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CENTRO UNIVERSITÁRIO FG - UNIFG

DIREITO

YURE DE OLIVEIRA SILVA

APLICABILIDADED DA ALÍNEA “E”, DO ARTIGO 492, I, DO CÓDIGO DO


PROCESSO PENAL: ANÁLISE CONSTITUICIONAL DA ALTERAÇÃO FEITA
PELA LEI ANTICRIMES ACERCA DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PELO
TRIBUNAL DO JÚRI

Guanambi – BA
2021.2
YURE DE OLIVEIRA SILVA

APLICABILIDADED DA ALÍNEA “E”, DO ARTIGO 492, I, DO CÓDIGO DO


PROCESSO PENAL: ANÁLISE CONSTITUICIONAL DA ALTERAÇÃO FEITA
PELA LEI ANTICRIMES ACERCA DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PELO
TRIBUNAL DO JÚRI

Artigo científico apresentado ao curso de Direito


do Centro Universitário UniFG como requisito de
avaliação da disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II.

Orientador: Dr. André Luiz Nicolitt

Guanambi – BA
2021.2
SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................. 3
APLICABILIDADED DA ALÍNEA “E”, DO ARTIGO 492, I, DO CÓDIGO DO
PROCESSO PENAL: ANÁLISE CONSTITUICIONAL DA ALTERAÇÃO FEITA PELA
LEI ANTICRIMES ACERCA DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PELO
TRIBUNAL DO JÚRI .................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
1.1 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 6
2 CONCEITOS PRELIMINARES ............................................................................... 6
2.1 TRIBUNAL DO JÚRI ......................................................................................... 6
2.2 LEI ANTICRIME ............................................................................................... 7
2.3 PRINCÍPIO DE PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA COMO DIREITO
FUNDAMENTAL..................................................................................................... 8
3 ANÁLISE DESCRITIVA DA LEI N. 13.964/2019 NO AMBITO REFLEXIVO DAS
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PARA O CPP E OS IMPACTOS DO
INSTITUTO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA NO ÂMBITO DA DECISÃO
CONDENATÓRIA DE PRIMEIRO GRAU NO TRIBUNAL DO JÚRI ........................... 9
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 13
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 14
3

APLICABILIDADED DA ALÍNEA “E”, DO ARTIGO 492, I, DO CÓDIGO DO


PROCESSO PENAL: ANÁLISE CONSTITUICIONAL DA ALTERAÇÃO FEITA PELA
LEI ANTICRIMES ACERCA DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA PELO
TRIBUNAL DO JÚRI

Yure de Oliveira Silva1, Dr. André Luiz Nicolitt 2

1Graduando em Direito pelo Centro Universitário UniFG.


2 Doutor em Direito pela Universidade Católica Portuguesa-Lisboa, Mestre em Direito pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ; graduado em Direito pela Universidade Federal
Fluminense – UFF; Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – TJRJ; Professor
Permanente do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Direito da UniFG

RESUMO: Trata, o presente trabalho de revisão bibliográfica, de promover uma


análise descritiva acerca da aplicabilidade da alínea “e”, do artigo 492, I, do CPP, ante
a nova redação proferida pela Lei Anticrime e que, em breve destaque, prevê, dentre
as inúmeras alterações promovidas, a condenação do réu a pena igual ou superior a
15 anos. Partindo dessa questão, qual é vista no cenário jurídico-penal, como uma
das maiores polêmicas trazidas pela Lei Anticrime, foi que o estudo se debruçou,
objetivando discutir sobre a validade jurídica da norma em destaque em confronto com
a Constituição Federal face ao ferimento ao Princípio da Presunção de Inocência.
Inferiu-se de todo exposto que o dispositivo legal, muito embora esteja em vigência,
acaba por ferir o princípio da presunção de inocência, vez que não é incompatível com
o mesmo.

Palavras-chave: Lei Anticrimes; Presunção de inocência; Tribunal do Júri

ABSTRACT: The present work of bibliographic review is intended to promote a


descriptive analysis about the applicability of item "e", of article 492, I, of the CPP, in
view of the new wording issued by the Anti-Crime Law and which, in brief, provides,
among the numerous changes promoted, the conviction of the defendant to a sentence
equal to or greater than 15 years. Based on this issue, which is seen in the legal-
criminal scenario, as one of the greatest controversies brought about by the Anti-Crime
Law, the study was focused on, aiming to discuss the legal validity of the rule
highlighted in comparison with the Federal Constitution in the face of injury to Principle

1Endereço para correspondência: Rua Castro Alves, nº 761, Moto II, Palmas de Monte Alto- Bahia, Cep. 46.460-
000. E-mail: Yurepma@outlook.com
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of the Presumption of Innocence. It was inferred from all the above that the legal
provision, even though it is in force, ends up violating the principle of presumption of
innocence, since it is not incompatible with it.

