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Direito

processual
civil I

Professor Doutor Gustavo Gramaxo Rozeira

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17/09/2021
Capítulo da introdução ao processo civil e dar uma noção daquilo que é o direito
processual civil:
Na base do direito processual civil está a existência de um conflito de interesses,
portanto o direito processual civil só é chamado a intervir quando exista um conflito de
interesses/uma rutura da ordem jurídica. É este conflito de interesses que leva á
intervenção judicial e do direito processual civil, pois o direito processual não tem
âmbito de intervenção quando não existir um conflito de interesses. Deste modo,
quando existe um acordo entre as partes não há necessidade de intervenção do direito
processual civil.
O campo de aplicação do direito processual civil são os conflitos de interesses
privados. O direito privado regula relações jurídicas em que os respetivos sujeitos estão
colocados numa situação de paridade formal, portanto, o conteúdo das relações jurídicas
resulta da vontade das partes ou quando resulta da lei esta visa a paridade das partes. O
direito publico visa a regulação de relações entre as partes em que há uma relação de
supra-infra-ordenação – a parte que esta supra-ordenada pode unilateralmente ditar o
conteúdo da relação jurídica porque está revestida de ius imperium. Neste contexto, o
direito processual civil surge especificamente dirigido a redimir os conflitos de
interesses privados e tem uma função de garantia de efetividade dos direitos subjetivos
das partes.
O direito processual civil é a garantia de efetividade de outros direitos subjetivos
ou de garantias de outras pessoas. Não fundo os meus direitos no direito civil, fundo
noutras áreas: direito do trabalho, direito da família, etc. se sinto que os meus direitos
subjetivos ou interesses legalmente protegidos estão a ser lesados vou procurar protege-
los através do processo civil.
Art 1 CPC – Princípio da heterotutela ou proibição da autodefesa: não posso
tutelar os meus próprios direitos, tenho de socorrer-me de uma terceira entidade
(tribunais) para proteger os meus direitos. Se entendo que na minha esfera jurídica tenho
uma posição jurídica ativa que está a ser lesada eu não posso usar os meus próprios
meios para proteger essa posição jurídica. A tutela dos direitos das pessoas de uma
comunidade é feita por entidades especificas de uma comunidades próprias para tutelar
esse direito, ou seja, não é qualquer um de nós, invocando que te um direito na sua
esfera jurídica que está a ser lesado ou em eminencia de ser lesado, que pode usar os
seus próprios meios para proteger esse direito.
Porem, o princípio da heterotutela não é absoluto, comporta exceções. Há
situações em que é lícito a uma pessoa autotutela os seus direitos, ou seja, usar os seus
próprios meios coercivos sem recorrer a estas entidades. Estes mecanismos de autotutela
(mecanismos em que o ordenamento jurídico reconhece ás pessoas a faculdade de
proteger os seus direitos subjetivos sem terem de recorrer a terceiros) encontram-se
previstos no CC e no artigo 21º CRP.
O artigo 21º CRP (direito de resistência) é uma norma geral que dá cobertura á
autotutela no plano dos direitos fundamentais podendo resistir por próprios meios…

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Mecanismos de autotutela:
- Artigo 336º CC (ação direta) - tem de haver um requisito de necessidade e um
requisito de proporcionalidade.
- Artigo 337º CC (legitima defesa) – está subordinado a uma ideia de
necessidade e de proporcionalidade, ou seja, a legitima defesa está justificada desde que
não seja possível a tutela do direito pelos meios normais – temos um mecanismo de
reação a uma agressão
- Artigo 339 CC (estado de necessidade) – existe um requisito de necessidade
(remover um perigo atual) e um requisito de proporcionalidade (a atuação não pode
causar um prejuízo superior ao perigo que queremos evitar).
- Artigo 754º CC (direito de retenção) – quando há uma relação e crédito
recíproco, a lei permite em certas circunstancias que retenha a minha prestação a pagar
enquanto o outro devedor não me pagar a prestação a mim.
- Artigo 755º CC (outros casos de direito de retenção)
- Artigo 397, nº 2 CPC (embargo de obra nova) – não aprofundamos
Os artigos apresentados são verdadeiras exceções ao artigo 1º CPC.
Se não posso de um modo geral tutelar os meus direitos, então quem é que tutela
os direitos das pessoas? Isso é feito através da tutela jurisdicional, podendo haver antes
disso a auto-composição de litígios (forma de por termo ao litigio sem recorrer á tutela
jurisdicional). A tutela jurisdicional entra em ação quando as partes não querem resolver
o litígio amigavelmente através da auto-composiçao.
A tutela jurisdicional é possível porque o estado é quem tem o aparelho
sancionatório, que permite por um lado obter a reintegração da lesão de um direito (o
estado tem os meios coercivos para resolver as situações), ou mesmo para prevenir uma
lesão eminente ou futura (o estado pode adotar medidas que permite prevenir e evitar
uma lesão eminente ou que se previna que possam ocorrer). O estado tem um
monopólio do exercício da autoridade, ou seja, está revestido dos poderes da autoridade
publica. A heterotutela é assegurada através dos poderes jurisdicionais.

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23/09/2021
Na aula passada estivemos a falar do princípio da hétero-tutela. A proibição da
autotutela está diretamente ligada á ideia de tutela jurisdicional. A tutela jurisdicional
está associada ao conceito de função jurisdicional.
A função jurisdicional tem o seu conteúdo constitucionalmente limitado (artigo
202º, nº 2 CRP), ao contrário das outras funções do estado. Há uma tríplice dimensão
para a função jurisdicional: dirimir a dimensão da legalidade democrática (dimensão
punitiva), a função de dirimir conflitos de interesses públicos e privados, e (dimensão
residual) defender os direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
Tudo o que diga respeito a dirimir conflitos está integrado na função
jurisdicional. Isto é importante o que entre nós vigora a ideia de que a função
jurisdicional apenas pode ser exercida pelos órgãos de soberania e tribunais, ou seja, só
o tribunal pode dirimir conflitos de interesses.
A doutrina tem entendido que no nº1 do artigo 202º CRP está prevista uma
reserva da função jurisdicionais para os tribunais. Claro que, os tribunais têm uma
estrutura organizatória muito ampla: existem diversas categorias de tribunais e dentro
dessas categorias pode também existir vários tribunais (artigo 209º CRP). A categoria
de tribunais que mais diretamente diz respeito ao direito processual civil é a dos
tribunais judiciais.
O exercício da função jurisdicional consiste, para o que nos interessas, em
dirimir conflitos. A função jurisdicional está entendida como o aparelho judicial.
O acesso ao aparelho judiciário para obter a tutela do direito (a regra é o
princípio da hétero-tutela, hétero-tutela essa que é assegura pelos aparelhos judiciais). A
busca da hétero-tutela também entre nós não é uma regalia, é um verdadeiro direito
fundamental (artigo 20º, nº1 CRP – consagra o direito fundamental a uma tutela
jurisdicional efetiva, ou seja, o direito que todos tem de se dirigir ao estado, através dos
tribunais, e de solicitar e demandar a tutela dos seus direitos. Esta norma resulta de uma
outra norma da Convenção Europeia dos Direitos Humanos (artigo 6º, nº1 CEDH), que
prevê, alem de um direito fundamental de acesso aos tribunais, uma ideia de tutela
efetiva, ou seja, o acesso ao tribunal em condições que permitam assegurar com eficácia
a proteção dos meus direitos). A tutela jurisdicional não se basta com o acesso ao
tribunal, é necessário que o tribunal seja eficaz na proteção dos direitos.
Efetividade em sentido estrito: O tribunal pode tomar medidas provisórias para
acautelar a decisão final (tutela cautela ou procedimentos cautelares).
A execução da decisão enquanto dimensão da intervenção judicial e da tutela
jurisdicional efetiva. A tutela efetiva não se esgota em dirimir o litígio, tem 3
dimensões: a …
O direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva está prevista no artigo
20º, nº1 CRP e encontra a sua concretização ordinária no nº 1 do artigo 2º do CPC –
direito de ação ou direito de acesso aos tribunais – direito de obter em prazo razoável
uma decisão vinculativa e a pretensão de executar essa mesma decisão. O direito de
ação é o direito a reclamar uma providencia judiciária (decisão ou medida) que pode ser

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definitiva ou provisória (regula o litigio até que uma decisão seja proclamada) dirigida a
reparar ou a prevenir a violação d um direito subjetivo, interesse legalmente protegido
ou de uma outra posição jurídica subjetiva. Portanto, o direito de ação concretiza no
plano ordinário o direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva.
Há uma diferença fundamental que é estruturante na nossa disciplina, entre o
direito de ação (garante o acesso ao tribunal, mas não nos garante obter do tribunal uma
decisão que nos seja favorável, ou seja, o tribunal está obrigado a decidir o que lhe
peço, mas não está obrigado a diferir o que lhe peço – distinção entre o direito
substantivo e o direito material de natureza adjetiva) e a posição jurídica subjetiva que
queremos ver tutelada. O deito processual atende apenas a aspetos formais da relação
jurídico processual, ou seja, não atende á substância das coisas, ou seja, aquilo que
determina os meus direitos são as normas substantivas do CC.
Posições jurídicas subjetivas – conceito amplo que abarca um conjunto de
realidades que vão apara além dos direitos subjetivos e dos interesses legalmente
protegidos (legitimas expectativas). Podemos incluir dentro das posições jurídicas
subjetivas direitos subjetivos, interesses legalmente protegidos e os direitos e interesses
coletivos (direitos ou interesses que não estão subjetivizados numa só pessoa.
Corresponde a um agregado de interesses individuais, mas que não pode ser exercido
individualmente. Ex.: Direito á greve, direito de propriedade comunal), Direitos e
interesses difusos (bens e interesses que não podem ser individualmente afetados a cada
um dos seus titulares – são direitos e interesses que estão na titularidade de uma
universalidade de pessoas, mas que não podem ser individualizáveis. Ex.: direito ao
ambiente, direito á cultura, direito á educação, etc.), bens e interesses públicos (bens
colocados no domínio do estado ou de uma pessoa coletiva publica (correspondem aos
bens de domínio publico que estão afetos a uma utilização publica, mas que fazem parte
da esfera jurídica da pessoa coletiva publica em que estão integrados. Ex.: ruas,
cemitérios, etc. A lei permite aos particulares tutelarem bens do domínio publico.).
Direito processual civil – é um ramo do direito publico que prevê e regula a
formação e obtenção de providencias judiciais (medidas ou decisões judiciais)
destinadas a defender ou prevenir a lesão de posições jurídicas subjetivas dignas de
tutela jurisdicional.
Dimensões do processo civil:
1. dimensão estática – parcela do direito processual civil que regula que tipos de
providencias podem ser obtidas e os requisitos que devem ser preenchidos para a
obtenção de tais providencias
2. dimensão dinâmica – etapas e fases que tem de ser seguidas e observadas para
a obtenção dessas providencias judiciais, ou seja, é o processo propriamente dito.
Características do direito processual civil:
- O direito processual civil é um ramo de direito publico, isto tem a ver com o
conceito da natureza da relação jurídica processual. A relação de direito privada
caracterização pela paridade formal entre as partes – relação substantiva ou relação
material controvertida, só é relação controvertida se houver um litígio. Uma relação de

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direito publico típica é uma relação de supra-infra-ordenação. Na relação jurídica
processual, o credor assume a posição de autor, que dirige uma pretensão contra o
devedor, que será o réu. A relação jurídica processual, também dominada instância
(instância = relação jurídica processual). Na relação jurídica processual temos as partes
numa posição de paridade, mas temos também um terceiro (tribunal)que está revestido
de ius imperium. O tribunal pode exercer poderes coercivos no âmbito da relação
jurídica processual, quer depois da decisão estar tomada executando coercivamente a
decisão. A instância é sempre uma relação triangular que na base tem as partes
colocadas numa posição de igualdade, mas o tribunal está revestido de poderes de
autoridade.
É importante distinguir 2 planos: A relação jurídica processual é puramente
formal, ou seja, não tem qualquer dimensão puramente formal ou subjetiva, enquanto o
litigio que está a ser discutido entre as partes é uma relação de direito privado. A relação
jurídica processual é uma relação de direito publico.
- Natureza instrumental – o papel do direito processual civil não um fim em si
mesmo, é um instrumento de realização e de efetivação de outros ramos do direito, ou
seja, serve para tornar efetivas/realizar posições jurídicas que são tuteladas ou
reconhecidas por outros ramos do direito. O direito processual não existe por si só,
existe na medida em que emerge porque há um litígio entre sujeitos. Esta é a distinção
entre o direito adjetivo e o direito substantivo, que se relaciona com a substância das
coisas. O direito processual é o instrumento para realizar os outros ramos do direito.
(ex.: ramo de direito substantivo – direito processual civil; ramo de direito adjetivo –
direito civil).
- O direito processual civil é a referência de todos os outros ramos de direito
processual.
- É o direito supletivo dos demais ramos processuais, por isso serve de disciplina
residual, supletiva de todos os outros ramos de direito processual.
Fins do direito processual civil:
- Dirimir conflitos - tradicionalmente a função do processo civil era dirimir
conflitos, este fim ainda hoje está presente juntamente com dois outros fins mais
contemporâneos.
Com o passar dos tempos o direito processual civil tendia a ser cada vez mais
tradicionalista, ou seja, havia um excessivo formalista. O direito processual
desinteressava-se do resultado. Aquilo que interessava era fazer uma aplicação
mecânica aos factos, o que não era uma forma adequada ao estado de direito, por isso a
doutrina começou a invocar 2 outras finalidades:
- Descoberta da verdade material - o direito processual civil deve descobrir a
verdade material e decidir de acordo com essa verdade dos factos relativos ao litígio que
o tribunal é chamado a exercer. O tribunal deve ser proativo na descoberta da verdade
material.

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- Realização de justiça – na visão clássica o tribunal alheava-se do resultado da
sua atividade. O tribunal deve resolver o litígio procurando que a sua decisão seja uma
decisão justa, equitativa nos limites que a lei consente.
O direito processual civil corresponde a uma disciplina jurídica propriamente
dita e, na sua regulação, podemos definir esta disciplina como a disciplina jurídica que
procede ao estudo científico do processo civil. Disciplinas jurídicas afins ao processo
civil: organização judiciária, tributação processual (encontramos no regulamento das
custas processuais), direito profissional da advocacia (regula o exercício do mandato
forense, acesso á profissão de advogados, etc. – isto é regulado pelo estatuto da ordem
dos advogados), processo tutelar cível (ex.: processos que dizem respeito a menores -
onde além da paridade das partes deve-se atender ao superior interesse da criança, por
isso, as regras clássicas do processo civil não estão pensadas para litígios em que as
partes são capazes de tutelar os seus próprios interesses – regulados pelo regime tutelar
cível).
Meios alternativos de resolução de litígios: o processo civil não é a única via de
resolução de litígios. A existência de um litígio é o pressuposto de acionamento da via
judiciária. Há exceções em que mesmo na ausência de um litígio é necessário recorrer a
tribunal – processos de jurisdição voluntária. A via judiciária não é a única via para
dirimir um litígio, existem os meios extrajudiciais de resolução de litígios que
funcionam como uma via de resolução de litígios:
- auto-composição de litígios (as partes sentam-se á mesa e chegam a um acordo.
Não é propriamente um meio de resolução alternativa de litígios); conciliação e
mediação (tem como característica as partes do litígio se socorrerem de um terceiro que
é convocado pelas partes para dirimirem o litígio. É o conciliador na conciliação e o
mediador na mediação. Na terminologia clássica, na conciliação caracteriza-se pelo
terceiro ter por missão procurar colocar as partes de acordo, mas não ter iniciativa
própria, ou seja, sem poder propor soluções para o acordo. Já o mediador disporia de
poder de iniciativa própria, ou seja, poderia propor soluções às partes. Na terminologia
anglo-saxónica é exatamente o contrário. Temos ainda outra distinção que nos diz que
mediação é aquilo que é resolvido fora do processo judicial, enquanto conciliação deve
ser utilizada no âmbito judicial pelo juiz. Ambas se caracterizam pelo facto de o papel
do conciliador e do mediador não ser vinculativo. O professor prefere a terminologia
clássica portuguesa).
- A arbitragem é um outro meio de resolução alternativa de litígios, mas aqui não
parece correto chamar um meio extrajudicial de resolução alternativa de litígios, pois na
arbitragem há o exercício de poderes judiciais. A arbitragem consiste em as partes
submeterem a resolução do seu litígio a uma entidade terceira, que vai dirimir o litígio,
ou seja, o terceiro tem um poder vinculativo na decisão do litígio. Na base da
arbitrabilidade dos litígios está o princípio do dispositivo (ideia da disponibilidade que
as partes têm sobre o objeto do seu litígio – artigo 1248º CC – transação é o contrato
através do qual as partes terminam ou redimem um litígio mediante recíprocas
concessões. Não é possível celebrar transação sobre direitos indisponíveis.)
O artigo 202º, nº1 CRP diz-nos que a função jurisdicional está reservada aos
tribunais, mas a CRP admite tribunais não estaduais, tribunais arbitrais (artigo 209º

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CRP), ou seja, a constituição prevê previamente a possibilidade de existirem tribunais
arbitrais, que são tribunais como os outros, com a diferença de que não são estaduais. A
função jurisdicional tem um conteúdo muito amplo, nomeadamente o exercício de poder
da autoridade publica, poderes esses que não podem ser exercidos pelos tribunais
arbitrais. O núcleo essencial da função jurisdicional (exercício de ius imperium) apenas
pode ser exercido pelos tribunais estaduais, mas o que está fora do seu núcleo essencial
pode ser exercido por tribunais não estaduais. A arbitragem assenta na vontade das
partes, pois são estas que por força da sua própria vontade decidem submeter um litigio
a árbitros.
Lei da Arbitragem Voluntária:

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24/09/2021
Lei da arbitragem voluntária (lei 63/2011)
Artigo 1º LAV:
Nº1- norma geral que permite que as partes do litígio submetam um dado litigio
á decisão por árbitros. Há um conjunto de requisitos que tem de ser representados nos
termos desta norma: só é possível desde que não exista lei especial que atribua o poder
de dirimir litígios dessa categoria aos tribunais do estado (ex.: ações sobre licitude de
despedimento) e quando se trata de casos que a lei manda submeter á arbitragem
necessária (que é diferente da arbitragem voluntária – que depende da vontade das
partes). As partes podem pela sua própria vontade cometer a decisão de litígio a
árbitros. A manifestação da vontade é manifestada numa convenção de arbitragem. Isto
aplica-se a todos os litígios de natureza patrimonial.
Alguma doutrina vê nesta norma que mesmo os direitos patrimoniais que sejam
indisponíveis podem ir a arbitragem. Aceitar-se que este nº1 abranja também que a
arbitragem voluntaria abranja direitos indisponíveis de natureza patrimonial parece uma
doutrina exagerada.
Nº2 – a arbitragem também pode ter lugar em litígios de natureza não
patrimonial (direitos morais ou de outra natureza, direitos pessoais, etc.). Poderá haver
lugar a arbitragem sobre litígios de natureza não patrimonial desde que se trate de
direitos disponíveis.
Nº5 – abertura legislativa para a arbitragem no contencioso administrativo e no
contencioso tributário.
Nº4 - abre arbitragem a questões não contenciosas. Aqui está em causa a
arbitragem fora do âmbito de litígio. As partes não têm um litígio entre si, mas vem
pedir a apreciação do árbitro pois precisam que um terceiro intervenha na relação, por
exemplo para complementar a sua própria vontade negocial.
A fontes das partes remeterem a decisão de um litígio para árbitros é a
convenção de arbitragem. A Convenção de arbitragem é o título jurídico que habilita um
arbitro a dirimir um litígio. A natureza jurídica da convenção de arbitragem é de um
contrato – um negócio jurídico bilateral entre duas ou mais partes através das quais eles
se vinculam a dirimir um litígio entre elas.
Nº3 (+artigo280º CPC) – a convenção de arbitragem pode ser de duas espécies:
Compromisso arbitral (é celebrada perante um litígio atual e existente ou litígio que já
esta a ser objeto de um processo que está a decorrer num tribunal estadual. As partes
(todas) podes subtrair um litígio de um tribunal estadual e submetê-lo a um tribunal
arbitral.) ou clausula compromissória (diz respeito a litígios futuros onde se determina
que todos os litígios que surjam no futuro entre A e B relativamente a um ponto X será
dirimido num tribunal arbitral)
Artigo 2º LAV:
Nº1 – a convenção de arbitragem exige forma escrita: escritura publica,
documento particular simples e documento particular autenticado.

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Nº2 – explicita o que se entende por forma escrita.
Nº4 – permite que a convenção de arbitragem seja celebrada como uma clausula
contratual geral (contrato de adesão – é proposto por uma parte e não há possibilidade
de negociação).
Nº5 – situação peculiar – convenção de arbitragem ficta (ficcionada) – a lei
manda tratar como se houvesse convenção de arbitragem, desde que alguém inicie um
processo arbitral mesmo que não tenha existido convenção de arbitragem e a outra parte
conteste mas não negue a sua existência.
Nº6 – a convenção de arbitragem tem que identificar o litígio a que se refere.
Artigo 6º LAV: permite que os conteúdos precisos da convenção de arbitragem
possam ser remetidos para elementos externos (ex.: regulamentos que existem em
institutos, etc.).
Artigo 4º LAV: permite às partes revogar, caducar ou modificar a convenção de
arbitragem, mas existem algumas exceções:
Nº1- a convenção dos árbitros pode ser modificada até que tenha um arbitro,
depois disso so pode ser modificada com a outorgarão dos árbitros.
Nº2 - a caducidade pode ser revogada a todo o tempo até á prolação da sentença
arbitral.
Nº4 – a extinção ou morte da pessoa não extingue a convenção de arbitragem
pois a convenção transmite-se aos sucessores, salvo disposição em contrário.
Artigo 18º LAV
Nº 3: Principio do aproveitamento da convenção de arbitragem – pode acontecer
que o contrato mais vasto seja nulo ou anulado – seja invalido – o contrato pode ser
inválido, mas a clausulas compromissória que existe nesse contrário não é afetada por
essa invalidade, ou seja, se o fundamento da invalidade do contrato não for também um
fundamento de invalidade da convenção arbitraria, então a clausula compromissória é
valida.
Na próxima semana não há aula

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07/10/2021
Efeitos da convenção de arbitragem – artigo 5º LAV: a convenção de arbitragem
tem 3 tipos de efeito.
- Efeito negativo: nº1 – a celebração de uma convenção de arbitragem nega ao
tribunal a competência para conhecer de um litígio abrangido pela convenção de
arbitragem. Se alguma das partes for interpor uma ação no tribunal estadual, o tribunal
estadual tem obrigação de não reconhecer aquele processo – absolvição da instância.
Este efeito negativo é temperado por duas pequenas precisões que estão na norma: o
dever do tribunal estadual se abster de conhecer da ação não é oficioso, só o fará se a
parte demandada nessa ação invocar a existência de uma convenção de arbitragem, se
ninguém invocar a existência de uma convenção de arbitragem o tribunal pode
prosseguir como se ela não existisse; um segundo efeito negativo encontramos quando o
tribunal recursar o efeito negativo se for ostensivo que a convenção de arbitragem é
nula, inexequível ou ineficaz.
- Efeito positivo: nº2 - a convenção de arbitragem habilita o tribunal arbitral a
reconhecer e julgar o processo arbitral mesmo que esse litígio esteja no âmbito de um
tribunal arbitral. Não há um problema de litis pendencia se o mesmo processo for
instituído num tribunal estadual e num tribunal arbitral (litis pendencia – não pode o
mesmo litígio está a ser alvo de dois processos). O tribunal arbitral não fica impedido de
julgar a causa pelo mesmo assunto estar pendente num processo de um tribunal
estadual.
- Efeito inibidor: nº4 – o facto d éter sido celebrada uma convenção de
arbitragem inibe qualquer uma das partes dessa convenção de propor num tribunal
estadual qualquer processo que tenha como objetivo colocar nula ou inexequível aquela
convenção de arbitragem, ou seja, o tribunal estadual esta inibido de apreciar a validade
de uma convenção de arbitragem num processo apenas para aquele efeito. Só posso
discutir a validade, eficácia e exequibilidade de uma convenção de arbitragem um
processo de um tribunal arbitral. Não pode ser alvo de um procedimento cautelar.
Tramitação de um processo arbitral:
O critério para a escolha dos árbitros depende da vontade das partes (artigo 8º
LAV). O tribunal arbitral pode ser composto por um só arbitro (tribunal arbitral
singular) ou por vários árbitros desde que em número impar (tribunal arbitral colegial).
Os árbitros têm de preencher os requisitos do artigo 9º LAV: os árbitros tem de ser
plenamente capazes, mas não é exigido que sejam cidadãos portugueses ou sequer que
saibam falar português; os árbitros devem ser independentes e imparciais, ou seja, não
estão sujeitos a ordens, instruções ou diretivas de uma das partes e tem de estar
equidistantes dos litígios. Por vezes os árbitros são escolhidos pelas partes – artigo 13º,
nº1 CPC: o arbitro está obrigado a revelar todos os factos que possam por em causa a
sua independência e imparcialidade.
Os árbitros são designados em concreto (artigo 8º, nº2 e artigo 10º, nº1 e 3LAV):
há uma liberdade de conformação das partes, quer quanto á constituição, quer quanto á
designação dos árbitros. Portanto, a liberdade das partes é total: as partes podem por na
convecção de arbitragem que os árbitros são escolhidos pelas partes, ou por exemplo

