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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS JURÍDICO-FORENSES

ADOPÇÃO POR ESTRANGEIROS E O SUPERIOR INTERESSE DO


MENOR

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção do grau de
Licenciatura em Ciências Jurídicas com orientação em Ciências Jurídico-Forenses na
Universidade Técnica de Moçambique

Hércules Zacarias Soares

Maputo, 2020
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS JURÍDICO-FORENSES

ADOPÇÃO POR ESTRANGEIROS E O SUPERIOR INTERESSE DO


MENOR

Monografia apresentada em cumprimento dos requisitos exigidos para obtenção do grau de


Licenciatura em Ciências Jurídicas com orientação em Ciências Jurídico-Forenses na

Universidade Técnica de Moçambique

Tutor: Dr Manuel Didier Malunga

Maputo, 2020

O Presidente O Tutor O Arguente Data

____________ ______________ ______________ ______________


DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu Hércules Zacarias Soares, declaro por minha honra, que este trabalho para a
obtenção do grau de Licenciatura em Ciências Jurídico-Forenses na Universidade
Técnica de Moçambique, Faculdade de Ciências Jurídicas, nunca foi apresentado,
parcialmente ou na sua essência, para obtenção de qualquer grau académico pelo que
o mesmo constitui resultado do meu esforço, dedicação e sacrifício, estando sob
orientação do meu supervisor, durante a elaboração do texto bem como na
bibliografia, constam as fontes por mim consultadas.

Maputo, Julho de 2020

_______________________________________

(Hércules Zacarias Soares)

I
DEDICATÓRIA

É por meio da família que aprendemos os primeiros valores que nos seguirão por toda
a vida. São as noções de como nos relacionaremos em sociedade, a percepção do
mundo em que vivemos e a instrução pelo caminho em que possivelmente
seguiremos. Sagrada, a família é o nosso porto seguro, onde encontramos o apoio
necessário para os momentos de dificuldade e alegria da partilha diária. Por esta e
várias razões dedico a minha monografia a minha família:

Soares Zacarias Nhangave: que sempre batalhou para dar tudo bom a mim e aos meus
irmãos, mesmo nos momentos difíceis que passamos sempre correu atrás e nunca se
deu por vencido, e sempre teve o sonho de ter um filho doutor.

Maria Telma Mateus: mãe que Deus me deu, que sempre acreditou em mim, sendo
carinhosa e dura na minha educação, e por ter me transmitido valores imprescindíveis
que um homem honrado deve ter.

Victória E. T. Soares: a melhor irmã do mundo, que sempre me encheu de orgulho


por ser uma menina inteligente, com visão e com objectivos bem traçados.

Soares Jr.: o meu irmão mais novo, que sempre me faz sorrir, e zangar as vezes, mas
ele sempre será o meu irmão.

II
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que foi minha maior força nos momentos de angústia e desespero.
Sem ele, nada disso seria possível. Obrigada, senhor, por colocar esperança, amor e fé
no meu coração, e pela família que tenho.

Agradeço aos meus pais pelo dom da vida, especialmente minha mãe Maria Telma
Mateus, que teve paciência nos momentos de tensão, e que batalhou muito para me
oferecer uma educação de qualidade.

Aos meus irmãos Victória e Soares Jr que acreditaram no meu sonho e me deram
forças todos os dias.

Meus agradecimentos аоs amigos e companheiros da faculdade е irmãos nа amizade


qυе fizeram parte dа minha formação е que vão continuar presentes еm minha vida
cоm certeza.

Agradeço аo corpo de Docentes do curso de Licenciatura de Ciências Jurídico-


Forenses pоr mе proporcionar о conhecimento não apenas racional, mаs а
manifestação dо carácter е afectividade dа educação nо processo dе formação
profissional, pоr tanto qυе sе dedicaram а mim, nãо somente pоr terem mе ensinado,
mаs por terem mе feito aprender. А palavra mestre, nunca fará justiça
аоs professores dedicados аоs quais sеm nominar terão оs meus eternos
agradecimentos. O meu especial agradecimento ao Mestre Manuel Didier Malunga
por ter aceitado supervisionar o meu trabalho dando me dicas e recomendações.

E finalmente, o meu profundo agradecimento vai ao Tribunal de Menores e a


Direcção da Acção Social da Cidade de Maputo, pela colaboração durante a
realização do trabalho.

III
EPÍGRAFE

“A adopção...

deve ser um processo de acolhimento

baseado no amor e no respeito, trazendo

alegria a todos da nova família constituída,

e não um peso para quem acolheu,

nem um castigo para quem foi acolhido...”

(Remisson Aniceto)

IV
RESUMO

Em Moçambique, a adopção como um meio jurídico-legal surgiu no período pós-


guerra civil, que resultou na morte de inúmeras pessoas, deixando várias crianças
órfãs e vulneráveis e sem o suporte familiar. Diante deste fenómeno, foi introduzido o
decreto 5/89 de 10 de Abril de 1986 como um mecanismo de protecção social, às
crianças que se encontravam em situação de risco e vulnerabilidade social. A presente
monografia subordina-se ao tema Adopção por Estrangeiro e o Superior Interesse do
Menor e representa um requisito parcial para a culminação do curso de Licenciatura
em Ciências Jurídico-Forenses.

O presente estudo pretende abordar este instituto, já tão antigo e, em particular estudar
a adopção por estrangeiros. A presente monografia tratará sobre adopção por
estrangeiros numa perspetiva global, e de modo especial, na perspetiva do
ordenamento jurídico moçambicano. A forte ligação da adopção ao princípio do
superior interesse da criança, principio maior do direito da família, influência
profundamente todo o instituto jurídico, e em especial o caso da adopção por
estrangeiros. O trabalho terá como obejctivo analisados os aspetos gerais da adopção,
as fontes de direito internacional e nacional em matéria de adopção, e em especial, a
Convenção de Haia de 1993, com a qual os Estados-membros por meio de acordos
bilaterais ou multilaterais procuraram regular este tipo de adopção. E por fim, será
analisado o princípio do superior interesse da criança e as ligações e especificidades
que apresenta na adopção por estrangeiros.

Palavras-chave: adopção; adopção por estrangeiros; crianças; superior interesse;


Moçambique.

V
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

AC - Autoridade Central para adopção Internacional

CC - Código Civil

CDC - Convenção sobre os Direitos da Criança

CH 1993- Convenção de Haia de 1993

CRM – Constituição da República de Moçambique;

DDC – Declaração dos Direitos da Criança;

DGCAS – CM – Direcção do Género, Criança e Acção Social da Cidade de Maputo;

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

FRELIMO - Frente de Libertação Nacional;

HIV e SIDA – Vírus da Imunodeficiência Humana e Síndrome da Imunodeficiência


Adquirida;

INE – Instituto Nacional de Estatística;

RENAMO - Forças de Resistência Nacional Moçambicana;

RJPA - Regime Jurídico do Processo de adopção

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância;

VI
ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA.................................................................................................................I

DEDICATÓRIA.....................................................................................................................................II

AGRADECIMENTOS...........................................................................................................................III

EPÍGRAFE............................................................................................................................................IV

RESUMO................................................................................................................................................V

LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS...................................................................................................VI

I. Introdução.....................................................................................................................................1

II. Problema.......................................................................................................................................1

III. Pergunta de Pesquisa...............................................................................................................1

IV. Objectivos.................................................................................................................................1

V.2 Objectivos Específicos....................................................................................................................2

VI.1 Métodos e Instrumentos de Colheita de Dados...........................................................................2

VI.3 População e Amostra....................................................................................................................2

VII. Estrutura do trabalho........................................................................................................................3

Capitulo I - Adopção - aspectos Gerais................................................................................................4

1. Definição da Adopção.........................................................................................................................4

2. Evolução histórica...............................................................................................................................5

4. Natureza Jurídica da adopção............................................................................................................14

Capitulo II- Adopção por Estrangeiros.............................................................................................16

5. Adopção por Estrangeiros vs Adopção Internacional........................................................................16

6. No direito internacional, e em especial, na Convenção de Haia de 1993...........................................18

7. Da Autoridade Central e das entidades mediadoras...........................................................................23

8. Adopção por Estrangeiros ou Internacional noutros países/ Direito Comparado...............................24

8.1. Portugal..........................................................................................................................................24

8.3. Brasil..............................................................................................................................................26

8.4. México...........................................................................................................................................30

8.5. Suécia.............................................................................................................................................31

9. Adopção por estrangeiros em países não-contratantes da Convenção de Haia..................................32

VII
10. Vantagens e Desvantagens da Adopção por Estrangeiros................................................................33

10.1 Adopção por Estrangeiros e o Tráfico de Crianças e Adolescentes...............................................34

Capítulo III- Superior Interesse do Menor.......................................................................................34

11. Aproximação contextual..................................................................................................................34

12. A Adopção por Estrangeiros e o Principio do Superior Interesse do Menor....................................39

Conclusão............................................................................................................................................ 45

Recomendações...................................................................................................................................47

Bibliografia..........................................................................................................................................48

Legislação.............................................................................................................................................50

Internet................................................................................................................................................ 51

APÊNDICE...........................................................................................................................................53

ANEXOS..............................................................................................................................................58

VIII
I. Introdução
O presente trabalho monográfico representa e culminar do curso de Licenciatura em
Direito pela Universidade Técnica de Moçambique.
A selecção deste tema relaciona-se primeiramente ao interesse jurídico adjacente, mas
também pela matéria sensível de que trata, a criança e os seus direitos, sendo que tudo
ao que às crianças diz respeito nos parece de grande importância.
O instituto da adopção atravessa todas as culturas e existe desde há muito, tendo
desempenhado diferentes papéis ao longo dos tempos. Tal instituto tem vindo a
reflectir as mudanças sociais relativas ao modo como a sociedade encara as
necessidades da criança, o modo de exercício das responsabilidades parentais e, as
necessidades dos pais biológicos e dos pais adoptivos. Este é um assunto cada vez
mais relevante com o fenómeno da globalização e premência dada na sociedade
contemporânea às crianças e seus direitos. Este é um assunto de hoje e para o futuro.

A forte ligação da adopção ao princípio do superior interesse da criança, principio


maior do direito da família, influência profundamente todo o instituto jurídico, e em
especial o caso da adopção internacional. A colocação de crianças em famílias
estrangeiras é uma opção subsidiária, em grande parte pelas dificuldades que irão
encontrar, a partir do momento de saída de seu país de origem. Dificuldade como
diferenças de cultura, língua, religião, hábitos, entre outras, podendo resultar num
desenraizamento cultural das crianças e afectar as suas identidades culturais, além do
corte com as suas famílias biológicas que está implícito em qualquer adopção.

II. Problema

Na adopção por famílias estrangeiras o risco que desponta é a exposição, sem controlo
das autoridades moçambicanas, ao tráfico e outro tipo de violação de direitos
fundamentais da criança e do menor.

III. Pergunta de Pesquisa


Até que medida a adopção por estrangeiros permite a salvaguarda do superior
interesse do menor?

IV. Objectivos
V.1 Objectivo Geral

1
Analisar a adopção por estrangeiros numa perspectiva global, e de modo especial, na
perspectiva do ordenamento jurídico moçambicano.
V.2 Objectivos Específicos

 Analisar os requisitos substantivos e processuais da adopção;


 Discutir a problemática da adopção por estrangeiros e o superior interesse
do menor;
 Propor soluções em face das inquietações jurídicas identificadas.

VI. Metodologia

VI.1 Métodos e Instrumentos de Colheita de Dados

Revisão da literatura: fontes primárias (livros, relatórios de estudo, revistas de artigos


especializados, recensões bibliográficas, inquéritos quantitativos e legislação e
estratégias programáticas) junto de bibliotecas de instituições de ensino, entidades
governamentais e não-governamentais que intervêm sobre o fenómeno.

Entrevista a informação será complementada com a realização de entrevistas


semiestruturadas. Estas serão dirigidas a informantes-chave, representantes de actores
institucionais directamente envolvidos em acções programáticas na prevenção e
resposta ao fenómeno e, sobretudo na promoção e preservação do Superior Interesse
da Criança em Moçambique.

Pesquisa electrónica será feita em endereços que servem como portais do governo,
bem como em jornais electrónicos e bibliotecas online.

VI.2 Tipo de Pesquisa

Para a elaboração deste projecto, far-se-á uma pesquisa qualitativa, porque pretende-
se recolher discursos completos dos sujeitos, para proceder então com a sua
interpretação e análise dos seus argumentos. Assim, a abordagem qualitativa utiliza
diversas modalidades de investigação e teste de hipóteses entre as quais a pesquisa
documental, o estudo de caso, a etnografia, pesquisa participativa e a pesquisa acção.

VI.3 População e Amostra

O estudo será feito na base de entrevistas em crianças, jovens e adultos, em


Infantários, como também no Tribunal de Menores na Cidade de Maputo e

2
Matola, e se extrairá uma amostra representativa de 4 casos no máximo, de
menores sujeitas a adopção.

VII. Justificativa

Ao observar a lacuna existente no âmbito da aplicação dos princípios da Lei nº7/2008,


de 9 de Junho, que versa sobre a promoção e protecção dos direitos da criança, nos
casos de menores adoptados por estrangeiros, notou-se a viabilidade de elaborar um
projecto de pesquisa com ênfase na disseminação do conhecimento sobre o tratamento
do menor adoptado por estrangeiros, tendo em conta a inconformidade do quadro
normativo do ordenamento jurídico interno com a realidade actual do país.

