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Curso: Direito Processual Civil

Aula: Equivalentes Jurisdicionais


Professor: Rodolfo Hartmann

Resumo

1. Introdução

Atualmente, prevalece a ideia geral da Justiça Multiportas, nesse sentido, a atividade


jurisdicional estatal não é a única nem a principal opção das partes para colocarem fim ao litígio,
existindo outras possibilidades de pacificação social. Assim, para cada tipo de litígio existe uma
forma mais adequada de solução. A jurisdição estatal é apenas mais uma dessas opções.
Ademais, é multiportas, porque, além do aparato judiciário, o próprio sistema jurídico
brasileiro incentiva a conciliação, a mediação, a arbitragem e outros meios de solução de conflitos.

CPC: Art. 3º [...]


§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos
conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos
e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

2. Autotutela

É exceção - as partes podem solucionar seus conflitos, inclusive com força bruta, ou seja,
fazer justiça com as próprias mãos –. Ex.: legítima defesa (art. 188, I, do CC); apreensão do bem com
penhor legal (art. 1.467, I, do CC); desforço possessório imediato no esbulho (art. 1.210, § 1.º, do
CC).
Na maioria das vezes é vedado, é conduta tipificada como crime: exercício arbitrário das
próprias razões (se for um particular) e exercício arbitrário ou abuso de poder (se for o Estado).
Regra: somente o Estado que pode fazer “justiça”.

3. Autocomposição

a) Espécies: transação, renúncia e submissão

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A autocomposição é um gênero, do qual são espécies a transação – a mais comum –, a submissão
e a renúncia. Na transação há um sacrifício recíproco de interesses. Na renúncia, o titular do
pretenso direito abdica de tal direito, fazendo-o desaparecer com o conflito gerado por sua ofensa,
enquanto na submissão o sujeito se submete à pretensão contrária, ainda que fosse legítima sua
resistência.
 Ex.: Marina pretende obter 10, mas Aline só está disposta a pagar 5. Havendo um sacrifício
recíproco, as partes podem se autocompor por qualquer valor entre 5 e 10 (transação).
Marina, por outro lado, pode abdicar do direito de crédito de 10 (renúncia). Finalmente,
Aline poderia, mesmo acreditando ser devedora de apenas 5, pagar a Marina os 10 cobrados
(submissão).
Cumpre observar que, embora sejam espécies de autocomposição, e por tal razão formas de
equivalentes jurisdicionais, a transação, a renúncia e a submissão podem ocorrer também durante
um processo judicial, sendo que a submissão nesse caso é chamada de reconhecimento jurídico do
pedido, enquanto a transação e a renúncia mantêm a mesma nomenclatura.

b) Formas: mediação e conciliação

MEDIAÇÃO (art. 165, §3º) CONCILIAÇÃO (art. 165, §2º)


•Recuperar o diálogo entre as partes •Identificação evidente do problema
• Há vínculo entre as partes • Não há vínculo entre as partes
•As partes que decidem (chegam a um acordo). •Não é a falta de comunicação que
•Restaurando o diálogo que o conflito em si pode ser impede a solução.
tratado. Só depois pode se chegar à solução. •Diferentemente do mediador, o
•Não é necessário a interferência do mediador. conciliador tem a prerrogativa de sugerir
•O mediador não propõe solução de conflitos às uma solução.
partes;

- Audiência de Conciliação e mediação – É EM REGRA: obrigatória


- Não acontecerá quando:
O direito envolvido não permitir
E na hipótese do art. 334 do CPC – ambas as partes não querem que tenham

c) Arbitragem:

A arbitragem consiste no julgamento do litígio por terceiro imparcial, escolhido pelas partes.
É espécie de heterocomposição de conflitos.
Consoante Neves (2018), a arbitragem é uma forma alternativa de solução de conflitos
fundada basicamente em dois elementos:
(i) as partes escolhem um terceiro de sua confiança que será responsável pela solução
do conflito de interesses e,
(ii) a decisão desse terceiro é impositiva, o que significa que resolve o conflito
independentemente da vontade das partes.

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 Para parte da doutrina é equivalente jurisdicional – Jurisdição não é só dizer o direito (fase
de conhecimento), mas efetivá-lo (fase de execução) (Luiz Guilherme Marinoni, Humberto
Theodoro Jr.);
 Há, porém, quem entenda que não se trata de equivalente jurisdicional, sendo jurisdição
propriamente dita, exercida por particulares, com autorização do Estado (Fredie Didier Jr.)
 É jurisdição, o art. 515 do CPC pontua que a sentença arbitral é um título executivo
judicial, está no mesmo patamar da sentença do juiz
 O juiz poderá anular a sentença arbitral, todavia não pode entrar no mérito/rever o
conteúdo da questão.
 Diz o direito, mas não pode efetivar (fase de execução)
 Caráter contratual, negocial

A arbitragem pode ser constituída por meio de um negócio jurídico denominado convenção
de arbitragem que, na forma do art. 3° da Lei n. 9.307/1996, compreende tanto a cláusula
compromissória quanto o compromisso arbitral. 1

 Cláusula compromissória: convencionam as  Compromisso arbitral: acordo de vontades


partes que as demandas decorrentes de posterior ao litígio, para submetê-lo ao juízo
determinado negócio jurídico serão arbitral. O compromisso arbitral pode existir
resolvidas pelo juízo arbitral. Trata-se de com ou sem a cláusula compromissória e
deliberação prévia e abstrata, anterior ao pode ser celebrado antes ou mesmo no curso
litígio. da demanda judicial.

Ademais, segundo Donizetti (2017) o CPC/15 traz a possibilidade de expedição de carta


arbitral, que permite a interação entre juízes e árbitros, especialmente no que concerne à
efetivação de tutelas antecipadas. Essa carta deve conter o pedido de cooperação para que o órgão
jurisdicional pratique ou determine o cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato
solicitado pelo juízo arbitral. Assim, por exemplo, se uma testemunha não comparecer à audiência
no juízo arbitral, o árbitro poderá solicitar, por carta arbitral, ao juízo competente, que determine a
condução coercitiva da testemunha a ser ouvida (art. 22, § 2º, da Lei nº 9.307/1996).

- REFERÊNCIAS

Donizetti, Elpídio. Curso didático de direito processual civil / Elpídio Donizetti. – 20. ed. rev., atual. e
ampl. – São Paulo: Atlas, 2017.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado® / Marcus Vinicius Rios
Gonçalves. – 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. - 10. ed., rev., ampl. e atual.
– Salvador: JusPODIVM, 2018.

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