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pela ordem dos advogados. No entanto, a lei prevê um regime supletivo se as partes
nada convencionarem: o demandante designa um arbitro, o demandado designa um
arbitro e esses dois reúnem-se e escolhem um terceiro arbitro que será o presidente do
tribunal.
Aqui pode desde logo surgir um problema: o demandado designa o seu arbitro e
o demandante nada designa. A lei estabelece um mecanismo para superar este tipo de
situação no artigo 10º, nº4 CPC: existem 30 dias seja para as partes designarem os seus
árbitros, seja para os árbitros designarem o presidente do tribunal arbitral, caso não seja
decidido no prazo, qualquer uma das partes pode dirigir-se ao tribunal estadual
competente (artigo 59º, nº 1,a) e 3 LAV) para que este designe os árbitros.
Não basta nomear um arbitro, e preciso que ele aceite o encargo da nomeação
(artigo 12º nº1 LAV). Não sou obrigado a atuar como arbitro, posso recusar a
nomeação, mas a partir do momento em que aceite o encargo de arbitro estou obrigado a
desempenhar o meu encargo com diligencia. Deste modo, o arbitro que aceitou o
encargo tem de exercer a função e, se não o fizer responde pelos danos que terá dado
causa (ex.: colocar um novo processo devido a um atraso do arbitro).
Artigo 13º nº3 LAV – processo de recusa de arbitro: as partes podem recusar um
arbitro com fundamento na sua falta de independência ou falta de imparcialidade, mas a
parte que nomeou o arbitro não pode recusar o arbitro que ela própria nomeou a menos
que invoque uma situação superveniente. O processo de recusa do arbitro só pode ter
por fundamento a sua falta de independência ou a sua falta de imparcialidade.
Artigo 15º LAV: pode também suceder a renuncia de um arbitro devido á sua
incapacitação. Ex.: acidente de automóvel.
Artigo 16º LAV: O arbitro que seja recusado ou que fique incapacitado tem de
ser substituído.
Uma segunda característica da tramitação dos processos arbitrais tem de ter por
base o principio do Kompetence Kompetence (artigo 18º, nº1 LAV): o tribunal arbitral
tem a competência das competências, ou seja, tem a competência para decidir se ele é
competente para decidir aquele litigio, pois o tribunal arbitral só pode decidir sobre
aquele processo se ele próprio for competente para decidir sobre aquele litigio, podendo,
ao apreciar a sua competência, definir a validade da convenção de arbitragem.
Quanto á tramitação do processo arbitral vigora entre nós a capacidade de
conformação das partes, isto é, as partes podem por na convenção de arbitragem as
regras que entenderem no termos do artigo 30º, nº2 LAV. As partes convencionam na
convenção de arbitragem ou em momento posterior até á aceitação do primeiro arbitro
as regras do processo, se as partes nada tiverem convencionado a competência para
regular o processo de arbitragem passa para o tribunal arbitral (artigo 30º, nº3 LAV).
Há uma ressalva importantíssima: a observância dos princípios fundamentais previstos
no nº1 do artigo 30º LAV – a regra é a disponibilidade das partes mas a lei impõe a
observância de 3 princípios fundamentais que não podem ser afastados pelas partes:
principio da proibição da indefesa (artigo 30º, nº1 a) LAV – o processo arbitral não
pode prosseguir sem que seja dada a oportunidade da pessoa contra quem o processo foi
entreposto de se defender nesse processo, mas o processo não tem de estar parado á

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espera que ela se venha defender, o processo tem apenas de lhe dar uma oportunidade
de se defender), principio da igualdade (artigo 30º, nº1 b) 1ª parte LAV – as partes são
tratadas com igualdade , por isso tem de ter os mesmos direitos, deveres, ónus
processuais, etc na arbitragem) e o principio do contraditório (artigo 30º, nº1 b) 2ª parte
e c) LAV- o contraditório é a oportunidade que é dada ás partes de se pronunciar, salvo
exceções presentes na lei. O tribunal arbitral tem de ouvir pelo menos uma vez as partes
por escrito ou oralmente – esta é uma qualificação especial do princípio do
contraditório).
O artigo 31º LAV vem dizer que tem de existir um lugar na arbitragem: não tem
de ser um edifício, mas tem de ficar a localidade ou município onde a arbitragem vai
funcionar. Isto releva para vários fins, mas desde logo o facto de sabermos qual será o
presidente do tribunal da relação competente para interferir na arbitragem.
Uma outra característica muito importante na arbitragem é o facto do idioma a
utilizar na arbitragem – artigo 32º LAV. Há uma liberdade linguística na condução do
processo arbitral. Isto contrasta claramente com o artigo 133º, nº1 CC pois no processo
civil dos tribunais estaduais o processo diz que tem de ser obrigatoriamente em
português.
O artigo 34º LAV vem regular a natureza do processo. Há uma liberdade não
para as partes, mas sobretudo para o tribunal, para decidir se há audiências ou se o
processo é totalmente por escrito. No entanto, há um direito potestativo das partes para a
realização de audiência.
O artigo 38º LAV vem regular a regulação do conteúdo essencial da função
jurisdicional, o tribunal arbitral pode dirimir um litígio, mas não pode usar de poderes
de autoridade (ius imperium), o máximo que pode fazer é “enviar uma carta e convidar
a estar presente”. O artigo 38º LAV prevê um mecanismo de colaboração entre o
tribunal estadual e o tribunal arbitral quanto á produção da prova – uma das partes do
processo arbitral pode pedir autorização ao tribunal arbitral para que essa parte se dirija
ao tribunal estadual de modo a que se possa produzir a prova no tribunal estadual para
que esta seja transmitida para o tribunal arbitral. Ex.: a testemunha não aparece 2x por
isso a parte pede autorização ao tribunal arbitral para ir ao tribunal estadual recolher a
prova. Assim pode-se colmatar a falta de poder de autoridade publica dos tribunais
arbitrais através deste mecanismo de cooperação quanto aos meios de prova.
A sentença arbitral (artigo 43º LAV): as partes têm a liberdade para estipular o
prazo da durão da arbitragem: a arbitragem é mais célere na decisão do litígios do que
um tribunal estadual. Se as partes não o fizerem, a lei estabelece que o prazo é de 12
meses a contar da aceitação do último arbitro. O tribunal arbitral pode prorrogar este
prazo de 12 meses, o único requisito é que o tribunal justifique a necessidade de
prorrogação, mas as partes podem por acordo opor-se á prorrogação (artigo 43º, nº2
LAV).
Artigo 39º, nº1 LAV vem dizer-nos qual é o critério que os árbitros devem
seguir para dirimir o litigio: o tribal julga segundo a lei, mas pode ser permitido que o
tribunal dirima o litigio segundo critérios de justiça do caso concreto afastando o direito
positivo. De um modo geral, o tribunal estadual tem de seguir por critérios de direito

13
constituído. O tribunal arbitral só pode decidir por critério de equidade se tal tiver sido
convencionado pelas partes.
Se o tribunal for colegial colocasse desde logo a questão de saber como é que o
tribunal delibera (artigo 40º, nº1 LAV): aplica-se a regra da maioria absoluta (mais de
metade) dos membros que compõe o tribunal. Se não puder formar-se maioria a decisão
é proferida individualmente pelo presidente do tribunal arbitral.
Embora a sentença arbitral seja o modo desejável de pôr fim ao processo, nem
sempre os processos arbitrais terminam com uma sentença arbitral, ás vezes os
processos arbitrais terminam quando (artigo 44º LAV): o demandante desiste do pedido
(o legislados estabelece um mecanismo de tutela, pois dá-lhe a possibilidade de
continuar o julgamento), as partes concordem em encerrar o processo ou o tribunal
verifique que a prossecução do processo se tornou inútil ou impossível (inutilidade
superveniente ou impossibilidade superveniente).
Proferida a decisão arbitral coloca-se a questão de saber se há meios de reação á
decisão. A arbitragem tem meios de impugnação de uma decisão muito restritos. A
impugnação trata-se de colocar em causa uma decisão de uma sentença arbitral. Isso
pode fazer-se por 2 meios: recursos e pedidos de anulação. Através do recurso coloco
em causa a decisão e pretendo que o tribunal do recurso reaprecie a questão que foi
proferida pelo tribunal recorrido – permite uma reapreciação da decisão recorrido por
isso é um meio mais amplo. O pedido de anulação tem um alcance mais estrito, que
consiste na direção a um tribunal superior (do estado) um pedido de anulação, sendo
que o tribunal se limita a anular a decisão, mas não se substitui ao tribunal arbitral. A
recorribilidade das sentenças arbitrais é muito limitada e a possibilidade de pedido de
anulação existe sempre.
Artigo 39º, nº4 LAV – regra geral as sentenças dos tribunais arbitrais são
irrecorríveis, mas a recorribilidade pode existir se as partes tiver expressamente
estabelecido na convenção arbitral. Porém, mesmo que as partes tenham convencionado
a recorribilidade da sentença arbitral, mas a lei proíbe o recurso se a decisão tiver sido
proferida por critérios de equidade ou se tiver resultado de composição amigável
(acordo entre as partes). No caso de possibilidade de recurso deve ser feita para o
tribunal competente (artigo 59º, nº1 LAV) – recorre-se para o tribunal da relação
correspondente ao distrito de onde tenha sido julgado o litigio.
Há sempre lugar ao pedido de anulação com as características que estão
previstas no artigo 46º, nº1 LAV. A impugnação da decisão tem de ser por pedido de
anulação (pretensão de que a sentença arbitral seja anulada com fundamento em vícios
de natureza formal que ocorreram no decurso da tramitação da sentença arbitral ou na
decisão arbitral). Havendo admissibilidade de recurso todas as questões relativas á
convenção arbitral são apreciadas no âmbito do recurso. O pedido de anulação pode ter
fundamentos revistos no artigo 46º, nº 3 LAV, mas se virmos as diversas alíneas estão
sempre em causa questões formais.
Artigo 46º, nº 10 - repristinação da convenção de arbitragem: a sentença arbitral
é anulada e tem de ser proposta uma nova arbitragem relativamente ao objeto desse

14
litígio, pois o facto de o litigio não tem sido dirimido não invalidada a convenção
arbitral.
Proferida a sentença arbitral coloca-se o problema de no que dela tiver sido
determinado seja cumprido. O tribunal arbitral não pode executar as suas próprias
deciões porque não tem poderes de autoridade publica – o tribunal arbitral extingue-se
uma vez dirimido o litigo. Perante uma sentença que é proferida e que não é acatada
pela parte que está obrigada a acatá-la. Artigo 47º, nº1 LAV (remeter para o artigo 59º,
nº9 LAV) vem dizer que existe uma reserva absoluta de competência dos tribunais
estaduais para executarem as sentenças arbitrais, portanto uma sentença arbitral só pode
ser executada coercivamente através de uma ação executiva entreposta num tribunal
estadual de primeira instancia – a LAV remete-nos para a regras de competência do
processo civil.
Artigo 705º CC – atribui às decisões dos tribunais arbitrais a mesma força
executiva dos tribunais comuns. A sentença de um tribunal arbitral tem a mesma força
jurídico-processual que a sentença do tribunal estadual. A execução segue as regras
processuais do processo civil.
3 outras figuras relativas á arbitragem:
- Arbitragem internacional: a LAV reconhece valor jurídico a arbitragens que se
realizem fora do território nacional (arbitragem internacional) – artigo 55º LAV. Uma
sentença arbitral proferida no estrangeiro é valida e exequível em Portugal desde que
seja reconhecida por um tribunal estadual português. (ex quatur – processo através do
qual vamos obter a revisão de uma sentença arbitral estrangeira para que ela possa valer
em Portugal) o tribunal estadual competente para fazer este reconhecimento é o tribunal
da relação do distrito onde reside a pessoa contra quem quero fazer valer essa decisão
arbitral (artigo 59º, nº1, h) LAV + artigo 59º, nº2). Porém há uma exceção (artigo 55º
LAV) – a convenção de New Yorque de 1953 – as sentenças proferidas pelos estados
que aderiram á Convenção de New Yorque não precisam de ex quatur.
- Arbitragem institucionalizada: temos estado até agora a falar da arbitragem ad
hoc (tribunais arbitrais que são constituídos exclusivamente para dirimir aquele litigio),
mas a lei permite a existência de centros de arbitragem institucionalizada, que no fundo
corresponde a tribunais arbitrais de existência permanente (ex.: centro de arbitragem do
concelho automóvel) – isto é muito frequente nos pequenos litígios de consumo, ou
seja, litígios de reduzido valor.
- Arbitragem voluntária vrs. arbitragem necessária: a arbitragem voluntária tem
na base a vontade das partes (artigo 1º LAV). A lei prevê a arbitragem necessária, que
não decorre da vontade das partes, é imposta pelo legislador que aquela categoria de
litígios tem de ser dirimida por árbitros. Tem-se discutido muito na doutrina se é
constitucional a arbitragem necessária – o professor Canotilho diz que não é
inconstitucional pois ao impor a arbitragem necessária impede o acesso aos tribunais.
Por outro lado, o Tribunal Constitucional alega que é constitucional o legislador impor a
arbitragem necessária se esta não impedir as partes de se dirigirem mais tarde a um
tribunal estadual. O regime da arbitragem necessárias está regulado no artigo 1136º e

15
seguintes CPC – a arbitragem necessária segue as regras do diploma, se essas não forem
aplicadas o artigo 1139º CPC remete também para a LAV.

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08/10/2021
Fontes do direito processual civil: são as fontes que estudamos em introdução ao
direito, mas existe um papel preponderante no âmbito do direito processual civil do
código de processo civil.
Evolução histórica do direito processual civil:
Podemos dividir a evolução histórica do direito processual civil português em 3
grandes períodos:
1. período das ordenações:
Não há verdadeiramente uma data inicial, mas podemos dizer que é o período
que se inicia com o nascimento da nacionalidade e com o período em que o pais começa
a ter as suas próprias funções judiciais e politicas. Corresponde ás ordenações afonsinas
(1486), ordenações manuelinas (1514) e as ordenações filipinas. As ordenações eram
compêndios legislativos que tratavam de todas as matérias, sendo assim, de uma forma
desgarrada e incoerente tinha também tratado aquilo a que hoje chamamos processo
civil.
Havia uma forte influência do direito canónico (direito da igreja católica) – antes
mesmo de haver tribunais e estado português, já a igreja católica tinha tribunais que se
regulavam pelo direito canónico. A bagagem histórica do direito canónico influenciou
muito o direito processual civil português – o direito processual civil português ia
buscar muitas das suas soluções ao direito canónico.
Havia uma extrema rigidez do processo civil. O modelo era o que estava na lei e
não havia grande capacidade de se adaptar. Havia um excesso de formalismo – regra da
prova tarifada (para provar determinados factos é necessário que sejam produzidos
meios de prova previstos e exigidos pela lei – ex.: um facto só se poderia considerar
provado se existissem duas pessoas a depor relativamente aqueles factos). Atualmente
vigora uma ideia de flexibilidade e de adaptabilidade do direito processual á realidade,
agora temos a prova livre em que o tribunal aprecia livremente os meios de prova (ex.:
agora a versão dada por uma testemunha pode valer contra aquilo que foi dito por 5)
Havia dispersão da legislação: as ordenações são compêndios legislativos que
foram publicados com quase 100 anos de diferença umas das outras, as alterações ás
ordenações eram feitas por diplomas avulsos – havia uma série de diplomas avulsos que
muitas das vezes eram contraditórios entre si, criando muitas duvidas acerca da pratica
forense.
Havia também um excesso de ações especiais. Atualmente entre nós vigora a
regra de processo comum, ou seja, há uma única regra processual para tratar todas as
ações, ou seja, a forma processual é sempre a mesma – ação coletiva de processo
comum- independentemente daquilo que se vai a tribunal pedir, as regras processuais
são as mesmas. Neste período histórico para cada tipo de pretensão tinha formas
especiais próprias, ou seja, cada ação tinha as suas próprias regras. Não existia a regra
da tutela judicial efetiva (todos tem o acesso aos tribunais para tutelar as suas posições
jurídicas subjetivas), pois se entendesse que havia um direito na minha esfera jurídico
que eu queria que fosse tutelado, mas na lei não existia uma forma processual especifica

17
que tutelasse aquele direito então não podia aceder aos tribunais – o acesso aos tribunais
não era garantido, era um privilégio quando o legislador o pedisse.
Havia uma excessiva complexidade da organização judiciária, porque não havia
uma ei de tribunais iguais para todos, haviam os Foros Especiais – para certas categorias
de pessoas (seja por razão da sua profissão ou do seu estatuto social) haviam certos
foros (tribunais), isto significa que consoante a categoria que o individuo tivesse tinha
de por a ação num tribunal diferente.
Não havia uma hierarquia dos tribunais. Na região norte a última casa de recurso
era o tribunal da relação do porto e na região sul era a casa da suplicação em lisboa.
O tribunal concedia poderes judiciais a privados. O rei concedia o poder a
privados de serem juízes ou de nomearem os juízes daquela localidade.
O papel preponderante da coroa como vértice do sistema judicial. Não havia um
tribunal supremo, mas havia sempre recurso para o rei por petição das sentenças
judiciais. Por vezes o rei decidia estes recursos não pela lei, mas por critérios de
equidade. Não havia separação de poderes (legislativo, executivo e jurisdicional), o rei
era governante, legislador e exercia poderes jurisdicionais. Era o rei quem selecionava
os magistrados do pais, podendo inclusive conceder os poderes jurisdicionais a
indivíduos.
2. período das reformas do liberalismo:
Surge com um elemento da nossa história jurídica que marca uma rotura no
inicio do seculo XIX – a introdução do constitucionalismo e de tudo o que o
constitucionalismo trouxe, incluindo a separação de poderes. As alterações á lei foram
feitas a partir da Reforma judiciária (1832), da Nova Reforma Judiciária (1836) e a
Novíssima Reforma Judiciária (1841) – estes diplomas tentaram reformar o direito
processual, mas não foram bem sucedidos, no entanto reformaram bem a organização
judiciária através:
– Foro único: todas as pessoas estavam sujeitas ao mesmo tribunal (tribunal da
localidade competente).
- Criação de uma estrutura judicial vertical, que ainda hoje vigora. Supremo
tribunal de justiça – Relações – Tribunais de Comarca. Com esta legislação foram
criadas Comarcas no país que duraram até uma reforma que se fez em 2014 (reduziu de
200 e tal comarcas para 21).
- Eliminação da coroa como ator judicial: o rei deixou de poder intervir no
exercício da justiça.
3. período da codificação:

18
14/10/2021
No dia 22 de outubro não temos aula.
3. Período da codificação: surge quando é adotado pela primeira vez entre nós
um código de processo civil. Uma das invasões que o liberalismo trouxe foi a
implementação de códigos do modelo francês, mas isso não ocorreu logo no processo
civil. Liberalismo introduziu logo um código civil, um código administrativo, um
código penal, mas não um código de processo civil, aí o processo civil continuou a
reger-se por legislação avulsa e sem ter um diploma próprio – esta situação veio a
reverter-se com a aprovação do primeiro código de processo civil, o primeiro diploma
pensado de forma sistemática e coerente com linha dogmática própria para o processo
civil – código que se caracteriza pelo exagero do domínio do processo pela partes – o
tribunal tinha uma postura praticamente passiva neste código. Havia também um
excessivo formalismo na tramitação processual, uma tramitação pouco adaptada as
situações do caso concreto. Houve a consagração de um processo iminentemente
escrito, por contrate com o atual processo oral e a mediação – o processo era conduzido
por escrito. A própria produção de prova testemunhal podia-se fazer dispersa no tempo,
isto é, não havia um só momento em que se concentrava a produção da prova – a
produção da prova podia ser e era muitas das vezes produzida em escrito. Fazia-se a
distinção na lei entre o processo civil e o processo comercial, porque havia um código
de processo civil e um código de processo comercial – no plano substantivo há, ainda
hoje em dia uma diferença muito grande entre aquilo que eram as relações civis e as
relações comerciais: quando se tratava de litígios de natureza comercial aplicava-se o
código de processo comercial e os litígios puramente civis aplicava-se o código de
processos civil.
Este código de 1916 (confirmar data) veio a ser substituído por um novo código
em 1939 por causa do Estado Novo – o estado novo começa em 1926 mas adota a sua
constituição em 1933, com um modelo de sociedade diferente daquele que vigora antes.
O estado novo inverte a tendência liberal criando um estado que é mais autoritário e que
é anti-liberal, isto reflete-se em vários diplomas e vária legislação, nomeadamente, na
criação de um novo código de processo civil.
Na adoção do novo código tem um papel determinante o professor José Alberto
dos Reis, que ainda hoje é considerado o pai do processo civil em Portugal. O Novo
Código introduz uma rotura radical com o anterior modelo: abole o domínio do
processo com as partes e introduz poderes de direção e condução do processo ao
tribunal; introduz o principio do inquisitório (o tribunal não está dependente das partes
na realização de meios probatórios), que permite ao tribunal desencadear os meios de
prova que considere necessário mesmo que as partes não tenham pedido ou não as
queiram realizar – no código de processo civil anterior os meios probatórios eram os
que as partes requeressem; introduziu oralidade a imediação, ou seja, a ideia de que o
processo deve ser sobretudo oral e deve ser imediato/perante o próprio tribunal – toda a
prova e toda a discussão da causa deve esta concentrada num mesmo momento penal.
Para compensar esta ideia da oralidade e da imediação (não haviam atas (escritos) do
que as testemunhas diziam) introduziu-se o tribunal coletivo (tribunal composto por 3
pessoas), mas a pratica depois veio dizer que não serviu de muito porque o único juiz

19
que estava atento era o juiz presidente, ou seja, aquele que tinha de proferir a sentença;
introduziu 2 figuras que ainda hoje existem: saneamento e condensação que servem um
propósito de organizar o processo. O saneamento permitia ao tribunal expulsar do
processo aquilo que não interessava ou encerrar logo o processo se houvesse uma
irregularidade processual que não pudesse ser sanada. A condensação permitia ao
tribunal definir aquilo que interessa para o processo. O Código de 1939 introduziu ainda
o princípio da livre apreciação da prova como princípio regra do direito civil –
substituiu a prova tarifada por uma prova livre, ou seja, o tribunal não esta vinculado a
normas, aprecia livremente as provas.
O CPC de 1939 foi substituído pelo CPC de 1961, que é uma mera reprodução
do código de 1939 com algumas adaptações, mas sem grandes roturas. Este código foi
revisto várias veres, sendo que a primeira grande revisão foi em 1967 pela entrada em
vigor do atual código civil. Foi novamente objeto de uma grande reforma em 1977 e em
1978, motivado pela necessidade de adaptar o processo civil a uma ova realidade – a
CRP de 1976. Houve uma nova reforma em 1985 e seguiu-se a esta a grande reforma do
CPC em 1995 e em 1996. Depois houve um grande conjunto de reformas mais
parcelares. Depois temos em 2013 a revogação do CPC anterior e a aprovação de um
novo Código, que aconteceu devido ao facto de as pessoas que estavam a fazer uma
nova grande reforma acabaram por ser levadas pela vaidade e fizeram um código novo,
havendo até reproduções desatualizadas – por isso muitas vezes se discute se na
substancia estamos verdadeiramente perante um novo código. Algumas alterações
foram: abolição definitiva do tribunal coletivo no processo civil, abolição das formas de
processo sumária e sumaríssima.
Além disso, há alguns outros diplomas que temos de ter presentes nesta evolução
mais recente como o Regime de Ação Declarativa Especial e Procedimento de injunção,
Lei dos julgados de paz (lei 78/2001). A evolução mais recente do processo civil tem
sido orientada por uma tendência cada vez maior de flexibilização.

