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PRONÚNCIA
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Aluno do 9º período de Direito da faculdade FAMIG.
2
Especialista em Direito pelo Centro Universitário Newton Paiva, área de concentração em Direito
Público e pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá, área de concentração Ciências Sociais
aplicadas. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. É professora do curso de
Direito da Famig (Faculdade Minas Gerais). Ex Servidora Pública do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais e atual servidora do Ministério Público de Minas Gerais. Tem experiência na área de Direito, com
ênfase em Direito Penal e Processual penal.
Tribunal do Júri. Esse estudo tem o condão de expor acerca do cenário de dúvida do
magistrado na decisão de pronúncia, a qual acontece quando o juiz convencido dos
indícios de autoria e materialidade pronuncia o réu ao julgamento pelo júri, nos
termos do artigo 413 do CPP. À vista disso, questiona-se o magistrado, diante da
dúvida, deverá decidir em favor da sociedade, pronunciando o réu e enviando a
julgamento pelo júri, ou decidir em favor do réu e, nesse caso, proceder a uma
decisão de impronúncia em que consiste em obstar o seguimento da ação penal,
devido ausência dos elementos mínimos de autoria e materialidade, encerrando o
juízo de formação de culpa, com fulcro no artigo 414 do CPP. Por fim, pode-se
concluir que o in dúbio pro societate vigora nos procedimentos do júri, sem, contudo
possuir embasamento constitucional para tanto.
Abstract: The research problem of this article goes through the analysis of the (in)
constitutionality of the application of the institute of the dubious pro societate in the
decision of pronunciation in the face of the Brazilian legal system. To this end, the
bibliographic research was used as a research method, which aims to analyze and
elaborate the article with materials already published on the theme, such as books,
articles and journals. In this tuning fork, the objective of this research is to study
about the (in) applicability of the institute of the dubious pro societate in the
pronouncement phase of the Jury Court. This study has the ability to expose the
scenario of doubt of the magistrate in the decision of pronunciation, which happens
when the judge convinced of the evidence of authorship and materiality pronounces
the defendant to trial by the jury, pursuant to article 413 of the CPP. In view of this,
the magistrate is questioned, in the face of doubt, should decide in favor of the
company, pronouncing the defendant and sending to the jury for judgment, or decide
in favor of the defendant and, in this case, make a decision of dismissal in which
consists in preventing the follow-up of the criminal action, due to the absence of the
minimum elements of authorship and materiality, ending the judgment of formation of
guilt, based on article 414 of the CPP. Finally, it can be concluded that the in dubious
pro societate is effective in the proceedings of the jury, without, however, having a
constitutional basis for it.
Keywords: (In)constitutionality. In dubious to Societate. Doubt. Pronunciation.
Disclaimer
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem como tema a (In)aplicabilidade do in dúbio pro societate na decisão
de pronúncia, sendo o objetivo geral analisar se o in dúbio pro societate é
constitucional ou inconstitucional, nos termos da CRFB/1988.
Ademais, este instituto, serve como base de sustentação ao devido processo legal
no julgamento de crimes dolosos contra a vida, haja vista que a própria Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988, trouxe a competência do Tribunal do Júri
e, além disso, os princípios que norteiam seus ditames.
Criado como cláusula pétrea, visto que está dentre as garantias individuais, confere
ao cidadão comum um status de magistrado, cabendo a ele julgar, absolver ou
condenar seu semelhante. Ou seja, destaca-se que o Tribunal do Júri é uma
instituição democrática, a qual é capaz de dar ao cidadão participação direta em um
dos assuntos dos Poderes da República.
Após este período, diversos foram os modelos de tribunal do júri adotados pelo
ordenamento jurídico brasileiro de outrora. Contudo, vale ressaltar que a
Constituição de 10 de novembro de 1937, manifestamente totalitária, foi omissa a
respeito do Tribunal do Júri, chegando alguns juristas a afirmar que ele havia sido
extinto. Entretanto, o Decreto–Lei n.º 167, de 05 de janeiro de 1938, admitiu
implicitamente a sua existência na ordem jurídica ao regulamentá-lo, estabelecendo
sua competência para julgar os crimes de homicídio, infanticídio, induzimento ou
auxílio a suicídio, duelo com resultado de morte ou lesão seguida de morte, roubo
seguido de morte e sua forma tentada (BANDEIRA, 2010).
Portanto, à luz desse breve histórico supracitado, percebe-se que o tribunal do júri
no Brasil perpassa pelo período imperial e, posteriormente, na fase de república
federativa. Deste modo, é essencial entender as mudanças ocorridas no
ordenamento jurídico no que diz respeito ao instituto em análise.
Pode-se inferir sobre este princípio que é distinto da ampla defesa. A ampla defesa
equivale à defesa ampla, já a plenitude é a defesa perfeita.
