumidor é garantida


pelo art. 81 e seguintes da lei consumerista. Através destes dispositivos
o(s) consumidor(es) pode(m) se proteger processualmente.

A defesa dos interesses do consumidor pode ser exercida de duas


maneiras: individualmente ou coletivamente, conforme determina o caput
do art. 81:

Art. 81, caput, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores
e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
A Defesa Individual

 O CDC dá maior ênfase a defesa coletiva dos interesses do


consumidor em juízo.
 Se analisarmos o custo das ações frente a demandas de baixo
valor agregado, muitos consumidores se sentiriam
desencorajados a pleitear reparação de seus direitos em juízo.
Dispositivos que tratam especificamente da defesa
individual

Art. 101, I do CDC - competência do domicílio do autor


A competência para o ajuizamento da ação para apurar a responsabilidade do
fornecedor pelos danos causados em ação judicial individual pode ser a do domicílio
do autor;

Art. 101, II do CDC - vedação de denunciação da lide


O fornecedor de produtos e serviços que for réu na ação de responsabilidade pode
chamar ao processo seu segurador (chamamento ao processo) e não denunciá-lo à
lide. Isso amplia a garantia do consumidor de ver seus danos reparados e não retarda
o feito;

Arts. 97 e 103, §3º do CDC - liquidação e execução individual das sentenças


condenatórias proferidas nas ações coletivas.
A Defesa Individual

Vale ressaltar registrar que a defesa dos interesses individuais do


consumidor, quando apreciados pelo Poder Judiciário, exige a
aplicação subsidiária da lei processual Civil.

Em se tratando de causas de menor complexidade, podem ser


ajuizadas nos Juizados Especiais Cíveis.
A Defesa Coletiva

O título III, denominado "Da defesa do consumidor em juízo" enfoca a


proteção / defesa processual dos interesses coletivos divididos em difusos,
coletivos e individuais homogêneos.

A sociedade de consumo massificou as relações jurídicas e por isso o CDC


prevê com maior ênfase a proteção desses direitos.

A defesa dos interesses metaindividuais ganhou ênfase com a redação do art.


129, III e §1º, que estabelece que o Ministério Público e determinados entes
têm a função de promover ação civil pública para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.
A Defesa Coletiva

 A defesa dos interesses metaindividuais torna-se completa


principalmente através de duas importantes normas
infraconstitucionais:
 Lei 7.347/85 - Lei da Ação Civil Pública

 Lei 8.078/90 - Código de Defesa do Consumidor.


A Defesa Coletiva

Contudo surge um questionamento: qual a ligação entre as ações


coletivas dispostas pelo CDC e as ações civis públicas tratadas
pela Lei da Ação Civil Pública?

Ambas se ligam pelo objeto, pois objetivam a tutela dos direitos


difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Interesses e/ ou direitos

O legislador gerou certa confusão quando dispôs no caput do


art. 81 "interesses e direitos" e nos incisos deste mesmo
dispositivo "interesses ou direitos".

Contudo, interesses e direitos são palavras sinônimas, pois no


contexto da norma significam pretensão fundada em um direito
subjetivo, consumindo qualquer confusão.
Direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos
Art. 81, parágrafo único, CDC. A defesa coletiva será exercida quando se
tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste


código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular
grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os


decorrentes de origem comum.
Direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos

Moradores de uma região em questão ambiental  int. difusos


Contrato de adesão com cláusula nula  int. coletivos
Veículos produzidos em série com defeito  int. indiv. homog.
As ações judiciais

 Art. 83, CDC. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por
este Código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de
propiciar sua adequada e efetiva
 Tal dispositivo garante que todas as espécies de ações
(conhecimento, cautelar e executória) podem ser interpostas para a
defesa dos interesses individuais e coletivos dos consumidores. Ele
apenas corrobora com o que já determinava a CR/88 no art.5º.
XXXV - "A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça ao direito" - e aos acima mencionados incisos VI e
VII do art.6º do CDC.
Legitimidade Ativa – Ações Coletivas
Art. 82, CDC. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são
legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público;

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou


indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e


que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e
direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear.
Legitimidade Ativa – Ações
Coletivas
Assim, a Lei 8.078/90 concede, através do art. 82, legitimidade para
o Ministério Público, União, Estados, Municípios, Distrito Federal,
entidades e órgãos da Administração Pública e associações, para
exercerem a defesa coletiva dos consumidores.

A Lei 7.347/85 também indica os legitimados para a propositura de


ação civil pública (ação coletiva) através do art. 5º.

Estes dois dispositivos (art. 82 da Lei 8.078/90 e art. 5º da Lei


7.347/85) se complementam em prol do consumidor, pois
demonstram de forma exaustiva quem são as pessoas e entes
legitimados para a defesa dos interesses metaindividuais.
Classificação da legitimidade ativa para a
defesa coletiva

Concorrente: a todas as pessoas e entes dispostos nos arts. 82 da


Lei 8.078/90 e 5º da Lei 7.347/85 é permitido o ingresso de ação
coletiva, sem que haja exclusividade.