Interpretação e aplicação da lei processual civil:


As regras de interpretação normativa estão no artigo 8º e 9º do CC. há algumas
especificidades:
- Princípio do non liqued (artigo 8º, nº1 CC): o tribunal não pode dizer que a
norma é muito difícil de aplicar por isso não decide – o tribunal não pode abster-se de
julgar uma causa devido á difícil aplicação das normas ou devido á difícil interpretação
do caso.
No processo civil há duas grandes dimensões de julgamento: matéria de direito e
matéria de facto – dos a matéria de facto o tribunal vai aplicar os factos. Se o tribunal
está em dúvida em relação á matéria de direito, o tribunal tem de aplicar as normas de
interpretação normativa dos artigos 8º e 9º CC.
Se a duvida que assiste ao tribunal é quanto á matéria de facto aplica-se o artigo
414º CPC – na duvida resolve-se contra a parte a quem o facto aproveitaria.
Uma outra norma importante nesta questão está no artigo 8º, nº3 CC – o tribunal,
ao interpretar normas jurídicas deve guiar-se pelo objetivo de aplicar normas jurídicas

20
ao direito. este principio está consagrado como uma orientação, pois não há entre nós
uma obrigação de os tribunais seguirem uma interpretação dade por outros tribunais
mesmo quando seja de um tribunal superior, a única vinculação do tribunal é no âmbito
de um recurso mas só e apenas no processo que foi alvo de recurso – precedente
judiciário do regime stare decisis, que não existe entre nós.
O instituto dos assentos desapareceu porque foram julgados inconstitucionais e
foram substituídos pelos acórdãos de uniformização de jurisprudência tirados pelo STJ.
Mesmo os acórdãos de uniformização de jurisprudência não são obrigatórios, pois os
juízes dos tribunais inferiores podem fazer outra interpretação diferente daquela que foi
fixada.
Na interpretação do processo civil coloca-se em causa a aplicação do Principio
pro actione (artigo 7º CPTA) – em caso de duvida na interpretação de uma norma
processual, deve-se interpretar essa norma processual com o sentido que favoreça uma
decisão de mérito, por isso deve-se evitar interpretar as normas processuais com um
sentido formalista que impeça o tribunal de dirimir o litigio. Na dúvida, perante uma
interpretação que tempo resultado não se dirimir a causa, deve prevalecer sempre a
interpretação que conduza a uma decisão de mérito. A doutrina tem vindo a considerar
que esta se trata de uma norma que tem valor de princípio de direito processual.
Integração de lacunas na lei processual civil: (artigo 10º, nº 3 CC) se não houver
caso análogo que possa ser aplicado para regular aquela lacuna, dá-se ao intérprete o
poder de adotar uma norma para regular a lacuna dentro do espirito do sistema – é uma
norma ad-hoc. Há apenas uma particularidade, o artigo 547º CPC- o juiz deve adaptar a
tramitação da causa às suas realidades. Adapta-se a tramitação processual que está na lei
às realidades do caso concreto.
Aplicação da lei processual civil no tempo:
Primeiro aplicam-se as normas de sucessão de leis que estão no artigo 12º CC: 1-
aplicação de normas de direito transitório (ex.: artigo 5º, 6º e 7º da lei que aprovou o
CPC); 2- regras do artigo 12º CC (a lei nova aplica-se aos processos pendentes na data
da sua entrada em vigor) e a regra do artigo 297ºCC (prevê a situação em que a lei nova
estende um prazo -nº2, e a situação em que a lei nova encurta um prazo - nº1).
Princípio do tempus actum regit (artigo 136º, nº1 CPC) – a forma que o ato deve
obedecer é sempre regulada pela lei em vigor na prática do ato, sendo irrelevante a lei
futura.
Princípio da estabilidade da forma do processo (artigo 136º, nº2 CPC) – a forma
do processo é a forma da ação. A forma de processo que se aplica a uma determinada
causa regula-se pela lei processual em vigor na data em que esse processo foi
instaurado.
Princípio prepetuatio jurisdictiones (artigo 38º Lei de Organização do sistema
judiciário - LOSJ). É a lei que está vigente no momento da propositura da ação que
determina o tribunal competente para o julgar, sendo irrelevantes as modificações de
direito. há, porém 2 exceções, que estão previstos na parte final do nº2 do artigo 38º da
LOSJ: se a lei nova vier a suprimir um tribunal, então a competência tem de ser

21
regulada pela lei nova; quando o tribunal que não era competente no momento em que a
causa lhe foi proposta passar a ser competente para o conhecimento da causa – é
possível que uma ação seja desencadeada num tribunal que não tem competência para
conhecer da causa.
O primeiro requisito da admissibilidade de recurso é o valor das Alçadas -
Artigo 44º, nº3 LOSJ – as alçadas são um valor que está fixado na lei que tem que ver
com um dos critérios para a admissibilidade dos recursos. Estabelece uma bitola abaixo
da qual a ação não é admitida recurso (artigo 44º, nº1 LOSJ). Ainda que o valor das
alçadas seja alterada no decorrer do processo, a admissibilidade do recurso das ações
rege-se pela lei que estava em vigor no momento da entrada em vigor do processo. (ex.:
artigo 629º, nº1 CPC – só se pode interpor recurso de uma decisão se o valor do
processo exceder o valor da alçada do tribunal em que se quer pôr o processo – todas
ações tem um valor certo em euros independentemente daquilo que se está a discutir no
processo).
Aplicação da lei processual civil no espaço:
Distinção entre a Lex fori (lei do tribunal) e a lei da causa (normas que temos de
aplicar para dirimir o litígio). A lei da causa pode aplicar ao litígio uma lei estrangeira,
já a lex fori é a lei que regula o processo da causa e, essa é sempre a lei do Estado do
tribunal. A lei processual aplicada é a lei do estado do tribunal do processo da causa.
Esta é a regra, mas há penas exceções:
- Procedimento europeu de injunção para pagamento (regulamento CE,
nº1896/2006);
- Processo europeu para ações de pequenos montantes (regulamento CE
861/2007);
- Também é possível praticar atos processuais portugueses ao abrigo de direito
estrangeiro através da cooperação judiciária – carta rogatórias (instrumentos de
cooperação entre tribunais de estados diferentes – artigo 172º, nº1 CPC) – o legislador
permite que nas cartas rogatórias dirigidas ao tribunal português seja aplicadas leis
processuais estrageiras (artigo 182º, nº2 CPC), mas tem de ser formalidades que não
ofendam os princípios fundamentais do direito português.
- A possibilidade que o nosso ordenamento jurídico reconhece de poderem ser cá
executadas decisões de tribunais estrangeiros, no entanto a lei exige que a decisão tenha
de ser revista e confirmada por um tribunal português em que se avalia se está conforme
os princípios portugueses através da ação de processo de revisão de ações estrangeiras.
Pede-se o exequatur ao tribunal português. No entanto, certas decisões e sentenças
estrangeiras podem ser aplicadas em tribunal sem que haja necessidade de exequátur: as
decisões arbitradas no estrangeiro proferidas em arbitragens localizadas em estados
aderentes á convenção de New York de 1958 – artigo 55º LAV. Regulamento europeu
215/2012 -as ações de litígios civis ou comerciais proferidas por tribunais europeus
aplicam-se diretamente em Portugal. O regulamento 2201/2003 sobre ações parentais
não exige revisão e confirmação das decisões, obrigações alimentares do regulamento
204/2009); tipo do executivo europeu para créditos não contestados, regulamento

22
805/2004; processos de insolvência; regulamentos 650/2012 relativo a processos
sucessórios.

Direitos fundamentais e o processo civil:


Há muito tempo os direitos fundamentais tinham a ver com a relevância das
relações jurídicas e não com questões processuais, mas hoje já não é assim, porque isso
é reconhecido, desde logo pela nossa CRP (artigo 20º, nº 1 e 4 CRP, artigo 6º
Convenção Europeia dos Direitos Humanos, e o artigo 47º da CDFUE).
Artigo 20º CRP, nº1 e 4: temos consagrados o direito a uma tutela jurisdicional
efetiva, direito fundamental a um processo equitativo/justo, direito fundamental a um
processo publico (resulta do artigo 6º CDH), direito fundamental a um tribunal
independente e imparcial (implícito no direito fundamental a um processo equitativo,
esta expresso no artigo 6º CDH e parcialmente refletido no artigo 203º CRP), direito
fundamenta a uma decisão judicial em prazo razoável, direito fundamental ao patrocínio
forense, ou seja, a ser assistido por advogado (implícito no direito fundamental a
processo equitativo e está reconhecido pelo artigo 208º CRP) e, o direito fundamental á
assistência judiciária. Podemos agrupar os direitos fundamentais em 2 grandes grupos:
- Direito fundamental a tutela jurisdicional efetiva em sentido amplo
- Direito fundamental a um processo equitativo em sentido amplo
Os dois grandes grupos são concretizados no direito ordinários pelos princípios
gerais do processo civil:
- Direito fundamental á tutela jurisdicional efetiva: princípio do acessão á
justiça, não denegação da justiça por motivos económicos e principio do dispositivo
- Direito fundamental a um processo equitativo: princípio da independência e da
imparcialidade dos tribunais, principio contraditório, principio igualdade, principio
publicidade, principio cooperação e o principio do patrocínio forense
Podemos ainda invocar princípios de direito processual civil que não
concretizam normas constitucionais, são princípios de direito originário que, porque não
são direito constitucionais o legislador pode revogar (ex.: princípio da livre apreciação
da prova, artigo 9º-A)

23
21/10/2021
Na aula passada estivemos a ver os princípios gerais do processo civil, que estão
intimamente ligados aos artigos 20º, nº1 CRP e 20º, nº4 CRP e aos direitos
fundamentais.
Princípios gerais do processo civil:
- Princípio do acesso á justiça: concretiza diretamente no plano do direito
ordinário a ideia do direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva (artigo 20º,
nº1 CRP). A ideia de tutela jurisdicional efetiva corresponde no plano do direito
ordinário ao princípio do acesso á justiça e ao direito de ação (artigo 2º, nº1 CPC).
O direito de ação corresponde ao direito a aceder a um tribunal e neste propor
uma ação com vista a tutelar posições jurídicas subjetivas. Compreende também a
pretensão de obter da parte do tribunal uma pronúncia jurisdicional de mérito, ou seja,
que resolva em definitivo aquele litígio. O direito de ação não compreende a expectativa
que o titular do direito de ação tem (saber se a decisão é favorável ou desfavorável não é
matéria que esteja compreendida no âmbito do direito de ação). O direito de ação
concretiza no plano do direito ordinário o direito a uma tutela jurisdicional efetiva. Todo
o direito de ação está construído na perspetiva de tutela da posição jurídica subjetiva
daquele que se dirige ao tribunal.
É possível exercer o direito de ação dos interesses coletivos ou legalmente
protegidos, isto decorre do artigo 52º, nº3 CRP – reconheço o direito de ação popular –
direito de aceder a tribunais para a tutela de posições jurídicas subjetivas que tem uma
natureza difusa/coletiva. Lei nº 83/95 – lei de ação popular - regula o exercício de ação
popular (artigo 1º, nº1 e 2; artigo 2º). Para efeitos do direito de ação popular, não é
necessário que esteja a tutelar um interesse que exista na minha esfera jurídica, isto é,
que tenha algo a ganhar diretamente na minha esfera jurídica.
Quer a CRP no artigo 20, nº1, quer o artigo 2º CPC quando se referem ao direito
de ação fazem-no sempre na perspetiva subjetiva desse direito. O direito de ação
também tem um reverso da medalha que é o direito de defesa.
O direito de defesa do demandado é o reverso do direito de ação que pertence ao
demandante. Direito de defesa não está expressamente consagrado na constituição, mas
podemos dizer que é um direito fundamental praeter constituitionem. O direito de
defesa é assegurado no ponto de vista do plano ordinário, na necessidade de a pessoa
contra quem se interpõe a ação ser chamada a tribunal para se opor á pretensão que for
exercida contra si – artigo 3º, nº1 CPC – ação de chamamento a juízo.
Este chamamento a juízo do demandado faz-se através de um ato processual
típico e nominado que se chama citação – artigo 219º, nº1 CPC. É através da citação
tem uma dupla função: dar conhecimento ao réu que foi proposta contra ele uma ação e
se convoca-lo para vir ao processo defender-se. A lei dá uma clara preferência que este
chamamento seja feito pessoalmente, ou seja, seja demandado na própria pessoa do reu
de modo a permitir um conhecimento efetivo da citação, mas também existem exceções
nomeadamente a fixação de editais.

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O direito á defesa não se confunde, embora haja uma grande sobreposição, com
o princípio do contraditório. O direito á defesa corresponde á existência de uma
oportunidade processual de o demandado poder apresentar a sua versão dos factos e os
seus argumentos jurídicos ao tribunal. Embora a regra fundamental seja a de que a
defesa deve ser exercida em momento anterior ao do tribunal tomar decisão, o legislador
aceita, em certas situações, que a defesa apareça depois da tomada de decisão
(processos cautelares em que em certas circunstancias o tribunal pode tomar a decisão
sem ouvir os argumentos e exposições da parte demandada, depois dá a oportunidade do
direito de defesa e no final revê a decisão que tomou).
O direito á defesa não é um direito imprescindível, isto significa que não coloca
o processo a posição de ficar parado enquanto o demandado não apresentar a sua defesa,
pois se assim fosse criaria o expediente de o demandado não se defender quando o
processo não lhe interessasse. O direito á defesa dá a oportunidade processual ao
demandado para se defender, mas não exige que esse apresente a sua defesa. Quando o
réu não apresenta a sua defesa no momento em que tinha legitimidade processual para o
fazer dizemos que o Réu está em revelia, o que terá como consequência os acts serem
considerados provados, mas a apreciação é livre. Assim, sendo se o demandado não
apesentar a sua defesa o processo não para, mas dai podem resultar consequências para
o próprio demandado. Os diferentes ordenamentos jurídicos preevem 2 grandes sistemas
de consequências processuais quando o demandado não se vem defender:
1. Ficta connfessio – se o demandado não se vem defender ficciona-se que ele
confessou o que lhe era pedido. Fixiona-se que a ausência de defesa do demandado
(países anglo-saxoicos)
2. Ficta contestatio – ficciona-se que o demandado contestou com a sua
ausencia, por isso fica na esfera do demandante provar. (países europeus, sistema latino
ou germano-romanico)
Entre nós seguimos o modelo híbrido que fica entre ambos os sistemas: modelo
que se encontra previsto no 567º nº1 CPC que corresponde ao efeito cominatório semi-
pleno. Apesar de os factos estarem demonstrados o tribunal pode julgar insuficientes.
No RADEPI prevê-se um efeito cominatório pleno (artigo 2º RADEPI), este
regime é mais inflexível porque esta ação declarativa especial diz respeito a litígios de
reduzido montante e que tem na sua base processos muito mais concretos. Mas aqui há
2 limitações: exceções dilatórias ou que o pedido seja manifestamente imprudente.
Também temos um conjunto de situações em que aplicamos o sistema da ficta
contestassio – artigo 568º CPC.
- Princípio da não denegação da justiça por razões económicas: que concretiza
no plano do direito ordinário o direito fundamental á assistência judiciária (artigo 20º,
nº1 CRP). A justiça é custosa, tem custos a suportar pelas partes, isto poderia significar
uma entrave no exercício de uma tutela jurisdicional efetiva por parte daqueles que não
tem uma elevada natureza económica - ter um direito e não ter condições para o exercer
é como não ter. corresponde a um direito fundamental á natureza judiciária, que se
concretiza na lei de acesso ao direito e aos tribunais (lei30/2004) que prevê 2
modalidades estruturantes:

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1. apoio judiciário – corresponde ao pagamento das taxas de justiça e das demais
custas judiciais. O apoio judiciário também pode compreender o pagamento faseado.
2. assistência judiciária – as partes também têm de suportar os custos com o seu
próprio patrocínio forense. A assistência judiciária corresponde á designação de um
patrono forense. Permite que seja nomeado um advogado á parte que carece de meios
económicos e que esse advogado seja pago pela segurança social. Quem escolhe o
advogado é a ordem dos advogados.
A justiça do sistema judiciário publico não é gratuito pois depende do
pagamento de encargos tributários e vamos estudar o seu regime para ver como
funcionam (regulamento das custas processuais e artigo 529º, nº1 CPC)
Taxa de justiça – artigo 530 CPC: tributo devido pelo impulso processual. Taxa
que tem de ser paga quer pelo lado ativo (demandante) quer pelo lado passivo
(demandado) da relação jurídica processual. Esta taxa é de montante variável. Pode
ainda haver lugar ao pagamento de uma taxa de justiça adicional depois das ações serem
julgadas.
Encargos: custo efetivo de determinadas diligencias que se desenvolvem no
processo.
Custas de parte: o direito que as partes têm a ser reembolsadas das despesas que
tiveram com o processo, incluindo as taxas de justiças e em determinadas ocasiões as
taxas que pagaram aos seus advogados.
A responsabilidade pelas custas processuais (artigo 527º CPC) cabe á parte que
tiver dado causa às custas, ou seja, a parte vencida na ação na proporção em que o for -
lei admite que o vencimento possa não ser total.
O atual regime das custas processuais prevê desde logo que haja uma taxa de
justiça que, desde logo, é paga á cabeça. No final acerta-se contas através do regime de
partes.
O regime da taxa de justiça encontra-se no Regulamento das Custas processuais,
que prevê em anexo (tabela 1) que vem fixar o montante da taxa de justiça devida
variável de acordo com a taxa variável. UC – unidade de conta processual. A UC tem u
valor que varia anualmente e que está associado ao IAS. Atualmente uma UC
corresponde a 102€. A taxa de justiça tem de ser paga pelas partes, exceto se houver
apoio judiciário, artigo 145º CPC. Assim, a taxa de justiça varia consoante o valor da
causa.
Artigo 531º CPC – taxa sancionatória excecional. Caso em que as partes não
agiram com diligencia. O montante da taxa sancionatória excecional esta no artigo 10º
do regulamento das custas processuais.
Qual a natureza jurídica tributária da taxa? A taxa tem uma natureza
sinalagmática e tem uma relação proporcional de acordo com o serviço que me é
prestado. Discutiu-se muito na doutrina se isto era um imposto ou uma taxa e, o
argumento que se usava era que o montante que as partes se obrigam a paga como taxa
de justiça não tem muitas relação com a taxa de justiça, por isso havia muita gente que

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ostentava que isto era um imposto. O TC pronunciou-se no sentido de que a taxa de
justiça era uma verdadeira taxa e, portanto, não tem de obedecer às regras
constitucionais previstas para os impostos.
Como vimos, o critério que é atendido para feitos de custas é o conceito do valor
da ação/ valor da causa – resulta do artigo 11º do Regulamento das Custas Processuais.
A base tributável da taxa de justiça é o valor da causa.
No antigo CPC o valor da causa determinava a forma do processo. Atualmente
ainda se utiliza o valor da causa para determinar a possibilidade de usar certas formas de
processuais.
Ter uma cópia atualizada do regulamento das custas processuais!!
O artigo 296º CPC diz-nos que toda a causa tem de ter um valor atribuído. Toda
a causa tem um valor certo em moeda legal. Este valor exprime a utilidade económica
da causa. O valor da ação tem de ser indicado pela causa (artigo 552º, nº1 f) CPC e do
artigo 305º, nº1 CPC). Antigamente o acordo do autor e o reu era fixado pelo acordo das
partes. Mas na reforma de 2007 do CPC anterior o autor continua a ter de indicar o valor
da causa, o reu continua a poder-se manifestar quanto ao valor da causa, mas quem fixa
o valor da causa é o juiz (artigo 306º CPC) no despacho saneador, ou no caso de não
existência deste, no inicio da sentença.
Quais são os critérios de fixação do valor da causa?
- nº1 do artigo 296º CPC: o valor da causa tem de revelar a utilidade económica
que aquele pedido tem para as partes.
- nº1 o artigo 297º CPC: acrescenta que o valor da causa é aquele que se pede em
dinheiro. A situação complica mais quando o que se pede não é dinheiro pois é mais
difícil de fazer essa avaliação, mas o mesmo artigo manda que se avalie em dinheiro
qual é a expressão voluntária do beneficio que se pretende obter e esse será o valor da
causa – isto quando não haja uma norma que se aplique em concreto. Isto é concretizado
em várias ações especiais:
1. ações de despejo (artigo 298º, nº1 CPC): ações em que se pretende a cessação
do contrato de arrendamento e a condenação do locatário a restituir a coisa locada ao
senhorio. Este tipo de pretensão é muito frequente, por isso o legislador estabelece um
valor da causa.
Ex.1: num contrato de arrendamento a renda era de 300€ por mês. O senhorio
pede uma indemnização por 4 rendas em atraso e uma indemnização de 1000€ por obras
ilícitas. Resposta: 30 meses x 300€ + 4meses x300€ de renda em atraso = 10200€.
Desconsideramos o valor da indemnização porque é o mais reduzido
Ex. 2: 450€ renda mensal, 3 rendas em divida e indemnização de 2500€.
Resposta: desconsideramos o valor das 3 rendas em divida porque é o valor mais
reduzido.
2. Contrato de locação financeira (leasing) – nº2 do artigo 298º CPC

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3. Pretensões deduzidas de obrigações de alimentos (nº3 artigo 298º CPC) ex.:
numa pensão de alimentos de 500€ o valor da causa seria 500x12x5=30000
4. ações relativas a prestações periódicas (artigo 300º, nº2 CPC). É o caso das
rendas vitalícias. Ex.: está em causa um contrato de renda de 30 anos no valor de 500€
(prestação periódica). A anuidade corresponde a 6000€, se é por 30 anos vou multiplicar
por 20, por isso o valor da causa é 120000€. Se fosse por 10 anos, multiplicaria por 10.
Caso seja impossível de determinar o número de anos aplica-se o valor da alçada da
relação mais um cêntimo (artigo 44º, nº1 LOSJ).
5. O artigo 301º, nº1 CPC regula a determinação do valor da causa quando a
ação tenha por objeto contratos e outros objetos. O valor da causa será o preço ou o
estipulado pelas partes. O nº2 vem dizer eu se não houver preço ou valor estipulado
pelas partes se aplicam as regras gerais (artigo 297º CPC). O nº3 fala-nos da simulação,
informando-nos que se atende ao valor mais elevado dos valores em questão.
6. nas ações reais (artigo 302º), em que se pretende obter o reconhecimento da
propriedade ou de um direito real sobre determinada coisa. É pelo valor da coisa que
vamos determinar o valor da causa: se a coisa for um imóvel determinamos pelo valor
do seu registo, mas se for uma coisa movel não sujeita a registo o juiz irá a apreciar o
valor da coisa e será esse o valor fixado em ação.
Ex.: A vendeu a B um terreno rustico com o valor patrimonial de 80mil euros
por 50mil euros. E C interpõe uma ação dizendo que a propriedade é dele. Resposta: o
valor da causa será de 50mil euros por aplicação do artigo 302º CPC.
B interpõe uma ação para invalidar o contato. Resposta: o valor da causa será
determinado pelo artigo 301º CPC.
O artigo 302º CPC prevê, ainda, os processos de inventário e a ação de divisão
de coisa comum.
7. o artigo 303º CPC vem estabelecer o valor da causa das ações de estado das
pessoas (paternidade e maternidade) ou sobre interesses imateriais ou difusos, às quais
se aplica o valor da alçada da relação mais 1 cêntimo, porque não há uma utilidade
económica evidente.
No nº3, ao colocar um teto máximo ao valor dação faz com que as pessoas não
queiram pagar custas desproporcionadas.
Há ainda outras regras que temos de observar:
1. uma ação pode cumular vários pedidos (artigo 297º, nº2 CPC).
Ex.1: a e b celebram um contrato de compra venda de um imóvel que tinha
como valor patrimonial tributário de 100 mil euros, A paga 30 mil euros. A pede uma
ação de anulação do contrato e pede o reembolso dos seus 30 mil euros. Resposta: o
valor da causa do reembolso é dada pelo artigo 297º, nº1 CPC. O valor da ação do
pedido de anulação é o valor estipulado pelas partes, nos termos do artigo 297º, nº2,
parte inicial.

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Ex. 2: o escultor vendeu a sua escultura por 30 mil euros. O adquirente da
escultura pintou-a de amarelo. O escultor coloca uma ação em tribunal, pede uma ação
de 5 mil euros e a restituição de como estava a escultura. Resposta: temos 2 pedidos, a
indemnização e a reposição da situação da estatua, sendo 2 pedidos temos de abdicar do
artigo 297º, nº2 CPC. O valor da reposição será o fixado pelo artigo 303º, nº1 CPC mais
os 5 mil euros do valor da indemnização (artigo 297º CPC)
O artigo 297º, nº2 prevê uma situação especial os juros, rendas ou rendimentos
já vencidos ou que vencerem no decorrer da ação. Para determinar o valor da causa só
se tem em conta as rendas ou os juros já vencidos.
Ex.: o contrato de arrendamento tinha uma renda de 300€. O senhorio pede uma
cessação do contrato, haviam 2 rendas em atraso e pede-se a indemnização de 1000
euros por obras ilícitas.
A lei permite também cumular pedidos de forma alternativa ou subsidiária.
Quando se cumulam pedidos alternativos (nº3 do artigo 297º CPC) atende-se
unicamente ao pedido de maior valor.
Se a cumulação de pedidos for subsidiária (ordem de preferência) atende-se
apenas ao pedido formulado em primeiro lugar para determinação do valor da causa.
O artigo 299º CPC vem dizer que o valor da causa é determinado tendo em conta
a realidade existente no momento que a ação foi proposta. O nº2 e o nº4 do artigo 299º
funcionam como exceção. A propositura da ação é ela mesma que determina o valor da
ação.
O artigo 306º, nº2 vem dizer que o valor da causa é fixado no despacho saneador
ou na sentença se não houver despacho saneador.
Quando se fixa o valor da causa pode-se fixar um valor diferente daquele que é
fixado pelo autor. Isso pode ter consequência quer em relação ao tribunal ou á forma de
processo (artigo 310º, nº2 e 3º CPC), podendo implicar a alteração da forma do processo
ou do tribunal competente para o reconhecimento da causa.

