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FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU – FMN


CURSO DE DIREITO

MARJARA DANTAS DE SOUZA

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


E O DESAFIO DE SUA EFETIVAÇÃO

NATAL
2016

MARJARA DANTAS DE SOUZA

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


E O DESAFIO DE SUA EFETIVAÇÃO

Artigo apresentado como requisito parcial


para obtenção do título de bacharel em
Direito pela Faculdade Maurício de Nassau.

Orientador: Prof. Pedro Fernando Borba


Vaz Guimarães

NATAL 2016

MARJARA DANTAS DE SOUZA

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


E O DESAFIO DE SUA EFETIVAÇÃO

Artigo apresentado como requisito parcial para


obtenção do título de bacharel em Direito pela
Faculdade Maurício de Nassau.

Aprovado em:___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Profº Pedro Fernando Borba Vaz Guimarães


Faculdade Maurício de Nassau
Orientador

____________________________________________________

Profº Convidado

____________________________________________________

Profº Convidado

DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado aos meus pais,


Margarida e Julimar.
Meus melhores amigos e maiores amores.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer a Deus, maestro da orquestra chamada mundo, que


habita em mim, e me trouxe até aqui.

A minha mãe, Margarida, que não deve ser a melhor mulher do mundo, mas é a
melhor mulher que eu conheci, pelo exemplo de perfeição em tudo o que se propôs a fazer,
em especial a missão de ser uma grande e maravilhosa mãe. Por todo o amor, carinho,
bondade e incentivo que sempre me deu, e por acreditar em mim sempre.

Ao meu pai, Julimar, pelo exemplo de caráter e força descomunal com a qual encara
a vida. Por me ensinar a ser forte, a ser honesta, a fazer o que tem de ser feito. Por me
estender a mão sempre, por me dizer a verdade sempre, por me dizer que eu sou capaz.

A minha irmã, Marta Eugênia, que praticamente me arrastou pro curso de Direito
quando eu queria fazer gastronomia, por me ajudar e estar ao meu lado nos momentos
difíceis.

Ao meu irmão, Marjuly, por me defender quando eu era criança e até hoje, por me
amar tanto e por ser meu amigo. Por estar comigo sempre que eu preciso.

A minha Tia Lucinete, que esteve junto comigo nos momentos mais difíceis da
minha vida, que me defendeu e me apoia até hoje.

A minha avó Marta (in memorian), por ter sido a melhor vó do mundo, por todo o
amor que me deu. Tenho certeza que de onde estiver, estará feliz por mim.

Ao meu namorado Everton Barros, por toda a paciência, amizade e afeto. Por me
ajudar com a elaboração do meu TCC e me apoiar nas dificuldades enfrentadas.

Ao meu professor e orientador Pedro Fernando Borba Vaz Guimarães, que fez surgir
em mim a paixão pelo Processo Civil, com toda a competência de um grande advogado e
professor, pelas aulas fantásticas que não me ensinaram apenas a letra da lei, mas sobre como
manejar uma ação. Por ter embarcado junto comigo no meu projeto de TCC, me mostrando de
forma simples e objetiva como eu deveria proceder.

Ao Professor Carlos Roberto Galvão Barros, pela colaboração se suma importância


que deu ao meu TCC.

A Dra. Talita Nascimento Fernandes de Macêdo, pelo exemplo de advogada,


responsável e competente, que me ensinou na prática tudo o que eu precisava saber sobre
processo civil, e pelo exemplo de humanidade e bondade. Por me devolver a fé, por trazer
Maria, mãe de Deus e Nossa Senhora de volta pra minha vida. Por me ajudar nos momentos
difíceis, lutar comigo, chorar comigo e transformar uma relação de trabalho em um laço de
amizade.

A minha amiga irmã, Iara Costa, pelos 18 anos de uma grande amizade, amor e
respeito. Por me ajudar tanto, sempre, pelas broncas, pelas risadas, por toda a força que
sempre me deu e continua dando.

Às minhas amigas Rose e Ciene, por esses 5 anos de amizade, companheirismo,


cumplicidade, riso, choro, pressão, dores de cabeça e alegrias. Por tudo que pudemos
vivenciar juntas, sempre nos apoiando umas nas outras. Obrigada por tudo minhas amadas,
minhas lindas. Amo vocês!

A todos os demais colegas de turma, amigos que o direito me deu, cada um é


importante pra mim e estará sempre no meu coração.

A todos os professores de Direito da Faculdade Maurício de Nassau, pela


competência, pela amizade e por tentarem nos ensinar da melhor forma possível a ciência do
Direito.

EPÍGRAFE

“Justiça tardia não é justiça, senão injustiça,


qualificada e manifesta.”

Ruy Barbosa

O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


E O DESAFIO DE SUA EFETIVAÇÃO

RESUMO

O trabalho aqui apresentado tem o intuito de estudar a celeridade processual, analisando as


normas postas ao longo do tempo que se preocuparam em tratar o tema, sua importância para
a sociedade em geral, as leis criadas no Brasil voltadas para a promoção de uma entrega
jurisdicional em tempo justo, a inclusão do princípio da razoável duração do processo na
Constituição Federal, os mecanismos processuais adotados pelo poder judiciário brasileiro
para desobstruir os tribunais, como as jurisprudências adotadas, as técnicas de resolução de
conflitos, e os meios processuais úteis a dar maior agilidade às demandas, bem como
apresentar comentários sobre o abuso do direito e abuso processual, que são grandes barreiras
processuais que atormentam a atividade jurisdicional, com pleitos infundados e recursos
procrastinatórios , que se multiplicam nos tribunais e resultaram num profundo ciclo de
dificuldades à realização da justiça. Apresenta também uma análise sobre as mudanças
trazidas pelo novo Código de Processo Civil, com cunho de proporcionar condições de
melhoramento ao sistema processual e garantir que os litígios tenham solução em tempo
hábil. O estudo realizado tem natureza bibliográfica, e contou com a análise de textos, artigos,
livros relacionados à sua temática, bem como as leis brasileiras de processo civil e a
constituição federal. Com a realização do estudo realizado, percebe-se que já foram adotadas,
no Brasil, muitas medidas para solucionar o problema do congestionamento de ações judiciais
e efetivar os direitos pleiteados em juízo, porém, ainda é muito delicada a situação dos
conflitos judiciais, onde ainda transitam demandas antigas pendentes de solução definitiva. É
necessário pôr em prática os dispositivos legais, punir mais severamente a litigância de má-fé,
suprimir as demandas de massa e os recursos repetitivos, para que se possa viabilizar a
restauração do sistema judiciário e dar aos cidadãos a segurança de que seus direitos serão
executados em tempo justo.

Palavras-chave: Razoabilidade. Duração do processo. Efetivação.


THE PRINCIPLE OF REASONABLE PROCESS DURATION


AND YOUR CHALLENGE OF EFFECTIVE

SUMMARY

The work presented here is intended to study the speedy trial assessed the policies put over
time to bother to address the issue, its importance for society in general, the laws created in
Brazil focused on the promotion of judicial delivery in fair weather, the inclusion of the
principle of reasonable duration of the proceedings in the Federal Constitution, the procedural
mechanisms adopted by the Brazilian judiciary to unclog the courts, such as those adopted
jurisprudence, the techniques of conflict resolution, and useful remedies to give greater agility
to the demands and submit comments on the abuse of rights and procedural abuse, which are
major procedural barriers plaguing the judicial activity, with unsubstantiated claims and
procrastinatórios resources, which multiply in the courts and resulted in a deep cycle
difficulties to carry out the justice. It also presents an analysis of the changes brought by the
new Civil Procedure Code, with nature providing improved conditions to the procedural
system and ensure that disputes have solution in a timely manner. This study has bibliographic
nature, and included the analysis of texts, articles, books related to its theme, as well as
Brazilian law of civil procedure and the federal constitution. With the completion of the study,
it can be seen that have been adopted in Brazil, many measures to solve the problem of
congestion lawsuits and effect to the rights pleaded in court, however, is still very delicate
situation of judicial conflicts, where still pass pending old demands permanent solution. It is
necessary to implement legal provisions to punish more severely litigation in bad faith,
suppress the mass demands and repetitive resources, so that it can facilitate the restoration of
the judiciary and give citizens confidence that their rights will be executed in a reasonable
time.

Keywords: Reasonableness. Duration of the process. Effectuation.


14

SUMÁRIO

Tema: O Princípio da razoável duração do processo e o desafio de sua efetivação

INTRODUÇÃO.................................................................................................................14

2. ANÁLISE HISTÓRICA...................................................................................................18

2.1. PRINCIPAIS NORMAS INTERNACIONAIS........................................................18

2.2. EVOLUÇÃO DA CELERIDADE PROCESSUAL NO BRASIL............................20

2.3. FORMAS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS - MEDIAÇÃO,


CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM...............................................................................30

3 – O ABUSO DO DIREITO COMO OBSTÁCULO À RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO. .35

3.1 – CONCEITO DE ABUSO DO DIREITO........................................................................35

3.2 – HIPÓTESES DE ABUSO DO DIREITO...............................................................38

3.2.1 Venire contra factum proprium da proibição do comportamento contraditório.42

3.2.2. Da má-fé processual............................................................................................46

4 - O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL OU NCPC.......................................................52

4.1. DA CONCILIAÇÃO...............................................................................................54

4.2.1 – Precedentes judiciais..........................................................................................57

4.2.1.1 – Precedente com efeito vinculante/obrigatório................................................58

4.2.2 - Pncidente de resolução de demandas repetitivas ou irdr..................................59

4.2.3 – Do incidente de assunção de competência ou iac.............................................62

4.3 – DAS MULTAS...........................................................................................................63

4.4 – DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA...................................................................65

CONCLUSÃO...................................................................................................................67

REFERÊNCIAS............................................................................................................69
14

INTRODUÇÃO

A celeridade processual ou principio da razoável duração do processo é um tema


bastante discutido por juristas, doutrinadores, advogados, juízes e todos aqueles que compõem
o mundo do direito. Há inúmeros livros, notas e artigos que tratam sobre o tema, que vem
ganhando cada vez mais força, devido à grande necessidade de diminuir a morosidade
processual, mas também porque garantir um processo célere é um dever da justiça.

Desde que se aboliu a autotutela, quando o indivíduo buscava seu direito por suas
próprias formas e forças, e o Estado passou a tutelar as relações jurídicas, este assumiu o
compromisso de garantir os direitos coletivos e individuais, para que os cidadãos vivessem
harmonicamente, ou seja, passou a caber ao Estado a tarefa de cuidar para que cada indivíduo
tenha o seu direito protegido e possa exercê-lo em toda a sua plenitude, desde que isto não
signifique detrimento do direito de outrem. O que se busca, portanto, é dar o direito a quem
de direito, ou seja, buscar o equilíbrio para resolver as questões discutidas.

Pois bem, garantir o direito não significa apenas criar leis que disciplinem as relações
sociais, mas oferecer àquele que busca valer-se da justiça para exercer o seu direito, a
resolução do seu conflito com segurança e em tempo justo, afinal, um processo que se arrasta
no tempo nada interessa a quem pleiteia a efetivação do seu direito, muito pelo contrário,
uma decisão não obtida ou que chega muito retardadamente, pode tornar-se
irremediavelmente danosa ao invés de trazer o benefício esperado.

Um processo célere é aquele em que os atos são praticados em tempo plausível,


obedecendo a um cronograma, precisa-se que a estrutura processual aconteça com uma
mobilidade maior para que se chegue a uma conclusão, mas a realidade dos tribunais
brasileiros é caracterizada por processos onde os tais atos adormecem no tempo.

Proporcionar um processo célere é um dos maiores desígnios da justiça, pois com as


transformações nas esferas econômica, política, meios de comunicação, relações de trabalho e
de consumo, prestação de serviços, etc.,o número de demandas judiciais aumentou
consideravelmente nas últimas décadas, praticamente todas as relações humanas são também
relações jurídicas, e com o aumento do acesso às informações e o acesso à justiça a sociedade
busca cada vez mais socorrer-se do judiciário para fazer valer os seus direitos, o que resultou
em um acúmulo excessivo de processos sem solução nos gabinetes dos juízes, secretarias de
15

varas e tribunais, que vem obrigando o poder judiciário a adotar medidas para desafogar os
tribunais e tentar achar formas eficazes de resolução de conflitos.

A necessidade de dar ao sistema processual brasileiro uma maior agilidade é um


anseio não só do meio jurídico, mas de toda a sociedade, que é a maior prejudicada pela
demora nas decisões judiciais, tanto que a razoável duração do processo foi incluída à
Constituição de 1988, no Capítulo 5°, inciso LXXVIII através da EC 45/04 como uma das
garantias fundamentais, como veremos adiante, de forma mais detalhada,porém há sérias
divergências na doutrina acerca da real importância da rapidez do trâmite processual.

Alguns juristas e doutrinadores defendem que a preocupação excessiva com a


questão da celeridade processual pode ameaçar a segurança jurídica, pois um processo que
preza primordialmente pela agilidade para a busca de resultados, pode comprometer o
contraditório e estreitar o direito de defesa e produção de provas ou induzir o magistrado a
uma decisão injusta, mal fundamentada ou incorreta até pelo simples fato de não aperceber-se
de algum pequeno detalhe que pudesse ter relevância ao caso concreto. Desta forma, afirmam,
que o mais importante não é fazer justiça de forma rápida, mas de forma segura e eficaz.

É de se verificar que a quantidade média de processos que um juiz brasileiro possui


sob sua “direção” impõe-lhe uma análise superficial dos casos que lhe são
submetidos, uma vez que o sistema de “prestação jurisidicional” faz com que este
atue como se o que importasse não fosse a aplicação de tutela constitucional e
democraticamente adequada, mas sim a prestação de serviços rápidos e em larga
escala.1

Uma decisão correta, antes mesmo de célere, certamente é o que se espera da justiça,
é por esta razão que as demandas são propostas, para que seja possível reconhecer o direito de
cada parte, e aplicá-lo de forma a extinguir a querela de modo satisfatório.

O magistrado tem o dever de zelar para que o trâmite processual resulte numa
conclusão virtuosa e consistente, esta é a função social do direito, a isto chama-se fazer
justiça, todavia, é impossível fazer justiça sem celeridade, não significando isto que deva-se
“atropelar” qualquer ato processual ou cercear qualquer direito das partes visando apenas a
obtenção de resultados.

A celeridade consiste em um meio para garantir que se chegue ao objetivo que é a


justa decisão, não podendo, pois, ser encarada como se uma se opusesse a outra. O direito
1
NUNES, Dierle José Coelho. Direito Constitucional ao Recurso. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2006, p. 49
16

preza pela maior agilidade no trâmite processual, não com o anseio de multiplicar resultados,
mas porque a realidade do processo brasileiro tem um histórico de demandas infindáveis que
levam o judiciário ao total descrédito.

Quando o legislador eleva a importância da razoável duração do processo ao patamar


constitucional ele preocupa-se justamente em tentar desfazer os entraves que levam a
imobilidade das ações judiciais, não em ordenar aos magistrados que conduzam o
procedimento a passos largos e produzam sentenças em grandes proporções.

Não devem estes, portanto, sentirem-se coagidos a acelerarem o andamento


processual ou verem os institutos da celeridade e da segurança jurídica dissociados um do
outro, mas usarem do princípio da celeridade como um dos fundamentos que lhes permitem,
por exemplo, aplicar sanções aos atos e recursos que reconhecerem como meramente
procrastinatórios.