Keywords: Anti-Crime Law; Presumption of innocence; Jury court

1 INTRODUÇÃO

Com a efetivação da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime) o Código de


Processo Penal passou por várias alterações em muitos dos seus dispositivos. No
tangente à condenação promovida pelo Tribunal do Júri, trouxe nova redação para o
artigo 492, especificamente À alínea “e”, do inciso I, qual prevê que, nos casos de
condenação proferida por este Tribunal e, no âmbito da aplicabilidade de pena igual
ou superior a quinze anos de reclusão, a regra a ser adotada, consistirá na execução
provisória das penas e consequente designação do mandado de prisão, desde que
não haja detrimento acerca do conhecimento de recursos que que venham a ser
interpolados (BRASIL, 2019).
Nesse linear, concernente à menção do termo “execução provisória das penas”
a de se atentar que esta é descrita no plural devido a possibilidade de existência do
concurso de crimes dolosos contrários à vida e aos delitos conexos, também de
responsabilidade de julgamento do Tribunal do Júri. Desse modo, havendo somatória
das penas de crime comum com aquele tido como de competência do Tribunal do Júri
ou, a pena aplicada ao crime doloso contra a vida iguale ou ultrapasse o período de
15 anos de reclusão, a regra deverá atender a execução provisória, conforme caput
do artigo 283, CPP, dispositivo também alterado pela Lei Anticrime (BRASIL, 2019).
Diante dessa questão, o presente trabalho tem o intuito de apresentar estrutura
sistemática que possibilite a realização de estudo posterior acerca da alteração trazida
pela Lei anticrime a alínea “e” do artigo 492, I, do CPP, a partir de análise quanto a
ação do Tribunal do Júri em condenações igual ou superior a quinze anos, enfatizando
o possível ferimento ao Princípio de Presunção de Inocência.
Dentro desse contexto, o estudo proposto visa responder à seguinte
inquietação: Quais os principais pontos que revelam ferir o Princípio Constitucional de
Presunção de Inocência quando da execução provisória da pena nos casos de
condenações iguais ou superiores a 15 anos proferida pelo Tribunal do Júri?
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De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), O Brasil tem


mais de 773 mil presos em unidades prisionais e nas carceragens das delegacias
estaduais e regionais onde o maior percentual revela que cerca de 45,92% destes
cumprem pena em regime fechado. Já o segundo maior contingente, totalizando
33,47% são de presos que ainda não foram condenados e se encontram em regime
provisório. Os demais se dividem em regime semiaberto, aberto e aqueles que se
encontram em regime de segurança ou tratamento ambulatorial, os dados são do ano
de 2019, mas foram divulgados no ano seguinte. Ressalta-se ainda que, no período
entre julho a dezembro de 2019, o país tinha 171.715 pessoas respondendo perante
o Tribunal do Júri por crimes contra a pessoa, sendo a maioria desse total, composta
por homens (DEPEN, 2020).
Pelos dados, tem- se o reconhecimento de que a lei anticrime será capaz de
atingir todo sistema penitenciário pátrio, vez que o magistrado tem abertura para
assentar a execução provisória da pena, apartado de recursos que casualmente
estejam irresolutos e que, circunstancialmente, venha o indivíduo a sofrer condenação
igual ou superior a 15 anos.
Por esse viés, a interpretação preambular que se tem e que oferece relevo ao
temário em evidência parte do reconhecimento de que a nova redação dada à alínea
“e”, do artigo 492,1, do CPP por ocasião da lei anticrime instaurou um abrupto
desconjuntamento na legislação almejando diametralmente o princípio da presunção
da inocência, que se destaca como um dos principais fundamentos do direito,
sobretudo ante a notoriedade de que a população carcerária do país, por não ser
multicultural e ter seus direitos na maioria das vezes infringidos, deveriam vivenciar
na prisão, um espaço destinado a correção. E não o inverso.
Deste modo e, frente as questões elencadas, é que o presente trabalho
encontra responso, ao considerar a importância de discutir sobre a genuína intenção
da lei anticrime para que se tenha claro a quem a mesma visa atingir, vez que o
princípio constitucional de presunção de inocência deve prevalecer até o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória.
Diante do exposto, o objetivo principal do estudo busca discutir sobre a validade
jurídica da norma em destaque em confronto com a Constituição Federal face ao
ferimento ao Princípio da Presunção de Inocência. Já em relação aos objetivos gerais,
estes visam: apresentar aspectos relevantes sobre o Tribunal do Júri; abordar a Lei
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nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime) e as principais alterações trazidas para o CPP e,


