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MARGARETH DIAS MARQUES

172200016

O RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL DE 2015

MONOGRAFIA
BACHARELADO EM DIREITO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO UNIVERSITÁRIO CANDIDO MENDES - IPANEMA

RIO DE JANEIRO, JUNHO DE 2020


MARGARETH DIAS MARQUES
172200016

O RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL DE 2015

Monografia apresentada a banca


examinadora da Universidade Candido
Mendes – Ipanema como exigência parcial
para obtenção grau em Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Mestre Stefanio
Nehmy Xavier

RIO DE JANEIRO

JUNHO/2020
DEFESA DE MONOGRAFIA

MARQUES, Margareth Dias. O Recurso de


Agravo de Instrumento sob a Égide do
Código de Processo Civil de 2015. Rio de
Janeiro UCAM- IPANEMA, 2020. 47 fls.
Bacharelado em Direito.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________

Professor Mestre Stefanio Nehmy Xavier

_____________________________________

Professor Mestre Pedro Linhares Della Nina

Defendida a Monografia:

Nota:

Em: 02 | 07 | 2020
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família,


orientador, e aos grandes companheiros
de profissão que tive nessa jornada até o
presente momento, que me deram todo o
apoio necessário para que eu chegasse
aqui.
AGRADECIMENTOS

Finalmente, é chegada a hora! Após muitos anos de estudo, tarefas, provas,


estágios e dúvidas, essa etapa vai chegando ao fim, para que outras oportunidades, tão
maravilhosas quanto, possam surgir nessa estrada da vida.

Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter criado esse mundo, e ter me dado a
chance de nascer exatamente onde nasci, ter trilhado o caminho que trilhei, e ter tido a
oportunidade de encontrar as pessoas que conheci nessa vida!

Agradeço aos meus pais, por toda dedicação e esforço durante a vida, por jamais
medirem esforços para proporcionar a mim e a minha irmã oportunidades que eles
mesmos não puderam ter! Obrigada por me ensinar que o conhecimento é o maior bem
que a gente pode ter, pois ninguém é capaz de lhe tomar! Obrigada por terem me mostrado
desde sempre que lutar é preciso, e que trabalhar e correr atrás jamais será motivo de
vergonha para alguém.

Minha irmã Fernanda, muito obrigada! Mesmo sendo mais nova, me ensina muito,
me ajuda e me da o exemplo para seguir em frente. Obrigada pelas palavras firmes e
necessárias quando precisei, por ser exemplo de sucesso e pela paciência para me ouvir,
sempre!

Meu esposo, João Rafael Guerra, obrigada! Obrigada por toda a compreensão,
força, mãos dadas, elogios, lanches gostosos durante as madrugadas de estudo, conversas
sobre monografia e leis, obrigada por tudo! Não seria possível concluir essa caminhada
sem você.

Agradeço ao meu querido professor e orientador, Stefanio Nehmy Xavier, pelas


grandes aulas de processo civil, que me despertaram a paixão pelos procedimentos, em
especial pelo Processo Civil.

Agradeço aos professores Leonardo Fetter e Thatiane Kipper, pelas aulas dadas
no cursinho preparatório para a prova da Ordem, pelo conteúdo de direito processual civil
passado de forma tão leve, que estimula a vontade de estudar sempre.
Aos meus amigos, que comemoraram comigo cada passo dado, cada vitória, desde
o retorno para o curso de Direito, até a aprovação na OAB, conquistada com muito
esforço, dedicação e apoio das pessoas que amo.

Aos meus colegas de classe, amigos feitos nessa jornada.

Aos meus colegas de trabalho, de todos os locais que passei durante essa trajetória,
sempre me ensinaram e me ajudaram muito.

Não foi fácil chegar até aqui, mas com a ajuda de pessoas muito especiais, e muito
esforço, foi possível concluir essa jornada, realizando assim o sonho de me tornar
Advogada.

A todos vocês, muito obrigada.


“Quem elegeu a busca não pode recusar a
travessia”

Guimarães Rosa*.
RESUMO

O presente trabalho, tem como objetivo geral analisar as hipóteses de interpretação do


artigo 1015 do Código de Processo Civil, após a sua nova redação, com o advento da Lei
13.105/2015, o Novo Código de Processo Civil. Será feita a análise do disposto no Artigo
1015 do Código de Processo Civil, referente ao recurso de Agravo de Instrumento,
especialmente no que se refere ao cabimento e forma de interpretação do referido artigo.
Na presente monografia, utiliza-se o método dedutivo, instrumentalizado a partir de
pesquisa doutrinária e jurisprudencial a respeito do tema, buscando trazer um panorama
detalhado do tema abordado. Para tanto, será feita uma análise da legislação aplicável,
doutrinas e jurisprudências, com o fito de se analisar as hipóteses de intepretação
existentes, as recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça e as soluções existentes
para as demandas trazidas pela sociedade para apreciação do Poder Judiciário, sob a luz
dos princípios constitucionais.

PALAVRAS – CHAVE: processo civil, agravo de instrumento, interpretação,


taxatividade.
ABSTRACT

This paper aims at analyzing the hypothesis of interpretation of the article 1015 from the
Code of Civil Procedure, subsequently to its new drafting, considering the enactment of
Law no. 13.105/2015, the New Code of Civil Procedure. The provisions in Article 1015
are to be evaluated, in reference to the appeal of Bill of Review, especially regarding the
appropriateness and interpretation form to the referred article. The present paper uses the
deductive method, instrumentalized via doctrine and jurisprudence research regarding the
subject, endeavoring a detailed overview on the aforementioned theme. To that purpose,
an analysis of the applicable law, doctrines and jurisprudences will de made, intending to
evaluate the current hypothesis of interpretation, the recent ruling from The Superior
Court of Justice (STF) and the existing solutions to the demands brought by society for
the Judiciary assessment, in the light of constitutional principles.

KEYWORDS: civil procedure, bill of review, interpretation, taxativeness


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11

2 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA ............................................................................ 13

2.1 O Código de Processo Civil de 1939 ..................................................................... 13

2.2 O Código de Processo Civil de 1973 ..................................................................... 13

2.2.1 As modificações da Lei 9.139| 1995 .................................................................. 14

2.2.2 As modificações da Lei 10.352|2001 ................................................................. 15

2.2.3 As modificações da Lei 11.187|2005 ................................................................. 16

3 O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – 2015 ............................................. 17

3.1 A Análise do Artigo 1015 ...................................................................................... 18

3.2 A Crítica, Decisões Agraváveis x Não Agraváveis .............................................. 21

4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - DO ACESSO A JUSTIÇA E DEVIDO


PROCESSO LEGAL ................................................................................................... 22

5 A INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 1015 DO CPC/2015 ................................... 26

5.1 Rol Taxativo ou Exemplificativo .......................................................................... 26

5.2 Rol Taxativo e as Formas de Interpretação ........................................................ 28

6 RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA – STJ ....................... 32

6.1 A Taxatividade Mitigada ...................................................................................... 34

6.2 A Insegurança Jurídica Decorrente da Taxatividade Mitigada ........................ 36

7 O MANDADO DE SEGURANÇA COMO SUCEDÂNEO RECURSAL ........... 37

8 AS RECENTES DECISÕES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ........ 41

9 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 43

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 45


11

1 INTRODUÇÃO

A partir da vigência do Novo Código de Processo Civil, em março de 2016, foram


trazidas para o ordenamento jurídico diversas novidades e notáveis supressões no que tange
a fase recursal dos processos.

As mudanças implementadas no novo diploma legal, tiveram a finalidade de garantir


maior celeridade e efetividade a prestação da tutela jurisdicional na resolução das questões
trazidas ao exame do Poder Judiciário.

A recorribilidade imediata das decisões interlocutórias, certamente foi uma das


mudanças mais sensíveis do "novo" CPC/15, tendo em vista que o artigo 1.015, em sua
redação, limitou as hipóteses de recorribilidade imediata de forma bem significativa, se
distanciando daquilo que fora determinado da vigência do código anterior, o Código de
Processo Civil de 1973.

O Legislador, ao optar pela celeridade processual, conferiu menor importância à


princípios de grande relevância, o acesso à justiça e o devido processo legal, pois ao limitar
as hipóteses de interposição de Agravo de Instrumento, deixou de levar em consideração
algumas questões que não poderiam aguardar o deslinde da marcha processual para serem
decididas apenas em preliminar de apelação ou contrarrazões.