Sabe-se que a situação dos magistrados mediante o número de processos a serem


analisados é bastante complexa e difícil, de acordo com artigo publicado em 09/06/2015 no
site do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), tomando por base o último relatório do Justiça
em Números, do ano de 2015 referente ao ano de 2014, cada magistrado de justiça estadual de
1ª instância, por exemplo, tem carga detrabalho de 7.520 processos, e os de 2ª instância, 2.878
processos. Os números por sí, já caracterizam uma das razões para o amontoado de processos
por todo o Brasil.

Aumentar o número de magistrados de forma a mudar esse cenário representaria aos


cofres públicos uma despesa astronômica, com a qual o país não tem condições de arcar,
porém, o judiciário brasileiro, juntamente com juristas preocupados em melhorar o serviço
prestado pela justiça à população, vêm desde muito tempo implementando mudanças em seu
ordenamento para combater a perpetuação das demandas judiciais.

Reconhecer a razoável duração do processo como uma garantia fundamental e


conhecer a evolução do direito no aspecto de proporcionar essa garantia é de extrema
importância, posto que a sociedade, busca cada vez mais a justiça para solucionar seus
conflitos, e todos aqueles que compõem o sistema judiciário devem zelar por esta garantia, de
modo a efetivá-la.

O presente trabalho pretende realizar um estudo sobre a evolução do do sistema


judiciário brasileiro, em suas várias instâncias e graus de jurisdição, no tocante a garantir o
princípio constitucional da razoável duração do processo, mostrando as principais medidas já
17

adotadas nesse sentido e os entraves que levam a nossa jurisdição à condição adversa na qual
ainda se encontra. Para tanto, será feita uma abordagem histórica sobre as leis instituídas em
âmbito internacional visando solucionar o problema da morosidade da justiça, bem como o
que foi feito no Brasil ao longo dos anos neste sentido.

Será realizado também um estudo acerca dos métodos de solução de conflitos


alternativos, relevando a importância de sua utilização para o desafogamento do judiciário.
Em seguida será feita uma abordagem sobre o abuso de direito, incluindo o abuso de direito
processual, apontando sua incidência e enfatizando como os atos abusivos trazem malefícios à
justiça. Por fim será realizado um estudo sobre o Novo Código de Processo Civil, expondo
algumas das principais mudanças que decorrem da sua vigência no sentido de promover uma
maior mobilidade das demandas e dar maior êxito ao funcionalismo da justiça.

O estudo realizado pretende abordar os principais pontos relativos ao progresso do


direito acerca da celeridade processual, porém não será feita nenhuma análise pormenorizada
das leis, projetos, programas ou institutos aqui mencionados, incluindo o Novo Código de
Processo Civil, apenas sua apresentação e sua importância para com o princípio da razoável
duração do processo.

O estudo realizado nesse trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica para a sua


realização, através de leitura do NCPC e o CPC/73, artigos eletrônicos e livros relacionados
ao tema.
18

2. ANÁLISE HISTÓRICA

2.1. PRINCIPAIS NORMAS INTERNACIONAIS

A preocupação com a morosidade processual remonta de séculos atrás, tendo sido


criado o procedimento sumário no direito canônico em 1306 com a Decretal do Papa
Clemente V, conhecida como Clementina Saepe, onde já buscava-se a simplificação do
processo. Houveram ainda outras leis canônicas na idade média que buscavam uma maior
brevidade processual, como a lei de 23 de setembro de 1341, que, visando coibir as
protelações, proibiu o pagamento de honorários aos procuradores antes do término da causa.
Através da lei de 15 de setembro de 1532 passou-se a aplicar o principio da eventualidade, no
qual o réu deveria oferecer todas as exceções dilatórias no dia em que fosse citado, também de
acordo com esta lei, não haveriam recursos contra decisões interlocutórias.

Como característica do procedimento sumário no Direito Canônico,pode-se citar a


dispensa do libelo, da contestação da lide, concentração dosatos processuais numa
única audiência, o privilégio na oralidade, tudo peranteum juiz com poderes
reforçados. Essas características buscavam, desde aquelaépoca, aprimorar a
celeridade processual, ou seja, buscava efetividade e rapidezno saneamento dos
litígios que ocorriam2

Nesse sentido, houve uma significativa mudança no sistema processual da época,


porém com o passar do tempo e as várias adequações sofridas em âmbito procedimental, essas
medidas tornaram-se cada vez menos eficazes, e assim, foram sendo substituídas por outras,
sempre no sentido dar uma solução mais rápida aos conflitos.
A lei de 18 de agosto de 1769 ou Lei portuguesa da Boa Razão, em virtude das
muitas dilações indevidas presentes nos processos de então, impôs aos advogados que
cometessem tais atos, de forma comprovadamente dolosamente, multa no valor de $ 50000
reis em princípio.
Em âmbito internacional, os tratados mais importantes que versaram sobre celeridade
ou razoável duração do processo, ainda que de forma tácita, foram:

A Declaração Universal dos direitos Humanos, de 1948, que em seu art VIII, assim
prega: “Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio

2
VALES, Marcela Leila Rorigues. Rev. Ciên. Jur. e Soc. da Unipar, v. 9, n.1, jan./jun.,2006. Pág 121
19

efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela
constituição ou pela lei”

Por sua vez, o Pacto Internacional dos Direito Civis e Políticos, da Assembléia Geral
das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, no seu art. 14, §3º, c diz que:

Artigo 14 – 1. Todas as pessoas são iguais perante os Tribunais e as Cortes de Justiça


Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas garantias
por

um Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração


de qualquer acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de
seus direitos e obrigações de caráter civil [...].

§3.º. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, às seguintes

garantias mínimas:

(...)

c) a ser julgada sem dilações indevidas;” (destaques não contidos no texto original).

A convenção Americana de Direitos Humanos ou pacto de São José da Costa Rica,


em seu art. 8º nos traz que:

Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e
imparcial,estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação
penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de
caráter civil,trabalhista,fiscal ou de qualquer outra natureza.

Temos então que é reconhecido internacionalmente o direito a um processo que não


se delongue demais, trazendo assim, prejuízos a quem busca a prestação jurisdicional.
20

2.2. EVOLUÇÃO DA CELERIDADE PROCESSUAL NO BRASIL

O sistema jurídico brasileiro, partilhando da ciência da necessidade de efetivação


desse direito, juntamente com o crescente aumento dos litígios em todo o país, viu-se diante
da necessidade de tomar providências efetivas para tentar fazer com que os tribunais não
ficassem sobrecarregados por processos demasiadamente longos e carentes de solução
definitiva, então, ao longo dos anos implantou algumas importantes reformas neste sentido,
tais como:

2.2.1. A Lei Federal NO 7.244, de 7 de novembro de 1984

Instituiu o Juizado de Pequenas Causas, em âmbito cível, para julgar causas de


menor complexidade, com competência a julgamento de litígios com valores fixados em até
20 (vinte) salários mínimos. Este, sem dúvida foi um importante passo da legislação brasileira
no combate à morosidade processual.

Antes de serem criados os juizados de pequenas causas, o acesso à justiça era


inviável para a grande maioria da população, que não dispunha de condições para arcar com
os gastos de um processo e honorários advocatícios. Além disso, havia a demora de cada fase
do procedimento e as diligências necessárias ao prosseguimento da ação, o grande número de
recursos a serem enfrentados, tudo isso desestimulava o indivíduo a socorrer-se da justiça,
mesmo quando sabia-se com razão em pleitear um direito.

O receio de propor uma demanda diante de tantos obstáculos fazia com que o
indivíduo procurasse resolvê-lo de formas alternativas, valendo-se para tanto, do poder de
alguma autoridade conhecida, por exemplo, ou até mesmo pela força, alguns procuravam a
outra parte interessada em busca de um acordo, de forma informal, ou pior, simplesmente
abdicavam de seu.

Embora tenha sido criado com o intuito maior de promover o acesso mais fácil à
justiça, dando ao cidadão comum a oportunidade de resolver pequenas querelas da sua
cotidianidade, antes sem solução devido ao alto custo e o formalismo da justiça comum, o
Juizado de Pequenas Causas veio ajudar a desatravancar o judiciário que se encontrava
bastante prejudicado no desenvolvimento de suas atividades em decorrência da grande
quantidade de ações.
21

O caráter menos formal, juntamente com a valorização da oralidade e do acordo


entre as partes trouxeram para esses processos uma brevidade considerável e proporcionaram
uma nova vivência ao poder judiciário. A experiência foi tão bem sucedida que culminou,
alguns anos mais tarde, na criação dos Juizados Especiais.

Em 1988 a Constituição Federal dispôs sobre a criação dos Juizados Especiais, da


seguinte forma:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:


I – Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes
para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante o
procedimento oral e rito sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

A Lei 9.099/95 criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, devido ao êxito


obtido com o Juizado de Pequenas Causas, tendo na esfera cível, ampliado a competência
quanto à matéria dos litígios e o valor das causas, cuja alçada passou a ser de até 40 (quarenta)
salários mínimos.

As mudanças trazidas também foram significativas no tocante ao desafogamento do


judiciário, posto que com a ampliação dos poderes, aumentou-se também o número de
demandas que deixaram de ser apreciadas pelo juízo comum e passaram a ser de competência
dos JECS.

O trabalho exercido pelos juizados especiais, no tocante à razoabilidade da duração


do processo veio contribuir, no tocante a retirar dos tribunais muitos processos que antes,
seguiam pelo rito ordinário, sendo hoje resolvidos de forma muito mais céleres, posto que os
JECS adotam o rito sumaríssimo.

Prezando pelos critérios da celeridade, da simplicidade, gratuidade, informalidade,


dando uma ênfase e buscando sempre a via conciliatória, valorizando a oralidade, os juizados
especiais deram uma nova ótica ao Poder Judiciário, trazendo a desburocratização do
ajuizamento e dos trâmites dos procedimentos.
22

2.2.2. Antecipação de tutela

A antecipação de tutela foi implementada ao ordenamento jurídico brasileiro através


da lei 8.952, de 13 de dezembro de 1994. Possui natureza satisfativa, através da qual,
valorizando-se o caráter de probabilidade, tornou-se possível efetivar antecipadamente a
pretensão antes só obtida através da sentença.

O novo CPC, dispondo sobre os requisitos para a antecipação de tutela, em seu art.
300, dispõe:

“Art. 300 – A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.”

Considerando tal dispositivo legal, podemos observar que inexiste a necessidade de


provas definitivas para a concessão da tutela antecipada, bastando apenas que a parte
demonstre a plausibilidade do seu direito de forma consistente, de modo a convencer o
magistrado, tratando-se, portanto, do chamado “fumus boni iuris”, que traduz-se como a
“aparência do bom direito”.

O outro requisito necessário à concessão da tutela antecipada, ou seja, o perigo de


dano ou risco ao resultado útil do processo, quer dizer que o autor deve evidenciar que a
demora da decisão lhe acarretará prejuízo grave, viciaré o processo, temos aqui o chamado
“periculum in mora” traduzido como “perigo na demora”.

Em algumas situações específicas, a espera pela confirmação de um direito pleiteado


pode ser altamente lesiva, fazendo-se necessário um resguardo prévio desse direito. Trata-se
de permitir que a parte possa começar a usufruir dos efeitos de uma determinada situação,
sem a necessidade de cognição exauriente, com a fatigante produção de provas. A esse
respeito, Cássio Scarpinela Bueno aduz:

A chamada "tutela antecipada" deve ser entendida como a possibilidade da


precipitação da produção dos efeitos práticos da tutela jurisdicional, os quais, de
outro modo, não seriam perceptíveis, isto é, não seriam perceptíveis, isto é, não
seriam sentidos no plano exterior ao processo — no plano material, portanto —, até
um evento futuro: proferimento da sentença, processamento e julgamento de recurso
de apelação com efeito suspensivo e, eventualmente, seu trânsito em julgado 3

3
BUENO, Cássio Scarpinella, 2012, pag.02.
23

A possibilidade de gozar dos benefícios da tutela jurisdicional de forma adiantada,


concedida pelo juízo de probabilidade vem conferir eficácia à justiça civil, que dispõe de
inúmeros recursos que são disponibilizados às partes, trazendo a lentidão da resolução do
conflito.

Devemos destacar também a importância desse instituto em caráter social. Quando


um cidadão comum propõe uma demanda judicial contra uma pessoa jurídica, por exemplo,
há uma evidente disparidade de condições entre os litigantes, principalmente financeira. Esse
tipo de litígio é muito comum nas relações de consumo, onde o indivíduo prejudicado de
alguma forma pela compra de um produto danificado, ou um contrato de prestação de serviços
viciado, etc. O prejudicado demanda uma ação, e a outra parte, podendo usar de vários
recursos disponíveis, leva a demanda até a última instância possível, para ganhar tempo, pois
dispõe de condições financeiras para tal. Sem a antecipação de tutela, levaria muito tempo até
que o indivíduo, em condição inferior, pudesse perceber qualquer eficácia da justiça em
relação ao seu direito.

A antecipação de tutela, vem, pois, remediar esse tipo de situação, dando a esse
indivíduo inferiormente situado na demanda, a oportunidade de beneficiar-se dos efeitos
jurídicos de uma decisão em seu favor, de forma breve, mesmo que em caráter provisório, o
que é indubitavelmente um instrumento em favor da celeridade processual.

2.2.3. A emenda constitucional 45/04

Também conhecida como a Reforma do Poder Judiciário, acrescentou ao texto


constitucional várias alterações e inovações, sendo uma das mais significativas, a inclusão do
inciso LXXVIII, ao artigo 5º, referente a celeridade processual, in verbis: “A todos, no âmbito
judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação".

O direito a um processo mais breve passa a ser, a partir da promulgação da referida


emenda, uma das garantias fundamentais do cidadão, ou seja, a partir de então, obriga-se o
estado a dar maior mobilidade ao processo.

Esse passo com certeza foi muito importante, porém há alguns doutrinadores e
juristas que questionam a real necessidade de se inserir esse artigo à carta maior, tanto pela
receptividade, na nossa legislação, dos tratados internacionais - como o já mencionado Pacto
24

de San Jose da Costa Ria, que já tratava de estabelecer que o tempo do processo deveria ser
razoável - quanto por no texto da constituição de 1988 já estar inserido o princípio do Devido
Processo Legal, o qual entende-se estar implicitamente presente a celeridade da prestação
jurisdicional.

Zélio Maia Da Rocha faz severas críticas ao referido princípio, considerando que sua
inserção trata-se penas de mais uma inútil manifestação do excesso de positivismo presente na
cultura do nosso sistema jurídico e criticando o cunho político de tal medida.

Esse novo preceito constitucional já nasce morto, como tantos outros incisos da
constituição (...), pois não será por su previsão que os tribunais e juízes irão acelerar
os processos em curso. Trata-se de questão social e política, e não demeraquestão de
direito. há evidente demagogia, porquanto busca-se apenas efeito político (senão
eleitoreiro)4.

Fatalmente, não é a falta de legislação contemplando o tema que faz com que as
demandas tenham uma duração tão prolongada, deve-se isto a vários outro fatores, porém o
preceito em questão vem , não só ratificar a importância de desatravancar os feitos, mas faz
surgir a responsabilidade estatal diante da não aplicação de tal garantia, responsabilidade
esta, que, inclusive, é defendida por alguns doutrinadores como sendo objetiva, ou seja, por
tratar-se de preceito fundamental, a responsabilidade independe de culpa dos agentes
jurisdicionais.

2.2.4. A reforma da execução

Nome dado a alteração trazida pela lei nº 11.232/05 no tocante a liquidação de


sentença, tratou de conferir ao processo de conhecimento a fase de cumprimento de sentença,a
partir daí não há mais a necessidade de um processo autônomo de execução para requerer o
cumprimento da obrigação obtida na sentença, passando agora a parte, a requerer tal
cumprimento na mesma ação.

