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Atuação do Poder Judiciário em relação ao

procedimento de mediação e arbitragem

APRESENTAÇÃO

Com o grande volume de demandas a serem analisadas pelo Poder Judiciário, sua atuação torna-
se cada vez mais morosa. Entretanto, existem formas alternativas de resolução de conflitos, com
o a mediação e a arbitragem, que contribuem significativamente para um desfecho célere e efica
z dos litígios. Embora a arbitragem seja uma forma privada de solução de conflitos, que são deci
didos por um terceiro imparcial (o árbitro), o fato é que esse procedimento muitas vezes tem um
a relação muito próxima com o Poder Judiciário, não apenas considerando as semelhanças entre
o procedimento arbitral e o processo judicial, mas também considerando a atuação efetiva do Po
der Judiciário no processo arbitral, como nos casos de instituição forçada da arbitragem ou de de
claração de nulidade da sentença arbitral.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai analisar a atuação do Poder Judiciário em relação ao
procedimento de mediação e arbitragem e vai ver como se define o que é a instituição forçada da
arbitragem. Será estudado também o papel dos árbitro, bem como os casos de impedimento e su
speição destes, e serão explicados os casos de nulidade da sentença arbitral.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir o que é a instituição forçada da arbitragem.


• Descrever o papel dos árbitros, bem como os casos de impedimento e suspeição destes.
• Explicar os casos de nulidade da sentença arbitral.

DESAFIO

Os honorários dos árbitros não necessariamente devem estar fixados no compromisso arbitral, d
e acordo com a interpretação do art. 11, inciso VI, da Lei n.° 9.307/96. Diferentemente dos itens
constantes no art. 10 da referida lei, que traz os itens obrigatórios do compromisso arbitral, o dis
positivo retromencionado traz os itens facultativos, e os honorários do árbitro é um deles: “Art.
11. Poderá, ainda, o compromisso arbitral conter: [...] VI - a fixação dos honorários do árbitro, o
u dos árbitros.”.
Imagine que você foi eleito pelas partes para atuar como árbitro em determinado procedimento a
rbitral. Não estando impedido ou suspeito, aceitou a função e atuou no procedimento. Caso as pa
rtes tivessem fixado os seus honorários no compromisso arbitral, este seria considerado título ex
ecutivo extrajudicial, de modo que você poderia executá-lo para receber os honorários. Ocorre,
porém, que a sentença arbitral foi prolatada, mas nada foi mencionado a esse respeito.

Assim sendo, de que modo você poderá cobrar os honorários que lhe são devidos?

INFOGRÁFICO

O compromisso arbitral é uma das espécies de convenção arbitral. Nele, como o próprio nome s
ugere, as partes se comprometem a resolver os litígios que possam surgir futuramente por meio
da arbitragem, isto é, com o auxílio de um terceiro imparcial denominado árbitro. Enquanto a cl
áusula compromissória destina-se a solucionar litígios já existentes, no compromisso arbitral est
es ainda não existem; mas, caso venham a surgir, dispensar-se-á a jurisdição, privilegiando a arb
itragem.

No Infográfico, você vai conhecer as principais características do compromisso arbitral.


CONTEÚDO DO LIVRO

Conflitos ocorrem diariamente, em todos os lugares e pelos mais variados motivos. Para solucio
ná-los, os envolvidos podem, além da forma amigável, valer-se das vias judiciais e até mesmo d
as extrajudiciais. Além do processo judicial, forma mais usual de resolução de litígios, há també
m as formas alternativas, tais como a mediação e a arbitragem. Entretanto, há muita relação entr
e esses meios alternativos e o Poder Judiciário.

Veja no capítulo Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitra


gem, da obra Mediação, Conciliação e Arbitragem, como ocorre a atuação do Poder Judiciário e
m relação ao procedimento de mediação e arbitragem. Veja em que situação se dá a instituição f
orçada da arbitragem, o papel dos árbitros e as hipóteses de impedimento e suspeição destes, alé
m de verificar quais são os casos de nulidade da sentença arbitral.

Boa leitura.
MEDIAÇÃO,
CONCILIAÇÃO
E ARBITRAGEM

Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza


Atuação do Poder
Judiciário em relação
ao procedimento de
mediação e arbitragem
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir o que é a instituição forçada da arbitragem.


