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Processo Civil I - 2017

Toledo Prudente Centro Universitário

PROVA DE 3 PONTOS

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Sociedade e Direito (Ubi societas, ibi ius, ibi ius, ubi societas – não há sociedade sem
Direito e não há Direito sem sociedade (relação de dependência entre sociedade e
direito)).

A partir do momento que surge a convivência entre pessoas, é necessário estabelecer


regras para regular/limitar essa convivência, para que haja harmonia entre as pessoas.

Interesse – Posição favorável à satisfação de uma necessidade. Porém, os recursos


naturais e humanos disponíveis para essa satisfação não são suficientes para satisfazer
a todos (pois são escassos) – aí surge o conflito de interesses (mais de uma pessoa
querendo o mesmo recurso). As necessidades são infinitas, assim sempre existirá o
conflito de interesses.

Conflitos de interesse – Há várias formas para resolver esses conflitos. Por exemplo,
há métodos primitivos como violência física.

MEIOS ALTERNATIVOS/ EXTRAJUDICIAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

1. Parciais – Aqueles em que apenas os interessados atuam para a resolução do


conflito de interesses (não há intervenção de terceiros).

a) AUTOTUTELA – Forma primitiva e não recomendada pelo direito/vedada em regras


- a não ser nos casos do tipo legítima defesa, pois o Estado não tem capacidade para
proteger todos os cidadão a todo momento. Meio de solução de conflito de interesse
no qual o próprio interessado tutela um bem jurídico. Os interessados, através da força
física resolvem seus conflitos. Mais fortes saem na frente. Forma bastante primitiva. É,
em regra, vedado no ordenamento jurídico (artigo 345, CP - exercício arbitrário das
próprias razões), com duas exceções:

- Legítima Defesa (Direito Público) – Os próprios interessados tutelam seu interesse,


sendo o bem jurídico a vida.

- Desforço imediato (Direito Privado) – Legítima defesa da propriedade. Bem jurídico =


propriedade.

b) AUTOCOMPOSIÇÃO (Renúncia, Submissão e Transação) – O conflito também é


resolvido pessoalmente pelos interessados, porém o critério para resolvê-lo não é a
força física. Isso é feito por meio de três possibilidades:

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 Renúncia – Quando um dos interessados desiste da pretensão que ele tinha.


Ex: ação de divórcio – mulher desiste da ação de alimentos de R$2000.
 Submissão – Ocorre quando o interessado desiste de resistir à pretensão do
outro interessado (submete-se à vontade da outra parte). Ex: (mesmo caso do
anterior) o homem desiste de resistir à ação de alimentos que a mulher está pedindo,
e paga os R$2000.
 Transação – Renúncia e submissão parciais – continuando os exemplos do caso
anterior, o homem diz que não paga os R$2000, mas paga R$1500 – a mulher aceita
(renúncia parcial, pois não desiste da pretensão, mas aceita negociar o valor) e ele
paga – deixa de resistir, mas negocia outro valor (não se submeteu integralmente, e
sim parcialmente) – autor renuncia parcialmente e réu se submete parcialmente.

2. Imparciais – Muitas vezes, sem a intervenção de terceiros os interessados não


conseguem resolver o seu conflito de interesses (o réu não se submete e o autor não
renuncia, nem parcialmente). Aí surgem os meios extrajudiciais imparciais.

a) ARBITRAGEM (Lei 9307/96) – meio de resolução de conflitos em que os


interessados escolhem em comum acordo um terceiro, atribuindo-lhe um poder de
fato e de direito para que o árbitro decida e resolva o conflito de interesses – pela
vontade do próprio árbitro (como se fosse realmente um juiz, imparcial (sem relação
com as partes)). Pode ser utilizada para qualquer tipo de conflito - fora os que
envolvem direitos indisponíveis (art 1° da lei de arbitragem) – ex: interesse de menores
de idade:

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir


litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Pode ser instituída por um contrato de arbitragem (onde o próprio objeto do


contrato é a arbitragem, e não apenas uma cláusula) ou pode ser configurada por meio
de cláusula em um contrato qualquer celebrado entre as partes (cláusula arbitral).

Juiz de fato e de direito (art 18, LA) e sentença é titulo executivo (art 31, LA; 515, I
e VII, NCPC): A arbitragem é disciplinada por lei específica (9307/96). Essa lei confere
ao árbitro poder de juiz (poderes de fato e de direito), assim o árbitro tem liberdade
para aplicar o direito e resolver o conflito segundo suas próprias convicções. A decisão
do árbitro não precisa de homologação, e não pode ser alterada – nem pelo árbitro e
nem pelo judiciário.

O único poder que o juiz possui e o árbitro não é o poder de usar medidas coercitivas
para constranger o réu a cumprir uma decisão – medidas que ele julgue suficiente para

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o cumprimento da ação (multa, busca e apreensão, prisão, apreensão de passaporte


etc). Assim, o cumprimento da ação deve ocorrer de maneira espontânea, pois o
árbitro não possui meios de impor esse cumprimento. Caso não seja feito de modo
voluntário, é possível entrar como uma ação de execução no judiciário – aqui não vai
ser discutida a decisão do árbitro, e sim executada – o juiz só manda cumprir
(simplesmente porque o árbitro não tem esse poder e o juiz sim). Se fosse possível
discutir a decisão do árbitro no judiciário, esse meio não teria utilidade nenhuma como
meio alternativo para não chegar ao judiciário (pois todo mundo acabaria levando a
decisão ao judiciário, se não concordasse).

Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a
recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.

Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos
efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória,
constitui título executivo.

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os
artigos previstos neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de
obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
VII - a sentença arbitral.

Ação rescisória (artigo 32): Pode haver ação de rescisão do laudo/sentença arbitral,
em caso de corrupção/fraude do árbitro – mas mesmo nesse caso, será rescindida a
decisão e outro árbitro será escolhido – o poder judiciário não decide e da uma nova
decisão, o caso continuará sendo resolvido por meio de arbitragem (não passa para o
judiciário, permanece na arbitragem). É possível pedir nulidade de algumas cláusulas
também.

Art. 32. É nula a sentença arbitral se:


I - for nula a convenção de arbitragem
II – emanou de quem não podia ser árbitro;
III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem;
V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem
VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção passiva;
VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, desta Lei; e
VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta Lei.

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Quanto ao árbitro: Árbitro é alguém escolhido pelas partes. Não precisa nem ser
desconhecido pelas partes (não precisa ser totalmente imparcial). Não precisa ser
alguém com conhecimento jurídico. Normalmente a arbitragem é utilizada em casos
onde a situação é mais técnica, onde o juiz não saberia tão especificamente (ex: casos
que envolvam engenharia – ex: acidente aéreo onde é preciso saber se uma peça foi a
responsável, usina hidrelétrica onde é preciso saber se uma perícia foi a responsável
etc) e também em casos onde a decisão precisa ser tomada com maior celeridade e
rapidez (pois para transitar em julgado no STJ demora pelo menos 10 anos).

Caso não haja acordo quanto ao árbitro, essa cláusula poderá ser decida pelo judiciário
(que escolherá um árbitro) ou ser resolvida pelo poder judiciário, e não por arbitragem
(pois as partes devem estar em comum acordo quanto ao árbitro).

Renúncia à jurisdição – Ao optar pela arbitragem, renuncia-se o acesso ao judiciário


como meio de resolução de seu conflito (escolheu arbitragem não tem mais como
mudar o meio – mesmo que seja rescindida a decisão do árbitro, outro árbitro será
escolhido, não altera para o judiciário). Renuncia-se ao artigo 5°, XXXV, pois o acesso
à justiça se dará através da arbitragem, e não do judiciário.

art 5° XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito.

b) MEDIAÇÃO/ CONCILIAÇÃO (165/175, NCPC; art 3°, parágrafo 3°, NCPC) – Também
há um terceiro que atua para a resolução do conflito, contudo, ao contrário do árbitro,
tanto mediador quanto conciliador não decidem/resolvem o conflito (não da uma
decisão). A contribuição desse terceiro consiste em um estímulo às partes para que
elas resolvam o conflito da maneira que entenderem mais conveniente. As próprias
partes devem tomar a decisão. A terceira pessoa deve informar às partes as
dificuldades que ocorrerão caso não decidam extrajudicialmente. O NCPC estimula
bastante esses meios alternativos, para desatolar o judiciário. Inclusive há um
capítulo inteiro para esses meios de mediação/conciliação (165 até 175).

Art. 3º, §3º, NCPC - § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução


consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

-Distinção (art 165, parágrafos 2° e 3 °) – o conciliador não precisa ser imparcial (pode
conhecer as partes) e pode sugerir propostas e aconselhar. O mediador atua em
situações onde havia um vínculo anterior entre partes, e deve ser imparcial e
equidistantes das partes – não pode nem aconselhar a decisão, possuindo o objetivo
de restabelecer a comunicação entre as partes. A mediação é utilizada quando havia

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um vínculo anterior pelas partes – ex: relação de emprego, casos em que existem
sentimentos de mágoa, brigas, ressentimento – assim o mediador tenta suprimir essas
barreiras que impedem o diálogo entre as partes, pois muitas vezes a disputa continua
por ressentimento e não pelos motivos reais.
§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a
utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes
conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo
anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os
interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios
mútuos.