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28/10/2021
Irrelevância do incumprimento das normas tributárias: muitas vezes as partes dirigem-
se a tribunal invocando factos sujeitos a tributação. Durante muito tempo o nosso CPC dizia
que não se podia invocar em tribunal factos que estariam sujeitos a tributação sem que fosse
demonstrado o cumprimento das normas fiscais (se houvessem obrigações que não fossem
cumpridas suspendia-se a instância), na reforma de 95/96 do código anterior foi alterado o
paradigma, sendo entendido pelo legislador que os direitos das partes não pudessem ser
recenseados pelo cumprimento ou não das normas fiscais – artigo 274º CPC.

O artigo 274 CPC prevê 2 tipos de situações: factos que não tenham sido trazidos ao
processo e o incumprimento de certas obrigações. Se forem alegados factos ou invocadas
situações que deveriam ter dado origem ao cumprimento de uma obrigação tributária e essa
obrigação tributária não esteja cumprida, isso não impede o tribunal de dirimir o litigio, salvo
nos casos em que é o próprio processo a fazer a transmissão e, certa transmissões de bens
estão sujeitas a imposto (imóveis). Porque a transmissão é feita pelo próprio processo judicial
ela não se pode fazer enquanto não for demonstrado o pagamento devido do IMT.

O nº3 diz-nos que o processo prossegue, não havendo relevância processual do não
cumprimento das obrigações fiscais, mas a secretaria do tribunal fornece ás finanças
informações acerca dos incumprimentos.

Quando se junte como meio de prova um documento que esteja sujeito a imposto,
esse documento não pode ser utilizado como prova.

O nº2 vem dizer que o documento é admitido como meio de prova apesar de não ter
sido cumprida a obrigação fiscal e o tribunal participa essa obrigação fiscal á repartição das
finanças para que se possa regularizar essa situação.

Princípio do dispositivo:

Está intimamente ligado á ideia da disponibilidade, ou seja, de se tratar de direitos


disponíveis e, essa ideia de disponibilidade projeta-se também na ideia de disponibilidade de
processo civil como um todo. O processo civil tem na sua ideia direitos disponíveis. Nos litígios
de direito privado as partes podem elas mesmas entender-se sobre o litigio que tem, sem
sequer ir a um tribunal, ter advogado, etc.

Esta ideia de disponibilidade dos direitos, que é própria e inerente aos litígios de
direitos privados, mas que não é absoluta, pois há varias figuras que não ostentem a
disponibilidade. O princípio dos dispositivo revela a pretensão de que as partes tem a
disponibilidade sobre o processo cível.

O princípio do dispositivo desdobra-se em 2 modalidades:

- Disponibilidade sobre a instância ((relação jurídico processual) é uma relação jurídica


tripartida: tem 3 sujeitos (o tribunal que surge numa posição de supra-infraordenação, em
relação às partes que estão em paridade entre si)).

A instancia tem por sujeitos (elemento subjetivo da instancia), não só as partes


(demandante, demandado e partes acessórias), mas também o tribunal, que também é um
sujeito da instancia mas não é parte no litigio. A instancia tem também uma outra dimensão,
que é o seu objeto (elemento objetivo da instância), que se divide em pedido (concretas
pretensões que são deduzidas) e causa de pedido (fundamentação fáctico jurídica do pedido –

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tenho de avançar com um conjunto de facto que, se demonstrados, justifiquem a pretensão
que venho pedir).

Resulta que a instância esta na disponibilidade das partes, pois são estas que tem o
domínio da instância (relação jurídico-processual), o que se revela pelo facto de estar a surgir
pela iniciativa das partes (demandante).

Como é que esta ideia de disponibilidade da instância surge no processo?

A configuração da instância com aquelas partes e aquele tribunal é o resultado de uma


opção do demandante. É o demandante que tem a disponibilidade sobre a constituição da
instância. Nº1 do artigo 259º CPC – a instância inicia quando há a propositura da ação em
tribunal, mas a perfeição da constituição da instância ocorre apenas quando ocorre a citação
do reu (artigo 219º, nº1 CPC) – até á citação o reu não sabe que foi entreposta uma ação
contra si. A subsistência da instancia também está na disponibilidade das partes, porque as
partes podem suspender a instancia por acordo (artigo 272º, nº4 CPC), independentemente do
tribunal estar ou não de acordo, mas esta não é a única causa de suspensão da instancia,
porque a instancia também se pode suspender devido a uma decisão autoritária do tribunal.

A disponibilidade revela-se ainda quanto á própria extinção da instância, que pode


também resultar da vontade das partes: negócios processuais/com relevância processual que
podem dizer respeito ao próprio objeto do litígio ou ser-lhe verdadeiramente alheios.

(O litígio que se está a discutir denomina-se relação material controvertida)

Estes negócios processuais podem ser relativamente á instância ou á relação


controvertida. Artigo 285º, nº2 CPC– desistência é um negócio unilateral e puramente
processual em que o demandante desiste do processo que demandou e, só releva para efeitos
do processo, não tendo qualquer relevância em relação ao litígio que se discute. O artigo 286º,
nº 1 CPC vem dizer que a desistência da instância é absolutamente livre (só o autor é que pode
desistir) até ao momento em que o reu apresente a sua contestação, a partir desse momento a
desistência da instância depende já do consentimento do próprio reu. A desistência da
instância que extingue o processo vai depender da vontade das partes e, esta vontade das
partes tem por efeito extinguir o processo. A extinção da instância também pode ocorrer dos
negócios de autocomposição de litígios, isto resulta desde logo que os negócios de
autocomposiçao de litígios podem ser unilaterais (desistência do pedido (artigo 283º, nº1 e
285º, nº1 CPC) ou confissão do pedido – resultam da vontade de uma das partes) ou bilaterais
(natureza contratual).

A desistência do pedido não é um mero negócio processual, é um negócio sobre a


relação controvertida. A desistência do pedido não é só uma desistência do processo, é
também uma desistência de direitos. Desistir do pedido extingue o direito que queria tutelar
judicialmente, por isso tem eficácia extra-processual, aplica-se além do processo. A desistência
da instância não extingue o direito, ou seja, não há uma renúncia ao direito.

A confissão do pedido é proveniente do reu ou do demandado, isto é, é o reu a


reconhecer a pretensão que contra si foi interposta. É também um negócio de composição o
litígio.

O negócio bilateral de autocomposiçao de litigio é um contrato de transação (artigo


1248º CC – contrato através do qual as partes previnem um litigio mediante reciprocas
concessões – as partes chegam a acordo durante o processo judicial – as partes transigem nas

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suas posições). É admissível por expresso reconhecimento do CPC no artigo 283º, nº2 CPC. No
entanto, os negócios de autocomposiçao de litígios tem limites – artigo 289º, nº1 CPC e do
1249º CPC. O artigo 289º, nº2 CPC constitui-se como uma exceção: o divorcio sem o
consentimento do outro conjugue e a separação são direitos indisponíveis.

Princípio do favor matrimonii- se na pendencia de uma ação de divorcio os conjugues


se conciliaram então concede-se a possibilidade de desistir do pedido.

A disponibilidade das partes quanto á extinção da instância manifesta-se ainda através


da figura da submissão de litígio a tribunal arbitral: podendo ser um compromisso arbitral ou
uma clausula compromissória (artigo 1º, nº3 LAV). A celebração de um compromisso arbitral
extingue a instância no tribunal estadual – artigo 280º CPC. É também uma manifestação do
princípio do dispositivo quanto á disponibilidade das partes na extinção da instância.

A disponibilidade das partes revela-se ainda quanto á conformação dos elementos


(objetivo e subjetivo) da instância. É o autor a propor a instância que seleciona os sujeitos e
objeto da instância, e quando o reu é citado ocorre a estabilidade da instância – artigo 260º
CPC – principio da estabilidade da instancia. Isto pode levar a modificações quanto aos sujeitos
ou quanto ao objeto. As modificações subjetivas podem dizer respeito ao tribunal (o processo
é remetido a outro tribunal) ou às partes (modificação das partes através do aditamento de
outras partes (intervenção de terceiros) ou mediante a substituição de uma parte no processo
por um terceiro que vem assumir a posição de parte (acontece muitas vezes quando uma
parte morre e lhe sucede um herdeiro)), as modificações objetivas dizem respeito ao objeto da
instância.

A modificação o objeto da instância pode resultar do acordo das partes, da vontade de


uma das partes ou da reconvenção.

Na instância comum temos um autor que deduz contra um reu um pedido com uma
causa de pedido. A reconvenção é o mecanismo processual que permite, no âmbito de uma
ação, ao reu deduzir um pedido contra um autor (pedido reconvencional que assenta numa
causa de pedir reconvencional e o outro chama-se pedido primitivo) – o objeto passa a incluir
também o pedido reconvencional e a causa de pedir reconvencional. Passamos a ter reu
reconvindo e autor reconvindo.

- Disponibilidade sobre os factos que são objeto da instância: é as partes e apenas ás


partes que cabe alegar os factos essências que integram a causa de pedir. (a exceção é um
meio de defesa que o reu pode usar da pretensão do autor)

São as partes que tem de alegar os factos essenciais. Os factos essenciais (culpa,
ilicitude, danos, nexo de causalidade) relativos á causa de pedir primitiva, á causa de pedir
reconvencional ou ás exceções que não tenham sido alegados não podem ser reconhecidos
pelo tribunal – artigo 5º, nº2 CPC.

O nº1 diz que os factos essenciais têm de ser alegados pelas partes, mas os factos que
não sendo essenciais podem ser reconhecidos pelo tribunal.

Artigo 612º CPC

a) do nº2 da artigo 5º CPC – factos instrumentais (factos que servem de instrumento


ao conhecimento de outros factos. Os factos instrumentais não precisam de ser alegados pelas
artes desde que resultem da produção de prova

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b) do nº2 do artigo 5º CPC – factos complementares e concretizadores desde que
resultem durante a produção de prova (instrução da causa).

Existe ainda a possibilidade de as partes estabelecerem um acordo quanto aos factos


da causa – artigo 574º, n 2 CPC (ónus da impugnação justificada – se o reu na sua contestação
não colocar em causa os factos que o autor alegou esses factos consideram-se estabelecidos
por acordo, isso resulta do artigo 607º, nº 4 CPC – o tribunal tem de ter em consideração os
factos admitidos por acordo entre as partes).

Os factos são as parcelas da realidade que, se demonstradas, depois produzem efeitos


jurídicos, os meios de prova são os meios dirigidos a demonstrar que um determinado facto
ocorreu. Os factos têm de ser alegados pelas partes. Os meios de prova são os meios
processuais utilizados para provar os factos alegados pelas partes. Se não alegar um facto não
há maneira de o provar, mas mesmo tendo alegado um facto depois é necessário prová-lo. Se
em relação aos factos vigora o princípio do dispositivo, tem de ser as partes a alegar os factos,
em relação aos meios de prova vigora o princípio do inquisitório – artigo 411º CPC. O tribunal
pode ordenar oficiosamente a produção de todo e qualquer meio de prova que entenda
necessário para provar os factos:

Artigo 436º CPC – prova documental

Artigo 477 E 487, Nº2 CPC – prova pericial

Artigo 490º, nº1 CPC -Prova por inspeção judicial

Artigo 494 Verificações judiciais não qualificadas

Artigo 526 – inquirição de testemunhas

O princípio do dispositivo não se aplica á matéria de direito, pois em relação a essa


matéria vigora o principio iura novit curia (de direito conhece o tribunal) – o tribunal, em
matéria de direito, não está vinculado às posições das partes- artigo 5º nº3 CPC

Princípio da independência e da imparcialidade dos tribunais:

Independência e imparcialidade são conceitos afins, mas que são distintos.

Independência dos tribunais (artigo 203º CRP, que se concretiza no artigo 4º, nº1
LOSJ), podemos distinguir independência (os tribunais não recebem ordens nem instruções de
qualquer autoridade externa) externa e independência interna (os tribunais são
independentes mesmo no plano do sistema judiciário, ou seja, os tribunais são independentes
uns dos outs, porem existe um limite: o dever de obediência ás decisões proferidas pelos
tribunas superiores no âmbito de um recurso (artigo 4º, nº1 LOSJ que é equivalente ao 4º, nº1
do estatuto dos magistrados judiciais).

Para garantir que os magistrados são totalmente independentes a CRP prevê um


conjunto de mecanismos que garanta essa independência: conselho superior de magistratura
(artigo 218º CRP), privilégios e imunidades dos juízes que são instrumentais a garantir a
estabilidade jurisdicional (artigo 216º CRP: inamobilidade dos juízes, irresponsabilidade dos
juízes, exclusividade do juiz,

Quanto ao principio da imparcialidade dos tribunais tem a ver com o individuo que
compõe o órgão e é aferido em concreto quanto ás partes que compõe o processo.
Corresponde, no fundo, numa equidistância e desinteresse entre o tribunal e as partes que

33
compõe o processo. Assim sendo, a imparcialidade é relativa enquanto a independência é
absoluta.

O legislador criou 3 mecanismos processuais para garantias da independência:


impedimentos, escusas e suspeições.

Os impedimentos são instrumento mais solenes e menos flexíveis e destinam-se a


acautelar situações mais evidentes. As escusas e as suspeições são menos solenes, mais
flexíveis e para situações menos evidentes. Sempre que estamos perante um situação de
impedimento não podemos estar perante uma situação de escusa ou de suspeição – não são
cumulativos.

Os impedimentos ocorrem quando se verificam causas objetivas que estão tipificadas


na lei como motivo de impedimento (artigo 115º, 117º e 84º CPC).

As relações de família estão previstas no CC no artigo 1576 e seguintes; afinidade -


artigo 1584º CC. não há afinidade de afinidade, por isso os afins dos afins não são afins entre
si.

Quais são as causas taxativas? (artigo 115º)

NOTA: quando a lei diz conjugue está a falar de pessoas casadas, não de pessoas que
vivem em união de facto. União de facto não gera afinidade.

34
29/10/2021
Continuação da análise do artigo 115º CPC
d.) e nº2 só há o impedimento quando o mandatário já era mandatário do
processo e depois entra o juiz, se for o contrário o mandatário é que será afastado
e) quando o juiz é chamado a proferir uma decisão num processo em que
já tenha tido intervenção.
f) está em causa alguma decisão proferida por algum dos familiares
mencionados.
g) abrange a situação em que um juiz vai julgar um processo em que é
parte alguém que noutro processo está a demandar o juiz. Mas não abrange aqui
situações da vida privada do juiz.
h) o juiz não pode ser simultaneamente juiz e testemunha no mesmo
processo. (artigo 499º CPC
i) deve ser conjugada com a alínea b) do mesmo artigo para que possa
abranger as uniões de facto. A união de facto não é fonte de relações jurídicas familiares
nem de parentesco.
Como funcionam os impedimentos? Artigo 116º CPC
Nº1 – o juiz tem o dever de se declarar impedido, desde que esse
impedimento caiba nas alíneas do 115º, nº1. Além disso, as partes podem também
requerer ao juiz que se deve declarar impedido, em qualquer omento do processo até
que seja declarada sentença. Da decisão do juiz de indeferimento do requerimento das
partes há sempre recuso para o tribunal imediatamente superior (artigo 116º, nº5 CPC)
Nº2 - a partir do momento em que o juiz se declara impedido deixa de ter
influência no processo.
Se este impedimento não for posto em causa até à sentença, então depois
desta o impedimento considera-se sanado. Se o juiz não se declarar impedido devendo
fazê-lo isto constitui uma nulidade processual secundária.
Além dos impedimentos, como medidas da tutela da imparcialidade temos ainda
as escusas e as suspeições, sendo certo que ambas abrangem o tipo de causa,
distinguindo-se apenas com base na sua proveniência. As escusas são a iniciativa do juiz
e as suspeições são da iniciativa das partes. Não é possível uma mesma situação ser
simultaneamente causa e impedimento da mesma situação.
Escusas:
É da iniciativa do juiz – é este que quer ser afastado do processo. Artigo 119º
CPC: existem 2 tipos de situações que podem levar á escusa dos juiz: “quando existem
circunstancias ponderosas que levam o juiz a entender que se pode suspeitar da sua
imparcialidade” (ultima parte do artigo 119º, nº1 CPC) e o artigo 120º (razoes
taxativas).

35
O juiz não se pode afastar do processo, mas pode pedir para que seja dispensado
da causa (nº2 do artigo 119º CPC). Ultrapassado o prazo o vicio fica sanado.
Nº3 do artigo 119º CPC – se for um juiz de primeira instância ou da relação o
pedido é dirigido ao presidente da relação respetiva. Se o juiz for do supremo tribunal
de justiça o pedido deverá ser feito ao presidente do STJ. A decisão quanto ao pedido de
escusa é tomada pelo presidente e não admite recurso.
Suspeições (artigo 12º CPC):
Instrumento de tutela da imparcialidade de mecanismo das partes.
O regime dos impedimentos prevalece sempre sobre o regime das escusas e das
suspeições.
Artigo 120º, nº1 CPC – clausula aberta – causas típicas de suspeição, mas que
não são exclusivas porque temos a clausula aberta do nº1 CPC. Estas alíneas
apresentam-se por remissão ao artigo 119º, nº1 CPC.

36
11/11/2021
Caso prático:
Em 15 de janeiro de 2020, ANÓNIO, SENHORIO, CELEBROU COM Carlos
um contrato de arrendamento, pela renda mensal de 250,00€, referente a uma fração
habitacional de um edifício sito no Porto, com valor patrimonial de 70.000,00€ e que
António tinha comprado pelo preço de 180.000€. Carlos pretendia destinar a fração para
sua futura residência conjugal uma vez que e iria casar no final de março com Eduarda.
Sucede, que logo em fevereiro de 2020, se deu conta de que a sala da fração era pouco
espaçosa e, sem autorização do senhorio, realizou a demolição de várias paredes de
maneira a aumentar a respetiva área, tendo deixado de efetuar o pagamento de duas
rendas em virtude das elevadas despesas que teve com a realização de obras.
Assim que tomou conhecimento das obras, em maio de 2020, António
confrontou Carlos na escadaria do edifício. Carlos, surpreendido, ripostou que António
era “um senhorio de bosta” e que “se aproveitava de pessoas indefesas para as aldrabar
alugando-lhes casas sem condições mínimas de habitabilidade”.
Na sequencia destes factos, junho de 2020 António porros contra Carlos uma açã
judicial peticionando a resolução do contrato de arrendamento com fundamento na
realização de obras ilícitas pelo arrendatário, a condenação deste no pagamento das
rendas vencidas e não pagas no valor de 750€, no pagamento das rendas que se vencem
durante a pendencia da ação, no pagamento de uma indemnização no valor de 1.200,00€
correspondente aos danos que as obras ilícitas de Carlos causaram na fração e no
pagamento de uma indemnização no valor de 15.000,00€ a titulo de responsabilidade
civil extracontratual decorrente afirmações injuriosas e difamatórias proferidas por
Carlos em maios de 2020.
Responda fundamentadamente, com invocação de todas as normas legais
pertinentes, às seguintes questões:
a.) qual o valor da ação que António deverá propor? (3 valores)
R.: A toda a ação deve ser atribuído um valor certo em euros (artigo 296º, nº1
CPC) que deve representar a utilidade económica do pedido, esse valor serve para
determinação da custa de justiça nos termos do RCP e nos termos da tabela 1 anexa ao
RCP.
Por aplicação do 297º, nº1 se pela ação se pretende obter qualquer quantia certa
em dinheiro é esse o valor da causa.
As pretensões iniciais de António correspondem a uma ação de despejo
(peticiona-se o reconhecimento da cessação do contrato de arrendamento e da
devolução do imóvel locado), uma pretensão de responsabilidade civil extracontratual
cumulada com a ação de despejo.
Quando se cumulem na mesma ação vários pedidos o valor da causa é a quantia
respondente ao somatório de todos os pedidos (artigo 297º CPC). Por aplicação do 297º,
nº1 com as anotações do nº2 o valor da causa de indemnização aplica-se o valor de
15.000,00€. Quanto á ação de despejo devemos aplicar o 298º, nº1 CPC, não se

37
atendendo aos interesses vincendos por força do artigo 297º, nº2 CPC. Assim sendo, o
valor da renda de 2 anos e meio (30x250€ =7500€), acrescido do valor de rendas em
divida (750€) ou do valor de indemnização requerida (1.200,00€). sendo o valor da
indemnização requerida superior ao valor das rendas em divida aplica-se este valor e o
valor dos 2 anos e meio de renda (8.700,00€). O valor do pedido de indemnização é de
15.000,00€.
Assim sendo, por aplicação do artigo 297º, nº2 CPC, o valor da causa é de
23.700,00€ (15.000€+8.700,00€).

b.) Admita que a ação proposta foi António foi distribuída a Bernardo juiz no
tribunal, o qual habita em condições análogas às dos conjugues com Francisca, sobrinha
de António. Que instrumentos processuais, se é que há algum, podem ser invocados
neste caso para garantir a imparcialidade do juiz em causa? (3 valores)
R.: Aqui está em causa a observância do princípio da imparcialidade que
consiste numa ideia de isenção, de equidistância do tribunal em relação às partes e de
desinteresse em relação á causa. Este princípio decorre do artigo 20º, nº4 CRP do direito
fundamental a um processo equitativo, resulta ainda do artigo 6º da CEDH. Em abstrato
a lei processual civil prevê 3 instrumentos de garantia da imparcialidade do tribunal:
impedimentos, escusas e suspeições.
Aqui está em causa que o António propôs em ação e o juiz Bernardo vive em
condições análogas às dos conjugues (união de facto) com Francisca que é sobrinha do
António. Não sendo casados não há nenhuma relação de afinidade. António e Francisca
são parentes colaterais em 3º grau.
Não se aplica o regime dos impedimentos pelo facto de estarmos perante o 3º
grau da linha colateral, se estivéssemos no 2º grau da linha colateral poderia ser
aplicado a alínea b) em conjugação da alínea i) do 115º CPC.
Não se aplica o artigo 120º, a) CPC pelo facto de estarmos perante união de
facto. Pelo que se podem aplicar as clausulas gerais do artigo 120º CPC e, pode o juiz
pedir escusa por verificação ponderosa de poderem suspeitar da sua imparcialidade.
Distinguir escusas e suspeições. O prazo de invocação das escusas e das
suspeições é de 10 dias (artigo 149º, nº1 CPC), mas os impedimentos podem ser
invocados em qualquer altura até que seja proferida decisão final.
Não é o juiz que decide escusar-se do processo, é dirigido ao presidente do
tribunal da relação respetiva que decide sem recurso (artigo 123º, nº3 CPC) e, na
pendencia da decisão o processo pode prosseguir intervindo nele o juiz substituto, mas
sem poder proferir despacho saneador nem decisão final.
Se se aplicar o artigo 115º não podemos também aplicar as escusas e suspeições.

c.) Suponha que depois de proposta a ação no Tribunal Judicial da Comarca o


Porto, em 1 de setembro de 2020 entra em vigor a Lei nº 999/2020 nos termos da qual

38
todos os litígios relativos arrendamento de prédios urbanos passam a ser da competência
de um único tribunal, denominado Tribunal Central do Arrendamento Urbano, com sede
em Viseu. Quid iuris? (3 valores)
R.: o problema que esta alínea nos coloca é um problema de aplicação da lei
processual civil no tempo, porque temos uma sucessão de leis no tempo.
A entrada em vigor desta nova lei tem influencia na ação proposta no tribunal
judicial da comarca do porto, pelo que se aplica o artigo 38º, nº2 LOSJ (principio da
prepetuatio iurisdictiones), a modificação da lei não afeta a competência de um tribunal
para reconhecer de um litigio. Porem há duas exceções elencadas no nº2 do artigo 38º
LOSJ, mas nenhuma das exceções se aplica a este caso. Portanto, a entrada em vigor da
nova lei não afeta a competência do tribunal da comarca do porto para reconhecer desta
causa.