 Descrever o papel dos árbitros, bem como os casos de impedimento
e suspeição.
 Explicar os casos de nulidade da sentença arbitral.

Introdução
Para solucionar conflitos, as partes podem valer-se de meios convencio-
nais e, também, de meios alternativos, como a mediação e a arbitragem.
Diferentemente do que acontece no processo judicial, que é comandado
por um juiz que exerce a jurisdição, nos procedimentos de mediação e
arbitragem, em geral há a eleição de uma terceira pessoa, que, além de
imparcial e de dispor da confiança das partes, deverá contribuir para
que ambas cheguem a uma solução (no caso da mediação) ou decidir
o conflito por meio de uma sentença arbitral (no caso da arbitragem).
Entretanto, apesar de ser uma forma alternativa de resolução dos litígios,
há grande atuação do Poder Judiciário.
Neste capítulo, você vai ler sobre a atuação do Poder Judiciário em
relação ao procedimento de mediação e arbitragem. Também verá, por
exemplo, como ocorre a instituição forçada do procedimento arbitral, o
papel dos árbitros e as hipóteses de impedimento e suspeição. Por fim,
saberá quais são os casos de nulidade da sentença arbitral.
2 Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem

Instituição forçada da arbitragem


Os conflitos entre seres humanos ocorrem frequentemente pelos mais variados
motivos. O ideal seria que eles fossem solucionados de maneira amigável, ape-
nas com a participação das próprias partes e sem o envolvimento de terceiros.
Quando isso não é possível, porém, o mais comum é que as partes recor-
ram ao Poder Judiciário para que, por meio de um processo judicial, profira
uma sentença que, em tese, deverá resolver o litígio. Entretanto, além dessa
forma mais usual, há também meios alternativos de solução de conflitos, a
exemplo da mediação e da arbitragem, em que, com a participação de um
terceiro, busca-se chegar a uma resolução para o problema em questão.
Segundo Didier Júnior (2015, p. 275):

Mediação e conciliação são formas de solução de conflito pelas quais um


terceiro intervém em um processo negocial, com a função de auxiliar as partes
a chegar à autocomposição. Ao terceiro não cabe resolver o problema, como
acontece na arbitragem: o mediador/conciliador exerce um papel de catalisador
da solução negocial do conflito. Não são, por isso, espécies de heterocomposi-
ção do conflito; trata-se de exemplos de autocomposição, com a participação
de um terceiro. Ambas são técnicas que costumam ser apresentadas como os
principais exemplos de “solução alternativa de controvérsias” (ADR, na sigla
em inglês: alternative dispute resolution). O adjetivo, no caso, funciona para
contrapor essas formas de solução dos conflitos à jurisdição estatal.

Assim, tanto a mediação quanto a conciliação são formas alternativas de


resolução de conflitos baseadas na autocomposição, uma vez que o terceiro
imparcial apenas atua como intermediador do debate entre ambas as partes,
sem participar da decisão, efetivamente. Ele auxilia as partes na busca de um
consenso, mas este é atingido pelo comum acordo entre as partes, apenas.
De acordo com Neves (2017), a autocomposição é uma forma de solução
muito interessante e que está se tornando cada vez mais popular. Ao contrário
do que ocorre na jurisdição, o sacrifício para solucionar o conflito é oriundo
das próprias partes envolvidas. Segundo Neves (2017, p. 77):

A arbitragem é antiga forma de solução de conflitos fundada, no passado, na


vontade das partes de submeterem a decisão a um determinado sujeito que, de
algum modo, exercia forte influência sobre elas, sendo, por isso, extremamente
valorizadas suas decisões. Assim, surge a arbitragem, figurando como árbitro
o ancião ou o líder religioso da comunidade, que intervinha no conflito para
resolvê-lo imperativamente. Atualmente, a arbitragem mantém as principais
características de seus primeiros tempos, sendo uma forma alternativa de
Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem 3

solução de conflitos fundada basicamente em dois elementos: (i) as partes


escolhem um terceiro de sua confiança que será responsável pela solução
do conflito de interesses e, (ii) a decisão desse terceiro é impositiva, o que
significa que resolve o conflito independentemente da vontade das partes.

Enquanto a conciliação e a mediação caracterizam-se pela autocomposição, isto é, as


próprias partes envolvidas são responsáveis pela solução do conflito, na arbitragem o
árbitro se torna responsável por tomar a decisão, que, por sua vez, é impositiva. Inclusive, a
sentença arbitral produz entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos da sentença
proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.