O presente trabalho tratará da análise do disposto no Artigo 1015 do Código de


Processo Civil, referente ao recurso de Agravo de Instrumento, especialmente no que se
refere ao cabimento e forma de interpretação do referido artigo.

Na presente monografia, utiliza-se o método dedutivo, instrumentalizado a partir de


pesquisa doutrinária e jurisprudencial a respeito do tema.

Para o desenvolvimento do trabalho, necessário se faz, ainda que de que de forma


breve, que seja demonstrada a evolução histórica do recurso de agravo de instrumento dentro
do direito processual civil brasileiro, nos códigos de 1939, 1973 e atualmente, 2015.

Logo em seguida, é abordada a questão concernente a limitação das decisões


interlocutórias impugnáveis frente aos princípios do acesso à justiça e devido processo legal.
12

O cerne do trabalho gira em torno da seguinte pergunta: O Rol das hipóteses do artigo
1015 do Código de Processo Civil é taxativo ou exemplificativo? É permitida a interpretação
extensiva do referido dispositivo? Entendendo pela taxatividade, poderia estar ser mitigada?

É demonstrada a polêmica existente entre os operadores do Direito quanto a


interpretação do disposto no artigo 1.015 do CPC/15, bem como a divergência
jurisprudencial criada por consequência das diferentes formas de interpretação defendidas
pela doutrina e jurisprudência.

Traz-se também à análise a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, no


regime geral dos recursos repetitivos, tendo como relatora a Ilustríssima Ministra Nancy
Andrigui1, que trouxe a ideia da mitigação da taxatividade do caput do artigo 1015,
inaugurando assim uma nova forma de interpretação.

Pretende-se, portanto, debater sobre as mudanças concernentes ao recurso de agravo


de instrumento no novo código de processo civil, com foco no que tange as limitações
impostas pela nova redação do diploma legal, analisando a divergência de opinião existente
na doutrina e jurisprudência, bem como a decisão proferida pelo Superior Tribunal de
Justiça.

1
BRASIL. Corte Especial. Recurso Especial nº 1704520 - MT (2017/0271924-6). Relatora: Ministra Nancy
Andrighi. 5 de dezembro de 2018. Lex: jurisprudência do STJ, 19 de dezembro de 2018.
13

2 BREVE ANÁLISE HISTÓRICA

2.1 O Código de Processo Civil de 1939

A análise histórica do direito processual civil permite-nos afirmar que o cabimento


de recurso contra decisão interlocutória, isto é, o Agravo de Instrumento, sofreu relevante
variação no transcurso do tempo.

Podemos visualizar, analisando os Códigos Processuais Civis pretéritos


(1939/1973) que havia períodos onde se admitia a recorribilidade da decisão interlocutória
de maneira mais ampla, e outros momentos onde tal decisão não era passível de
impugnação2.

O Agravo de Instrumento, no código processual civil de 1939, era cabível contra as


decisões interlocutórias expressamente indicadas no artigo 842, deste diploma legal,
podendo-se afirmar que há entre os códigos de 1939 e 2015, semelhança com relação a
taxatividade quanto ao cabimento da interposição do recurso de agravo3.

Assim como no atual diploma legal, o CPC de 1939, não permitia a interposição de
agravo contra qualquer decisão, mas apenas contra as decisões indicadas no rol do artigo
8424.

Com relação ao prazo, o Agravo de Instrumento no CPC de 1939, era interposto


perante o juízo de primeiro grau no prazo de 05 dias. O início do prazo, assim como
atualmente, era contado a partir da data de intimação do advogado.

O presente recurso deveria seguir instruído com cópias de todas as peças relevantes
para elucidação da questão, contidas nos autos principais5.

2.2 O Código de Processo Civil de 1973

2
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
245.
3
IDEM.
4
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, P.
246.
5
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, P.
247.
14

O Código de Processo Civil de 1973, em seu texto original, deixou de lado as


especificidades existentes no CPC anterior, e passou a prever a interposição do agravo de
instrumento contra qualquer decisão interlocutória6.

O CPC-1973 instituiu duas modalidades, o Agravo de Instrumento e o Agravo


Retido, cabendo ao agravante a escolha do recurso para interposição.

O agravo retido era aquele interposto nos autos do processo, perante o juízo de
primeira instância, no prazo de 05 dias. Este recurso permanecia nos autos, era reiterado nas
razões ou contrarrazões recursais, na forma preliminar7.

Com relação ao Agravo de Instrumento, incialmente, o prazo para interposição


manteve-se em cinco dias, assim como no CPC revogado. A interposição deveria ser
realizada perante o juízo de primeira instância e cabia ao agravante anexar as cópias das
peças que entendesse como devidas para instruir o seu recurso8.

A reconsideração da decisão poderia ser feita pelo Juiz, os autos somente eram
remetidos ao Tribunal, após a decisão da manutenção ou modificação da decisão agravada
pelo juízo de primeiro grau.

Em caso de decidir pela modificação, após a publicação da referida decisão, o


Agravado poderia solicitar a remessa dos autos ao Tribunal, para reexame da decisão,
tornando-se assim, o agravante9.

O CPC/1973 não conferiu efeito suspensivo ao Agravo de Instrumento de uma


maneira geral, somente nas hipóteses taxativamente previstas no artigo 558, em sua redação
originária10.

Durante o seu período de vigência, o Código de Processo Civil de 1973 passou por
consideráveis modificações, no que tange ao Recurso de Agravo de Instrumento.

2.2.1 As modificações da Lei 9.139/1995

6
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018,
P.247.
7
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018,
P.248.
8
IDEM
9
IDEM
10
IDEM
15

Com a Lei 9.139/95, o recurso passou a receber a denominação genérica de agravo,


contudo podia ser interposto sob as modalidades de Agravo Retido ou Agravo de
Instrumento11.

Também ocorreram mudanças com relação ao prazo para interposição, a princípio


definido em 05 dias, o prazo passou a ser de 10 dias, nas duas modalidades, agravo retido e
de instrumento12.

O Agravo também passou a ser interposto diretamente no Tribunal. Em relação ao


efeito suspensivo, cabia ao relator concede-lo, desde que presentes as hipóteses descritas no
artigo 558 do CPC/197313.

A juntada de peças obrigatórias também passou a ser exigida do Agravante com as


mudanças trazidas por essa Lei, conforme o inciso I, do artigo 525 do CPC de 197314.

2.2.2 As modificações da Lei 10.352/2001

Alguns anos depois, o recurso de Agravo de Instrumento sofreu novas modificações


com a Lei 10.352/2001.

Com o advento desta lei, foram estabelecidas hipóteses onde o agravo retido passaria
a ser obrigatório: em face de decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento e
das posteriores à sentença15.

Além da mudança acima descrita, foram estabelecidas três novas regras:

a)A obrigatoriedade da petição que informava ao juiz de primeira instância da


interposição do Agravo no Tribunal;

b)O processamento e a conversão do agravo retido;

11
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, P.
248.
12
IDEM
13
IDEM
14
IDEM
15
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018,
P.249.
16

c)A antecipação da tutela recursal16

2.2.3 As mudanças da Lei 11.187/2005

A nova Lei trouxe algumas mudanças consideradas relevantes no regime do agravo,


além de instituir o agravo retido como regra.

Impostas novas restrições, onde somente caberia o Agravo de Instrumento em


hipóteses expressamente indicadas, quais sejam:

(i) quando se tratasse de decisão suscetível de causar à parte lesão grave


e de difícil reparação

(ii) nos casos de inadmissão da apelação

(iii) nos relativos aos efeitos em que a apelação fosse recebida17.

Interposto o agravo de instrumento fora dessas hipóteses, caberia ao relator converte-


lo em agravo retido.

As Leis 10.352 e 11.187 tiveram como objetivo reduzir os casos de agravo de


instrumento, dando prioridade ao agravo retido, ficando reservado o agravo de instrumento
para questões graves e urgentes18.

16
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
249
17
IDEM
18
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 , p.646.
17

3 O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - 2015

A principal modificação em relação ao recurso de Agravo de Instrumento, feita pelo


legislador quando da elaboração do Novo Código de Processo Civil, foi a eliminação do
recurso de agravo retido, e o estabelecimento de um rol de decisões sujeitas a interposição
de Agravo de Instrumento19.

Nas palavras do professor Fredie Didier:

O Código de Processo Civil de 2015 eliminou a figura do agravo retido e


estabeleceu um rol de decisões sujeitas ao agravo de instrumento. Somente são
agraváveis as decisões nos casos previstos em lei. As decisões não agraváveis
devem ser atacadas na apelação20.

