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DRIELY MACHADO PEREIRA

A CONTROVERSA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA EM


CONDENAÇÕES NO TRIBUNAL DO JÚRI

Cidade
Ano

RIO GRANDE
2021
DRIELY MACHADO PEREIRA

A CONTROVERSA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA EM


CONDENAÇÕES NO TRIBUNAL DO JÚRI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade Anhanguera do Rio Grande, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Direito.

Orientador: Fabiana Violin Fabri

Rio Grande
2021
DRIELY MACHADO PEREIRA

A CONTROVERSA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA EM


CONDENAÇÕES NO TRIBUNAL DO JÚRI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade Anhanguera do Rio grande, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Rio Grande,__ de _____ de _____.


Dedico este trabalho aos meus pais Daniel
e Mariza por todo apoio e incentivo para
nunca desistir dos meus sonhos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente aos meus pais Daniel Campos Pereira e Tania Mariza
Machado Pereira, que sempre me apoiaram em todas as decisões que tive em minha
vida e por todo incentivo e ajuda ao longo de minha trajetória acadêmica, por terem
sempre feito o possível e impossível para me ajudar, acreditando no meu potencial e
torcendo pela minha vitória.
Agradeço também aos professores maravilhosos desta instituição, pela
paciência e dedicação para com os alunos e por todo o conhecimento compartilhado
conosco.
Me sinto muito feliz pela conquista da minha primeira formação acadêmica, e
privilegiada por todas as pessoas maravilhosas que fizeram parte desta importante
fase da minha vida, direta ou indiretamente.
Sou grata a todos que acreditaram em mim e que torcem pelo meu sucesso,
pois apesar do aminho até aqui não ter sido nem um pouco fácil, e que mesmo diante
de todas as dificuldades, desistir nunca foi e nunca será uma opção.
Deixo aqui demonstrado todo meu agradecimento pelas oportunidades me
foram concedidas ao longo desses 5 anos, e reitero toda minha felicidade, pois hoje
sou uma pessoa melhor, mais confiante, que luta e acredita na justiça e em uma
sociedade mais igualitária.
“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça
em qualquer lugar.”
Martin Luther King
PEREIRA, Driely Machado. A controversa execução provisória da pena em
condenações no tribunal do júri. 2021. 29 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Direito) – Faculdade Anhanguera, Rio Grande, 2021.

RESUMO

A execução provisória da pena é um tema de intensos debates jurídicos e de grande


repercussão. Os argumentos favoráveis e desfavoráveis às modificações advindas da
lei 13.964/2019 são inúmeros, fato este que demonstra a importância de se dialogar
sobre o assunto em tela, mediante a possibilidade da pena ser aplicada de maneira
antecipada ferir alguns direitos fundamentais presentes em nosso ordenamento, oque
pode acabar por gerar prejuízos imensuráveis tanto para a pessoa diretamente
afetada como para a sociedade diante a sensação de insegurança jurídica causada
diante o interesse de punir do estado, que quer se mostrar efetivo se sobrepõe aos
direitos resguardados em cláusula pétrea na constituição. O objetivo geral deste
trabalho é estudar acerca da (in)constitucionalidade da execução provisória da pena
após condenação em 1º grau no tribunal do júri, bem como as consequências
acarretadas, utilizando como metodologia a revisão bibliográfica, com o intuito de
dissertar sobre o caminho percorrido ao longo da história no instituto do júri e seus
princípios norteadores, analisando as alterações advindas do pacote anticrime no
âmbito do tribunal do júri, apontando também, os entendimentos juristas acerca da
execução antecipada e da possibilidade de efeito suspensivo na apelação. Constatou-
se controversos entendimentos, sendo eles diversos, porém a suma importância é
garantir-se o que preza a constituição, à modo de prevenir possíveis injustiças.

Palavras-chave: Execução provisória. Direitos fundamentais. Tribunal do júri.


Presunção de inocência.
PEREIRA, Driely Machado. The controversial provisional execution of the
sentence in convictions in jury court. 2021. 29 sheets. Course completion Paper
(Law Degree) – Faculdade Anhanguera, Rio Grande, 2021.

ABSTRACT

The provisional execution of the sentence is a subject of intense legal debates and of
great repercussion. There are countless favorable and unfavorable arguments to the
amendments resulting from Law 13.964 / 2019, which demonstrates the importance
of dialoguing on the subject at hand, through the possibility of the penalty being
applied in advance to injure some fundamental rights present in our law, which can
end up generating immeasurable losses both for the person directly affected and for
society in the face of the feeling of legal insecurity caused in the face of the state's
interest in punishing, which wants to prove effective overrides the rights protected in
a stiff clause in the constitution. The general objective of this work is to study about
the (in) constitutionality of the provisional execution of the sentence after a 1st
degree sentence in the jury court, as well as the consequences, using the
bibliographic review as methodology, in order to talk about the path taken throughout
history at the jury institute and its guiding principles, analyzing the changes arising
from the anti-crime package within the scope of the jury court, also pointing out the
legal understandings about the early execution and the possibility of suspensive
effect on the appeal. Controversial understandings were found, of which they are
diverse, but the paramount importance is to guarantee what the constitution values,
in order to prevent possible injustices.