Antes, a prolação da sentença extinguia o feito, com a resolução do mérito, ou seja, a


sentença tinha um outro conceito. Vemos aqui a importância do sincretismo processual,
trazendo uma nova ótica aos procedimentoscom essa nova fase liquidativa.

Essa alteração é de extrema relevância para a garantia da celeridade processual, pois


que, antes dela era necessária uma nova demanda, o que implica em nova distribuição, o que
claramente implica em um maior gasto de tempo, prejudicial e frustrante a quem já obteve

4
A reforma do judiciário,2005. Pág 19
25

uma sentença favorável e precisa ainda de uma nova ação para buscar a satisfação do seu
direito.

Agora, o mesmo juiz o processo de conhecimento liquidará a sentença, é um


prolongamento do mesmo feito, que com certeza traz uma maior segurança a quem foi
favorecido em sentença.

2.2.5. O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO OU PJE.

Até o fim da década de 90, os computadores inseridos dentro das varas e tribunais
significavam apenas instrumento escriturário, com finalidade apenas de digitação dos atos
praticado em audiências, e decisões, despachos e outros atos internos, porém, o crescente
aumento das demandas e a evolução das tecnologias, provocou no judiciário a necessidade de
modernizar os instrumentos processuais, e a informatização dos processos começou a
apresentar-se como um escopo às instituições da justiça.

A primeira lei versando sobre a informatização processual, ainda que de forma tímida
foi a lei 8.245/91, também conhecida como a lei do inquilinato, que trouxe ao nosso
ordenamento jurídico, através de seu artigo 58 a citação via fac-simile, sendo que esta deveria
estar devidamente prevista em contrato. Em 1999, com a lei 9.800/99 passou a ser possível
receber petições através de fac-simile ou meio similar, porém, as partes deveriam, no prazo de
5 (cinco) dias, apresentar as petições escritas em papel. E no ano de 2001 foi editada a medida
provisória que instituiu o mecanismo de chaves públicas do Brasil-ICP BRASIL e
regulamentou a assinatura e certificação digital.

A lei 11280/06 incluiu o parágrafo único ao artigo 154 do então Código de Processo
Civil, com o seguinte texto, in verbis:

Os tribunais, no âmbito da respectiva jurisdição, poderão disciplinar a prática e a


comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, atendidos os
requisitos de autenticidade, integridade, validade jurídica e interoperabilidade da
infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras-ICP-Brasil.

A lei 11.341/2006 introduziu ao artigo 541 do então CPC, um parágrafo único


admitindo a possibilidade de pesquisa de jurisprudência via internet, objetivando apontar
divergências entre julgados de diferentes tribunais. Posteriormente, no mesmo ano, com
26

alterações sofridas pelo Código de Processo Civil vigente, versando sobre a fase de execução
do processo, passou-se a admitir a penhora on-line, via Bacenjud.

Ressalte-se que a primeira experiência com processos informatizados no sistema


jurídico brasileiro, deu-se com a implantação do sistema de tramitação processual E-Proc, no
ano de 2003. Desenvolvido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tornou virtuais os
procedimentos dos Juizados Especiais Federais de sua abrangência.

Finalmente, ainda em 2006. Foi introduzido pela Lei nº 11.419/06, o PJE, com o
intuito de facilitar o acesso aos atos judiciais e propor uma maior agilidade aos atos
processuais. No processo eletrônico dispensa-se o uso de papel, ou seja, todo o processo e
seus atos são dispostos eletronicamente, via internet.

O Processo Judicial Eletrônico foi desenvolvido pelo Tribunal Regional Federal da


5ª Região, tendo como base o sistema CRETA, também desenvolvido pelo referido tribunal.
Em 2010, 16 tribunais de justiça estaduais e Tribunais Militares, bem como toda a justiça do
trabalho passaram a adotar também o PJE. A implantação do projeto PJE é tem coordenação
da Comissão de Tecnologia e Informação e Infraestrutura do Conselho Nacional de Justiça.

No PJE, os protocolos de cada petição ou recurso são feitos de forma muito mais
rápida, eliminando-se a numeração de páginas. Resume-se à presença do advogado apenas
aos atos essenciais, como comparecimento em audiências, não havendo mais a necessidade
de deslocamento para protocolo. Este, por ser feito via internet, dá ao advogado a
possibilidade de extensão de horas para a sua realização, o que acarreta um maior
aproveitamento dos prazos processuais.

Devemos falar também sobre a agilidade na expedição de mandados, citações dos


procuradores e das partes, intimações, cartas precatórias, ofícios, etc., que passaram a ser
realizados diretamente no sistema.

Não há no processo eletrônico a necessidade de carga dos autos, para que se tenha
acesso ao conteúdo de um ato ou recurso, do qual deva apresentar defesa ou réplica, podendo
visualizá-lo de qualquer lugar.

A inserção do processo ou procedimento eletrônico vem demonstrar a empenho da


justiça no tocante à evolução tecnológica, acompanhando a globalização de informações, além
27

da uniformização da via procedimental. É óbvio que há alguns obstáculos a serem enfrentados


para que possa-se efetivamente observar melhorias significativas, posto que o sistema
precisará de aperfeiçoamento constante, principalmente em virtude número cada vez maior de
demandas.

Outro problema é a qualidade das redes de internet, que em determinadas localidades


são muito lentas, ou há a perda de conexão frequente, o que dificulta o trabalho de protocolo.

Apesar da existência dessas outras dificuldades a serem superadas, o PJE é constitui


um importante passo no auxílio do combate à morosidade da justiça, considerando a
eficiência e agilidade das petições, o acompanhamento da ação que pode ser feito de qualquer
lugar, a rapidez com que se acessam os comunicados, decisões e atos dos juízes, o maior
aproveitamento de tempo para os recursos e a facilidade dos protocolos que foram
desburocratizados através do sistema.

2.2.6. O Conselho Nacional De Justiça

Instituído pela EC 45/04 e passando a funcionar a partir de junho de 2015, tem por
objetivo controlar, racionalizar e dar transparência aos atos do judiciário, trabalhando para
garantir o acesso à justiça, proporcionar efetividade e celeridade processuais e resguardar as
garantias fundamentais.

O CNJ atua de forma a centralizar os objetivos e nortear de forma uniforme as


atividades dos vários órgãos do judiciário espalhados por todo o Brasil. Antes, cada tribunal,
individualmente, adotava medidaspara garantir a melhor prestação jurisdicional,, agora essas
medidas são uma prerrogativa do CNJ, que padroniza e determina os moldes de instrumentos
a serem utilizados, em âmbito nacional, para que haja avanço e aperfeiçoamento do trabalho
realizado, fiscalizando a atividade administrativa e financeira do judiciário.

O CNJ É composto por 15 conselheiros, sendo nove magistrados, dois membros


do Ministério Público, dois advogados e dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação
ilibada. Dispõe de comissões permanentes, responsáveis por realizando o acompanhamento
das leis que tramitam n o congresso versando sobre o Poder Judiciário, promover campanhas,
estudar a problemática e propor soluções de interesse da justiça. As comissões são:
28

Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania; Comissão Permanente de


Articulação Federativa e Parlamentar; Comissão Permanente de Eficiência Operacional e
Gestão de Pessoas; Comissão Permanente de Gestão Estratégica, Estatística e Orçamento;
Comissão Permanente de Jurisprudência; e Comissão Permanente de Tecnologia da
Informação e Infraestrutura.

Para que a justiça funcione de maneira eficiente, é imprescindível que haja uma
análise das necessidades de cada região para promover de forma satisfatória a realização de
suas atividades, chegando-se assim, à identificação daquelas que são mais urgentes, em
caráter nacional. Também faz-se necessário fazer um estudo aprofundado sobre quais são os
maiores entraves, os motivos que dificultam mais severamente o bom desenvolvimento da
jurisdição, para, dispondo de tais informações, fazer um planejamento, propondo métodos de
solução de tais problemas, e que deve ser aplicado em âmbito nacional, por todos os tribunais.

É justamente nesse sentido que o CNJ empenha-se, tratando de estabelecer uma


integração na forma de atuação dos tribunais e demais órgãos judiciais. Para isto, o CNJ
dispõe de um Departamento de Pesquisas Judiciárias e o relatório Justiça em Números, que
apresenta os dados e indicadores sobre o funcionamento da justiça para, a partir de então
entrar com o plano de estratégias para atuação do poder judiciário.

É feito um levantamento acerca do número de ações protocoladas em 1ª instância, o


número de ações que subiram para a 2ª instância, o número daqueles que tiveram baixa
definitiva e processos em fase de execução. A partir daí o CNJ traça o plano de atuação dos
tribunais e define a aplicação dos recursos financeiros a serem investidos, em proporção às
necessidades de cada tribunal ou região. Também são planejados os investimentos de
tecnologias e infraestrutura, assim como possíveis mobilizações de servidores para suprir
carências.

A partir do ano de 2009, os presidentes dos tribunais assumiram compromisso com


a realização das 10 metas nacionais elaboradas com o objetivo de diminuir o volume de ações
e melhorar o funcionamento da justiça, que eram, à época:

1. Desenvolver e/ou alinhar planejamento estratégico plurianual (mínimo de 05


anos) aos objetivos estratégicos do Poder Judiciário, com aprovação no Tribunal
Pleno ou Órgão Especial.
2. Identificar os processos judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o
julgamento de todos os distribuídos até 31/12/2005 (em 1º, 2º grau ou tribunais
29

superiores).
3. Informatizar todas as unidades judiciárias e interligá-las ao respectivo tribunal e à
rede mundial de computadores (internet).
4. Informatizar e automatizar a distribuição de todos os processos e recursos.
5. Implantar sistema de gestão eletrônica da execução penal e mecanismo de
acompanhamento eletrônico das prisões provisórias.
6. Capacitar o administrador de cada unidade judiciária em gestão de pessoas e de
processos de trabalho, para imediata implantação de métodos de gerenciamento de
rotinas.
7. Tornar acessíveis as informações processuais nos portais da rede mundial de
computadores (internet), com andamento atualizado e conteúdo das decisões de
todos os processos, respeitado o segredo de justiça.
8. Cadastrar todos os magistrados como usuários dos sistemas eletrônicos de acesso
a informações sobre pessoas e bens e de comunicação de ordens judiciais (Bacenjud,
Infojud, Renajud).
9. Implantar núcleo de controle interno.
10. Implantar o processo eletrônico em parcela de suas unidades judiciárias. 5

Em se tratando especificamente de celeridade processual, devemos enfatizar a meta


de nº 2, destinada a conhecer as demandas mais antigas e e procurar formas concretas para o
julgamento daquelas que forma protocoladas até o fim do ano de 2005, em 1º e 2º graus e nos
tribunais superiores, o que demonstra a preocupação e o empenho das instituições no combate
à morosidade processual. As metas continuam sendo planejadas, tendo seu relatório atualizado
anualmente de acordo com as necessidades reconhecidas pela justiça.
O CNJ também desenvolve importante trabalho no tocante à promoção da
conciliação, destas medidas podemos destacar o projeto “Conciliar é legal”, que apresenta
resultados bastante expressivos e premia aqueles tribunais que destacam-se pelo número de
conciliações obtidas.
Há ainda a preocupação com as medidas para que haja sucesso nas conciliações e a
formação dos conciliadores. Através da resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010, foi
instituída a “Política Pública de Tratamento Adequado de Conflitos”, que trata sobre
programas para a promoção de ações que incentivem a conciliação e trata também da
instituição de um Código de Ética para conciliadores e mediadores judiciais.
Merece destaque também as ações propostas em relação ao volume de execuções,
sendo uma de suas prioridades a diminuição do acervo destas, o que é de extrema
importância, posto que, apesar do grande número de demandas, os valores obtidos não têm
números significativos, o que denota a precariedade e ineficácia do sistema de cobrança
judicial no Brasil, onde a fase de execução representa um gigantesco índice de
congestionamento no 1º grau. Segundo o relatório “Justiça em Números” sobre o ano de2014,
restaram pendentes 35.936.314 (trinta e cinco milhões, novecentos e trinta e seis

5
Disponível em< http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento/metas/metas-de-nivelamento-2009/meta-2/metas-
de-nivelamento-2009>. Acesso em:14/05/2016
30

Outras prerrogativas do CNJ são o recebimento de denúncias e


representações em face de membros e órgãos do judiciário, bem como o julgamento de
processos disciplinares.
A atuação do CNJ é, portanto, de suma importância para a busca da efetividade do
princípio da razoável duração do processo, não limitando-se à teorias sobre a melhoria da
atuação judicial, mas agindo de maneira consistente, criando meios e fornecendo recursos
para o aperfeiçoamento das operações a serem realizadas, e mostrando suas atividades através
de números legítimos que são publicados periodicamente estão à disposição do público em
site próprio, com o intuito de dar transparência ao trabalho que exerce.

2.3. FORMAS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS - MEDIAÇÃO,


CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM

Solucionar um litígio de forma pacífica, onde cada um dos litigantes abre mão de
parte daquilo que considera ser seu de direito, ao mesmo passo em que não arrisca-se a perdê-
lo por completo, baseando-se na conscientização, no diálogo e na partilha, é sem dúvida a
melhor maneira de pôr fim a qualquer conflito.

A desjudicalização dos conflitos é um grande progresso a ser conquistado pela


sociedade brasileira, e não é importante apenas para propiciar o desafogamento do sistema
judiciário, mas significa um significante avanço cultural, traduzindo-se na evolução do
pensamento de uma sociedade, onde deixa-se de prezar pelo “ter razão”, o que na maioria das
vezes é o sentimento que leva as partes a levarem o litígio até a última instância, para
começar a dialogar sobre um direito, de forma racional e ponderada.

Em entrevista ao site Consultor Jurídico, o advogado Roberto Pasqualim, especialista


em mediação e arbitragem explica:

São formas de resolver conflitos fora do Judiciário entre pessoas e entre empresas,
agora também entre pessoas e empresas da Administração Pública. E por que fora do
Judiciário? Porque o Judiciário hoje está entupido de processos, tem mais de 100
milhões de processos — segundo a última contagem do CNJ [Conselho Nacional de
Justiça] —, e as soluções das controvérsias que são levadas ao Judiciário demoram a
sair, obviamente pelo acúmulo de processos, e não porque juízes, desembargadores
ou ministros de tribunais superiores sejam lentos na solução. Não é por desídia ou
negligência, é pela desumanidade desse volume impressionante de causas. A
arbitragem e a mediação são maneiras de você abreviar a solução com segurança
jurídica plena, de forma rápida6.

6
LUCHETTE, Felipe. Entrevista Roberto Pasqualim, Especialista em Arbitragem,2015.Disponivel em<
http://www.conjur.com.br/2015-jul-26/entrevista-roberto-pasqualin-especialista-mediacao-arbitragem>. Acesso
em14/05/2016.
31

É certo que no juízo comum, bem como nos juizados especiais, já existe um grande
estímulo à resolução amigável das lides, inclusive, tendo, muitas vezes, resultados favoráveis
nesse sentido, mas não em números expressivos, o que significa, muito infelizmente que
grande parte das demandas não resolvem-se de forma cordial.

Necessário se faz, ainda, que a população conscientize-se das consequências de levar


uma demanda judicial até o fim, ocasião onde uma das partes sai perdendo, sendo, portanto,
prejudicada. Ao passo em que a solução pacífica é muito mais benéfica, além do tempo
empregado, que é nitidamente inferior ao empregado em qualquer demanda judicial.

As Câmaras de Mediação, Conciliação e Arbitragem vem ganhando espaço e maior


credibilidade no meio social, mas ainda exercem um tímido papel na solução de conflitos. A
grande maioria da população ainda prefere levar suas discórdias ao judiciário.