O agravo retido, previsto no CPC de 1973, foi substituído pela impugnação em


preliminar de apelação ou de contrarrazões de apelação21.

Não é correto afirmar que há decisões irrecorríveis, todas as decisões interlocutórias


são passíveis de impugnação, algumas de forma imediata por meio do recurso de Agravo de
Instrumento (art. 1015 do CPC) e outras que se sujeitam ao recurso de apelação (art. 1009,
parágrafo 1º)22.

O Ilustre Professor Humberto Theodoro Junior, nos ensina: “De tal sorte pode-se
reconhecer que todas as sentenças desafiam apelação e todas as decisões interlocutórias
são recorríveis, ora por meio de agravo de instrumento, ora por meio de apelação23”.

O Artigo 1015 do Novo Código de Processo Civil delimitou em seus incisos as


hipóteses onde é cabível a interposição de Agravo de Instrumento. Podemos afirmar, ao
analisarmos os incisos do referido artigo, que a partir da vigência do novo CPC, nem todas
as decisões interlocutórias podem ser atacadas imediatamente por Agravo de Instrumento.

19
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
250.
20
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
249.
21
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 , p. 647.
22
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 , p. 648.
23
IDEM
18

Ressalta-se, conforme disposto no parágrafo único do artigo 1015, que a


taxatividade dos incisos tem relação apenas com a fase de conhecimento, sendo certo que
durante as fases de liquidação e cumprimento de sentença, bem como durante o processo de
execução de título extrajudicial, não se aplica tal limitação.

Também caberá agravo de instrumento contra toda decisão interlocutória exarada


no processo de falência, e de inventário24.

Sobre o prazo para interposição, o Agravo de Instrumento segue o prazo geral de


15 dias, previsto no artigo 1003, parágrafo 5º do Código de Processo Civil de 2015. A
tempestividade do recurso deve ser comprovada pela parte25.

3.1 Análise do Artigo 1015.

O presente capítulo tem o objetivo de realizar uma análise mais profunda do Artigo
1015 do Código de Processo Civil, trazendo explicações concernentes a questão do
cabimento da interposição do recurso de Agravo de Instrumento, bem como sobre a
classificação das decisões interlocutórias em agraváveis e não agraváveis.

Sabemos que o Agravo de Instrumento é o recurso utilizado para se recorrer de


decisões interlocutórias, são decisões interlocutórias as decisões sem condão terminativo,
proferidas no curso do processo.

Sobre a decisão interlocutória, define Fredie Didier:

No CPC/1973, a decisão interlocutória era o pronunciamento do juiz que resolvia


uma questão incidente. No CPC/2015, a definição de decisão interlocutória passou
a ser residual: o que não for sentença é decisão interlocutória. Se o pronunciamento
judicial tem conteúdo decisório e não se encaixa na definição do parágrafo 1, do
artigo 203, é, então, uma decisão interlocutória26.

24
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
250.

25
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 , p. 649.
26
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
251.
19

O Código de Processo Civil de 2015 dá a classificação dos pronunciamentos dos


juízes, suma importância, pois é a partir desta classificação, que se saberá qual deverá ser o
recurso utilizado para combater determinada decisão.

A principal mudança relativa às decisões interlocutórias, se dá, ao passo que, com


a definição das hipóteses agraváveis, conforme o artigo 1015, teremos a partir de então,
decisões interlocutórias agraváveis e decisões interlocutórias não agraváveis.

Importante ressaltarmos que, apesar de taxativo, o rol do artigo 1015 não é


exaustivo, conforme evidencia o ilustre Professor Alexandre Câmara:

Agravo de instrumento é o recurso adequado para impugnar algumas decisões


interlocutórias, expressamente indicadas em lei como sendo recorríveis em
separado. O art. 1.015 estabelece um rol taxativo (mas não exaustivo, já que há
uma cláusula de encerramento no inciso XIII que prevê a possibilidade de outras
disposições legais preverem outros casos de cabimento de agravo de
instrumento27).

Deve-se tomar cuidado com a palavra "taxatividade" para que ela não seja vista
como uma espécie de vedação à interpretação do artigo28.

A decisão interlocutória não impugnável de imediato, não é irrecorrível, pois ela


não será atingida pela preclusão, sendo impugnável em preliminar de Apelação ou
Contrarrazões.

Já as decisões interlocutórias agraváveis, são todas aquelas presentes no rol do


artigo 1015, senão vejamos:

Art. 1015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que


versarem sobre:

I - tutelas provisórias;

27
CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 449.
28
CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 451.
20

II - mérito do processo;

III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;

IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua


revogação;

VI - exibição ou posse de documento ou coisa;

VII - exclusão de litisconsorte;

VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;

IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à


execução;

XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;

XII - (VETADO);

XIII - outros casos expressamente referidos em lei.

Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões


interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário29.”

29
BRASIL. Código de Processo Civil. 2015. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm > Acesso em maio. 2020.
21

Em relação ao parágrafo único, isso se dá porque esses procedimentos terminam por


decisões que não comportam apelação, logo, as decisões ali proferidas não podem ser
impugnáveis por preliminar de apelação ou contrarrazões30.

3.2 A Crítica, Decisões Agraváveis x Não Agraváveis

A principal controvérsia que surge a partir da classificação das decisões como


“agraváveis” e “não agraváveis”, ainda que isso não signifique dizer que uma decisão é
irrecorrível, é que algumas questões não podem simplesmente aguardar o deslinde da marcha
processual para serem apreciadas pelo poder judiciário.

A ideia do Legislador foi prestigiar a estruturação do procedimento comum a partir


da oralidade, preservar os poderes de condução do processo do juiz de primeiro grau, e
simplificar o desenvolvimento do procedimento comum31.

A recorribilidade de algumas decisões, somente em sede de Recurso de Apelação


pode gerar como consequência resultados inúteis ao processo, o que gera danos à parte,
conforme será demonstrado a seguir.

Se apreciadas de forma tardia, as matérias contra as quais não exista cabimento de


recurso de agravo de instrumento poderão ser configuradas a existência de afronta aos
princípios constitucionais de Acesso à Justiça, e Devido Processo Legal, o que afronta a
principiologia do próprio código e não pode ser aceito.

30
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 , p. 649.
31
MARINONI, Luiz Guilherme et al., Novo Código de Processo Civil Comentado. v. XVI, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016, p.1091.
22

4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS - DO ACESSO A JUSTIÇA E DEVIDO


PROCESSO LEGAL.

A nossa Magna Carta, em seu artigo 5ºinciso XXXV, diz sobre o princípio do acesso
à justiça32

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

XXXV – a lei não excluirá a apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

O artigo 3º do Código de Processo Civil, em consonância com a Constituição, em


seu artigo 5, inciso XXXV, diz que (CPC/2015): “Art. 3º Não se excluirá da apreciação
jurisdicional ameaça ou lesão a direito33.”

O princípio do Acesso à Justiça não é uma forma de garantir apenas o a distribuição


da demanda, mas sim, deve estar presente durante todo o deslinde do processo, o princípio
incidirá em todo o trâmite do processo, com a devida e efetiva prestação da tutela
jurisdicional.

O professor Humberto Theodoro Junior define com suas palavras o princípio do


devido processo legal, garantia constitucional, direito de todos os brasileiros, “todo o
litigante que ingressa em juízo, observando os pressupostos processuais e as condições da
ação, tem direito à prestação jurisdicional34”.

A limitação do rol das decisões agraváveis de imediato gera, ao analisarmos a


questão dentro da ótica de casos concretos, a violação aos princípios mencionados.

32
BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm > Acesso em: maio de 2020.
33
BRASIL. Código de Processo Civil. 2015. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm > Acesso em maio. 2020.

34
TEHODORO JUNIOR, Humberto. Tutela Jurisdicional de Urgência: medidas cautelares e antecipatórias.
Rio de Janeiro: América Jurídica, 2001, p. 2.
23

O que, consequentemente, importa verdadeira controvérsia, pois a Constituição


prevê em seu corpo o devido processo legal, ao passo que o Código de Processo Civil, parece
violar este princípio com a limitação contida no artigo 1015.

As violações descritas acima, ficam mais bem evidenciadas quando analisadas a


partir de um exemplo claro, muito comum em nossos Tribunais, como com exemplo, a
decisão que homologa o valor relativo aos honorários do Perito, vejamos:

Vamos imaginar que durante o curso de um processo, em sua fase de conhecimento,


seja necessária a realização de uma perícia. Neste nosso caso, a parte que requer a perícia
não possui o benefício da justiça gratuita, tendo que arcar com as custas judiciais para o
deslinde da marcha processual.