Embora na arbitragem os próprios envolvidos no confronto elejam o árbitro,


sabendo que deverão respeitar e cumprir a sua decisão, existe a possibilidade
de que a arbitragem tenha que ser forçada. Quando isso ocorre? O caput do art.
7º da Lei de Arbitragem (Lei nº. 9.307, de 23 de setembro de 1996) dispõe que
“Existindo cláusula compromissória e havendo resistência quanto à instituição
da arbitragem, poderá a parte interessada requerer a citação da outra parte
para comparecer em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o
juiz audiência especial para tal fim” (BRASIL, 1996, documento on-line).
Portanto, se houver cláusula compromissória, ou seja, uma convenção
por meio da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter à
arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato, de
acordo com o art. 4º da Lei de Arbitragem, e sobrevindo um litígio, as partes
são forçadas a aceitar a arbitragem (BRASIL, 1996). O autor indicará, com
precisão, o objeto da arbitragem, instruindo o pedido com o documento que
contiver a cláusula compromissória.
É aí que entra a atuação do Poder Judiciário, conforme dispõem os pará-
grafos do art. 4º: quando as partes comparecerem à audiência, o juiz tentará,
primeiro, a conciliação (BRASIL, 1996). Caso não obtenha êxito, tentará
então conduzir as partes à celebração, em comum acordo, do compromisso
arbitral. Se ainda assim não houver acordo sobre os termos do compromisso, o
juiz decidirá, após oitiva do réu, acerca de seu conteúdo, na própria audiência
ou no prazo de 10 dias. Se a cláusula compromissória nada dispuser sobre a
nomeação de árbitros, caberá ao juiz, ouvidas as partes, estatuir a respeito,
podendo nomear árbitro único para a solução do litígio.
4 Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem

Se o autor não comparecer à audiência designada para a lavratura do compromisso


arbitral e nem justificar sua ausência, isso resultará na extinção do processo sem
julgamento de mérito. Não comparecendo o réu à audiência, caberá ao juiz, ouvido
o autor, estatuir a respeito do conteúdo do compromisso, nomeando árbitro único.
Por fim, a sentença que julgar procedente o pedido valerá como compromisso arbitral
(art. 7º, §§ 1º a 7º, da Lei de Arbitragem) (BRASIL, 1996).

Destarte, podemos verificar a presença e a atuação do Poder Judiciário


no procedimento arbitral, ainda que a arbitragem seja um meio alternativo
de resolução de conflitos. Uma vez submetido o litígio a uma convenção
de arbitragem, as partes devem respeitá-la e cumprir o convencionado. Do
contrário, haverá a instituição forçada da arbitragem nos moldes do art. 7º da
Lei de Arbitragem (BRASIL, 1996).

Atuação dos árbitros


O papel dos árbitros é fundamental na solução do conflito submetido ao pro-
cedimento arbitral. O art. 13 menciona que pode ser árbitro qualquer pessoa
capaz e que goze da confiança das partes. As partes poderão nomear um ou
mais árbitros, desde que em número ímpar. Caso as partes elejam um número
par de árbitros, estes estão autorizados a nomear mais um.
O § 2º do art. 13 afirma que, caso não cheguem a um acordo, as partes
requererão — ao órgão do Poder Judiciário a que tocaria, originariamente,
o julgamento da causa — a nomeação do árbitro, aplicável, no que couber, o
procedimento previsto no art. 7º da Lei de Arbitragem. Além disso, caso sejam
nomeados vários árbitros, estará formado um tribunal arbitral, para o qual deve
ser eleito um presidente. Se não houver consenso, o mais idoso será designado
presidente (art. 13, § 4º, da Lei de Arbitragem). Os árbitros — conforme art.
13, § 6º, da Lei nº. 9.307/1996 — deverão agir sempre com imparcialidade,
independência, competência, diligência e discrição (BRASIL, 1996).
Já o art. 14 trata sobre os casos de impedimento e suspeição dos árbitros.
Estão impedidos de funcionar como árbitros as pessoas que tenham, com
as partes ou com o litígio que lhes for submetido, algumas das relações que
caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, de acordo com
Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem 5

o Código de Processo Civil de 2015 (BRASIL, 2015), com previsão em seus


arts. 144 e 145, respectivamente.
De acordo com o art. 144 do CPC de 2015, são hipóteses de impedimento
dos juízes e, portanto, também aplicáveis aos árbitros:

Art. 144 [...]