Há ainda um longo caminho a ser percorrido, com a necessidade de se promover


campanhas e desenvolver programas no sentido de orientar a população acerca da eficácia das
formas alternativas e estimular a resolução de seus conflitos sem a necessidade de valer-se do
judiciário.

2.3.1 Abordagem histórica da arbitragem no brasil

A arbitragem como forma de resolução de conflitos encontra-se no ordenamento


jurídico brasileiro desde a época do império, estando presente na constituição de 1824, que
em seu artigo 160, dispôs:

“Nas (causas) civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear
Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as
mesmas Partes”.

A primeira constituição republicana, em 1891 apenas incentivou a prática da


arbitragem para a solução de conflitos entre Estados soberanos, não mencionando sua prática
entre particulares.

Com a promulgação da Lei nº 3.071, de 1916, o primeiro Código Civil do Brasil, foi
disposta a arbitragem, inclusive entre particulares, da seguinte forma:
32

Artigo 1.037 – As pessoas capazes de contratar poderão, em qualquer tempo, louvar-


se mediante compromisso escrito, em árbitros, que lhes resolvam as pendências
judiciais e extrajudiciais.
[...]
Artigo 1.041 – Os árbitros são juízes de direito e de fato, não sendo sujeito o seu
julgamento a alçada ou recurso, exceto se o contrário convencionarem as partes.
(BRASIL, 1916).

A constituição de 1934 conferiu à União a competência para disciplinar as regras do


instituto da arbitragem em âmbito comercial

Nas Constituições de 1937, 1946 e 1967, não houve qualquer menção ao instituto da
arbitragem.

O Código de Processo Civil de 1939 estabeleceu regras para a arbitragem do artigo


1031 a 1046.

O Código de Processo Civil de 1973, fez alterações nas disposições que versavam
acerca da arbitragem no código de 1939, destacando o Capitulo XIV- Do Juízo Arbitral,
tratando este, unicamente dessa matéria, nos procedimentos especiais de jurisdição
contenciosa (Título I, Livro IV), dispondo sobre tal, nos artigos 1.072 a 1.102, que
posteriormente foram revogados pela Lei n.º 9.307/1996.

Na nossa atual Constituição, de 1988 já em seu preâmbulo, é feita uma referência à


arbitragem, quando o legislador fala de uma sociedade comprometida com “a resolução
pacífica de suas controvérsias”.

Além da referida menção, a Constituição ainda refere-se a arbitragem em seu art. 4º,
§ 9º, VII, assim como no art. 114, § 1º.

Alei nº 9.307/96 ou Lei Marco Maciel trata de regularizar especificamente as regras


da arbitragem e revogou todos os dispositivos sobre o tema, no código de processo Civil de
1973. Segundo este, havia a necessidade de homologação do laudo arbitral, sujeitando o
processo à apelação em justiça estatal, e consequentemente, um possível recurso especial ou
extraordinário, o que descaracterizava as vantagens propostas na jurisdição privada, inclusive,
a celeridade da demanda,

A Lei da arbitragem deu uma nova roupagem a este instituto, conferindo-lhe maior
autonomia. Entre as principais inovações podemos destacar as seguintes:
33

Artigo 2º - Deu às partes autonomia para escolherem a forma de execução do


procedimento arbitral, inclusive sobre métodos de julgamento, ou seja, quais normas
serão aplicadas pelo árbitro para resolver o conflito;
Artigo 7º - A cláusula compromissória tornou-se exequível, com a modificação da
disposição dada pelo artigo 301, inciso XIV do Código de Processo Civil, e também
elaborou formas para a execução da cláusula arbitral;
Artigo 17 - Tratou de conferir equidade entre os árbitros e funcionários públicos,
em relação a sanções penais, com o objetivo de propicias as partes maior segurança;
Artigo 18 – Deu maior autonomia aos árbitros no tocante a eliminar a homologação
necessária do laudo arbitral pelo poder judiciário;
Artigo 31 – dispôs sobre os efeitos da sentença arbitral para as partes e seus
sucessores, conferindo-lhe os mesmos efeitos produzidos pelo pela justiça estatal,
inclusive a constituição de título executivo mediante sentença condenatória;
Artigo 32 – eliminou a recorribilidade da sentença arbitral, admitindo apenas a ação
anulatória, se fundamentada mediante a desobediência à pratica formal do
procedimento da arbitragem, ou seja, a identificação de vícios na sua instauração,
no processo ou no laudo;
Artigo 35 – Extinguiu a exigibilidade de homologação do laudo arbitral estrangeiro
no país onde foi proferido, bastando somente a homologação do mesmo pelo
Supremo Tribunal Federal para que produza efeitos no Brasil.

O Novo CPC normatiza a arbitragem como forma de jurisdição no nosso sistema


jurídico, dispondo neste sentido, no §1º de seu artigo 3º, e ainda dispõe em seu artigo 237 de
um novo instituto chamado de Carta Arbitral, por meio da qual harmonizam-se as duas formas
de jurisdição, por meio de cooperação de órgão judiciário para com juízo arbitral, no sentido
de fazer cumprir determinações ou sentenças arbitrais.

2.3.2. Distinção entre os mecanismos de mediação, conciliação e arbitragem

Os institutos de mediação, conciliação e arbitragem possuem características diversas


uns dos outros, sendo empregadas diferentes formas de procedimento, sendo feita a escolha de
um dos institutos de acordo com o conteúdo de cada caso.

A conciliação geralmente é o procedimento mais rápido, sendo aplicado à solução de


questões de reparação de danos, por exemplo, onde o conflito é recente, não sendo
caracterizado por uma relação duradoura pretérita ou futura entre as partes, relacionando-se a
um ponto específico de divergência, e justamente pela menor complexidade do problema, as
partes resolvem submetê-la a essa forma de procedimento. Normalmente é formada pela
reunião entre as partes e o conciliador, no intuito de uma resolução imediata.
34

A mediação, por sua vez, é aplicada, na maioria das vezes, quando existe uma
querela que delongou-se no tempo, entre as partes. È muito utilizada em questões familiares,
por exemplo. Aqui, é necessário um maior conhecimento do objeto da ação e os argumentos
das partes, pelo mediador, para que possa orientar de forma correta a construção do diálogo
para a solução da controvérsia.

A arbitragem é geralmente utilizada nos conflitos que tem como objetivo, a discussão
acerca de direitos patrimoniais disponíveis, exigindo, muitas vezes, que o árbitro investido
para a resolução da questão seja um especialista no assunto em discussão, para oferecer maior
segurança e eficácia à decisão.

A arbitragem pode ser convencionada em de cláusula contratual entre as partes, a


qual recebe o nome de Cláusula compromissória ou Cláusula Arbitral, através da qual, as
partes elegem a arbitragem para a resolução de possíveis litígios futuros.

A outra forma de utilização da arbitragem é através do compromisso arbitral,


objetivando a resolução de um conflito já existente. È um termo, pelo qual, as partes, em
decisão acordada, resolvem pela renúncia da solução da lide pela justiça estatal e elegem a
arbitragem para tal.

As formas alternativas de solução de conflitos aqui tratadas, especificamente falando


em jurisdição privada, representam uma importantíssima ferramenta a favor da celeridade
processual, tanto pelo fato da possibilidade de retirar da justiça estatal as demandas que
possam ser abrangidas por essa espécie de jurisdição, bem como pela maior rapidez que há na
realização dos procedimentos próprios destes institutos.

Há no Brasil hoje uma crescente procura pelos cursos capacitatórios nas áreas de
mediação, conciliação e arbitragem, bem como são crescentes os esforços das já instauradas
Câmaras de mediação e arbitragem, no sentido de divulgação sobre a confiabilidade, eficácia,
economia de tempo e todas as outras vantagens na procura pela resolução alternativa das
lides.

Infelizmente, a procura pela jurisdição privada ainda possui números inexpressivos,


porém, esses institutos, representam, talvez, a maior e melhor oportunidade de desobstrução
do sistema judiciário, para que se possa promover uma prestação jurisdicional célere.

As mais Novas alterações no Processo Civil forma trazidas recentemente pela lei nº
13.105/2015, com o Novo Código de Processo Civil, e a lei nº 13.256/2016 que trouxe
alterações ao referido código, porém, os comentários ao Novo Código e suas contribuições
35

para a celeridade processual serão abordadas posteriormente neste trabalho, em capítulo


próprio.

3 – O ABUSO DO DIREITO COMO OBSTÁCULO À RAZOÁVEL DURAÇÃO DO


PROCESSO

3.1 – CONCEITO DE ABUSO DO DIREITO

Quando um indivíduo, investido de um direito, age de forma a prejudicar outrem,


fazendo uso desse direito, ou age de forma a desvirtuar as finalidades ou garantias a sí
conferidas por ele, ela está cometendo um abuso de direito. Muitas vezes praticando tal ato, o
indivíduo não obtém vantagem alguma para sí, apenas causa dano a outro indivíduo, o que
demonstra uma distorção de um dos objetivos do direito, que é pacificar a sociedade.

Um interesse individual, mesmo que seja exercido amparado por lei que lhe garanta,
não deve contrariar o interesse da coletividade em geral, ou causar prejuízo a terceiros,
quando isso ocorre, há, pois, um contraste entre o que objetivou-se ao postular tal direito, e o
que resultou com o seu exercício.

No período medieval, fundou-se a teoria dos atos emulativos, ou aemulatio, baseada


no direito romano, na qual o mencionado ato emulativo caracteriza-se como aquele praticado,
sem a intenção de atrair vantagem para quem o pratica, objetivando apenas o prejuízo de
outrem.

No direito romano, já havia a ideia do abuso do direito, inclusive, sendo aplicada


como fundamento para o julgamento de casos da época, reconhecendo que certas condutas
eram praticadas contrariando a ética e a moral, porém, os romanos não chegaram a
desenvolver qualquer teoria própria aos atos emulativos.7

Há na doutrina, portanto, uma divergência quanto ao surgimento dessa teoria, com


correntes que defendem que ela teria surgido no direito romano, mesmo não havendo menção
direta à conduta abusiva, e outra corrente que, diferencia “noção” e “teoria”, e assim, defende
que havia no direito romano a noção de abuso do direito, porém, a teoria teria sido
desenvolvida apenas na idade média.

Há ainda teorias que defendem a inexistência do abuso de direito, como é o caso do


jurista francês, Marcel Planiol. Para ele, não há abuso ao exercer um direito, se o indivíduo

7
BARROS, João Álvaro Quintiliano. Abuso de Direito, 2005. Disponível em<
https://jus.com.br/artigos/6944/abuso-de-direito>. Acesso em15/05/2016
36

age dentro da licitude, e se ultrapassa os limites, estaria cometendo um ato ilícito. Não há,
assim, como abusar de um direito.

Ao conceituar o abuso do direito, afirma Paulo Nader:

Abuso de direito é espécie de ato ilícito, que pressupõe a violação de direito alheio
mediante conduta intencional que exorbita o regular exercício de direito subjetivo. É
equivocado pretender-se situar o abuso de direito entre o ato lícito e o ilícito. Ou o
ato é permitido no Jus Positum e nos pactos, quando é lícito, ou a sua prática é
vedada, hipótese em que se reveste de ilicitude8.

Temos, segundo o pensamento do autor, que a conduta abusiva caracteriza ato ilícito,
pois aquele que age intencionalmente com o propósito de prejudicar a outro, está exercendo o
seu direito de forma irregular, e, assim sendo, está agindo com ilicitude.

O autor, ainda traça, em sua teoria, os requisitos que considera necessários para o
reconhecimento do abuso do direito, que são:

1º Requisito - Titularidade do direito: É necessário que aquele que exercita o direito,


para sí ou seus subordinados, esteja investido na titularidade de um direito subjetivo.
2º Requisito - Exercício Irregular do Direito: Ocorre quando o indivíduo age, de
maneira a deturpar a finalidade do direito a sí conferido, com a intenção de
prejudicar um terceiro.
3º Requisito - Rompimento de Limites Impostos: O indivíduo deve agir de modo a
extrapolar os limites delimitados pelos fins econômicos ou sociais do direito, agindo
contra o equilíbrio social.
4º Requisito - Violação do Direito Alheio – è necessário também que esteja
configurada a violação do direito de outro indivíduo, o qual podemos citar, a
violação do direito a um processo de razoável duração.
5º Requisito - Elemento Subjetivo da Conduta: No tocante aos atos ilícitos, a culpa
encontra-se como requisito necessário à conduta, porém, apesar de classificar abuso
de direito como ato ilícito, o legislador não fez menção ao requisito da culpa,
entende-se, portanto, que esta encontra-se dispensada na teoria do abuso do direito.
6º Requisito - Nexo de Causalidade: É necessária a comprovação de que o prejuízo
causado deu-se em decorrência da conduta praticada, considerada abusiva.9
Ao dispor sobre os requisitos necessários para que se tenha caracterizada a conduta
abusiva de direito, o autor cria parâmetros interessantes para os estudiosos e interessados no
assunto, pois oportuniza um conhecimento mais específico sobre a maneira como ocorre (o
abuso do direito) e seus efeitos, ao mesmo passo em que possibilita distinguir mais facilmente
o exercício irregular do direito, daquele considerado normal, ou seja, analisando se uma

8
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil – Vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016, p. 616.
9
Idem, p.618
37

determinada conduta enquadra-se nos requisitos mencionados, pode-se obter uma conclusão
sobre sua abusividade ou não.

Os parâmetros delineados por Paulo Nader, não são de unanimidade consensual na


doutrina, há teorias que defendem outros requisitos como formas de reconhecimento de
conduta abusiva.

O Código civil brasileiro, em seu artigo 187, dispõe sobre a natureza jurídica de
abuso do direito da seguinte maneira:

“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.”
A figura jurídica de abuso do direito também está prevista nas legislações de outros
países, dos quais podemos citar o código civil português, do qual a nossa legislação inspirou-
se ao conceituar o tema, e o código civil holandês.

Pelos pontos expostos, temos, pois, que o abuso do direito trata de uma forma de
exercer um direito do qual se está investido, mas com uma razão escusa, imoral, com interesse
de lesar ou prejudicar o direito de outra pessoa, distorcendo o que foi almejado pela
legislação ao conferir tal direito, e aquele que age de tal forma, comete ato ilícito, de acordo
com o disposto no nosso código Civil.

A vida cotidiana em sociedade está repleta de situações nas quais configura-se a


prática da conduta abusiva, desde as relações familiares até a esfera política, e o direito, tem
como base a pacificação social, portanto, deve trabalhar de forma a identificar a presença
desse tipo de comportamento, para que seja possível coibi-lo ao máximo, trazendo a sanções
aos culpados, indenização aos prejudicados, quando necessário e proibindo a propositura de
ações nas quais reconheça-se o interesse de causar prejuízo a terceiros.

Embora a conduta abusiva não acarrete responsabilidade penal a quem a comete,


posto que não representa um tipo penal em si, é inegável que seus efeitos podem causar danos
graves a outros e trazer desarmonia, sendo então, imprescindível que a justiça busque formas
para tolher sua ocorrência.

O direito à razoável duração do processo é extremamente prejudicado pela figura do


abuso do direito. A seguir, será feita uma abordagem acerca de algumas das circunstâncias
onde são observadas condutas consideradas irregulares no exercício de um direito, inclusive
na esfera processual.
38

3.2 – HIPÓTESES DE ABUSO DO DIREITO

Em se tratando de relações familiares, podemos citar como exemplo de abuso de


direito, o pai ou mãe que, detentor da guarda de um filho menor, em caso de divórcio, age de
forma a comprometer o relacionamento do filho com a parte que não dispõe da guarda,
dificultando visitas, agindo, mesmo que sutilmente, de forma a desinteressar a criança da
companhia do pai, ou da mãe, conforme o caso.