Keywords: Provisional execution. fundamental rights. jury court. presumption of


innocence.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13
2. A ORIGEM HISTORICA DO TRIBUNAL DO JÚRI NO DIREITO BRASILEIRO
E SEUS PRINCÍPIOS NORTEADORES ................................................................... 15
3. A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA ADVINDA DO PACOTE ANTICRIME
NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI ..................................................................... 20
4. OS CONTROVERSOS ENTENDIMENTOS ACERCA DA EXCECUÇÃO
PROVISÓRIA ............................................................................................................ 24
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................... ERROR! BOOKMARK NOT DEFINED.7
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 278
13

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como tema a execução provisória da pena em


condenações no tribunal do júri após a alteração introduzida pela lei 13.964/19, na
qual alterou o inciso I, do artigo 492, do código de processo penal, inserindo a alínea
“e”, tornando automática a prisão nos casos em que houver condenações com pena
igual ou superior a 15 anos de reclusão no âmbito do tribunal do júri , e tem como
objetivo geral o estudo acerca de sua (in)constitucionalidade e suas possíveis
consequências acarretadas.
O assunto é gerador de diversas discussões no meio acadêmico e jurista por
se tratar de mudanças que ferem o princípio da presunção de inocência e não
culpabilidade.
Questiona-se o motivo que fez com que o legislador realizasse tal mudança,
acreditando-se que sua decisão tenha sido motivada pelo clamor social de luta pelo
fim da impunidade, porém em contrapartida, tal medida acarretou certa insegurança
jurídica levando a pensar quais as possibilidades de ações como essa poderem gerar
diversos prejuízos futuramente.
Há entendimentos que ao ser implementada essa alteração do pacote
anticrime, ocorreu juntamente a retirada da garantia individual assegurada na
constituição, que é a de que ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, caso esse em que tal garantia não pode ser
alterada nem por emenda constitucional, onde no fato em questão tornou-se ainda
pior pois seria como uma lei federal modificasse outra lei federal.
Em conjunto com isso vem a indagação da possibilidade do juiz estando diante
do caso em que está responsável pela dosimetria da pena, onde inicialmente aplicaria
uma pena menor, aplique uma pena igual ou superior a 15 anos de reclusão visando
a execução provisória da pena, movido pelo clamor social do caso.
No entanto, são medidas importantes pois anteriormente ao pacote anticrime o
processo de execução era demasiadamente demorado, oque acarretava muitas vezes
a sensação de impunidade, mediante os crimes de competência do tribunal do júri ser
de grande comoção social, dividindo assim a sociedade, meio jurista e acadêmico
perante o que é o certo.
14

Insta salientar que o estudo é de grande relevância social perante os motivos


expostos até o momento e também ao longo do trabalho, visando assim contribuir com
o meio acadêmico ao mostrar as possíveis consequências geradas diante a execução
antes do transito em julgado, esclarecendo pontos de suma relevância para a
sociedade ao se falar sobre a importância de se respeitar os princípios norteadores
do direito como o da presunção de inocência e o da não-culpabilidade, garantindo os
direitos fundamentais de todos, inclusive aqueles que estão submetidos à condenação
pelo tribunal do júri, asseverando um processo de execução justo.
Nesse sentido, no primeiro capítulo realiza-se uma breve origem histórica do
tribunal do júri no direito brasileiro, bem como seus princípios norteadores,
demonstrando a importância da evolução histórica do júri como também de ser
respeitados os princípios presentes em nosso ordenamento jurídico. No segundo
capítulo aborda-se a execução provisória da pena advinda da implementação do
pacote anticrime, com uma análise acerca das alterações ocorridas no âmbito do
tribunal do júri, e por fim e não menos importante, no terceiro e último capítulo, um
apontamento dos controversos entendimentos dos juristas, entidades e tribunais
acerca da execução provisória e a possibilidade do efeito suspensivo na apelação.
Esta pesquisa adota a metodologia de revisão bibliográfica, pautada na
exposição de ideias, com o emprego de material bibliográfico, artigos e documentação
legal, demonstrando pontos de suma importância para o meio jurídico e para a
sociedade.
15