I — em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II — de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III — quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou
membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
IV — quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive;
V — quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa
jurídica parte no processo;
VI — quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer
das partes;
VII — em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação
de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII — em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado
de outro escritório;
IX — quando promover ação contra a parte ou seu advogado (BRASIL, 2015,
documento on-line).

Conforme art. 145 do CPC de 2015, são casos de suspeição dos juízes,
também aplicáveis aos árbitros, os seguintes:

Art. 145 [...]


I — amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II — que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes
ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do
objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;
III — quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônju-
ge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau,
inclusive;
IV — interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes
(BRASIL, 2015, documento on-line).
6 Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem

O indicado para funcionar como árbitro deverá revelar, antes mesmo da aceitação da
função, qualquer fato que denote dúvida justificada quanto à sua imparcialidade e
independência. Do contrário, as partes poderão anular a sentença arbitral, segundo o
art. 20 da Lei nº. 9.307/1996, desde que o façam na primeira oportunidade que tiverem
de se manifestar, após a instituição da arbitragem (BRASIL, 1996).

Casos de nulidade da sentença arbitral


O art. 32 da Lei nº. 9.307/1996 dispõe sobre os casos de nulidade da sentença
arbitral, vejamos.

 Quando for nula a convenção de arbitragem — A convenção de


arbitragem é o gênero do qual são espécies a cláusula compromis-
sória e o compromisso arbitral. A Reforma da Lei de Arbitragem,
em 2015, corrigiu uma distorção que considerava como vício da
sentença arbitral a nulidade do compromisso arbitral, sem men-
cionar a nulidade da cláusula compromissória (MOTTA JÚNIOR
et al., 2015). Destarte, sempre que, por qualquer motivo, for nula
a convenção de arbitragem, consequentemente também será nula a
sentença arbitral. Não se pode admitir a validade de uma sentença
prolatada em um procedimento eivado. Por essa razão, quando for
nula a cláusula compromissória ou o compromisso arbitral, a sentença
será igualmente nula.
 Quando emanou de quem não podia ser árbitro — Será anulável
a sentença proferida por quem não poderia fazê-lo, seja pela falta de
requisitos, isto é, capacidade civil e confiança das partes, ou ainda por
estar impedido de funcionar como árbitro, a exemplo das hipóteses
de impedimento e suspeição já abordadas (MOTTA JÚNIOR et al.,
2015). A sentença para ter validade deve ser proferida por pessoa que
tenha competência para fazê-lo. Do contrário, não deve ser admitida.
O árbitro deve atender a todos os requisitos necessários para que possa
atuar nessa função. Se isso não ocorre, sua decisão carece de validade,
assim, a sentença será nula.
 Quando não contiver os requisitos do art. 26 desta lei — O men-
cionado art. 26 trata s requisitos da sentença arbitral, que são os
Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem 7