Se o juiz homologar os honorários periciais em valor muito elevado, o demandante


se verá obrigado a arcar com os custos da perícia naquele exato momento, quando da decisão
do Magistrado que intimá-lo a realizar o pagamento.

Caso a parte deixe de realizar o pagamento, a perícia não será realizada. Se a parte
não puder recorrer de imediato desta decisão, e não puder também realizar o pagamento dos
honorários, poderá ocorrer a perda da prova, por impossibilidade da parte de custear o
pagamento da perícia.

A decisão que homologa o valor relativo aos honorários periciais, não é agravável
de imediato, pois não se encontra nos incisos do artigo 1015 do Código de Processo Civil.

Logo, a parte ao não ter a possibilidade de recorrer da decisão que homologou os


honorários periciais, e nem condições de arcar com o pagamento do valor homologado, corre
o risco de ter a sua demanda julgada improcedente, por não ter condições de produzir as
provas necessárias para comprovação daquilo que alega ser seu Direito.

Se a questão concernente aos honorários só puder ser apreciada após a prolação da


sentença, não será útil a parte, pois já se perdeu o momento de realização da prova pericial
requerida.
24

Os prejuízos gerados pela perda da prova, geram, consequentemente, a ofensa aos


princípios do acesso à justiça, ampla defesa e devido processo legal.

Caso a questão seja apreciada em sede de Apelação, e a sentença seja anulada, sob
o argumento de cerceamento de defesa, tendo em vista a não realização da perícia requerida,
a parte também sofrerá prejuízos. Neste caso, a consequência lógica, será o retorno do
processo ao momento de realização da perícia.

Ora, a parte nesta hipótese, veria o seu processo retornar ao ponto de realização da
perícia requerida, logo, tudo aquilo que ocorreu após o prazo para realização da perícia seria
anulado, portanto, todo esse tempo foi perdido.

Tal perda de tempo, gera verdadeiro conflito com o princípio da celeridade


processual. Se o legislador, ao reduzir o número de hipóteses de interposição de Agravo de
Instrumento, visou enxugar o número de recursos interpostos, para que houvesse uma maior
celeridade nas demandas, neste caso, acabou gerando um efeito inverso.

O princípio da celeridade processual está previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII da


Constituição da República Federativa do Brasil35, vejamos:

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável


duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Flávio Luiz Yarshell admite a interposição de agravo de instrumento contra


qualquer decisão proferida no trâmite da produção antecipada de provas:

Foi infeliz a disposição que pretendeu restringir o cabimento de recurso, limitada


que foi à hipótese da decisão que indeferir totalmente a produção antecipada de
prova. Aqui pareceu ignorar que o deferimento da antecipação pode violar direitos
constitucionalmente assegurados. No curso do processo é possível que haja atos
de caráter decisório – sobre competência, composição da relação processual, de
deferimento ou indeferimento de quesitos, de nomeação de perito suspeito, apenas

35
BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm > Acesso em: maio de 2020.
25

para ilustrar – a gerar prejuízo imediato, pela simples razão de que, com a sentença
nada resolverá sobre o mérito, isso tende a tornar realmente desnecessário eventual
recurso de apelação36.

Deste modo, fica demonstrado que a parte, a se ver impossibilitada de recorrer da


decisão que homologou o valor relativo aos honorários periciais, ou até mesmo da decisão
que indeferiu a realização da produção de prova, sofrerá com a violação aos princípios do
devido processo legal e do acesso ao judiciário.

Tal violação se dá, por consequência de a parte prejudicada não ter o direito ao
reexame da matéria por instância superior antes que se julgue o mérito da demanda.

A impossibilidade de se discutir de forma imediata algumas questões pode trazer


danos irreparáveis e prejuízos graves a parte demandante, que não vê a sua questão abarcada
pelas hipóteses do rol do artigo 1015 do Código de Processo Civil.

Situações como a descrita acima, ensejaram a polêmica entre os estudiosos do


Direito acerca das hipóteses de interpretação do Artigo 1015 do Código de Processo Civil.

36
YARSHELL, Flávio Luiz. Das Provas. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Breves comentários ao
novo Código de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2015.
26

5 A INTERPRETAÇÃO DO ARTIGO 1015 DO CPC/2015

Antes de adentrarmos ao mérito da interpretação dos incisos do artigo 1.015,


devemos entender, de acordo com a Doutrina, se afinal, o rol do artigo 1015 é
exemplificativo ou taxativo?

5.1 Rol Taxativo ou Exemplificativo?

Há quem defenda que o rol do artigo 1015 é exemplificativo, enquanto outros


afirmam que na verdade o rol é taxativo, porém, admite a interpretação extensiva de seus
incisos. É importante destacarmos, que esses posicionamentos, apesar de parecidos, são
distintos.

Podemos citar, como exemplo, os ensinamentos do Professor Wilson Santos Ferreira,


ao refletir sobre a taxatividade do artigo 1015, face as suas possibilidades de interpretação,
vejamos:

No sistema processual civil brasileiro, do CPC/2015, optou-se pela


recorribilidade integral das interlocutórias, somente variando o recurso,
agravo de instrumento ou, residualmente, apelação.

Logo, algo que não pode ser esquecido é que para todo recurso impõe-se interesse
recursal, sendo este não apenas um requisito do recurso sem o qual não é
admissível, mas também é um direito do recorrente em relação ao Estado, uma
vez identificada recorribilidade em lei, deve ser assegurada a utilidade do
Julgamento do recurso, inclusive em estrita observância do inc. XXXV do art. 5°,
da CF/1988.

Se não há identificação literal das hipóteses legalmente previstas para agravo de


instrumento, em primeiro momento, se defenderia a apelação, contudo se o seu
julgamento futuro será inútil por impossibilidade de resultado prático pleno (ex.
dano irreparável ou de difícil reparação), como no caso de uma perícia inadmitida,
em que o prédio que seria objeto da perícia diante de uma desapropriação será
rapidamente demolido, desaparecendo a utilidade de julgamento futuro da
apelação, não é possível defender-se o cabimento da apelação, porque a lei não
pode prever recurso inútil, logo é caso de cabimento do agravo de instrumento.

Em outras palavras, há uma taxatividade fraca [...]37.

37
FERREIRA, William Santos. Cabimento do Agravo de Instrumento e a Ótica Prospectiva da Utilidade:
O direito ao interesse na recorribilidade de decisões interlocutórias. Revista de Processo n. 263, São Paulo:
RT, jan. 2017. Disponível em < https://www.academia.edu/36054360/> Acesso em maio. 2019.
27

Para o Professor, definir o rol como exemplificativo seria o caminho, uma vez que
há o que ele chama de taxatividade fraca no rol do artigo 1015 do CPC/15, face a inutilidade
do recurso somente em sede de apelação, em casos onde a demora para revisão da decisão
traz prejuízos à parte.

A tese de que o rol do artigo seria meramente exemplificativo é defendida também


por outros doutrinadores, como Fernanda Tatuce e Luiz Dellore. Para eles o rol é
exemplificativo, uma vez que algumas hipóteses não foram contempladas no rol do artigo.

Quando consideramos o rol do artigo como exemplificativo, consequentemente,


devermos admitir, então, a interposição do agravo em situações que não estão presentes nos
incisos, ampliando em muito as hipóteses de interposição, o que vai de encontro ao disposto
no próprio artigo38.

Para o Professor Alexandre Câmara, não podemos incluir no rol das decisões
agráveis, por meio da interpretação extensiva ou analogia, pronunciamentos que não o
integram39.

Já ao dizermos que o rol do Artigo 1015 do CPC/2015 é taxativo, afirmamos que as


hipóteses de interposição são aquelas enumeradas no artigo, porém, é cabível a utilização de
analogia para interpretação das hipóteses contidas nos textos40.

Quanto à vontade do Legislador, as considerações sobre a Emenda nº92, proposta


pelo Senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), que tinha o fito de ampliar as hipóteses de
interposição do Agravo de Instrumento, teve a seguinte reação por parte da comissão41:

38
BRASIL. Corte Especial. Recurso Especial nº 1704520 - MT (2017/0271924-6). Relatora: Ministra Nancy
Andrighi. 5 de dezembro de 2018. Lex: jurisprudência do STJ, 19 de dezembro de 2018.
39
CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 451.
40
MARINONI, Luiz Guilherme et al., Novo Código de Processo Civil Comentado. v. XVI, São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
41
BRASIL. Caderno Virtual. IDP. v. 2, n. 44, abr - jun. 2019.
28

O objetivo desses ajustes seria afastar o regime da taxatividade das hipóteses


de cabimento do agravo de instrumento, a fim de garantir que qualquer decisão
interlocutória desafie esse recurso.
[omissis...]

