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Viçosa (MG)
2018
Daniela Oliveira Sampaio Sathler
Viçosa (MG)
2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela força diária para que eu nunca desista
dos desafios aos quais me proponho.
Aos meus pais, pelo carinho, incentivo e por entenderem todas as minhas
ansiedades e preocupações.
Aos meus irmãos, por encherem os meus dias de luz e por tanto me apoiarem
nesse difícil ano que antecede a formatura.
Aos meus amigos, que dividiram este momento comigo, os medos e as
expectativas, sempre me incentivando ao longo do caminho.
Aos professores do Departamento de Direito da UFV, por todos os
ensinamentos passados nestes quase 5 anos de curso.
Por fim, um agradecimento especial ao meu orientador Fernando Laércio
Alves da Silva, por dividir tantos conhecimentos, por compreender as minhas
angústias e por não medir esforços para que esse trabalho fosse concluído.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
1 Para Fábio Passos Presoti e José Santiago Neto (2013, p.295-296): “o Estado Democrático de Direito
se constituirá no momento em que for assegurado a todos os seus integrantes o acesso à participação
em sua construção, de modo igual e sem discriminações ou preconceitos”.
2 Para Ítalo Andolina e Giuseppe Vignera (1997, p.08) apud BARROS, Flaviane de Magalhães (2008),
a Constituição apresenta o instituto do processo cercado por uma série de princípios, que podem ser
considerados como o modelo constitucional de processo. Conforme expõe Flaviane (2008, p. 333-334),
trata-se de uma base principiológica uníssona e aplicável a todo e qualquer processo, já que todo
processo é constitucional, seja em razão de sua fundamentação ou de sua estrutura.
10
3MARRAMAO, Giacomo. Kairós: apologia del tempo debto apud COUTINHO, Carlos Marden Cabral.
Duração razoável: o tempo (kairológico) do devido processo constitucional. Belo Horizonte, 2014. p.
11.
11
4 Segunda Lei da Termodinâmica: “em qualquer processo irreversível, a função S, conhecida como
entropia, sofre um aumento, ao passo que, nos processos reversíveis, ela permanece constante.” Para
Ilya Prigogine (2011) seria possível relacionar o aumento de entropia com a irreversibilidade e, dessa
forma, relaciona-se com a passagem do tempo do passado para o futuro (é a denominada flecha do
tempo, uma vez que segue o sentido do futuro) apud COUTINHO, Carlos Marden Cabral. Duração
razoável: o tempo (kairológico) do devido processo constitucional. Belo Horizonte, 2014. p. 37.
5 O tempo não é mais visto de maneira ilusória e nem mesmo como agente de degradação, mas sim
dentro da ideia de tempo-criação, uma vez que aa concessão de tempo a determinados sistema lhes
permite evoluir de maneira criativa e alcançar elevados pontos evolutivos (PRIGOGINE, 2008) apud
COUTINHO, Carlos Marden Cabral. Duração razoável: o tempo (kairológico) do devido processo
constitucional. Belo Horizonte, 2014. p. 40
13
6Apud CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria Geral do Processo. 24. Ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2008, p. 300.
15
À vista disso, o processo é entendido como uma relação jurídica que funciona
como a direção do movimento, enquanto o procedimento é a sua lógica formal,
definido pela sucessão de atos processuais no tempo e de acordo com a lógica
apresentada por cada processo. Mais do que isso, o procedimento é dinâmico e não
termina em um único momento, sendo destinado a desenvolver-se no tempo através
de atos processuais que progridem em várias etapas e interligam os sujeitos
processuais.
José Rogério Cruz e Tucci discute o tema em sua obra “Tempo e Processo”:
7“Para Nelson Nery Júnior, o prazo impróprio é aquele fixado na lei apenas como parâmetro para a
prática do ato, sendo que seu desatendimento não acarreta situação detrimentosa para aquele que o
descumpriu, mas apenas sanções disciplinares.” (LARA, 2006). Disponível em:
<https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=103>
16
8 Para Flaviane de Magalhães Barros, o contraditório deve ser compreendido como o espaço
procedimentalizado para garantia da participação dos afetados na construção do provimento.