A relevância prática deste Trabalho é que os resultados alcançados poderão produzir


mudanças no actual cenário problema em questão, nos processos de adopção por
estrangeiros.

VII. Estrutura do trabalho

Para além da Introdução, conclusão e recomendações o trabalho integra-se 3


capítulos, designadamente:

I- Adopção- aspectos gerais

II- Adopção por Estrangeiros

III- Superior Interesse do Menor

3
Capitulo I - Adopção - aspectos Gerais

1. Definição da Adopção

Socialmente “a adopção é hoje entendida como a medida ideal e privilegiada de


protecção de menores privados de meio familiar, na medida em que permite a sua
inserção, em termos estáveis e seguros, no seio de uma família substitutiva. Este facto
é tanto mais importante quanto é certo ser hoje um dado inequívoco das ciências
médicas e sociais caber à família um papel fundamental no processo de identificação
da criança e no quadro da sua socialização: é efectivamente no seio da família que se
moldam as estruturas afectivas, intelectuais e sociais da criança e é ela que melhor
garante as condições psicológicas e afectivas indispensáveis ao seu bom
desenvolvimento e integração social1.

Ora, à excepção da procriação, a família adoptiva dispõe de condições em tudo


idênticas às da família biológica para desempenhar as funções educativas que se lhe
exigem” 2.

Em muitas jurisdições, a certidão de nascimento original completa da pessoa adoptada


é cancelada e substituída por uma certidão de nascimento fabricada pós-adopção que
indica que a criança nasceu para os pais adoptivos. Esse engano, quando realizado,
pode continuar com a pessoa adoptada por toda a vida e pode ser a causa de muitos
traumas bem documentados experimentados pela pessoa adoptada, incluindo perda de
identidade, histórico familiar, cultura, família biológica (incluindo não apenas pais
biológicos mas também irmãos e família extensa), histórico e registos médicos da
família e aumento do risco de suicídio, falta de moradia, encarceramento, TEPT,
depressão e ansiedade.3

Diferentemente da tutela ou de outros sistemas projectados para o cuidado dos jovens,


a adopção tem como objectivo efectuar uma mudança permanente de status e, como
tal, requer reconhecimento da sociedade, seja por sanção legal ou
religiosa. Historicamente, algumas sociedades promulgaram leis específicas que
governam a adopção, enquanto outras usaram meios menos formais (notavelmente
1
Tomé Ramião, in Guia Prático da Adopção, 2002, pág. 13.
2
Rui Epifanio, in O.T.M., 1987, pág. 241.
3
https://en.wikipedia.org/wiki/Adoption&prev=search

4
contractos que especificavam direitos de herança e responsabilidades dos pais sem
uma transferência de filiação ). Os sistemas modernos de adopção, surgidos no século
XX, tendem a ser governados por estatutos e regulamentos abrangentes.

2. Evolução histórica

A questão da adopção já remonta desde os primórdios da humanidade. Desde a


Antiguidade, praticamente todos os povos hindus, egípcios, persas, hebreus, gregos e
romanos, praticaram o instituto da adopção, acolhendo crianças como filhos naturais
no seio das famílias. A figura da adopção aparece já no livro do Êxodo, na história do
profeta Moisés. Pelos antigos Hebreus era prática corrente a adopção, bem como o
levirato, prática com semelhanças com a adopção, que consistia na obrigação de um
homem a casar-se com a viúva do seu irmão quando este não deixou descendência
masculina, sendo que o filho deste casamento é considerado descendente do morto e
não do pai biológico, como forma de evitar o desaparecimento do nome do morto 4.
No Antigo Egipto, a figura da adopção não era conhecida, mas a prática de assumir a
paternidade de crianças abandonadas era possível.

Na antiga Grécia a adopção também era praticada, sendo que aparece inclusivamente
na mitologia grega, no mito de Édipo. Especificamente em Atenas, a adopção poderia
ser vista como um acto extremamente formal, de cunho religioso, onde apenas os
cidadãos, que eram os homens livres maiores de 18 anos e que tinham posse,
possuíam o direito de adoptar. As mulheres não poderiam adoptar, vez que não eram
cidadãs, porém poderiam ser adoptados, assim como os homens. E, no caso de
ingratidão, a adopção poderia ser revogada5.

O Código de Hamurabi (1728 – 1686 a.C.), na Babilónia, disciplinava


minuciosamente a adopção em oito artigos, inclusive prevendo punições terríveis para
aqueles que desafiassem a autoridade dos pais adoptivos (cortar a língua e arrancar os
olhos).

Na Roma Antiga, era exigida a idade mínima de 60 anos para o adoptante e vedada a -
adopção aos que já tivessem filhos naturais. A adopção chegou a ser usada pelos
4
Como explicito no Gênesis 38:8 e Deuteronómio 25:5-6

5
Disponivel em https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/26739/a-evolucao-historica-do-instituto-
da-adocao consultado a 23-04-2020

5
imperadores para designar os sucessores. Depois, perdeu o carácter de natureza
pública, limitando-se a ser uma forma de “consolo” para os casais estéreis. Segundo a
lei romana de adopção, que requeria um documento legal, o filho adoptivo tinha
direito ao nome, às possessões e à posição do pai adoptivo na sociedade e nas
questões religiosas. Era o herdeiro de seu pai adoptivo como se fora um filho natural.
O pai também tinha direito à propriedade do filho adoptivo, tornando-se seu
proprietário absoluto. Os judeus não tinham precisamente esses costumes, mas a
literatura judaica mostra que eles estavam familiarizados com as determinações das
leis romanas6.

Na Idade Média, em parte por influência da Igreja, a adopção acabou caindo em


desuso. Foi ressuscitada na França, com a edição do Código Napoleónico (1804), que
autorizava a adopção para pessoas maiores de 50 anos. Mas a regulamentação legal
não era a norma geral.7

Até 1851, porém, na maioria dos países ocidentais as crianças mudavam de família
por meio do tradicional sistema de lares adoptivos, que muitas nações modernas ainda
utilizam. Crianças e adolescentes entre 7 e 21 anos podiam ser temporariamente e
informalmente enviados para outros lares, mas permaneciam legalmente e
emocionalmente ligados às famílias originais.

Em geral, desempenhavam tarefas de aprendizes, trabalhadores domésticos,


mensageiros, governantas, pajens, damas de companhia etc., em troca de abrigo e, às
vezes, da chance de educação. Se uma família passava por dificuldades, os filhos
podiam ser deixados temporariamente em orfanatos, onde tinham maiores chances de
receber cuidados, alimentação e estudos enquanto a família biológica tentava se
reerguer. Isso, porém, não significa que elas podiam ser adoptadas por alguém.

O próximo estágio da evolução da adopção caiu para a nação emergente dos Estados
Unidos. A rápida imigração e a Guerra Civil Americana resultaram na superlotação
sem precedentes de orfanatos e casas de fundição em meados do século XIX. Charles
Loring Brace, um ministro protestante, ficou horrorizado com as legiões de
desabrigados que vagavam pelas ruas da cidade de Nova York. Brace considerava o

6
Disponível em https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/12/adocao-na-grecia-e-roma-antigas.html consultado
a 23-01-2020
7
Disponível em https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao.html, consultado a 23-01-2020

6
jovem abandonado, particularmente os católicos, o elemento mais perigoso que
desafiava a ordem da cidade.

Sua solução foi descrita em O melhor método de descarte de nossos filhos pobres e
vagrantes (1859), que iniciou o movimento do trem órfão. Os trens órfãos finalmente
enviaram cerca de 200.000 crianças dos centros urbanos do Oriente para as regiões
rurais do país. As crianças eram geralmente contratadas, em vez de adoptadas, para as
famílias que as acolhiam. Como no passado, algumas crianças eram criadas como
membros da família, enquanto outras eram usadas como lavradores e empregados
domésticos. O tamanho do deslocamento - a maior migração de crianças da história -
e o grau de exploração ocorrido deram origem a novas agências e uma série de leis
que promoveram acordos de adopção em vez de contractos. A marca registrada do
período é a lei de adopção de Minnesota de 1917, que exigia a investigação de todas
as colocações e o acesso limitado aos registros dos envolvidos na adopção.

Foi só a partir da 1.ª Guerra Mundial que a criança passou a ser encarado como sujeito
titular de direitos, sendo que por exemplo em 1919 foi instituída uma idade mínima
para trabalhar pela Conferencia Internacional do Trabalho e em 1924 foi aprovada a
Declaração de Genebra sobre Direitos da Criança, que após ter sido aprovada pela
Liga das Nações, deu origem à Carta da Liga sobre a Criança.

Com milhares de crianças órfãs, como resultado do conflito, a 19 de Junho de 1923


em França a adopção passou a poder ser também de menores. Na primeira metade do
século XX, outros países que tinham consagrado a adopção segundo o modelo
oitocentista francês vieram pois adoptar este novo paradigma, e em vários ornamentos
jurídicos que não tinham qualquer forma da adopção foi este novo modelo
reconhecido

Com a situação de muitos órfãos ainda mais agravada pela crise económica de 1929, e
mas tarde a 2.ª Guerra Mundial, a adopção passou a ser socialmente bem vista
enquanto forma de proteger o alto número de crianças desvalidas e impedi-los de
aderir a uma vida marginal e criminosa. A adopção foi pois reconsiderada como
forma de colaboração dos privados com o Estado para ajudar as crianças desvalidas.

O instituto foi repensado, beneficiando agora, especialmente, os incapazes e tornando


mais completos os seus efeitos. Assim passou o instituto a ter um tratamento jurídico

7
avançado, na sua forma plena, semelhante à filiação biológica, legitimando o
adoptado e conferindo-lhe a designação e direitos de um filho biológico.

A efetivação dos direitos das crianças também continuou e em 1959 foi aprovada pela
Organização das Nações Unidas, organismo que sucedeu à Liga das Nações, a
Declaração dos Direitos da Criança, declaração que em 1989 deu origem à CDC, um
verdadeiro instrumento jurídico.

A adopção passou neste período por profundas transformações na sua finalidade.


Originalmente estabelecida no interesse do adoptante, para garantir a perpetuidade da
família, assegurar a transmissão do nome e também do património, a adopção
contemporânea é ordenada ao interesse do adoptado, tendo por fim ampara-lo e
defendê-lo, mediante inserção numa nova família.

O período de 1945 a 1974, a era da colecta de bebés, viu o rápido crescimento e a


aceitação da adopção como um meio de construir uma família. Nascimentos
ilegítimos aumentaram três vezes após a Segunda Guerra Mundial, conforme os
costumes sexuais mudaram. Simultaneamente, a comunidade científica começou a
enfatizar o domínio da criação sobre a genética, destruindo estigmas eugénicos. Nesse
ambiente, a adopção se tornou a solução óbvia para pessoas solteiras e casais inférteis.

O número de adopções nos Estados Unidos atingiu o pico em 1970. É incerto o que
causou o declínio subsequente. Os factores que provavelmente contribuíram nas
décadas de 1960 e 1970 incluem um declínio na taxa de fertilidade, associado à
introdução da pílula, a conclusão da legalização de métodos artificiais de controle de
natalidade, a introdução de financiamento federal para disponibilizar serviços de
planeamento familiar a jovens e baixos, e a legalização do aborto. Além disso, os anos
do final dos anos 1960 e início dos anos 1970 viram uma mudança dramática na visão
de ilegitimidade da sociedade e nos direitos legais daqueles nascidos fora do
casamento. Em resposta, os esforços de preservação da família cresceram, de modo
que poucas crianças nascidas fora do casamento hoje são adoptadas. Ironicamente, a
adopção é muito mais visível e discutida na sociedade hoje, mas é menos comum.

8
3. Adopção em Moçambique

A Constituição da República estabelece o princípio de protecção especial a criança. 8

Materializando tal princípio, a Declaração dos Direitos da Criança Moçambicana


reconhece o direito de crescer rodeada de amor e compreensão, em ambiente de
segurança e paz, a viver numa família. E, quando não a tiver atribuí-lhe o direito de
passar numa família que a ame como filho.9

Tudo isso tendo por base que o desenvolvimento integral e harmonioso da criança
impõe que ela cresça em ambiente familiar e são.

Na situação actual do País, e como consequência de vários males, entre os quais o


HIV/SIDA e a recente guerra, é crescente o número de crianças em situação de
abandono ou órfãs e portanto sem qualquer protecção do meio familiar.

Foi nestes termos que o Governo introduziu as normas simplificadas de tramitação de


concessão da adopção de menores.

Em Moçambique, a adopção surge no contexto de pós-Guerra Civil vivenciada em


Moçambique, opondo a Frente de Libertação Nacional (FRELIMO), partido no poder
e as Forças de Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que condicionou a
situação de vida e desenvolvimento das crianças.

Com início em 1977, este conflito, que durou 16 anos, teve como resultado a
destruição de infra-estruturas e na degradação do tecido social, a morte de milhares de
moçambicanos, causando a desestruturação de várias famílias e crescente o número de
crianças em situação de vulnerabilidade social, de abandono, órfãs, que perderam os
seus parentes por conta da guerra e acabaram ficando sem qualquer protecção no meio
familiar (Decreto lei 5/89 de 1989).