Óbice regimental opõe-se à supracitada emenda. A taxatividade das hipóteses de


cabimento do agravo de instrumento foi aprovada pelo Senado Federal na
forma do art. 969 do PLS. A Câmara dos Deputados apenas acresceu novas
hipóteses e ajustou a redação de outras previstas pelo Senado Federal, mediante
ajustes constantes do art. 1.028 do SCD. Suprimir a taxatividade do cabimento
do agravo de instrumento é incorrer em inovação legislativa não autorizada
nessa etapa derradeira do processo legislativo.
[omissis...]

Rejeita-se, pois, a emenda em referência.

Portanto, é mais coerente é afirmar que o rol presente no referido artigo é taxativo,
porém, não exaustivo, já que há uma cláusula de encerramento no inciso XIII que prevê a
possibilidade de outras disposições legais preverem outros casos de cabimento de agravo de
instrumento42.

5.2 Rol Taxativo e as Formas de Interpretação

Definido, após a análise das teorias colacionadas acima, que o rol deve ser entendido
como taxativo, resta a dúvida quanto à interpretação desse rol.

A princípio, foram formadas duas principais correntes doutrinárias, a primeira que


diz que o rol é taxativo, e permite interpretação extensiva, e a segunda que afirma que o rol
é taxativo, não permitindo a interpretação extensiva.

Para o professor Alexandre Câmara, o rol é taxativo, e somente caberá a interposição


para os casos previstos em lei, não sendo admitida a interpretação extensiva dos incisos,
vejamos:

Agravo de instrumento é recurso adequado para impugnar algumas decisões


interlocutórias, expressamente indicadas em lei como recorríveis em separado.
Ademais, admite-se agravo de instrumento contra qualquer outra decisão
interlocutória que a lei processual expressamente declare agravável, como se dá,
por exemplo, no caso da decisão que receba a petição inicial após o

42
CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 449.
29

desenvolvimento da fase preliminar do procedimento da “ação de improbidade


administrativa (art. 17, § 10, da Lei 84259/1992)43”.

Abaixo, colacionamos a ementa do acórdão de nº 00608959220188190000, proferido


pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que compartilha da mesma
visão em relação à taxatividade do rol do artigo 1015 do Código de Processo Civil:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ROL TAXATIVO. Não se


vislumbra a hipótese do exercício do juízo de retratação, haja vista que em suas
razões a Agravante busca a reforma da decisão monocrática que lhe foi
desfavorável, sem trazer quaisquer argumentos novos e convincentes capazes de
ensejar a modificação do julgado, nem tampouco junta aos autos acórdão ou
súmula que sirva de paradigma para reforma da decisão agravada. A decisão que
declina da competência não comporta impugnação pela via do agravo de
instrumento. Hipótese que não está prevista no rol exaustivo do artigo 1.015,
do CPC. Inteligência do artigo 1.009, § 1º, da mesma Lei. Pretendida
interpretação extensiva do artigo 1.015, do CPC, que contraria a opção
expressa do legislador de solucionar eventual controvérsia sobre a matéria
em questão por meio de conflito de competência. Assim, ausente argumento
novo que justifique a revisão pelo Colegiado, correta a decisão recorrida que
merece ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos. Recurso não
conhecido44.

Conforme podemos extrair do acórdão colacionado, a Relatora Dr. Desembargadora


Andrea Fortuna Teixeira, entende que, a decisão que envolve competência não está
expressamente indicada no rol do artigo 1015 do CPC/15, sendo certo que nesta hipótese
não caberá a interposição de agravo de instrumento.

Segundo a ementa, entender como agravável tal hipótese por meio da interpretação
extensiva contrariaria a vontade do legislador. Deste modo, há no Tribunal de Justiça do Rio
de Janeiro, o entendimento de alguns relatores pela taxatividade do rol do artigo 1015 do
CPC/15.

43
CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2017, p. 520.

44
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (24ª Câmara Cível). Agravo de Instrumento nº
00608959220188190000. Relatora: Des (a) Andrea Fortuna Teixeira. 29 de maio de 2019.
30

Em contrapartida, os professores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha,


são favoráveis à interpretação extensiva das hipóteses elencadas no rol do artigo 1015 do
Código de Processo Civil:

as hipóteses de agravo de instrumento estão previstas em rol taxativo. A


taxatividade não é, porém, incompatível com a intepretação extensiva. Embora
taxativas as hipóteses de decisões agraváveis, é possível interpretação extensiva
de cada um dos seus tipos. Tradicionalmente, a intepretação pode ser literal, de
igual modo, as interpretações corretivas e outras formas de reinterpretação
substitutiva.

Para o Ilustre professor, dizer que o rol do artigo 1015 é taxativo, não significa dizer
que ele não é compatível com a interpretação extensiva. A possibilidade da interpretação
extensiva existe, ainda que taxativas as hipóteses de interposição do recurso de Agravo de
instrumento, para cada um de seus incisos.

O mesmo posicionamento foi defendido pelo Ilustre Ministro Luis Felipe Salomão,
no Recurso Especial nº 1.679.909, senão vejamos:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO IMEDIATA


DAS NORMAS PROCESSUAIS. TEMPUS REGIT ACTUM. RECURSO
CABÍVEL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 1 DO STJ. EXCEÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA COM FUNDAMENTO NO CPC/1973. DECISÃO SOB A
ÉGIDE DO CPC/2015. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO
PELA CORTE DE ORIGEM. DIREITO PROCESSUAL ADQUIRIDO.
RECURSO CABÍVEL. NORMA PROCESSUAL DE REGÊNCIA. MARCO DE
DEFINIÇÃO. PUBLICAÇÃO DA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.
RECURSO CABÍVEL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA OU EXTENSIVA DO INCISO III DO
ART. 1.015 DO CPC/2015. 1. É pacífico nesta Corte Superior o entendimento de
que as normas de caráter processual têm aplicação imediata aos processos em
curso, não podendo ser aplicadas retroativamente (tempus regit actum), tendo o
princípio sido positivado no art. 14 do novo CPC, devendo-se respeitar, não
obstante, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. 2. No que
toca ao recurso cabível e à forma de sua interposição, o STJ consolidou o
entendimento de que, em regra, a lei regente é aquela vigente à data da publicação
da decisão impugnada, ocasião em que o sucumbente tem a ciência da exata
compreensão dos fundamentos do provimento jurisdicional que pretende
combater. Enunciado Administrativo n. 1 do STJ. 3. No presente caso, os
recorrentes opuseram exceção de incompetência com fundamento no Código
revogado, tendo o incidente sido resolvido, de forma contrária à pretensão dos
autores, já sob a égide do novo Código de Processo Civil, em seguida interposto
agravo de instrumento não conhecido pelo Tribunal a quo. 4. A publicação da
decisão interlocutória que dirimir a exceptio será o marco de definição da norma
processual de regência do recurso a ser interposto, evitando-se, assim, qualquer
tipo de tumulto processual. 5. Apesar de não previsto expressamente no rol do
art. 1.015 do CPC/2015, a decisão interlocutória relacionada à definição de
31

competência continua desafiando recurso de agravo de instrumento, por uma


interpretação analógica ou extensiva da norma contida no inciso III do art.
1.015 do CPC/2015, já que ambas possuem a mesma ratio -, qual seja, afastar
o juízo incompetente para a causa, permitindo que o juízo natural e adequado
julgue a demanda. 6. Recurso Especial provido45.

No presente acórdão, o Ministro Luis Felipe Salomão, entendeu por dar provimento
ao recurso especial, para reconhecer o cabimento da interposição de Agravo de Instrumento,
em face da decisão relacionada à definição de competência.

O entendimento do Ilustre Ministro, se mostra contrário ao posicionamento da D.


Desembargadora colacionado acima, demonstrando que ambos divergem de opinião no que
tange a interpretação extensiva do artigo 1015 do CPC/2015.

Conforme a ementa colacionada, o entendimento pelo provimento do recurso, se deu


com base na interpretação analógica ou extensiva da norma contida no inciso III do artigo
1015 do CPC/2015, já que ambas possuem a mesma razão, a de afastar o juízo incompetente
para a causa.