(BARROS, 2008, p. 18)
9 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
11 Apud COUTINHO, Carlos Marden Cabral. Duração razoável: o tempo (kairológico) do devido
processo constitucional. Belo Horizonte, 2014, p. 107.
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A nossa Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXV 12, assegura a
todos o direito ao acesso à Justiça em caso de lesão ou ameaça a qualquer um dos
seus direitos, de modo a também ser concebido como um meio de assegurar as
nossas garantias fundamentais.
Neste sentido, o modelo constitucional de processo, perspectivado por diversos
autores, entre os quais José Alfredo Baracho e Eduardo Couture ainda sob o nome
de processo constitucional e descrito em suas estruturas por Ítalo Andolina e
Giuseppe Vignera resta absorvido pelo ordenamento constitucional brasileiro de 1988
em razão de sua compatibilidade com o Estado Democrático de Direito que passou a
vigorar com mais força, para negar o caráter autoritário e estabelecer a participação
dos interessados, por meio da argumentação e defesa, como coautores da decisão
judicial final, além de apresentar o processo como um meio de realização dos seus
direitos fundamentais.
Para Fernando Laércio, o Estado Democrático de Direito seria uma aglutinação
entre os princípios do Estado de Direito e do Estado Democrático. Aquele entendido
como o que tem por base de sustentação a Constituição, enquanto este seria aquele
que permite aos cidadãos uma série de escolhas e participação na tomada de
decisões coletivas, efetivado pela participação ativa dos indivíduos nos mecanismos
de ação política (2015, p. 168).
Soma-se a essa noção de modelo constitucional de processo, as lições
Andolina e Vignera:
O modelo constitucional de processo é “um esquema geral de processo” que
possui três importantes características: a expansividade, que garante a
idoneidade para que a norma processual possa ser expandida para
microssistemas, desde que mantenha sua conformidade com o esquema
geral de processo; a variabilidade, como a possibilidade de a norma
processual especializar-se e assumir forma diversa em função de
característica específica de um determinado microssistema, desde que em
conformidade com a base constitucional; e por fim, a perfectibilidade como a
capacidade de o modelo constitucional aperfeiçoar-se e definir novos
institutos por meio do processo legislativo, mas sempre de acordo com o
esquema geral (ANDOLINA; VIGNERA, 1997, p. 9-10 apud BARROS, 2008,
p.14-15)
12 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXXV - a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito
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13 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes.
14 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios: [...]IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder
Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes,
em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação.
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o magistrado, que não deve julgar prematuramente, mas sim analisar todas as provas
carreadas e as versões dos interessados a fim de obter todos os meios aptos a
fundamentarem a sua decisão.
Diante desse estudo, retoma-se a Teoria do Não Prazo, haja vista a
necessidade de que, no modelo constitucional de processo, que envolve tantas
particularidades e atos processuais, seja avaliado cada caso dentro das suas
circunstâncias, como, por exemplo, a elevada quantidade de partes, o local de
domicilio das mesmas, a gravidade do caso, a necessidade de detalhada instrução
probatória, a revisão das decisões, entre tantos outros.
Sendo assim, o tempo kairológico visa determinar a análise detalhada dos
processos, na medida em que fornece os pilares para que os processos não sejam
distorcidos em razão da síndrome da pressa, além de promover um processo
democrático com a prática dos atos processuais no seu tempo devido, sem que isso
implique em dilações injustificadas. (COUTINHO, 2014, p. 195).