consequentemente, a seara penal e, analisar, pelo âmbito da doutrina e
jurisprudência, o instituto da execução provisória da pena no âmbito da decisão
condenatória de primeiro grau no Tribunal do Júri em decorrência de pena igual ou
superior a 15 anos de reclusão, considerando as alterações na alínea “e”, do artigo
492, I, do CPP.

1.1 MATERIAL E MÉTODOS

Pesquisa pautada pelo método dedutivo através de uma revisão literária, visto
que se trata de tema com grande repercussão no cenário jurídico penal e que, no
contexto desse estudo, busca contribuir para obtenção de informações sobre a
situação atual de um tema ou problema pesquisado através de publicações existentes
e aspectos que já foram abordados, contribuindo inclusive para o reconhecimento de
posições similares e divergentes.
Nesse sentido, o procedimento metodológico contou com aporte da doutrina,
com base em artigos/periódicos publicados a partir de 2010 nas plataformas Google
acadêmico e Scielo e que tratem do tema; contou-se ainda com suporte de legislações
pertinentes.

2 CONCEITOS PRELIMINARES

2.1 TRIBUNAL DO JÚRI

Embora existam divergências na doutrina quanto ao surgimento do Tribunal


do Júri, a grande maioria reputa essa ocorrência à Palestina antiga, formada por
população comunitária e unidas pelos laços da efetividade, conforme salienta Nucci
(2008) que ainda ressalta a existência de um Tribunal dos Vinte e Três em localidades
onde a população era superior a 120 famílias; estes eram responsáveis por julgar
processos criminais como crimes puníveis com pena de morte.
No Brasil, esse instituto nasceu por iniciativas do Senado da Câmara do Rio de
Janeiro a partir do encaminhamento de proposta para criação de um juízo de jurados
ao então Príncipe D. Pedro I que, em 1822, disciplinou pela primeira vez no
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ordenamento jurídico pátrio, o instituto do Júri, denominado Juízes de Fato, formado


por um total de 24 juízes, cuja competência consistia em julgar crimes de imprensa
(SILVA, 2010).
Durante o período de sua instituição no país, o Tribunal do Júri veio passando
por ajustes e alterações nas Constituições chegando a sua última alteração na
Constituição vigente que, em seu artigo 5º, XXXVIII, estabelece: “É reconhecida a
instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) A plenitude de
defesa; b) O sigilo das votações; c) A soberania dos veredictos; d) A competência para
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida” (BRASIL, 1988, n. p.). Por esse prisma,
compreende-se que a Carta Magna Constitucional se preocupou em garantir a
integralidade desse instituto visto o legislador tê-lo instituído como conteúdo imutável.
Em alinhamento ao que estabelece a Constituição Federal, o Código de
Processo Penal em seu artigo 74 assim estabelece:
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts.
121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código
Penal, consumados ou tentados.
§ 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para
infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se
mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua
competência prorrogada.
§ 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à
competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a
desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente
caberá proferir a sentença (art. 492, § 2º) (BRASIL, 2017, p. 25).

Percebe-se que o CPP se encontra em consonância com ao Constituição ao


fazer referência ao artigo 5º, XXXVIII e destacar que a competência para julgamento
de crimes em suas diferentes tipicidades, ocorre por disposição legal, sendo o Tribunal
do Júri, instituto de competência privativa.

2.2 LEI ANTICRIME

Com o advento do Pacote Anticrime, instituído pela Lei n. 13.964/2019,


mudanças significativas passaram a compor o sistema jurídico penal no que tange ao
enfrentamento da criminalidade visando oferecer maior celeridade em processos
dessa natureza e, assim, promover a celeridade em processos, ante a alterações,
revogações e alterações em dispositivos do Código Penal; Código do Processo Penal
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e legislações dessa natureza. Nessa vertente, muito se tem discutido sobre tais
alterações, no sentido de ser efetivamente positivas quanto à aplicabilidade de sua
aplicação. Assim, destaca-se:
Uma reforma tão importante e complexa – como feita pela Lei n° 13.964/2019,
que altera diversos dispositivos de direito material, de direito processual e da
lei de execução penal –, exigiria um tratamento cuidadoso e detalhado
relativamente à vigência da lei no tempo. Mas não foi o que aconteceu, pois
absolutamente nada se disse a respeito (QUEIROZ, 2020, p. 14).

