Você está na página 1de 6

06/07/2022 16:18 Jurisprudência

Tipo

DECISAO MONOCRATICA
Número
0062008-08.2015.4.01.3400
00620080820154013400
Classe

APELAÇÃO CÍVEL (Ap)


Relator(a)
DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO
Origem

TRF - PRIMEIRA REGIÃO


Data
28/02/2020
Data da publicação

28/02/2020
Fonte da publicação
PJe 28/02/2020 PAG
PJe 28/02/2020 PAG
Decisão
Cuida-se de pedido incidental (fls. 1.004-1.011) de concessão de tutela provisória de urgência,
formulado por Termelétrica Pernambuco III S.A., com o fim de impedir o desligamento da usina,
bem como a aplicação de penalidades, pelo período em que
vigente o provimento liminar deferido
nestes autos, modulando-se os efeitos do que decidido na Suspensão de Liminar e de Sentença
(SLS) n. 2.572/STJ, conforme determinado naqueles autos.
A requerente informa que a Sexta
Turma deu parcial provimento ao recurso de apelação que interpôs, anulando a sentença e
determinando o retorno dos autos à origem para que fosse realizada a prova pericial sobre os
fatores determinantes do desequilíbrio
econômico-financeiro demonstrado na inicial. Na mesma
oportunidade, foi mantida a medida liminar deferida em pedido de tutela cautelar antecedente à
Apelação n. 1001336-27.2018.4.01.0000.
Afirma que essa medida "apenas restabeleceu a liminar
de primeira instância deferida três anos antes, a qual afastou a aplicação de penalidades
decorrentes da circunstância de a Apelante entregar energia somente até os limites que suportam
as
desgastadas máquinas de sua usina" (fl. 1.004).
Aduz que, somente em 2019, quando já
ocorrido o trânsito em julgado do acórdão que confirmou a medida liminar, foi que a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) formulou pedido de suspensão de medida liminar, perante o
STJ, que tomou o número SLS
n. 2.572/DF.
Assim, em 08.10.2019, o relator do expediente,
Ministro João Otávio de Noronha, Presidente do STJ, decidiu sustar os efeitos do acórdão da 6ª
Turma do TRF1 na Apelação n. 0062008-8.2015.4.01.3400, tão somente na parte em que
manteve a liminar concedida
nos autos da Tutela Cautelar Antecipada n. 1001336-
27.2018.4.01.0000 (fl. 1.005).
Argumenta que tal decisão deveria produzir somente efeitos
prospectivos. Não obstante, a Câmara Comercializadora de Energia Elétrica (CCEE), "a partir da
decisão, iniciou procedimento de glosa da receita fixa mensal da Apelante, sob o fundamento de
que
a geração a menor verificada no período de vigência da liminar imporia glosa no valor de R$
35 milhões" (fl. 1.005), razão pela qual estariam, também, sendo impostas penalidades, da ordem
de mais de duzentos milhões de reais.
Nesse contexto, informa que peticionou ao eminente
Ministro Presidente do STJ, a fim de que esclarecesse ou modulasse os efeitos da liminar,
explicitando quanto ao alcance da decisão suspensiva, para que fossem "expressamente
https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 1/6
06/07/2022 16:18 Jurisprudência