Diante da situação de vulnerabilidade registada neste período, o Estado Moçambicano


viu-se obrigado encontrar mecanismos de protecção apropriados que garantam a
integração familiar daquelas crianças, tendo por via desta introduzindo as necessárias
alterações legislativas que conduzam a simplificação da tramitação processual

8
Vide o artigo 47º da CRM

9
Disponivel em : http://www.cga.co.mz/adopcao-tardia-um-direito-da-crianca-a-convivencia-familiar/, consultado
em 12-03-2020

9
respeitante à concessão e da tutela de crianças por meio do Decreto nº5/89 de 10 de
Abril.

Adopção pode ser definida como um vínculo legal e solene que se estabelece com
uma criança que estava em regime institucional; por sua vez, visa a criação de laços
de verdadeira família natural embora não haja laços de consanguinidade (nº1 do 36.º
72.º e 74.º todos da lei nº 7/2008, de 9 de Julho).

De acordo com a Lei da Família, a adopção é sempre estabelecida por sentença


judicial e em termos do conteúdo, e desse vínculo resultam para o adoptante e o
adoptado relações familiares semelhantes às da filiação natural, com os mesmos
direitos e deveres.

Cumpre-se ainda distinguir nesta sede o instituto da adopção de figuras semelhantes.


A perfilhação, o reconhecimento oficioso e o reconhecimento judicial, tal com a
adopção, alteram o estatuto pessoal dos indivíduos criando relações de filiação e
paternidade, mas enquanto a adopção não tem base em relações biológicas, as outras
figuras assentam sobre o vínculo biológico da consanguinidade. A adopção é
determinada pela vontade livre e esclarecida do adoptante, ao contrário do que
acontece eventualmente nas outras figuras jurídicas. Os requisitos constitutivos,
efeitos e as causas de extinção são também amplamente diferentes.

Em sede do ordenamento jurídico moçambique um dos direitos fundamentais da


criança é o direito de crescer no seio de uma família. Este direito por sua vez emana
da CRM que estabelece que “Todas as crianças têm direito à protecção da família, da
sociedade e do Estado, tendo em vista o seu desenvolvimento integral – nº1 do art.
121.º”

No entanto há situações de crianças que não têm família natural, que se encontram em
situação de abandono ou de orfandade e nessas situações a lei consagra a
possibilidade de “famílias prótese” e uma das formas da sua constituição é a adopção
(vide art. 27.º da Lei nº 7/2008, de 9 de Julho).

3.1. Requisitos da Adopção

À luz do direito moçambicano reúnem os requisitos para adoptar:

10
 Duas pessoas casadas (homem e mulher) há mais de 3 anos, que não estejam
separadas de facto, com idade superior a 25 anos mas não mais de 50 anos, com
condições morais e materiais que possibilitem que possibilitem o
desenvolvimento harmonioso do menor10 conforme o disposto no art. 402 da Lei
nº 22/2019 de 11 de Dezembro.

 Pode também adoptar singularmente, o(a) solteiro(a) que tiver mais de vinte e
cinco anos de idade e possua condições morais e materiais que garantam o são
crescimento do menor11;

 Também pode adoptar, quem tiver mais de vinte e cinco anos de idade, sendo o
adoptado filho do cônjuge ou do companheiro da união de facto do adoptante.12

De acordo com legislação moçambicana, pode ser adoptado o menor que reunir os
seguintes requisitos:

 Os menores filhos do cônjuge do adoptante, ou de quem com este viva em união


de facto há mais de três anos, desde que aquele progenitor dê o seu
consentimento;

 Os menores de 14 anos que se encontrem em situação de orfandade, de abandono


ou de completo desamparo;

 Os menores de 14 anos filhos de pais incógnitos;

 Os menores com menos de 18 anos que, desde idade não superior a doze anos,
tenham estado à guarda e cuidados do adoptante.13

A criança que passa pela adopção torna-se filha legítima perante a lei e tem os seus
direitos como tal efectivados nos termos do art. 409.º da Lei nº22/2019 de 11 de
Dezembro. Isto é, a adopção torna iguais os filhos biológicos e os adoptados do
adoptante, e não deverá a adopção implicar sacríficos injustos para os outros filhos do

10
Vide o nº1 e o nº 3 do art. 402 da Lei 22/2019 de 11 de Dezembro.

11
Vide a alínea a) do nº2 do art. 402 da Lei 22/2019 de 11 de Dezembro.

12
Vide a alínea b) do nº2 do art. 402 da Lei 22/2019 de 11 de Dezembro.

13
Vide o art. 404.º da Lei 22/2019 de 11 de Dezembro.

11
adoptante. A adopção tem de ser declarada por sentença judicial, sendo pois um
parentesco legal, tendo como paradigma a filiação biológica 14. Contudo não se trata
simplesmente de uma ficção, antes precede de uma facto afectivo, uma realidade
psicológico, afectiva e social15 que merece a protecção da lei desde, desde que não
atente contra o superior interesse da criança16.

3.2. Processo da adopção

O processo de adopção é da competência do Tribunal de Menores, que trabalha em


cooperação com os Serviços de Acção Social (incluindo os Infantários). O mesmo
inicia com o requerimento dirigido ao juiz presidente do tribunal da área de residência
do menor, justificando as vantagens da adopção para o adoptando, oferecendo todas
as provas de verificação dos demais requisitos legais de que a adopção depende, e
dará entrada na respectiva secretaria judicial.17

3.3. Intervenção da Acção Social

Os Serviços da Acção Social têm um papel predominante no processo da adopção


uma vez, a selecção dos candidatos a adoptantes é um dos aspectos mais difíceis e
delicados do trabalho com adopção, talvez o que mais põe à prova a capacidade
teórica e pratica, a sensibilidade e maturidade humana do técnico.

Os organismos de segurança social assumem uma função extrema relevância para


todo o processo que conduz à constituição do vínculo adoptivo, nomeadamente no
estudo e selecção dos candidatos à adopção, na confiança administrativa com vista à
adopção, na elaboração dos inquéritos com acompanhamento da situação do menor no
período de pré-adopção, na notificação aos candidatos de que a podem requerer..., 18

14
Jorge Duarte Pinheiro, A Adopção em Portugal, in Estudos de Direito da Família e das Crianças, p. 102

15
Rui José Simões Bayão de Sá Gomes, O novo regime de adopção, pp. 6 e ss.

16
Francisco Pereira Coelho e Guilherme Oliveira, Curso de Direito da Família, vol. 2.1, p. 262.

17
Vide o art. 97.º da Lei n.º8/2008, de 15 de Julho

18
Tomé Ramião, in Guia Prático da Adopção, 2002, pág.29

12
Os Serviços Sociais realizam inquérito social, por forma a conhecer o ambiente o
ambiente familiar do requerente

Entende-se que para ser bem resolvido, o problema terá que ser visto na perspectiva
geral de uma teoria do desenvolvimento da criança e das relações familiares. Depois,
mais concretamente, terá que ser relacionado com o que pensamos da génese e da
normal evolução do desejo de ter um filho, bem como do impacto que a verificação de
uma eventual esterilidade pode ter no casal em questão. Como na maior parte dos
casais a esterilidade é apenas de um só elemento, importará perceber ainda como é
que cada um deles vive essa situação que tem afectado a possibilidade de ambos
poderem gerar uma criança.

Segundo Ferreira e Carvalho (2002, p.36) podemos observar que “no âmbito
judiciário, o Serviço Social exerce um papel de suma importância, que consiste no
fornecimento de subsídios para as decisões judiciais”. E ainda, que “o ideal seria
assistência social e psicológica, às famílias desamparadas e principalmente às mães
que manifestam a intenção de entregar seus filhos para adopção.

No processo de adopção, o Assistente Social serve como uma ponte entre a criança a
ser adoptada e, a família que pretende adoptar. É papel desse profissional, acolher,
orientar e esclarecer aos pretendentes a adopção, sobre os trâmites do processo, além
de, auxiliar a justiça na decisão final do processo adoptivo.

É um facto que, quando se pensa em Infância e Juventude a adopção é um dos


processos mais importante, pois se trata de um assunto muito delicado, ainda mais, a
inserção de uma criança/adolescente em uma família. O profissional de Serviço Social
deve ter total conhecimento das leis que circundam a adopção, bem como, todas as
normas que vigoram tal processo. Levando em consideração a seriedade do relatório
social realizado pelo Assistente Social, ao final do processo este profissional deve
dedicar tempo e compromisso aos trabalhos que envolvem estes processos, todas as
dúvidas que este profissional venha a ter devem ser sanadas para que, a análise e
avaliação sejam feita de forma correcta e não traga prejuízos finais para a
criança/adolescente.

Além da imparcialidade, o Assistente Social deve ser um profissional crítico, expondo


sempre seu ponto de vista técnico, lutando para que os preconceitos impostos pela

13
sociedade sejam minimizados. A adopção infelizmente ainda é cercada de
preconceitos, seja pelo facto de adoptar um a criança/adolescente, ou pelo perfil do
infante/adolescente que se encontra a espera de um a família. É inegável a relevância
deste profissional e todos, inclusive os próprios, devem estar cientes de quanta
responsabilidade carregam em seu trabalho.

4. Natureza Jurídica da adopção

Quanto à questão da natureza jurídica da adopção, confrontamo-nos com a concepção


privatista e a concepção publicista da adopção, e todo o espaço dogmático que as
separa61. A concepção privatista defende que a adopção é um contracto, ou pelo
menos um acto negocial, onde a declaração de vontade do adoptante é o acto nuclear
da adopção. Esta solução extrema parece enquadrar-se no instituto jurídico da
adopção nos moldes que esta apresentava, por exemplo, no Direito Romano ou no
Código Napoleónico.

O regime moçambicano vigente do instituto da adopção não se coaduna com esta


visão, visto que é só com a sentença judicial que é declarada a adopção. Mais
argumentos se entrepõem contra esta posição, nomeadamente, o facto de que
conforme a idade do adoptando é exigido o seu consentimento, além do
consentimento dos pais naturais ou do representante legal da criança, por exemplo, e
mais importante ainda nos parece, o facto de a adopção ter como fim o superior
interesse da criança permite que no caso específico o juiz decida livremente sobre a
oportunidade62 da adopção, só devendo decretar a adopção se esta apresentar de facto
reais vantagens para o adoptante.

A concepção publicista, no outro extremo, que considera a sentença, acto judicial, o


único acto relevante da adopção também não se consubstancia com a realidade do
presente instituto jurídico. Ainda que a Lei da Família expressamente afirme que a
adopção se constitui com a sentença judicial, a declaração de vontade do adoptante
não pode ser considerado como mero pressuposto, visto que sem esta nunca pode a
adopção ser decretada. PERREIRA COELHO considera a adopção como um acto
complexo, sendo a declaração de vontade de adoptante, acto de direito privado, e a
sentença, acto de direito público, os dois actos constitutivos da adopção. Desta forma

14
justifica o autor, a protecção do interesse geral pelo instituto da adopção. Há nesta
matéria um consenso alargado entre os autores.

Por fim, e antecipando-nos um pouco, compete-nos questionar a natureza jurídica da


modalidade de adopção do presente estudo, a adopção internacional. A adopção
internacional está sujeita à um procedimento que rejeita a adopção independente ou
privada e implica a intervenção de autoridades de dois estados, o estado de residência
da criança e o estado de residência do adoptante. Visto que é preciso a vontade
expressa do adoptante e a intervenção de mais de um estado, de forma a preservar o
superior interesse da criança65, os elementos que levam a classificar a adopção como
acto complexo não parecem apresentar especificidades muito relevantes na questão da
adopção internacional, pelo que esta tem a mesma natureza jurídica do instituto geral.
A maior especificidade face à adopção nacional é a duplicação das entidades
envolvidas, que torna a adopção internacional ainda mais complexa que a adopção
nacional.

15
Capitulo II- Adopção por Estrangeiros

5. Adopção por Estrangeiros vs Adopção Internacional

Falar da Adopção por Estrangeiros, não é o mesmo que falar da Adopção


Internacional, que é um tipo de adopção em que um indivíduo ou casal se torna o (s)
pai (s) legal (ais) e permanente (s) de uma criança que é nacional de um país
diferente, ao passo que na primeira, os estrangeiros interessados em adoptar crianças
devem ter residência fixa comprovada de 2 anos no mínimo e reunir todas as
condições (económicas, psicossociais e outras) que constituem requisitos relevantes
apara a adopção.19

Mas imaginemos que, chegado termino da estadia dos adoptantes no território com a
tutela do menor, e decidem levar a criança com ela, visto que se tornaram pais do
menor, será que não estaríamos em face a Adopção Internacional? Se sim, qual séria a
postura da Acção Social perante esta situação? Porque na tentativa de proteger aquilo
é o Superior Interesse da Criança proibindo o casal de levar o menor, não se estaria a
violar um os direitos do menor que é o direito a uma família?

A adopção por estrangeiros não residentes no nosso país está vedada, não somente
pela impossibilidade de avaliar os pré-requisitos/pressupostos para a adopção, como
as formalidades pós-adopção.20

Todavia, na adopção por estrangeiros residentes em Moçambique, e nestas


circunstâncias, independentemente da diferença de nacionalidades entre os adoptantes
e adoptando, a residência comum mitiga as dificuldades de avaliação supra
referenciadas, reconduzindo-a a características que a tornam mais próxima da
adopção nacional.21

De acordo com os profissionais da Acção Social a nível da Cidade Maputo, não são
aceites os pedidos de adopção submetidos por estrangeiros residentes e não residentes
no país, pelo facto de não se saber as suas reais intenções com o(a) menor, estando
19
Saide, Assma, in A Adopção de Crianças em Situação de Vulnerabilidade Social e o Papel do Assistente Social
na Cidade de Maputo, 2018, pág. 52.