-Princípios (art 166, caput):

Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da


independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da
oralidade, da informalidade e da decisão informada.

-Pagamento (art 169):

Art. 169. Ressalvada a hipótese do art. 167, § 6o, o conciliador e o mediador receberão
pelo seu trabalho remuneração prevista em tabela fixada pelo tribunal, conforme
parâmetros estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça.

-Audiência de conciliação obrigatória (art 334) – A realização de uma audiência de


conciliação é obrigatória: ao receber uma ação, o juiz obrigatoriamente estabelece que
seja realizada uma audiência de conciliação – e a parte que não for é multada em até
2% do valor da causa (o não comparecimento é tido como ofensa ao poder judiciário).
Só não é realizado se forem direitos indisponíveis (não admitem autocomposição) ou
se ambas as partes peticionarem que não querem a audiência de conciliação – mesmo
que uma queira e a outra não, vai acontecer (só não acontece se ambas não
quiserem). Caso não seja tomada uma decisão entre as partes, aí o caso passa ao
judiciário.  Na prática isso tem ocorrido de maneira diferente: pelo atolamento em
que se encontra o judiciário, audiências tem demorado muito para serem marcadas.
Ao invés de designar a audiência e depois correr o prazo, os juízes têm citado o réu
antes, para responder de 15/15 dias (porque não é justo o autor sofrer com a demora
no agendamento da audiência e o réu ser beneficiado). De maneira mais formal: Não é
equitativo que o autor espere sozinho o ônus de demora do processo. Então, ao invés
de fazer a audiência, os juízes estão fazendo o controle de constitucionalidade difuso,

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cita o réu para contestar em 15 dias, sem prejuízo de que seja designada audiência de
conciliação se o réu pedir.

OBS: não é porque são meios extra-judiciais que não podem ser utilizados em
processos judiciais. Dizer que é extra-judicial é dizer que não precisa da presença do
juiz. Tanto que é obrigatório, por força do artigo 334 CPC, designar audiências de
conciliação e mediação, e caso não de certo, inicia-se o processo.

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com
pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§1º O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de
conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as
disposições da lei de organização judiciária.
§2º Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não
podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que
necessárias à composição das partes.
§3º A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.
§4º A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição
consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.
§5º O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o
réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência,
contados da data da audiência.
§6º Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser
manifestado por todos os litisconsortes.
§7º A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico,
nos termos da lei.
§8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação
é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de
até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida
em favor da União ou do Estado.
§9º As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos.
§10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica, com
poderes para negociar e transigir.
§11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.
§12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de modo a
respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o início da
seguinte.

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INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO

1. Processo Necessário (ou controle jurisdicional obrigatório) – Existem determinados


casos que não podem ser resolvidos fora do processo judiciário – há interesses
públicos que transcendem os interesses dos indivíduos.O Estado tem interesse em
controlar e identificar certas situações. Hipóteses em que determinada pretensão ou
interesse que só poderão ser satisfeitos no poder judiciário, mesmo que não exista
entre os interessados qualquer conflito. Exemplo 1: ver uma criança pedinte no
sinaleiro e levá-la embora: mesmo que um queira adotar e o outro queira ser adotado,
essa relação só se estabelecerá por meio da coação do poder judiciário (não há
usocapião de criança) – mesmo não havendo conflito de interesse (ambos querem).
Exemplo 2: Caso haja crianças menores no casamento, a dissolução deste só será feita
no poder judiciário, para proteção da criança. Exemplo 3: mudança de nome deve ser
feito no judiciário também, pois é necessário investigar os fins que essa mudança visa
(pode ser com fim criminal etc).

2. Estado-juiz: Monopólio da força física - O Estado-juiz assume a resolução de


conflitos quando os meios extra-judiciais não resolvem. As questões são levadas ao
poder judiciário porque, em regra, aquele conflito só será resolvido por meio da
coercitividade. Então, a partir do momento em que o Estado assume o monopólio da
força física e impede que os interessados usem dela, ele assume a responsabilidade de
resolver os conflitos que venham surgir (já que só ele tem esse poder, assume para si a
responsabilidade de resolver o conflito).

3. Relações jurídicas: Os conflitos conduzidos ao poder judiciário são aqueles que


surgem de uma relação jurídica - vínculo. Em razão do vínculo surgem direitos, deveres
e ônus (faz se quiser, mas se não fizer terá que lidar com consequências desfavoráveis
– se a parte que tem o ônus da prova não conseguir prová-la, terá que suportar
consequências desfavoráveis) – disciplinados em lei (por isso uma relação jurídica).
Vínculo entre dois ou mais sujeitos, apresenta determinados pressupostos e tem
determinados objetos.

-Sujeito – dois ou mais sujeitos


-Pressuposto – determinados pressupostos
-Objeto – determinado objeto.

4. Jurisdição: Essa expressão, vinda do latim iuris diccio͟, significa dizer/aplicar o


direito a situações concretas e de conflitos de interesses ((a) lide ou (o) litígio). O Poder
Judiciário tem a responsabilidade por dizer como o direito se aplica naquela relação
jurídica conflitante, uma vez que ele possui o monopólio da força. Lide = conflito de

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interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita – conceito por


Francesco Carnelutti. Uma das características da jurisdição é a sua atuação apenas
mediante provocação dos interessados – isso ocorre por meio do direito de ação (é por
meio dele que a lide é transportada ao judiciário). Porém, esse direito de ação é de
origem bilateral (ou dúplice) – ação e defesa. Assim, não existe direito de ação sem
direito de defesa (ou exceção) – é obrigatória a oportunidade de defesa, e também
não tem como se defender se não houver ação.

5. Ação: A jurisdição é inerte, ou seja, ela depende de provocação dos interessados


para que possa atuar. A lide é conduzida ao poder judiciário, por meio do exercício do
direito de ação, através deste é que se pede ao Judiciário a aplicação do direito àquela
situação jurídica para a solução da lide.

6. Exceção (Defesas): O direito de ação é um direito de natureza dúplice ou bilateral,


porque não é possível que se confira a uma pessoa a possibilidade de entrar com uma
ação contra outra, e esta não se opor (resistir) a pretensão formulada pela primeira.
Ou seja, não existe direito de ação sem direito de defesa (direito de exceção).
Obs: Direito de ação e de defesa têm a mesma dimensão. Não há direito de ação sem
defesa, ou sem oportunidade de defesa. Não tem, também, defesa sem ação.

7. Processo: Há uma sucessão de atos, disciplinados pelo processo, para que haja a
resolução do litígio. É o meio em que se formaliza a ação e são decididos os meios de
ação, defesa e se regula a prestação da jurisdição. É o ambiente em que se reúnem
conceitos e regras para resoluções de conflitos. Meio em que se desenvolve a
prestação da jurisdição, e ele que resolve como se desenvolve o direito de ação e
exceção, para que o judiciário possa aplicar o melhor direito no caso. Sistema de
trabalho que regulamenta o exercício do direito do de ação, de defesa. Estabelece as
regras que indicam como se desenvolvera este método de trabalho para o juiz poder
solucionar o conflito.

Em resumo: O Direito de Ação provoca a jurisdição, possibilitando o direito de defesa e


isso tudo se desenvolve dentro do processo (conjunto de regras, princípios, direitos).

 O juiz, para resolver a LIDE, precisa analisar tanto as normas de direito civil, quanto
as normas de direito processual. Cada uma dessas normas regulamenta coisas
diferentes, ou seja, o objeto das normas de direito civil é completamente diferente das
normas do direito processual civil.
Por que o juiz observa ambas as normas? Ex. A e B celebraram contrato de compra
e venda de automóvel, comprador pagará 30 mil reais – na data do pagamento o
comprador diz o seguinte: eu não tenho condições de lhe pagar em dinheiro, somente

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em barras de ouro – e o devedor não quer. – vendedor entra com uma ação contra o
comprador - o juiz analisará o Código Civil e o Processual Civil, por quê? Porque uma
oferece ao juiz como se deve julgar, e a outra oferece o modo de se proceder.

1. Direito Material (normas civis)


As normas civis regulamentam os direitos, deveres e ônus das relações jurídicas civis
ou patrimoniais, de direito material. Conjunto de normas que disciplinam os bens da
vida, não diz nada sobre o processo.
O código civil diz como que o juiz irá julgar. Ele oferece um critério de julgamento,
estabelecendo quais são os direitos de cada uma das partes.
Normas de Direito Civil oferecem ao juiz um critério de julgamento, porque como elas
disciplinam os direitos e deveres da relação jurídica, sempre que tiver um conflito em
relação a ela, o órgão jurisdicional irá analisar a norma e aplicá-la.

2. Direito Processual
O juiz analisa as normas de direito processual civil, porque elas disciplinam um método
de percurso que deve ser utilizado pelos sujeitos do processo para resolução do
conflito. Ou seja, elas disciplinam o modo como se desenvolve o processo (o modo
como o réu se defende, como o juiz irá julgar). Em outras palavras, as normas
processuais oferecem ao juiz e as partes o modo de proceder.
O Direito Processual não diz como se resolve conflito, ele diz o caminho para resolvê-
lo. Qual direito deverá ser tutelado é o Direito Civil que tem que dizer.