Isto porque, ainda que existam previsões legais acerca do prazo destinado à
prática de determinados atos processuais, a não obediência destes pode gerar nas
partes interessadas a sensação de injustiça, problema que já foi levantado neste
estudo, em vista das angústias e incertezas sobre os rumos do processo, somadas
ao desejo de logo se ver o litígio finalizado. Entretanto, tais sentimentos devem ser
conciliados às garantias fundamentais, na tentativa de alcançar o equilíbrio entre a
urgência que se requer a decisão e os princípios que asseguram os direitos das
partes, principalmente o acusado, que necessita de tempo para a realização de todas
as suas faculdades e defesas processuais. (PASTOR, 2009, p. 91)
Neste sentido, serão analisados os prazos estabelecidos pelas nossas Leis
para a prática dos principais atos processuais da área penal.
15 Texto original: La indeterminación de la durácion de los juicios penales siembra em los ciudadanos
uma situación de doble duda que se traduce, logicamente, em la certeza de uma injusticia, porque, o
los acusados son culpables y, entonces, deben ser castigados tempestivamente, o son inocentes y
deben ser liberados de toda sospecha tan pronto como sea posible.
16 Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante,
ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar
a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
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17 Art. 31. O inquérito policial deve ser concluído no prazo de 90 (noventa) dias, estando o investigado
solto. § 1º Decorrido o prazo previsto no caput deste artigo sem que a investigação tenha sido
concluída, o delegado de polícia comunicará as razões ao Ministério Público com o detalhamento das
diligências faltantes, permanecendo os autos principais ou complementares na polícia judiciária para
continuidade da investigação, salvo se houver requisição do órgão ministerial. [...] § 3º Se o investigado
estiver preso, o inquérito policial deve ser concluído no prazo de 15 (quinze) dias.
18 Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da
data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu
estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial,
contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
19 Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a
rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por
escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Código de Processo Penal)
20 Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá
dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela
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acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-
se, em seguida, o acusado.
22 Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações
finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais
10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. [...] § 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do
caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a
apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
23 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 91389/SP. Quinta
Turma. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Data do julgamento: 17/05/2018. Disponível em:
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=%22PRAZO+IMPR%D3PRIO%22+DILA%C
7%C3O&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l=10&i=2>. Acesso em: 25 out. 2018
24 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 452103/SP. Sexta Turma. Relator Ministro
Turma. Relator Ministro Nefi Cordeiro. Data do julgamento: 26/06/2018. Disponível em:
29
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=prescricao+ocorrencia+criminal+lapso+temp
oral&b=ACOR&p=true&l=10&i=1>. Acesso em 25 out. 2018
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6.1 Qualquer pessoa tem direito a que a sua causa seja examinada, equitativa
e publicamente, num prazo razoável por um tribunal independente e
imparcial, estabelecido pela lei, o qual decidirá, quer sobre a determinação
dos seus direitos e obrigações de carácter civil, quer sobre o fundamento de
qualquer acusação em matéria penal dirigida contra ela. O julgamento deve
ser público, mas o acesso à sala de audiências pode ser proibido à imprensa
ou ao público durante a totalidade ou parte do processo, quando a bem da
moralidade, da ordem pública ou da segurança nacional numa sociedade
democrática, quando os interesses de menores ou a protecção da vida
privada das partes no processo o exigirem, ou, na medida julgada
estritamente necessária pelo tribunal, quando, em circunstâncias especiais,
a publicidade pudesse ser prejudicial para os interesses da justiça.
7.5 Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença
de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e
tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
[...]
8.1 Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de
um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos
ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
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26 Texto original: Todas estas fórmulas remiten a una miesma configuración del derecho fundamental
en análisis y tienen los mesmos alcances: el imputado goza de um derecho constitucional subjetivo
según es cual su processo debe finalizar definitivamente dentro de um plazo que assegure un
enjuiciamento expeditivo.
27 Art. 41. A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos
e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições: a. estimular a consciência dos
direitos humanos nos povos da América; b. formular recomendações aos governos dos Estados membros,
quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos
humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições
apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos; c. preparar os estudos ou relatórios que
considerar convenientes para o desempenho de suas funções; d. solicitar aos governos dos Estados
membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos
humanos; e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados
Americanos, lhe formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos
e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem; f. atuar com
respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o
disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; g. apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos.