Pressupostos processuais (condições de prosseguimento da ação):


Noção: são requisitos formais que tem de se verificar naquele concreto processo
para que o poder-dever de decisão que impende sobre o tribunal. Funcionam como
condições de prosseguimento da ação. O poder-dever de decisão só pode ser exercido se
estiverem preenchidos os pressupostos processuais. Se estes requisitos não estiverem
preenchidos o tribunal não pode proferir a decisão sobre o mérito da causa e então a
solução é a de extinção da instância que se faz sob a forma de absolvição do reu da
instância. A instância extingue-se sem que o litígio tenha sido dirimido. Há uma
exceção em que a falta de um pressuposto leva á remessa para outro tribunal.
Os pressupostos processuais distinguem-se de algumas figuras afins:
- Condições de existência da ação: corresponde a condições que tem de estar
preenchidas para que uma instância possa prosseguir juridicamente. Trata-se da própria
propositura da causa pelo autor – princípio da instância (a constituição da relação
jurídica processual depende da iniciativa das partes – o princípio do dispositivo na sua
dimensão de disponibilidade da instância diz-nos o mesmo). Não basta apenas a
propositura pois tem de haver a citação do réu para que esta seja eficaz, assim, sendo a
ação só existe verdadeiramente com plena eficácia a partir da citação do reu – artigo
259º, nº1 CPC.
- Condições de validade da ação: condições que tem de estar preenchidas para
que a instância seja juridicamente válida. A única causa de invalidade da relação
jurídica processual é a nulidade de todo o processo (artigo 186º, nº1 CPC), a inaptidão
da petição inicial determina a nulidade de todo o processo. Está em causa um vicio que
afeta toda a validade daquela instância
- Condições de procedência da ação, também designadas condições da ação:
requisitos que tem de estar preenchidos para que uma ação possa ser julgada procedente,
ou seja, para que seja conhecida a razão do autor e decretados os pedidos que ele
deduziu. Diz respeito a requisitos materiais/substanciais que tem de estar preenchidos
para que o tribunal, ao conhecer do mérito da causa, possa reconhecer da ação e dar
razão ao autor. Os pressupostos processuais são requisitos puramente formais que nada

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tem a ver com a substância do litigio, enquanto as condições da ação são requisitos
materiais.
Sequencia logica:
1. condições de existência
2. condições de validade de ação
3. condições de prosseguimento ou pressupostos processuais (se os pressupostos
não estiverem preenchidos o tribunal absolve o reu da instância)
4. condições de procedência da ação

- Pressupostos de atos processuais: certos atos processuais que tem ou podem ser
praticados ao longo do processo exigem a verificação de certos requisitos. Ex.: réplica
(artigo 584º CPC) a existência de reconvenção é um pressuposto para a prática o ato
processual réplica. Os pressupostos processuais são relativos a todo o processo,
enquanto os pressupostos de atos processuais são requisitos que tem de estar
preenchidos para que se possa praticar um determinado ato processual ou processo.
- Questões prejudiciais: tem de ser decididas previamente á decisão da causa.
São questões prejudiciais porque as respostas que lhes são dadas influencia a questão de
fundo do litígio (artigo 272º, nº1 CPC). As questões prejudiciais são questões que tem
de ser conhecidas. O reenvio prejudicial é também uma questão prejudicial – quando a
decisão de um litígio no direito interno depender da interpretação de direito europeu o
processo tem de ser suspenso e de se aguardar a resposta do TJUE.
- Incidentes processuais: todas as ocorrências que não correspondam aos
ritualismos processuais são incidentes processuais que são tributáveis em custas - artigo
7º, nº8 RCP. Tudo o que escape ao normal desenvolvimento da lide é considerado como
uma questão incidental que tem de ser decidido pelo tribunal, mas que não é central nem
nuclear ao objeto da causa.
Os pressupostos processuais podem ser classificados segundo 4 classificações:
1. em relação ao elemento da instância em que cada pressuposto se deve
verificar, ou seja, consoante se verifique em sujeito ou objeto. Podem ser pressupostos
relativos ao tribunal quando digam respeito á competência do tribunal; pressupostos
relativos ás partes que são os requisitos que se verificam quanto a ele; e os pressupostos
processuais em relação ao objeto da instancia (pedido e causa de pedir)
2. em relação ao requisito de preenchimento: pressupostos processuais positivos
quando é preciso que o requisito exista no processo, e pressupostos processuais
negativos que são aqueles que se preenchem quando a realidade que lhe está subjacente
está ausente daquele realidade processual (ex: litispendência e caso julgado)
3. critério do regime jurídico que regula os pressupostos processuais:
pressupostos nominados que normalmente são pressupostos típicos, ou seja, está
expressamente previsto na lei, e pressupostos inominados ou atípicos quando decorrem
de uma discussão doutrinária ou não estão expressamente previstos na lei (ex.: interesse
40
em agir /interesse processual). dizemos que um pressuposto processual é típico quando
o seu regime jurídico foi previsto pelo legislador, pelo contrário dizermos que os
pressupostos atípicos não tem a sua disciplina jurídica traçada pelo legislador.
4. critérios do conhecimento do tribunal: pressupostos processuais do
conhecimento oficioso quando o tribunal pode averiguar se aquele pressuposto
processual está ou não preenchido mesmo que ninguém o tenha invocação, e
pressupostos processuais dependentes de invocação pelas partes são aqueles que o
tribunal só pode verificar o seu cumprimento se forem invocados pela lei (ex.:
incompetência territorial/incompetência relativa normalmente não é do conhecimento
oficioso).

Pressupostos processuais:
Personalidade judiciária (artigo 11º CPC): é um pressuposto processual relativo
às partes, positivo, de conhecimento oficioso, típico e nominado. Ter personalidade
judiciária consiste na aptidão para ser parte num processo, quer parte principal quer
parte acessória.
A parte é um sujeito da relação jurídica processual, mas nem todas as partes são
sujeitos, é o caso do Ministério Publico. As partes são sujeitos da relação jurídica
processual que tem um interesse na causa, ou seja, tem algo a ganhar ou a perder com o
desfecho da causa.
A personalidade judiciária é uma figura especifica de direito processual, sendo
por isso um conceito puramente objetivo. A personalidade jurídica no direito material é
a aptidão para se ser titular de direitos e deveres nas relações jurídicas de direito
substantivo (artigo 66º, nº1 e 68º CC). A personalidade judiciária é inerente á
personalidade jurídica, ou seja, quem tiver personalidade jurídica tem também
personalidade judiciária. As pessoas coletivas também têm personalidade jurídica.
Quando é que as pessoas jurídicas adquirem personalidade jurídica?
- associações e fundações – artigo 158º CC – escritura publica para as
associações. As fundações adquirem personalidade jurídica pelo reconhecimento do
Governo
- sociedades comerciais – artigo 5º CSC – registo definitivo do contrato de
sociedade
- cooperativas – artigo 16 do código cooperativo – registo definitivo
- pessoas coletivas eclesiásticas e as pessoas jurídicas canonicamente eretas ou
reconhecidas

As pessoas coletivas de direito publico:
- pessoas territoriais (artigos 227, nº1, 1º parte e pelo artigo 235, nº2 da CRP)
- institutos públicos (artigo 4º, nº1 primeira parte)
41
- entidades publicas empresariais (artigo 56º Dec.-lei nº 133/2013)
- entidades reguladoras
- demais entidades e organismos públicos personalizados
- o Estado (tem personalidade jurídica pela sua própria natureza embora não lhe
seja atribuída nenhuma norma)
As pessoas coletivas de direito internacional tem normalmente personalidade
jurídica que é reconhecida pelo tratado que as criou.
As pessoas coletivas de direito estrangeiro (pessoas coletivas de direito privado
de outros estados) tem personalidade jurídica entre nós na medida em que isso seja
reconhecida por tratado.
Legislador reconhece personalidade judiciária a todos aquele que tenham
personalidade jurídica, mas o legislador estende também a atribuição de personalidade
judiciária a entes que não possuam responsabilidade jurídica – artigo 12º CPC:
a.) herança jacente (artigo 2046º CC) – herança que ainda não foi aceite pelos
herdeiros e que ainda não se declarou sem herdeiro para o estado, ou seja, é um
património que ainda não tem titulares. Se a herança já tiver titulares, mas ainda não foi
partilhada já não tem personalidade judiciária, as ações têm de ser propostas pelos seus
herdeiros. Abrange-se ainda todos os patrimónios autónomos que não tem titulares, mas
que são sujeitos de relações económicos (ex.: fundos de investimento e fundos de
capital de risco)
b.) as associações sem personalidade jurídica que apesar de não terem sido
constituídas por escritura publica tem legitimidade no processo tem também
personalidade judiciária, tal como as comissões especiais (ex.: comissões de festas), tal
como as sociedades civis sob forma civil (alínea c)).
d.) as sociedades comerciais até ao momento do registo definitivo após ter sido
celebrado o contrato de sociedade tem também personalidade judiciária, mas não tem
personalidade jurídica.
e.) o condomínio tem personalidade judiciária, mas não tem personalidade
jurídica, no entanto a personalidade judiciária dos condomínios está restrita aos poderes
do administrador do condomínio.
f.) os navios têm também personalidade judiciária (artigo 28º do Dec-lei nº
352º/86)
O artigo 13º CPC reconhece responsabilidade judiciárias as sucursais, agências,
filiais e delegações ou representações, reconhecendo no seu nº2 responsabilidade
judiciária ás sucursais, agencias, filiais e delegações ou representações de sociedades
estrangeiras desde que eu seja português ou seja um estrangeiro domiciliado em
Portugal, ou seja, posso propor uma ação contra a sucursal em Portugal mesmo que
tenha tratado de tudo com a filial do estrangeiro.
A falta de personalidade judiciária é insanável, mas há duas exceções:

42
- sanação da falta de personalidade judiciária das sucursais - artigo 14º CPC –
ex.: se demando uma sucursal e não está em causa uma ação que procede de facto
praticado por essa sucursal ela não tem personalidade judicial, mas essa falta de
personalidade jurídica pode ser sanada se intervir a administração dessa sucursal.
- outorga superveniente do contrato de sociedade (artigo 36 CSC)- às vezes
acontece que mesmo antes de se assinar o contrato de sociedade já estão a operar como
se fosse uma sociedade (é uma sociedade de facto) que não tem personalidade jurídica
nem personalidade judiciária, por isso não pode demandar nem ser demandada. Por isso,
a doutrina vem entendendo que uma sociedade de facto adquire personalidade judiciária
se o contrato vier a ser outorgado pelos sócios, sanando a falta de personalidade
judiciária.

43
12/11/2021
Pressuposto da capacidade judiciária (artigo 15º, nº1 CPC):
A capacidade judiciária é a aptidão para alguém estar no processo por si só, ou
seja, para sendo parte no processo de auto-conduzir a sua própria participação no
processo.
A capacidade judiciária tem por base a capacidade de exercício de direitos, ou
seja, quem tiver capacidade de exercício de direitos tem capacidade judiciária, isto é,
pode estar por si só em juízo (artigo 15º, nº2 CPC). Isto significa que quem não tiver
capacidade jurídica de direitos também não tem capacidade judiciária, por isso os
incapazes mantem-se incapazes.
São incapacidades de exercício previstas na lei substantiva que se refletem em
incapacidades judiciárias:
- Menoridade (artigos 120º, 122º e 123º CC): o artigo 130º CC prevê o termo da
menoridade – é no momento em que se completa 18 anos que cessa a menoridade. No
entanto há ainda uma outra situação capaz de cessar a menoridade, a emancipação
(artigo 132º CC). A incapacidade dos menores é suprida pela intervenção da
representação parental (artigo 1151º CC), mas quando por decisão judicial tenha sido
suprimida a repenetração parental são representados por um tutor (artigo 1921º, nº1 e
1935º CC), além do tutor pode ainda haver lugar a um administrador de bens.
Além disso a incapacidade de exercício dos menores não é total porque
reconhece as exceções do artigo 127º CC, que reconhece capacidade aos menores
verificando-se 3 circunstâncias:
a.) reconhecimento de exercícios de direito para bens provenientes do trabalho
de menores que já completaram 16 anos;
b.) negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que impliquem
despesas de pequena importância (ex.: menor que recebe 10€ para comprar o almoço na
escola) – isto é flexível em função da capacidade natural do menor;
c.) negócios jurídicos relativos á profissão por conta própria do menor – já não
há limite mínimo etário do ponto de vista do direito civil;
- regime do acompanhamento de maiores (artigo 138º CC) prevê que em certas
circunstancias os maiores de idade possam ter direito a um acompanhante que é alguém
que é escolhido pelo tribunal para acompanhar aquele maior, mas esse acompanhamento
pode inclusivamente ir tão longe ao ponto de estar em poderes de representação legal e
nesses casos o acompanhante de maiores é legal representante do seu acompanhado
(artigo 143º CC)
-Acompanhamento de maiores sujeito a representação (artigo 145º, nº2,
b) CC)
- Acompanhamento de maiores em que o maior acompanhado mantém a
gestão da sua pessoa mas não do seu património (artigo 145º, nº2 c) CC)

44
- Artigo 20 CPC é uma incapacidade incidental: se ao realizar-se a citação de
alguém, ao verificarmos que o citado padece de anomalia psíquica ou por outro motivo
grave não está em condições de gerir o património ou de não compreender a sua
participação no processo, essa pessoa terá de ter um curador designado.

45
18/11/2021
Na aula passada estivemos a ver a capacidade judiciária e tínhamos ficado no
acompanhamento dos maiores.
A capacidade judiciária existe na medida da capacidade de exercício de direitos.
Estávamos a ver a incapacidade de exercício de direitos pois é essa a medida da
incapacidade de exercício.
Relativamente ao regime de acompanhamento de maiores o legislador vem-nos
dizer no artigo 138º CPC que em certas circunstâncias o maior sujeito a
acompanhamento pode estar sujeito á representação (artigo 145º CC) sendo que esta
representação pode ser geral (o acompanhante assume a legal representação do
acompanhado em todas as matérias da relação jurídica) ou especial (não tem
representação para todas as matérias da relação jurídica, tem-no apenas para algumas).
Quando um maior acompanhado esteja sujeito a legal representação por acompanhante
aplica-se o regime da tutela (artigo 145º, nº4 CC).
Uma situação menos interventiva na esfera do maior acompanhado é a situação
do acompanhamento do maior com relação a sujeição, em que o maior não tem uma
representação assegurada na sua esfera jurídica, mas certos tipos de atos só podem ser
praticados com autorização do acompanhante, ou seja, o acompanhado goza de
capacidade de exercício mas carece da autorização do seu acompanhante (ex.: o
acompanhado decide se quer vender um imóvel mas essa negociação está sujeita á
autorização previa do acompanhante.
Quando temos uma situação de incapacidade judiciária (não pode estar por si só
em juízo). A falta de capacidade judiciária tem de ser suprida sob pena da absolvição da
instância. Os incapazes só podem estar em juízo por intermédio dos seus legais
representantes, exceto quanto aos atos que podem exercer pessoal e livremente (artigo
16º CPC).
O artigo 16º, nº 2 e 3 fala-nos da representação de menores, que vale tanto na
propositura da ação como na capacidade judiciária passiva), assim sendo, é necessário o
acordo de ambos os pais na propositura da ação, sendo que quando é proposta uma ação
contra menores devem ser citados ambos os progenitores, não basta citar apenas um
dele mesmo quando vivem juntos. Se os pais não estiverem de acordo? O artigo 18º
CPC vem-nos dizer que qualquer deles pode requerer ao tribunal competente para a
causa que o juiz resolva esse conflito entre os pais. O tribunal vai dirimir se a ação
prossegue ou não. Se o desacordo surgir no decurso do processo, então o nº2 do artigo
18º CPC vem dizer que qualquer dos pais podem requerer ao juiz da causa que suspenda
o processo até que o tribunal decida como é resolvida a divergência dos pais quanto á
representação do menor. O juiz decide consoante o nº3 do artigo 18º CPC, podendo
optar por uma de 3 alternativas: atribuir a representação judiciária a um dos
progenitores naquele processo, pode designar um curador especial (curador ad litem –
para aquela lide/processo/ação) ou pode atribuir a representação daquele menor, naquele
processo específico ao ministério publico.
No caso dos maiores acompanhados que não estão sujeitos a representação,
regula o artigo 19º CPC, que vem dizer que os maiores acompanhados que não estão

46
sujeitos a representação podem intervir em todas as ações em que sejam partes e devem
ser citados quando tiverem posição de réus. Se houver divergência entre a posição do
maior acompanhante e a posição do acompanhante prevalece a posição do
acompanhante.
A lei nesta matéria prevê um papel especial para o MP, que é um papel de tutela
dos incapazes (e também dos incertos) – artigo 21º CPC. Não sendo o reu uma pessoa
capaz de zelar pelos seus interesses não se aplica o efeito cominatório semi-pleno. Se o
reu é um incapaz e não contesta não é porque ele foi inapto a zelar pelos seus interesses,
mas pode ser porque quem o representava não cumpriu a sua função, por isso cita-se o
MP para que este assuma a defesa do menor. Pode acontecer que o MP já represente o
autor na ação e, se assim fosse haveria um conflito de interesses, por isso neste tipo de
situações o tribunal denomina um defensor oficioso para o menor (artigo 21º, nº3 CPC),
até que os legais representantes constituam um mandatário.
Artigo 23º CPC fala-nos da representação ativa dos incapazes pelo MP, porque
nos 21º CPC fala-se da representação passiva. Na perspetiva dos incapazes, o MP pode
propor ações em representação de incapazes, independentemente das vontades legais
desses incapazes se entender que essas ações são necessárias á tutela dos direitos e
interesses dos incapazes (nº1), sendo que essa representação cessa logo que os seus
legais representantes intervenham na ação mediante a constituição de mandatário (nº2).
Os artigos 21º e 23º CPC aplicam-se também aos ausentes quando não se trata de
situação de incapazes, mas de situação de ausentes (pessoas que não sendo incapazes
estão em paradeiro é desconhecido).
O artigo 22º CPC regula a representação do MP dos incertos (desconhecidos),
sendo possível colocar uma ação contra incertos quando não se sabe quem é a
contraparte. Quando a ação é proposta contra incertos é o MP que assume a
representação contra incertos.
O problema da incapacidade judiciária coloca-se também contra as pessoas
jurídicas (sociedades comerciais, associações, etc.), sobretudo devido á necessidade que
elas têm de agir por intermédio de indivíduos que representam essas pessoas jurídicas
(administradores, gerentes, etc.), por isso este problema quanto às pessoas jurídicas
colocam-se devido a esta necessidade. Em relação às pessoas jurídicas vigora o
princípio da especialidade (artigo 160º CC e artigo 6º CSC) que nos vem dizer que a
capacidade jurídica das pessoas coletivas está limitada ao seu objeto. O artigo 160, nº2
vem acrescentar que há certos direitos e obrigações que as pessoas jurídicas nunca
podem ser tuteladas. No que diz respeito às pessoas jurídicas estas precisam de estar
representadas por indivíduos que agem em seu nome - a representação judiciária é o
meio pelo qual a pessoa coletiva exprime a sua vontade no processo.
O artigo 25º, nº1 CPC vem dizer que as pessoas coletivas e as sociedades são
representadas por quem a lei, os estatutos ou o pacto social designarem. A representação
orgânica é o modo como as pessoas jurídicas são representadas (ou seja, são os órgãos).
Há uma equivalência entre a representação orgânica de uma pessoa jurídica e sua
representação orgânica. O nº2 do artigo 25º CPC acautela uma situação que pode existir
quando há um conflito de interesses entre a pessoa jurídica e o seu representante
judiciário (ex.: sociedade comercial que interpõe uma ação contra o seu administrador),

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por isso este artigo vem dizer que o juiz da causa designa um representante especial
(curador ad litem) que vai representar essa pessoa jurídica de maneira essa pessoa
jurídica não seja representada por quem está em conflito com ela para que não haja um
conflito de interesses. O artigo 25º, nº2 CPC aplica-se também quando a pessoa coletiva
ou a sociedade demandada não tem quem a represente. No caso de se tratar de pessoas
despromovidas de personalidade jurídica e de patrimónios autónomos (artigo 26º CPC),
o artigo 12º CPC estende a personalidade judiciária a pessoas que não tem
personalidade jurídica. As sociedades e facto são aquelas que já agiram no comercio,
mas que ainda não foi celebrado um contrato de sociedade, por isso não tem sequer
personalidade judiciária, por isso não encaixam na alínea d) do artigo 12º CPC.
Voltando ao artigo 26º CPC, as pessoas despromovidas de personalidade jurídica
e de patrimónios autónomos, o Estado tem personalidade jurídica por sua própria
natureza, por isso, tem também de ser representado nas ações que propõe e que lhe são
propostas.
Se estivermos perante uma situação de incapacidade judiciária que não foi
suprida ou se estivermos numa situação de representação judiciária irregular a lei prevê
mecanismos para regularizar essas situações, no caso de incapazes é o artigo 27º CPC
que regula essa matéria, por isso, se se verificar que o incapaz não está devidamente
representado no processo isso é sanado chamando-se a intervir o seu legal representante.
Nestas situações vamos ter um processo em que o incapaz já desenvolveu atividade
processual sem estar representado pelo seu legal representante, dai que o que o incapaz
percorreu no processo é irregular, mas a lei dá a possibilidade ao acompanhante de
ratificar os atos que o acompanhado fez sem o seu conhecimento e, se o representante
ratificar o vicio prossegue como se nada tivesse acontecido. Se o representante chamado
ao processo não ratificar o que o representado fez, fica sem efeito todo o processo volta
atrás de modo que tudo seja renovado na presença do representante.
No caso do vicio de a representação resultar de apena ter tido intervenção de um
dos progenitores e não ambos (no caso dos menores) aplica-se uma regra de valor
positivo do silencio (nº3 do artigo 27º CPC), ou seja, se o outro progenitor se nada
disser no prazo fixado considera-se uma ratificação tácita. Podem os pais estar em
desacordo dos atos do menor, por isso se houver descordo dos pais quanto á ratificação
do processo aplicam-se as regras do artigo 18º CPC.
O artigo 29º, nº1 CPC trata de pessoas jurídicas cuja representação tem de estar
autorizada por …
O artigo 28º, nº1 CPC vem-nos dizer que a incapacidade judiciária e a
irregularidade de capacidade judiciária são de conhecimento oficioso do tribunal e é o
juiz quem deve suprir a falta deste pressuposto processual.
Competência Rationae Personae:
Trata-se de uma sujeição á jurisdição dos tribunais portugueses. Este pressuposto
processual verifica-se nas partes, por isso, as partes além de terem de ter personalidade
judiciária tem de estar sujeita á jurisdição dos tribunais portugueses. Trata-se de u
pressuposto processual positivo, atípico e inominado (a lei não se refere a ele embora
seja reconhecido consensualmente na doutrina e na jurisprudência) e de conhecimento

48
oficioso, que se prende com a circunstância de determinadas categorias de pessoas
gozarem de imunidades em relação aos tribunais portugueses. Ainda que tenham
personalidade judiciária não estão submetidas á jurisdição dos tribunais português. Estas
imunidades de jurisdição provem do direito internacional publico, não se confundindo
com as imunidades de procedimento (que existem no direito interno e que são quase
sempre de processo penal – certos membros do governo não podem ser julgados
enquanto tiverem determinado caro ou necessitam de autorização da AR, etc.), nem com
as imunidades substantiva (artigo 157º CRP) é uma imunidade parlamentar/dos
deputados substantiva ou material (vem dizer que os deputados não podem ser
responsabilizados nem penalmente, nem civilmente pelas opiniões que tenham no
exercício das suas funções na AR – garantia de que os deputados podem exercer o seu
mandato sem represálias).
As imunidades de jurisdição que resultam do direito internacional, são
disposições de direito internacional publico que determinam que certas pessoas não
podem ser julgadas nos tribunais de determinados Estados. Estas imunidades podem
dizer respeito a Estados ou pessoas jurídicas internacionais ou podem dizer respeito a
imunidades de pessoas singulares (imunidades do pessoal diplomático ou consular).
A imunidade dos Estados era uma regra de ius cogens, por isso a Convenção das
Nações Unidas sobre as imunidades jurisdicionais dos estados, que foi aprovada e
ratificada em Portugal (Resolução da AR nº 46º de 20 de junho de 2006), esta
convenção foi negociada e aprovada sob a égide da Nações Unidas e a redação desta
Convenção resulta uma regra geral prevista no artigo 5º que é a imunidade dos estados
perante os tribunais de outros Estados (o Estado português não pode ser julgado nos
tribunais de outro estado, tal como os tribunais portugueses não podem julgar outros
estados – isto decorre do principio da igualdade dos Estados, no entanto esta regra
admite exceções).
A regra geral do artigo 5º da convenção comporta várias exceções:
- Renuncia expressa (artigo 7º convenção): se o estado tiver renunciado a
imunidade depois não a pode invocar, essa renúncia pode resultar de acordo
internacional publico ou de acordo celebrado entre o Estado e alguma entidade publica.
Se o próprio estado renunciou é válida a renuncia. A renuncia pode ainda resultar de
declaração unilateral apresentada ao tribunal depois de proposta a ação.
- Renuncia implícita ou tácita (artigo 8º e 9º da Convenção). O estado
estrangeiro não renunciou expressamente á sua imunidade, mas praticou determinadas
condutas processuais dais quais decorre uma vontade de renunciar á imunidade. Essas
condutas são: quando é o próprio estado que propõe a ação ou teve uma intervenção no
processo ou fez alguma diligencia ao mérito da causa (alínea b) do nº1 do artigo 8º
convenção), no entanto esta alínea comporta uma exceção: se o estado vier ao processo
fazer valer a sua imunidade ou quando reivindica um direito, o que não significa
renuncia á imunidade de jurisdição.
Artigo 9º da convenção trata de renuncia tácita no caso de pedidos de
reconvenção: uma reconvenção é a dedução do reu quanto ao pedido do autor. Se um
estado propõe uma ação num tribunal português e depois a empresa portuguesa, contra

49
quem foi proposta a ação, essa renúncia vale também para eventuais pedidos
convencionais, ou seja, o Estado estrangeiro não pode dizer que vai ter imunidade, pois
a renuncia abrange também eventuais reconvenções que sejam deduzidas nessa mesma
ação.
Dos artigos 10º a 17º Convenção vem elencadas um conjunto de exceções á
imunidade dos estados:
Artigo 10º Convenção: se o estado realizar uma troca comercial com uma pessoa
singular ou coletiva estrangeira o estado está a agir como um qualquer “player” do
mercado, por isso a imunidade não se aplica. Se for uma transação de estados ou se ficar
expressamente clausulado no contrato de jurisdição que o estado será imune.
Artigo 11º Convenção: um estado que contrata no estrangeiro funcionário local
não pode invocar imunidades de jurisdição relativamente a esses contratos de trabalho.
Artigo 12º convenção: prevê a situação de responsabilidade civil extracontratual
pelo dano morte e pelo dado de ofensa á integridade física cometidas por um estado no
território de outro estado.
Artigo 13º Convenção: diz respeito a ações reais e vem dizer que um estado não
pode invocar imunidade perante um tribunal de outro Estado relativamente a direitos do
estado sobre bens moveis, direitos do Estado sobre bens móveis e direitos do estado na
administração de bens
Artigo 15º Convenção: se se estiver a discutir a divida relativa a uma sociedade
que está registada num estado, o outro estado não pode invocar imunidade de jurisdição
relativa á vida dessa sociedade.
Artigo 17º Convenção: se ume estado não pode invocar a imunidade de
jurisdição quando os tribunais de outro estado vão apreciar a validade de uma
convenção de arbitragem que esse estado celebrou.
O artigo 18º vem dizer que o facto de não existir imunidade de jurisdição quanto
a uma determinada ação judicial não implica que também não haja imunidade de
jurisdição relativamente a procedimentos cautelares relativos a esse processo, por isso o
tribunal não pode decretar certas medidas a não ser que o estado tenha consentido ou
reservado es para responder por esse processo.
O artigo 19º tem uma norma equivalente para a execução das decisões judiciais.
Além da imunidade dos estados á ainda a imunidade em relação às organizações
internacionais, relativamente ás quais não há uma regra especifica, mas como estas
organizações são instituídas por tratado, encontramos nos tratados uma norma que diz
que goza de imunidade de jurisdição.
As imunidades individuais referem-se às imunidades do pessoal diplomático e
do pessoal consolar. As representações diplomáticas estão situadas em Portugal para
assegurar as relações ao nível de estados. As representações consolares existem para
assegurar a representação dos estados com os seus cidadãos que residam no estrangeiro.