2.1. Direito público ou privado


O processo civil é um ramo do direito público, que disciplina os institutos
fundamentais do processo (direito de ação, de defesa, função jurisdicional e o
processo – o caminho como se desenvolve o direito de ação e defesa, bem como, o
caminho para o juiz aplicar a norma ao conflito).
Nas relações regulamentadas pelo Direito Civil, em regra, dispõe-se sobre direitos
patrimoniais, direitos disponíveis. Em razão disso, como o Estado não participa, há
uma grande autonomia das partes, uma grande autonomia de vontade. Então o direito
material civil é um direito caracterizado pala grande autonomia de vontade entre os
particulares. Então, ele é conceituado como ramo do direito privado.
Já o Direito Processual Civil é um ramo do Direito público, uma vez que as partes
resolverão o conflito frente ao estado-juiz. E se ele está presente, é de ramo público.
Outro fator é que, as partes não dispõem das normas de direito processual.
Entretanto, o NCPC refletiu sobre essa situação e trouxe um instituto novo: O Negócio
Jurídico Processual. Este é uma possibilidade, autorização do Código, para que as
partes negociem ou transijam sobre os seus direitos e ônus processuais. Ou seja, o
NCPC autoriza que as partes tenham disponibilidade sobre as suas prerrogativas

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processuais. Ex. Partes decidem que não querem recorrer (direito); que o prazo para
manifestação é de 5 dias, não de 15 (ônus);
Isso não ocorria no Código Processual antigo, existiam autorizações pontuais, como
escolher o foro, a comarca. Mas não existia um preceito genérico como tem no novo
código.
As partes podem negociar que não podem pagar custas processuais? Não, elas
somente podem negociar suas prerrogativas. Os deveres elas não podem negociar.
O juiz tem uma faculdade de exigir provas, mas as partes podem limitar os meios de
prova, negociando que somente as provas só podem ser obtidas documentalmente (é
um ônus das partes provarem). Ainda que o juiz tenha dúvida, não pode determinar
meios complementares, porque as partes convencionaram daquela forma.
A doutrina e jurisprudência terão que se ajustar e medir os limites e disposição das
partes, mas a princípio e de maneira geral, podemos dizer que as partes negociam
direitos e ônus. Em regra, elas não podem negociar sobre prerrogativas do Juiz.

Como essa alteração se reflete na natureza do Direito Processual Civil?


Se existisse uma terceira categoria, o D. Processual Civil seria de natureza mista
(apresenta forte característica do direito público e uma forte do direito privado).
Porém, somente analisa-se a ciência do direito sobre duas categorias.

2.2. Autonomia
Quando o comprador e vendedor celebraram contrato de compra e venda, surgiu
entre ambos uma relação jurídica, vínculo que estabelece direitos, deveres e ônus
estabelecidos no Código Civil. O objeto é o carro, os pressupostos de existência e
validade previstos na lei civil e, sujeitos: comprador e vendedor  aqui se tem uma
relação jurídica de Direito Civil.

Caso surja um conflito nessa relação (exemplo acima), e este for transportado ao
Poder Judiciário, ou seja, quando os direitos e deveres dessa relação forem discutidos
no Poder Judiciário, a relação será transportada para dentro do processo. Mas, neste
se tem autor e réu, e não comprador e vendedor. Mas, esse processo se desenvolve
entre três sujeitos: autor, réu e juiz. Logo, os sujeitos dessa relação são: autor, réu e
juiz. O objeto é uma tutela, uma proteção judicial ao seu interesse. Os pressupostos
processuais de existência da relação jurídica processual são:

1. Petição inicial - através dessa é que o autor provoca o poder judiciário


(Direito de Ação);
2. Jurisdição – tem que existir essa, alguém tem que ter o poder de dizer o
Direito. Se não tem juiz, não tem processo;

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3. Citação do réu – esta que trás o réu para relação jurídica processual.
Enquanto ele não é cientificado de que alguém acionou o Poder
Judiciário contra ele, ele não entra na relação jurídica para se defender;
4. Capacidade postulatória – indivíduo que tem a capacidade técnica para
dialogar com o juiz. O advogado que a tem.

Aqui há uma nova relação jurídica, que não se confunde com a de cima. Surgem
novos direitos, deveres e ônus, de cada um dos sujeitos – autor, réu e juiz. A relação
jurídica é de Direito Processual. Então é o CPC que trás os direitos deveres e ônus para
relação.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

1. Existência - Pressupostos do qual depende a própria existência da relação jurídica


processual. São eles:

a) Petição inicial – ato processual por meio do qual o autor, exercendo seu direito
constitucional de ação, provoca o estado-juiz (a jurisdição) para a análise de sua
pretensão/tutela de seu interesse. Sem a petição inicial, o estado-juiz não é
provocado, assim não se estabelece o vínculo jurídico entre as partes etc. Cabe
lembrar que excepcionalmente o estado-juiz pode agir de ofício, como nos casos
envolvendo herança vacante.

b) Jurisdição – é necessária a existência de um órgão revestido de poder jurisdicional,


pois esse será o responsável por solucionar o conflito e aplicar o Direito. É o poder
estatal de dizer o direito abstrato às situações concretas de conflito de interesses. A
aquisição (a investidura) do poder jurisdicional ocorre por meio de concurso de provas
e títulos, nomeação do presidente da república (1/5 do poder é assim).

c) Citação – é um ato processual por meio do qual o réu é cientificado da existência de


um processo em face dele, da formulação de uma pretensão contra ele. Obs: a citação
aperfeiçoa a relação jurídica processual, mas já existia antes da citação do réu, pois já
existiam uma série de obrigações e direitos processuais autor/estado-juiz.
Indeferimento preliminar – o juiz julga improcedente uma sentença sem citar o réu.
Assim, embora a citação seja considerada um pressuposto processual de existência,
antes de sua ocorrência já existem várias obrigações/ direitos entre autor e o estado-
juiz.

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d) Capacidade postulatória – habilitação técnica-processual para atuar no processo.


Possuem essa capacidade: pessoas com formação jurídica, aprovados na OAB e em
provas de títulos de advocacia (por exemplo, advogado geral da união, procuradores,
defensoria pública) e o ministério público. Há exceção: juizados especiais (lei 9099/95
– quando o conflito não envolve mais de 20 salários mínimos, não há a necessidade de
alguém capacitado para resolver a situação (não há a necessidade de ser assistido por
um advogado) e os de menores causas.

2. Validade – Para que o processo possa avançar de maneira válida, não basta sua
existência, é necessária também a sua validade. Ex: em uma ação coloca-se os réus
como João e outros – quem será citado? Não há validade em citar outros (quem seria
citado nesse caso? Quem são outros). Outros exemplos: ação inicial sem valor da
causa, sem órgão jurisdicional etc.

a)Petição inicial: Deve ser apta (artigo 319 NCPC) - Requisitos mínimos: órgão
jurisdicional a quem é endereçado, valor da causa, provas que pretende produzir, se
há interesse da audiência de conciliação. Caso falte algum requisito a ação não será
ajuizada.

b) Jurisdição:
-impedimento/suspeição em caso de parcialidade: juiz deve ser imparcial (a não ser
por algumas hipóteses) – o próprio juiz deve alegar sua parcialidade da situação, e caso
não alegue isso cabe à outra parte (quem julga isso é o tribunal a qual o juiz está
vinculado). Suspeição: quando há uma suspeita sobre a imparcialidade do juiz, que
será analisada em cada parte. Caso um juiz impedido profira uma decisão, ainda que
ela transite em julgado é passível de rescisão (por meio de uma ação chamada ação
rescisória).
-Inexistência de incompetência absoluta: Há uma distribuição do poder jurisdicional,
sendo assim cada órgão jurisdicional recebe uma determinada competência (uma
parcela desse poder jurisdicional). Quando o juiz recebe uma ação para o qual é
absolutamente incompetente, encaminha para o órgão competente.

c) Citação: A citação deve ser realizada de maneira válida (não é de qualquer forma
que o réu pode ser avisado). Há três formas: pessoal (quando pessoalmente o oficial
de justiça avisa o réu, hora certa (quando o oficial de justiça tem razões para achar que
o réu está se esquivando de receber a citação (por três vezes) – ele avisará alguém
(vizinho, etc) que em tal dia e tal hora irá lá novamente, se o réu não estiver será
considerado citado mesmo assim e citação edital – quando foram esgotas as tentativas
de localização do réu, o juiz publica em um edital.

d) Capacidade Postulatória:

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-Capacidade de ser parte (autor-réu (o juiz não é parte)): qualquer ente que possuem
aptidão para serem titulares de direitos – mesmo que não possua personalidade
jurídica - ex: até um nascituro pode, pois é titular de direitos; massa falida, sociedade
de fato. Obs: animal é objeto de direitos, e não sujeito de direitos; espólio também
não possui personalidade jurídica.
-Capacidade de estar em juízo (capacidade processual): Aptidão para pessoalmente,
sem estar assistido/representado, praticar atos processuais – são aptos os maiores e
capazes.
Resumindo: Capacidade postulatória: habilitação técnico-processual; capacidade de
ser parte: ser titular de direitos e deveres; capacidade processual: aptidão para
pessoalmente praticar atos processuais sem assistência.