O Pacote de Lei anticrime foi proposto por Sérgio Moro, então Ministro na
época, tendo como foco principal cumprir com proposta do Presidente da República
no tangente a alterar as quatorze legislações, incluindo nesse rol o Código de
Processo Penal, Lei de Execução Penal e o Código Penal. Trata-se de um Pacote
composto por um grupo de dezenove blocos de propostas, ou, melhor, de medidas
destinadas a combater a criminalidade em seus mais diversificados níveis. De acordo
com Netto; Fogaça; Garcel (2020, p.
A Lei Anticrime (Lei nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019), de maneira
inédita, estrutura o processo penal brasileiro a partir de uma base acusatória.
Isso significa que, para ser legitimamente condenado, ao réu deverá ser
garantido um devido processo legal que seja adequado ao sistema
acusatório, vale dizer, uma apuração de responsabilidade na qual seu direito
ao contraditório substancial e à ampla defesa estejam garantidos, na qual
seja acusado e julgado por órgãos totalmente distintos e a partir de um juiz
verdadeiramente imparcial.

Por esse prisma, tem-se o entendimento de que o foco da lei anticrime está
centrado no processo acusatório onde a legitimidade deste deve seguir a parâmetros
adequados e em consonância com a lei principalmente no tangente à
responsabilidade em agir o juiz de forma imparcial. Por ser uma lei extensa, muito se
tem discutido no cenário jurídico sobre as suas propostas, alterações promovidas e a
efetividade das novas medidas para o cenário jurídico penal tanto para o cumprimento
das penas quanto para o aprimoramento das investigações e redução da impunidade.

2.3 PRINCÍPIO DE PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA COMO DIREITO


FUNDAMENTAL

Numa sociedade onde cada dia a busca por garantias reais de no tangente às
penas destinadas a privação da liberdade, os legisladores brasileiros, ao entender a
importância da garantia legal de liberdade pessoal. Desse modo, salienta: “nos dias
atuais essa solução possui como alvo principal a prática da equidade, ou seja, a
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liberdade pessoal deve estar sempre baseada nos princípios da igualdade e não
somente na justiça. Para isso, é importante pensar na sociedade como um todo e não
apenas no individual” (SOARES; RORATO, 2018, p. 368).
No âmbito dos Direitos e Garantias Fundamentais expressos pela Constituição
Federal vigente, é possível encontrar em seu artigo 5º, inciso LVII, o princípio de
presunção da inocência que estabelece a igualdade de todos diante da lei e ainda
destacando como principal elemento complementar, a garantia de que uma pessoa
jamais poderá ser considerada culpada até que o trânsito em julgado em sentença
penal de caráter condenatório (BRASIL, 1988, n. p).
No contexto prático, a presunção da inocência vem sendo cada vez mais
interpretada como uma garantia individual. Esse reconhecimento parte não somente
do amparo dado pela Constituição Federal, mas também de dispositivos
infraconstitucionais como o Código de Processo Penal que em seu artigo 386
estabelece: o juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde
que reconheça [...] VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o
réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência” (BRASIL, 2017, p. 95).
Nesse linear, compreende-se que a presunção de inocência se destaca como
objeto central para decisões judiciais na seara penal por claramente intervir nos
problemas que envolvem a liberdade provisória.

3 ANÁLISE DESCRITIVA DA LEI N. 13.964/2019 NO AMBITO REFLEXIVO DAS


PRINCIPAIS ALTERAÇÕES TRAZIDAS PARA O CPP E OS IMPACTOS DO
INSTITUTO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA NO ÂMBITO DA DECISÃO
CONDENATÓRIA DE PRIMEIRO GRAU NO TRIBUNAL DO JÚRI

Com a publicação da Lei anticrime, muito se tem especulado sobre as


divergências sua aplicabilidade no país, principalmente referente ao juiz das garantias.
Em que pese as considerações acerca de particularidades do seu texto, cabe enfatizar
que este é bem longo e abarca uma variedade de normas que, em tese, representa
inovação, já que as principais mudanças ocorreram na Codificação Penal e de
Processo Penal.
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Nesse linear, torna-se elementar que se descreva sobre as propostas trazidas


pelo PLA, dando margem aos blocos de alteração propostos. Assim, tem-se:
 Medidas para assegurar a execução provisória da condenação criminal após
julgamento em segunda instância;
 Medidas para aumentar a efetividade do Tribunal do Júri;
 Medidas relacionadas à legítima defesa;
 Medidas para alterar conceito de organização criminosa;
 Medidas para introduzir soluções negociadas no código do processo penal
(FABRETTI; VELLOZO, 2019).