Temos aqui duas visões, de correntes doutrinárias distintas, para julgar matéria
semelhante, o que deixa clara a falta de uniformização quanto à interpretação do artigo.

45
BRASIL. Recurso Especial nº 1679909 – RS (2017/0109222-3). Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. 14
de novembro de 2017. Lex: jurisprudência STJ – Quarta Turma. 01 de fevereiro de 2018.
32

6 RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA - STJ

Para uniformizar o entendimento, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça,


afetou dois recursos especiais46 (REsp 1.704.520 e REsp 1.696.396, tema 988), para
julgamento pelo sistema dos recursos repetitivos.

No recurso escolhido como representativo da controvérsia, o Recurso Especial de nº


1.704.520, a Ministra Nancy Andrigui foi além do entendimento da interpretação
extensiva, senão vejamos:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. NATUREZA JURÍDICA DO ROL DO ART.
1.015 DO CPC/2015. IMPUGNAÇÃO IMEDIATA DE DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS NÃO PREVISTAS NOS INCISOS DO REFERIDO
DISPOSITIVO LEGAL. POSSIBILIDADE. TAXATIVIDADE MITIGADA.
EXCEPCIONALIDADE DA IMPUGNAÇÃO FORA DAS HIPÓTESES
PREVISTAS EM LEI. REQUISITOS. 1- O propósito do presente recurso
especial, processado e julgado sob o rito dos recursos repetitivos, é definir a
natureza jurídica do rol do art. 1.015 do CPC/15 e verificar a possibilidade
de sua interpretação extensiva, analógica ou exemplificativa, a fim de admitir
a interposição de agravo de instrumento contra decisão interlocutória que verse
sobre hipóteses não expressamente previstas nos incisos do referido dispositivo
legal. 2- Ao restringir a recorribilidade das decisões interlocutórias proferidas na
fase de conhecimento do procedimento comum e dos procedimentos especiais,
exceção feita ao inventário, pretendeu o legislador salvaguardar apenas as
"situações que, realmente, não podem aguardar rediscussão futura em eventual
recurso de apelação". 3- A enunciação, em rol pretensamente exaustivo, das
hipóteses em que o agravo de instrumento seria cabível revela-se, na esteira
da majoritária doutrina e jurisprudência, insuficiente e em desconformidade
com as normas fundamentais do processo civil, na medida em que sobrevivem
questões urgentes fora da lista do art. 1.015 do CPC e que tornam inviável a
interpretação de que o referido rol seria absolutamente taxativo e que deveria
ser lido de modo restritivo. 4- A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria
taxativo, mas admitiria interpretações extensivas ou analógicas, mostra-se
igualmente ineficaz para a conferir ao referido dispositivo uma interpretação em
sintonia com as normas fundamentais do processo civil, seja porque ainda
remanescerão hipóteses em que não será possível extrair o cabimento do agravo
das situações enunciadas no rol, seja porque o uso da interpretação extensiva ou
da analogia pode desnaturar a essência de institutos jurídicos ontologicamente
distintos. 5- A tese de que o rol do art. 1.015 do CPC seria meramente
exemplificativo, por sua vez, resultaria na repristinação do regime recursal
das interlocutórias que vigorava no CPC/73 e que fora conscientemente
modificado pelo legislador do novo CPC, de modo que estaria o Poder
Judiciário, nessa hipótese, substituindo a atividade e a vontade
expressamente externada pelo Poder Legislativo. 6- Assim, nos termos do art.
1.036 e seguintes do CPC/2015, fixa-se a seguinte tese jurídica: O rol do art. 1.015
do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de

46
BRASIL. Corte Especial. Recurso Especial nº 1.696.396. Lex: jurisprudência do STJ.
33

instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento


da questão no recurso de apelação. 7- Embora não haja risco de as partes que
confiaram na absoluta taxatividade com interpretação restritiva serem
surpreendidas pela tese jurídica firmada neste recurso especial repetitivo, eis que
somente se cogitará de preclusão nas hipóteses em que o recurso eventualmente
interposto pela parte tenha sido admitido pelo Tribunal, estabelece-se neste ato um
regime de transição que modula os efeitos da presente decisão, a fim de que a tese
jurídica somente seja aplicável às decisões interlocutórias proferidas após a
publicação do presente acórdão. 8- Na hipótese, dá-se provimento em parte ao
recurso especial para determinar ao TJ/MT que, observados os demais
pressupostos de admissibilidade, conheça e dê regular prosseguimento ao agravo
de instrumento no que tange à competência. 9- Recurso especial conhecido e
provido.47

O referido recurso especial trata do cabimento de agravo em face da decisão que


versa sobre competência, não incluída no rol das hipóteses do artigo 1015.

Conforme se depreende da ementa acima colacionada, a Ilustríssima Ministra


entende que o rol do artigo 1015 é de taxatividade mitigada, nos trazendo uma terceira forma
de interpretar o referido artigo.

Podemos identificar a vontade de encontrar, por meio da leitura do artigo, uma


vontade, ainda que oculta, do legislador com o objetivo de alcançar uma decisão mais justa
e adequada para o problema apresentado pelas partes.

Para tomar sua decisão, além de considerar a interpretação extensiva, a Ministra


levou em consideração a presença de urgência decorrente da inutilidade do julgamento da
questão no recurso de apelação.

A tese proposta, escolhida como representativa da controvérsia, tendo como ponto


de partida um requisito objetivo, no caso a inutilidade futura do julgado do recurso diferido
da apelação, possibilitar a recorribilidade imediata, ainda que fora da lista do artigo 1015 do
CPC/15.

47
BRASIL. Corte Especial. Recurso Especial nº 1704520 - MT (2017/0271924-6). Relatora: Ministra Nancy
Andrighi. 05 de dezembro de 2018. Lex: jurisprudência do STJ, 19 de dezembro de 2018.
34

Partindo desse pressuposto, seriam exemplos de decisões interlocutórias abarcadas


pela decisão proferida, que versem sobre:

(i) suspensão do processo,

(ii) segredo de justiça,

(iii) sobre a ineficácia ou não-homologação de negócio jurídico processual48.

Lembrando sempre que isso deve ser feito em caráter excepcional, sendo necessária
a existência de urgência, independente do uso da interpretação extensiva ou analógica,
conforme dispõe a própria ementa do acórdão.

Conforme muito bem explicado pela D. Ministra, entender que o rol do artigo 1015
é meramente exemplificativo “resultaria na repristinação do regime recursal das
interlocutórias que vigorava no CPC/1973 e que fora conscientemente modificado pelo
legislador do novo CPC”.

A regra estabelecida a partir desta tese é de que, ela é aplicável quando se verifique
urgência ou necessidade de apreciação imediata da questão posta em julgamento49.

O precedente é duplamente obrigatório, pois foi proferido pelo órgão especial do STJ,
conforme preconiza o artigo 927, V, do CPC, em caso repetitivo, de acordo com o inciso III,
do mesmo artigo50.

6.1 A Taxatividade Mitigada.

A tese extraída a partir do acórdão proferido no recurso repetitivo, conforme a ementa


supramencionada, encampa o entendimento relativo à interpretação extensiva, defendida

48
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
259.

49
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
258.

50
IDEM
35

pelos doutrinadores e professores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha. O


Superior Tribunal de Justiça foi além, de forma que deixou claro que apesar de absorverem
a interpretação extensiva e analogia, estas eram insuficientes para dirimir a questão51.

O texto abaixo, extraído do Curso de Direito Processual Civil, volume 03, dos
Professores Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, nos ajuda a entender do que de
fato se trata a taxatividade mitigada:

O STJ entende que a interpretação ampliada do art.1015, caput, CPC, de modo a


mitigar a sua taxatividade, deve fundar-se nas normas fundamentais do processo
civil brasileiro, especialmente a necessidade de tutelar a urgência no exame de
certas questões, indissociável do conteúdo do direito de ação e da garantia do
acesso à justiça. 52

A partir da leitura do referido trecho, podemos perceber que o STJ ao decidir a


questão relativa à interpretação do artigo 1015, levou em consideração os princípios
constitucionais do direito de ação e da garantia do acesso à justiça.

A taxatividade mitigada se mostrou a melhor forma de interpretação, sendo o remédio


ideal para as questões não comportadas pelo artigo 1015, porém, dotadas de tal urgência que
não podem aguardar o deslinde da marcha processual para decisão.