preservados os efeitos
produzidos durante a vigência da liminar suspensa, impedindo-se, assim,
que a CCEE cobrasse valores pretéritos" (fl. 1.005).
Acrescenta que o Ministro Presidente do
STJ, acolhendo parcialmente o pedido, suspendeu a glosa (R$ 35 milhões) feita pela CCEE,
ressalvando que a decisão se limitou a restabelecer o poder de polícia da Aneel, e que, apesar
de suspensa a glosa, "a CCEE
vem, agora, cobrar o expressivo valor de R$ 200.680.737,45
(duzentos milhões, seiscentos e oitenta mil, setecentos e trinta e sete reais e quarenta e cinco
centavos) e promover o desligamento da usina por conta de penalidades apuradas entre janeiro
de
2017 e setembro de 2019, meses nos quais a liminar suspensa estava vigente" (fl. 1.005).
Argumenta que o termo sustar, segundo o glossário jurídico do STJ, se refere a "obstar, impedir
os efeitos", não se confundindo com "cassar efeitos" ou "cancelar efeitos", situações, estas sim,
que teriam efeito ex tunc. Prossegue afirmando que o
fundamento utilizado pelo eminente
ministro está amparado na cláusula rebus sic stantibus, o que significa dizer que haveria
superveniente modificação no estado de fato ou de direito, daí porque "os efeitos já produzidos
pela decisão revista são
preservados, alterando-se a prestação jurisdicional somente para o
futuro" (fl. 1.006).
Por fim, argumenta que a decisão proferida na SLS n. 2.572 se limitou a
restabelecer o poder de polícia da Aneel, "em nada se relaciona com os valores cobrados pela
CCEE" (fl. 1.008), uma vez que "a questão relativa à cobrança pela CCEE de eventuais
débitos
oriundos do tempo em que vigorou a liminar impeditiva do referido poder de polícia refoge ao
objeto e às partes deste pleito suspensivo e deveria ter sido deduzida em ação própria".
Por isso,
"em respeito à orientação expressa do Exmo. Min. Presidente do E. STJ de que essa questão
seja solucionada nas instâncias processuais ordinárias, pede-se a este Juízo o afastamento das
cobranças feitas pela CCEE" (fl. 1.008).
No que concerne ao perigo da demora, afirma que já
recebeu a cobrança do pagamento de "R$ 200.680.737,45 (duzentos milhões, seiscentos e
oitenta mil, setecentos e trinta e sete reais e quarenta e cinco centavos), correspondentes a
penalidades por
insuficiência de lastro referentes ao período entre janeiro de 2017 e setembro de
2019, ou seja, durante a vigência da liminar suspensa" (fl 1.008), e, ainda, tendo em "vista a
decisão da CCEE de desligar a UTE Pernambuco III, a empresa, já a partir de
1º março (Anexo
9) ficará impossibilitada de vender energia e não receberá os valores de receita fixa que lhe são
devidos, o que zerará completamente seu caixa e, por conseguinte, inviabilizará suas atividades
na medida em que o desligamento provoca a
cassação da outorga e a rescisão de todos os
contratos da usina" (fl. 1.009).
Cita decisão proferida pelo juízo da 17ª Vara da Seção Judiciária
do Distrito Federal em situação análoga à dos autos, e afirma que a se confirmar o cenário de
desligamento da usina e seus consectários, a decisão da CCEE acabará por decretar o fim de
empreendimento de grande relevância para o Sistema Elétrico, uma vez que em 21.01.2020,
"apesar de não estar programado despacho de geração para a usina, restrição elétrica ocorrida
no Nordeste fez com que o ONS determinasse o seu acionamento para
evitar blecaute na região"
(fl. 1.010). Dessa forma, conforme dados do próprio Operador Nacional do Sistema, a usina gerou
energia, no patamar de 160MW, demonstrando estar com sua capacidade de geração
recuperada.
Pede, ao final, a concessão da tutela de urgência, para que "não seja chamada a
pagar débitos milionários decorrentes de período em que a liminar proferida em seu favor esteve
vigente, de maneira que sejam obedecidos os exatos contornos da decisão
suspensiva incidente
apenas para o futuro , bem como que se permita à empresa subsistir e restabelecer a
normalidade do seu funcionamento em prol da segurança do sistema e também da preservação
do resultado útil do presente processo".
Decido.
A peticionante pretende a concessão de tutela de
urgência para que seja obstada a cobrança de valores decorrentes de penalidades aplicadas
durante o período de vigência da medida liminar deferida nestes autos, assim como no pedido de
concessão de
tutela
cautelar antecedente n. 1001336-27.2018.4.01.0000.
Nos termos do art.
1.012, § 4º, do novo Código de Processo Civil, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo
relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo
relevante a fundamentação, houver risco de dano
grave ou de difícil reparação.
Na hipótese,
registre-se, de início, a particularidade dos autos, considerando o fato de que o recurso de
apelação já foi julgado. Na oportunidade, deu-se provimento ao apelo, para que os autos
retornem ao primeiro grau e seja produzida prova pericial
que ateste ou não, a ocorrência dos
vícios que a apelante aponta na execução de seu contrato de fornecimento de energia.
Quanto
aos fatos, é pertinente referir que o pedido de tutela de urgência, em primeiro grau, foi
inicialmente deferido, sendo, porém, revogado em momento posterior (fls. 569-572). Por força do
que decidi nos autos do Agravo de Instrumento n.
0007415-73.2017.4.01.0000/DF, em
22.02.2017, quando deferi o pedido de antecipação da tutela recursal, foram restabelecidos os
https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 2/6
06/07/2022 16:18 Jurisprudência