50
Quer no caso do pessoal diplomático (pessoal que o estado manda para o
estrangeiro para assegurar a sua representação) quer no caso do pessoal consolar, a
jurisdição reconhece algumas imunidades instrumentais para assegurar o bom
funcionamento das representações diplomáticas e consolares, ou seja, para assegurar
que uma embaixada pode representar o seu pais porque os seus embaixadores ou
conselheiros de embaixada não fiquem comprometidos no exercício das suas funções de
representação. As imunidades são aplicadas aos indivíduos, mas não são para garantir a
imunidade os indivíduos. Estas imunidades são reguladas por 2 tratados distintos:
Convecção de Viena para as relações diplomáticas (DL – 48 295) e a Convenção de
Viena para as relações consolares (DL - 183/72).

Relativamente á Convecção de Viena para as relações diplomáticas (DL –


48 295):
Artigo 1º- dá-nos algumas definições
Artigo 31º nº1 – vem dizer que o agente goza de imunidade de jurisdição penal
do estado que recebe o pessoal diplomático. Sendo que goza também de imunidade de
jurisdição civil nos tribunais portugueses, ou seja, não pode ser julgado por um tribunal
português em matéria civil, porem existem exceções: tratar-se de um imóvel privado
situado no estado acreditador, se o agente diplomático intervier a título privado numa
ação sucessória, e uma ação referente a qualquer atividade profissional ou comercial
exercida no estado acreditador fora das suas funções oficiais. O nº2 vem dizer que ele
não é obrigado a depor como testemunha.
Artigo 32º, nº3 – se o agente diplomático toma a iniciativa de desencadear uma
ação num tribunal português não pode depois invocar a imunidade se for deduzido um
pedido contra si.
Além disso, o nº1 do artigo 32º vem dizer que o estado acreditante pode
renunciar á imunidade, mas o diplomata pode. O facto de não ser julgado em Portugal
não quer dizer que não possa ser julgado no tribunal do seu país.
O artigo 37º acresce estas imunidade aos familiares do agente diplomático que
com ele vivem e que não tenham a nacionalidade do estado acreditador.
Artigo 37º, nº2, 3 e 4 – o pessoal administrativo não tem imunidade quanto a
atos da sua vida privada, beneficiando de imunidade de jurisdição civil quanto aos atos
praticados no exercício da sua atividade.
Relativamente á imunidade do pessoal consular aplica-se a Convenção de Viena
para as relações consolares (DL - 183/72):
Artigo 1º - definição de funcionário consolar
Artigo 43º - imunidades: os funcionários e os empregados consolares gozam de
imunidade relativamente aos atos praticados no exercício das funções consolares, o que
significa que não há imunidade para factos da vida privada, havendo ainda exceções de
imunidade relativa a atos praticados no exercício de funções consolares respetivos a
contratos e a …

51
Artigo 57º, nº2 – as imunidades e privilégios previstos não são concebidos a
quem exercer uma atividade profissional remunerada ou lucrativa no estado recetor não
pode beneficiar das imunidades
Artigo 45º - as imunidades consolares são renunciáveis pelo Estado. O próprio
funcionário consolar não pode renunciar á imunidade consolar, mas o Estado pode. Se o
funcionário consolar realizou uma ação civil não pode depois invocar imunidade de
jurisdição quanto a eventuais reconvenções.
No entanto não estão previstas neste tratado quaisquer imunidades de jurisdição
cível para os familiares dos funcionários consolares.
Também é reconhecido no plano de direto internacional uma imunidade de
jurisdição aos chefes de estrado estrangeiro, não há uma norma que o diga
expressamente, mas é algo que resulta de um princípio de ius cogens, por isso não pode
um tribunal português julgar um chefe de estado de outro pais. Isto é mais duvidoso se
abranger antigo chefes de Estado por factos que ocorram enquanto ainda eram chefes de
Estado, certo é que um chefe de estado em funções não o pode.
No âmbito das imunidades individuais há lugar a imunidades relativamente a
funcionários e agentes de organizações internacionais que gozam de imunidade
jurisdição penal e civil que normalmente resultam do próprio tratado que institui a
organização internacional.
Acabou a matéria que sai para o teste!
A matéria dos últimos dias é muito propensa a casos práticos.
Para o teste podemos trazer toda a legislação falada durante as aulas desde que
não anotada.

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26/11/2021
Resolução da prova:
Grupo 1:
a.) Convenção de arbitragem ficta:
Introdução sobre o que é a arbitragem, distinção entre arbitragem necessária e
voluntária. Definir as duas modalidades de arbitragem: compromisso arbitral e … A
LAV diz que considera a forma escrita de convenção de arbitragem se for invocada a
existência de uma convenção de arbitragem e na contestação não é colocada em causa a
existência dessa convenção – artigo 2º, nº5 LAV.
b.) Princípio iura novit curia:
Podemos referi-lo a propósito do princípio do dispositivo, por isso temos de
fazer uma breve referencia ao que é o princípio do dispositivo, fazendo uma distinção
entre a disponibilidade em relação á instância e a disponibilidade em relação aos factos.
explicando que nesta segunda dimensão cabe às partes e apenas a elas alegar os factos
essenciais que constituem a causa de pedir e as exceções. Comparar o princípio do
dispositivo nesta dimensão em relação aos factos em relação aquilo que vigora na lei
enquanto á matéria de direito – artigo 5º, nº3 CPC. Fazer uma referência final á
proibição das decisões surpresa.
Grupo 2
a.) valor da causa:
b.) Álvaro e Bernardo estavam a fazer um estágio profissional remunerado.
Coloca-se um problema de capacidade judiciária. Explicar as incapacidades que
a lei prevê. Falar da menoridade e dizer que a incapacidade dos menores é suprida pela
lei parental, dizendo que no processo civil o suprimento desta capacidade se faz pela
representação por ambos os pais. Estando previsto no 16º, nº2 e 3º CPC que ambos
devem estar de acordo para a propositura das ações. No entanto o 16º, nº1 CPC remete
para as exceções do 127º, nº1 CC, sendo que aqui Bernardo é um profissional na área da
vitivinicultura portanto estará a aplicar os seus proveitos do trabalho remunerado na
renda da casa que arrendou com Álvaro, por isso neste litigio goza de capacidade
judiciária, por isso é indiferente que os pais não estejam de acordo quanto á postura que
deve adotar no processo.
c.) enquadra-se num ponto relativo á competência rationae persona. Referir as
pessoas que tem imunidade frente ao estado portuguesa. Explicar que estamos perante
um problema de imunidade diplomática. Explicar o artigo da convenção que dá
imunidade aos familiares dos diplomáticas que com eles residam. Porem há uma
exceção, que nos diz que quando é o diplomata ou o seu familiar a iniciar o processo
não goza de imunidade quanto a pedido reconvencional.
Patrocínio forense
A capacidade postulatória podemos defini-la na suscetibilidade de por si só
pleitear em juízo praticando atos processuais.
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Temos 3 graus de capacidade: personalidade judiciária, capacidade judiciária e a
capacidade postulatória. O regime regra está no artigo 42º do CPC que nos diz que as
partes dispõe de capacidade postulatória nas causas em que não seja obrigatória a
constituição de advogado. Quando a lei não exige a constituição obrigatória de
advogado as partes gozam de capacidade postulatória, porem mesmo nessas situações as
partes tem as limitações do artigo 40º, nº3 CPC, ou seja, as partes não podem inquirir as
testemunhas, essa inquirição é feita pelo juiz. daqui decorre á contrario senso que,
sempre que a lei imponha como obrigatória a constituição de advogado as partes não
gozam de capacidade postulatória.
Sendo este o regime regra vãos encontrara algumas situações
particulares. mesmo nos casos em que as partes não dispõe de capacidade postulatória a
lei reconhece ás próprias partes uma capacidade postulatória residual – artigo 40º, nº2
CPC – as próprias partes podem, sempre no processo, fazer requerimentos
quanto á matéria de factos, mas não se pode fazer quanto a matéria jurídica. O artigo 18
do estatutos dos magistrados judiciais e o artigo 93 do estatuto do ministério publico –
pode ele próprio praticar atos processuais. No contencioso administrativo existem umas
normas especiais em que os agentes do estado e certos funcionários administrativos
podem ser mandatários.

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02/12/2021
Dia 10 de dezembro não há aula, esta será reposta no dia 16 das 17h30 ás
18h30
O regime regra da capacidade postulatória é o de que as partes possuem
capacidade postulatória (artigo 42º CPC) – se a lei não exige a constituição de
mandatário significa que a parte pode pleitear por si própria, com a exceção do artigo
40º, nº3 CPC: não pode inquirir as testemunhas.
Se a lei obriga á constituição de mandatário a parte não tem capacidade
postulatória, por isso tem de suprir essa incapacidade através do patrocínio
judiciário/forense. O patrocínio judiciário corresponde a uma forma de representação
técnica da parte no processo. O patrocínio judiciário tem por fonte uma procuração
forense.
A fonte do mandato judiciário é, então, uma procuração que a parte, ou se esta
não tiver capacidade judiciária o representante judiciário da parte, constitui um patrono
que vai pleitear em seu nome. A procuração forense está regulada no artigo 43º CPC,
que nos vem dizer que ela pode ser conferida por escritura publica (documento publico)
ou por documento particular. O mandato é conferido extra-processualmente, ou seja,
fora do processo.
Quando a procuração é outorgada extra-processualmente esta tem de ser levada
junto ao processo. Mas pode, também, ser outorgada por declaração verbal da parte no
decurso de uma diligencia, desde que fique registado na ata ou no auto da diligencia.
A eficácia do mandato depende de aceitação do mandatário. Não basta a parte
(cliente) escolher quem quer como mandatário, este tem de aceitar. Esta declaração
pode ser expressa (manifesta no próprio instrumento publico ou documento particular)
ou tácita (resultar de um comportamento concludente do mandatário) – artigo 44º, nº4
CPC
O patrocínio judiciário pode ainda resultar de nomeação pela ordem dos
advogados. Isso acontece em 2 circunstâncias:
- Artigo 51º CPC: se a parte não conseguir constituir advogado por nenhum
deles aceitar, pode dirigir-se á ordem dos advogados e pedir que lhe seja nomeado
advogado.
- Artigo 30º da lei 34º/2004: a parte que não tem condições económicas para
conseguir contratar advogado, pode dirigir-se à segurança social e pedir que lhe seja
constituído advogado, sendo que os honorários deste advogado serão pagos por uma
tabela fixada. A fonte jurídica do patrocínio forense, o que determina a relação do
patrocínio judiciário é a nomeação pela ordem dos advogados.
O artigo 49º CPC admite, ainda, em caso de urgência, que o patrocínio forense
pode ainda ser feito através da gestão de negócios (artigo 464º CC). A gestão de
negócio acontece quando alguém assume a direção/gestão de um negócio jurídico alheio
no interesse e por conta do respetivo dono e sem para tal estar autorizado. Este
patrocínio a título de gestão de negócio tem de ser ratificado pela própria parte. Os atos

55
que o mandatário fez sem estar autorizado serão anulados e o mandatário terá de pagar
as custas a ele referentes, bem como indemnização á parte. O CC prevê o contrato de
mandato no artigo 1157º e seguintes e, diz-nos o código que mandato é o contrato pelo
qual uma das partes e obriga a praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra, ou
seja, trata-se de um contrato celebrado entre duas partes em que o mandante se obriga a
praticar atos jurídicos por conta do mandante. O mandato pode assumir duas espécies:
com representação (junta a noção de representação voluntário, ou seja, o mandatário é
também procurador, isto significa que, não só pratica atos por conta do mandante como
atua em nome deste) e sem representação (o mandatário age em nome próprio, ou seja,
os atos que ele pratica tem interferência na sua esfera jurídica).
O patrocínio forense trata-se de um contrato de mandante com representação,
portanto, o mandatário forense (advogado) pratica os atos processuais não só por conta
ou no interesse do seu constituinte, como também, em nome da parte que represente no
processo.
Artigo 45º, nº1 CPC remete para o artigo 44º, nº1: o mandato forense, por via de
regra inclui apenas os poderes forenses gerais, que são os poderes para representar a
parte em todos os atos e termos do processo. A lei exclui dos poderes forenses gerais os
poderes forenses especiais. Os poderes forenses especiais só podem ser exercidos pelo
mandatário ou quando o mandatário tenha uma procuração relativa a esses direitos
(artigo 45º, nº2 CPC).
Uma outra consequência representativa do mandato forense está no artigo 46º
CPC. Quando o advogado faz afirmações em nome do seu constituinte essas afirmações
vinculam o seu constituinte.
Nos poderes forenses gerais está também o poder de substabelecer o mandato,
isto é, o mandatário transferir os poderes a outro mandatário. O substabelecimento pode
ser feito com reserva (o advogado que substabelece reserva para si os poderes forenses
que recebeu do seu constituinte – é uma substituição pontual) e sem reserva
(corresponde a uma verdadeira substituição permanente do advogado no processo – nº3
do artigo 44º CPC). e certa medida, o substabelecimento sem reserva é uma cessão de
posição contratual.
O artigo 50º CPC prevê que os advogados possam fazer-se acompanhar de
técnicos que não são juristas e que lhes vão providenciar um know how em matérias que
o advogado não domine.
Quando é que é obrigatória a constituição de advogado? (artigo 40º, nº1 CPC)
c.) Recursos e causas que se propõe nos tribunais superiores. Ex. de ação que se
propõe em primeiro grau de decisão em tribunal superior: revisão e confirmação de
sentença e estrangeira, ações de indemnização contra juízes por factos praticados no
exercício das suas funções.
a.) Causas dos tribunais com alçada em que seja admissível recurso ordinário.
Estas são causas referidas no 629º CPC, ou seja, quando o valor da causa excede o valor
da alçada do tribunal onde se propõe a ação. O valor da ação que admita recurso é de: 5

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mil euros para os tribunais de 1º instância e 30 mil nos tribunais da relação – artigo 44º
LOSJ
TESTE!!: É obrigatória a constituição de advogado? valor da causa, valor da
alçada, o valor da ação é superior ao da alçada por isso nos termos 629º, n1 CPC a causa
admite recurso ordinário, por isso obriga á constituição de advogado nos termos do
artigo 40º, nº1 CPC.
b.) Ações em que seja sempre admissível recurso, independentemente da relação
entre o valor da causa e da ação. O legislador refere-se exclusivamente á matéria
regulada no nº3 do artigo 629º CPC: ações em que se aprecie a validade, subsistência ou
cessação de contratos de arrendamento. Se é sempre admissível recurso, nos termos do
40º, nº1, b) CPC é sempre obrigatória a constituição de mandatário, mas a alínea a) do
nº 3 do artigo 629º CPC tem uma exceção: arrendamentos para fins de habitação não
permanente (ainda que o arrendamento seja permanente) e de contratos de arrendamento
para fins especiais transitórios (ex.: alguém que arrenda um habitação por 10 meses para
estar a Estudar no Porto; alguém que arrenda um terreno para uma plantação durante 5
meses)
O artigo 42º CPC não impede as partes de constituir mandatário mesmo que não
seja obrigatório fazê-lo - princípio constitucional da assistência por advogado.
Os advogados estagiários e os solicitadores podem exercer o mandato forense
nos termos do 42º CPC, logo tem também capacidade postulatória. Podem também
fazer requerimentos que não envolvam questões jurídicas (ex.: pedir um adiamento
porque alguém está doente).
Quem pode exercer o mandato forense?
O exercício do mandato forense está reservado aos advogados. É advogado
quem estiver inscrito nessa qualidade na ordem dos advogados (associação publica
profissional). A ordem dos advogados está regulada, atualmente, pela lei 145/2015,
onde regula o estatuto da ordem dos advogados, os requisitos de acesso á profissão, bem
como as regras do exercício da advocacia, tal como a deontologia dos advogados (os
advogados estão vinculados a regras: comportamento e dignidade profissional, deveres
específicos nas relações com clientes, tribunais e advogados) e regula também as
consequências do incumprimento destes deveres deontológicos e das regras relativas ao
exercício da profissão.
Quando a lei exige a constituição obrigatória de mandatário, ao fazê-lo está
essencialmente a prosseguir 3 grandes funções:
- Auxílio ás partes: ao exigir o patrocínio obrigatório a lei está preocupada com
as ritualidades do processo, que muitas das vezes as partes não sabes as regras e as
ritualizações da tramitação processual. pretende-se assegurar que as partes na defesa das
suas posições e dos seus interesses estão tecnicamente bem habilitadas através da
assistência de um profissional do foro. É para tutela das próprias partes, para que os
interesses destas estejam devidamente acauteladas no processo, mas é também para um
bom funcionamento da justiça.

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- Realização do direito e prossecução da justiça: ao exigir a constituição
obrigatória de mandatário o legislador está preocupado com a condução leal e
verdadeira do processo, evitando que as partes sucumbam á tentação de utilizar
expedientes processuais que não sejam leais. A intermediação de um advogado permite
evitar ou tentar evitar uma conduta processual menos direta – os advogados têm no seu
estatuto normas que os impedem de utilizar expedientes processuais que não sejam
leais. Isto acautela que a condução nas partes do processo será feita de acordo com
critérios de lealdade e de verdade.
- Psicológica: as partes vivem de uma forma muito intensa as suas ações porque
é algo que lhes diz muito diretamente respeito, por isso, muitas das vezes as pessoas
vivem isso de forma muito excessiva. Ao exigir a constituição obrigatória de advogado
o legislador pretende resfriar os ímpetos emocionais das partes em relação aos seus
processos. O papel de advogado é o de introduzir um elemento racional na condução do
processo, servindo de intermediário entre a parte que vive intensamente o litígio e o
tribunal, permitindo que lhe cheguem posições mais racionais, comportamentos mais
educados, etc.
O patrocínio forense é um contrato bilateral, por isso poderia estar sujeito ao
principio da pacta sunt servanda (os contratos são para se cumprir) – que não se aplica a
este contrato, mas há certos contratos que são celebrados intuito persona e que o
legislador aceita que se essa relação de confiança deixar de existir essa relação possa ser
interrompida unilateralmente sem o consentimento da outra parte.
O contrato de mandato em geral já prevê normas de revogação e de renuncia
(artigo 1178 CC). A revogação provém do mandante, a renuncia provem do mandatário.
Mas existem normas especificas para o contrato de mando forense (artigo 47º CPC). há
sempre liberdade, quer do constituinte revogar o mandato, quer do inverso, por isso o
advogado também tem a liberdade de renunciar ao mandato.
A revogação e a renuncia estão sujeitas a forma e tem de se realizadas
processualmente. O advogado que renuncia os processos tem de ir ao processo declarar
que renuncia o mandato e esta informação tem de ser notificada ao mandante e á parte
contrária. A revogação e a renuncia só são eficazes a partir das notificações previstas no
nº1 do artigo 47º CPC.
No nº2 do artigo 47º CPC prevê-se as consequências de revogação e da renúncia.
Se for obrigatória a constituição de advogado a parte tem de constituir um novo
advogado no prazo de 20 dias e, se nesse prazo não o fizer a lei distingue a
consequência consoante a falta de constituição dependa do autor (implica a suspensão
da instância) ou do réu (o processo segue os seus termos sem haver advogado
constituído, aproveitando-se os atos praticados com recurso ao advogado anterior).
Pode acontecer uma renúncia ao mandato e que se tentou notificar pessoalmente
o reu, por isso no nº4 o legislador acautela essas situações, nomeando oficiosamente
mandatário para segurar o patrocínio daquele reu.
A capacidade postulatória e o suprimento da capacidade postulatória é de
conhecimento oficioso - artigo 48º CPC.

58
O artigo 41º CPC diz-nos que se a parte não constitui advogado no início do
processo sendo obrigatória a constituição, o juiz oficiosamente ou a pedido da parte
contraria notifica a parte para a constituição de advogado atribuindo-lhe um prazo. Se
dentro desse prazo não constituir advogado as consequências variam consoante a parte:
se quem não constituiu advogado for o autor então extingue-se instância; se a falta for
do reu então este será tratado como se não tivesse contestado (revelia do reu).
Distinto da falta de constituição de mandatário é não ter sido junta a procuração
ou a procuração que foi junta está irregular. O problema não é faltar o mandatário, é não
estar demonstrado no processo que o mandatário tem poderes para agir em nome do seu
constituinte – artigo 48º CPC. Se findo o prazo não for regularizada a situação fica sem
efeito tudo o que tiver sido praticado pelo mandatário e este é ainda condenado nas
custas do processo.

59
03/12/2021
Legitimidade processual – artigo 30º CPC
A legitimidade processual é um pressuposto relativo ás partes, positivo, típico,
nominado e de conhecimento oficioso.
A legitimidade processual exprime uma relação concreta especifica entre cada
uma das partes e o objeto dessa causa (pedido e causa de pedir). As partes não podem
intervir em processos que não tenham um interesse direto como objeto dessa ação. Não
se pode propor ações só porque sim, tem de haver um motivo justificativo.
Só tem legitimidade o autor se tiver um interesse direto na demanda. Só tem
legitimidade o reu se tiver interesse em contradizer essa demanda.
Como se afere o interesse direto do autor em demandar e o interesse direto do
reu em contradizer? (artigo 30º, nº2 CPC) O autor terá interesse direto em demandar se
ele retirar da procedência da ação uma utilidade/vantagem direta, pessoal, na sua esfera
jurídica. Portanto, só tenha legitimidade processual ativa (perspetiva do autor) para
propor uma ação se no caso dessa ação vier a ser delegada procedente retirar uma
vantagem pessoal na minha esfera jurídica.
A legitimidade processual do reu é a legitimidade passiva. O reu só terá
lidimidade na ação se na eventualidade da ação ser julgada procedente ele sofrer
diretamente na sua esfera jurídica um prejuízo.
Faltando um pressuposto processual a consequência é a absolvição do réu da
instância. É reu aquele contra quem se propõe a ação, mesmo não tendo legitimidade
processual.
A legitimidade processual/adjetiva, ou seja, é uma legitimidade puramente
processual, não tendo a ver com a relação material controvertida, com a relação
substantiva que se regula no processo. A legitimidade adjetiva exprime apenas uma
relação entre as parte no objeto de uma causa.
O direito adjetivo é o direito processual e o direito substantivo é aquele que
regula as relações propriamente dita.
O legislador dá-nos a informação que o nº2 do artigo 30º não é suficiente para
percebermos se uma parte é legitima. O legislador, pontualmente, dá-nos indicações
precisas de quem tem legitimidade ativa e passiva – estas indicações estão no CC (artigo
286º CC – legitimidade ativa; 1785º, nº1 CC – legitimidade ativa – só o conjugue pode
propor uma ação de divórcio; 2078º CC – legitimidade ativa - em caso de heranças
(universalidade de direitos) qualquer um dos herdeiros pode propor uma ação a
reivindicar bens da herança).