PRESSUSTOS PROCESSUAIS NEGATIVOS (artigo 337, V, VI e VII)

Tais pressupostos referem-se à situações que não podem ocorrer no processo.


Qualquer uma deles, se verificada, conduz à extinção do processo sem julgamento da
lide.

1. Litispendência (337, parágrafo 3º, 485, III)


É uma lide pendente. Ocorre quando se repete em juízo uma ação idêntica à outra
ainda em curso. Uma delas deverá ser extinta. Isso ocorre em razão de promover
economia processual, pois essa situação teria gastos desnecessários, além de evitar
que saiam decisões exorbitantes, por meio de dois juízes decidindo a mesma ação (e
provavelmente de formas diferentes).

2. Coisa julgada – Repetição em juízo de uma ação idêntica à outra anteriormente


proposta e definitivamente julgada – essa é a diferença para a litispendência, aqui a
ação já foi julgada, na anterior ainda está em curso. Essa proibição ocorre pois se fosse
permitido, o conflito entre as partes nunca se resolveria, pois sempre seria renovado
por meio de ações idênticas. Exemplo de ações idênticas: mesma causa de pedir
(razão), mesmo pedido, mesmas partes (mesma parte não significa mesmas pessoas
(réu/autor que não podem ser os mesmos nas ações, mas podem se inverter e assim
as ações serão válidas) – esses três são chamados de elementos da ação. Exemplo de
ações não idênticas: 1º momento – AB (10 mil reais por danos materiais); 2 º
momento – A  B (10 mil reais por danos morais). São diferentes pois as causas de
pedir diferem entre si.

3. Perempção (486, parágrafo 3º) – Consiste na perda do direito de ação, pelo autor
por três vezes ajuizar a mesma ação e dar causa à extinção do processo por

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negligência, por não ter praticado um ato que deveria ter praticado (isso por três
vezes, aí será punido, não podendo ajuizar uma quarta vez). Porém, a perempção não
acarreta a perda do direito material (isso é prescrição), apenas da ação.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação
anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de
pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada
em julgado.
§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz
conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo.
§ 6o A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma
prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo
arbitral.

Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte
proponha de novo a ação.
§ 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e
VII do art. 485, a propositura da nova ação depende da correção do vício que levou à
sentença sem resolução do mérito.
§ 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do
depósito das custas e dos honorários de advogado.
§ 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da
causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe
ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.

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MATÉRIAS DE ORDEM PÚBLICA: São aquelas em que há o interesse público.


Independentemente de provocação das partes, o juiz, percebendo algum vício nos
pressupostos processuais ou algo assim, pode reconhecer de ofício (sem ser provocado
pelas partes). Além disso, a matéria de ordem pública não se sujeita à preclusão,
podendo ser alegada pelas partes ou ser reconhecida pelo juiz a qualquer tempo e
grau de jurisdição – e assim ser reconhecido algum vício que exista no processo.

PRECLUSÃO: TEMPORAL, CONSUMATIVA, LÓGICA, PRÓ-JUDICATO

É a perda da faculdade de praticar um ato processual por alguma razão. Pode ocorrer
por vários motivos:

a)Preclusão temporal – é aquela em que a perda da faculdade de praticar o ato ocorre


pois seu titular deixou de observar o prazo devido ou exerceu essa faculdade fora do
prazo (prazo = intervalo de tempo entre o termo inicial e o termo final, contado
apenas em dias úteis).

b)Preclusão consumativa – É a perda da faculdade de praticar o ato pois está já foi


exercida/consumada, de modo que, ainda, dentro do prazo assinalado não pode
alterar e nem repetir o ato.

c)Preclusão lógica – A perda da faculdade de praticar o ato ocorre porque houve antes
a prática de um ato incompatível com o exercício dessa faculdade processual.
Exemplo: B ser condenado a pagar 10 mil reais para A, pagou e depois recorreu – isso
não é válido, pois o recurso presume que o réu não concorda com a ação e se ele
pagou, mesmo que esteja no período para recorrer, isso é incompatível com o
exercício dessa faculdade processual – recurso (que seria a não concordância,
inconformidade).

d)Preclusão pró-judicato – Destinada ao juiz, ao seu exercício do dever de dar


sentença. Assim, mesmo que passe o prazo para o juiz fixar a sentença, o mesmo
continua tendo esse dever (não é uma faculdade, é uma obrigação). Caso o juiz não dê
sua decisão dentro do prazo, cabe reclamação ou correição parcial (um corregedor
supervisiona e pressiona o juiz para que tome sua decisão (sob pena de afastamento –
que na verdade acaba sendo um prêmio , pois o juiz fica afastado mas mantém seu
salário, mesmo sem trabalhar e estando cumprindo punição)). Porém, o juiz não pode
alterar um ato que ele praticou, por iniciativa própria. As partes devem apresentar
embargos de declaração, para assim tentar corrigir alguma decisão judicial.

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PROVA DE 7 PONTOS

NORMA PROCESSUAL CIVIL (CLASSIFICAÇÃO)

1. Material x Processual

Uma norma de direito material (normas civis), se ocupam da tutela dos bens da vida
ou do interesse, disciplinam os direitos e deveres das relações jurídicas que tem por
objeto os bens da vida ou os interesses materiais. Essas normas são observadas por
oferecerem ao órgão jurisdicional o critério de julgamento, ou seja, é o direito
material que diz ao juiz como ele deve resolver o conflito de interesses. É essa norma
que diz ao juiz se ele deve tutelar o interesse do autor ou o do réu. Quando o juiz não
observa o critério dado pelo direito material, comete um erro de julgamento (error in
judicando), e consequentemente sua decisão será injusta, por não tutelar o interesse
que deveria ter tutelado. Nesses casos, cabe o recurso – que busca a reforma da
decisão, pois não foi aplicado corretamente o critério de julgamento, ou aplicou o
critério errado.

Por outro lado, as normas de direito processual (normas processuais) não possuem
como objeto o direito material disputado no processo. Elas têm por objeto os
institutos fundamentais do processo (direito de ação, direito de defesa, prestação da
jurisdição). Elas não oferecem um critério de julgamento, não dizem como o juiz deve
julgar – e sim os passos que devem ser seguidos, os atos que devem ser praticados
para assim saber como proceder para que o conflito possa ser resolvido no Poder
Judiciário – critério de proceder. Quando esse critério não é observado, o juiz comete
um erro de procedimento (error in procedendo), ou seja, não observou algum
passo/ato para que aquele conflito pudesse ser resolvido. O critério de julgamento
pode até ser aplicado corretamente, porém, se o critério de proceder não for correto,
ocorrerá a anulação do ato processual que foi praticado em desacordo com o que
determinava o código de processo, além da repetição do mesmo e dos posteriores (ex:
caso o réu não seja citado no início da ação – além de anular esse ato é preciso refazer
todo o restante, caso contrário ele não participará de nada no processo).

Quando for erro de julgamento, o próprio tribunal mudará a decisão, reformulando a


decisão do juiz (reforma). Quando for erro de procedimento, o processo será
redirecionado ao juiz, para que o mesmo refaça o procedimento (anulação do ato) – o
processo volta para o tribunal inicial e o ato é repetido. Os atos processuais são
independentes uns dos outros, assim (em regra geral) a anulação de um ato não anula
todo o processo. Caso haja dependência dos demais atos em relação ao ato viciado,
estes também serão anulados e refeitos.

2. Cogente x Dispositiva

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Norma processual cogente é aquela fixada em atenção ao interesse público. Essa


norma se impõe às partes e não admite modificação por vontade das partes, ou seja, é
indisponível – ex: artigo 62, CPC. Há a primazia do interesse público (sobre os
particulares), por isso não é passível de modificação.

Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é


inderrogável por convenção das partes.

Já as normas processuais dispositivas, admitem negociação/disposição dos


particulares/das partes (modificação da previsão legal), pois são estabelecidas para
melhor atender ao interesse particular/privado – ex: artigo 63, CPC. O legislador
presumiu o que seria melhor, mas pode ser que não seja o melhor – por isso cabe
deliberação às partes.

Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território,


elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações.

Em resumo: as normas cogentes não podem ser objeto de negociação processual (pois
são de interesse público) – apenas pode haver negociação sobre norma processual
dispositiva.

3. Natureza Jurídica

Costumava-se dizer que o Direito Processual Civil era apenas direito público, pois o
Estado sempre participava, por haver supremacia do Estado em relação às outras
partes, pela vinculação das decisões às outras partes (nem que por meio da força
estatal), por não haver deliberação, entre outras.

Porém, o NCPC alterou esse paradigma. O legislador procurou fixar maior relevância
aos interesses dos particulares, instituindo como regra o negócio jurídico processual,
conferindo às partes uma ampla liberdade de negociação sobre as normas processuais
– prestigiando sua autonomia de vontade. De maneira geral, o cenário se altera, pois
aos instituir os negócios jurídicos processuais, o legislador aproxima a disciplina de
direito processual civil ao direito privado. Obs: o novo CPC apresenta menos normas
cogentes do que o antigo (e consequentemente mais normas dispositivas).

*Objetivamente, a disciplina de Processo Civil admite posicionamento ideológico


diverso, dependendo de boa fundamentação para a defesa de seu ponto de vista.