20
Recurso para o Plenário do Processo n.º03/2014

21
Recurso para o Plenário do Processo n.º03/2014

16
ele(a) sujeita a risco de maus tratos, ou então com o risco de traficada, como por
exemplo, segundo a curadoria de menores, houve um caso de um casal alemão que
adoptou uma criança, mas sucede que enquanto o pai adoptivo viajava em missão de
serviço, a criança sofria maus tratos por parte da mãe adoptiva, tendo a Acção Social
ter tomado providências imediatas para salvaguardar o bem-estar da criança.

Na República de Moçambique não existe e não são realizados processos de adopção


internacional, onde o pretendente a adopção desloca-se do seu país de origem até a
Moçambique para adoptar uma criança e viajar com a mesma para viver fora do país.
A não existência deste tipo de adopção, deve-se ao facto de Moçambique não ser
signatário da Convenção de Haia, que é um documento jurídico-legal que normaliza a
adopção internacional entre os países signatários, que devem cumprir normas tanto a
nível do país de acolhimento como o de origem da criança. Esta convenção não só
normaliza a adopção internacional, como também possibilita que durante a fase de
crescimento do menor adoptado, este possa merecer do acompanhamento periódico
obrigatório até atingir os seus 18 anos de idade.

Mas é de salientar que com a aprovação da nova Lei da Família, a Lei nº22/2019, de
11 de Dezembro, abre-se o espaço para que haja Adopção Internacional no seu artigo
416º, desde que seja aprovada uma lei especial para o mesmo. Talvez seja esta uma
oportunidade para que Moçambique adira a Convenção de Haia.

Muito interesse é demonstrado em casos de adopção internacional na África,


especialmente após histórias muito divulgadas sobre adopção de crianças africanas
por celebridades como Madonna e Angelina Jolie. Os quadros legais sobre a adopção
em geral e sobre a adopção internacional em particular estão disponíveis em toda a
África e podem variar de um país para outro. A seguinte visão geral das disposições
legais implementadas pelos países africanos reflecte uma visão diversa, mas não
abrangente, de como a questão da adopção internacional é tratada no continente
africano.22

Moçambique também é alvo de muitos candidatos estrangeiros a adopção, mas como


foi antes referido, o Tribunal de Menores indefere o pedido por razões de
nacionalidade dos adoptantes. Mas se observarmos a Lei da Família, veremos que nos
requisitos da Adopção, não se faz menção da nacionalidade por parte do adoptante
22
Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/International_adoption#Africa, consultado a 03-02-20

17
como condição para adoptar, logo, entende-se que estamos perante a uma lacuna,
como também, entende-se que bastam os requisitos estipulados na Lei para que seja
aceite o pedido de adopção do estrangeiro residente.

6. No direito internacional, e em especial, na Convenção de Haia de 1993

A Convenção de Haia para a protecção de Crianças e a Cooperação em Matéria de


adopção Internacional (ou Convenção de adopção de Haia) é uma convenção
internacional que trata de adopção internacional, lavagem de crianças e tráfico de
crianças, em um esforço para proteger os envolvidos da corrupção, abusos, e
exploração que às vezes acompanha a adopção internacional. A Convenção foi
considerada crucial porque fornece um reconhecimento internacional e
intergovernamental formal da adopção internacional, a fim de garantir que as
adopções da Convenção sejam geralmente reconhecidas e produzidas em outros
países partes.

Reconhecendo algumas das dificuldades e desafios associados à adopção


internacional e para proteger os envolvidos da corrupção, abusos e exploração que às
vezes a acompanham, em 1993, a Conferência da Haia de Direito Internacional
Privado desenvolveu a Convenção sobre Protecção de Crianças e Cooperação em
respeito à adopção internacional. A Convenção entrou em vigor em Maio de 1995.23

No âmbito internacional, a primeira referência aos direitos da criança é de 1924, a


quando da proclamação da Declaração dos Direitos da Criança, também conhecida
como a Declaração de Genebra. A presente declaração não criou normas, antes
instituiu princípios, no âmbito da protecção da criança e dos seus direitos.

Se no rescaldo da 2.ª Guerra Mundial se procurou proteger e consagrar os direitos


humanos, após tão grandes violações contra os mesmos, foi natural a evolução da
protecção da criança e da família onde ela se insere, o que levou à necessidade de
regulamentação internacional para os direitos das crianças.

Com a criação da Organização das Nações Unidas, e do seu órgão específico para a
defesa dos direitos das crianças, o Fundo das Nações Unidas para a Infância,

23
Disponível
emhttps://en.wikipedia.org/wiki/International_adoption#The_Hague_Adoption_Convention_(1993)consultado a
12-02-20

18
UNICEF, aumentou-se a consciência internacional para a situação da criança e dos
seus direitos. Em 1959 é proclamada por unanimidade, como resolução da
Assembleia Geral, a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, precisando e
ampliando o conteúdo da Declaração de Genebra, e ampliando os direitos
fundamentais das crianças. Esta contém meros valores programáticos, estando
dividida em dez princípios.

Esta é a base da CDC. A convenção, enquanto documento internacional, assenta na


importância da infância, de onde resulta a preponderância do princípio da protecção
integral da criança.

Esta foi formulada pela Organização das Nações Unidas e adoptada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas, em 20 de Novembro de 1989, através da Resolução n.º
44/25, sendo a criança definido no seu art. 1.º como todo aquele com idade inferior a
18 anos. A CDC, que serviu por sua vez de grande inspiração para a CH 1993, declara
no seu preâmbulo a luta pela igualdade, justiça social e económica, e ressaltando o
dever de protecção da criança, servindo portanto como bastião de protecção da
criança e seus direitos no âmbito internacional.

A CDC trouxe também um grande avanço ao conseguir unificar no mesmo tratado


internacional normas de âmbito civil, político, social e económico, travando assim a
grande proliferação de instrumentos de direito internacional.

Contudo, sem dúvida que o maior desenvolvimento da presente convenção foi o facto
de ser um instrumento de direito internacional com carácter imperativo, um
verdadeiro tratado, isto é, as suas normas não são meras indicações morais, antes
normas efectivas. Como tal suas normas vinculam verdadeiramente os estados.

As normas da CDC têm obrigatoriedade de cumprimento para os países ratificantes 24,


pelo que estes países comprometem-se pela ratificação a adoptar as medidas internas
necessária para assegurar os direitos previstos na convenção. Se bem que a aceitação
internacional deste instrumento internacional tenha sido rápida, a sua consagração nos
direitos internos dos países que a ratificaram tem sido mais lenta. É também de notar
que apesar de a CDC ter um grande número de ratificações, tem também um grande
número de reservas e declarações, em especial sobre os arts. referentes à adopção,

24
Helena Isabel Dias Bolieiro, O Direito da Criança a uma Família: Algumas Reflexões, p. 99.

19
pelo que a efectividade da CDC nunca será a mesma em todos os países que
ratificaram a convenção25.

Nesta sede não nos podemos deixar de debruçar sobre o art. 3º da presente convenção,
visto que este consagra o princípio do superior interesse do criança, impondo que
“todas as decisões relativas às crianças, adoptadas por instituições públicas ou
privadas de protecção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos
legislativos, terão primacialmente em conta o interesse superior da criança”. O
interesse dos pais biológicos e dos adoptantes terá assim de ser sempre secundarizado
face ao interesse da criança. Daqui podemos extrair a ideia de que o superior interesse
da criança é um princípio transnacional. Este princípio, bem como outros, seria mais
tarde reafirmando na CH 1993, de que trataremos em seguida.

A CDC trata directamente da adopção nos seus arts. 20.º e 21.º 26. O art. 20.º n.º 3
prevê que a criança possa ser privada do seu ambiente familiar de forma permanente,
no caso da adopção, para proteger o seu superior interesse e fornecer-lhe uma família
mais condizente como esse mesmo interesse. O art. 21.º al. b) por outro lado prevê
expressamente a subsidiariedade da adopção internacional, e a al. c) prevê a aplicação
das mesmas garantias e dos mesmos efeitos, quer à adopção constituída no
estrangeiro, quer à adopção nacional. Também de muita relevância é ainda o art. 21.º
al. d) da CDC, que proíbe ainda o aproveitamento económico da adopção. A presente
convenção prevê ainda um órgão para supervisionar a aplicação da convenção, o
Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas.

Contudo, continuou-se a sentir a necessidade de criação de um instrumento de direito


multilateral que regulasse especificamente este instituto da adopção internacional e
que garantisse a cooperação dos países signatários, tanto os de origem, como os de
acolhimento de crianças.

Enquanto fonte de direito internacional sobre o instituto da adopção, a mais relevante


é sem dúvida a Convenção Relativa à protecção das Crianças e à Cooperação em
Matéria de adopção Internacional, de 29 de Maio de 1993, também conhecida como
Convenção de Haia de 1993, que já foi ratificado por muitos outros países27.

25
Valéria Rodinéia Zanette, adopção internacional, p. 17.

26
Nuno Gonçalo da Ascenção Silva, A adopção internacional, pp. 93 a 109

20
A CH 1993 é um instrumento internacional que prevê uma cooperação entre os países
de origem das crianças e os países de acolhimento, com vista à operacionalização da
adopção, tendo como principal objectivo, de acordo com o seu art.1.º:

a) Estabelecer as garantias para assegurar que as adopções internacionais sejam feitas


no interesse superior da criança e no respeito dos seus direitos fundamentais, nos
termos do direito internacional;

b) Estabelecer um sistema de cooperação entre os Estados contratantes que assegure o


respeito dessas garantias, prevenindo assim o rapto, a venda ou o tráfico de crianças;

c) Assegurar o reconhecimento, nos Estados contratantes, das adopções realizadas de


acordo com a Convenção.

Primeiramente, a CH 1993 instituiu no art. 4.º al. b) o princípio da subsidiariedade,


que estabelece que a adopção internacional tem carácter subsidiário, privilegiando-se
a manutenção da criança na sua família biológica e a conservação dos vínculos
familiares. Assim sendo, a decisão de transferir a criança, por meio da adopção
internacional, somente deverá ser tomada se não for possível ou recomendável uma
solução nacional. Este princípio tem também grande consagração nas legislações
nacionais, incluindo em Portugal.

A CH 1993 só tem aplicação quanto tanto a criança como o adoptante tenham


residência habitual28 em estados que tenham ratificado a convenção, sendo este o
âmbito de aplicação espacial. Doutra forma, a convenção não se aplica. Além da
residência habitual em países contratantes, para a aplicação da CH 1993 é necessária a
deslocação da criança entre os países contratantes, de outra forma estamos perante
uma adopção nacional e a CH 1993 simplesmente não se aplica.

A CH 1993, além da referência no art. 1.º ao reconhecimento das adopções realizadas


em conformidade com a convenção, dedicou o seu capítulo V a esta matéria.

Estipulou também no seu art. 23.º que as adopções realizadas em conformidade com a
convenção serão reconhecidas automaticamente pelos outros países contratantes da

27
Ann Laquer Estin, Families Across Borders: The Hague Children’s Conventions and the Case For International
Family Law in the United States, pp. 101 a 104.

28
Nathalie Meyer-Fabre, La Convention de La Haye du 29 mai 1993 sur la protection des enfants et la coopération
en matière d'adoption internationale, pp. 263 a 265.

21
convenção. Tendo portanto eficácia automática nos países contratantes, como única
excepção os casos em que o reconhecimento da adopção internacional seja
manifestamente contrária à ordem pública, art. 24.º da CH 1993. Contudo a CH 1993
não tem eficácia retroactiva, art. 41.º da CH 1993, só se aplicando a pedidos de
adopção entrepostos depois da entrada em vigor da convenção no país de origem e de
acolhimento da criança.

Com o advento da mencionada convenção alguns requisitos foram considerados


necessários para a concretização da adopção internacional, nomeadamente que apenas
estão abrangidos pela convenção as adopções que estabeleçam um vínculo semelhante
à filiação. Por este motivo, o art. 2.º n.º 2 da CH 1993 deixava de fora a agora
revogada adopção restrita, pois neste tipo de adopção não se estabelecia um vínculo
entre adoptante e adoptado semelhante à filiação, bem como em outros institutos
jurídicos, como o apadrinhamento civil, Kafala por exemplo.