A Lei n. 13.964/2019, apresenta requisitos específicos e gerais que, dentro do


contexto referente ao apenado, este não pode cometer faltas graves no período
de 12 meses. Acerca dessa questão, destaca-se:
É provável que o entendimento do STJ seja modificado, porque o “não
cometimento de falta grave” agora se tornou um requisito para a concessão
de livramento. Entretanto, o artigo ora em comento não prevê expressamente
quais são os casos de interrupção. Mesmo que o condenado não possa obter
o livramento se houver cometido falta grave nos doze meses anteriores, o
prazo do benefício não se inicia novamente caso haja prática da infração.
Ocorrendo a falta grave, nos doze meses subsequentes, o preso não pode
ser beneficiado com a liberdade antecipada, mesmo que cumpra seu requisito
temporal (RIBEIRO, 2021, p. 376).

Dentro dos aspectos discursivos acerca desse temário, aqueles que dizem
respeito à constitucionalidade do artigo 492, I, “e”, parágrafos 4º, 5º e 6º, que foram
inseridos pela Lei Anticrime, ganhou repercussão no cenário jurídico principalmente
por ocasião do julgamento procedente emitido pelo STJ das ADCS 43, 44 e 54, onde
foi declarada constitucional o artigo 283, do CPP, e assim, afastada a possibilidade
de execução provisória da pena no âmbito da ordem jurídico penal brasileira.
Ao promover breve análise acerca do dispositivo em comento, Carmo; Barbosa
(2020, p.450), descrevem:
A primeira parte do dispositivo não tem utilidade, uma vez que o decreto de
prisão preventiva já encontra previsão legal no artigo 312, do Código de
Processo Penal. Como espécie de medida cautelar, a prisão preventiva pode
ser decretada em qualquer momento do processo, conforme prevê o artigo
282, §5º, do Código de Processo Penal. Sujeita-se ao binômio adequação e
necessidade (art. 282, I e II, CPP), bem como à absoluta excepcionalidade,
conforme art. 282, §4º, do Código de Processo Penal.

Nesse linear, o que se infere da primeira parte do dispositivo é que há uma


possibilidade de decretação da prisão preventiva já na sentença que se fazia presente
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no Processo Penal, tornando-se sua menção desnecessária, portanto. Contudo, a


segunda parte do artigo 492, I, “e”, de fato altera substancialmente o rito processual,
chegando a direitos materiais de assento constitucional, como bem esclarece os
autores acima destacados.
De acordo com Lopes Júnior (2019), a segunda parte do texto previsto no artigo
392, I, “e”, do CPP, promove a violação da presunção de inocência em âmbito
constitucional; isso. À medida em que trata efetivamente o réu como culpado ao
executar de maneira antecipada a sua pena. Na concepção do doutrinador supra, esta
ocorrência tende a desrespeitar o marco constitucional do trânsito em julgado, de
modo que, ao antecipar os efeitos materiais da pena depois de prolatada sentença
condenatória no contexto do primeiro grau de jurisdição e, anterior ao trânsito em
julgado, acaba por violar o estado de inocência, artigo 60, §4º, IV, da Carta Magna,
qual é tida como causa pétrea; mesmo se for uma sentença proferida pelo Tribunal do
Júri (LOPES JUNIOR, 2019).
Ainda no âmbito interpretativo, é importante enfatizar a instituição do Júri, qual
encontra-se previsto no inciso XXXVIII do artigo 5º, da CF, e que, por interpretação
sistêmica, leva ao reconhecimento de que, por ser uma garantia de caráter
fundamental de direito tanto individual quanto coletivo, não possui abertura para ser
dissociado do seu real sentido material qual seja o de garantia constitucional
diretamente ligado à garantir a proteção de todo e qualquer indivíduo face à
arbitrariedade do poder estatal (BRASIL, 1998; RIBEIRO, 2021).
Diante de uma análise isolada acerca da soberania dos veredictos, vê-se que
esta confronta amplamente com a visão sistêmica do direito e garantia fundamental a
qual o júri está inserido, que, conforme salienta Carmo; Barbosa (2020), possui
assegurado, para além da soberania, o direito ao sigilo das votações e a competência
para julgar crimes dolosos contra a vida e a plena defesa. Assim sendo, “[...] o princípio
da unidade da Constituição impõe uma necessária interpretação harmônica dos seus
dispositivos, de modo a lhes garantir a máxima eficácia, preservando o valor das
normas constituintes” (CARMO; BARBOSA, 2020, p. 454).
A nova modalidade de execução provisória da pena, prevista pelo Pacote
Anticrime, não coaduna com a plena defesa que é de importância sumária quanto à
sua efetividade no Plenário do Júri (art. 5º, LV, CF), e, também no Tribunal do Júri (art.
5º, XXXVIII, ‘a’, CF) (BRASIL, 1998).
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No âmbito do Tribunal do Júri, importa destacar que o interrogatório é uma