4. Normas de organização judiciária (96, II, d , CF)

As normas de organização judiciária são normas de competência dos estados, e são


normas por meio das quais os estados organizam a justiça estadual. Essas normas não
são normas processuais, porque não disciplinam direitos e deveres processuais. Ex:
quais/quantas serão as comarcas, os concursos, os servidores, as vagas, etc. Essas

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normas nunca possuem como objeto uma prerrogativa processual, nem discutem
sobre os institutos fundamentais do processo. Obs: as normas processuais apenas são
de competência da União – os estados só podem se organizar internamente.

5. Normas regimentais

Normas regimentais são os regimentos internos dos tribunais. De maneira geral, esse
regimento apenas organiza internamente a atividade dos tribunais e divide as
competências, exclusivamente daquele tribunal – voltada principalmente às
pessoas/aos membros daquele tribunal. Há uma divergência quanto à existência de
recurso nos tribunais (ex: agravo interno – agravinho (hoje é previsto no código, mas
antes era só nos tribunais)), pois não há previsão no código e há nos tribunais – o que
seria matéria do processo civil, dos pressupostos fundamentais – e não pra um
regimento interno fixar – assim, fica claro que regimentos internos excepcionalmente
podem dispor prerrogativas processuais (porém nunca de normas processuais).

6. Codificadas x Extravagantes

Normas codificadas são aquelas inseridas no código de processo civil. Normas


extravagantes são as normas processuais presentes em outras legislações – há normas
processuais no CDC, no estatuto da criança etc.

FONTES DAS NORMAS PROCESSUAIS

Quando uma norma traz alguma prerrogativa processual é norma processual – não
importando o dispositivo em que se encontra.

a) Código de Processo Civil: O código processual é o dispositivo que condensa o maior


número de normas processuais – mas nem por isso é possível afirmar ser essa a fonte
mais importante.

b) Constituição: A Constituição é uma das fontes que apresenta várias normas


fundamentais processuais – ex: duração razoável do processo, devido processo legal,
publicidade das decisões. Fonte que condiciona todas as normas das outras fontes, em
virtude de sua posição hierarquicamente superior.

c) Tratados internacionais de direitos humanos: quase todos trazem garantias


processuais – especialmente os que tratam de assuntos civis. Ex: Pacto de San José da
Costa Rica – principalmente título 8º ( das garantias processuais ).

Algumas garantias não há previsão legal na constituição, como o duplo grau de


jurisdição, porém presume-se sua existência mediante outras normas que nela existem
– porém, este dispositivo citado está expressamente escrito no Pacto de San José.
Outra garantia que não possui previsão expressa na CF é a vedação à
autoincriminação, porém, também há essa previsão no Pacto de San José. Essa

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garantia prevê que o silêncio não pode ser interpretado em desfavor do indivíduo e
ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo (para não se autoincriminar).
Por exemplo, algumas pessoas defendem por meio do princípio da proporcionalidade
que se não fizer o teste do etilômetro o crime de dirigir embriagado pode ser
culminado à pessoa – porém, este princípio possui três sub-princípios, e um deles
defende que é preciso utilizar todos as outras formas antes de recorrer ao direito
penal – e no caso do bafômetro existem inúmeras outras formas de detectar a
embriaguez.

d) Jurisprudência: Súmulas vinculantes podem ser fontes de uma norma – embora não
se possa dizer que ela está criando uma nova norma, cria-se uma nova interpretação a
respeito de algum princípio, norma, prevê novas garantias etc. Assim, se as súmulas
vinculantes forem resultado de uma interpretação de normas e garantias processuais,
poderá vincular decisões e ser considerada fonte das normas processuais. Assim,
embora a jurisprudência não legisle, pode extrair e fixar normas e princípios que
passem a vincular decisões.

e) Negócios jurídicos processuais – é possível que as partes de um processo criem


normas processuais, que, diferentemente das leis processuais que possuem
generalidade e abstração, são válidas para aquele processo, podendo inclusive vincular
o juiz para aquela específica decisão.

 Observação: costumes não são uma fonte do Direito Processual.

EFICÁCIA DA NORMA PROCESSUAL

a) No espaço – No exercício de sua Soberania, o Estado cria normas, e em razão disso,


a eficácia das normas processuais estão limitadas ao local em que o Estado exerce sua
Soberania (que é vinculada ao território da nação). Assim as normas processuais civis
brasileiras estão limitadas ao território nacional (artigo 16 CPC).

Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território
nacional, conforme as disposições deste Código.

b) No tempo – Situações questionáveis:

1ª situação: Processos que foram concluídos até 17 de março de 2016 (vigência do


código anterior) – Sujeitam-se ao código anterior - Isso ocorre pois a Constituição e a
LINDB prevêem a irretroatividade das leis – a não ser que a nova lei seja mais benéfica.
Situações assim são chamadas de atos jurídicos perfeitos – situações praticadas de
acordo com a norma prevista – naquele momento (vedação geral à retroatividade das
leis).

2ª situação: Processos que se iniciaram a partir do dia 18 de março – Sujeitam-se ao


novo código vigente.

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3ª Situação: Processos que estavam em curso quando entrou em vigor o novo código –
Há divergência quanto ao modo de resolver essa situação, sendo as principais
propostas as seguintes:

Sistema da Unidade Processual – de acordo com esse sistema, embora o processo


seja composto por vários atos processuais (todo comportamento das partes é um ato)
esses atos estão vinculados uns aos outros com a finalidade única de resolver o
conflito – assim, por ser única a finalidade, deve ser considerada uma unidade entre os
atos – de modo que, se teve início na vigência do código antigo, deverá seguir até o fim
sob as leis desse código. O problema desse sistema é a durabilidade dos processos,
que é geralmente muito extensa. Assim, gera-se uma situação em que daqui a 20 anos
seria necessário estudar e aplicar ambos os códigos durante todo esse tempo (estudar
e saber leis que já foram revogadas), sendo inviável a adoção desse sistema.

Sistema das Fases Processuais – O processo é dividido em várias fases –


postulatória, saneadora, instrutória, decisória e de cumprimento de sentença. Essa
proposta defende que cada uma dessas fases será regida por uma norma processual –
até sua conclusão. Assim, ainda que durante alguma fase tenha surgido a nova lei, essa
só seria aplicada a partir da fase seguinte. Essa proposta já é mais viável que a da
unidade, mas ainda assim não resolve o problema – seria ainda necessário ao
operador do direito conhecer e saber aplicar as normas revogadas.

Sistema do Isolamento dos Atos Processuais (Tempus regit actum) – Cada ato
processual deve ser praticado de acordo com a norma vigente no momento de sua
aplicação, pouco importando a fase. Assim, qualquer ato praticado a partir do dia 18
seguirá o novo código – não importando que em outros atos tenha sido utilizada a lei
anterior. Aqui, para aplicação da norma processual pouco importa se a lei anterior é
mais benéfica. Este é o sistema adotado pelo CPC, nos artigos 1046 e 1221.

Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo
aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

Exceção: Direito processual adquirido (é uma brecha na lei) – Tanto doutrina quanto
jurisprudência admitem que existe um direito processual adquirido, que é o de
recorrer de acordo com a lei anterior, vigente no momento em que foi publicada a
decisão recorrenda (decisão da qual você recorre), se essa lei fosse mais benéfica (se
ela facilitava/ampliava o direito de recorrer). Isso ocorre pois ainda não foi feito o
recurso, e assim, se o código antigo facilitava o exercício do direito de recorrer, pode
ser utilizado (nesse caso específico). Obs: nesse caso, diz-se que código anterior teria
ultra-atividade, pois produziria efeito até depois da sua vigência. Exemplo:
sucumbência (o novo código prevê que caso seja requerido o recurso da decisão e
perca novamente, será aplicada sucumbência recursal, ou seja, aumenta ainda mais os
honorários para o advogado da outra parte (a parte que perdeu deve pagar honorários

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de sucumbência para o advogado da outra parte). O código anterior não previa a


sucumbência recursal – e assim, poderia ser requerido por ser mais benéfico ao
recurso – exemplo dessa exceção). Outro exemplo: fungibilidade entre recurso
especial e extraordinário.

CONDIÇÕES DA AÇÃO - para se ter o direito de ação é necessário que se preencham as


condições da ação.

Condição da ação é uma categoria criada com o propósito de identificar uma


determinada espécie de questão submetida à cognição judicial. Uma condição da ação
seria uma questão relacionada a um dos elementos da ação (partes, pedido e causa de
pedir), que estaria em uma zona intermediária entre as questões de mérito e as
questões de admissibilidade. As condições da ação não seriam questões de mérito
nem seriam propriamente questões de admissibilidade; seriam, simplesmente,
questões relacionadas à ação. O CPC-1973 consagrou essa categoria. Porém, recebia
inúmeras críticas, que obtiveram algum êxito e assim o atual CPC não mais menciona a
categoria condições da ação – apenas se determina que, reconhecida a ilegitimidade
ou a falta de interesse, o órgão jurisdicional deve proferir decisão de inadmissibilidade.
Há também outra alteração: não há mais menção à possibilidade jurídica do pedido
como hipótese que leva a uma decisão de inadmissibilidade do processo – essa passa a
ser examinada como hipótese de improcedência liminar do pedido, no respectivo
capítulo. A legitimidade e o interesse de agir passam a ser estudados como
pressupostos processuais (como requisito de admissibilidade do processo).