A Convenção de adopção de Haia tem vários requisitos. O processo de adopção inclui


o estabelecimento de uma "Autoridade Central" para servir como o principal contacto
do país nos processos de adopção; satisfazer várias verificações de uma criança
elegível para adopção, incluindo a verificação da adequação da adopção sob as leis de
ambos os países; e fazer um esforço prévio razoável para facilitar uma adopção
doméstica concordando em usar apenas agências de adopção certificadas.29

O Artigo III descreve as responsabilidades de que todo o processo deve ser autorizado
pelas autoridades centrais de adopção designadas pelos Estados contratantes. Se
totalmente implementada em nível nacional, a Convenção oferece uma estrutura
protetora contra os riscos potenciais da adopção privada (quando os pais adoptivos
estabelecem os termos da adopção directamente com os pais biológicos ou com as
instituições para crianças localizadas no país de origem, sem recorrências. prestadores
de serviços de adopção credenciados).30

29
Milbrandt, J (2014). "Adopting the Stateless". Brooklynn Journal of International Law. Retrieved 14 July 2015

30
Isabelle Lammerant, Marlène Hofstetter, "Adoption: at what cost? For an ethical responsibility of receiving
countries in intercountry adoption", Terre des homes, 2007; HCCH 2008. The implementation and Operation of
the 1993 Hague Intercountry Adoption Convention: Guide to Good Practice – Guide No. 1, Bristol: Family
Law/Jordan Publishing Ltd

22
A Convenção é crucial porque fornece reconhecimento internacional e
intergovernamental formal da adopção internacional, trabalhando para garantir que as
adopções da Convenção sejam reconhecidas em outros países.31

Para cumprir os padrões internacionais, muitas mudanças foram introduzidas em


legislações nacionais que promulgam leis para criminalizar o acto de obter ganhos
indevidos com a adopção internacional. No entanto, os casos de tráfico e venda de
crianças com o objectivo de adopção continuam ocorrendo em muitas partes do
mundo. Especialmente durante situações de emergência, desastres naturais ou
conflitos, verificou-se que as crianças são adoptadas sem seguir os procedimentos
legais apropriados e correm o risco de serem vítimas de tráfico e venda. Também foi
levantada a questão de que uma burocratização excessiva do processo de adopção -
após a implementação da Convenção de adopção de Haia - possivelmente estabelece
barreiras adicionais à colocação de crianças.32

7. Da Autoridade Central e das entidades mediadoras

A Autoridade Central é um conceito consagrado no Direito Internacional e visa a


determinar um ponto unificado de contacto para a tramitação dos pedidos de
cooperação jurídica internacional, com vistas à efectividade e à celeridade desses
pedidos. A principal função da Autoridade Central é buscar maior celeridade e
efectividade aos pedidos de cooperação jurídica internacional civil. Para isso, recebe,
analisa, adequa, transmite e acompanha o cumprimento dos pedidos junto às
autoridades estrangeiras. Essa análise leva em conta a legislação nacional e os
tratados vigentes, bem como normativos, práticas e costumes nacionais e
internacionais.33

Se Moçambique ratificasse a CH 1993, poder-se-ia designar a Direcção-Geral da


Acção Social como autoridade central para tratar desta matéria, o que seria mais
logico visto que trata-se sobre a matéria da adopção.

31
Disponível emhttps://en.wikipedia.org/wiki/International_adoption#The_Hague_Adoption_Convention_(1993)
consultado a 27-04-20
32
Elizabeth Bartholet, International Adoption: Current Status and Future Prospects, 1993, p. 95

33
Disponível emhttps://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-internacional/autoridade-central-1 consultado
a 21-05-2020

23
A existência da Autoridade Central facilita a identificação das contrapartes nacionais
e estrangeiras, que sabem a quem se dirigir em questões relacionadas à cooperação
jurídica internacional no seu próprio país e, no caso das autoridades centrais
estrangeiras, também no exterior.

Uma das grandes funções da AC é inspeccionar as entidades mediadoras acreditas e


autorizadas, das quais falaremos em seguida, e comunicar ao Secretariado Permanente
da Conferencia da Haia de Direito Internacional Privado os dados destas mesmas
entidades mediadores.

8. Adopção por Estrangeiros ou Internacional noutros países/ Direito


Comparado

8.1. Portugal

Esta modalidade de adopção internacional encontra-se na secção II do Capítulo III da


Lei n.º 143/2015, de 8 de Setembro, dos arts. 82.º a 89.º, só sendo permitida no caso
de a adopção não poder ocorrer em Portugal. O legislador restringiu esta forma de
adopção, com garantias substancias e em que o superior interesse da criança é tido em
conta.

Consagra todo o art. 82.º a aplicação do princípio da subsidiariedade nesta


modalidade de adopção internacional, relevando maior preocupação em firmar este
princípio nesta vertente que implica a deslocação de crianças residentes em Portugal
para o estrangeiro. Ainda neste art.º. estabelece muito claramente as situações em que
considera que será viável a adopção em Portugal, e portanto não viável a adopção
internacional, com um escopo temporal relativamente curto.

O art. 83.º do RJPA só admite esta modalidade de adopção no caso de cumprimentos


dos requisitos expostos, todos eles visando o superior interesse da criança. A al. c) é
de relevar, pois reproduzindo quase textualmente o art. 1974.º n.º 1 do CC, não
reproduz a questão de não envolver um sacrifício injusto para os outros filhos do
adoptante, deixando em aberto esta possibilidade

Mas é também de revelar que apenas as outras duas als. tem ser comprovadas
documentalmente, segundo o art. 84.º n.º 3 do RJPA. Os arts. ss. vão contextualizando

24
o processo de adopção, que envolve grande cooperação e colaboração entre as
diversas entidades envolvidas. A verdade é que em situações transnacionais o superior
interesse do menor é mais difícil de apurar e é preciso uma cooperação reforçada das
entidades envolvidas.

O RJPA criou também a Autoridade Central para adopção Internacional, sendo esta
uma das entidades competentes em matéria de adopção. O legislador define a presente
autoridade como a responsável pelo cumprimento dos compromissos assumidos por
Portugal na Convenção de Haia, de Maio de 1993. Apesar de ser o RJPA o primeiro
diploma legal a tratar exaustivamente da AC, consagrando e explanando de forma
muito clara as suas competências, esta figura não é nova no regime jurídico
português.

Com a ratificação da CH 1993 em Portugal, e cumprindo o art. 6.º da CH 1993, foi


designada a Direcção-Geral da Segurança Social, da Família e da Criança como
autoridade central. Ainda anteriormente à ratificação, segundo o art. 29.º n.º 1 al. b)
do DL n.º 185/93, de 22 de Maio, era a Direcção-Geral da Acção Social a autoridade
central portuguesa nesta matéria.

Em Portugal existem uma autoridade central e vários organismos acreditados. A


autoridade central do país é o Instituto de Segurança Social, I.P, designada no âmbito
da CH 1993, e nos termos do art. 3º, nº 2, alínea x) do DL nº 83/2012, de 30 de
Março. Quanto a organismos acreditados (estando os mesmos no âmbito do art. 12º da
CH 199343), existem dois que estão autorizados a intervir em países de origem: a
Associação Emergência Social e a Bem Me Queres – Associação de Apoio à adopção
de Crianças; e quatro organismos estrangeiros que estão autorizados a intervir em
Portugal: Agence Française de L’adoption, AGAPE - Onlus, Het Kleine Mirakel e
Nederlandse Adoptie Sticheting (NAS): francês, italiano, belga e pertencente aos
Países Baixos, respectivamente.

8.2. Angola

A Lei angolana permite que estrangeiros possam adoptar menores de nacionalidade


angolana, condicionada, contudo a que a adopção seja autorizada pela assembleia do
povo (cfr. artigo 204.º CFA).

25
O preenchimento das condições para adoptar e para ser adoptado, é certificada pelo
Instituto Nacional da Criança (INAC). A confiança da criança aos candidatos é
decretada pelo Tribunal de Família que decretará também a adopção após aprovação
da Assembleia Nacional. Efectivamente, é necessário que a Assembleia do Povo se
pronuncie positivamente quanto á adopção, e as regras para que a mesma seja
decretada, são apertadas a fim de evitar o tráfico internacional de crianças.

Também os adoptantes estrangeiros ficam condicionados ao preenchimento de certos


requisitos, os mesmos exigíveis aos cidadãos angolanos para serem habilitados a
adoptar. São sujeitos a avaliações sociais e psicológicas.

Recebida a candidatura, o organismo da segurança social, verificados os requisitos


legais, emite e entrega-lhe um certificado da comunicação e do respetivo registo.

Posteriormente é feito um estudo sobre a personalidade, saúde, idoneidade para criar e


educar o menor e a situação familiar e económica do candidato e das razões
determinantes do pedido de adopção.

Da mesma forma, um cidadão angolano pode nas mesmas condições, adoptar um


menor residente no estrangeiro. Este menor, ao ser adoptado plenamente por
nacionais angolanos, adquire nacionalidade angolana, nos termos do artigo11.º da lei
n.º 1/05 de 1 de Julho (Lei da nacionalidade- Angola).

8.3. Brasil

No direito brasileiro, Luiz Carlos de Barros Figueiredo, relata que a primeira


referência sobre uma adopção internacional no Brasil foi feito por J. M. Carvalho
Santos, aludindo a um caso de uma criança gaúcha adoptada por um cidadão italiano,
nos idos de 1927 (2002, p. 37).

O art. 1.629 do Código Civil prescreve que “a adopção por estrangeiros obedecerá aos
casos e condições que forem estabelecidos em lei” (OLIVEIRA, 2005, p. 133).34

A lei a que se refere o artigo é o Estatuto da criança e do Adolescente – ECA, que traz
as directrizes para se realizar uma adopção no Brasil por estrangeiros.

34
OLIVEIRA, Juarez de. Código Civil. 47ª Edição. Editora Saraiva, 2005. pág. 133

26
Em seu artigo 31, o ECA, como é popularmente conhecido, legisla que “a colocação
em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na
modalidade de adopção” (OLIVEIRA, 2005, p. 905).

Este artigo impede até o caso de guarda temporária no estágio da convivência previsto
no art. 46 §2º do mesmo Estatuto, tratando-se na realidade de verdadeira articulação
jurídica para evitar que o pretenso adoptante possa pleitear eventual direito sobre
aquela criança ou adolescente, quando o que a lei permite é apenas uma expectativa
de direito (CURY, 2002).35

Na verdade, não se trata de distinção entre nacional e estrangeiro, e sim uma forma de
proteger a cultura e a raça/etnia da criança, adolescente ou adulto.

Para se efectivar a adopção por estrangeiros de maneira correcta e eficaz, são


necessários vários requisitos, estabelecidos por lei. Todos os actos serão assistidos
pelo Poder Público, conforme a Constituição Federal em seu art. 227 §5º “a adopção
será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições
de sua efectivação por parte de estrangeiros (OLIVEIRA, 2005, p. 692).36

O adoptante, no caso estrangeiro não domiciliado no Brasil, ou brasileiro domiciliado


no exterior, terá que preencher as seguintes exigências:

 “ A capacidade genérica do adoptante, de acordo com sua lei pessoal;

 A capacidade específica, definida pela lei do local em que ocorrerá o processo de


adopção (locus regit actum);

 Diferença de idade entre adoptante e adoptando de, no mínimo, 16 anos;

 Habilitação para adopção, mediante documento expedido pela autoridade


competente do domicílio do adoptante, conforme as leis do seu país.”

Importa salientar que além destas exigências, outras mais podem ser necessárias:

 A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,


poderá determinar a apresentação do texto pertinente à legislação estrangeira,
acompanhado de prova da respectiva vigência;
35
Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-153/adocao-de-brasileiros-por-estrangeiros/

36
OLIVEIRA, Juarez de. Código Civil. 47ª Edição. Editora Saraiva, 2005. pág. 692

27
 Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos autos devidamente
autenticados pela Autoridade Consular, observados os tratados e convenções
internacionais;

 Antes de consumada a adopção, não será permitida a saída do adoptando do


território nacional;

 A adopção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de


uma comissão estadual judiciária para instruir o processo competente e à qual
competirá manter registro centralizado de interessados em adopção;

 Os menores adoptados manterão sempre sua nacionalidade brasileira. Será


solicitada aos pais adoptivos autorização para matrícula consular do adoptado,
após a conclusão do processo de adopção.

No caso do estágio de convivência previsto no art. 46 §2º do ECA, o estrangeiro


residente ou domiciliado fora do país cumprirá, no território nacional, no mínimo 15
dias para crianças de até 2 anos de idade e, no mínimo 30 dias, quando se tratar de
adoptando acima de 2 anos de idade.

Os artigos 51 e 52 tratam especificamente sobre a adopção internacional,


estabelecendo condições e regras próprias para a modalidade:

“Art. 51. Considera-se adopção internacional aquela na qual a pessoa ou casal


postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da
Convenção de Haia, de 29 de Maio de 1993, Relativa à protecção das Crianças e à
Cooperação em Matéria de adopção Internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo
no 1, de 14 de Janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de Junho
de 1999. (Redacção dada pela Lei nº 12.010, de 2009)

§ 1º. A adopção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no


Brasil somente terá lugar quando restar comprovado: (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009).

I – que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto;


(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009).

28
II – que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou
adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros mencionados
no art. 50 desta Lei; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009).

III – que, em se tratando de adopção de adolescente, este foi consultado, por meios
adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado o
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009).

§ 2º. Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos
de adopção internacional de criança ou adolescente brasileiro. (Redacção dada pela
Lei nº 12.010, de 2009).

§ 3º. A adopção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais


Estaduais e Federal em matéria de adopção internacional.”

O interessado por adopção deverá ser representado por uma entidade estrangeira
habilitada, segundo a lei brasileira, e actuar no Brasil no campo de adopções, uma vez
que é vedado ao pretenso adoptante realizar o pedido directamente.

Essas entidades devem ser credenciadas tanto no país de origem do adoptante quanto
no país do adoptado. Para funcionar no Brasil, estas deterão uma autorização
específica data pelo Ministério da Justiça, e serão controladas pela Autoridade
Central, conforme art. 12 da Convenção de Haia:

“Um organismo credenciado em um Estado Contratante somente poderá actuar em


outro Estado Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de
ambos os Estados”. (BRASIL, 2006).