Existe a punição par alienação parental, porém, muitas vezes aquele que detém a
guarda age de forma tão ardilosa, que não é possível comprovar que esta aconteceu de fato.
Assim agindo, estamos diante de um caso de abuso do direito de maternidade ou paternidade,
posto que há um prejuízo visível da outra parte.

Podemos citar ainda, o caso de um cônjuge que recebe do outro pensão alimentícia, e
constitui nova união, mas oculta o fato da parte alimentante, para assim, continuar
beneficiando-se da referida pensão, lesando a outra parte, que neste caso, encontra-se
desobrigada de prestar alimentos.

Outro campo onde ocorrem frequentes situações de abuso do direito são as relações
de consumo. Podemos citar, por exemplo, as empresas que efetuam cobranças de forma
excessiva, e muitas vezes vexatória aos seus clientes, com ligações telefônicas feitas inúmeras
vezes diariamente, onde o devedor muitas vezes sofre agressões verbais ou até ameaças, ou
muitas vezes, a cobrança é feita pessoalmente em sua casa, causando constrangimento perante
seus familiares e até mesmo vizinhos.

Também dentro das relações de consumo é comum a existência de cláusulas abusivas


em contratos, isentando uma das partes de certas responsabilidades que lhe caberiam, ou
cobrando juros excessivos, ou efetuando descontos diretamente das folhas de pagamento.

Na esfera trabalhista, podemos citar o caso de patrão, que, para não arcar com os
custos da demissão de um funcionário, age de maneira a coagi-lo a pedir demissão,
atribuindo-lhe excessivas prerrogativas, ou atribuindo-lhe serviços não próprios do cargo que
ocupa, caracterizando o chamado “desvio de função”, ou pressionando- o a agir de forma
desagradável, como por exemplo, exigir que um chefe de setor cobre de forma abusiva de
seus subordinados.
39

Outro caso comum de abuso do direito nas relações trabalhistas é aquele em que o
patrão atribui justa causa sob a falsa alegação de que o funcionário que está sendo dispensado
agiu de forma ilícita ou cometeu qualquer hipótese que justifique esse tipo de demissão.

Comete abuso de direito de propriedade, aquele que promove poluição sonora, que
venha a perturbar seus vizinhos, ou aquele que, alegando dar maior segurança a sua casa,
constrói em torno dela um muro muito alto, que venha a bloquear a entrada de sol e de vento
em imóvel vizinho.

Em se tratando de propriedade rural, podemos citar como abuso de direito de


propriedade, o caso de um indivíduo que adquire nova propriedade, vizinha à sua, e bloqueia
uma faixa de terra que servia como passagem para aqueles que vinham de outras propriedades
próximas, que a partir de então, terão que encontrar outro acesso.

No mundo virtual também é muito comum a prática de atos abusivos. Nas relações
comerciais efetuadas via internet, por exemplo, é comum a o caso de vendedores que
entregam apenas parte dos produtos solicitados pelo cliente para que este arque novamente
com os custos do transporte de tais produtos.

Outra prática abusiva comum na internet é aquela em que determinados sites de


empresas vendedoras ou prestadoras de serviços, onde por ventura tenha-se efetuado uma
compra ou solicitado algum serviço disponibilizado, aproveitando-se do fato do cliente ter
fornecido seus dados, passa a enviar-lhe propaganda de suas ofertas, sem que o cliente tenha
solicitado tais notificações, ou pior, sem a autorização deste, o que pode causar grande
transtorno diante da quantidade de mensagens a serem apagadas diariamente. Esse tipo de
mensagem publicitária é conhecido como spam.

Pela falência que pode gerar a internet o spam contraria o fim social e econômico da
grande rede, o que já serviria para enquadrar a prática como abuso de direito. De
outro norte, insta salientar que a conduta dos spammers também é atentatória a boa-
fé objetiva. Uma pessoa que envia mensagens para uma outra sem que esta tenha ao
menos solicitado, está distante da probidade e lealdade que se espera das relações
intersubjetivas, mesmo que se manifestem em meios virtuais.10

Alguns provedores de internet vêm trabalhando pra coibir a prática do envio de


spam, criando uma espécie de “lista negra” de sites que costumam enviar essa publicidade, e
impedindo o envio das mesmas.
10
BARROS, João Álvaro Quintiliano. Abuso de Direito,2005.Disponível
em<https://jus.com.br/artigos/6944/abuso-de-direito/3>.Acesso em: 29/05/2016
40

No mundo jornalístico também ocorre a prática de abuso de direito, seja via TV,
rádio, internet ou qualquer mídia. Alguns sites, ou blogs, bem como jornais, usando do direito
de liberdade de expressão, extrapolam o limite do informativo, tecendo críticas exageradas a
pessoas, ou instituições, etc. Dessa forma, muitas vezes atacam à honra ou a privacidade, o
que pode ensejar ação judicial para reparação de danos.

Vejamos a seguir o julgamento, pelo Superior tribunal de Justiça, no sentido de


reconhecer a conduta abusiva e dar Provimento a Recurso Especial movido pela parte que
pleiteava danos morais por veiculação de notícias de caráter ofensivo.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL.


MATÉRIA JORNALÍSTICA. ABUSO DO DIREITO DE INFORMAR
CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO PROVIDO.
1. Nas hipóteses em que os fatos vêm descritos no acórdão e na sentença, mostra-se
viável que se faça a valoração da situação posta para verificar-se a existência ou não
de ofensa à honra, não sendo de aplicar-se o entendimento anunciado na Súmula
7/STJ. Precedentes.
2. O aparente confronto entre o direito à informação e à crítica jornalística e os
direitos à imagem, à honra e à vida privada somente pode ser harmonizado levando-
se em consideração as premissas fáticas do caso.
3. A liberdade de expressão, compreendendo a informação, a opinião e a crítica
jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu exercício,
compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o compromisso ético com a
informação verossímil; (II) a preservação dos chamados direitos da personalidade,
entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à
intimidade; e (III) a vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de
difamar, injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi) - (REsp
801.109/DF).
4. A utilização de qualificativo, per se, objetivamente ofensivo à honra
descaracteriza o "animus narrandi" e o "animus criticandi", pois extrapola os limites
da crítica para ingressar no ataque à honra.
5. O fato de as matérias desabonadoras terem sido reiteradas em diversos meios de
comunicação não atenua a gravidade da conduta, ao contrário, a aumenta, pois sua
maior repercussão amplia o dano injusto causado.
6. A fixação do valor da reparação decorrente do abuso do direito de informar e
criticar deve ter como parâmetros o grau de culpa do ofensor, a gravidade de sua
conduta, o nível socioeconômico das partes, o veículo em que a matéria foi
difundida, a necessidade de restaurar o bem-estar da vítima, bem como desestimular
a repetição de comportamento semelhante.
7. Agravo regimental provido, para conhecer do agravo e dar provimento ao recurso
especial.11
O sistema judiciário brasileiro está saturado de processos viciados pelo abuso
de direito, que ocorrem desde a propositura de determinadas ações, e estendem-se por todo o

11
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão no AgRg no AREsp 606415 RJ 2014/0278520-6. Relator:
BUZZI, Marco. Publicado no DJe de 01-07-2015. Disponível em <
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/204398789/agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-especial-agrg-no-
aresp-606415-rj-2014-0278520-6>. Acessado em 29-05-2016.
41

procedimento, contaminando o feito, caracterizando uma quantidade exacerbada de demandas


desnecessárias, que somente atrapalham o desenvolvimento das atividades da justiça.

Infelizmente a “aparência de direito” que muitas vezes esconde uma intenção imoral,
serve como arma aqueles que agem de má-fé, quando, ao exercerem um direito, mesmo que
de forma irregular, acreditam na obtenção de sucesso numa lide judicial, alegando estarem
acobertados pela lei, e assim, iniciam litígios com o objetivo de prejudicar terceiros, ou,
quando são requeridos numa ação, utilizam-se dos instrumentos processuais disponíveis como
artifícios para atrapalhar e protelar o julgamento desta.

O Novo Código De Processo Civil, em seu artigo 77, dispõe sobre os deveres
processuais da seguinte forma:
Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus
procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são
destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração
ou à defesa do direito;
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final,
e não criar embaraços à sua efetivação;
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço
residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação
sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.

O referido disposto vem, pois, ratificar a preocupação do legislador em combater o


abuso do direito cometido em esfera processual, e ratificar o empenho da justiça para garantir
que as demandas propostas estejam conduzidas pela moral e pela boa razão, e
consequentemente, a prestação jurisdicional proporcione o bem estar coletivo.

3.2.1 Venire contra factum proprium - da proibição do comportamento contraditório

A expressão “nemo potest venire contra factum proprium” é uma expressão latina
traduz-se como “ninguém pode comportar-se contra seus próprios atos”, constituindo uma das
bases do direito civil.

Significa que um indivíduo, ou grupo de indivíduos, por exemplo, que adota uma
determinada conduta, que se prolonga no tempo, criando em outrem ou em terceiros de boa-fé
a real expectativa de um direito, pautada nessa determinada conduta, e dessa forma criando
42

efeitos jurídicos, não poderá posteriormente, adotar conduta diversa à primeira, causando
prejuízos às partes em que provocou a referida expectativa de direito.

A conduta comissiva ou omissiva, ou até mesmo a palavra dada, que , por


consequência atinge a outros em esfera jurídica, passando estes a praticarem determinados
atos e esperar efeitos, não pode , em momento diverso futuro, ser contraposta pelo exercício
de uma conduta diversa, que venha a surpreender de forma negativa os que dela beneficiaram-
se, causando-lhes danos, posto que estes agiram de acordo com a confiança estabelecida na
relação daquele que assumiu tal conduta.

O Factum Proprium é, pois , a primeira conduta adotada, a partir da qual criou em


um terceiro de boa fé a expectativa de determinados efeitos jurídicos, por acreditar que essa
determinada conduta iria perpetuar-se.

O Venire contra significa, portanto, a mudança inesperada de atitude do próprio


sujeito que exerceu a conduta descrita como factum proprium, frustrando a expectativa que
provocou no terceiro de boa-fé.

Trata-se, portanto, de uma conduta antijurídica, que viola o princípio da boa-fé objetiva, e dos
deveres da confiança e coerência nas relações jurídicas, constituindo um abuso de direito.

3.2.1.1. SUPRESSIO, SURRECTIO E TUO QUOQUE

Os institutos da Supressio, surrectio e Tuo quoque são modalidades de


comportamentos contraditórios, com conceitos e efeitos específicos, configurando condutas
distintas, que são vedadas por lei também pela ocorrência de contradições que causam
prejuízos a terceiros. Bem como o venire cntra factum proprium, suas modalidades também
não estão expressamente definidas no ordenamento jurídico brasileiro, sendo sua interpretação
retirada de determinados dispositivos legais que versam sobre condutas jurídicas. Há, porém
na jurisprudência, alguns julgados que fazem referência expressa a vedação de tais condutas,
as quais detalharemos ais adiante.

Segundo a definição de Menezes Cordeiro “Diz-se de Supressio a situação do direito


que, não tendo sido, em certas circunstâncias, exercido por um determinado lapso de tempo,
não possa mais sê-lo por, de outra forma, contrariar a boa-fé”.12

12
Da boa fé No direito civil, Coimbra Livraria Almedina,1997, Pág. 797
43

Ocorre a supressio, quando, num acordo convencionado, estabelecem-se regras


bilaterais para seu cumprimento, sendo que uma das partes, comporta-se de forma a agir de
forma a descumprir tais regras, mesmo que com uma conduta banal, por exemplo:
convenciona-se num contrato de locação que o locatário deve depositar mensalmente o
aluguel em determinada conta bancária, porém, o locador age de forma informal, permitindo
que o locatário lhe pague pessoalmente via recibo ou deposite em outra conta, e em
momento posterior passa a querer pôr fim ao contrato alegando descumprimento do mesmo
por parte do locatário, que agiu de boa fé, de acordo com a conduta reiterada do locador, e
agora é surpreendido pela repentina mudança de atitude.

A Supressio configura-se deste modo, pela inércia do locador diante da situação


estabelecida, por um período de tempo considerável, que levou a outra parte a confiar na
contiguidade da postura adotada por ele.

O artigo 330 do Código civil aduz, in verbis: “O pagamento reiteradamente feito em


outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”.

Nesse caso, o direito do locador de exigir o fiel cumprimento do contrato por parte
do locatário deve ser suprimido, pois que a conduta por ele adotada durante o considerável
lapso temporal, foi que levou à presunção de um direito de conduzir os atos de modo como
ocorrido, não sendo possível agora, que o locatário seja prejudicado pela súbita mudança de
atitude do locador.

A Surrectio por sua vez, caracteriza-se pela ampliação da obrigatoriedade de uma das
partes mediante o surgimento do direito subjetivo da contraparte, oriundo da conduta
estabelecida em determinada situação. A parte que deixa de exercer o seu direito, ficando
inerte acerca de uma situação estabelecida, faz presumir na contraparte a confiança de
imutabilidade da relação, criando assim o efeito jurídico de um direito adquirido.

Ainda usando o exemplo anteriormente mencionado, referente ao contrato de locação


onde foi pactuada uma forma de pagamento, mas na prática ocorreu de outra forma,
estendendo-se ao longo do tempo, a surrectio representa o surgimento do direito subjetivo do
locatário na continuidade do contrato na maneira como procedia com o pagamento, posto que
agiu de boa-fé, e o locador não exigiu o cumprimento da convenção contratual descumprida.

Ressalte-se que o instituto da surrectio não acontecerá necessariamente da


desvirtuação de algo que foi pactuado de uma forma e na prática ocorreu de outra, pode
ocorrer também em casos onde nada foi pactuado, simplesmente pela inércia de uma das
44

partes em deixar de exercer um direito, ou de exigi-lo por certo lapso de tempo, permitindo
que a contraparte agisse livremente, fazendo surgir o direito subjetivo desta.

A expressão Tuo Quoque, trauzida como “tu também”, caracteriza a situação de


surpresa de uma as partes de uma relação jurídica em virtude da repentina mudança de atitude
da outra, que passa a exigir uma determinada prestação ou pleitear algum direito que antes,
ela própria negligenciara ou não observara.

Ainda valendo-se do exemplo de contrato e locação supracitado, o tuo quoque ocorre


justamente quando o locador muda sua conduta e passa a pleitear o fim do contrato alegando
descumprimento por parte o locatário, que é surpreendido em suas expectativas, e será
prejudicado caso surtam efeitos dessa brusca mudança.

A proibição desse tipo de comportamento vem o princípio “nemo auditur propriam


turpitudinem allegans” ou “ninguém poderá beneficiar-se de sua própria torpeza”.

Ainda segundo o pensamento de Menezes Cordeiro:

A pessoa que, mesmo fora do caso nuclearmente exemplar do sinalagma,


desequilibre, num momento prévio, a regulação material instituída, expressa, mas só
em parte, no seu direito subjetivo, não pode pois pretender, como se nada houvesse
ocorrido, exercer a posição que a ordem jurídica lhe conferiu. Distorcido o equilíbrio
da base, sofre-lhe a conseqüência13

Nesse diapasão, temos, pois, que aquele que exerce uma posição jurídica contrária ao
seu direito, e a prolonga no tempo, não poderá posteriormente, agindo de má-fé, prejudicar a
contraparte envolvida, em quem despertou a confiança e a real expectativa de um direito.