O que o Superior Tribunal de Justiça fez, consequentemente, gerou uma “exceção


geral” à regra do caput do artigo 1015.

A taxatividade mitigada, garante a interposição de Agravo de Instrumento, sempre


que se revelar a inutilidade da impugnação da decisão em sede de apelação. Caberá sempre
ao recorrente demonstrar que a impugnação deve ser feita imediatamente, sob pena da
inutilidade da impugnação em sede de apelação53.

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JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
258.
36

6.2 A Insegurança Jurídica Decorrente da Taxatividade Mitigada

Caso a parte resolva aguardar até a apelação para impugnar suposta decisão, com
base na interpretação literal do artigo 1015, a partir da decisão do Superior Tribunal de
Justiça, terá a questão sido atingida pela preclusão? Essa é a insegurança gerada a partir da
decisão firmada pelo STJ.

A resposta é não, no acórdão do Recurso Especial nº 1.704.520, a Ministra Nancy


Andrigui, deixou claro que apesar de admitida a excepcional possibilidade de impugnar a
decisão não prevista no rol do artigo 1015, tendo como requisito objeto a “urgência pela
inutilidade futura”, não haverá que se falar em preclusão de qualquer espécie54.

Fica garantido a parte, que decidiu por não agravar justamente por não encontrar a
previsão no rol do artigo 1015 do CPC, a possibilidade de impugnação em preliminar de
apelação, conforme determina o § 1º, do artigo 1009, do Código de Processo Civil55.

A parte que decidiu por agravar da decisão, e teve a interposição de seu recurso não
admitida pelo Tribunal, também terá o seu direito à impugnação em apelação ou
contrarrazões resguardado56.

A interpretação pela taxatividade mitigada, então, não traz à parte irresignada com
uma decisão interlocutória, o risco desta ser atingida pelo fenômeno da preclusão, diante da
escolha que resolva fazer, seja impugnar de imediato, ou aguardar para faze-lo em preliminar
de apelação.

54
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
259.
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JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
259.
37

7 O MANDADO DE SEGURANÇA COMO SUCEDÂNEO RECURSAL

Ao final de seu voto, a Ministra Nancy Andrighui faz algumas considerações à


respeito do uso do Mandado de Segurança como sucedâneo recursal, senão vejamos:

(...) DESCABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA COMO


SUCEDÂNEO RECURSAL. Admitindo-se que seja possível impugnar de
imediato certas interlocutórias não listadas no art. 1.015 do CPC, fato é que ainda
é preciso examinar uma derradeira questão, que diz respeito à via processual
adequada para que a parte busque a tutela jurisdicional imediata – se por meio de
agravo de instrumento ou de mandado de segurança contra ato judicial57.

A Ministra em seu voto demonstrou a preocupação dos Doutrinadores do Direito em


dirimir a questão relativa à interpretação do artigo 1015 do CPC/15, diante do risco de as
partes começarem a eleger o mandado de segurança como a via adequada para a busca da
tutela jurisdicional imediata.

Levando-se em consideração o princípio do acesso à justiça, previsto no inciso


XXXV do artigo 5º da CF/1988: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário,
lesão ou ameaça a direito”, bem como o princípio da duração razoável do processo, alguns
acreditaram ser o remédio cabível, quando não fosse verificada a possibilidade da
recorribilidade imediata por interposição de Agravo de Instrumento58.

Porém, a Lei 12.016 de 07.08.2009, a Lei do Mandado de Segurança Individual e


Coletivo, afasta a impetração do referido remédio constitucional, quando da decisão couber
recurso com efeito suspensivo, senão vejamos:

Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:


(...)

57
BRASIL. Corte Especial. Recurso Especial nº 1704520 - MT (2017/0271924-6). Relatora: Ministra Nancy
Andrighi. 05 de dezembro de 2018. Lex: jurisprudência do STJ, 19 de dezembro de 2018.

58
FERREIRA, William Santos. Cabimento do Agravo de Instrumento e a Ótica Prospectiva da Utilidade:
O direito ao interesse na recorribilidade de decisões interlocutórias. Revista de Processo n. 263, São Paulo:
RT, jan. 2017. Disponível em < https://www.academia.edu/36054360/> Acesso em maio. 2019.
38

II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo 59;

(...)

Para o Professor Wilson Ferreira, a vontade do legislador no aludido inciso foi de


demonstrar que não haveria motivo para se utilizar o mandando de segurança, remédio
constitucional específico e de competência residual, quando se está tratando da sistemática
da recorribilidade do processo60.

Ademais, o prazo para impetração do mandado é de 120 dias, prazo este, em muito
superior ao de interposição do Agravo de Instrumento, de 15 dias. Isto gera uma
incompatibilidade com o sistema de recorribilidade imediata61.

No caso de denegação, caberia a parte interpor o Recurso Ordinário, o que


consequentemente geraria um sistema recursal próprio, diferente do sistema recursal da
demanda62.

O Supremo Tribunal Federal também editou o enunciado Sumular 267, em relação


ao não cabimento do mandado de segurança em fase de decisão passível de recurso, senão
vejamos: “Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição63.”

Conforme a ementa abaixo colacionada, o Superior Tribunal de Justiça também vem


decidindo pelo não cabimento do Mandado de Segurança em situações onde o recurso
cabível seja o Agravo de Instrumento, senão vejamos:

59
BRASIL. Mandado de Segurança. 2009. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/l12016.htm > Acesso em: maio de 2020.

60
FERREIRA, William Santos. Cabimento do Agravo de Instrumento e a Ótica Prospectiva da Utilidade:
O direito ao interesse na recorribilidade de decisões interlocutórias. Revista de Processo n. 263, São Paulo:
RT, jan. 2017, p.195. Disponível em < https://www.academia.edu/36054360/> Acesso em maio. 2019.

61
IDEM
62
IDEM
63
BRASIL. Supremo Tribunal Federal - Súmula 267. Disponível em <
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2464 > Acesso em maio de
2020.
39

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ORDINÁRIO


EM MANDADO DE SEGURANÇA. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. APLICABILIDADE. IMPETRAÇÃO CONTRA ATO JUDICIAL.
PREVISÃO DE RECURSO PRÓPRIO. IMPETRAÇÃO COMO
SUCEDÂNEO RECURSAL. NÃO CABIMENTO. TERATOLOGIA.
INEXISTÊNCIA. SÚMULA 267/STF. ARGUMENTOS INSUFICIENTES
PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE
MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
DESCABIMENTO. I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da
publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se o Código de
Processo Civil de 2015. II - A jurisprudência desta Corte Superior Tribunal
de Justiça é no sentido de que admite-se Mandado de Segurança contra
decisão judicial apenas em casos de flagrante ilegalidade ou de manifesta
teratologia. Precedentes. III - Ademais, a Lei n. 12.016/2009 é taxativa ao
estabelecer como regra a não concessão da segurança contra ato judicial em
que exista espécie recursal com efeito suspensivo para sua impugnação ou
quando a decisão judicial houver transitado em julgado. IV - Não cabe
mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição, nos
termos da Súmula 267 do Supremo Tribunal Federal. V - Não apresentação de
argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida. VI - Em regra,
descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo
Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação
unânime, sendo necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou
improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VII - Agravo Interno improvido64.

Conforme destacado na ementa colacionada, não cabe a impetração de mandado de


segurança, quando verificada a existência de espécie recursal com efeito suspensivo para sua
impugnação, ou quando a decisão judicial houver transitado em julgado.

Deste modo, o agravo interno foi improvido, tendo como base de argumentação os
termos da Súmula 267 do STF, bem como a existência de espécie recursal com efeito
suspensivo para a decisão que se objetivou combater.

64
BRASIL. Agravo Interno (Primeira Turma) nº 61893 – MS (2019/0287424-2). Relatora: Ministra Regina
Helena Costa. 06 de abril de 2020. Lex: jurisprudência STJ. 13 de abril de 2020.
40

O mandado de segurança é hipótese de adoção residual, quando a parte não localizar


dentro do sistema recursal própria uma solução para evitar dano irreparável ou de difícil
reparação, ou seja, não pode haver para aquela situação previsão de recurso65.

Ao analisarmos a doutrina em conjunto com a jurisprudência do Superior Tribunal


de Justiça, e o enunciado sumular 267 do Supremo Tribunal Federal, concluímos que o
mandado de segurança não deve ser usado como sucedâneo recursal para as hipóteses onde
seja prevista a interposição de Agravo de Instrumento, ou qualquer outro recurso.