Através dessas entidades, o pretenso adoptante estrangeiro será preparado, não só para
o acto legal de adoptar, mas para receber em seu lar criança de etnia diversa da sua.

Como exemplo dessas organizações, pode-se citar a “Associazione Amici Del


Bambini” – Associação amiga da criança (tradução livre) – AiBi Brasil, uma
Organização Não Governamental de Voluntariado – ONG italiana, a qual foi
constituída com o escopo de intermediar adopção de brasileiros por italianos.

29
Todavia, para processar o lado burocrático do trâmite adoptivo, as organizações
recorrem as Comissões Estaduais Judiciárias, que se tornaram uma realidade notável.

São instituídas como CEJAs (Comissão Estadual Judiciária de adopção) ou CEJAIs


(Comissão Estadual Judiciária de adopção Internacional), funcionando tanto com
relação aos nacionais como aos estrangeiros, outras apenas aos últimos, como
determina o art. 52.

Apesar dos esforços do ECA em matéria de adopção internacional, o que se via antes
deste ordenamento era muitas vezes um “mercado” de crianças, chamado “tráfico
internacional” para os mais variados fins.

Chegava-se ao extremo de um estrangeiro viajar para seu país de origem levando


consigo uma criança, sem ao menos ser preparado psicologicamente ou até mesmo
moralmente para criá-la, tendo como requisito tão somente a aparência.

8.4. México

O México é parte da Convenção de Haia para a protecção de crianças e a cooperação


em matéria de adopção internacional (Convenção ou Convenção sobre adopção de
Haia). O processamento de adopção internacional nos países da Convenção é feito de
acordo com os requisitos da Convenção; a legislação de implementação dos EUA, a
Lei de adopção Internacional de 2000 (IAA); e os regulamentos de implementação da
IAA; bem como a legislação e regulamentos de implementação do México.

A Autoridade Central do México é composta por várias entidades, incluindo duas


autoridades federais, além de uma autoridade de adopção em cada um dos 31
estados. As duas autoridades federais são o Secretário de Relações Exteriores,
ou Secretaria de Relações Exteriores (SRE), que emite documentação importante da
Convenção de adopção de Haia, incluindo o Certificado do Artigo 23, e o Sistema
Nacional para o Desenvolvimento Integral da Família, ou Sistema Nacional para el
Desarollo Integral da Família (DIF), que coordena a política nacional de bem-estar
infantil e familiar, incluindo o processamento de casos de adopção doméstica e
internacional e a autorização de prestadores de serviços de adopção estrangeiros no
México. Ambas as entidades são federais e estão sediadas na Cidade do México.

30
Além das duas autoridades federais mencionadas acima, as adopções internacionais
também devem envolver um dos 31 escritórios estaduais do DIF, um em cada estado
mexicano. Os escritórios estaduais do DIF emitem as cartas dos artigos 16 e 17,
importantes documentos da Convenção de Haia para adopção. O código civil em cada
estado pode variar, e os possíveis pais adoptivos precisam estar cientes e cumprir as
leis aplicáveis do estado do qual planejam adoptar. Embora os escritórios estaduais e
regionais do DIF desempenhem um papel importante nos casos de adopção
internacional, todas as adopções internacionais devem ser processadas em
coordenação com o escritório nacional do DIF e a SRE, que são as entidades com
autoridade para certificar a conformidade da Convenção para adopções internacionais.

8.5. Suécia

A Suécia tem uma longa tradição de adopções entre países - famílias adoptivas e
adoptados são uma característica tangível de nossa sociedade. As famílias suecas
adoptam crianças de outros países desde 1960. Mais de 48.000 crianças encontraram
uma família e um lar na Suécia.

A Suécia tem a maior proporção per capita de adoptados internacionais do mundo. Na


prática, isso significa que a grande maioria dos suecos tem experiência pessoal de
adopção. Há uma boa chance de haver um parente, amigo ou vizinho que adoptou ou
é adoptado. A adopção é uma forma aceita e bem estabelecida de formar uma família
na Suécia.

As primeiras gerações de adoptados já cresceram. Muitos deles, em diferentes


contextos, optaram por compartilhar suas experiências com as gerações mais jovens e
famílias em processo de adopção. Vários adultos adoptados ocupam um lugar de
destaque na vida pública na Suécia e se tornaram conhecidos como autores, políticos,
jornalistas, músicos e esportistas. Existem muitos modelos para jovens adoptados. Os
adoptados são representados em toda a sociedade sueca.

Uma vez concluído o processo de adopção, a criança adquire os mesmos direitos


como se tivesse nascido na família. As famílias adoptivas têm, portanto, direito aos
mesmos benefícios sociais que as outras famílias. Eles podem ficar em casa com a
criança e receber uma compensação financeira por 16 meses. Os pais podem obter
esse benefício a partir do dia em que a criança é colocada sob seus cuidados. Os pais

31
adoptivos solteiros podem receber um subsídio para pais solteiros. Ao adoptar de
outro país por meio de uma organização de adopção autorizada, você tem direito a um
subsídio de adopção.

Todas as famílias na Suécia recebem um abono de família para crianças até 16 anos
de idade, que pode ser prolongado até 20 anos de idade se a criança estudar. Além
disso, todas as crianças na Suécia têm direito à educação pública gratuita, incluindo o
nível universitário. A merenda escolar é fornecida gratuitamente até o ensino médio.

Os cuidados de saúde e odontológico também são gratuitos para as crianças e os


medicamentos são subsidiados. Os pais têm direito a benefícios parentais temporários
quando cuidam de um filho doente.

Além disso, a Lei dos Serviços Sociais exige que seja dada atenção especial às
famílias com filhos adoptivos.

A Autoridade de Direito da Família e Apoio aos Pais (MFOF) é uma autoridade


governamental subordinada ao Ministério da Saúde e Assuntos Sociais. O MFOF
também é a Autoridade Central sob a Convenção de Haia de 1993 sobre a Protecção
de Crianças e Cooperação em relação à Adopção Internacional. É tarefa do MFOF
estabelecer uma operação de adopção internacional de alta qualidade na Suécia. Em
particular, o MFOF deve monitorar se a intermediação de adopção internacional na
Suécia é conduzida de acordo com a lei e o princípio do melhor interesse da criança,
conforme expresso na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e
na Convenção de Haia de 1993.

9. Adopção por estrangeiros em países não-contratantes da Convenção de Haia

É nesta sede importante relembrar que a CH 1993 prevê no seu art. 39.º n.º 2 que os
países contratantes podem celebrar com outros países contratantes acordos, tendo em
visto favorecer a aplicação da CH 1993 nas suas relações reciprocas. Um exemplo
deste tipo de acordo é o Protocolo de Cooperação entre as autoridades centrais de
Portugal e da República da Eslováquia37, para promover a tramitação de processos, a
colaboração institucional e a partilha de boas práticas.

37
Disponível em http://www.segsocial.pt/documents/10152/7162170/Protocolo_eslov
%C3%A1quia_2014/4d379309-eb59-4cb8-b3acabff8345418f. Consultado a 26-05-2020

32
Nada impede os acordos judiciários bilaterais entre e com países não contratantes da
CH 1993, por exemplo, um acordo entre Moçambique e um outro país não-ratificante
da CH 1993, para regular o processo de adopções internacionais entre estes países.
Moçambique aderiu à Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969.
Assim, pode celebrar acordos jurídicos bilaterais com efeitos entre as partes,
acordando a realização de adopções fora do contexto da CH 1993.

É importante também relembrar que não existe norma jurídica que impeça as
adopções internacionais entre países não-contratantes da Convenção de Haia.

10. Vantagens e Desvantagens da Adopção por Estrangeiros

A adopção por pais estrangeiros, disseminada como adopção internacional, é instituto


jurídico de ordem pública, também vinculado ao direito privado, o qual concede à
criança ou adolescente em estado de abandono a possibilidade de integrar uma
família, ainda que em país distinto do que nasceu, desde que adimplidas certas
condições dispostas em pactos entre os Estados envolvidos e na legislação interna do
país do adoptando.38

Inegavelmente a adopção por estrangeiros ou internacional, afasta a criança da sua


cultura de origem, uma vez que a leva para outra sociedade com cultura e idiomas
diversos, facto que se agrava e deve merecer cuidado, sempre atentando-se ao melhor
interesse do menor para afastar a prejudicialidade destes factores.

Em suma, adopção por estrangeiros ou internacional, se mostra como uma vantagem


àqueles que não encontram uma família adequada em seu estado de origem. Ou seja,
melhor ser adoptado por um estrangeiro, ir para um país relativamente “estranho” do
que nunca ter contacto com o instituto da família.

10.1 Adopção por Estrangeiros e o Tráfico de Crianças e Adolescentes

Não poderíamos deixar de escrever neste trabalho sobre um assunto muito polémico
quando se fala em adopção por estrangeiros ou internacional: o tráfico de crianças e
adolescentes.

38

33
A adopção reveste-se de todas as exigências e formalidades previstas na lei e exige a
intervenção da autoridade judiciária, à qual incumbe apreciar, decidir e controlar
todos os actos para a realização desse acto. A adopção em Moçambique consiste em
registar o filho de outra pessoa como se fosse seu, seguindo todos os trâmites legais
desde a candidatura até o estabelecimento da filiação.

Adopção internacional e tráfico internacional de crianças são formas de agir


inteiramente distintas e encontram-se em polos opostos, embora ambos estejam
interligados por se destinarem, geralmente, à colocação de crianças em lares
substitutos no exterior.

Por exemplo, em Brasil um dos grandes problemas é o tráfico internacional de


crianças e adolescentes. É uma triste realidade brasileira. Este é ilegal e torna
impossível a fiscalização psico-social das crianças, promovendo sua retirada ilegal do
país, intervindo no seu interesse superior. Isto se dá por falta de rigor em processos de
adopção internacional.

Capítulo III- Superior Interesse do Menor

11. Aproximação contextual

Este princípio, consagrado no artigo 47º da CRM) e no artigo 7º da Lei de Protecção


e Promoção dos Direitos das Crianças, continua não sendo adequadamente integrado
em todas as disposições legais nem sendo implementado na prática nas decisões
políticas, económicas, judiciais e administrativas.

É o interesse da criança que legitima a intervenção do Estado, tendo este o dever de


oferecer à criança as condições que lhe permitam desenvolver a sua personalidade,
ainda em formação, de modo socialmente responsável e de promover, na maior
medida do possível, a realização dos seus direitos. Aliás, o princípio do superior
interesse da criança deve ser considerado tanto nas decisões e acções estaduais
como judiciais. Face ao exposto, se depreende que aquando da tomada de uma
posição que diga respeito à uma criança, surge o interesse dessa mesma criança
como critério orientador para a tomada dessa decisão, além do interesse geral.

34
Importa também realçarmos que o superior interesse da criança não é um conceito
imutável, variando com os costumes de cada sociedade. Mas mesmo mantendo o
objectivo de protecção da criança, enquanto sujeito de direitos, o superior interesse
da criança não poderá ser um conceito absoluto, que valha para absolutamente todos
os casos. Com a evolução dos direitos da criança, também o conceito de superior
interesse da criança tem de necessariamente evoluir. Estamos portanto perante um
conceito evolutivo e dinâmico.

Uma vez que é impossível prever todas as situações a que se pretende dar resposta, a
única resposta possível é um conceito indeterminado, que permite assim uma
adaptabilidade das normas às situações da vida. É assim utilizado de forma a
permitir ao decisor jurídico alguma discricionariedade para observar o seu
significado em cada caso concreto, designadamente, às circunstâncias que rodeiam a
vida do criança e da sua família.

Como tal, o superior interesse da criança é um conceito indeterminado que depende


da valoração casuística. Um ponto que vale também a pena esclarecer, é que o
superior interesse da criança não deve ser analisado apenas em relação à
contemporaneidade da decisão, antes devem ser também levadas em conta o futuro e
as necessidades futuras da criança no momento da decisão. É fundamental que na
concretização do conceito jurídico indeterminado que é o interesse superior da
criança, se tenha em consideração o caso concreto e todos os factores a ele
inerentes, alcançando-se, então, o resultado almejado que será a promoção e
protecção dos direitos da criança. Para tal, a importância da participação da criança,
a quem aludimos acima, mostra-se fundamental.

O juiz terá portanto, no âmbito judicial, de preencher o conceito de superior


interesse da criança através de juízos de valor e de experiência que, em face do caso
concreto, determinam a escolha de uma solução concreta. Mas o facto é que se
depende de juízos de valor e de experiência do juiz, a prática judicial pode assumir
contornos distintos consoante a mentalidade e a sensibilidade do juiz, podendo por
em causa o princípio da igualdade e a da segurança jurídica, por estar dependente
das convicções pessoais e preconceitos dos juízes.

Para que possa ser alcançado o superior interesse da criança, é fundamental afastar o
arbítrio do juiz, e a insegurança jurídica, garantindo a efectivação dos direitos da

35
criança. Contudo, seguindo alguma doutrina também não se pode afirmar que o juiz
tenha total discricionariedade no preenchimento do conceito. Ainda que se permita
alguma discricionariedade na interpretação do caso concreto, para escolher uma
entre várias opções igualmente válidas, dentro do superior interesse da criança
podemos distinguir entre diferentes zonas de valoração. E o núcleo do conceito120 é
passível de ser preenchido através do recurso a valorações objectivas. Isto é, por
exemplo, se no caso concreto uma opção para o destino da criança a colocar em
perigo a vida ou ameaçar a sua saúde física ou mental, não restam dúvidas de que o
interesse daqueles consiste na sua retirada do agregado familiar, o juiz terá de
decidir por outra opção. Ao que concerne ao este núcleo o juiz está absolutamente
vinculado.