A jurisprudência brasileira vem reiteradamente manifestando-se no sentido a vedação


do comportamento contraditório, reconhecendo os malefícios causados pela mudança
repentina e uma situação jurídica a quem, agindo e boa-fé, confiou em sua continuidade,
vejamos um exemplo:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CAMBIÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADEDE TÍTULO DE CRÉDITO. NOTA PROMISSÓRIA. ASSINATURA
ESCANEADA.DESCABIMENTO. INVOCAÇÃO DO VÍCIO POR QUEM O DEU
CAUSA. OFENSA AOPRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. APLICAÇÃO DA
TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOSSINTETIZADA NOS BROCARDOS LATINOS
'TU QUOQUE' E 'VENIRE CONTRAFACTUM PROPRIUM'.
1. A assinatura de próprio punho do emitente é requisito de existência e validade de
nota promissória.
2. Possibilidade de criação, mediante lei, de outras formas de assinatura, conforme
ressalva do Brasil à Lei Uniforme de Genébra .

13
Da boa fé No direito civil, Coimbra. Livraria Almedina,1997, Pág. 797
45

3. Inexistência de lei dispondo sobre a validade da assinatura escaneada no Direito


brasileiro.
4. Caso concreto, porém, em que a assinatura irregular escaneada foi aposta pelo
próprio emitente.
5. Vício que não pode ser invocado por quem lhe deu causa.
6. Aplicação da 'teoria dos atos próprios', como concreção do princípio da boa-fé
objetiva, sintetizada nos brocardos latinos 'tuo quoque' e 'venire contra factum
proprium', segundo a qual ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição
com a sua conduta anterior ou posterior interpretada objetivamente, segundo a lei, os
bons costumes e a boa-fé
7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema.
8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.14

A incidência de comportamento contraditório nas situações jurídicas estabelecidas na


sociedade, representadas pelos seus institutos, aqui exemplificados, quais sejam: “venire
contra factum proprium”, “supressio”, “surrectio” e “tuo quoque”, onde se pode verificar a
conduta de má-fé, oferecem um considerável dano ao princípio da razoável duração o
processo, no tocante ao acúmulo e de demandas propostas por via desse tipo de
comportamento, o judiciário encontra-se repleto de ações desprovidas de razão em seus
fundamentos, onde há apenas a intenção de uma parte em prejudicar a outra,
propositadamente, valendo-se de um direito conferido, mas nunca exercido, e que, em razão
disto, criou direito subjetivo em outrem.

3.2.2. DA MÁ-FÉ PROCESSUAL

Conforme já pudemos observar, a boa-fé processual é exigida como dever das partes
tanto na Constituição federal, como nos Código e Civil e de Processo Civil, ou seja, cada
uma das partes deve proceder com observância aos parâmetros legais e morais estabelecidos
para que o processo ocorra e forma correta, desde o momento e sua propositura até a
formação da coisa julgada, seguindo os trâmites e maneira a garantir a celeridade e a
efetividade a prestação jurisdicional.

14
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1192678 PR 2010/0083602-0. Relator: SANSEVERINO, Paulo
de Tarso. Publicado no DJe de 26-11-2012. Disponível em < http://
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22831131/recurso-especial-resp-1192678-pr-2010-0083602-0-stj>. Aces
sado em 07-07-2016.
46

“Exige-se, então, das partes em Juízo não só obediência às regras estabelecidas para essa manifestação
escrita perante ele, como, ainda, que o conteúdo dessa manifestação seja lícito e, portanto, ético e
impregnado de lisura”15

A má-fé processual consiste justamente na contraposição aos dispositivos


supramencionados. Ocorre quando uma das partes intenta contra os objetivos fundamentais
processuais, demandando ou agindo no decorrer da demanda, de forma viciada, desvirtuando
a finalidade processual, ao conceituar a má-fé processual, aduz Plácido e Silva:

A expressão derivada do baixo latim malefacius [que tem mau destino ou má sorte],
empregada na terminologia jurídica para exprimir tudo que se faz com entendimento
da maldade ou do mali que nele se contém. A má-fé, pois, decorre do conhecimento
do mal, que se encerra no ato executado, ou do vício contido na coisa, que ser quer
mostrar como perfeita, sabendo-se que não o é [...] A má-fé opõe-se à boa-fé,
indicativa dos atos que se praticam sem maldade ou contravenção aos preceitos
legais. Ao contrário, o que se faz contra a lei, sem justa causa, sem fundamento
legal, com ciência disso, é feito de má-fé.16

O Novo Código de Processo Civil dispõe, em seu artigo 80 e incisos, sobre a


litigância de má-fé, da seguinte forma:

Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:


I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Qualquer indivíduo que venha a agir de acordo com tais disposições, portanto,
será considerado litigante e má-fé, posto que sua conduta é nociva ao bom desempenho
processual.

Ao dispor sobre os atos concernentes à litigância de má-fé, o legislador atua no


sentido de estabelecer linhas para que o Juízo, seja em primeiro ou segundo grau, possa
reconhecer a demanda contaminada pelas condutas descritas e assim proceda de forma a
solucionar os atentados contra o prosseguimento do feito, e aplicando sanções, caso seja
necessário.

15
STOCO, Rui. Abuso do direito e má-fé processual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, pág. 41.
16
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Atualizadores Nagib Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves. 15ª ed.,
Rio de Janeiro: Forense, 1998, pág. 131.
47

Cumpre ressaltar, que com isto não se retira ou diminui o poder interpretativo
do magistrado, posto que o CPC apenas delineia de forma geral os atos maliciosos, cabendo a
identificação de sua ocorrência, nas várias fases processuais, em cada caso concreto, ao juiz
ou tribunal competente.

Existem alguns requisitos traçados na teoria de Helena Najjar Abdo para


reconhecimento e abuso processual, quais sejam:

1º Requisito: Uso anormal ou Incorreto: O primeiro requisito para podermos


caracterizar o abuso processual refere-se ao uso incorreto ou anormal das situações
jurídicas, sejam elas faculdades, poderes, deveres ou ônus conferidos ao sujeito
processual;
2º Requisito: Liberdade e Legalidade: O sujeito processual tem liberdade para
exercer as situações jurídicas dentro do que for previsto pelas normas jurídicas;
3ºRequisito: Exercício da Liberdade: A liberdade prevista pode criar oportunidades
para a prática de abuso processual;
4º Requisito: Escopo da Jurisdição: O abuso do processo irá configurar um
obstáculo para a realização da teoria da instrumentalidade do processo, ou seja, os
escopos jurídicos, políticos e sociais do processo.17

Observemos que os requisitos propostos na referida teoria, bem como no CPC, falam
de forma genérica sobre condutas processuais que configuram a má-fé processual, porém ao
analisarmos ambos, podemos perceber que torna-se mais fácil a cognição do comportamento
que venha a ser prejudicial ao processo.

O abuso ou a má-fé processual pode ocorrer no próprio direito de ação o autor,


quando demanda uma ação com intuito meramente prejudicial a outrem, ou no direito de
defesa, quando o réu adota mecanismos agindo com inverdades, produzindo provas falsas ou
qualquer outro modo reprovável. Quano ocorre nessas hipóteses é classificado como
macroscópico.

Pode ser também que uma das partes atue de modo abusivo dentro da ação, com atos
procrastinatórios, usando de artifícios ou abusando do poder de recorrer, apenas para atrasar o
andamento do feito, a esse tipo de ato abusivo, dá-se o nome de microscópico.

Em quaisquer das hipóteses, o abuso processual deve ser coibido pelo juízo onde se
encontre verificado, por se tratar de um dos maiores, ou talvez o maior entrave à garantia da

17
ABDO, Helena Najjar. O abuso do processo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 86-87.
48

razoável duração do processo. São essas condutas processuais abusivas que muitas vezes
fazem com que uma ação judicial perdure por anos, sem que se chegue a uma solução.

3.2.2.1- DO ABUSO DO DIREITO DE AÇÃO

O direito de ação no Brasil é garantido aos cidadãos em geral pela Constituição


Federal de 1988, que em seu artigo 5º, inciso XXXV positivou o chamado Princípio da
inafastabilidade da jurisdição como um direito fundamental, com o intuito de oferecer a todos
o acesso à justiça para assegurar o resguardo e efetividade de seus direitos. Ocorre que, muitas
vezes esse direito é utilizado de forma distorcida, não com o fim previsto pelo legislador,
configurando-se assim o abuso desse direito, caso em que agora passamos a estudar.

O abuso do direito de ação consiste no fato de um indivíduo, seja este pessoa física
ou jurídica, usando do direito de demandar em juízo, o faça com fins escusos, propondo uma
demanda com o fim de prejudicar a parte demandada, causando uma distorção da finalidade
da prestação jurisdicional. Infelizmente as demandas contaminadas logo em sua propositura
pelo chamado espírito emulativo são muito frequentes nos tribunais brasileiros,
principalmente as oriundas de pessoas jurídicas em face de pessoas físicas, face ao seu maior
poder econômico.

Aquele que propõe em juízo, não visando tutelar um direito seu, mas com o intuito
de prejudicar a contraparte, está cometendo um abuso do direito de ação. Tal abuso é um fator
altamente prejudicial ao trabalho da justiça, pois além de contribuir para o aumento do
número de demandas acumuladas, apresenta-se como uma ação infectada desde o seu
nascimento, com objetivos torpes.

A propositura de uma ação deve ser munida de real interesse processual e deve servir
para tutelar um direito violado ou ameaçado, sendo assim, as ações que não são propostas na
observância do princípio da boa-fé, acolhido pelo nosso ordenamento jurídico, ou à condição
de interesse da parte na petição inicial, deve ser devidamente observada e punida de acordo
com a lei.

O magistrado deve , portanto, limitar o exercício do direito de ação, fiscalizando se


estas possuem fundamentos e razões suficientes ao seu prosseguimento ou não, agindo de
forma a reprimir a continuidade do ato emulativo disfarçado de razão de pedir.

Neste sentido, aduz Márcio Lamonica Bovino:


49

[...] Havendo mera aparência de legalidade somada ao desvio de finalidade no ato


processual retratado na propositura de demanda desviada dos fins econômicos e
sociaisda norma, cabe ao juiz fim “punir” o infrator com a extinção da ação sem a
solução de mérito pela falta de interesse processual, sem prejuízo de indenização em
favor do prejudicado, levando em consideração, evidentemente, as circunstâncias de
cada caso.18

A indenização oferecida à contraparte, revela-se como um valoroso instrumento no


tocante a coibir esse tipo de ação, posto que, ao passo que tal fato se torne de conhecimento
geral, os demandantes de má-fé se tornarão mais receosos, tendo ciência dos possíveis
prejuízos.

3.2.2.2 - DO ABUSO DO DIREITO DE DEFESA

São direitos também garantidos pela Constituição Federal de 1988, através do art. 5º,
inciso LV, o contraditório e a ampla defesa, para assegurar que o réu, assim como o autor da
ação, tem pleno direito de ser ouvido, constituir provas e argumentar livremente em sua
defesa. Garantir a igualdade entre as partes no processo significa que a condição de reclamado
não significa condição de culpado, ou de violador de direito, inclusive, muitas vezes é este
quem irá sofrer real prejuízo, em decorrência da perda de um direito adquirido.

Sobre o princípio do Contraditório, consideremos as palavras de Fredie Didier:

Se não for conferida a possibilidade de a parte influenciar a decisão do órgão ju


risdicional - e isso é o poder de influência, de interferir com argumentos, ideias,
alegando fatos, a garantia do contraditório estará ferida. É fundamental perceber
isso: o contraditório não se efetiva apenas com a ouvida da parte; exige-se a
participação com a possibilidade, conferida à parte, de influenciar no conteúdo da
decisão.19

Ainda na mesma obra, afirma que “a ampla defesa corresponde ao aspecto


substancial do princípio do contraditório”20

Nesse diapasão, verificamos que o contraditório e a ampla defesa estão estritamente


associados um aos outros e são instrumentos de relevante importância no sentido de promover
uma marcha processual justa para ambas as partes, porém, não se pode permitir o uso
ilimitado desses direitos, considerando que pode ser prejudicial à eficácia da jurisdição e
servir como ferramenta ao ato abusivo.

18
Abuso do direito de Ação – A Ausência de Interesse Processual na Tutela Individual. Editora Juruá, 2012,p. 20
19
Curso de Direito Processual Civil, Editora Juspodivm,2015, p.79
20
Idem, p.86
50

Existem muitas formas de abusar do direito de defesa, algumas descritas no já


mencionado art. 80 do Novo CPC, cabendo ao magistrado, identificar a sua manifestação em
algum ato processual e aplicar a sanção legal cabível.

Não se pode permitir que um objeto de defesa seja utilizado de forma a prejudicar o
direito alheio ao invés de tutelar um direito próprio, com alegações infundadas, contraditórias
ou falsas, contaminando o processo e adulterando os objetivos da lei e seu fim social.

3.2.2.3 - DO ABUSO DO DIREITO DE RECORRER

O Princípio do duplo Grau de Jurisdição não está previsto de forma expressa na


constituição brasileira, sendo considerado implícito, por juristas e doutrinadores, a partir da
compreensão do conceito de Devido Processo Legal.

O direito ao recurso é um importante mecanismo do sistema processual, no tocante à


possibilidade de se rever uma decisão incorreta ou injusta, para que possa ser reanalisada,
com oportunidade de apresentação de novos argumentos pertinentes ou revelando possível
afronta à disposições legais, e por fim, reformada, ou não, dependendo do caso concreto.

Há na doutrina algumas divergências entre as vantagens e desvantagens dos recursos


disponíveis no ordenamento jurídico brasileiro, que foram ampliados a partir do Código de
Processo civil de 1973. Alguns consideram que tal medida foi o fator gerador da grande
morosidade judicial que hoje conhecemos, dando lastro aos recursos procrastinatórios.

A respeito do sistema recursal brasileiro, considera o Professor Leonardo Greco:

Além de estimular o demandismo e a procrastinação, o nosso sistema é


exageradamente formalista, criando obstáculos irrazoáveis à apreciação dos recursos
e determinando a produção de decisões que, em lugar de aumentarem a
probabilidade de acerto e de justiça das que pretendem rever, transformaram o seu
julgamento numa verdadeira caixa de surpresas, criadora de situações absolutamente
imprevisíveis para as partes e que, a pretexto do excessivo volume de processos, dão
pouca atenção às questões fáticas e jurídicas suscitadas e aos argumentos dos
advogados, procurando cada vez mais encontrar afinidades dos novos casos com
outros anteriormente julgados pelo mesmo tribunal ou por tribunais superiores e
assim, de forma simplista e absolutamente distante do litígio real, transpor
fundamentos destes para aqueles, automatizando os julgamentos.21

21
GRECO, Leonardo. Princípios de Uma Teoria Geral dos Recursos. Revista eletrônica de direito Processual.
Vol. V. Rio de Janeiro. 2010. Disponível em: http://www.arcos.org.br/periodicos/revista-eletronica-de-direito-
processual/volume-V. Acesso em 17 de agosto de 2016.
51

Ao analisarmos as palavras do professor, podemos identificar uma profunda crítica


não apenas ao número de recursos, pois quando este fala em decisões tomadas com base
jurisprudencial, as quais entende ineficazes por considerar que deixam de analisar o caso
concreto, revela grande insatisfação com o sistema recursal como um todo.

É certo que a quantidade de recursos disponíveis é grande colaboradora das


postergações processuais, porém devemos considerar a cultura de exaurir os recursos em
todas as instâncias, muito apreciado pelos advogados e adotado principalmente pelas partes
que possuem maior poder econômico, e podem assim, custear uma infinitude de recursos,
arrastando o processo pelo máximo de tempo possível, e assim, dispondo indevidamente do
direito ao recurso.