60
09/12/2021
Na aula passada estivemos a averiguar a legitimidade processual.
Artigo 30º CPC – o reu tem interesse em contradizer se tirar um prejuízo na sua
esfera jurídica da procedência da ação.
Mas estes requisitos não são suficientes do ponto de vita do legislador.
Artigo 496º, nº2 CC vem dizer quem tem legitimidade para interpor uma ação
para indemnização pelo dano morte. A morte em si é um dano patrimonial suscetível de
indemnização. O artigo 496º, nº2 CC é uma norma atributiva de legitimidade processual
ativa.
No regime jurídico do seguro automóvel (DL -291/2007), no artigo 64º, atribui-
se legitimidade processual passiva para a generalidade das situações (alínea a))
(imprimir este artigo!)
Nem sempre a lei nos indica uma norma atributiva de legitimidade, alias,
raramente nos diz quem tem legitimidade ativa e quem tem legitimidade passiva, por
isso, no nº3 o código estabelece um critério de supletividade.
Durante muito tempo, a doutrina e a jurisprudência estiverem muito divididas
entre duas teorias: uma dizia que a legitimidade tinha de ser atribuída conforme a
relação material controvertida, ou seja, não interessava o que o autor dizia, sendo que o
que relevava era a realidade das coisas. A outra doutrina dizia que como se trata de um
requisito processual não interessa ver qual é a realidade dos litígios, o que interessava
era de acordo com a versão do autor ver se as partes eram ou não legitimas, sendo que
saber se a realidade das coisas deve ser averiguada posteriormente. O legislador veio a
adotara segunda posição na reforma de 95/96, sendo que essa opção legislativa foi
mantida no último código.
Nº3 do artigo 30º CPC - O que interessa para saber se o autor é parte legitima
porque retira da procedência da causa uma vantagem ou se o reu é parte na causa porque
retira um prejuízo, vamos aferir se de acordo com a versão do autor resultar que gera
uma vantagem imediata e legitima no autor então ele é parte legitima, pelo contrario, se
da versão do autor resultar uma desvantagem imediata e legitima no reu, então ele é
parte legitima. Não importa se a versão do autor é verdadeira ou não. Se no julgamento
chegarmos á conclusão de que aquela versão não corresponde á verdadeira versão de
relação material controvertida conclui-se que o pedido é improcedente. Este é um
critério puramente informal numa relação intermédia. Nesta conceção o pressuposto
processual é extraordinariamente difícil de ser preenchido, mas não é impossível. Para
aferir a legitimidade das partes e os interesses relevantes não interessa a realidade das
coisas, mas a versão fáctico-jurídica com que o autor configura a relação material
controvertida na petição inicial, pois é essa versão que vai servir de critério para aferir a
legitimidade processual das partes.
Ao apreciar a legitimidade não estamos a fazer um pré-juízo sobre o
litigio, ou seja, estamos simplesmente a averiguar se, do ponto de vista formal, este
processo pode prosseguir para a questão seguintes.

61
O problema da legitimidade não se esgota na legitimidade singular, que é
aquilo que temos estado a falar, mas existe também a legitimidade plural.
Uma ação pode ter uma pluralidade de partes, isto é, podemos ter vários
autores a propor uma ação contra um reu, um autor a propor uma ação contra vários
réus ou vários autores a propor uma ação contra vários réus. O problema de partes
coloca um problema adicional, porque não só temos de aferir a legitimidade singular de
cada uma das partes, como temos de aferir a legitimidade plural, ou seja, a possibilidade
daquelas partes estarem na ação em litisconsórcio.
No litisconsórcio temos as partes que surgem consorciadas na ação, por
isso nesta matéria surge o problema de saber se aquela pluralidade de partes pode estar
consorciada na ação.
A pluralidade de partes pode ser:
- Originária: quando a ação é proposta já surgem em litisconsórcio
- Superveniente: ocorre na pendencia do processo, ou seja, o processo começou
com um autor e um reu e posteriormente existem mais autores e mais réus. Estamos
perante incidentes de intervenção de terceiros (chamamos á ação terceiros para
assumirem a posição de partes) e o incidente de habilitação (permite substituir uma
parte por outrem, que vai assumir a partes de outrem, ou seja, pode existir uma
habilitação singular, mas o normal é incidente por morte em que os sucessores assumem
a posição de partes).
O litisconsórcio pode assumir duas modalidades:
- Voluntário (artigo 32º CPC): a pluralidade de partes não é imposta nem exigida
pela lei, mas resulta da vontade do autor quando propõe a ação ou da vontade do reu
quando este deduz um dos incidentes. A lei não impor o litisconsórcio, mas o facto das
pessoas na ação mas resulta da vontade do autor ou do reu. É admitido pelo legislador
porque há conveniência em que um litígio seja dirimido com muitos outros, com base
no princípio da economia processual. Se há uma obrigação plural em que posso exigir a
obrigação de apenas um dele não preciso de propor a ação contra todos eles, basta
propor contra um.
- Necessário (artigo 33º): é o legislador a impor a pluralidade de partes. Não
depende da vontade dos interessados.
Faz-se a distinção do plano substantivo da relação material controvertida/relação
jurídica substantiva (relação onde surgiu o litígio que tem os seus sujeitos) e a relação
jurídico-processual/instância (que assenta no litigo, mas que as partes não têm
obrigatoriamente de ser as mesmas). Quando há uma situação de litisconsórcio
necessário a lei impõe que os sujeitos da relação material controvertida têm de ser partes
no processo.
O litisconsórcio necessário pode ser:
- Legal – nº1: “a lei”. Ex.: artigo 496º, nº2 CC – legitimidade necessária ativa
(conjugue não separado de pessoas e bens e aos filhos ou outros descendentes); artigo
535º, nº1 CC – legitimidade necessária passiva (se a prestação for indivisível e se forem

62
vários os devedores, a obrigação não pode ser parcelada, ou seja, tem de ser cumprida
de uma só vez, de forma instantânea – é exigível que se demandem todos os devedores
no caso de prestações indivisíveis).
- Convencional – nº1: “o negócio”.
- Natural – nº2: é necessário que todos os sujeitos da relação processual
controvertida sejam partes na ação se essa intervenção for necessária para que a ação
prossiga. Ex.: se tivermos um contrato de arrendamento com vários inquilinos, de nada
serve ao arrendatário demandar apenas um inquilino com a ação de despejo. A ação de
despejo só vai poder produzir o seu efeito útil normal se todos os inquilinos forem
também partes na ação. Ex.2.: pedido de nulidade de um contrato tenho de pedir a ação
contra todos os contraentes porque um contrato não pode ser nulo na sua totalidade
contra um dos contraentes e não contra todos. O litisconsórcio necessário natural não
resulta de norma expressa na lei nem de convenção negocial, resulta da própria natureza
das coisas, ou seja, da própria natureza daquele litígio. O legislador acrescenta no nº3 do
artigo 33º quando é que uma relação produz o seu efeito útil normal.
- Conjugal (artigo 34º CPC): há quem inclua no litisconsórcio necessário legal.
Pode ser:
-Ativo - nº1: prevê 3 tipos de situações em que é exigível a intervenção ativa de
ambos os conjugues:
- ações relativas a bens ou direitos cuja disponibilidade implica a intervenção de
ambos os conjugues, isto remete-nos para os regimes de bens de casamento: comunhão
de adquiridos (artigo 1721 e 1724 CC), comunhão geral (artigo 1732º CC), regime da
separação de bens (artigo 1735º CC – o casal não tem património comum, há bens que
os casais detém em copropriedade). O artigo 1678º CC regula a administração de bens
do casal; Regime de disposição de bens imoveis (artigo 1682-A, nº2 CC – se a casa de
morada de família for alienada, onerada, dada de arrendamento, etc. exige o
consentimento de ambos os conjugues, mesmo que estejam casados no regime de
separação de bens, mesmo que seja bem próprio de apenas um deles) e o regime de
disposição de bens moveis (artigo 1682º, nº1 e 3 CC – a alienação de bens moveis
comuns carece do consentimento de ambos os conjugues). Se se tratar de bens para os
quais a lei substantiva civil diga respeito a ambos os conjugues a lei processual civil
exige que essa ação sejam propostas por ambos os conjugues.
O nº2 do artigo 34º CPC vem dizer que na falta de acordo o tribunal decide se se
vai suprir ou não o consentimento tendo em conta o interesse da família enquanto
unidade. Aplica-se aqui, supletivamente, o regime do artigo 29º CPC.
- Passivo (artigo 34º, nº3 CPC): ações que tem de ser propostas contra ambos os
conjugues. O artigo 34º, nº CPC prevê 3 situações de litisconsórcio necessário conjugal
passivo:
- A ações que digam respeito a direitos os bens que digam respeito a ambos os
conjugues e ações que dizem respeito á casa de morada de família;
- Factos praticados por ambos os conjugues tem de ser demandados a ambos os
conjugues;

63
- Um conjugue pode ser chamado a satisfazer com os seus bens próprios
responsabilidades de outro conjugue (regime das dividas do casal – 1691º CC)
- as dividas contraída por qualquer um dos conjugues resultantes de comercio
A distinção entre o litisconsórcio voluntário e o litisconsórcio necessário está no
artigo 35º CPC. No litisconsórcio voluntário temos uma única relação material
controvertida, mas várias relações jurídicas processuais que estão reunidas num só
processo. No litisconsórcio necessário temos uma relação material controvertida a que
corresponde uma relação jurídica processual – há uma identidade entre os sujeitos da
relação material controvertida e as partes da relação material controvertida.
O CPC prevê ainda o litisconsórcio subsidiário (artigo 39º CPC), que foi
introduzido na reforma de 95/96 do código anterior e, permite que o mesmo pedido
possa ser deduzido contra vários réus segundo uma ordem de
preferência/subsidiariedade.
O litisconsórcio pode ser inicial (surge na propositura da causa), podendo
também surgir na pendencia da ação mediante a intervenção de terceiros na causa
(incidentes de intervenção de terceiro).
Falta de legitimidade processual:
Quando uma das partes não tem legitimidade processual dizemos que estamos
perante uma ilegitimidade processual.
Como aferir a ilegitimidade? Em primeiro lugar é preciso controlar a
legitimidade processual de cada uma das partes nos termos do artigo 30º CPC. no caso
de haver uma pluralidade de partes vamos perceber se aquelas partes podem e estar
consorciadas, seja litisconsórcio voluntário, seja litisconsórcio necessário. E por último
temos de perceber se existem terceiros que deveriam figurar com partes e não figuram
ao abrigo das regras dos artigos 33º e 34º CPC, ou seja vamos controlar se houve
preterição do litisconsórcio necessário.
Se a ilegitimidade for singular a consequência é a absolvição do reu da instância.
Num caso em que temos uma pluralidade de partes e houver uma delas que tem
ilegitimidade singular a absolvição da instância pode ser parcial. A maioria da doutrina
diz que a ilegitimidade singular é insanável, mas outros autores encontram uma
possibilidade remota de ser sanada no artigo 6º, nº2 CPC.
A preterição do litisconsórcio necessário dá também origem á ilegitimidade
processual (ativa ou passiva consoante o que tenha sido preterido). É sanável e o juiz
tem o dever se promover a sanação desta ilegitimidade (artigo 6º, nº2 CPC). Como é
que se sana? Chamando a intervir no processo as pessoas que deveriam figurar e não
figuram neles como partes, isto faz-se através do incidente de intervenção de terceiro
(artigo 261º CPC). se não for utilizada esta oportunidade para sanar a preterição de
litisconsórcio necessário, a consequência é a absolvição da instancia (o reu ou os réus
são absolvidos da instancia), porem o legislador quis criar no artigo 261º CPC 2
mecanismos necessário para sanar: permitindo que mesmo depois de proferida a decisão
de absolvição da instancia , mas enquanto esta decisão não for transitada em julgado o
autor pode introduzir um incidente de intervenção de terceiros e, nº 2 o legislador ainda

64
dá um prazo adicional de 30 dias de, depois da instancia ter terminado, o autor poder
solicitar o incidente de intervenção de terceiros, havendo um renascimento da instancia.

65
16/12/2021
Vamos entrar numa outra figura de pluralidades de parte diferente do
litisconsórcio: coligação. No litisconsórcio temos uma ou mais relações jurídicas
processuais que derivam de uma única relação material controvertida. No caso de
litisconsórcio necessário há uma única ação processual, no caso de litisconsórcio
voluntário o processo é um só mas as relações jurídicas são distintas.
Na coligação temos uma situação de pluralidade de partes que emerge de uma
situação de pluralidade de relações materiais controvertidas. No caso da coligação
temos uma situação em que na base estão diversas relações materiais controvertidas.
São diferentes relações de direito material substantivo que estão dispersas por vários
processos. É possível a coligação de autores contra um ou vários réus ou um autor
demandar conjuntamente vários réus por pedidos diferentes (artigo 36º CPC).
- Vários autores se coliguem para demandar um único reu, deduzindo cada um o
seu pedido
- Vários autores se coligem para demandar vários réus
- Um autor se coligue para demandar vários réus
Admite-se a coligação em 4 tipos de circunstâncias:
- O legislador incentiva a que vários autores se coligam e proponham a mesma
ação desde que a causa de pedir seja a mesma – artigo 36º, nº1 CPC. Assim, aqui temos
3 relações materiais controvertidas distintas. A causa de pedir de cada um destes autores
é a mesma, por isso, podem coligar-se, embora se trate de relações materiais
controvertidas distintas.
- Se os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
dependência – artigo 36º, nº1 CPC. há maior vantagem em que em vez de estar a propor
duas ações e uma estar parada á espera do resultado da primeira eu deduza os dois
pedidos na mesma ação. São duas relações materiais controvertidas diferentes, mas a lei
consente que estejam num mesmo processo. Ex.: pedido de anulação de contrato e
pedido de que B devolva uma coisa que foi entregue no âmbito desse contrato.
- Os pedidos coligados envolvem a apreciação dos mesmos factos ou das
mesmas regras de direito. A causa de pedir não é a mesma. Ex.: litígios com uma
fornecedora de telecomunicações que emitiu umas faturas com valores aldrabados a
todos os clientes. A lei permite, em vez de cada um destes clientes lesado propor uma
ação, a lei permite que eles se coligem porque estão em causa os mesmos factos e as
mesmas regras de direito. embora as relações materiais controvertidas sejam destintas e
a causa de pedir não seja a mesma a lei permite que os autores se possam coligar.
- Nas relações cartolares (os títulos de crédito estabelecem relações jurídicas
cambiárias que são relações jurídicas abstratas, ou seja, que não tem causa. Ex.: quando
emito uma livrança, uma letra ou um cheque o beneficiário dessa letra, desse cheque ou
dessa livrança pode cobrá-la em relação a mim sem que tenha de provar a operação
económica subjacente a esse facto. Valem em si mesmas como títulos e crédito. Muitas
vezes estes títulos de credito por causa do valor acrescentado que tem no mercado dos

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negócios são posteriormente negociados, por isso a letra começa a circular
autonomamente da divida a que lhe deu origem. Estes títulos de crédito podem ganhar
uma vida própria, por isso também pode acontecer que alguém dê um aval além do
devedor originário (garantia) há duas relações jurídicas: relação jurídica cambiária e a
obrigação subjacente que tem a ver com a obrigação subjacente. Por isso, posso propor
uma ação fundada apenas na letra enquanto tipo de crédito ou fundada na divida
enquanto operação real.
As 4 situações em que é possível a coligação estão identificadas no artigo 36º
CPC, no entanto, não basta que se verifique uma destas condições dos requisitos
positivos para que se verifique a coligação, porque o artigo 37º CPC vem-nos dizer
quando não é admitida a coligação:
- Se os pedidos que eu quero coligar tiverem correspondência formas de
processo distintas a lei não permite a coligação.
- Exceção: se as formas processuais são distintas, mas não são completamente
incompatíveis o juiz pode autorizar a coligação de pedidos. Há uma apreciação
casuística que o tribunal pode fazer para acionar esta exceção a este requisito negativo.
- Quando a cumulação de pedidos ofenda as regras da competência processual:
se os pedidos que quero coligar corresponderem á competência de diferentes tribunais
também não é possível fazer a coligação. A competência territorial não é obstáculo á
coligação, mas serão obstáculos as regras refentes á competência material, internacional
e hierárquica.
- nº4 do artigo 37º CPC: se mesmo que se verifiquem os requisitos positivos e
não estiver preenchido nenhum dos requisitos negativos, o tribunal pode, apreciando em
conjunto todos os pedidos, fundamentar que a coligação dos pedidos gera um
inconveniente muito grave tramitando os processos em conjunto. A ação só pode
prosseguir em relação a um dos pedidos e, se o autor não vier escolher com qual dos
pedidos quer prosseguir a causa então o reu é absolvido da instância.
Artigo 38ºCPC: se cumular pedidos que não admitem coligação porque não se
verifica nenhum dos requisitos alternativos do artigo 36º CPC, o tribunal notificar-me-á
para a escolha dos pedidos e, se o autor nada disser o reu é absolvido da instancia em
relação a todos os pedidos. O juiz absolve o reu da instancia relativamente aos outros
pedidos.
O pressuposto processual que se segue é o Interesse processual:
O interesse processual é um pressuposto processual atípico e inominado porque
não está expressamente previsto enquanto tal na lei e atípico porque o seu regime
jurídico não está traçado pelo legislador. É um pressuposto processual que a doutrina
vem reconhecendo há muito tempo.
O interesse processual exprime no processo a necessidade da tutela judiciária.
Vimos, em relação á legitimidade que esta exprimia uma relação entre as partes e o
objeto do processo, o interesse processual exprime a relação das partes com o próprio
processo, ou seja, é a necessidade de utilizar a via processual, isto é, a necessidade de a
parte se socorrer de um processo para tutelar o direito que invoca.

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Ex. de falta de interesse processual: propor uma ação pedindo que alguém seja
condenado a devolver-me dinheiro que emprestei, sendo que essa obrigação ainda não
está vencida. Este é uma exceção ao próprio regime do interesse processual - artigo 610º
CPC: se eu propuser uma ação como a do exemplo, se o reu contestar dizendo que a
obrigação não existe nem hoje, nem na data de vencimento, então o tribunal pode
contestar. Se o reu disser que devolverá o dinheiro na data de vencimento, então réu
será absolvido da instância. Podemos incluir nesta falta de necessidade de pretensão
judiciária outro tipo de pretensões. Isto não necessita de tutela judiciária.

Para o próximo ponto da matéria temos de utilizar a LOSJ – temos de ter a LOSJ
atualizada.
Competência é um pressuposto processual que se tem de verificar quanto ao
tribunal. É um pressuposto processual positivo, típico e nominado. É um pressuposto
processual híbrido no que diz respeito ao conhecimento oficioso ou não oficioso, ou
seja, pode ser de conhecimento dependente da arguição pelas partes numa circunstância
e de conhecimento oficioso noutras.
A função jurisdicional está consagrada no artigo 202º da CRP e no artigo 2º, nº3
LOSJ. A função jurisdicional está confiada a todos os tribunais. Todos os tribunais
exercem a função jurisdicional, mas não o fazem em pleno, ou seja, como há muito
tribunais o legislador e a própria CRP estabelecem uma repartição entre os tribunais e
isso vai-se fazendo por etapas:
1. Existência de diferentes ordens jurisdicionais: no nosso ordenamento
jurídico existem 4 ordens jurisdicionais (artigo 209º CRP):
- Jurisdição comum ou dos tribunais judiciais: composta pelo STJ,
tribunais de 1º e de 2º instância – artigo 211º. Tem como âmbito de competência
as matérias cíveis e criminais. Além disso, tem um âmbito residual que cabe á
jurisdição comum exercer jurisdição em todas as áreas que não pertençam aos
outos tipos de jurisdição.
- Jurisdição administrativa e fiscal: tribunais administrativos e fiscais –
artigo 212º, nº13 CRP
- Jurisdição económico financeira: tribunal de contas – artigo 214º, nº1,
c) CRP
- Jurisdição constitucional: tribunal constitucional – artigo 221º e 223º
CRP
Cada uma destas quatro jurisdições é já uma repartição da jurisdição.
Por vezes pode acontecer que hajam duvidas relativamente ao tribunal
onde deve ser colocado o litigio: conflitos de jurisdição:
- Conflito positivo: ambos os tribunais dizem ter competência
para aferir do litígio.
- Conflito negativo: ambos os tribunais de diferentes ordens
judiciais negam ter competência para aferir de um mesmo litigio;

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resolve-se através do tribunal de conflitos que é composto por um nº
igual de juízes do STJ e do Tribunal administrativo.
A competência é a repartição da jurisdição pelos tribunais que integram a
correspondente ordem judicial. Esta necessidade resulta, desde logo, de uma imposição
constitucional da existência de diversos tribunais e várias instâncias de tribunais
judiciais, por isso, quer que a jurisdição comum seja repartida por estes tribunais. O
facto de existirem diversos tribunais numa mesma ordem jurisdicional é necessário que
se faça uma repartição. Para fazer a repartição usamos 4 critérios de aferição de
competência:
- Competência em razão da matéria
- Competência em razão da hierarquia
- Competência em razão da forma do processo e valor da ação
- Competência em rezão do território
A competência em abstrato parte da perspetiva do tribunal. A competência em
concreto parte da perspetiva do processo. Quando analisamos a competência em
concreto estamos a averiguar, perante o processo qual é o tribunal para o analisar em
concreto.
Artigo 39º LOSJ – princípio da proibição de desaforamento: princípio do juiz
natural – proíbe-se que uma causa seja removida de um tribunal para outro em razão do
princípio da perpetuatio iurisdictiones. Este princípio da proibição de desaforamento
tem como base o princípio constitucional do juiz natural (artigo 32º CRP – os processos
têm de ser julgados pelo tribunal competente em lei anterior á sua instauração, para
evitar que se alterem as leis para a criação de tribunais de conveniência). Na opinião do
professor o princípio da proibição de desaforamento não tem base constitucional, mas
há outros autores que entendem o contrário.
A distribuição é uma figura afim da competência e da jurisdição, pois tem a ver
com uma repartição equitativa de processos pelos juízes que compõe o mesmo tribunal.
Depois de estar determinado o tribunal competente, pode acontecer que o tribunal
encontrado seja um tribunal onde estão colocados vários juízes, por isso é necessário
identificar, dentro do tribunal competente, qual dos juízes vai julgar aquele processo.
Isto é uma distribuição de serviço pelos vários juízes que compõe um tribunal.

Caso prático:
Em 15 de Janeiro de 2021, Álvaro, de 18 anos, e Bernardo, de 16 anos,
ambos estudantes de vitivinicultura em Valpaços, celebraram com Carlos,
senhorio, um contrato de arrendamento, por uma renda mensal de 150€, tendo por
objeto uma fração habitacional sita na Ribeira, no Porto, para um período
transitório de 6 meses correspondente á duração de um estágio académico não
remunerado que vieram realizar no Instituto Português do Vinho em Gaia. Em 10
de fevereiro desse ano Carlos contraiu casamento, no regime da separação de bens,
com Helena. Em 20 de março, Bernardo resolveu instalar um laboratório de
microbiologia no seu quarto na fração arrendada a Carlos sem autorização deste,

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para o efeito removendo o reboco do revestimento da parede e das alcatifas. Tendo
tomado conhecimento dessa circunstância, Carlos propôs contra Bernardo uma
ação peticionando a resolução do contrato de arrendamento e a condenação na
entrega do imóvel locado.
Diogo e Eduarda, pais de Bernardo e seus representante legais, não se entendem
quanto á posição que o filho deve adotar no processo: para o pai, a conduta do
filho é irrepreensível porque foi um ato adotado em beneficio da sua formação e
deve contesta a ação do senhorio, enquanto a mãe é d entendimento que o filho
deve confessar o pedido.
Entretanto, Joaquim, vizinho do apartamento, está preocupado com as obras
realizadas no apartamento de Bernardo e, para melhor se inteirar no assunto,
deslocou-se ao tribunal para solicitar consulta do processo.
a.) Será obrigatória a constituição de mandatário pelas partes na ação proposta
por Carlos?
Minha resposta:
O legislador refere-se exclusivamente á matéria regulada no nº3 do artigo 629º
CPC: ações em que se aprecie a validade, subsistência ou cessação de contratos de
arrendamento. Se é sempre admissível recurso, nos termos do 40º, nº1, b) CPC, é
sempre obrigatória a constituição de mandatário, mas a alínea a) do nº 3 do artigo 629º
CPC tem uma exceção: arrendamentos para fins de habitação não permanente (ainda
que o arrendamento seja permanente) e de contratos de arrendamento para fins especiais
transitórios (ex.: alguém que arrenda uma habitação por 10 meses para estar a estudar
no Porto; alguém que arrenda um terreno para uma plantação durante 5 meses). Assim
sendo, não é obrigatória a constituição de mandatário. No entanto, o artigo 42º CPC, em
prol do princípio constitucional da assistência por advogado, não impede as partes de
constituir mandatário mesmo que não seja obrigatório fazê-lo.