Generalidade

1. Matéria de ordem pública – Isso significa que o juiz pode conhecer de ofício e a
matéria não se sujeita à preclusão, ou seja, não há a perda da faculdade de alegá-la no
processo – assim, pode ser reconhecida a qualquer tempo ou grau de jurisdição
ordinária.
Na extraordinária, não pode ser reconhecida se não foi analisada pelo grau
jurisdicional inferior. Fazem parte da jurisdição extraordinária o STJ e o STF. Para que
haja uma análise em instância extraordinária, é necessário um pré-questionamento,
que consiste no fato de que a matéria objeto do recurso (especial ou extraordinário) já
deve ter sido analisada pelo órgão jurisdicional inferior (de onde saiu o recurso). Não
havendo essa análise prévia em instância inferior, não é possível a análise em instância
superior (pois essa apenas fará a revisão (do recurso, e só se entra com recurso de algo
que já foi analisado), e não é possível revisar algo que não foi visto ainda).
Assim, em resumo, a matéria pública pode ser reconhecida de ofício apenas na
jurisdição ordinária, na extraordinária não pois é preciso que tenha sido apreciada
anteriormente, não sendo possível conhecer de ofício algo que precisa ter sido visto
previamente (pois do contrário não estaria revisando e sim analisando) – isso pois
recurso é uma outra análise e não uma análise inicial.

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2. Reformatio in pejus permitida – A tradução literal é reforma para pior . Em


recurso exclusivo de uma das partes, o recorrente não pode ter sua situação piorada.
Isso se dá pois apenas uma das partes recorreu (se ambos recorrerem não há essa
proibição) e se está recorrendo significa que não concorda com o fixado e deseja
melhorar a sentença. Porém, essa proibição não se estende às matérias de ordem
pública – assim, há a possibilidade de no caso de faltar alguma condição da ação,
reformar para pior (pois na falta de uma das condições e o processo deve ser extinto, e
assim ninguém ganha nada (a parte que recorreu para melhorar a sentença acaba
saindo sem nem levar aquilo que havia sido decidido e ela não tinha concordado)).
Obs: esse vício não pode ser reconhecido no recurso extraordinário.

3. Forma de análise ao preenchimento – Existem duas teorias para isso:

a) Teoria da asserção – Afirma que o preenchimento das condições da ação é


analisado abstratamente com base no que consta da petição inicial e dos documentos
que a acompanharam, presumindo que aquilo que lá consta é verdadeiro. Caso isso
seja provado como falso depois da formação de provas é análise de mérito, não
levando à extinção do processo e sim à sua improcedência.

b) Teoria do exame em concreto – Defende que as condições da ação devem ser


analisadas concretamente, de modo que mesmo aquilo que fica provado depois da
produção de provas, se diz respeito à condição da ação, leva à extinção do processo
por carência da ação. Assim, as condições devem ser analisadas concretamente, não
devendo o juiz presumir nada.

Rol das condições da ação – Caso não estejam presentes, o processo será apreciado
sem julgamento de mérito, não sendo analisada a lide. Preenchidos os itens 2 e 3 há o
direito a um julgamento de mérito. Porém, caso seja algo vedado no ordenamento
jurídico, haverá o julgamento de mérito porém o juiz julgará improcedente (pois é
vedado) – essa é a diferença prática do item 1 não ser mais uma condição. Ex: ação de
rescisão de adoção – se preencher os itens 2 e 3 haverá o julgamento de mérito porém
a ação será improcedente por não ser possível rescindir a adoção.

1. Possibilidade jurídica do pedido: Essa condição era prevista no código anterior,


porém foi suprimida com o novo código (assim não é mais uma condição da ação). Era
prevista na teoria mista do Enrico Tullio Liebman (na Itália). A possibilidade jurídica se
dava pela permissão ou não no ordenamento jurídico. Porém, com a veloz evolução da
sociedade, ficava difícil para o ordenamento acompanhar e se modificar de acordo.
Assim, a possibilidade jurídica passou a existir quando o pedido não fosse
expressamente vedado, ou seja, não precisava ser expressamente permitido. Como

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exemplo, tem-se os processos envolvendo serviços sexuais (que não são


expressamente vedados, apenas são imorais). Já na teoria originária, o exemplo dado
por Liebman era o divórcio, pois antigamente não existia a possibilidade jurídica desse
processo - e assim, caso alguém entrasse com pedido de divórcio, esse deveria ser
extinto por falta de possibilidade jurídica (isso na Itália – porém no Brasil não foi muito
diferente, sendo permitido apenas em 1965). Porém, com a permissão do divórcio,
essa condição foi retirada – mas estava presente no código de 1973 pois esse se
baseou na teoria originária do Liebman, que possuía as três condições. Com o novo
código essa condição foi retirada, e por força do artigo 17 só existem as duas
condições tratadas a seguir. Observação: o artigo 17 não exaure as exigências formais
de postulação. É preciso que a parte preencha os demais requisitos processuais
subjetivos (capacidade processual e capacidade postulatória) e objetivos (intrínsecos e
extrínsecos negativos).

Art. 17- NCPC. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

2. Legitimidade para ação ( legitimatio da causam ) – É hipótese de requisito de


admissibilidade subjetivo relacionado às partes. Só há o direito de ação se ambas as
partes forem legítimas. Em sentido estrito, parte é toda pessoa que pede em face de
outra pessoa (que é a outra parte (réu)). Porém, embora qualquer pessoa possa ser
parte, mais do que isso, para haver o direito de ação, ambas as partes deverão ser
legítimas (não basta ser parte, deve ser legítima). Parte legítima, tanto no polo passivo
quanto no ativo, é aquela titular de direitos, deveres e ônus materiais que serão
disputados ou discutidos dentro do processo. O exposto acima é chamado de
legitimação ordinária – partes legítimas são as partes titulares do próprio direito
material discutido no processo. Excepcionalmente, é possível que alguém como parte
e em nome próprio (não é representando, e sim em nome próprio (representante é
em nome alheio)) dispute em juízo direito ou pretensão alheia – é a chamada
legitimação extraordinária (ou substituição processual). Ela só ocorre nas hipóteses
onde há previsão legal (nunca por convenção das partes). Exemplo: o Ministério
Público pode ajuizar ação de investigação de paternidade – teoricamente as partes
apenas poderiam ser o pai e o filho (legitimação ordinária), porém aqui há a
autorização legal para que o Ministério Público faça isso (legitimação extraordinária) –
cabe lembrar que o MP não está discutindo sobre um direito seu, da instituição, e sim
um direito alheio (ou pode ser também da coletividade – exemplo: ajuizar ações
coletivas do código de defesa do consumidor para defender direito material de todos
os consumidores). Outro exemplo é em um condomínio (por exemplo, entre A, B, C e
D) onde todos os proprietários/condôminos poderão ajuizar uma ação, pois o bem é
de todos – assim, se A ajuíza a ação, em relação à sua cota parte é legitimação
ordinária, em relação à cota parte dos outros a legitimação é extraordinária – porém A

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também é parte legítima (não por ser proprietário e sim por ter autorização para atuar
em nome dos outros condôminos).

3. Interesse processual – É requisito objetivo extrínseco positivo. Exige o


preenchimento de três requisitos:

a) Necessidade (interesse necessidade): Exige que o autor demonstre que a atuação


do Poder Judiciário é necessária ou é para ele indispensável para a resolução do
conflito de interesses/ tutela de interesses/ pretensão do autor. Em outras palavras, o
autor precisa demonstrar qual a necessidade de ir ao Poder Judiciário, pois este é
ultima ratio, ou seja, por não ter conseguido resolver de outra maneira, recorreu a ele.

b) Utilidade (interesse utilidade): Exige que o autor demonstre do ponto de vista


prático que o processo lhe trará algum benefício, algum proveito útil. Em outras
palavras, o autor precisa demonstrar a utilidade daquela ação para satisfazer algum
interesse seu, a lhe trazer algum proveito útil.

c) Adequação (interesse adequação): Exige que o autor postule um tipo de tutela


jurisdicional/judicial adequada ao tipo de conflito que ele submete à apreciação
judicial. Existem no Poder Judiciário vários tipos de tutela, adequadas a vários conflitos
diferentes. Caso não seja escolhida a tutela adequada para satisfazer aquele interesse,
perde-se o direito de entrar com aquela ação. Assim, torna-se necessário estudar os
diferentes tipos de tutela jurisdicional:

CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES (tipos de tutela jurisdicional)

1. Trinária – Classifica as tutelas judiciais em três tipos:


a) Tutela de conhecimento: Na maioria das vezes que surge um conflito de interesses
entre as pessoas, isso ocorre por entre elas existir alguma incerteza sobre direitos e
deveres da relação jurídica que existe entre elas. Assim, quando surge alguma dúvida
acerca de direitos, deveres ou ônus entre pessoas, é necessária uma tutela que afirme
ou declare os direitos materiais. Assim, resume-se que a tutela de conhecimento é
utilizada para afirmação do direito material, ou em outras palavras, para
acertamento da relação jurídica de direito material.