efeitos de medida liminar (fls. 803-805), para suspender "as penalidades decorrentes do fato de a
agravante entregar energia
somente até os limites que suportam as desgastadas máquinas de
sua usina". Posteriormente, em 19.12.2017, foi proferida sentença (fls. 862-868), rejeitando o
pedido.
Visando a manutenção do provimento liminar, a parte autora apresentou pedido incidental
de tutela cautelar antecedente (processo n. 1001336-27.2018.4.01.0000), oportunidade em que
novamente deferi o provimento liminar para "atribuir efeito suspensivo
ao
recurso de apelação,
impedindo a imposição de quaisquer penalidades à agravante, relacionadas aos fatos discutidos
nos presentes autos, até final julgamento do recurso de apelação" (fl. 878).
Quando do
julgamento (fls. 965-979) do recurso de apelação interposto nestes autos (0062008-
08.2015.4.01.3400/DF), o ilustre Juiz Federal convocado, Dr. Roberto Carlos de Oliveira, em
minha substituição, repita-se, deu provimento ao apelo para anular a
sentença e determinar o
retorno dos autos ao primeiro grau para a produção da prova pericial requerida. Na oportunidade,
determinou-se a manutenção da "medida liminar anteriormente deferida, para fins de impedir a
aplicação de sanções à parte autora,
conforme consta do processo n. 1001336-
27.2018.4.01.0000".
A requerente juntou aos autos a cópia do acórdão proferido na tutela cautelar
antecedente n. 1001336-27.2018.4.01.0000 (fls. 1.013-1.015), relatado pelo Juiz Federal
convocado, Dr. Roberto Carlos de Oliveira, em minha substituição, que negou provimento
ao
agravo interno interposto pela Aneel da decisão que deferiu o pedido de tutela de urgência, bem
como a certidão de que o mesmo transitou em julgado em 02.09.2019.
Logo após o referido
trânsito em julgado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apresentou, perante o
Superior Tribunal de Justiça, o pedido de Suspensão de Liminar e de Sentença, SLS n. 2.572/DF,
relatado pelo Presidente, eminente Ministro
João Otávio de Noronha, que na oportunidade, assim
fundamentou suas razões de decidir (fls. 1.018-1.021):
No caso, a grave lesão à ordem pública
administrativa está configurada na medida em que o acórdão impugnado, que manteve medida
liminar impeditiva de aplicação de sanções à ora interessada, impossibilita a ANEEL de exercer
suas funções fiscalizadora e
sancionadora, especificamente no tocante à averiguação do
cumprimento do contrato firmado com a Termelétrica Pernambuco III.
A decisão impede, de modo
oblíquo, o exercício do poder de polícia da agência, entre outras funções a ela inerentes, o que é
interferência em outro Poder. Trata-se de setor essencial, que exige segurança, previsibilidade e
estabilidade (SS n. 2.806/DF,
relator Ministro Francisco Falcão, DJe de 18/12/2015; SLS n.
2.377/DF, de minha relatoria, DJe de 24/10/2018).
(...)
A alegação da empresa de que o acórdão
"transitou em julgado" em relação à cautelar não é impeditiva de suspensão de seus efeitos,
diante da cláusula rebus sic stantibus, que permeia toda e qualquer decisão de natureza cautelar
(STJ, AgInt nos EDcl no
REsp n. 1.684.912/BA, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe de
17/5/2019). No caso, quanto mais se impede o exercício fiscalizador da ANEEL, mais se agrava a
lesão à ordem administrativa pelo Judiciário em decisão de caráter precário.
Os demais
argumentos da empresa dizem respeito à admissibilidade de recurso especial, matéria estranha à
suspensão de liminar e de sentença (aplicação das Súmulas n. 5 e 7 do STJ e ausência de
violação de lei federal).
Sublinhe-se que, na essência do litígio, está o fornecimento de energia
em região que pode, a qualquer momento, a depender do regime de chuvas, necessitar do
acionamento da termelétrica; portanto, é imprescindível a atuação administrativa para atestar
as
condições do fornecimento de eletricidade. Logo, a urgência e o interesse público são evidentes,
ainda que a decisão de manutenção da cautelar tenha sido deferida há algum tempo, pois o
quadro de carência de energia pode resultar em demanda imediata
e fiscalização específica da
ANEEL.
Da forma posta no acórdão, que confirma a cautelar deferida monocraticamente, a
empresa não precisa cumprir o contrato de disponibilidade energética a que se obrigou, mas
continua a receber mensalmente a contrapartida remuneratória pela mesma
disponibilidade sem
sofrer nenhuma fiscalização ou eventual penalidade.
Assim, a decisão ora impugnada implica
embaraço desproporcional ao exercício de atividade administrativa, em contrariedade ao
interesse público, com graves repercussões, inclusive atinentes ao efeito multiplicador
possivelmente pretendido por outras
empresas do setor, o que causa perigoso desequilíbrio
sistêmico.
Registre-se, por fim, que não há como analisar a natureza do contrato de
disponibilidade celebrado com a interessada, se aleatório ou comutativo, tampouco examinar a
controvérsia acerca do reequilíbrio econômico-financeiro, por serem matérias atinentes
ao mérito
da ação originária, alheias à via suspensiva.
Ante o exposto, defiro o pedido de suspensão para
sustar os efeitos do acórdão da 6ª Turma do TRF1 na Apelação n. 0062008-8.2015.4.01.3400,
tão somente na parte em que manteve a liminar concedida nos autos da Tutela Cautelar
Antecipada n.
1001336-27.2018.4.01.0000.
A requerente, então, apresentou novo requerimento
https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 3/6
06/07/2022 16:18 Jurisprudência