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180. Após quase quatro anos de processo interno, a investigação dos fatos
foi efetuada com a rapidez, seriedade e exaustividade requerida pela
Convenção Americana. Ao não investigar adequadamente os fatos
concernentes à morte de Damião Ximenes Lopes, o Estado violou os artigos
1.1, 25 e 8 da Convenção Americana, relacionados com a obrigação de
investigar, o direito a um recurso efetivo e o direito a garantias judiciais.
181. A Comissão conclui que a falta de uma devida investigação dos fatos
relacionados com a morte de Damião Ximenes Lopes, nos termos
anteriormente explicados, constitui violação pelo Estado brasileiro das
obrigações contidas nos artigos 25 e 8 da Convenção Americana, em
concordância com o estabelecido no artigo 1(1) deste tratado.
[...]
218. A Comissão Interamericana conclui, e solicita à Corte que assim o
determine, que o Estado é responsável pela violação dos direitos
consagrados nos artigos 4, 5, 8 e 25, bem como do descumprimento da
obrigação geral contida no artigo 1(1) da Convenção Americana, devido à
hospitalização do senhor Damião Ximenes Lopes em condições cruéis,
desumanas ou degradantes, apesar de seu dever de cuidado como
garantidor de seus direitos, as violações a sua integridade pessoal, a seu
assassinato; e as violações da obrigação de investigar, do direito a um
recurso efetivo e das garantias judiciais relacionadas com a investigação dos
fatos.28
70. O princípio do prazo razoável referido nos artigos 7.5 e 8.1. O objetivo da
Convenção Americana é impedir que o acusado permaneça por um longo
tempo sob acusação e garantir que seja decidido prontamente. No presente
caso, o primeiro ato do procedimento constitui o apreensão do senhor Suárez
Rosero em 23 de junho de 1992 e, portanto, a partir desse momento, o termo
deve começar a ser apreciado.
71. A Corte considera que o processo termina quando uma sentença final é
proferida e firme no assunto, com o qual a jurisdição está esgotada (veja Cour
eur. DH, arrêt Guincho du 10 juillet 1984, série A No. 81 , para. 29) e que,
particularmente em direito penal, este período deve abranger todo o
processo, incluindo Recursos de instância que podem eventualmente
surgir. Baseado no prova que consta do dossier no Tribunal de Justiça, estima
31 Art. 7.5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo
razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. (CADH)
32 Art. 8.2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se
36BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 158260/MG. Primeira Turma. Relator Ministro
Luiz Fux. Data do julgamento: 24/08/2018. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28158260%2ENUME%2E+
OU+158260%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/yaj5n4vf>. Acesso em:
02 nov. 2018.
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37 Texto original: En cuanto al problema de la excesiva durácion del proceso penal, el esquema
anteriormente expuesto determina que ni el limite máximo de prolongácion de un proceso (plazo
razonable) ni las consecuencias jurídicas de traspasarlo pueden ser definidos por la ley de un modo
abierto ni abandonados a la determinácion de los jueces (teoría del concepto jurídico indeterminado),
sino que deben ser establecidos por el Parlamento para que realmente rija en toda su exténsion el
principio político según es cual toda la actividad del Estado, pero especialmente la que entraña el
jercicio de su violencia punitiva, tenga su legitimación en la ley y encuentre em ella también sus límites,
incluso temporales
38 Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
pelo retardamento, perderão tantos dias de vencimentos quantos forem os excedidos. Na contagem do
tempo de serviço, para o efeito de promoção e aposentadoria, a perda será do dobro dos dias
excedidos.
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que existe entre os Tribunais e que acaba gerando compreensão acerca dos atrasos
ocasionados pelos magistrados.