2. A ORIGEM HISTORICA DO TRIBUNAL DO JÚRI NO DIREITO BRASILEIRO E


SEUS PRINCÍPIOS NORTEADORES

Ao se falar em tribunal do júri no direito brasileiro, é de suma se destacar a


importância desse instituto, bem como sua evolução histórica, mostrando o caminho
que percorreu até os dias atuais.
No Brasil segundo NUCCI (2015), o tribunal do júri foi instituído em 18 de junho
de 1822, por meio de um decreto do príncipe regente, no qual era composto por
24(vinte e quatro) cidadãos que deveriam ser nomeados pelo corregedor e ouvidores
do crime, e o júri na época se aplicava somente para o julgamento dos crimes de
imprensa, e ainda diante inconformismo da decisão do júri, poderia apelar somente
para o príncipe, o qual era o único responsável pela possível alteração proferida por
eles.
Conforme NUCCI (2015), com a constituição do Brasil imperial, em 1824, o
tribunal passou a fazer parte do poder judiciário, com competência para julgar causas
cíveis e criminais, instituindo júri de acusação e júri de julgamento.
Segundo BANDEIRA (2010), com a lei nº 261 de 03 de dezembro de 1841, a
organização e funcionamento do tribunal do júri foi alterado, mantendo apenas o júri
de julgamento, passando a competência de pronúncia de acusação para as
autoridades policiais e para os juízes municipais.
Em 1850, com o decreto nº 707 de 09 de outubro, foi excluída da competência
do júri o julgamento dos crimes de homicídio que eram praticados nos municípios de
fronteira do império, roubo, moeda falsa, resistência e retirada de presos, e passou
para o juiz municipal a competência para a formação da culpa do acusado
(BANDEIRA, 2010).
Após em 1871, com a lei nº 2.033, de 20 de setembro, o tribunal do júri teve
sua competência de julgamento de crimes ampliada, retirando as autoridades policiais
da formação de culpa nos crimes comuns (BANDEIRA, 2010).
Segundo NUCCI (2015), com a Proclamação da República em 1890, diante
decreto 848, se manteve o júri, e criou-se o júri Federal, onde os delitos sujeitos a
jurisdição Federal também estrariam em competência de julgamento do júri.
Em 1890 foram restritos da competência do júri alguns delitos, e em 1923, com
o decreto nº 4780 de 27 de dezembro, houve uma restrição ainda maior. A partir da
16

Constituição Republicana de 24 de fevereiro de 1891, na seção II do capítulo IV, a


instituição passa a ser considerada um direito ou garantia individual (NUCCI, 2015).
Em 1934 com a constituição, o júri voltou a ser inserido no poder judiciário em
seu art. 72 e na constituição de 10 de novembro de 1937 foi retirado do texto
constitucional.
Debates foram gerados acerca do prosseguimento da instituição no pais, até
que com o decreto nº 167 de 05 de janeiro de 1938, no art.96, se admitiu a existência
do júri mesmo sem ser de maneira soberana, pois apesar de ter competência para
julgar os crimes contra a vida, o tribunal de apelação poderia modificar a decisão dos
jurados, aplicando a pena de modo que a compreensão fosse diversa da dos jurados,
até mesmo optando pela absolvição do réu (NUCCI, 2015).
Com a retomada da democracia em nosso país, por meio da constituição de
1946, trouxe junto o tribunal do júri no que tange aos direitos e garantias individuais,
com os princípios norteadores de sigilo das votações, plenitude de defesa e a
soberania dos vereditos, princípios estes que veremos ao decorrer do trabalho.
Com o ingresso do regime militar, perante a constituição de 1967, houve a
manutenção da instituição do júri com competência dos crimes dolosos contra a vida,
garantindo a soberania do júri, porém, posteriormente, com a emenda constitucional
nº 1 de 17 de outubro de 1969 manteve-se o júri, mas foi omitido a respeito da
soberania (BANDEIRA, 2010).
Com o retorno da democracia perante a constituição de 1988, o tribunal do júri
retoma a fazer parte dos direitos e garantias fundamentais, é tido como clausula
pétrea, regido pelos princípios da plenitude de defesa, sigilo das votações e soberania
dos vereditos, conforme art. 5º, inc. XXXVIII da Constituição Federal (BRASIL,1988).
O júri surgiu com a função de julgar com cunho democrático, uma vez que o
réu será julgado por seus pares, e ele é visto como o povo dentro do poder judiciário.
Composto por 25 pessoas, cidadãos escolhidos aleatoriamente, com idade
entre 18 e 70 anos, com idoneidade moral, e dentre essas são sorteadas 7 pessoas
para formar o chamado “conselho de sentença”, que serão capazes para julgar a
causa penal, nos crimes dolosos contra a vida.
Diante esse contexto histórico, desde a primeira Constituição Brasileira, a pena
privativa de liberdade é a principal forma de punição encontrada na legislação, sendo
aplicada na fase de execução penal do condenado.
17

Para se assegurar um processo mais justo, frisa-se a importância da


aplicabilidade dos princípios norteadores do direito brasileiro, tanto no processo Penal
em si, quanto no âmbito do tribunal do júri, tema dos questionamentos do presente
estudo.
No que tange a esses princípios, encontra-se tanto na Constituição quanto no
código de processo penal, e são de suma importância respeitá-los, pois são a garantia
da democracia, assim como mencionado que “O princípio constitucional há de ser
respeitado como o elemento irradiador, que imanta todo o ordenamento jurídico”
(NUCCI, 2015, p. 33).
No instituto assegura-se a plenitude de defesa, que abarca o princípio da ampla
defesa tornando-o ainda maior, se valendo de todos os meios jurídicos aceitáveis para
a argumentação de defesa perante o júri que:

Para alguns, tais expressões possuem o mesmo significado. Portanto, neste


último prisma, aos acusados em geral garante-se a defesa ampla e aos réus
dos processos em trâmite no Tribunal do Júri, identicamente, garante-se a
defesa ampla, embora, nesse caso, teria optado o legislador pela utilização
de outro termo (plenitude) (NUCCI, 2015, p. 34/35).