É a parte do superior interesse da criança que não corresponde ao núcleo do


conceito que verdadeiramente depende do caso concreto e da valoração do juiz.
Quando falamos da necessidade de materialização e densificação do superior
interesse da criança, é em relação a esta parte do conceito. Esta terá assim de passar
pelas exigências naturais da criança que precisam de ser assegurados, os seus
direitos e interesses. Exigências como as necessidades físicas, afectivas, intelectuais
e materiais da criança, e tendo em conta condicionantes como a sua idade, sexo, e o
grau de desenvolvimento físico e psíquico, a continuidade das relações afectivas da
criança, etc.

O superior interesse da criança não está exclusivamente guiado para o bem-estar


material ou financeiro, também se deve ponderar o desenvolvimento da criança de
uma forma sã e equilibrada, em termos morais, educacionais, psicológicos e físicos.
O que é fundamental é garantir o desenvolvimento harmonioso da criança,
proporcionando-lhe as melhores oportunidades de estabilidade emocional, equilíbrio
psíquico e condições para o seu futuro.

Apesar da grande utilização deste princípio pelo legislador, a verdade é que não há
elementos que possam ajudar na definição uniforme do superior interesse da
criança. Também é verdade que uma definição rígida e uniforme não serviria para
todos os casos, pois a realidade supera sempre a imaginação do legislador, e
impediria a aplicação efectiva do princípio. Assim, tem de ser sempre conferida ao
juiz, no caso concreto, uma certa discricionariedade na concretização do princípio

36
do superior interesse da criança. O que não impede que a sua decisão seja baseada e
justificada em factores que deverão ser ponderados no caso em concreto.

Antes de avançarmos mais, compete também relembrar que o juiz não terá, em
princípio, conhecimentos suficientemente específicos para analisar determinados
factos em causa. Daqui decorre a importância dos peritos, psicológicos,
pedopsiquiatras, técnicos da segurança social e etc., que no terreno e contactando
com as crianças, através dos seus relatórios, apresentam muitas vezes a base para as
decisões judiciais em matéria de direito da família e menores.

O conceito de interesse da criança vária necessariamente com as perspectivas


pessoais e os pressupostos teóricos. Mais uma vez, importa que cada um diga
claramente em que posição é que se coloca. Também nem sempre é fácil saber, na
prática, quem deve ajuizar do interesse da criança.

Para LABORINHO LÚCIO, o superior interesse da criança deve ser analisado numa
“tripla dimensão”, como figura jurídica abstracta, fonte de direito e realidade de
facto. Como figura jurídica abstracta, pois como constata é possível fazer “coincidir
o interesse da criança com o conjunto dos seus direitos já conhecidos, e com o seu
reconhecimento como sujeito de direitos”. Como fonte de direito, porque gera
“novos direitos da criança” assumindo a “dimensão de fonte de direitos da criança”
e como realidade de facto quando assume “a sua real dimensão concreta” que será o
“concreto interesse superior da criança que será tido «primacialmente» em conta na
formação daquela decisão” 39.

O superior interesse da criança foi pela primeira vez utilizado no Código Civil
Francês de 180440, contudo é só a partir da sua utilização na CDC de 1989, e em
especial do seu art. 3.º n.º1, sendo esta o tratado que tem o maior número de
ratificações de entre os tratados sobre os direitos humanos, que este princípio passou
a constituir um conceito comum no direito dos menores, tanto internamente como
internacionalmente.

39
LABORINHO LÚCIO, “As Crianças e os Direitos –O Superior Interesse ..., op. cit., pp. 186 e 187.

40
Catarina Tomás, Convenção dos direitos da criança: reflexões críticas, p. 129.

37
O facto de conter mais que meras indicações morais, e verdadeiramente
comprometer os estados com os direitos e especificidades da infância, alterou o
paradigma sobre a criança, que se passou a considerar como verdadeira titular 41 de
direitos e liberdades fundamentais. Assim, foi posto fim ao tom paternalista que até
aí imperava nas declarações de 1924 e 1959, apesar das referências ao superior
interesse da criança nestas declarações.

O interesse superior da criança na CDC superou o conceito tradicional de protecção,


para um verdadeiro conceito de direitos individuais, em que a criança é considerada
como sujeito de direitos42, e não objecto dos mesmos. A criança passou a ser
considerada com um ser autónomo e completo, embora diferente do adulto, sendo
essa diferença identificadora. Afinal, uma criança não é um adulto em miniatura 43.

A criança, então enquanto sujeito de direitos, pode exercer os seus direitos em


função da sua progressiva idade, maturidade e desenvolvimento das suas
capacidades.

Os pais devem guiar-se também por este princípio para exercerem as suas
responsabilidades perante os filhos, funcionando o interesse da criança como limite
ao poder dos adultos, que estão em posição de tomar decisões pela criança
unicamente pela inexperiência da mesma.

Este princípio promove o direito da criança de exprimir livremente a sua opinião


sobre questões que lhe digam respeito e de ver essa opinião tomada em
consideração, segundo o art. 12.º da CDC.

Esta concepção também influenciou alterações por exemplo no poder paternal, que
passou a ser entendido como um poder funcional, concedendo espaço de autonomia
à criança face aos pais, fundamentando-se na protecção e promoção do
desenvolvimento integral da criança, e não na incapacidade geral de agir da mesma.

Visto que a CDC consagrou o superior interesse da criança como princípio-guia do


exercício das responsabilidades privadas em relação às crianças, bem como das
41
Anabela Miranda Rodrigues, O Superior Interesse da Criança, p. 36.

42
Marco Alexandre Saias, A convenção sobre os direitos da criança, p. 821.
43
Maria Clara Sottomayor, A noção da criança na lei e nas ciências sociais, p. 11.

38
públicas, também os estados devem prosseguir as suas actuações com este princípio
em consideração.

Não podemos deixar de concordar que o meio mais seguro e eficaz de garantir o
verdadeiro alcance do conceito de superior interesse da criança, que por natureza,
terá sempre alguma margem de indefinição, é de facto positivar um conjunto de
critérios que poderiam ser verificados nas situações concretas. Deverá assim no
futuro procurar-se enunciar, na lei, um maior número de princípios ou critérios,
entendidos como fundamentais para o desenvolvimento integral da criança, de
forma a poder ser preenchido, com alguma ajuda da doutrina e jurisprudência, ainda
que casuisticamente, o conteúdo do superior interesse da criança.

12. A Adopção por Estrangeiros e o Principio do Superior Interesse do Menor

Hoje é por todos aceite que a adopção é um recurso a utilizar na defesa do bem da
criança e não no interesse dos adultos, como antigamente muitas vezes acontecia.
No entanto, isto não pode ser afirmado de uma forma rígida, porque o interesse da
criança a adoptar exige que se tenham em conta e se promovam certos interesses dos
adoptantes. Uma relação de paternidade-filiação só pode ser boa e proporcionar a
felicidade se for boa para as duas partes. 44 Uns pais frustrados, decepcionados,
tensos e culpabilizados não podem tornar um filho feliz. O bem-estar só pode
resultar do bom funcionamento global de todo o agregado familiar. Segundo Diniz,
se isto é verdade, como ele está convencido que é, terá grandes implicações práticas
nas decisões a tomar, sobretudo quanto à maneira de acolher e seleccionar os
candidatos a adoptantes.

Nos arts. 3.º e 21.º da CDC conjugado com o artigo 47.º da CRM, é clara a
referencia ao superior interesse da criança, enquanto princípio orientador do
processo de adopção.

Esta subordinação do instituto ao princípio do superior interesse da criança indica


ser a adopção um instituto com um fim último claro, a protecção da criança. 45

44
Diniz, João Seabra, Este meu filho que eu não tive – A adopção e os seus problemas, 1993, pág.17

45
Rabindranath Valentino A. Capelo de Sousa, A adopção : constituição da relação adoptiva, p. 114.

39
Na busca do seu fim, a adopção será decretada quando apresentar reais vantagens
para o adoptado, vantagens que têm de ser objectiva, vantagens de ordem
patrimonial e não patrimonial, sendo que deveram prevalecer as vantagens afectivas,
morais e espirituais face às económicas, desde que um mínimo de condições
económicas estiver preenchido. 46

A adopção internacional, enquanto modalidade de adopção, tem também o superior


interesse da criança como fim e deve também apresentar reais vantagens para o
adoptado. Contudo, com o objectivo de cumprir a sua finalidade, o superior
interesse da criança tem várias especificidades nesta modalidade de adopção,
inerentes à sua natureza.

A maior especificidade da adopção internacional, e das manifestações do superior


interesse da criança nesta sede, é a sua ligação umbilical com o princípio da
subsidiariedade. Em alguns países, como por exemplo em Portugal, a adopção
internacional é subordinada ao princípio da subsidiariedade, ela só é permitida
quando não seja viável no país do adoptado.

Os motivos para subordinar a adopção internacional ao princípio da subsidiariedade


não são contrários ao princípio do superior interesse da criança, antes pretendem
protege-lo e consagra-lo, colocando sim, em segundo plano, os interesses dos
adoptantes, neste caso, os com residência noutros países.

Os grandes motivos para este carácter subsidiário da adopção internacional podem ser
enunciados como os riscos de ruptura social, isto é, a ideia de desenraizamento da
criança do seu país, podendo este causar prejuízo na identidade cultural do adoptado,
e também uma certa ideia de que cada estado deve ser responsável pelas suas
crianças.

Segundo JORGE MIRANDA o direito à identidade cultural é um componente do


direito à identidade pessoal ou, mesmo, do direito ao desenvolvimento da
personalidade.47

A ideia de desenraizamento136 com a permissão da adopção internacional não é


desprovida de sentido, visto que nesta modalidade de adopção, além de legalmente
46
Rui José Simões Bayão de Sá Gomes, O novo regime de adopção, p. 15.

47
Jorge Miranda, Notas sobre cultura, Constituição e direitos culturais, pp. 17 e 18.

40
se mudar a família da criança, se muda a criança de pais, espaço geográfico
portanto, com todas as eventuais mudanças que tal implica, como a cultura, língua,
religião, meio envolvente, no fundo todas as bases da criança, fazendo um corte
profundo com o seu passado.

A identidade cultural do menor deve ser respeitada e protegida por ocasião do


processo de adopção, mas apesar disso o legislador colocou a identidade cultural da
criança na margem de discricionariedade do decisor, sendo que é a este quem
compete decidir da aplicação ou não da adopção internacional.

A identidade cultural da criança pode até ser um pouco prejudicada, se com a


adopção internacional a criança conseguir uma colocação familiar permanente,
alcançado assim o seu superior interesse. É uma questão de ponderação de valores e
que só o juiz do caso concreto poderá de facto resolver.

Observa-se que, o princípio da subsidiariedade (ou excepcionalidade) é a maior


barreira para que casais (ou pessoa individualmente considerada) consiga adoptar
um filho em outro país, que não o seu. A burocracia dos trâmites necessários à
adopção nacional, por si só, já é uma grande “muralha”; aliando tais dificuldades à
excepcionalidade da adopção internacional, fica quase impossível que uma criança,
mesmo em situações precárias, consiga um pai ou mãe estrangeiros (ou residente em
país diverso do seu).

Contudo o princípio da subsidiariedade da adopção internacional não é algo de


novo, sendo que o instituto da adopção em geral é sempre, por natureza, uma opção
subsidiaria. Num mundo ideal não haveria adopção, todas as crianças estariam com
os seus pais biológicos, sem necessidade de este estabelecessem vínculos de filiação
legais em sua substituição. Num mundo ideal a família biológica seria a primeira e
única resposta.

Mas quando a família biológica não chega, não é apenas a adopção que pode
garantir o superior interesse da criança. Existem outras formas de cuidar das
crianças. E entre a adopção nacional e a adopção internacional, a nacional é
preferida, pois acarreta menos riscos para a criança, sendo portanto a adopção
internacional subsidiária desta.

41
Aliás, considerar a adopção internacional como subsidiária da nacional é também
promover a adopção nacional, preservando a criança de um possível
desenraizamento e outros riscos inerentes.

Se compararmos as outras opções para garantir o superior interesse da criança com a


adopção internacional, em princípio, só nesta a criança vai ter o corte com a sua
identidade cultural, produzindo-se o chamado choque cultural. Contudo esta ideia
não pode, e não deve, ser usada como argumento para negar o superior interesse de
criança à uma família, que a proteja e acolha, ainda que seja em outro país.

O princípio da subsidiariedade da adopção internacional não pode assim ser


interpretado de forma estritamente formal. E necessário que esteja em conformidade
com o princípio do interesse superior da criança138. No caso concreto podem existir
circunstâncias excepcionais que exijam que a adopção internacional seja medida
primária, face a outras opções, com base no superior interesse da criança.