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5 CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi exposto no presente trabalho, o que se verificou é que
tempo e processo estão intimamente ligados, de modo que este depende daquele
para que consiga cumprir todas as suas finalidades previstas constitucionalmente.
Uma dessas finalidades é observar o princípio da duração razoável do
processo, previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal. Para isso, é
necessário que o processo chegue ao seu pronunciamento final dentro de um prazo
apto a fazer valer todas as garantias fundamentais, mas que não seja
demasiadamente lento e promovedor de dilações indevidas.
Neste sentido, o tempo kairológico se mostra efetivo dentro da temática do
modelo constitucional de processo e da preservação da sua duração razoável, uma
vez que tal modelo fornece os elementos necessários a garantir que a zona de
tempestividade de cada processo seja operada e se desenvolva em um prazo
equilibrado, entre a lentidão e a pressa. Isso se explica pelo fato da teoria do tempo
kairológico abandonar o absolutismo do tempo cronológico e possuir como ideal a
concepção de tempo relativo, de natureza qualitativa e baseado na ideia da
tempestividade.
Por meio de análise dos julgados da Corte Interamericana de Direitos Humanos
e também do Supremo Tribunal Federal foi possível perceber que o Brasil ainda tem
muito a avançar no que se refere à promoção de um processo penal dentro dos limites
temporais razoáveis. Isto porque, além de já ter sido condenado na Corte por casos
que não respeitou a duração razoável do processo, é visível que o STF não apresenta
um conjunto de decisões uniforme, de modo a fornecer segurança jurídica às partes.
Ainda que o Brasil tenha adotado a Teoria do Não Prazo, consoante
entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, esta deve ser aplicada
com ressalvas. Acredita-se que o fato de não haver um prazo final previamente
estabelecido amplia a discricionariedade dos magistrados de modo que a decisão final
seria prolatada de acordo com o sentir do juiz.
Entretanto, acontece que em vista do princípio da legalidade, o mais adequado
seria que houvesse uma legislação apta a estabelecer um prazo máximo para o
término do processo e, no caso de não ser respeitado, aplicar efetivamente as
sanções previstas em nosso ordenamento àqueles que colaboraram para as dilações
indevidas.
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Neste sentido, ainda que o presente estudo não seja capaz de auferir
exatamente qual seria esse prazo razoável, é possível adotar medidas que visem
assegurar o princípio e ainda erradicar as graves consequências às quais as partes
estão submetidas.
Dentre elas, seria interessante a quantificação de uma média acerca do prazo
máximo de acordo com a razoabilidade do tempo necessário à duração do processo
de apuração da ocorrência e da punição de cada delito. Uma forma para facilitar seria
quantificar de acordo com grupos, por exemplo: crimes contra a vida, crimes contra o
patrimônio, contra a Administração Pública e etc. Assim, tendo um contato maior com
as espécies de crimes, ficaria mais fácil a aplicação das sanções já previstas em nosso
ordenamento.
Além disso, essa média temporal considerada razoável pela legislação poderia
permitir, também, dilações moderadas em virtude do número de réus, testemunhas,
expedição de precatórias e realização de perícias, de modo a prever um controle
acerca do que é considerado atraso justificável ou não.
Feito isso, o que se pretende é ao menos chegar perto de um ordenamento
jurídico que respeite a duração razoável do processo como deve ser e,
consequentemente, que garanta o exercício de outros princípios constitucionais, tais
como do contraditório, do devido processo legal e da dignidade da pessoa humana,
efetivando, assim as diretrizes do Estado Democrático de Direito.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Senado Federal. Redação final do Projeto de Lei 156/09. Brasília, DF, 07
de dezembro de 2010. Disponível em <http://www.ibraspp.com.br/wp-
content/uploads/2010/09/Reda%C3%A7%C3%A3o-final-PLS-156-09PDF1.pdf>.
Acesso em 24 out. 2018.
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Tempo e processo. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1997.
LOPES JR., Aury; BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito ao processo penal no prazo
razoável. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
45
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.