ao eminente ministro Presidente do STJ, para que esclarecesse quanto aos efeitos da liminar
concedida, notadamente à alegação de que tais efeitos deveriam ser prospectivos, diante daquilo
que há muito
decidido, considerando-se as relações processuais ocorridas nesse intervalo.
Afirmava, na oportunidade, que a CCEE apurou um débito de R$ 35.933.881,41 contra a
requerente, passando a glosar a sua receita fixa mensal R$ 11.554.959,21 para o
abatimento
do
referido débito.
Ao apreciar o pedido, asseverou o eminente ministro (fls. 1.030-1.031):
Rigorosamente, prima facie, a questão relativa à cobrança pela CCEE de eventuais débitos
oriundos do tempo em que vigorou a liminar impeditiva do referido poder de polícia refoge ao
objeto e às partes deste pleito suspensivo e deveria ter sido deduzida
em ação própria, pois nada
tem a ver com o exercício de poder de polícia em si, tampouco é a ANEEL que efetua as
alegadas glosas, mas sim a CCEE, pessoa jurídica de direito privado. Deve-se destacar que a
liminar então dada em favor da requerente não
tinha por efeito a remissão ou liberação de dívidas
porventura existentes em razão do contrato em debate.
Não obstante isso e sem adentrar a
questão relativa à modulação de efeitos no âmbito de suspensão de segurança ou de suspensão
de liminar e de sentença já que a decisão
por mim proferida se limitou a estabelecer que a
ANEEL pode exercer seu poder de polícia , a requerente apresenta argumento consequencialista
de que irá à insolvência pela cobrança que diz estar sofrendo da CCEE ou que está na iminência
de haver
compensação do que tem a receber a título de receita fixa mensal.
Entretanto, em
exame delibatório, é prudente que a CCEE não exerça a cobrança do montante discutido
decorrente de ajustes relativos aos meses em que a liminar suspensa estava vigente até que haja
resposta da ANEEL sobre as alegações da requerente.
Não obstante essa manifestação judicial,
conforme se observa da Reunião Extraordinária do Conselho de Administração da Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), realizada em 14.01.2020 (fls. 1.032-1.039), foi
mantida "a aplicação das
penalidades apuradas nas contabilizações de janeiro de 2017 a
setembro de 2019, totalizando o valor de R$ 199.973.439,90 (cento e noventa e nove milhões,
novecentos e setenta e três mil, quatrocentos e trinta e nove Reais e noventa centavos), devido
ao
fiel cumprimento por parte da CCEE das regras e procedimentos vigentes" (fl. 1.037). Além
disso, foi determinado o desligamento do agente, a partir de 01.03.2020 (fl. 1.050).
Ou seja, para
além da apuração do montante de energia que teria sido gerado a menor (glosa de 35 milhões,
aproximadamente) durante o prazo de vigência da medida liminar que deferi, ainda estão sendo
cobradas outras penalidades, referentes ao mesmo
período, que alcançam o valor de
aproximadamente duzentos milhões de reais, além de já haver sido deliberado o desligamento do
empreendimento, com efeitos a partir de 01.03.2020, o que representará o encerramento de
todos os seus contratos
administrativos e, consequentemente, a sua insolvência.
Instado a se
manifestar acerca das penalidades que estavam sendo impostas à autora, o eminente Ministro
Presidente do STJ, nos autos da SLS n. 2.572/DF, remeteu à instância ordinária a apreciação da
questão, aduzindo que a problemática relativa à
cobrança de eventuais débitos oriundos do
tempo em que vigorou a liminar impeditiva do referido poder de polícia deveria ser deduzida em
ação própria. Assim, diante da circunstância de o feito encontrar-se aguardando a análise dos
embargos de
declaração
opostos ao acordão que deu parcial provimento ao recurso de apelação
interposto pela ora peticionante, e dos princípios da celeridade processual e instrumentalidade
das formas, tenho que a competência é deste Tribunal para a análise do requerimento de
tutela
de urgência em questão.
A causa de pedir indicada pela autora nestes autos consiste no fato de
que estava sendo demandada para a geração de energia elétrica em montante muito superior ao
que foi estipulado no procedimento licitatório. Afirmou que foi contratada para ser
acionada
durante 9,57% do tempo total da sua contratação, o que, para o período de 15 anos, significa
12.577 horas de operação. Não obstante, em apenas 21 meses de operação, a usina já teria sido
acionada cerca de 14 mil horas, representando uma
variação de aproximadamente 851%. Assim,
diante do excesso não contratado de acionamentos, tal como ocorre com qualquer elemento
mecânico, o seu maquinário termelétrico estava entrando em obsolescência precoce,
necessitando, portanto, de manutenções
mais frequentes (além de mais caras), o que implicava
na necessidade de algumas paralisações. Por força dessas paralisações para manutenção e
devido ao fato de não estar gerando a energia na quantidade demandada pelo Operador
Nacional do Sistema (ONS),
ou seja, muito superior àquilo que contratado, a empresa estava
sendo penalizada.
Na liminar que deferi, não houve determinação no sentido de que "a empresa
não precisa cumprir o contrato de disponibilidade energética a que se obrigou", nem o direito a
"receber mensalmente a contrapartida remuneratória pela mesma disponibilidade sem
sofrer
nenhuma fiscalização ou eventual penalidade". A liminar determinou, isso sim, que o contrato
https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 4/6
06/07/2022 16:18 Jurisprudência