Resposta do professor:
O artigo 40º CPC dá-nos 3 situações em que é obrigatória a constituição de
mandatário. Para sabermos se é admissível recurso ordinário temos de consultar o artigo
629º, nº1 CPC. esta ação admitirá recurso ordinário se o valor da causa exceder o valor
da alçada – artigo 44º LOSJ. Temos de determinar o valor da causa, que no caso são 30
meses de renda, ou seja, o valor da causa são 4500€, pelo que não admite recurso ao
abrigo da alínea a) do artigo 40º CPC.
A alínea b) do artigo 40º CPC obrigamos a consultar a aliena a) do artigo 629º
CPC, pelo que é admissível recurso. O arrendamento foi celerado por um período
transitório de 6 meses, por isso está no âmbito da exceção do final da alínea a), pelo que
não admite recurso, assim, também não é obrigatória a constituição de advogado.
Assim nesta causa não será obrigatória a constituição de advogado, no entanto,
as partes podem constituir advogado, nos termos do artigo 42º CPC, podendo também

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constituir como mandatário advogado estagiário ou solicitador, podendo pleitear por si
próprios, não podendo, assim, inquirir testemunhas – artigo 40º, nº3 CPC.

b.) Aprecie a legitimidade das partes na ação proposta por Carlos.


Minha resposta:
- Capacidade judiciária – artigo 15º CPC
- Personalidade judiciária – artigo 11º CPC
- Capacidade postulatória – artigo 42º e 40º, nº3 CPC
Nos termos do artigo 11º CPC, a personalidade judiciária consiste na
suscetibilidade de ser parte. A personalidade judiciária existe na mesma medida da
personalidade jurídica. Ora, sendo que está é adquirida no momento no nascimento
pleno e com vida, Bernardo tem personalidade judiciária. No entanto, como Bernardo
tem 16 anos e não se lhe aplicam nenhuma das exceções do artigo 127º CC (?),
Bernardo carece de capacidade judiciária, pelo que esta incapacidade terá de ser suprida
nos termos do artigo 16º CPC.

Resposta do professor:
As partes neste processo são: Carlos – autor e Bernardo – Réu. As partes podem
não corresponder com os sujeitos da relação material controvertida.
Vamos apreciar a legitimidade: Carlos será parte legitima na ação? Temos de
verificar a legitimidade ativa. Primeiro temos de apreciar a legitimidade singular das
partes, depois, se houver uma legitimidade plural temos de apreciar se haveria lugar ao
litisconsórcio ou á coligação.
Legitimidade ativa: Carlos tem legitimidade singular se tiver interesse direto em
demandar. Isso expressa-se quando retira da procedência da ação uma vantagem pessoal
e imediata, sendo irrelevante a real configuração da relação material controvertida.
Assim, de acordo com esta definição, Carlos retira uma vantagem, pelo que, tem
legitimidade singular. Como não há litisconsórcio não temos de avaliar se as partes
poderiam estar listisconsorciada.
Pode Carlos estar nesta ação desacompanhado ou estará ele a preterir uma
situação de litisconsórcio necessário? O único problema que isto poderá colocar é saber
se há litisconsórcio necessário ativo – artigo 34º CPC. aqui não está em causa a casa de
morada de família e, como ele contraiu casamento em regime de separação de bens, ele
pode gerir os seus bens próprios e, como tal, pode interpor esta ação sozinho. O
litisconsórcio é aferido no momento da propositura da ação.
Legitimidade passiva: Bernardo é parte legitima na causa? Vamos apreciar
primeiro a legitimidade singular de Bernardo. Há legitimidade singular se tiver interesse
direto em contradizer e este existe se da procedência da causa existir um prejuízo direto

71
e imediato na sua esfera jurídica. Neste caso ele tem interesse em contradizer, pelo que
há legitimidade singular.
Como não há mais nenhum reu não temos de apreciar a admissibilidade do
litisconsórcio.
A relação material controvertida é o contrato de arrendamento e a sua violação.
Os sujeitos da relação material controvertida são: Carlos, Álvaro e Bernardo. Os tipos
de litisconsórcio necessário que conhecemos são: legal, convencional e natural ou
conjugal. A decisão que se vier a proferir numa ação de despejo só vem a produzir o seu
efeito útil normal se vier a abranger todos os inquilinos, pelo que, estamos no âmbito
do litisconsórcio natural. Assim, a decisão só terá efeito útil na causa de forem
requeridos todos os sujeitos da relação material controvertida.
Como foi preterido o litisconsórcio natural a consequência é que o réu é parte
ilegítima, e isso tem como consequência a absolvição da instância. No entanto, como o
motivo da absolvição do reu da instância o litisconsórcio natural, o legislador determina
que:
O artigo 6º, nº2 CPC: o tribunal tem o dever de suscitar junto das partes que elas
procedam a sanação da instância através do chamamento das partes – incidente de
intervenção de terceiros. Se não for deduzido o incidente de intervenção de terceiros,
antes do transito em julgado (artigo 261º, nº1 CPC) o autor pode chamar a parte em
falta, se o autor o fizer nesse período a ação prossegue agora com Álvaro já como parte.
Se ainda assim o autor não deduzir o chamamento da parte em falta, então, ainda é
possível, através do 261º, nº2 CPC, a renovação da instância em que o legislador dá um
prazo adicional de 30 dias ao autor requerer o incidente de intervenção, através do
chamamento de Álvaro, fazendo com que a instância renasça.

72
17/12/2021
Caso prático
Em 15 de janeiro de 2014, António, casado no regime de comunhão de
adquiridos com Benedita, celebrou com Carlos um contrato de compra e venda
referente a um prédio rustico sito em Campanhã, no Porto, ficando ajustado que o
preço da venda, no valor de 4.000,00€, seria pago e duas prestações semestrais de
igual valor cada uma. Carlos, adquiriu o prédio com intenção de o oferecer aos
seus futuros sogros uma vez eu se iria casar no final de janeiro com Diana no
regime de separação de bens. Pagou a primeira prestação aquando da outorga do
contrato. Sucede que, logo em fevereiro de 2014, já depois de celebrado o seu
casamento, se deu conta que estava prevista a construção junto ao prédio de uma
linha férrea que lhe iria retirar qualquer utilidade construtiva ou agrícola,
circunstancia que era do conhecimento de António e que ocultou de Carlos.
Inconformado com tal situação, Carlos propôs contra António uma ação
peticionando a resolução do contrato de compra e venda e a devolução da primeira
prestação do preço paga por Carlos.
b.) Aprecie a legitimidade processual de ambas as partes na ação.
Resposta do professor:
Começaríamos por introduzir o que é o conceito de legitimidade.
Primeiro temos de identificar quem são as partes na ação: Carlos como autor e
réu como António.
Vamos separar a apreciação da legitimidade ativa e da legitimidade passiva.
Legitimidade ativa: Carlos propôs a ação contra António.
1º- temos de apreciar a legitimidade singular: afere-se pelo interesse direto em
demandar, o qual se afere pela obtenção de uma vantagem direta e imediata na esfera
jurídica do autor, decorrente com a procedência da ação de acordo com a relação
material controvertida de acordo com a petição inicial. Assim, este autor teria
legitimidade singular ativa.
2º- se houvesse uma pluralidade de autores iriamos ver se aqueles autores
poderiam estar litisconsórcios ou em coligação: não vamos faze neste caso porque só
há um autor.
3º- apreciar se haveria lugar a litisconsórcio necessário que deveria ter sido
requerido:
- Litisconsórcio necessário convencional: o caso pratico não nos dá a
indicação d éter havido uma clausula que convencione o litisconsórcio
- Litisconsórcio necessário natural: não há normas legais que á partida
indiquem a necessidade de existência de litisconsórcio
- Litisconsórcio necessário natural: não há necessidade

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- Litisconsórcio necessário conjugal: artigo 34º CPC – como é um prédio
rustico não é casa de morada de família. O regime de casamento é (separação de bens),
por isso termos de consultar o 1682º-A CC que nos diz que é necessário o
consentimento de ambos os conjugues quando está em causa uma ação de bens próprios
ou comuns, salvo se entre os conjugues vigorar o regime de separação de bens, por isso
este regime não se lhes é aplicável. Assim, não há litisconsórcio necessário conjugal por
isso Carlos é parte legitima na ação.
Quanto á legitimidade passiva devem ser feitas as mesmas 3 operaçoes:
- Legitimidade passiva singular: ele retira na sua esfera jurídica um prejuízo
direto e imediato da procedência da açao, por isso tem legitimidade singular.
- Não temos de averiguar se há pluralidade de partes porque só há um reu.
- Litisconsórcio necessário: António é casado em regime se comunhão de
adquiridos, por isso aplica-se-lhe o artigo 34º, nº3 CPC. Deste modo, a ação deveria ter
sido proposta contra António e benedita. Temos uma preterição do litisconsórcio
necessário passivo conjugal, de onde resulta que António é parte ilegítima na ação
porque deveria ter sido demandado em litisconsórcio com o seu conjugue. Assim, a
consequência é a absolvição do reu da instância, mas este vicio é sanável e o legislador
incentiva a sua sanação em 3 momentos:
1º momento: artigo 6º, nº2 CPC: o juiz tem o poder-dever a convidar as
partes a sanar deduzindo o incidente de intervenção de terceiros de maneira a
chamar benedita a tomar a posição de partes na ação. Benedita não é Ré porque
não foi demandada, mas pode ser chamada a assumir no processo essa posição.
2º momento: artigo 261º, nº1 CPC: se proferida a decisão de absolvição
da instancia enquanto ela não transitar em julgado o ator pode proceder um
indecente de intervenção de terceiros fazendo caducar a decisão de absolvição de
instancia.
3º momento: artigo 261º, nº2 CPC: mesmo depois da absolvição da
instancia o autor tem um prazo para requerer o incidente de intervenção de
terceiros renovando a instancia.
Qual é o valor desta causa? É obrigatório constituir advogado?
É obrigatório constituir advogado nos termos da alínea a) do artigo 40º CPC se a
causa admitir recurso ordinário.
Nesta causa há mais do que um pedido, por isso temos de determinar o valor de
cada um deles: resolução do contrato e pedido de condenação na entrega de uma quantia
em dinheiro. Quanto ao segundo pedido o valor é de 2000€ porque é esse o valor da
primeira prestação. Quanto ao primeiro pedido, ao abrigo do 301º CPC, o valor é o
preço do contrato estipulado pelas partes, ou seja, 4000€. Assim, o valor da causa será
6000€, pelo que é obrigatória a constituição de advogado.
Temos de invocar o artigo 40º alíneas a), b) e c) CPC.

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06/01/2022
Competência – continuação:
Competência internacional (artigo 59º CPC): coloca-se quando estamos
perante os litígios transfronteiriços. É a questão de se relativamente aqueles litígios os
tribunais portugueses são ou não internacionalmente competentes para julgar aquela
causa. Quando aferimos a competência internacional não é relevante saber em que
tribunal foi proposta a ação. Estes podem ser:
- Litígios transfronteiriços puros: há conexão, nem que seja com um único
ordenamento jurídico, que está fora da União Europeia
- Litígios intracomunitários: tem conexão apenas com ordenamentos jurídicos
de Estados de União europeia, o que obriga á aplicação de uma legislação especifica. O
artigo 59º CPC ressalva que existe um regulamento europeu quanto a esta matéria, por
isso, quando se trata de litígios intracomunitários não se aplicam as regras do CPC.
A competência internacional resulta da aplicação dos princípios da coincidência,
causalidade, necessidade e consensualidade, sendo que os 3 primeiros estão previstos no
artigo 62º CPC:
a.) Princípio da coincidência - competência interna em razão do território. Quando
por aplicação exclusiva das regras internas de competência em razão do
território resultar a competência de um tribunal português, então todos os
tribunais portugueses são competências como um todo.
b.) Princípio da causalidade: se o facto que serve de fundamento á propositura da
ação tiver ocorrido em território português ou, tratando-se de uma causa de pedir
complexa que envolve vários factos, se tiver sido praticado em território
português o facto que serve de causa de pedir na ação, então os tribunais
portugueses serão internacionalmente competentes.
c.) Princípio da necessidade: quando o direito que se quer ver tutelado se pode
tornar efetivo apenas se ação vier a ser proposta num tribunal português ou se
verifique para o autor uma dificuldade apreciável na propositura da ação no
estrangeiro. Só se aplica se existir um elemento entre o objeto apreciável da
propositura da ação e a ordem juridica portuguesa, sendo que essa condição
ponderosa pode ser pessoal ou real, isto é, pode dizer respeito a pessoa ou a
coisa,
Princípio da consensualidade (artigo94º CPC): as partes podem convencionar qual a
jurisdição competente para dirimir qualquer litígio emergente de uma relação juridica
que tem – Pacto privativo e atributivo de jurisdição. No entanto, este pacto privativo de
jurisdição, que se impõe os tribunais portugueses, que o reconhecem para se tornarem
internacionalmente competentes ou para determinar a sua incompetência internacional.
Os pactos privativos de jurisdição têm requisitos que são aqueles que estão previstos
nos nº2 e 3 do artigo 94º CPC:
- Têm de estar em causa direitos disponíveis
- O Estado cujos tribunais foram escolhidos tem de aceitar essa escolha.

75
- A escolha tem de ser justificada por um interesse sério de ambas as partes, isto é,
não pode ser feita uma escolha que não tenha uma relação de conveniência com as
partes e com o litígio que está em causa. (ex.: uma empresa portuguesa tem negócios
com uma empresa chinesa de onde resulta um litígio. A empresa portuguesa pode alegar
que a jurisdição chinesa é um entrave porque não se consegue mexer bem no
ordenamento jurídico chinês)
- Há um conjunto de matérias que a lei portuguesa diz que só pode ser dirimida por
tribunais portugueses – artigo 63º CPC
- Tem de ser escrito, ou seja, tem de resultar de acordo escrito entre as partes ou
confirmado por escrito, desde que nele se mencione a legislação competente.
Quando as partes celebram validamente um pacto atributivo de jurisdição ele é
reconhecido pelo ordenamento jurídico português, isto significa que ele vale tanto pela
positiva como pela negativa. Se a ação for proposta num tribunal português este aceitará
a sua competência por força do artigo 94º CPC. Se vier a ser interposta num tribunal
português uma ação o tribunal português exerce a sua competência negativa rejeitando
conhecer do litígio por não ser da sua competência atribuída pelo artigo 94º CPC.
Competência exclusiva internacional dos tribunais portugueses: O artigo 63º
CPC apresenta-nos um conjunto de matérias que o ordenamento jurídico português
entende que só podem ser julgadas por tribunais portugueses, inclusive, se forem
julgados em tribunais estrangeiros essas sentenças não podem ser aceites em Portugal:
a.) Ações reais: ações que digam respeito a propriedade e outros direitos reais de
imoveis situados em território português; o mesmo acontece quanto a ações que digam
respeito a imoveis situados em território português. A alínea a) estabelece uma exceção:
situações em que o arrendamento é para uso temporário no máximo de 6 meses e os
sujeitos são residentes no mesmo estado-membro da união europeia.
b.) Ações pessoais relativas a pessoas coletivas e ações de impugnação de
deliberações sociais: apreciação da validade de constituição ou de dissolução de
qualquer sociedade comercial com sede em Portugal; o mesmo acontece quando estão
em causa decisões dos órgãos de associações sediadas em Portugal
c.) Ações registais: impugnar qualquer registo publico que esteja sediado em
Portugal, a apreciação da validade desse registo pertence aos tribunais portugueses
d.) Ações de execução sobre imoveis situados em território português são da
competência exclusiva dos tribunais portugueses.
Estas normas do CPC aplicam-se apenas quando não está em causa a aplicação de
um regulamento europeu. (Regulamento 1215 de 2012 – levar para o teste)
Análise do regulamento:
-Artigo 1º: aplica-se a litígios cíveis e comerciais em sentido estrito
-Artigo 4º: Princípio do domicílio do Réu – a competência dos litígios
intracomunitários pertence aos tribunais do estado-membro do domicílio do demandado.
Existem algumas exceções a esta regra:

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- Artigo 7º:
Nº1, a) A competência internacional pertente também ao Estado do
cumprimento da obrigação.
Nº2) Ações de responsabilidade extracontratual podem ser colocadas nos
tribunais do Estado onde ocorreu o facto danoso.
Nº3) Matéria delitual – está ligado ao princípio da adesão de processo penal,
o que permite que as pessoas lesadas por um comportamento criminoso possam
pedir a respetiva ação cível no processo penal. Reconhece-se a competência
internacional penal cível quando estejam em causa pedidos indemnizatórios
- Artigo 18º é uma verdadeira exceção ao artigo 4º: Contratos de consumo.
- Artigo 24º Regula a competência exclusiva dos tribunais de um estado-membro da
União europeia. Este artigo corresponde ao artigo 63º CPC.
Além deste regulamento há, ainda, um conjunto de diplomas que também
regulam a competência internacional dos tribunais portugueses, desde logo a convenção
de Bruxelas de 1968.

Competência interna:
A competência internacional, por si só, não resolve a questão da competência, ou
seja, depois temos de nos socorrer das normas da competência interna.
De um modo geral, as normas da competência interna vão determinar um
tribunal que será aquele competente para a causa. Para determinar a competência interna
temos de articular as normas do CPC e das LOSJ.
O território nacional está divido em 2 tipos de circunscrições judiciais:
- Comarcas (artigo 33º, nº2 LOSJ): o território está dividido em 23 comarcas
desde a reforma de 2003, antes disso eram muitas mais.
- Circunscrições do tribunal da relação (anexo 1 LOSJ): existem 5 tribunais da
relação.
Esta divisão judicial tem também correspondência a uma organização judiciária
vertical: Supremo Tribunal de Justiça – Relações (tribunais de 2º instância ou tribunais
intermédios – artigo 67º LOSJ) – Comarcas (tribunais de 1º instância – artigo 79º LOSJ)
Dependendo de cada Comarca os tribunais podem desdobrar-se em diferentes
juízos (artigo 81º LOSJ): juízos centrais cíveis, locais cíveis, família e menores,
trabalho e comercio. O desdobramento é feito em função das realidades de cada uma
das comarcas (DL- 49/2014 – Imprimir)
O artigo 83º LOSJ prevê os tribunais de competência territorial alargada. No
domínio do processo civil existem 3 tribunais de competência territorial alargada que
relevam, pois, embora estejam sediados numa comarca tem competência sobre todo o

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território nacional: tribunal da propriedade intelectual, tribunal marítimo e o tribunal da
concorrência, regulação e supervisão (anexo 3 LOSJ).
Artigo 56º, nº1 LOSJ, artigo 74º, nº1 LOSJ – na segunda instância e nu STJ
ainda há lugar a intervenção colegial, enquanto na primeira instância a regra é a do juiz
singular.
Competência em razão da matéria:
Temos de atender ao pedido e, eventualmente, á causa de pedir, ou seja, vamos
atender á concreta pretensão que o autor efetivamente deduziu na ação, ainda que esta
seja descabida ou improcedente.
Sabemos que pode existir simulação de pedidos e, pode acontecer que o tribunal
seja competente para conhecer alguns dos pedidos deduzidos e não seja competente para
reconhecer os restantes – isto é regulado em alguns preceitos: artigo 555º, nº1 CPC
remete-nos para o artigo 37º CPC:
- Quanto aos tribunais de competência territorial alargada
- Artigo 111º, nº1, a), b), c) e l) LOSJ: quaisquer contratos que tenham a
ver com direitos de autor, direitos conexos e direitos de propriedade industrial recai na
competência material do tribunal da propriedade intelectual.
-Artigo 112º da LOSJ: a competência deste tribunal tem a ver
exclusivamente com litígios de natureza administrativa, mas o nº3 e 4º pode ser
considerado matéria cível.
- Artigo 113º da LOSJ: quaisquer indemnizações resultantes de danos
causados por ou em navios e embarcações são da competência do tribunal marítimo.
As competências da comarca são todas aquelas que não estejam atribuídas a
outros tribunais. No domínio civil temos de ter em conta:
- Juízos de comercio – artigo 128º LOSJ
- Juízos de família e menores – artigo 122º LOSJ
- Juízos de trabalho – artigo 126º LOSJ
- Juízos de execução – artigo 129º LOSJ
A competência dos juízos centrais cíveis e dos juízos locais cíveis do ponto de
vista material é exatamente e mesma, por isso o que os distingue é o valor da ação –
artigo 117º e artigo 130º LOSJ. Se ação tiver um valor superior a 50 mil euros a
competência pertence aos juízos centrais cíveis, no caso de ser uma ação com valor
inferior a 50 mil euros então aplicamos o artigo 130º da LOSJ, que nos diz que é da
competência dos juízos locais cíveis. Cabe aos juízos locais cíveis uma competência
residual.
Competência em razão da hierarquia:
Os tribunais são independentes, exceto nos recursos.

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Cabe aos tribunais de primeira instância reconhecer dos processos em primeiro
grau de jurisdição em razão da hierarquia. No entanto, há exceções, isto é, há ações ou
processos que devem ser interpostos em 2º grau de jurisdição ou no STJ: ações de
revisão de sentença estrangeira e ações no âmbito da arbitragem voluntária.
Competência em razão do território:
Foro real ou foro da situação dos bens – artigo 70º CPC: as ações relativas a
direitos reais são propostas no tribunal onde o bem estiver situado, assim como as ações
de despejo. Nº3: se estiver em causa uma universalidade de facto (conjunto de bens que
estão sujeitos a um regime jurídico comum – ex.: rebanho ou biblioteca) e os bens
estiverem localizados em diferentes localizações, então é competente para conhecer da
ação o tribunal correspondente á situação dos imóveis de maior valor.
Artigo 71º, nº1 CPC: a ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações e a
resolução do contrato por falta de cumprimento é correspondente ao tribunal de
domicílio do reu, mas a lei admite uma exceção: a ação pode ser proposta no lugar onde
a obrigação deveria ser cumprida.
Artigo 72º-A, nº1 CPC: a sucessão foi aberta no lugar em que o De Cujus
morreu.
Artigo 80º, nº1, 2 e 3 CPC – estabelece a regra do foro geral, supletivo ou do
foro do reu. Esta regra aplica-se a todos os casos em que não há previsão especifica nos
artigos anteriores. A competência pertencerá ao tribunal do domicílio do réu. O artigo
82º CPC, vem dizer-nos que a ação deve ser interposta no tribunal do domicílio da
maioria deles ou se o número de domicílios for igual o reu pode demandar em qualquer
um deles.
Artigo 81º CPC.
PARA O TESTE SAI ATÉ Á COMPETENCIA INTERNACIONAL. Amanha
vamos fazer um exercício de competência internacional de aplicação prática e aula de
dúvidas.

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07/01/2022
Caso prático:

Resolução do professor:
A questão que aqui se coloca é uma questão de competência internacional, pelo
que, temos de averiguar se os tribunais portugueses como um todo têm competência
para reconhecer desta ação.
Trata-se de um problema de competência internacional porque estamos perante
um litígio transfronteiriço que tem conexão com vários ordenamentos jurídicos,
incluindo o português porque é o tribunal onde se pretende interpor a ação. É um litígio
transfronteiriço puro porque envolve também estados extraeuropeu porque envolve
estados que não fazem parte da união europeia, caso contrário estaríamos no âmbito de
um litigio intracomunitário, o que nos levaria á aplicação do Regulamento 1215 de
2012.
Neste caso deverá ser aplicado o disposto no artigo 59º CPC, assim, os tribunais
portugueses serão internacionalmente competentes se estivermos perante alguma das
situações do artigo 63º CPC referidas como casos de competência exclusiva dos
tribunais portugueses, estarmos no âmbito do artigo 62º CPC e do princípio do artigo 94
CPC.
Quanto ao princípio da consensualidade do artigo 94 CPC, o caso pratico não faz
referência da existência de um qualquer pacto atributivo de jurisdição. Assim, podemos
já excluir a aplicação do princípio da consensualidade.
Também não se trata de nenhuma das situações do artigo 63º CPC, pelo que este
também não se aplica.
Estamos, portanto, aqui situados na competência dos artigos 62º CPC.
Quanto ao princípio da necessidade, sabemos que este tem duas dimensões: (1) o
direito invocado (direito de crédito do adquirente das mercadorias) não poder tornar-se
efetivo, senão por via de uma ação interposta no território português. (2) existir, para o
autor, uma dificuldade apreciável da propositura da ação no estrangeiro, mas ainda
assim tem de existir entre o objeto do litígio e a lei portuguesa um elemento de conexão,
o que não parece existir.

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Pelo principio da coincidência temos de articular a alínea a) do artigo 62º CPC
com as normas da competência territorial. Por aplicação das regras de competência
territorial, estas poder-se-iam aplicar caso o reu domiciliasse em Portugal. O lugar do
cumprimento da obrigação também ditaria um tribunal estrangeiro, pelo que não se
aplica o princípio da coincidência porque não há coincidência entre as regras de
competência interna e internacional.
Quanto ao princípio da causalidade, como o facto que serve de causa de pedir na
ação tivesse sido praticado em Portugal. O facto que está a ser invocado como causa de
pedir é que as alheiras foram entregues na Malásia em condições improprias para
consumo, pelo que, não se aplica a competência internacional dos tribunais portugueses
para reconhecerem deste litígio porque nenhum dos 4 princípios referidos tem aplicação
ao caso presente.
O professor também admitiria a aplicação do principio da causalidade,
admitindo competência para os tribunais portugueses desde que bem fundamentada, por
exemplo, com o facto de as alheiras já se terem estragado aquando da sua produção em
Mirandela.

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