Segundo NUCCI (2008), nota-se que o princípio do sigilo das votações, que
diferente da regra geral da publicidade dos atos jurisdicionais que serve de garantia
para a imparcialidade do juiz togado, no tribunal do júri a lógica se torna inversa, onde
ninguém deve saber como cada jurado decidiu, sendo aberto na votação somente os
quatro primeiros votos que sendo iguais fará com que não sejam abertos os demais
para que não se saiba como os jurados decidiram cada quesito, decidindo por seu
íntimo, sem ter que motivar sua decisão.
Ao falar de soberania dos vereditos, nota-se segundo NUCCI (2008), que a
decisão do conselho de sentença deverá ser acatada pelo juiz togado que preside o
júri, pois a mesma é imutável, e ainda, sequer o tribunal de justiça poderá alterar a
decisão do júri, podendo apenas, em eventual recurso das partes, caso a decisão seja
completamente contraria as provas dos autos, designar o réu à um novo julgamento
pelo tribunal do júri.
Nota-se que ao nos deparar com a possibilidade de um tribunal formado por
juízes de direito reexaminar a decisão dada pelos jurados, poderia estar anulando a
18

competência do tribunal do júri, uma vez que contraria a soberania dos veredictos
garantido pela carta magna.
Em suma o princípio, todavia, não é absoluto, pois é possível em sede de
apelação, que seja feito um novo julgamento pelo júri se o tribunal de instância
superior entender que a decisão dos jurados foi manifestamente contraria à prova os
autos.
Urge enfatizar que o proposito deste princípio é fazer com que o veredicto do
júri tenha soberania sobre o mérito da causa, e usar-se desta soberania para legalizar
outra situação que nada tenha a ver com o mérito é estar indo contra o que foi
determinado por lei.
Todavia, uma vez que a soberania dos veredictos resta ligada ao mérito da
decisão, entende-se que a utilização de tal princípio para legalizar uma antecipação
de prisão não se torna suficiente, pois diante a necessidade de prisão do réu, quando
previstos os requisitos em lei, resta a possibilidade do juiz presidente utilizar-se da
prisão preventiva, ao que não justifica assim a utilização deste principio como forma
de uma execução provisória da pena.
Ao apontar as diversas correntes de doutrinadores, o princípio da presunção
de inocência, previsto na Declaração universal dos direitos humanos, em seu art. 9º e
11º, e o princípio da não-culpabilidade previsto no art.5º, inciso LVII, da constituição
federal, nota-se a importância de frisar que sua aplicabilidade serve para evitar o
excesso do estado, como a máxima do “in dubio pro reo”, que para Renato Brasileiro:

Não havendo certeza, mas dúvida sobre os fatos em discussão em juízo,


inegavelmente é preferível a absolvição de um culpado à condenação de um
inocente, pois, em juízo de ponderação, o primeiro erro acaba sendo menos
grave que o segundo (LIMA, 2012, p.11).

Como Lenza (2011), explica que o fato da prisão do acusado, antes do trânsito
de sentença penal condenatória, trairia o princípio da presunção de inocência.
Alexandre de Morais (2007), explica que o princípio é a base para o Estado de
Direito, no qual visa a liberdade pessoal, diante da necessidade de o estado
comprovar a culpa do indivíduo, para não correr o risco de um estado opositor de suas
vontades.
19

Nesse sentido, a importância de tal é garantir que todo individuo seja


considerado inocente até o trânsito em julgado da ação penal condenatória, e acerca
desse princípio, segundo Maurício Zanoide de Moraes (2010):

Pelo vetor racional empreendido pelo Iluminismo na expressão ‘presunção de


inocência’ assevera-se a certeza de que a maioria dos homens é honesta e
não criminosa e que a reconstrução probatória atinge somente o provável,
jamais a perfeição. Logo, remanescendo a dúvida sobre o cometimento ou
não do crime, o razoável é manter o estado de inocência do indivíduo, não
reconhecer sua culpa, que é exceção à regra. Nasce assim a parêmia latina
‘quilibet preasumitur bônus, donec contrariam probetur’ (qualquer um se
presume bom, até se provar o contrário), e o ônus da prova, por essa
observação da regra dos acontecimentos humanos, já então ficava relegado
à acusação.