65
FERREIRA, William Santos. Cabimento do Agravo de Instrumento e a Ótica Prospectiva da Utilidade:
O direito ao interesse na recorribilidade de decisões interlocutórias. Revista de Processo n. 263, São Paulo:
RT, jan. 2017, p.195. Disponível em < https://www.academia.edu/36054360/> Acesso em maio. 2019.
41

8 AS RECENTES DECISÕES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Após a publicação do acórdão do REsp 1.704.520, julgado pelo sistema dos recursos
repetitivos, criou-se um precedente duplamente obrigatório, pois foi proferido pelo órgão
especial do STJ, conforme preconiza o artigo 927, V, do CPC, em caso repetitivo, de acordo
com o inciso III, do mesmo artigo66.

Vejamos o que diz o artigo supracitado e seus incisos:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

(...)

III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de


demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos;

(...)

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados67.

Deste modo, todas as decisões proferidas após a publicação do referido acórdão,


devem seguir a orientação daquele recurso, escolhido como representativo da controvérsia
concernente a interposição do recurso de Agravo de Instrumento, nos casos onde a hipótese
não está prevista de forma expressa no rol do artigo 1015 do CPC/15.

As recentes decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça, demonstram a


latente necessidade da sociedade pela resolução de demandas semelhantes àquela que gerou
a controvérsia, senão vejamos:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. ART.


1.015 DO CPC/2015. NATUREZA JURÍDICA. MITIGAÇÃO DA
TAXATIVIDADE. EFEITOS DA DECISÃO. MODULAÇÃO. PUBLICAÇÃO

66
JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. vol. 3. 16. Ed. Salvador: JusPodivm, 2018, p.
258.
67
BRASIL. Código de Processo Civil. 2015. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm > Acesso em: maio de 2020.
42

DO ACÓRDÃO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA POSTERIOR. TESE.


APLICAÇÃO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2
e 3/STJ). 2. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o
rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada, por isso admite a
interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência
decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
3. Tese jurídica que somente se aplicará às decisões interlocutórias proferidas após
a publicação do acórdão do REsp 1.704.520/MT (Tema 988), representativo da
controvérsia. 4. Agravo interno não provido68.

A análise da ementa do REsp 1.825.024, demonstra a presença dos elementos


definidos como necessários para a aplicação da taxatividade mitigada quais sejam, a urgência
e inutilidade, urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação.

Podemos concluir que a tese adotada pela Ilustre Ministra, foi a melhor hipótese de
intepretação a ser adotada, pois visa dirimir as questões onde se verifica a urgência da parte
em impugnar determinada decisão interlocutória, e o perigo da espera ter como consequência
danos irreparáveis à parte.

68
BRASIL. Agravo Interno no Recurso Especial nº 1825024 - RJ (2019/0197531-7). Relator: Ministro Ricardo
Villas Boas Cueva. 09 de dezembro de 2019. Lex: STJ (Terceira Turma). 11 de dezembro de 2019.
43

9 CONCLUSÃO

Por todo o exposto, conclui-se, portanto, pela taxatividade mitigada do rol


estabelecido no artigo 1015 do Código de Processo Civil. Conforme muito bem explanado
no voto proferido pela Ministra Nancy Andrighui, quando do julgamento do Recurso
Especial nº 1.704.520/MT (Tema 988), escolhido como representativo da controvérsia,
admite-se a interpretação extensiva, mas esta não deve caminhar sozinha, sendo portanto, o
rol do artigo 1.1015 como de taxatividade mitigada.

Para que se possa analisar o cabimento do recurso de agravo de instrumento, nos


casos de decisões interlocutórias que não estão nele previstos, é necessário analisar o caso,
admitindo-se a interpretação extensiva, em conjunto com a existência de urgência e o perigo
da espera ter como consequência danos irreparáveis à parte.

Segundo a Ilustre Ministra, “a taxatividade do artigo 1.1015 é incapaz de tutelar


adequadamente todas as questões em que pronunciamentos judiciais poderão causar sérios
prejuízos e que, por isso, deverão ser imediatamente reexaminadas pelo segundo grau de
jurisdição69”.

Em relação as hipóteses totalmente excluídas do rol do artigo 1015 do Código de


Processo Civil, onde não exista nem mesmo a possibilidade do olhar sob a ótica da analogia,
entende-se que o uso do mandado de segurança é admitido, quando além da ausência de
previsão legal no sistema recursal, houver risco de dano irreparável ou de difícil reparação.

Para além das possibilidades elencadas, outra via para solução da questão, seria a
ampliação do rol pelo Legislador, com a modificação do próprio texto legal.

O objetivo principal de se buscar uma solução para o problema apresentado, é tentar


resguardar os princípios constitucionais do acesso à justiça, do devido processo legal, da
celeridade processual e da segurança jurídica.

69
JOTA INFO. Taxatividade Mitigada admite Agravo de Instrumento. Revista de Opinião. 2018. Disponível
em < https://www.jota.info/justica/rol-do-1-015-tem-taxatividade-mitigada-admite-agravo-de-instrumento-
05122018 > Acesso em: 06. maio. 2020.
44

Além de presentes na Constituição Federal de 1988, tais princípios foram também


incluídos na própria redação dos artigos do novo Código de Processo Civil, demonstrando
assim a vontade do Legislador durante sua elaboração, trata-se de um diploma legal
elaborado sob a égide de uma constituição democrática, algo novo em nosso ordenamento.

Conclui-se pela taxatividade mitigada do Artigo 1015, sendo aplicados os critérios


estabelecidos pelo acórdão proferido, havendo a hipótese de se interpretar de forma
extensiva ou pelo uso de analogia, e ocorrendo urgência e possibilidade de dano, a decisão
será impugnável por Agravo de Instrumento.

Para os casos em que a Lei não resguardou previsão legal, havendo a urgência e o
risco de dano, poderá ser utilizado o Mandado de Segurança, hipótese que deve sempre ser
vista com cautela, e adotada de maneira residual, após o esgotamento de outras
possibilidades.

Por fim, entendemos que, diante da situação criada com a nova redação do artigo
1015 do Código de Processo Civil, que versa sobre o recurso de Agravo de Instrumento, é
necessária a fungibilidade entre a impetração do Mandado de Segurança e a interposição de
Agravo de Instrumento, para as hipóteses ali não abarcadas.
45

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Código de Processo Civil. 2015. Disponível em <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm > Acesso em 12.
mar. 2020.

BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm > Acesso em 12. mar.
2020

BRASIL. Ministério Público de São Paulo. 2006. Disponível em <


http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bib
li_servicos_produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RPro_n.259.11.PDF > Acesso em 27.
abr. 2020.

BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

CÂMARA, Alexandre de Freitas. O Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.

ESMAL. Revista Eletrônica Esmal. Disponível em


<http://revistadaesmal.tjal.jus.br/index.php/revistaEletronicaEsmal/article/view/13/13 >
Acesso em 12. mar. 2020.

FERREIRA, William Santos. Cabimento do Agravo de Instrumento e a Ótica


Prospectiva da Utilidade: O direito ao interesse na recorribilidade de decisões
interlocutórias. Revista de Processo n. 263, São Paulo: RT, jan. 2017. Disponível em
https://www.academia.edu/36054360/. Acesso em 20 mai. 2019.

JOTA INFO. Hipóteses de Agravo de Instrumento no Novo CPC. Revista de Opinião. 2016.
Disponível em < https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/hipoteses-de-agravo-de-
instrumento-no-novo-cpc-os-efeitos-colaterais-da-interpretacao-extensiva-04042016 >
Acesso em 02. Abr. 2020.
46

JÚNIOR, Fredie Didier. Curso de Direito Processual Civil. v. 3. 16. Ed. Salvador:
JusPodivm, 2018.

MARINONI, Luiz Guilherme et al., Novo Código de Processo Civil Comentado, v. XVI,
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA. Rio Grande do Sul. Disponível em <


http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/7231 > Acesso em 24. Abr. 2020

REUTERS, Thomson. Doutrinas Essenciais. v.7 Disponível em <


https://www.thomsonreuters.com.br/content/dam/openweb/documents/pdf/Brazil/white-
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THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Teoria geral do


direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum, v. 3. 47. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2016.

TEHODORO JUNIOR, Humberto. Tutela Jurisdicional de Urgência: Medidas Cautelares


e Antecipatórias. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2001.

YARSHELL, Flávio Luiz. Das Provas. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. Breves
Comentários ao Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2015.

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