b) Execução: Em outras situações, o conflito surge por uma das partes não cumprir um
dever que decorre de uma relação jurídica de direito material. Ou seja, não existe
nenhuma dúvida quanto aos direitos e obrigações provenientes daquela relação, o que
existe é o inadimplemento de uma das partes. Nestas situações, o interessado pede
um tipo de tutela que satisfaça o direito material que já se encontra afirmado (ou seja,
não se pede uma tutela para afirmar o direito, pois este já está afirmado, só não está

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sendo cumprido). Aqui existe uma crise de inadimplemento e não uma crise de
incerteza. Ela ocorre quando o autor já tem em suas mãos um título executivo, um
documento que deixa claro quais são os direitos e deveres daquela relação, e assim,
portando esse título pode usufruir de uma ação de execução. Resumindo, a tutela de
execução (ação de execução) será utilizada para satisfação do direito material.

c) Cautelar: É utilizada em situações em que há risco ao resultado útil de outra ação


principal que pode ser de conhecimento ou de execução. Esta tutela não serve
imediatamente ao direito material, ela serve imediatamente a outro processo.
Exemplo: nota promissória que vence em dezembro (não pode ser cobrada
anteriormente) e descobre-se que o réu está se desfazendo de seus bens, o que pode
ocasionar a impossibilidade dele cumprir sua obrigação em dezembro – ou seja, há um
risco/ perigo ao resultado útil de outro processo, no caso à tutela de execução. Assim,
entra-se com uma ação cautelar, pedindo o bloqueio (que torne os bens
indisponíveis para venda, transferência etc) dos bens do réu, pois se ele se desfizer de
tudo não cumprirá sua obrigação, então de maneira cautelar cria-se um mecanismo
que dá segurança ao cumprimento de outro processo/ tutela, no caso, de execução.
Outro exemplo: produção antecipada de provas – uma ação de alto valor cujo autor é
uma senhora de 87 anos – por já ter excedido a expectativa de vida, não se pode
esperar três anos para que ela seja ouvida, assim entra-se com uma tutela cautelar
para produzir essa prova anteriormente. Nota-se que aqui não foi adicionado ou
retirado algum bem material, apenas indisponibiliza-se ou antecipa-se algo. Uma
expressão utilizada para falar sobre tutela cautelar é instrumentalidade ao
quadrado (instrumento a serviço de outro instrumento que por sua vez tutela um
direito material). Resumindo, a tutela cautelar acautela ou garante o resultado útil de
outro processo, que pode ser de conhecimento ou de execução.

Obs: liminar = antecipação do que o autor queria/ estava pedindo para o início do
processo. A liminar pode ocorrer tanto em relação à tutela antecipada quanto em
relação à tutela cautelar. Em ambas é necessário demonstrar a aparência do direito
( fumus boni iuris͟) e o perigo/risco da demora (͞periculum in moro͟). O novo código
de processo civil trouxe também um outro tipo, a tutela de evidência, onde não há o
perigo mas é evidente a aparência do direito – e assim o autor não precisa suportar o
ônus da demora do processo devido à falta de perigo, mesmo sendo evidente o seu
direito. Assim, a liminar pode decorrer da urgência (fumus + periculum) e da evidência
(fumus), e dentro da urgência tem-se a tutela antecipada e a tutela cautelar.
2. Quinária – Classifica as tutelas judiciais em cinco tipos:

a) Tutela meramente declaratória: A resolução do conflito de interesses depende da


mera afirmação/declaração do direito material ou da declaração da
falsidade/autenticidade de um documento. Assim, nas situações onde o conflito de

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interesses decorre da simples dúvida quanto ao exposto nas linhas acima, tem-se uma
tutela meramente declaratória, ou seja o autor busca a mera declaração acerca do
direito material, e esta já basta para resolver o conflito. Exemplo: ação declaratória de
paternidade – porém, caso queira pedir pensão e coisas assim não será mais assunto
da ação declaratória, pois essa apenas declara algo, literalmente.

b) Tutela constitutiva: Nesta tutela, também existe a afirmação do direito material,


porém, aqui não é uma mera declaração, pois aqui essa tutela cria/modifica ou
extingue uma relação jurídica, ou seja, não se está apenas declarando um direito
material mas também alterando a estrutura da relação jurídica. Exemplo: ação de
adoção (cria-se uma relação) – quando existe a procedência, a sentença cria uma
relação entre adotantes e adotados (relação materna/paterna-filial) – para criar essa
relação é necessário uma ação, pois não é possível adotar alguém simplesmente
levando pra casa. Outro exemplo: ação de divórcio (extingue-se a relação jurídica).
Outro exemplo: ação revisional de alimentos (modifica-se a relação) – altera-se a
relação jurídica (não cria e nem extingue, apenas aumenta/diminui); ação de revisão
de contrato etc.

c) Tutela condenatória: É utilizada quando o autor deseja não uma mera declaração de
afirmação do direito material, mas também a condenação do réu à obrigação de dar,
fazer ou não fazer alguma coisa. Exemplo: ação por acidente de trânsito – deseja-se
uma indenização para reparação do dano. Outro exemplo: ação de nunciação de obra
– quando uma obra coloca em risco os vizinhos – entram com ação para que não
continue a obra (obrigação de não fazer).
Observação: os três tipos acima, na classificação trinária, estariam dentro da tutela de
conhecimento (ação de conhecimento).

d) Tutela mandamental: É utilizada quando o autor deseja que o judiciário expresse


uma ordem para que o réu faça ou deixe de fazer algo. Aqui, o Poder Judiciário
ordena, há uma imposição que deve ser cumprida sob pena de prisão (caso
desobedeça). A expressão mandamental é construída através da palavra mandado ,
documento expedido pelo juiz que possui uma ordem a ser seguida. Exemplo:
mandado de segurança.

e) Tutela lato sensu: Até 2005, sempre que se ajuizava uma ação de conhecimento, o
Poder Judiciário iria afirmar um direito material – porém, para que esse direito
afirmado fosse executado, seria necessária uma ação de execução – ou seja, até o ano
citado, eram necessárias duas ações, uma de conhecimento para afirmação do direito
material e outra (depois do trânsito em julgado) executória, para satisfação do direito
afirmado.

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Em 2005 houve uma alteração no código, de modo que a execução das decisões
judiciais passou a ser realizada dentro do próprio processo em que foram proferidas as
decisões judiciais – passou a existir uma fase de cumprimento de sentença, não sendo
mais necessário instaurar nova ação (não existe mais ação de execução de decisão
judicial, somente uma nova fase no mesmo processo inicial).

Antes disso, excepcionalmente algumas ações de conhecimento possibilitavam a


execução sem ser necessária nova ação – exemplo: ação de despejo. Assim, ação
executiva em sentido amplo (lato sensu) era uma expressão utilizada em relação às
ações de conhecimento que possibilitavam a execução dentro da própria ação de
conhecimento, sem que houvesse a decisão de uma ação autônoma para execução da
ação judicial. Ocorre que desde 2005, todas as ações de conhecimento possibilitam a
execução, dentro da fase de cumprimento de sentença – logo, não existe mais ação
de execução de títulos/decisões judiciais. Assim, essa classificação perdeu o efeito
prático, pois agora não há mais divisão entre as ações que permitem execução e as
que não permitem – pois todas passaram a permitir isso.

TEORIAS DA AÇÃO – Para melhor entender o direito de ação, é preciso saber


conceituá-lo por meio de várias características. Ao longo dos anos várias teorias
tentaram definir este conceito:

1. Civilista, imanentista ou conceito unitário de ação: Essa teoria conceituava o direito


de ação como o direito de perseguir em juízo aquilo que nos é devido. Essa teoria
conceitua o direito de ação a partir do direito material (pois só se persegue em juízo
quando se tem direitos materiais). Assim, para essa teoria não se teria o direito de
ação sem que o autor fosse titular do direito material. O direito de ação seria um
apêndice do direito material. Uma vez violado o direito material, surge para seu titular
o direito de judicialmente buscar a satisfação desse direito. Assim, costumava-se dizer
que o direito de ação e o direito material seriam os dois versos de uma moeda, não
existindo um sem que o outro exista. Por isso a teoria é chamada de civilista - por estar
muito ligada ao Direito Civil, que trata do direito material - e imanentista, que significa
algo que está preso a outra coisa (direito de ação preso ao direito material).

Essa teoria apresenta dois problemas (situações que ela não conseguiu explicar). O
primeiro seria as ações julgadas improcedentes – pois ao ser julgada improcedente,
conclui-se que não possui o direito material – e assim, nesse caso não existiria mais
nenhuma possibilidade processual para a pessoa, pois sem direito material ela não
teria direito de ação (um está preso ao outro). O outro problema é a ação declaratória
negativa – essa ação é utilizada quando o autor deseja que se declare improcedente
uma relação jurídica de direito material, ou seja, que seja declarado que na relação
autor-réu não existe o direito material a ser tutelado. Muitas vezes, o conflito de

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interesses surge por uma dúvida em relação à existência ou não do direito material.
Para que isso seja resolvido, é preciso que o Poder Judiciário afirme ou não a existência
daquele direito. Exemplo: ação instaurada contra a mulher que afirmou ser mãe de um
filho do Ayrton Senna (uma ação para declarar que aquela relação de direito material
não existia). Assim, o direito de ação é utilizado para declarar que não existe direito
material – o que essa teoria não consegue explicar, pois para ela os dois são vinculados
e devem co-existir.