O segundo principio é o sigilo das votações que garante que o voto de cada jurado
seja secreto. Nesse sentido, o código de processo penal, dispõe que ao final da
exposição dos quesitos em plenário, as partes (juiz presidente, jurados, MP,
assistente, querelante, defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça) serão
direcionadas para sala especial. Caso não haja esta sala, o juiz determinará que o
público se retire, para que seja feita a votação Portanto, o sigilo dos votos dos
jurados, tem o fim de garantir autonomia e resguardar a decisão dos mesmos contra
qualquer tipo de retaliação (DECRETO LEI 3689/41, CPP).
À vista desse dispositivo legal do CPP, o qual traz cautelas legais na votação dos
jurados, percebe-se que esses procedimentos aludidos visam assegurar aos jurados
a livre formação de suas convicções e conclusões. Dessa forma, busca-se afastar
quaisquer circunstâncias que possam acarretar alguma forma de constrangimento
aos julgadores leigos. Portanto, o sigilo dos votos dos jurados, tem o fim de garantir
autonomia e resguardar a decisão dos mesmos contra qualquer tipo de retaliação
(PORTO, 1993).
Finalmente, vale ressaltar o princípio da soberania dos veredictos que implica dizer
que os jurados possuem autonomia ao decidir pela condenação ou não do réu. Os
jurados, conforme artigo 472 do CPP, decidem de acordo sua consciência e justiça e
não com base no ordenamento jurídico. Portanto, o veredicto dos jurados será a
última palavra, não podendo ser impugnada em seu mérito pelo magistrado, em
consonância ao princípio constitucional da soberania dos veredictos.
A doutrina, como Nucci, defende que essa competência do Júri, prevista na CF/88, é
uma competência exclusiva ou mínima, o que significa dizer que considerando a
possibilidade de julgar os crimes conexos aos crimes dolosos contra a vida, é
possível dizer que o júri tem apenas a competência mínima para julgar os crimes
dolosos contra a vida, e não a competência única para julgá-los. Dessa forma, a
competência prevista na Constituição Federal é vista como uma competência
mínima.
Em relação essa súmula, percebe-se que fora criada para elucidar divergências no
que tange ao foro de prerrogativa de função em face da competência do júri. Nesse
sentido, pode-se citar a jurisprudência a seguir:
Acerca da fase de formação de culpa, à Luz do artigo 412 do CPP, contém um prazo
de 90 dias para seu encerramento (prazo impróprio). Essa fase perpassa pelo
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, o qual poderá arrolar até 8
testemunhas, nos termos de artigo 406 do CPP, conforme a seguir exposto:
Por fim, além das defesas outrora aludidas, o réu poderá alegar suspeição,
incompetência de juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada, nos
termos do artigo 95 do CPP (DECRETO LEI 3689/41, CPP).
Portanto, à luz das hipóteses trazidas por esse dispositivo legal, inferi-se que
ocorrerá a absolvição sumária quando houver um juízo de certeza por parte do
magistrado. Juízo o qual demonstra que o fato não existiu, não foi o réu
autor/partícipe do crime, o fato não constituir infração penal ou provada uma
excludente de ilicitude (exclusão do crime) ou de culpabilidade (isenção de pena).
Por fim, a pronúncia, a qual é uma “decisão interlocutória mista não terminativa, pois
o que se encerra não é o processo, mas sim uma fase do procedimento”. Portanto, a
pronúncia, constitui como única forma de seguir o processo para apreciação do
Tribunal do júri (RANGEL, 2015).
Para que o réu seja pronunciado, segundo o STF, basta um juízo de probabilidade,
conforme a seguir exposto:
Em outras palavras, não bastam meros indícios de autoria e materialidade para que
haja a pronúncia. Os indícios devem ser suficientes, uma vez que o juízo de
probabilidade deve ser alcançado. Dessa forma, o juízo de probabilidade é realizado
pelo magistrado e a competência para o julgamento dos crimes contra a vida é do
Tribunal do júri. Ou seja, o juiz não precisa obter um convencimento absoluto de
autoria para pronunciar o acusado.
4. DO IN DÚBIO PRO SOCIETATE NA DECISÃO DE PRONÚNCIA
O capítulo final deste artigo tem o escopo de analisar o princípio do in dúbio pro
societate na decisão de pronúncia, que é a decisão que encerra a primeira fase do
tribunal do júri, a denominada fase de formação de culpa.
Ademais, segundo Luiz Flávio Gomes “Isso porque a garantia da liberdade deve
prevalecer sobre a pretensão punitiva do Estado” (JusBrasil, Princípio in dúbio pro
reo). Ou seja, para haver o cerceamento de um direito essencial como a liberdade
do indivíduo, deve-se respeitar o devido processo legal e os direitos e garantias
fundamentais da pessoa.