O abuso do direito de recorrer é exatamente o uso ilimitado dos recursos, pelas


partes, sem que haja erro na decisão, ou sem que essa tenha sido injusta, etc. Trata-se do
recurso interposto com intuito meramente protelatório, com o objetivo de prejudicar a
contraparte, que não terá o seu direito efetivado, mesmo já obtendo sentença favorável.
Muitas vezes a parte que interpõe o recurso de forma abusiva, ou o seu advogado, está
perfeitamente ciente de que este recurso não será provido, ou sequer conhecido pelo juiz ou
tribunal, mas mesmo assim recorre, apenas para ganhar tempo até a execução da sentença.

Essa conduta abusiva de recorrer é muito prejudicial ao processo e a garantia de


celeridade processual, devendo ser coibida pelos magistrados, e órgãos colegiados, e
severamente punida reiteradamente para que se possa reprimir a má-fé recursal e garantir a
razoabilidade do tempo processual e a eficácia da jurisdição.

Felizmente, os Tribunais brasileiros, aos poucos, tem adotado uma conduta mais
severa no tocante à punição pela interposição de recursos abusivos, como no caso da decisão
do STJ abaixo apresentada.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. REITERAÇÃO PARCIAL DOS


ANTERIORES ACLARATÓRIOS. INEXISTÊNCIA DE OBSCURIDADE.
CARÁTER PROCRASTINATÓRIO RECONHECIDO. IMPOSIÇÃO DE MULTA.
ABUSO DO DIREITO DE RECORRER. BAIXA IMEDIATA DOS AUTOS.
1. A reiteração de embargos declaratórios já examinados e rejeitados pela Turma
revela o caráter procrastinatório do recurso e atrai a incidência da multa
do parágrafo único do art. 538 do CPC.
2. A obscuridade que justifica o cabimento de embargos de declaração é aquela que
impede, prima facie, a compreensão sobre o alcance do julgado.
52

3. Embargos de declaração rejeitados com aplicação de multa e determinação de


imediata baixa dos autos ante o reconhecimento do abuso do direito de recorrer. 22

Os atos de má-fé processual, sejam estes cometidos em qualquer fase de uma ação,
são altamente maléficos não só à demanda a que correspondem, mas ao sistema judicial em
geral, e representam uma grave ameaça à garantia de celeridade processual, e devem ser
reconhecidos, e punidos em todas as esferas onde venham a ser verificados, para que a justiça
possa funcionar de forma eficaz e ganhe novamente a confiança da sociedade, com o
entendimento de que pode valer-se do judiciário para ter seus direitos devidamente tutelados,
de forma justa e célere.

4 - O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL OU NCPC

O Novo Código de Processo Civil brasileiro, ou PL 166/10 foi apresentado pela


primeira vez em junho de 2010, sendo aprovado pelo Senado Federal em Dezembro do
mesmo ano, sendo encaminhado à Câmara dos Deputados onde foi aprovado como PL
8.046/10, sendo novamente devolvido ao Senado Federal. Após algumas alterações no texto
original durante o tempo de tramitação, o mesmo teve sua aprovação definitiva em sessão
realizada no senado, em 17 de Dezembro de 2014. Por fim, em 15 de Março de 2015 foi
sancionada pela então presidente Dilma Roussef, como a Lei nº 13.105/2015, tendo prazo de
vacatio legis de um ano, entrando em vigor, portanto, em março de 2016.

O novo código trouxe várias alterações positivas ao sistema processual brasileiro, na


tentativa de proporcionar a melhoria da atividade jurisdicional, assim como sua maior
eficácia, em face da profunda crise vivida pelo sistema judiciário brasileiro.

Ao analisarmos o novo código verificamos também que este demonstra grande


preocupação com as garantias constitucionais, e, sendo estas voltadas aos cidadãos, podemos
afirmar que há uma maior “humanização” na forma de conduzir os litígios.

Neste sentido, podemos destacar os seguintes artigos:

Artigo 1º. O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os


valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.

22
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.236.276 - MG 2011/0020709-5. Relator: NORONHA, João
Otávio de. Publicado no DJe de 23-04-2015. Disponível em<
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/183585121/embargos-de-declaracao-nos-embargos-de-declaracao-nos-
embargos-de-declaracao-no-recurso-especial-edcl-nos-edcl-nos-edcl-no-resp-1236276-mg-2011-0020709-5>.
Acesso em 17.08.2016
53

Artigo 6º. Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre sí para que se
obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
i
Em se tratando exclusivamente de celeridade processual, os responsáveis pela sua
criação afirmam que o novo código é um importante passo neste sentido, porém há juristas e
magistrados que não veem grande avanço, ao contrário, consideram que certos dispositivos do
código contribuem para a morosidade processual.

Não trataremos aqui de defender tal ou qual posição, tampouco analisar


pormenorizadamente os dispositivos do código, apenas destacar alguns importantes pontos
notoriamente aplicados em prol da garantia de razoável duração do processo.

Em seu artigo 4º, encontramos o seguinte dispositivo:

“Artigo 4º. As partes têm direito de obter em tempo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa”.

Em vários pontos do Novo CPC, podemos verificar novos mecanismos processuais


com vistas a promover a resolução dos conflitos de forma mais rápida, tal como a resolução
das demandas em ordem cronológica, bem como garantir a efetividade do direito. A seguir
passaremos a discorrer sobre alguns desses mecanismos.

4.1. DA CONCILIAÇÃO

A solução pacífica dos conflitos é uma grande aliada da celeridade processual, pois, o
litígio resolvido de forma pacífica, além de satisfazer a ambas as partes, põe fim a este, sem
necessidade de novas audiências ou produção de provas, e também, sem a existência de
qualquer recurso, fatores responsáveis pela longevidade processual.

A conciliação ganhou muita força no Novo CPC, que, em vários dos seus artigos,
ressalta sua importância, disciplina seus métodos e estimula sua aplicação, como nos
seguintes exemplos:
54

Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.

§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos


deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial;
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
incumbindo-lhe:
[...]
V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio
de conciliadores e mediadores judiciais;

De acordo com os dispositivos supramencionados, podemos concluir que o legislador


prevê a conciliação, não apenas como uma faculdade, mas um dever do Estado, e de todos
aqueles que compõem o sistema judiciário, principalmente os magistrados.

A audiência de conciliação ou mediação é regulada no Novo CPC, em seu artigo 334,


que conta com a seguinte redação:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de
mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu
com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

§ 1o O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência


de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as
disposições da lei de organização judiciária.

§ 2o Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não


podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde
que necessárias à composição das partes.

§ 3o A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu advogado.

§ 4o A audiência não será realizada:

I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição


consensual;

II - quando não se admitir a autocomposição.

§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e


o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência,
contados da data da audiência.

§ 6o Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser


manifestado por todos os litisconsortes.
55

§ 7o A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar-se por meio eletrônico,


nos termos da lei.

§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de


conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado
com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da
causa, revertida em favor da União ou do Estado.

§ 9o As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores


públicos.

§ 10. A parte poderá constituir representante, por meio de procuração específica,


com poderes para negociar e transigir.

§ 11. A autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença.

§ 12. A pauta das audiências de conciliação ou de mediação será organizada de


modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vinte) minutos entre o início de uma e o
início da seguinte.

Temos, pois, que de acordo com o Novo CPC, a audiência de conciliação torna-se
obrigatória nos casos em que for possível a autocomposição, e esta não ocorrerá somente se
todas as partes manifestarem desinteresse, no caso de inércia de qualquer destas, a audiência
deverá ocorrer.

No procedimento comum, a citação do réu ocorre para comparecimento na audiência


de composição, não mais para a contestação. Aqui fica claro que o processo deve ser resolvido
preferencialmente por via conciliatória, e é de tal importância a realização da audiência, que
aquele que não comparecer e não justificar sua ausência, deverá receber sanção legal.

Outro importante ponto a ser observado é a possibilidade de a audiência de


conciliação poder se realizar através de meios eletrônicos, o que confere maior agilidade ao
referido ato processual, e vem demonstrar a observância do legislador pela rapidez e eficácia
de tais meios, que se tornam cada vez mais fortes no auxilio à jurisdição.

O fato de as partes poderem nomear representantes para negociar e transigir não


representa uma mudança significativa, posto que já havia no antigo CPC dispositivo
semelhante, porém , também este prima pela celeridade nos atos, posto que diante de
impossibilidade de comparecimento da parte, poderá haver audiência, se esta se fizer
representar por um terceiro com procuração específica.

4.2 – DA VALORIZAÇÃO DO ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES


56

Cada vez mais os cidadãos tem procurado valer-se do judiciário para resolver
seus problemas, o que causou a massificação das demandas judiciais, consequentemente, é
comum que se encontrem em juízo, diversos processos que versam sobre as mesmas questões,
que obviamente devem ser solucionadas satisfatoriamente.

Infelizmente é também comum, que esses processos, versando sobre as mesmas


questões tenham soluções completamente diferentes, a partir da primeira instância, quando o
juiz de uma determinada vara decide a questão de uma forma, e o juiz de outra vara, tendo
uma questão similar, solucione esta de maneira diversa. Isso também ocorre em caráter
recursal, quando uma turma soluciona um caso, e outra turma, diante de um caso equivalente,
venha a conferir a este, solução distinta.

Essa divergência de soluções, a nível de primeira instância, por exemplo, acarreta


uma prática muito comum nos ajuizamentos, que é a seguinte: A demanda é distribuída por
sorteio, e é ajuizada em uma determinada vara, onde sabe-se que o posicionamento daquele
juiz sobre a questão proposta não será favorável ao autor, que desiste da ação antes da citação
do réu, para poder ajuizá-la novamente, na tentativa de que nesse segundo ajuizamento, a ação
vá para outra vara, onde haja maior probabilidade de sucesso na pretensão postulada.

Esse sistema jurisprudencial é inadmissível, no sentido de não se poder imaginar de


que forma o direito pleiteado será tratado, já que cada juiz pode adotar um posicionamento
diferente, e mesmo a nível de recurso, não se pode idealizar uma probabilidade de ganho ou
perca. Assim, ajuizar uma ação pode ser encarada como um verdadeiro tiro no escuro.

Nesse sentido, o Novo CPC também inovou, trazendo a valorização do sistema de


precedentes jurisprudenciais, visando conferir a isonomia das decisões judiciais.

4.2.1 – PRECEDENTES JUDICIAIS

Segundo Fredie Didier:

“Em sentido lato, o precedente é a decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo
elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento posterior de casos
análogos”.23

23
DIDIER, Fredie Souza. Manial de direito Processual civil. Vol II.Editora Juspodivm,2016, p.441
57

Nesse sentido temos que o precedente judicial é formado a partir de uma decisão,
tomada por um determinado tribunal, cuja essência, os fundamentos da decisão, poderão ser
replicados em casos semelhantes.

É importante fazer a distinção entre precedente, súmula e jurisprudência, para que


não se faça confusão entre os institutos.

O precedente se forma a partir de um caso concreto, que será devidamente julgado,


obedecendo os critérios de julgamento legalmente estabelecidos, podendo a sua decisão, ser
adotada em casos que discutam a mesma questão.

A jurisprudência, por sua vez, forma-se a partir de um conjunto de reiteradas


decisões semelhantes aplicadas a casos similares, podendo originar-se de um conjunto de
precedentes.

A súmula, por sua vez, é o enunciado normativo da regra geral oriunda da


jurisprudência.

Os precedentes judiciais podem gerar vários efeitos, quais sejam: Precedente com
efeito vinculante/obrigatório, precedente com efeito persuasivo, precedente com efeito
obstativo da revisão de decisões, efeito autorizante, efeito rescindente/deseficacizante e efeito
de revisão da sentença.

Não realizaremos nesse trabalho nenhuma análise pormenorizada de cada um dos


efeitos supramencionados, nos atendo apenas a um breve comentário sobre o precedente com
efeito vinculante/obrigatório, por entender ser aquele de cunho mais relevante ao tema
discutido.

4.2.1.1 – Precedente com efeito vinculante/obrigatório

Os precedentes com força vinculante vêm disciplinados no artigo 927 do NCPC da


seguinte forma:

Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de


constitucionalidade;
58

II - os enunciados de súmula vinculante;

III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de


demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos;

IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria


constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;

V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

Nesse diapasão, temos que os precedentes judiciais que ganham seu efeito máximo,
que é o de caráter obrigatório, é identificado a partir da fundamentação utilizada para a sua
formação, devidamente aplicada em virtude da importância, complexidade, número de casos
repetitivos ou relevância social e repercussão geral na questão discutida nos casos que
serviram de modelo.

Os precedentes à que são conferidos o efeito obrigatório vincula a sí o tribunal onde


foi estabelecido tal efeito, bem como os juízes de 1º grau de abrangência do referido tribunal.
Sendo assim, não poderá o juiz ignorar a existência do precedente, porém, poderá decidir pela
sua não aplicação, caso entenda que o caso concreto não se enquadra na questão do
precedente por haver neste, algum argumento que não foi encarado na tese firmada no
precedente, tornando sua aplicabilidade inaceitável.

Tal possibilidade de não aplicação do precedente vem expressa no artigo 489, §1º,
inciso VI. Que assim dispõe:

Art. 489. São elementos essenciais da sentença:


[...]
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
[...]
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

Obviamente, é improvável a identidade total entre o caso que formou o precedente, e


outros casos que versam sobre a mesma questão, e isto não enseja a não aplicabilidade do
precedente pelo magistrado, devendo ser esta, devidamente justificada.
59

De acordo com o NCPC, o precedente judicial com efeito vinculante deve ser
devidamente publicado e comunicado ao CNJ, o qual tem o dever de fiscalizar sua efetividade
e aplicação em demandas futuras.

A valorização dos precedentes é muito positiva no sentido de coletivizar a solução


das demandas de massa, que passarão a ser resolvidas em bloco, e não mais caso a caso. Esse
novo mecanismo processual vem possibilitar a resolução de várias demandas em um tempo
muito menor, mediante a necessidade de aplicação do entendimento adotado pelos tribunais
superiores.

Em seu artigo 926, dispõe o Novo Código de Processo Civil:

“Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente.”

É imprescindível que a jurisprudência seja unificada para que se possa garantir a


segurança jurídica.

Trata-se de “generalizar a razão”, por assim dizer. Não há razão para que a dois
casos, tratando de questões idênticas, sejam aplicados entendimentos divergentes, e soluções
opostas.

4.2.2 - Incidente de resolução de demandas repetitivas ou irdr

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas é uma importante inovação no


sistema processual trazida pelo NCPC, no sentido de resolver as demandas de massa de forma
mais coerente e célere através do uso do precedente judicial.

As demandas consideradas repetitivas são aquelas enfrentadas em situações


individuais, pleiteando um direito próprio, mas que discutem a mesma questão de direito e
têm um significativo número de ajuizamento, ou seja, a questão jurídica encontra-se
massificada. Ora, se estamos tratando de questões similares, é essencial que os tribunais
tratem a questão de forma igual, consolidando o entendimento sobre o direito pleiteado, para
posteriormente aplicá-lo a todos os casos análogos.

Assim, a função do IRDR é utilizar o precedente judicial às demandas de massa, para


garantir a economia processual, a isonomia da justiça, a celeridade processual e a segurança
jurídica, dentre outras garantias.
60

Sobre a instauração do IRDR, o NCPC dispõe, em seu artigo 976:

Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas


quando houver, simultaneamente:
I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma
questão unicamente de direito;
II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.
§ 1o A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do
incidente.
§ 2o Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no
incidente e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.
§ 3o A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de
qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez
satisfeito o requisito, seja o incidente novamente suscitado.
§ 4o É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos
tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado
recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual
repetitiva.
§ 5o Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas
repetitivas.