Por outro lado, interpretando o art. 20.º n.º 3 da já referida CDC, é clara a
preferência que deve ser dada a soluções familiares para a criança com carácter
permanente, secundarizando-se outra opções como o acolhimento familiar e a
institucionalização. Assim, a adopção internacional também não pode ser
considerada uma solução de último rácio, se bem que o referido art. da CDC termina
relembrando a importância de ao considerar as possíveis soluções para a criança,
atender à origem étnica, religiosa, cultural e linguística da mesma.

Quando já não é possível a colocação com a família biológica, a adopção nacional é


a opção preferível, pois permite uma colocação familiar permanente para a criança
no seu pais de residência habitual, Em seguida, na escala de preferência, a adopção
internacional, que permite uma colocação familiar permanente para a criança, mas
em outro país. E só depois as outras opções, que ou permitem colocações familiares
não permanentes ou colocações permanentes, mas não familiares, como a
institucionalização.

Pelos riscos que acarreta, a adopção internacional exige do legislador uma maior
concretização do que este considera o superior interesse da criança, sem bem que
nunca o legislador arrisque um definição unitária, que aliás estaria condenada à
partida. Nesta sede não são poucas as coordenadas concedidas pelo legislador para

42
no caso concreto averiguar do melhor para a criança, densificando o conceito
através de critérios, ainda que exemplificativos. Ainda que ao decisor seja conferida
a possibilidade de afastar estes critérios ou princípios, com base no superior
interesse da criança, e decidir no sentido contrário, os critérios estão lá e devem ser
utilizados. As circunstâncias associadas a cada criança e à sua real envolvência
impedem soluções unitárias, sendo sempre cada caso, um caso.

Mas todo o decisor terá sempre de verificar qual a melhor solução para a criança,
hierarquizando portanto as soluções possíveis para o caso concreto (exemplo:
família biológica, adopção, adopção internacional; institucionalização, etc.). E a
adopção internacional traz bem clara está ideia no princípio da subsidiariedade, e
nos seus afloramentos, dando-nos pistas valiosas sobre o que o legislador considera
as melhores opções para o desenvolvimento das crianças.

E terá sempre de ter em conta também as ligações psicológicas profundas que a


criança já traz, e pesando as circunstâncias, averiguar se vale a pena quebrar com o
passado, para garantir o futuro da criança, e até eventualmente perceber se os dois
podem coexistir, para o bem maior que é o interesse da criança. Este é um ponto
especialmente importante a meditar em sede da adopção, e da adopção internacional
ainda mais, pois a hipótese de manter as ligações psicológicas profundas é muito
difícil nesta modalidade de adopção.

E a audição da criança, como negar a sua importância? Especialmente nas decisões


mais difíceis, que por exemplo impliquem uma mudança de país. Ninguém saberá
melhor que a criança qual é o seu interesse. Mas ainda assim não pode ser este o
único elemento de uma decisão, é importante uma decisão que tenha em conta a
totalidade da situação da criança. Todos estes princípios, e as ideias que por detrás
deles os justificam, não são exclusivos da adopção internacional. Princípios
semelhantes, com afloramentos diferentes, existem nos vários institutos jurídicos do
nosso ordenamento jurídico que tratam das crianças e seus direitos. De outra forma
não poderia ser. Mas a adopção internacional, talvez também pela grande abertura
ao direito internacional que lhe é inerente, talvez pelo contacto necessário com
outros ordenamentos jurídicos, recebeu do legislador grande agudeza de ideias.

Sendo um conceito evolutivo, o superior interesse da criança não poderá nunca ficar
firmado em pedra. Mas tal não significa arbitrariedade. É apenas um conceito que

43
exige mais meditação, que exige o melhor de nós. Para proteger o que de mais
precioso existe entre nós. As nossas crianças.

44
Conclusão

Chegado até aqui, retornando à pergunta de partida e ao objectivo geral compete-nos


concluir que a adopção por estrangeiros permite a salvaguarda do interesse da criança
uma vez que se dará ao menor o direito de ter uma família. Porque se formos a vedar
ou restringir a adopção por estrangeiros, os infantários, orfanatos e centros de
acolhimento continuarão lotados de crianças com o probabilidade de ficarem lá para
sempre até atingirem a maioridade. Por exemplo: o Orfanato 1º de Maio conta
actualmente com 60 crianças, mas com os dados fornecidos pela Direcção da Cidade
da Acção Social, deu-se entrada 21 pedidos de pais nacionais que pretendiam adoptar.
Mas nem todos os pedidos são aceites, tendo em conta que este não é o único Centro
de acolhimentos de crianças na Cidade de Maputo. Creio que nesta situação abrindo o
espaço para a adopção por estrangeiros poderá reduzir o número de crianças que estão
a espera de ser adoptado com o desejo de ter uma família.

Em contrapartida o nosso trabalho permitiu-nos testar que a adopção por estrangeiros


pode por em risco o Superior Interesse da Criança por causa do tráfico de menores, e
por falta de mecanismo que visam o acompanhamento do menor no estrangeiro pela
Acção Social do nosso país.

Um outro aspecto que urge alterar é o da morosidade do processo de adopção, que


devido às exigências legais e sociais que o mesmo exige, torna-o demorado e
bastante burocrático. Tal burocracia, tem consequências catastróficas que conduzem
as águas do seu rio de dificuldades causando problemas inenarráveis as famílias
adoptantes, com o seu acento tónico a incidir sobre as crianças. Pois, como vimos ao
longo do estudo, a adopção visa a protecção, a promoção e a prossecução do
interesse da criança.

A adopção por estrangeiros comunga com a adopção internacional uma vez que os
pais adoptivos são estrangeiros, e estes com a tutela do menor, poderão um dia
regressar para o seu país de origem juntamente com o menor.

A adopção internacional, enquanto modalidade de adopção, tem também o superior


interesse da criança como fim e deve também apresentar reais vantagens para o
adoptado. Contudo, nos arts. 3.º e 21.º da CDC conjugado com o artigo 47.º da

45
CRM, é clara a referência ao superior interesse da criança, enquanto princípio
orientador do processo de adopção.

46
Recomendações

Em Moçambique, pouco se tem estudado sobre a Adopção por Estrangeiro ou


Adopção Internacional, tendo em conta o Superior Interesse do Menor. Com a
realização do pressente estudo, levando em considera os desafios que se enfrenta,
colocam-se as seguintes propostas/recomendações:

 Visto que a Lei da Família abre espaço para a Adopção Estrangeira, deve
procurar assinar e ratificar a Convenção de Haia relativa a adopção
internacional, ou então criar-se uma lei especifica incorporando as normas da
convenção mencionada, de modo a garantir que a criança adoptada possa
beneficiar-se do acompanhamento periódico até atingir os 18 anos de idade;

 Que apetreche a Acção Social de modo a terem mais recursos com vista a
cumprirem as suas funções, visto que á parte crucial deste processo;

 A colocação de mais profissionais para atender às demandas registadas, de


modo a dar mais celeridade nos procedimentos adoptivos;

 Para que não se registe morosidade e não conclusão dos processos, é necessário
que se cumpra efectivamente as normas estabelecidas relativas a adopção,
através de supervisão e acções de monitoria, que sejam realizados por um
profissional preparado para assumir tal actividade;

 Realização de mais estudos empíricos no campo da Adopção Internacional e o


papel do Assistente Social, juntamente com o Superior Interesse do Menor;

 Que se firmem acordos judiciários bilaterais com países não contratantes da CH


1993, para regular o processo de adopções internacionais entre e com estes
países. Moçambique pode celebrar acordos jurídicos bilaterais com efeitos
entrepartes, acordando a realização de adopções fora do contexto da CH 1993;

Que se criem autoridades centrais para que possam tramitar os processos de adopção
a nível internacional, do modo que seja feita o acompanhamento do menor adoptado
no estrangeiro.

47
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50
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Unidade Africana. Disponível em: http://www.didinho.org/CartaAfricDirBEC.pdf.

51
APÊNDICE

52
Apêndice 1. Guião de Entrevista do Tribunal de Menores da Cidade de Maputo

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS JURÍDICO-FORENSES

TRABALHO DE FIM DE CURSO

GUIÃO DE ENTREVISTA: TRIBUNAL DE MENORES, 18 de Março de 2020

Este trabalho destina-se a uma pesquisa de cunho académico, subordinado ao tema A


Adopção por Estrangeiros e o Superior Interesse do Menor, e constitui um requisito
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Ciênciasl Jurídico-Forenses
pelaUniversidade Técnica

Caso concorde em participar da pesquisa, leia com atenção os seguintes pontos:


a) Sua identidade será mantida em sigilo;
b) É livre para, a qualquer momento, recusar-se a responder às perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de qualquer natureza;
c) Pode deixar de participar da pesquisa e não precisa apresentar justificativas;
d) Caso queira, poderá ser informado(a) de todos os resultados obtidos com a
pesquisa, independentemente do facto de mudar seu consentimento em participar da
pesquisa.
e) Toda informação fornecida será usada apenas para fins de carácter académico.

INSTRUÇÕES:
O Guião contém 9 questões abertas.

53
Se acha que uma questão não se aplica, deixe-a em branco.

OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO!


1. Como é realizado o processo de adopção na Cidade de Maputo?
2. Em Moçambique, quem pode adoptar e quem pode ser adoptado?
3. Qual é o papel do Tribunal de menores nos processos de adopção de crianças em
situação de vulnerabilidade social?
4. Visto que o processo de adopção é multissectorial, quais são as instituições com as
quais o Tribunal trabalha? Como trabalha?
5. Em média, quantos pedidos de adopção são registados?
6. E quantos são concluídos com sucesso?
7. Qual é o papel do Assistente Social frente aos processos de adopção?
8. Como avalia a implementação do processo de adopção de crianças em situação de
vulnerabilidade social na Cidade de Maputo?
9. Quais são os principais desafios da Adopção na Cidade de Maputo?

54
Apêndice 2. Guião de Entrevista da Direcção da Acção Social de Kampfumo.

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS JURÍDICO-FORENSES

TRABALHO DE FIM DE CURSO

GUIÃO DE ENTREVISTA: Direcção da Acção Social de Kampfumo, 17 de


Março de 2020

Este trabalho destina-se a uma pesquisa de cunho académico, subordinado ao tema A


Adopção por Estrangeiros e o Superior Interesse do Menor, e constitui um requisito
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Ciências Jurídico-Forenses pela
Universidade Técnica de Moçambique.

Caso concorde em participar da pesquisa, leia com atenção os seguintes pontos:


a) Sua identidade será mantida em sigilo;
b) É livre para, a qualquer momento, recusar-se a responder às perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de qualquer natureza;
c) Pode deixar de participar da pesquisa e não precisa apresentar justificativas;
d) Caso queira, poderá ser informado(a) de todos os resultados obtidos com a
pesquisa, independentemente do facto de mudar seu consentimento em participar da
pesquisa.
e) Toda informação fornecida será usada apenas para fins de carácter académico.

INSTRUÇÕES:
O Guião contém 9 questões abertas.
Se acha que uma questão não se aplica, deixe-a em branco.

OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO!

55
1. O que faz a Direcção do Género, Criança e Acção Social da Cidade de Maputo?
2. Como esta organizada internamente?
3. As crianças para a adopção, como chegam aos infantários (a sua proveniência)?
Qual é o trâmite legal seguido para institucionalizar as crianças?
4. Qual é o papel da Direcção do Género, Criança e Acção Social da Cidade de
Maputo nos processos de adopção de crianças em situação de vulnerabilidade social?
5. Visto que o processo de adopção é multissectorial, quais são as instituições com
as quais a Direcção do Género, Criança e Acção Social da Cidade de Maputo
trabalha? Como trabalha?
6. Em média, quantos pedidos de adopção são registados?
7. E quantos são concluídos com sucesso?
8. Quais são os factores que determinam a adopção?
9. Qual é o papel do Assistente Social frente aos processos de adopção na Direcção
do Género, Criança e Acção Social da Cidade de Maputo?
10. Quais são as técnicas e instrumentos usados pelo Assistente Social no seu fazer

56
ANEXOS

57
Anexo 1. Extractos da Convenção de Haia de 1993

CAPÍTULO II

Requisitos para as Adoções Internacionais


Artigo 4º
As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as autoridades
competentes do Estado de origem:
a) tiverem determinado que a criança é adotável;
b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente as possibilidades
de colocação da criança em seu Estado de origem, que uma adopção internacional
atende ao interesse superior da criança;

c) tiverem-se assegurado de:


1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a
adopção hajam sido convenientemente orientadas e devidamente informadas das
consequências de seu consentimento, em particular em relação à manutenção ou à
ruptura, em virtude da adopção, dos vínculos jurídicos entre a criança e sua família
de origem;

2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu


consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se tenha
manifestado ou constatado por escrito;

3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou


compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados; e,

4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido manifestado após o


nascimento da criança; e,

d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de maturidade da criança, de:


1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente
informada sobre as consequências de seu consentimento à adopção, quando
este for exigido;

58
2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança;
3) que o consentimento da criança à adopção, quando exigido, tenha sido dado livremente,
na forma legal prevista, e que este consentimento tenha sido manifestado ou constatado por
escrito;

4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante pagamento ou


compensação de qualquer espécie.

Artigo 5º
As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrerquando as
autoridades competentes do Estado de acolhida:

a) tiverem verificado que os futuros pais adotivos encontram-se habilitados e patos para
adoptar;

b) tiverem-se assegurado de que os futuros pais adotivos foram convenientemente


orientados;

59

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