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VISÃO HISTÓRICA E EVOLUTIVA DOS TRIBUNAIS

A   Igreja,   como   toda   sociedade   de   pessoas   que   se   relacionam,   tem   de   observar   as  


obrigações,   direitos/deveres   entre   seus   filhos,   portanto:   do ponto   de   vista   histórico,   o   termo  
tribunal  indicava,  para  os  romanos  o  lugar  da  administração  da  justiça.  Os  textos  falam  de  um  
lugar   alto   encimado   por   uma   ‘cadeira   curul’   onde   se   sentava   o   magistrado1.   Esta   origem  
histórica   deu   lugar   a   uma   pluralidade   de   significados   da   palavra   tribunal,   do   ponto   de   vista  
processual.  Convém  indicar  ao  menos  quatro  significados  que  são  usados  indistintamente  pelo  
código   canônico.   Antes   de   tudo,   tribunal   significa   o   lugar   material   em   que   se   fazem   os  
processos   (a   sede   do   tribunal2 ).   Pode   também   significar   o   conjunto   do   poder   de   jurisdição  
(tribunal   da   Igreja   contraposto   ao   do   Estado)   ou   judicial   (os   tribunais   como   organismos  
diocesanos   ou   pontifícios   diferentes   dos   outros   dicastérios   ou   ofícios   pastorais 3).   Não   faltam  
ocasiões   em   que   se   utiliza   o   termo   tribunal   para   indicar   a   pessoa   do   juiz   e   dos   seus  
colaboradores4.   O   significado   mais   interessante   e   importante,   em   quanto   comporta   uma  
distorção   relevante   em   certos   cânones,   é   o   segundo   que   o   termo   tribunal   é   sinônimo   de   juiz  
colegial,  contraposto  ao  juiz  único5  ou  monocrático.» 6  

Esclarecer a função e a terminologia obscura dos Tribunais e processos

  Influenciados   pela   mentalidade   civilista,   não   é   raro   que   muitos   fiéis,   inclusive  
agentes   de   pastoral,   entendam   o   processo   de   declaração   de   nulidade   matrimonial   aos  
moldes  de  um  pedido  de  divórcio,  ou  da  anulação  de  um  matrimônio  válido.  É  preciso,  
pois,   esclarecer   que   se   tratam   de   coisas   diferentes   e   reafirmar   a   fé   católica   na  

1  M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito


Processual Canônico,  in  J.  Ochoa,  Tribunal  in  P.  Palazzini,  Dictionarium
canonicum et moralem IV,  pp.  556-­557.
2    Cfr.  c.  1609  do  CIC:  §
1. In tribunali collegiali, qua die et hora iudices ad deliberandum conveniant,
collegii praeses statua, et nisi peculiaris causa aliud suadeat, in ippsa tribunalis sede conventus
habeatur.
3  Cfr.  c.  360  do  CIC:  Curia
Romana, qua negotia Ecclesiae universae Summus Pontifex expedire solet et
quae nomine et auctoritate ipsius munus explet in bonum et in servitium Ecclesiarum, constat Secretaria
Status seu Papali, Consilio pro publicis Ecclesiae negotiis, Congregationibus, Tribunalibus aliisque
Institutis, quorum omnium constitutio et competentia lege peculiari definiuntur.
4
    Cfr.   c.   1474   do   CIC:   § 1. In casu appellationis, actorum exemplar, fide facta a notario de eius
authenticitate, ad tribunal superius mittatur.
§ 2. Si acta exarata fuerint lingua tribunali superiori ignota, transferantur in aliam eidem
tribunali cognitam, cautelis adhibitis, ut de fideli translatione constet.
5  Cfr.  c.  1505  do  CIC:  §
1. Iudex unicus vel tribunalis collegialis praeses, postquam viderint et rem esse
suae competentiae et actori legitimam personam standi in iudicio non deesse, debent suo decreto quam
primum libellum aut admittere aut reicere.
6M.  J.  ARROBA  CONDE,  Direito Processual Canônico,  pp.  169-­170.
indissolubilidade   do   matrimônio.   Deve-­se   esclarecer   que   uma   coisa   é   “declarar   a  
nulidade   de   um   matrimônio   inválido”,   outra   é   “anular   um   casamento   que   foi  
validamente   celebrado”.   A   própria   natureza   “declaratória”   da   sentença   deve   ser  
esclarecida,  mostrando  que  o  processo  não  produz,  propriamente  falando,  uma  realidade  
nova   no   que   se   refere   ao   matrimônio   fracassado,   mas   declara   aquilo   que   poderia   não  
estar   claro,   ou   legitimamente   manifestado   (a   nulidade   do   matrimônio,   se   for   esse   o  
caso).  
  Acontece   também   que,   muitas   vezes,   inclusive   para   os   sacerdotes   e   agentes   de  
pastoral  familiar,  os  termos  empregados  pelos  Tribunais  eclesiásticos  sejam  obscuros  e  
susceptíveis  de  mal  entendimento.  É  necessário,  assim,  esclarecer  que  demandante  (e  
não   acusador!)   é   quem   introduz   a   demanda   (=   o   pedido   de   declaração   de   nulidade);;  
demandado/a   (e   não   acusado/a)   é   quem   a   recebe.   É   necessário   também   explicar   o  
sentido  de  termos  que  se  usam  comumente  nos  Tribunais,  mas  que  são  desconhecidos  
do  público  em  geral,  ou  que  tem  outro  significado  no  linguajar  comum.  Assim  são,  por  
ex.  os  termos  defensor  do  vínculo,  libelo,  falta  de  discrição  de  juízo,  etc.  

Os  Tribunais Eclesiásticos  apuram  os  dados  que  convirjam  para  a  certeza  moral  
sobre  a  nulidade  de  um  matrimônio,  caso  tenha  sido  viciado  em  sua  origem.  Entanto,  a  
apuração   de   dados   e   fatos   comprobatórios   demanda   tempo.   Há   inúmeros   processos  
acumulados,   aguardando   sentença   sensata.   O   Papa   Francisco   sensibilizado   diante   do  
sofrimento   de   tantas   pessoas   separadas   que,   entanto   refazem   suas   vidas,   determina  
celeridade  entre  a  entrada  e  a  sentença  final  do  processo.    

O   mais   urgente   é   que   os   bispos   providenciem   a   capacitação   da   corporação   do  


seu   Tribunal   Eclesiástico   Diocesano.   É   oportuno   repetir   que   a   análise   acurada   dos  
processos  de  nulidade  matrimonial  há  razões  complexas  e  diferentes  que  não  permitem  
confusão  entre  matrimônio  nulo  com  matrimônio  fracassado.  

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