2. Concretistas: Sucedeu a teoria civilista. Essas teorias vislumbravam o direito de ação


como autônomo em relação ao direito material, ou seja, é possível que haja o direito
de ação sem o direito material. Além de autônomo, o direito de ação também seria
concreto, pois depende da tutela concreta (in concretum) do interesse do autor – não
é preciso que exista o direito material, mas é preciso que exista a tutela/proteção
concreta do interesse do autor. Essa teoria conceituava o direito de ação como o
direito à proteção concreta de um interesse (não dependendo da existência de um
direito material). Essa teoria conseguiu explicar a ação declaratória negativa (pois
embora não exista o direito material, o interesse é tutelado concretamente), porém
continuava sem explicar as ações improcedentes, pois não há a tutela concreta do
interesse.

3. Abstratistas: Para os abstratistas, o direito de ação também era autônomo (não


dependia do direito material), porém, ao contrário das outras, era abstrato. Isso
significa que o direito de ação não depende da proteção concreta do interesse do
autor, ou seja, o direito de ação é um direito a um pronunciamento judicial sobre a
lide, pouco importando se procedente ou improcedente – e assim solucionaram o
problema que a teoria anterior não conseguiu.

Diante disso, podia-se conceituar o direito de ação já com todas as suas características:
um direito subjetivo público (exige-se do Estado, ele deve intervir na solução de
conflitos), autônomo (por não depender do direito material), abstrato (pois não
depende da tutela concreta do interesse do autor) e instrumental (é o
instrumento/meio para que seja satisfeito o interesse ou pretensão do autor),
consistente na submissão ao Poder Judiciário de um determinado conflito de
interesse, pouco importando se esse conflito será julgado procedente ou
improcedente. Essa é a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, porém de
uma maneira um pouco diferente. Para que o autor tenha esse direito de ação acima
descrito, ele precisa preencher algumas condições – e caso não sejam preenchidas,
não há o direito a esse pronunciamento estatal. Assim, diz-se que nosso ordenamento
não adotou uma teoria abstratista pura, e sim uma mista, porque subordina ou
condiciona esse pronunciamento estatal sobre o conflito ao preenchimento de certas
condições – que são as chamadas condições da ação.

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4. Eclética ou mista (Liebman): Liebman condicionava o exercício do direito de ação ao


preenchimento de algumas condições da ação, e caso essas não fossem preenchidas,
não haveria o direito de ação. Assim, preenchidas as condições da ação (interesse
processual e legitimidade), tem-se o julgamento de mérito da lide e decide-se pela
procedência ou improcedência da ação (abstrato). Não preenchidas as condições, há
carência da ação, ou seja, não há o direito de ação pela falta das condições necessárias
para o julgamento de mérito.

Em resumo, a teoria adotada pelo Brasil é a abstratista mista, possui o conceito de


direito de ação definido no item acima, porém sujeitado ao preenchimento de algumas
condições.

Qual a diferença entre a improcedência da ação e carência da ação? A


improcedência recai sobre o direito material, e a carência recai sobre o direito
processual. Quando o Poder Judiciário julga a ação improcedente, declara que ele não
possui o direito material que queria que fosse tutelado, já quando julga o autor
carente da ação, declara que ele não possui o direito de ação, por não preencher as
condições necessárias para exercer esse direito processual.

ELEMENTOS DA AÇÃO

São os elementos que possibilitam que as ações sejam identificadas/distinguidas umas


das outras – assim como seres humanos são identificados por seus nomes, impressões
digitais etc. Ainda que tratem da mesma coisa, ações nunca podem ser iguais. Existem
dois institutos processuais que dependem da identificação das ações:

-Pressupostos processuais negativos - fenômenos que não podem se verificar no


curso do processo, pois se qualquer uma das três existirem, o processo não poderá
prosseguir de maneira válida: litispendência (repetição em juízo de uma ação idêntica
à outra que já está em curso), coisa julgada (repetição em juízo de uma ação idêntica à
outra que já transitou em julgado) e perempção (ação idêntica/perda do direito de
ação pois já foram ajuizadas três ações idênticas e houve nas três a extinção do
processo por desleixo do autor, por não ter praticado um ato que deveria praticar).

-Outro fenômeno é o da conexão e continência - esses fenômenos possibilitam a


reunião de ações semelhantes por possuírem algum elemento comum, para que sejam
julgadas conjuntamente – exemplo: possuem a mesma causa de pedir apenas. Porém,
essa conexão dos processos não é mera faculdade ao juiz, o código determina que
sejam conectados. As ações são identificadas a partir dos elementos a seguir:

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1) Partes: em sentido estrito é aquele que pede e em face de quem se pede. Já em


sentido amplo, partes são os sujeitos parciais da relação jurídica processual, titulares
do contraditório instaurado sobre a presidência do juiz. Como parte é aquele que
possui interesse na relação jurídica, é inadequado afirmar que o juiz é parte dessa
relação jurídica processual – o correto é afirmar que o juiz é um sujeito imparcial dessa
relação, enquanto autor e réu são partes parciais da mesma. O conceito de parte para
fins de identificar os elementos da ação é estritamente processual. Isso significa que
não há qualquer relação com a relação jurídica de direito material disputada dentro do
processo.

Para identificar a ação, não interessa quem é parte legítima, interessa apenas quem
é parte. Se não for parte legítima, posteriormente o processo será extinto devido à
carência da ação, mas para identificar a ação basta observar quem está pedindo e em
face de quem está pedindo.

2) Causa de pedir: O CPC adota a teoria da substanciação. De acordo com essa teoria,
a causa de pedir é composta pelos fatos e fundamentos jurídicos do pedido. Causa de
pedir é a razão pela qual se está pedido aquilo, a razão jurídica que levou a pessoa ao
Poder Judiciário.

a) Remota: São os fatos que deram origem à relação jurídica de direito material – ou
seja, como surgiu a relação jurídica entre autor e réu – contrato, etc.

b) Próxima: Fundamento jurídico – consiste na razão jurídica que ampara/sustenta o


pedido do autor. Aqui é avaliado o motivo pelo qual o ordenamento jurídico autoriza
que se faça esse pedido. Este é o elemento da ação mais importante, pois é por meio
dele que serão achados os fundamentos para pedir aquela ação. Quanto mais ampla a
fundamentação jurídica, mais difícil é a possibilidade da ação ser indeferida pelo juiz.
Além disso, aqui se planta a semente para poder fazer um recurso posteriormente.
Em resumo, a importância desse elemento é colocar o órgão jurisdicional pré-disposto
para aceitar a ação e já nos fundamentos jurídicos construir a possibilidade para
eventual recurso extraordinário. Esse é o elemento que mais gera problemas na hora
da decisão judicial – essa decisão também precisa ser fundamentada pelo juiz, e
antigamente isso era feito de maneira genérica, como colocar afeto como motivo
plausível/fundamento jurídico para manter um animal silvestre na posse de pessoa
(esse fundamento afeto serve para qualquer coisa, é muito genérico, além de ser
absurdo como causa para ser relevado um crime como o de possuir animal silvestre
sem autorização) - isso passou a ser proibido pelo novo código, no art 489, §1º e
alíneas. Observação: fundamento jurídico não é fundamento legal – este não é
necessário, pela premissa do jura novit cúria , ou seja, o juiz conhece o Direito, não
sendo necessário mostrar a lei para ele, pois o mesmo já a conhece.

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489. São elementos essenciais da sentença:

I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do
pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento
do processo;
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe
submeterem.

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,


sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

3) Pedido:

a) Imediato: Consiste no tipo de tutela jurisdicional imediatamente invocada pela


parte para que mediatamente, por meio desta (tutela), seja obtido o bem/interesse
material objeto da ação. É uma tutela condenatória.

b) Mediato: É o direito material requerido, o bem da vida.

 Para uma ação ser idêntica à outra, precisa ser igual nos cinco elementos acima
apresentados (partes, causa de pedir remota, causa de pedir próxima, pedido mediato
e pedido imediato).

 É possível que existam duas ações de despejo do mesmo locador contra o mesmo
locatário em relação ao mesmo imóvel sem que se caracterize a litispendência? Sim,
no caso da causa de pedir próxima (fundamento jurídico) ser distinta. Exemplo: em
uma das ações o fundamento jurídico do despejo ser a falta de pagamento e em outro
ser o despejo para uso próprio. Isso não impede que ocorra o fenômeno da conexão –
mesmo assim serão duas ações, apenas julgadas conjuntamente.

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Exemplo envolvendo elementos da ação: acidente de carro, com o concerto do


automóvel em R$50mil.

-Partes: autor (que bateu) e réu.

-Causa de pedir remota: acidente (ato ilícito)

-Causa de pedir próxima: Culpa

-Pedido imediato: Tutela condenatória

-Pedido mediato: R$50mil.

Caso posteriormente seja constatado que a vítima deverá passar por cirurgia por
problema decorrente do acidente, e entre com ação de R$50 mil para pagá-la, o
pedido mediato será diferente – embora o valor seja o mesmo, em uma ação o
dinheiro era para concerto do carro e em outra era destinado à uma cirurgia, ou seja,
motivos distintos.

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