Um caso relevante diz a dois réus denunciados por homicídio no Estado do Ceará.
O juízo monocrático entendeu que, quanto aos réus, não havia nos autos provas
substanciais de autoria do crime, pois as testemunhas presenciais não os viram
praticando atos contra a vítima de homicídio, de modo que o simples fato dos
denunciados terem corrido atrás da vítima não indica sua adesão à conduta
delituosa. Contudo, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, deu provimento ao
recurso do Ministério Público. Aplicando o princípio do in dúbio pro societate,
pronunciou os réus ao Tribunal de júri. Entretanto, a defesa recorreu através do
Recurso Extraordinário ARE 1067392 que, foi apreciado pelo STF, o qual decidiu da
seguinte forma:
Outro princípio relevante que colide com o in dúbio pro societate é princípio do in
dúbio pro reo, também denominado favor rei, que é decorrência do princípio da
presunção de inocência previsto na Constituição. Acerca deste princípio, Bedê
Júnior e Gustavo Senna aduzem que:
Ainda sobre o tema, Maria Thereza de Assis Moura, ministra do Superior Tribunal de
Justiça, dispõe que o Ministério Público, no seio do Estado Democrático de Direito,
deve acusar pautado em bases sólidas, corporificando a justa causa, sendo
inadmissível a concepção de um chamado princípio in dubio pro societate (STJ, HC
175.639). Conforme entendimento da ministra, o recebimento da denúncia e,
também, a pronúncia devem estar preenchidas pela justa causa e pela ausência de
inépcia. Caso contrário, a ação penal não deve prosperar, tendo em vista que lhe
falta requisito essencial. Ademais, utilizar o in dúbio pro societate para tentar suprir
esse requisito significa ferir as bases do Estado Democrático de Direito.
Por fim vale ressaltar o entendimento de Tourinho filho, o qual é totalmente contra a
aplicação do princípio do in dúbio pro societate no ordenamento jurídico brasileiro.
Ademais, ainda conforme o autor supracitado, confirmar que a pronúncia é mera
admissibilidade da acusação e que estando o magistrado em dúvida, deve-se aplicar
o princípio do in dubio pro societate é um atestado de desconhecimento da
Constituição do próprio país, a qual adota o princípio da presunção de inocência
(TOURINHO FILHO, 2010).
Neste contexto, Denilson Feitosa Pacheco aduz que na fase de formação de culpa,
eclode o princípio do in dúbio pro societate. Portanto na dúvida, o réu deverá ser
julgado pelo Tribunal do Júri, que é o juiz natural da causa. Isso ocorre, pois, a
pronúncia não condena nem absolve, mas somente admita que o réu seja julgado
pelo Tribunal de Júri (PACHECO, 2006, pg.429).
Ainda nesse diapasão, Fernando Capez (2009, p.587) preceitua que o in dúbio pro
societate tem vigência na pronúncia, tendo em vista que esta fase é meramente de
suspeita e não de certeza. À vista disso, o magistrado somente analisa se a
acusação é viável, ou seja, a análise mais aprofundada fica a cargo dos jurados.
Portanto, apenas acusações manifestamente infundadas, não serão admitidas
(CAPEZ, 2009, pg. 587).
5. CONCLUSÃO
Ante o exposto, conclui-se que o tema é complexo e que o artigo teve o escopo de
analisar esse tema divergente, sem, contudo, restringir outros posicionamentos.
O dilema jurídico ocorre quando o juiz sumariante tem dúvida se deve ou não
pronunciar o acusado. Nesse diapasão, eclode o princípio do in dúbio pro societate,
em que consiste em utilizar como pressuposto a dúvida a favor da sociedade.
Portanto, o magistrado utiliza-se desse princípio para pronunciar o réu ao Tribunal
popular, haja vista que é competência constitucional do júri os crimes dolosos contra
a vida.
Mediante isso, não há espaço para eclodir o in dúbio pro societate para ludibriar o
necessário enfrentamento dos elementos mínimos que ensejam a admissibilidade ou
inadmissibilidade da pronúncia. Mediante isso, não se está a exigir do magistrado
uma cognição exauriente ou juízo de certeza, mas, sim, que sua decisão seja
pautada em um juízo de verossimilhança, de probabilidade, o qual não o exime de
fundamentação e elementos probatórios mínimos. Manifesto os elementos
probatórios mínimos das condições de admissibilidade, que se fundamente
pronúncia do réu. Contudo, quando não houver os requisitos mínimos, deve-se
impronunciá-lo. Dessa forma, no ordenamento jurídico brasileiro, não existe espaço
para um pseudoprincípio, o qual tem como pressuposto ser imunizador retórico ao
dever de fundamentação e enfrentamento da justa causa e demais condições da
ação.
REFERÊNCIAS
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