Importa ressaltar o disposto no §1º do referido artigo, para explicar: Caso um


determinado processo tenha sido acolhido pelo tribunal para servir como um dos casos a
serem julgados para formação de um precedente, a desistência do autor do recurso, não
implicará na sua não análise pelo tribunal, seguindo o processo para fixação do precedente.

O IRDR será instaurado quando já tramitarem no tribunal, recursos versando sobre a


mesma matéria, ou seja, não é possível instaurá-lo quando existirem múltiplas demandas
semelhantes ainda sem julgamento de 1ª instância.

De acordo com o artigo 977 do NCPC:

Art. 977. O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de


tribunal:
I - pelo juiz ou relator, por ofício;
II - pelas partes, por petição;
III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição.

Observe-se que o relator ou juiz não instaura o IRDR, apenas pede sua instauração ao
presidente do tribunal, o qual é responsável por esta.

O procedimento de instauração e julgamento do IRDR deve seguir todas as


disposições legais elencadas no NCPC, que em seu capítulo VIII, disciplina a matéria.
61

O IRDR é um mecanismo essencial na busca pela celeridade processual, posto que a


firmação de um precedente permite ao juiz que julgue o mérito do processo liminarmente,
caso este contrarie entendimento firmado com efeito obrigatório, conforme disposto no art.
332, inciso III do NCPC. Ou seja, todos os processos ajuizados que discutam questões que já
tenham um precedente vinculativo contrário ao seu pleito, serão liminarmente julgados
improcedentes, sem a oitiva do réu, e com julgamento de mérito.

Vemos aqui, o poder da consolidação do entendimento dos tribunais ao formar um


precedente através do IRDR. Num futuro próximo, com o êxito da resolução de demandas de
massa a partir desse nova ferramenta processual, provavelmente haverá um menor número de
ajuizamento dessas questões, o que afetará significativamente o descongestionamento de
processos nos tribunais brasileiros.

Há ainda no NCPC, entre seus artigos 1036 e 1041 novas disposições sobre o
julgamento dos recursos especiais e extraordinários repetitivos, o qual segue , no que cabe,
forma semelhante ao julgamento das demandas repetitivas, com a seleção de recursos que
contenham a mesma controvérsia, que servirão como modelo para que se possa fixar um
entendimento que deverá ser aplicado aos demais, enquanto isso, os casos análogos ficam
suspensos até o julgamento dos recursos modelo. Após os respectivos julgamentos, cessa a
suspensão e então a tese fixada será utilizada na resolução dos demais recursos.

4.2.3 – Do incidente de assunção de competência ou iac

O Incidente de Assunção de competência ou IAC, é o mecanismo utilizado para


formar um precedente judicial, quando o caso concreto discutir questão de direito de grande
importância e houver interesse social, não necessitando, porém, a necessidade de haver
numerosas demandas discutindo a mesma questão.

O artigo 947, caput do NCPC assim dispõe:

“Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de


remessa necessária ou de processo de competência originária envolver relevante questão de
direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos.”
62

Ao receber um recurso, se o relator verifica que o mesmo preenche os requisitos


cabíveis à instauração do IAC, o relator do recurso deve propor de ofício que o recurso seja
julgado pelo órgão colegiado indicado pelo regimento, que será determinado justamente de
acordo com seus pressupostos. A instauração do IAC também poderá ser proposta pelas
partes, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, ainda de acordo com o dispositivo
legal.

Veja que no caso do IAC, é determinante a importância da matéria tratada, e o valor


do interesse social envolvido, tanto, que mesmo sem haver multiplicidade de casos
repetitivos, o legislador entende que há a necessidade de se uniformizar a jurisprudência, para
fixar um precedente que será futuramente aplicado à questões semelhantes.

Conforme analisamos, o Novo CPC, com a valorização do entendimento dos


tribunais superiores traz uma nova e importante arma no combate às demandas de massa, no
sentido de diminuí-las, bem como na resolução dos recursos repetitivos, que passarão com a
aplicação dos precedentes, a serem resolvidos em bloco, traz com a possibilidade de
instauração do IAC, uma ferramenta muito significativa em caráter preventivo, posto que
pode julgar casos isolados, que formarão precedentes, que poderão solucionar muito mais
rapidamente as ações propostas versando sobre a matéria que já tenha precedente formado.

4.3 – DAS MULTAS

O Novo CPC trouxe algumas inovações ao instituto das multas, não há de se falar em
uma revolução nesse sentido, porém é possível perceber alterações relevantes, algumas
trazendo o que o CPC/73 omitiu sobre a matéria, outras calcificando jusrisprudências.
Faremos aqui uma breve análise sobre as que destacam-se no âmbito de promover a jurisdição
de forma mais coerente e efetiva.

O Primeiro importante ponto a se tratar é o dispositivo explícito do NCPC quanto à


titularidade da multa, ao que o CPC/73 era omisso, havendo, no entanto, entendimento do STJ
nesse sentido.

O artigo 537 em seu §1º (grifos nossos), traz o seguinte dispositivo, in verbis:

§1º. “O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a


periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
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I - se tornou insuficiente ou excessiva;

II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa


causa para o descumprimento.

Vejamos que a redação faz referência à revisão da multa vincenda, sendo assim,
podemos interpretar que a multa vencida não poderá ser modificada depois de fixada, porém,
diante da carência de transparência, é possível que surjam, posteriormente, divergências
jurisprudenciais a respeito dessa questão.

Outra inovação é a incidência de multa nas ações que tenham como objeto, obrigação
de pagar, o que vem disposto no artigo 139, inciso IV, o qual conta com a seguinte redação:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,


incumbindo-lhe:
[...]
IV - Determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive
nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária.

Esse novo dispositivo é muito importante no sentido de assegurar a efetividade do


cumprimento da sentença descrita.

Há ainda a possibilidade de cumprimento provisório da multa, oriunda de qualquer


das fases processuais previstas pelo art. 537, caput, que será levantada depois de transitada em
julgado a sentença da ação. Ou seja, desde fixada a multa, esta será passível de
exequibilidade, sendo os valores pecuniários a ela correspondentes, depositados em juízo, e
após o trânsito em julgado da sentença poderão ser retirados pela parte a quem conferem,
segundo §3º do art. 537.

Ocorre mudança também no que diz respeito ao limite da multa imposta. É comum
que os magistrados e tribunais limitem o valor da multa imposta, devido à possibilidade de
enriquecimento sem causa, porém, o NCPC, dispõe, de forma expressa, no §4º ainda do artigo
537, que a multa incide a partir do dia em que se possa caracterizar o descumprimento da
decisão que a impôs, até que esta seja devidamente cumprida.

Conforme já mencionado neste trabalho, a audiência de conciliação passou a ser


obrigatória no NCPC, exceto nas hipóteses legalmente previstas, e o não comparecimento
injustificado das partes à audiência de conciliação implicará em multa, de acordo com o §8º
do artigo 334.
64

Por último, trataremos da multa por litigância de má-fé, que recebeu uma maior
atenção no NCPC, no que diz respeito aos valores a serem aplicados. Segundo o artigo 18 do
CPC/73, o valor da multa não ultrapassaria um por cento sobre o valor da causa, já o NCPC
tratou de aumentar esse valor, no seu artigo 81, caput, que dispõe, in verbis:

Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar


multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor
corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a
arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.

Temos ainda, que em casos de ações de valor irrisório ou inestimável, a multa por
litigância de má-fé poderá corresponder ao montante de dez vezes o valor do salário mínimo.

Conforme analisamos, o NCPC também tratou de dar uma nova força ao instituto das
multas, na tentativa de tentar fortalecer a coerção ao cumprimento de decisões, e também ao
litigante de má-fé, para tentar diminuir os atos protelatórios, que prejudicam drasticamente o
andamento processual. Infelizmente, no judiciário brasileiro, a aplicação de multa por
litigância de má-fé ainda é a exceção, o que espera-se que seja modificado com a vigência do
novo código.

4.4 – DOS HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA

O Novo CPC tratou com muita importância a questão dos honorários sucumbenciais,
ampliando drasticamente o acervo de dispositivos em relação ao CPC/73. No NCPC, esta
matéria vem disciplinada de forma detalhada entre os artigos 85 s 90, merecendo destaque o
primeiro deste, que dispõe de 19 parágrafos.

Alguns dispositivos sobre honorários sucumbenciais foram mantidos praticamente


nos mesmos termos do CPC/73, outros trouxeram a positivação de jurisprudências
consolidadas pelos tribunais superiores, houve também dispositivos divergentes de
jurisprudência dos mesmos tribunais.

O número de inovações é bastante significativo, não cabendo neste trabalho, um


estudo detalhado das alterações, apenas examinar algumas alterações que apresentam em suas
características, pontos que podem interessar à garantia de razoável duração do processo.
65

O primeiro ponto a ser destacado é o dispositivo do §1º do artigo 85, que diz:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do


vencedor.

§ 1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de


sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos
interpostos, cumulativamente.

Vejamos que o Novo CPC prevê, de forma expressa, a fixação de honorários


sucumbenciais a partir do cumprimento provisório da sentença, Contrariando o entendimento
do STJ, que, no julgamento do REsp 1.291.736/PR, considerou descabível a aplicação dos
honorários sucumbenciais em execução provisória. Os referidos honorários também serão
aplicados no caso de reconvenção, o que não vinha descrito de forma expressa no CPC/73.

Importa destacar a aplicação da fixação dos honorários sucumbenciais recursais, que


serão aplicados cumulativamente, ou seja, a cada recurso interposto contra decisão que tenha
fixado honorários, a parte terá que pagar honorários correspondentes, sendo o credor, o
advogado do vencedor.

De acordo com o §11ainda do artigo 85, esses honorários recursais serão majorados,
ou seja, serão aumentados, levando em conta o trabalho adicional realizado na fase de recurso,
levando em conta as normas dispostas para tal, contidas entre o §2º e 6º do mesmo artigo, não
ultrapassando o limite fixado para a fase de conhecimento.

O §6º do artigo 85 prevê que os critérios e limites estabelecidos acerca do percentual


de honorários será aplicado seja qual for o conteúdo da decisão judicial, inclusive em caso de
improcedência do pedido ou sentença sem solução de mérito.

Outra novidade acerca dos honorários sucumbenciais são aqueles fixados em face da
Fazenda Pública. O CPC/73 previa que a fixação, nesse caso seria feita por “apreciação
equitativa” do juiz, já no NCPC, estão expressamente dispostos os percentuais referentes aos
honorários sucumbenciais, os quais serão aplicados de acordo com o valor da condenação.

Outra importante questão é o caso da aplicação dos honorários sucumbenciais em


caso de sucumbência recíproca. De acordo com o §14 do artigo 85, os honorários são de
direito do advogado e possuem natureza alimentar, dispondo dos mesmos privilégios
66

conferidos à créditos trabalhistas, e sua compensação é vedada em caso de sucumbência


recíproca.

O CPC/73, em seu artigo 21, previa que, se cada litigante fosse em parte vencido e
vencedor, os honorários, bem como as despesas processuais seriam compensadas entre eles, já
o NCPC, prevê, em seu artigo 86, apenas a distribuição das despesas processuais, devendo,
nesse caso, serem pagos os honorários de sucumbência.

Nos casos em que o réu reconhece o pedido e cumpre integralmente com a obrigação
nele contida, os honorários sucumbenciais serão reduzidos à metade, segundo o §4º do artigo
90 do NCPC.

Todos os dispositivos presentes no NCPC e aqui mencionados, revelam grande


importância no que diz respeito à garantia de celeridade processual, posto que aumentou, de
forma significativa, a incidência dos honorários sucumbenciais, o que representa mais gastos
em relação à demanda proposta, isto nos leva a crer, que a partir da aplicação regular dessas
novas medidas, haverá uma mudança no comportamento social em face da propositura e
continuidade das demandas, e diminuirá o número de recursos, principalmente aqueles
desprovidos de fundamento.

A possibilidade de pagamento de honorários reduzidos à metade em caso de


reconhecimento do pedido é claramente um instrumento em favor da celeridade e economia
processual, visando a estimulação do fim da lide mais brevemente.

É possível perceber, na leitura do NCPC, que existem outros dispositivos que se


demonstram úteis ao fato de simplificar e melhorar a prestação jurisdicional, com atos
processuais que visam abreviar o tempo de duração dos litígios, assim como dar eficácia às
decisões judiciais.

Obviamente não é possível prever se o NCPC será a solução para as dificuldades


enfrentadas pelo sistema judiciário brasileiro, porquanto existem outras dificuldades que se
desvinculam das normas procedimentais, porém, é clara a transformação benéfica que este
propõe ao modo de pensar e executar o Processo Civil.

CONCLUSÃO
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Conforme pudemos observar ao longo do estudo realizado neste trabalho, vem desde
muito tempo, em todo o mundo, sendo combatida a morosidade processual, ao que foram
instituídas muitas leis e decretos no sentido de mudar esse cenário. O sistema judiciário
brasileiro, acompanhando essa evolução, tem, em seus vários institutos, juntamente com a
legislação e a doutrina do direito, tem empenhado grandes esforços para garantir que a
prestação jurisdicional seja efetivada de forma célere, criando leis, instituindo programas e
soluções alternativas de resolução de conflitos.

O CNJ colabora de forma muito positiva para a melhoria da aplicação da justiça,


com a atividade fiscalizatória para com o cumprimento das leis e da jurisprudência, nos
variados graus de jurisdição, bem como a criação de programas no intuito de obter a solução
pacífica dos conflitos (o que também significa economia e celeridade processuais),
estabelecendo metas anuais a serem cumpridas pelo judiciário, mostrando através de números
os resultados obtidos s propondo soluções para um melhor funcionamento dos órgãos
jurisdicionais.

Além disso há a contribuição trazida pelas propostas contidas no Novo Código de


Processo civil, que trouxe uma nova estrutura à forma de tramitação processual, com novos
instrumentos, que reformam toda a estrutura do sistema processual, a partir da preocupação
com as garantias fundamentais, na tentativa de uma melhoria mais significativa no tocante ao
descongestionamento das demandas judiciais.

O abuso do direito constitui um dos principais empecilhos à garantia de razoável


duração do processo, estando o judiciário repleto de demandas sem fundamento, que
representam um verdadeiro atentado à justiça, há ainda o problema do abuso processual, onde
as partes agem de maneira a macular o processo, com atos protelatórios que objetivam
atrapalhar a ação e ganhar o máximo de tempo possível até a execução do feito, impedindo
que a parte vencedora tenha o seu direito efetivado.

De acordo com o último relatório do “Justiça em Números”, do Conselho Nacional


de Justiça, realizado em 2014, tendo por base o ano de 2013, haviam, no referido ano, 95,1
milhões de processos em trâmite no judiciário brasileiro. Ainda de acordo com o mesmo
relatório, a taxa de congestionamento processual era de 70,9%, o que significa que no ano de
2013, de cada 100 processos em trâmite, apenas 29 tiveram baixa definitiva.

Os números revelados pelo mencionado relatório demonstram a grande deficiência


do judiciário brasileiro no tocante a realizar a resolução das demandas em tempo razoável e
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satisfatório, e ainda, aponta para a urgente necessidade de providências mais consistentes para
que possa haver uma real mudança nesse quadro, porém há também de se considerar que no
Brasil, foi criada uma cultura de litígios, onde os cidadãos têm em si o sentimento judicalista,
e busca muitas vezes na justiça, não a resolução da lide, mas a afirmação de possuir razão, o
que impede uma solução pacífica e estende as demandas até as últimas instâncias.

REFERÊNCIAS

CITAR AS REFERÊNCIAS DO TEXTO AQUI.

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VALES, Marcela Leila Rorigues. Rev. Ciên. Jur. e Soc. da Unipar, v. 9, n.1, jan./jun.,2006. Pág 121

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