Por fim e não menos importante, encontra-se a competência para os crimes


dolosos contra a vida, na forma tentada ou consumada, estando presente na ação do
agente a vontade de eliminar a vida, crimes estes presentes na parte especial do
código penal.
Para LIMA (2006), o tribunal do júri trata-se de um direito e garantia
fundamental do cidadão, e tal competência não poderá ser afastada do tribunal do júri.
Tratando-se de crime de competência da justiça federal ou Estadual, o julgamento
competirá ao Tribunal Popular.
Presa-se a importância desse instituto como máxima de democracia em nosso
país.
O direito à liberdade é um dos mais importantes à existência e
desenvolvimento da pessoa humana, justamente por isso é considerado,
universalmente, um direito fundamental. Sem liberdade, o homem não
conseguiria garantir nem mesmo o direito à vida – o mais notável de todos,
pois assegura o próprio fato de existir, algo indispensável para aplicação do
direito (NUCCI,1999, p. 136-137).

Toda vez que vemos uma destas disposições não sendo observada na prática,
não vemos apenas uma irregularidade, mas também uma inconstitucionalidade, pois
não se pode pensar no fato de que uma execução penal não se balize pelos princípios
e direitos garantidos na constituição.
20

3. A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA ADVINDA DO PACOTE ANTICRIME NO


ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI

A Fase de execução da pena anteriormente à implementação do pacote


anticrime, no direito brasileiro, era cumprida após condenação do tribunal do júri
somente em casos em que fosse presentes os requisitos da prisão preventiva, e na
falta deles, o réu mesmo condenado pelo júri aguardava em liberdade o trânsito em
julgado da sentença enquanto ainda houve a possibilidade de recursos da decisão.
Com a reforma do código de processo penal, teve-se a implementação do
referido pacote anticrime, advindo da lei 13.964 de 24 de dezembro de 2019, onde
ocorre a inclusão da execução provisória da pena, estando presente no artigo 492, I,
alínea “e”:
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que: (Redação dada
pela Lei nº 11.689, de 2008)
I – no caso de condenação: (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se
encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de
condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão,
determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado
de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que
vierem a ser interpostos; (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
(BRASIL,2019).

Com isso, o réu passa a executar a pena de maneira provisória no término do


julgamento que o tenha condenado a pena igual ou superior a 15 de reclusão, sem
que tenha ocorrido o transito em julgado da sentença, e ainda mesmo diante da
possibilidade de interposição de recursos, criando assim uma execução a partir de
decisão em primeiro grau de jurisdição.
No caso de condenação do réu por um delito ainda restar possível recurso da
decisão, entende-se que esta ainda não transitou em julgado, sendo, portanto, uma
condenação provisória, fato em que, ao iniciar o cumprimento da pena, porém ainda
pendentes os recursos de apelação cabíveis, estamos diante à execução provisória
da pena.
Nota-se que a justificativa para a execução provisória no âmbito do tribunal do
júri se baseia no princípio da soberania dos veredictos e na gravidade dos crimes por
eles julgados, justificando um tratamento, ora, diferenciado.
Ao que pese, tal princípio está estipulado na Constituição Federal como uma
garantia fundamental, fato este gerador de discussões quanto à utilização deste como
argumento para que se antecipe o cumprimento da pena, visto que o júri embora
21

soberano não é absoluto, não sendo assim uma justificativa para uma execução
imediata. A decisão emitida por um júri deve ser equiparada à uma decisão de um
tribunal, pois os acórdãos por eles proferidos é feito após um debate qualificado entre
os integrantes daquele colegiado, oque não ocorre no tribunal do júri, onde a
incomunicabilidade é regra. Logo, utilizar-se da justificativa do júri ser um órgão
colegiado é uma falha.
Ao analisar o julgado do Supremo Tribunal Federal sob o habeas corpus 84.078
em 2009 considerando impossível a execução da pena antes do transito em julgado
da sentença condenatória, sendo passível de execução somente diante necessidade,
e presentes os requisitos que fosse feita por meio de prisão preventiva, notou-se a
preocupação do julgador em respeitar os princípios e os direitos fundamentais.
Já em 17 de fevereiro de 2016, no julgamento do habeas corpus 126.292, esse
entendimento foi modificado em relação ao anterior, ao estabelecer a possibilidade de
execução da pena logo após a decisão do recurso, em segunda instância, oque
provocou diversos debates a respeito de sua (in)constitucionalidade, no que
preconiza:
O argumento central dos que advogam a tese de que a pena não pode ser
executada até que a sentença condenatória se torne definitiva se baseia no
ar. 5º, inc. LVII, da Constituição Federal, segundo o qual “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”. Tamanha foi a celeuma que, no mesmo ano, foram ajuizadas
duas ações declaratórias de constitucionalidade (43 e 44), nas quais se
pretendia a declaração de plena vigência a compatibilidade constitucional do
art. 283 do CPP, que dispõe: “Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciaria
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado
ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária
ou prisão preventiva”. Pretendia-se, com isso, evitar os efeitos da decisão
tomada no habeas corpus já citado, ou seja, que a prisão se tornasse possível
após julgamento de recursos em segunda instância (CUNHA, 2020, p.306).