Disjuntiva: as pessoas e entes dispostos nos arts. 82 da Lei


8.078/90 e 5º da Lei 7.347/85 podem ingressar em juízo sozinhos
sem a necessidade de autorização dos demais ou formação de
litisconsórcio
Classificação da legitimidade ativa para a
defesa coletiva

- No que tange ao bem tutelado existe uma certa divergência


doutrinária. Para a maioria dos doutrinadores a legitimidade das
pessoas e entes dispostos nos arts. 82 da Lei 8.078/90 e 5º da Lei
7.347/85 é apenas autônoma, pois defendem interesses
metaindividuais (indivisíveis), cuja necessidade de individualizar ou
identificar os titulares do direito pleiteado é totalmente descartada.
Classificação da legitimidade ativa
para a defesa coletiva

 Outros dizem que esta se divide em autônoma e extraordinária


conforme os direitos metaindividuais envolvidos. Para estes, entre
os quais se encontra o prof. Rizzatto Nunes, que afirma que se o
que se pleiteia é a defesa de interesses difusos e coletivos, a
legitimação é autônoma. Contudo, no caso de defesa de direitos
individuais homogêneos, a legitimação é extraordinária.
 Há ainda aqueles que acreditavam que a legitimação é apenas
extraordinária, mas isto antes do advento da Lei 7.347/85 e Lei
8.078/90.
Interesse para ações Coletivas
O interesse de agir caracteriza pela demonstração de que é necessário ingressar em
juízo para obter a pretensão. Em outras palavras, deve haver: a necessidade de se
ajuizar uma ação, a adequação desta ao ordenamento jurídico e a utilidade da via
judicial para a solução do conflito de interesses.

Aponta Leonardo Roscoe Bessa: "Em relação ao Ministério Público, o interesse de


agir é presumido, sem qualquer possibilidade de discussão ou sentido contrário,
considerando principalmente a vocação institucional para a tutela dos direitos
coletivos. (...) No tocante aos demais legitimados, a doutrina, de um modo geral, tem
exigido a análise da presença do interesse de agir no caso concreto, considerando,
entre outros fatores, aspectos regionais e a dimensão do dano." (MARQUES, Cláudia
Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do
consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 394)
Competência para Defesa do
consumidor em juízo
Ações Individuais: A competência para o ajuizamento da ação para apurar a
responsabilidade do fornecedor pelos danos causados em ação judicial individual é do
domicílio do autor, conforme determina o art. 101, I do CDC; “preferencialmente no
domicilio do consumidor”.

Ações coletivas: A competência para a defesa dos interesses metaindividuais dos


consumidores é determinada basicamente pelo art. 93 do CDC.”

Art. 93, CDC. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a


causa a justiça local: I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano,
quando de âmbito local; II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal,
para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de
Processo Civil aos casos de competência concorrente.”
Competência para Defesa do
consumidor em juízo

 Através da leitura do art. 93 do CDC percebe-se que são


dois os fatores que determinam a competência para a
defesa dos interesses metaindividuais do consumidor em
juízo:
 1) a natureza jurídica do fornecedor

 2) a extensão do dano.
Custas, despesas e honorários nas ações
coletivas
 Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
quaisquer outras despesas, nem condenação da associação
autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados,
custas e despesas processuais.
 Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação
autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao
décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas
e danos.
Obrigações de fazer ou não fazer

Esta ação destina-se a evitar ou impor condutas de forma a


assegurar o adimplemento das obrigações e seu procedimento está
disciplinado pelo art. 84 e seus §§ do CDC.

O juiz poderá nessas ações:

a) Concessão da tutela específica da obrigação de fazer ou não


fazer.

b) Determinação de providências que assegurem o resultado


prático equivalente ao do adimplemento da obrigação de fazer
ou não fazer.
Jurisprudência sobre o tema
 Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA - Obrigação de fazer -
Fornecimento de medicamentos - Tutela à saúde ampla e
incondicionada - Dever do Estado - Previsão constitucional em
norma de eficácia plena, e não meramente pro- gramática -
Recusa injustificada que define a ilegalidade da conduta estatal
- Facultada a substituição do remédio por outro com idêntico
princípio ativo e posologia - Recomendação para que a receita
médica seja apresentada ao órgão farmacêutico dispensador -
Matéria preliminar rejeitada - Recurso voluntário provido.
(TJSP - Apelação com revisão 3897325700 - 5ª Câmara de
Direito Público - Rel. Fermino Magnani Filho, data do
julgamento: 31/07/2008).
Coisa Julgada nas ações coletivas
A coisa julgada é uma qualidade que torna tais decisões
(declaratórias, constitutivas, condenatórias, executivas e
mandamentais) imutáveis e indiscutíveis e não corresponde à eficácia
da sentença.

A) Coisa julgada formal;

B) Coisa julgada material


Coisa Julgada nas ações coletivas
 Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas
e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados
que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de
indenização a título individual.

Você também pode gostar