seguintes: “I — o relatório, que conterá os nomes das partes e um


resumo do litígio; II — os fundamentos da decisão, onde serão
analisadas as questões de fato e de direito, mencionando-se, expres-
samente, se os árbitros julgaram por equidade; III — o dispositivo,
em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem submetidas
e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o
caso; e IV — a data e o lugar em que foi proferida” (BRASIL,
1996, documento on-line). Caso esteja faltando algum desses itens,
a sentença será nula. A sentença arbitral, tal qual a sentença judicial,
deve cumprir todos os requisitos citados, sob pena de se tornar uma
sentença nula. Todos os requisitos são indispensáveis para que a
sentença tenha validade.
 Quando for proferida fora dos limites da convenção de arbitra-
gem — Quando for proferida fora do estabelecido na convenção de
arbitragem, o árbitro não poderá decidir de maneira extra petita ou
ultra petita (MOTTA JÚNIOR et al., 2015). Isso significa que o árbi-
tro deve decidir, no máximo, dentro dos limites do que foi solicitado.
Não poderá tomar uma decisão fora do estabelecido na convenção de
arbitragem ou, ainda, além disso. O árbitro deve se ater estritamente
ao convencionado no momento de proferir sua decisão.
 Quando comprovado que foi proferida por prevaricação, con-
cussão ou corrupção passiva — O árbitro — no exercício de sua
função e de acordo com o art. 17 da Lei de Arbitragem — equipara-
-se aos funcionários públicos para os efeitos da legislação penal.
Se ele age, porém, de forma criminosa, obviamente a sua atuação
e a consequente decisão por ele prolatada carecem de validade, de
forma que é um dos casos de nulidade da sentença arbitral (MOTTA
JÚNIOR et al., 2015). Não se pode admitir que uma sentença arbi-
tral tenha sido proferida por alguém que agiu de modo criminoso.
A prevaricação, concussão e corrupção passiva são crimes que
podem ser cometidos por funcionários públicos, portanto, crimes
próprios, e o árbitro é assim considerado, de acordo com o art. 17
da Lei nº. 9.307/1996. Desse modo, caso sua atitude se enquadre em
algum desses tipos legais, eles serão considerados sujeitos ativos,
por serem funcionários públicos, e a sentença será nula.
 Quando proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12,
III, dessa lei — O prazo para o proferimento da sentença arbitral é o
de 6 meses, ou, de acordo com o art. 23, algum outro estipulado pelas
partes. Caso haja o descumprimento de tal prazo, extingue-se o com-
8 Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem

promisso arbitral, motivo pelo qual torna-se nula a sentença (MOTTA


JÚNIOR et al., 2015). Ou seja, a sentença deve ser proferida dentro
do prazo legal, que, de acordo com o art. 23 da Lei de Arbitragem, é
aquele estipulado pelas partes. Porém, “[...] nada tendo sido convencio-
nado, o prazo para a apresentação da sentença é de seis meses, contado
da instituição da arbitragem ou da substituição do árbitro” (MOTTA
JÚNIOR et al., 2015, p. 73).
 Quando forem desrespeitados os princípios de que trata o art.
21, § 2º, da Lei de Arbitragem — O § 2º do art. 21 da Lei de Ar-
bitragem prevê que “Serão, sempre, respeitados no procedimento
arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da
imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento” (BRASIL,
1996, documento on-line). Na falta de observância de qualquer um
deles, a sentença será nula.

O princípio do contraditório pressupõe que as partes devem ter o direito de defesa,


de contradizer o alegado contra elas. Já o princípio da igualdade das partes ressalta
a importância de as partes serem tratadas igualmente no procedimento, sem obter
qualquer tipo de vantagem em relação à outra. O princípio da imparcialidade do
árbitro remete ao fato de que os árbitros não podem ser parciais, assim, não devem
beneficiar quaisquer das partes deliberada e propositalmente. A sua decisão deve
ser tomada de forma imparcial, sem se deixar levar por qualquer motivo específico.

De acordo com Neves (2017, p. 69), “[...] o mediador deve ser imparcial,
ou seja, não pode com sua atuação deliberadamente pender para uma
das partes e com isso induzir a parte contrária a uma solução que não
atenda às finalidades do conflito”. O princípio do livre convencimento
está estritamente relacionado ao da imparcialidade do árbitro. O árbitro é
livre para formar seu livre convencimento e decidir com base nas provas
apresentadas no decorrer do procedimento, desde que o faça de maneira
motivada. Portanto, o procedimento não é válido sem terem sido observados
todos esses princípios, e o mesmo ocorre com a sentença arbitral.
Atuação do Poder Judiciário em relação ao procedimento de mediação e arbitragem 9

BRASIL. Lei nº. 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Diário
Oficial da União, 24 set. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l9307.htm. Acesso em: 22 ago. 2019.
BRASIL. Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial
da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 22 ago. 2019.
DIDIER JÚNIOR, F. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Editora JusPODIVM, 2015.
MOTTA JÚNIOR, A. et al. Manual de arbitragem para advogados. Brasília: Coprema:
Conselho Federal da OAB, 2015.
NEVES, D. A. A. Manual de Direito Processual Civil: volume único. 9. ed. Salvador: Editora
JusPODIVM, 2017.
DICA DO PROFESSOR

A exemplo do que acontece no processo judicial, no procedimento arbitral o árbitro também não
pode ser impedido ou suspeito. Se o árbitro for considerado impedido ou suspeito, o litígio é enc
aminhado ao Poder Judiciário, a fim de que seja julgado pelo órgão competente. As hipóteses de
impedimento e suspeição aplicáveis aos juízes são as mesmas aplicáveis aos árbitros, e encontra
m-se elencadas nos artigos 144 e 145 do Código de Processo Civil, respectivamente.