etapa de caráter relevante, posto que os jurados tomam suas decisões com base na
íntima convicção interpretativa de cada caso, sem a necessidade de fundamentá-las.
Deste modo, a efetiva presença do acusado, bem como a realização do interrogatório
no contexto do julgamento, onde, importa saber, não se restringe somente às provas
dos autos, mais do que um direito, é essencial para o Tribunal popular (SANTOS;
CAMPOS, 2021). Acerca da questão, relente destacar que:
A simples ameaça de uma prisão sumária, mediante a expedição de ordem
de prisão no Plenário e encaminhamento ao estabelecimento prisional, não
raras vezes algemado – e o vexame e humilhação que daí decorrem –
evidentemente desestimulam a sua participação na sessão de julgamento.
Restringe-se, pois, o direito de presença do réu em Plenário, intimidando a
sua participação na sessão de julgamento, já que, mesmo na ausência dos
requisitos autorizadores da prisão preventiva, poderá sair do Plenário preso,
caso receba uma condenação superior a 15 (quinze) anos de prisão
(CARMO; BARBOSA, 2020, p. 456).

Entende-se, por esse prisma, que o acusado, ao não participar do próprio


julgamento, acaba por ter seu direito à plena defesa, violado, vez que é compelido a
renunciar sua participação nos atos processuais ocorridos em Plenário, limitando sua
defesa à um procedimento técnico que, em tese, afetaria diretamente a decisão dos
jurados, vez que estes são movidos pelas suas convicções, como bem salientado
acima.
Com a nova redação dada à segunda parte do artigo 492, inciso I, alínea e, do
CPP, há previsão de hipótese de prisão automática, que decorre do quantitativo de
pena que é aplicada em sentença. Assim sendo, quando decretada, essa prisão tende
a violar o juízo de primeiro grau, pois, não há exposição dos motivos para decisão,
ocorrência que restringe diretamente a previsão normativa (VASCONCELOS, 2019).
Em consonância com tal questão, Santos; Campos (2021), enfatizam que os
critérios estabelecidos pela nova norma acabam se tornando incompatíveis e
dissociados com o princípio da legalidade penal, posto que, a pena aplicada pelo juiz,
poderá ser aumentada sem maiores dificuldades no afã de decretar a prisão imediata
do acusado. Ademais, ao versar sobre o status libertatis, a alínea ‘e’, inciso I do artigo
492, CPP, por possuir conteúdo material de caráter indiscutível, não deve e não pode
retroagir a fatos perpetrados (CARMO; BARBOSA, 2020).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando as premissas traçadas para realização do presente estudo, qual


propôs discutir sobre a validade jurídica da norma em destaque em confronto com a
Constituição Federal face ao ferimento ao Princípio da Presunção de Inocência, pode-
se inferir que, das diversas alterações inseridas pela nº 13.964/2019 ao Código de
Processo Penal, a nova redação ao artigo492, inciso I, alínea “e”, que prevê a
possibilidade de execução provisória da sentença condenatória caso a pena imposta
seja igual ou superior a 15 anos de reclusão; foi uma das mais significativas, se
destacando como uma polêmica trazida pela Lei Anticrime. Diante de todo exposto,
foi possível inferir que o dispositivo legal, muito embora esteja em vigência, acaba por
ferir o princípio da presunção de inocência, vez que não é incompatível com o mesmo.
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REFERÊNCIAS

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