Nota-se que tais debates foram se suma importância para o direito brasileiro,
pois a partir deles o supremo tribunal federal indeferiu medida cautelar suspendendo
as execuções antecipadas em curso enquanto não fosse julgado o mérito das ações
constitucionais, ato este visto como um acatamento ao que resguarda a Constituição.
No ano de 2018 foi ajuizada uma nova ação de constitucionalidade (54).
Como marco do transito em julgado, segundo CUNHA (2020), o julgamento das
três ações de constitucionalidade, onde decidiu-se em executar a pena após o
esgotamento dos recursos cabíveis.
22

Em suma deve-se atentar que apesar do relator de todas as ações, o ministro


Marco Aurélio, declarar a constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo
Penal, alertando que tal julgamento não deveria abranger as decisões tomadas no
tribunal do júri.
Ao analisar a então proferida decisão do habeas corpus 18.770, onde o ministro
Luis Alberto Barroso que teve sua tese defendida pela maioria, na qual destacou a
presunção de inocência como princípio e não como regra, nota-se que para o estado,
acima do princípio está o interesse na efetividade da lei penal, no qual destaca:
Partiu-se da premissa que, face à soberania que é inerente ao Tribunal do
Jurí, decorrente de expresso texto constitucional (art. 5º, inc. XXXVIII, “c”),
deve ser admitida a imediata prisão do réu, assim que condenado pelo
tribunal do popular. Vê-se, portanto, que a execução antecipada da pena nos
casos dos crimes dolosos contra a vida tem fundamento mais amplo do que
a execução nos demais casos, pois baseada no princípio constitucional de
que a decisão tomada pelos jurados não pode ser desrespeitada. Mas, como
se tratou de decisão tomada por maioria no âmbito restrito de uma das turmas
do tribunal, é muito provável que o tema volte a julgamento no plenário
(CUNHA, 2020, p.308).

Como toda regra, há algumas exceções, no presente não é diferente. É de


Suma importância destacar que há a previsão da possibilidade do juiz presidente do
júri deixar de executar a pena provisoriamente caso haja questão substancial que o
tribunal possa anular o júri, presente no parágrafo 3º do artigo 492 do Código de
Processo Penal, no qual:

§3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a


execução provisória das penas de que trata a alínea e do inciso I do caput
deste artigo, se houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao
qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à revisão da
condenação (BRASIL, 2019).

Nota-se que no parágrafo 4º, diz que não terá efeito suspensivo quando da
apelação interposta contra decisão condenatória do júri em casos com pena igual ou
superior a 15 anos de detenção, no qual comenta:
Assim sendo, a alteração legislativa do parágrafo 4º, retira o efeito suspensivo
do recurso de apelação das decisões do tribunal do júri quando as penas
aplicadas sejam superiores a 15 anos, mas confere ao relator da apelação a
possibilidade de conceder este efeito caso entenda que o recurso não é
protelatório. Essa redação além de confusa, desconsidera o fundamento do
próprio recurso (FAUCZ, 2020).
23

Insta salientar também a relevância da possibilidade do tribunal suspender,


ainda que excepcionalmente, a execução provisória, nos casos em que o juiz
determinar a prisão imediata do réu em plenário, a defesa pode recorrer ao tribunal e
requerer ao relator que conceda o efeito suspensivo à apelação, onde tal recurso não
seja meramente protelatório e que haja questão substancial que possa rever a decisão
do júri, conforme artigo 492, parágrafo 5º:

§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à


apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado
cumulativamente que o recurso:
I - não tem propósito meramente protelatório;
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação
da sentença, novo julgamento ou redução da pena para patamar inferior a
15 (quinze) anos de reclusão (BRASIL, 2019).

Segundo CUNHA (2020), a utilização da expressão “excepcionalmente” indica


que a regra seria a da execução imediata da pena e que sua não execução presume
uma condenação anormal e incomum.
A grande questão acerca da (in)constitucionalidade da lei implementada está
longe de ser pacificada, visto os diversos entendimentos e debates acerca do tema,
onde por um lado fundamenta-se a constitucionalidade perante a decisão dos
jurados ser soberana, questão prevista na constituição federal pelo princípio da
soberania dos veredictos, do outro lado temos o entendimento de
inconstitucionalidade fundamentado na inobservância do princípio da presunção de
inocência e da não-culpabilidade. Ainda nos perguntamos sob qual fundamento se
baseia a execução provisória, e se tal inserção contraria os direitos fundamentais.
Insta salientar ainda, que, no artigo 313, §2, do Código de processo penal,
dita a não admissibilidade de decretação de prisão preventiva com a finalidade de
antecipação de cumprimento de pena, oque corrobora com o questionamento.
Cabe ainda mencionar que, se a motivação para a inserção da prisão
provisória for a força da soberania dos veredictos, questiona-se ainda o motivo pelo
qual se valer nos casos de pena igual ou superior a 15 anos de reclusão, ao que
pese presente falta de justificativa técnica para tal. Ademais, não se deve violar os
direitos fundamentais a fim de se ter a percepção de um processo penal mais efetivo.
Haja visto que temos como norte a Constituição Federal, devemos atentarmos
aos entendimentos dos juristas e tribunais acerta do controverso tema.
24