Na Dica do Professor, você vai ver quais são as hipóteses de impedimento e suspeição do árbitr
o, de acordo com o que dispõe o Código de Processo Civil.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

EXERCÍCIOS

1) A arbitragem caracteriza-se por ser um instituto em que as partes, de comum acordo,


elegem um terceiro imparcial, denominado árbitro, para decidir a questão. Em certos
casos, porém, é possível que a arbitragem seja imposta, isto é, instituída de maneira f
orçada. Em que situação é possível a instituição forçada da arbitragem?

Quando uma das partes assim desejar, a outra é obrigada a aceitar.


A)
Quando o árbitro escolhido por uma das partes assim o declarar.
B)
Quando as partes residirem em estados diferentes do Brasil.
C)
Quando o problema ainda não tiver sido solucionado pelo Poder Judiciário.
D)

Quando há cláusula compromissória e resistência quanto à arbitragem.


E)
2) O compromisso arbitral é a convenção das partes a se submeterem à arbitragem para
solucionar os conflitos que existem entre elas. Analise as alternativas abaixo e assinal
e a que contém um ou mais itens que devem constar, obrigatoriamente, do compromi
sso arbitral.

Local onde a arbitragem será realizada.


A)
O prazo para que o árbitro profira sentença arbitral.
B)
A matéria que será objeto da arbitragem.
C)
Declaração da responsabilidade pelo pagamento dos honorários.
D)
A fixação dos honorários do árbitro.
E)

3) É possível que, em certos procedimentos arbitrais, atuem vários árbitros. Em que hip
ótese é possibilitado aos próprios árbitros a escolha de um outro?

Todas as vezes em que a arbitragem for realizada por um órgão arbitral institucional ou ent
A)
idade especializada.

Quando as partes nomearem, além dos árbitros, os seus suplentes.


B)
Quando as partes assim o decidirem, desde que seja de comum acordo.
C)
Quando o número de árbitros nomeados for par, estes poderão nomear mais um.
D)
Quando as partes não aceitarem o árbitro indicado pelo juiz.
E)

4) Assim como ocorre em relação ao juiz nos processos judiciais, é possível que no proce
dimento arbitral o árbitro seja considerado suspeito ou impedido. Em que momento
a parte deverá arguir esse impedimento/suspeição?

A parte deverá arguir o impedimento ou a suspeição do árbitro sempre que possível.


A)
Na primeira oportunidade de manifestação, isto é, logo após a instituição da arbitragem.
B)
Deverá argui-lo imediatamente após a prolatação da sentença arbitral.
C)
Ao final do procedimento, caso o próprio árbitro não se declare impedido ou suspeito.
D)
Ao final do procedimento, se este tiver sido realizado por um tribunal arbitral.
E)

5) Em certas situações, é possível que a sentença arbitral seja considerada nula. Analise
as alternativas abaixo e assinale aquela que contenha uma das hipóteses em que se po
de arguir a nulidade de uma sentença arbitral, de acordo com a Lei n.° 9.307/96.

Se for questionável a convenção de arbitragem.


A)
Se emanou de apenas um árbitro.
B)
Se for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem.
C)
Se for nulo o compromisso.
D)
Se não decidir todo o litígio submetido à arbitragem.
E)

NA PRÁTICA

A sentença arbitral pode ser tanto nacional quanto estrangeira. Porém, para que uma sentença ar
bitral prolatada por tribunal arbitral estrangeiro tenha validade no Brasil, sendo reconhecida e ex
ecutada, necessário se faz que essa sentença seja homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (
STJ).

Veja Na Prática como decidiu o STJ em um caso concreto a respeito da sentença arbitral.
SAIBA +

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professo
r:

Ação declaratória de nulidade da sentença arbitral parcial

Nesse artigo, você vai conhecer mais sobre a Lei n.° 13.129/2015, que trouxe algumas alteraçõe
s na Lei de Arbitragem (Lei n.° 9.307/1996). Ela prevê, no parágrafo 1º do artigo 23, que: “Os ár
bitros poderão proferir sentenças parciais”.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar.

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