4. OS CONTROVERSOS ENTENDIMENTOS ACERCA DA EXECUÇÃO


PROVISÓRIA

Diante o contexto histórico do tribunal do júri e todas as mudanças ao longo do


tempo, após analisar as mudanças em nosso ordenamento jurídico à respeito da
execução provisória, nos deparamos com os mais diversos entendimentos acerca do
tema.
A problemática de toda essa questão ser pacificada na melhor forma possível
gira em torno dos possíveis danos que podem vir a causar, pois como bem sabemos,
o estado também pode ser falho, e ao nos depararmos com uma precoce execução
na qual ainda é passível de recurso, pode desta forma gerar danos irreversíveis tanto
para o réu como para a sociedade num todo, pois tal ato além de gerador de
insegurança jurídica, poderá abrir precedentes para futuros violamentos da
constituição e também de direitos fundamentais.
Entende Assumpção (2020), que a norma serve para atender aqueles que vê
como impunidade o fato de se esperar o trânsito em julgado para a execução, e
entende que mesmo diante a gravidade do crime não se torna suficiente para se
diminuir ou afastar a percepção de inocência, e vê que a decretação da prisão ainda
passível de recurso fere o princípio constitucional presente no artigo 5º, LVII, da
Constituição Federal.
Como estes direitos estão positivados na constituição, não se pode interpretar
como uma concessão do estado, tendo os cidadãos o direito e dever de exigir que
sejam respeitados estes preceitos, visto que servem como uma proteção para toda a
sociedade.
Advinda tal alteração, questiona-se acerca da (in)constitucionalidade de tal
medida adotada, pois em visão de alguns doutrinadores iria contra o princípio da
presunção de inocência e da não-culpabilidade, ao notar que:

Duas discussões devem surgir sobre esse dispositivo. Primeira no sentido


de que é constitucional, e aí basta se seguir a sistemática citada
anteriormente. Segunda posição deve vir no sentido que esse dispositivo é
inconstitucional. Essa segunda posição se baseia na ideia de que se trata
de medida inconstitucional por violar o duplo grau de jurisdição e por
determinar a prisão automática antes do trânsito em julgado. Ora, prisão
antes do trânsito em julgado somente pode ser admitida quando for cautelar
e, desta forma, não seria possível a prisão automática. (DEZEM; SOUZA,
2020, P.86)
25

A justificativa para defender a execução imediata da pena baseia-se na


soberania do júri, porém, ao que entende Assumpção (2020), tal entendimento seria
um equivoco pelo menos ao tocante a este tema pois não há debates entre os jurados
que o compõe, e ainda, diante o princípio estar sacramentado no título de direitos e
garantias fundamentais, jamais deveria ser utilizado como fundamento para restrição
de direitos, mas sim como um preceito a proteção do cidadão.
Ao nos depararmos com a redação dada à respeito do recurso de apelação,
nota-se um grande equívoco, ainda em função do princípio da soberania dos
veredictos, pois nela o tribunal não poderá absolver o apelante, mas sim, anular o
julgamento levando-o para um novo júri, ao que comenta:

Por isso, ficamos sem entender o que buscou o legislador ao descrever que
um dos requisitos para o efeito suspensivo é a presença de “questão
substancial que possa resultar em absolvição” (CUNHA, 2020, p. 308-309).

Insta salientar que o tema em comenta foi tema de várias ações diretas de
inconstitucionalidade, dentre eles feitos pela Ordem dos advogados do brasil sob o nº
6783, no qual o órgão entende que a norma desrespeita o princípio da coerência,
unidade e completude do ordenamento jurídico, bem como o princípio da presunção
de inocência, pedindo a concessão de medida cautelar para a suspensão imediata da
aplicação prevista no artigo 492, I, alínea “e”, e parágrafos 3º, 4º, 5º e 6º do código de
processo penal, pela redação dada pelo artigo 3º da lei 13.964/2019.A associação
Brasileira dos advogados criminalistas ajuizou também uma ação direta de
inconstitucionalidade, sob o nº 6735, onde entende, também, que a norma viola o
princípio da presunção de inocência, e que ainda o dispositivo contraria a decisão do
Supremo no julgamento conjunto das ações declaratórias de constitucionalidade
43,44 e 54, no qual foi reconhecido que a execução provisória não é admitida, nos
termos da constituição, onde segundo a entidade, a norma afronta a ordem
constitucional.
Se tratando ainda em matéria de (in)constitucionalidade do referido artigo,
temos a corrente doutrinaria que defende a sua constitucionalidade, representada por
Renato B. de lima, no qual:

Na dicção do Ministro Barroso, “A presunção de inocência é princípio (e não


regra) e, como tal, pode ser aplicada com maior ou menor intensidade,
26

quando ponderada com outros princípios ou bens jurídicos constitucionais


colidentes. No caso específico da condenação pelo Tribunal do Júri, na
medida em que a responsabilidade penal do réu já foi assentada
soberanamente pelo Júri, e o Tribunal não pode substituir-se aos jurados na
apreciação de fatos e provas (CF/88, art. 5º, XXXVIII, c), o princípio da
presunção de inocência adquire menor peso ao ser ponderado com o
interesse constitucional na efetividade da lei penal, em prol dos bens jurídicos
que ela visa resguardar (CF/88, art. 5º, caput e LXXVIII e 144). Assim, uma
interpretação que interdite a prisão como consequência da condenação pelo
Tribunal do Júri representa proteção insatisfatória de direitos fundamentais,
como a vida, a dignidade humana e a integridade física e moral das pessoas”
(LIMA, 2020, p. 54).

Por outro lado, nos deparamos com os defensores da sua


inconstitucionalidade, onde Lopes e Rosa (2020), entendem que o ponto mais
problemático do novo artigo encontra-se em sua parte final, sendo que o mesmo viola
a presunção de inocência, pois ainda, diante o reconhecimento do Supremo em ser
inconstitucional a execução antecipada após condenação em segundo grau, seria
inconstitucional também uma decisão de primeiro grau, e ainda que, utilizar como
argumento a soberania dos jurados não é valido pois o mesmo não serve para
legitimar uma prisão, perante o mesmo ser então uma garantia de independência dos
jurados tão somente.
Ao se falar em limitação à execução provisória da pena à condenação igual ou
superior a 15 anos, notamos ainda a falta de justificativa técnica para tal, ademais,
fato este de diversos questionamentos, denota-se que o assunto é bastante delicado,
e reitera-se que é preciso tratar igualitariamente à todos que apresentam a condição
de réu, tendo como mais correto o exaurimento dos recursos.
27

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A finalidade do presente trabalho foi demonstrar os controversos


entendimentos acerca da inserção da lei 13.964/2019 no nosso ordenamento jurídico.
Demonstrando ainda a importância de se respeitar a Constituição Federal como fonte
basilar para um processo mais justo em geral.
Notou-se a importância de se compreender o caminho percorrido ao longo da
história no âmbito do tribunal do júri, bem como respeitar os princípios presentes em
nosso ordenamento. Fatos de extrema importância, que muitas vezes fizeram com
que decisões fossem modificadas e entendimentos fossem opostos com o passar do
tempo.
Se tratando de um assunto polêmico, ao falar da execução provisória da pena
em si, ao ser introduzida notou-se um retrocesso ao direito penal, mediante falta de
justificativas plausíveis para sua introdução, visto que devem ser sempre respeitados
os direitos fundamentais do indivíduo, mesmo que se anseie por uma prática-jurídica
efetiva.
Ao depararmos com os controversos entendimentos jurisprudências, e também
de juristas, doutrinadores, nota-se que o mesmo se encontra longe de ser pacificado.
Fato em que insta salientar que o objetivo deste trabalho não foi o de findar a
discussão sobre o tema, mas alertar as possíveis consequências de insegurança
quanto as mudanças no ordenamento, onde cabe aos operadores de direito, presar
pela constituição e por todos os direitos adquiridos ao longo do tempo em nosso pais,
induzindo a reflexão sobre o real sentido de justiça.
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6. REFERÊNCIAS

ASSUMPÇÃO, Vinícius. Pacote anticrime: comentários à lei n. 13.964/2019. São


Paulo: Saraiva, 2020.

BANDEIRA, Marcos. Tribunal do júri: de conformidade com a lei n. 11.689, de 9 de


junho de 2008 e com a ordem constitucional. Ilhéus: Editus, 2010.

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Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em: 3 mar. 2021.

BRASIL. Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019: Aperfeiçoa a legislação penal


e processual penal. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm>. Acesso
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CUNHA, Rogério Sanches. Pacote anticrime: Lei 13.964/2019 – Comentários às


alterações no CP, CPP e LEP. Salvador: JusPodivm, 2020.

DEZEM, Guilherme Madeira; SOUZA, Luciano Anderson de. Comentários ao


pacote anticrime: Lei 13.964/2019. 1.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020.

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed. São


Paulo: Saraiva, 2011.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Niterói: Impetus,


v. 1, 2012.

LOPES JUNIOR, Aury; ROSA, Alexandre Morais da. Prisão obrigatória no júri é
mais uma vez inconstitucional. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2020-
jan-31/limite-penal-prisao-obrigatoria-juri-vez-inconstitucional.htm>. Acesso em: 12
abr.2021.

MORAES, Maurício Zanoide de. Presunção de Inocência no Processo Penal


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