fosse respeitado, tal como firmado pela Administração, observando-se as suas cláusulas e
evitando-se a aplicação de penalidades para a hipótese de não
geração de energia em montante
que ultrapassasse o volume contratualmente estabelecido.
De outra parte, observa-se que a
fundamentação utilizada pelo eminente presidente do STJ revela preocupação com a
necessidade de garantia do "fornecimento de energia em região que pode, a qualquer momento,
a depender do regime de chuvas, necessitar do
acionamento da termelétrica", sendo, portanto,
"imprescindível a atuação administrativa para atestar as condições do fornecimento de
eletricidade". Assim, parece-me um contra-senso determinar-se, administrativamente e por força
da aplicação de
penalidades de maneira retroativa, o encerramento do empreendimento,
mediante o seu desligamento do sistema. Cumpre observar, no que concerne à sua importância
para a produção de energia, que em recente data (21.01.2020), segundo dados do próprio
Operador Nacional do Sistema (fl. 1.010), a usina em questão foi acionada para a geração de 158
MW de energia elétrica, o que aponta no sentido de sua imprescindibilidade para a saúde do
sistema energético brasileiro.
Dito isso de outra forma, tem-se que as decisões administrativas
apresentadas pela parte autora, bem como a iminência de sua implementação, implicam em
violação da ratio decidendi expressamente utilizada na SLS n. 2.572/DF. Assim, permitir-se a
imediata
glosa de valores decorrentes da não geração de energia em montante superior àquilo
que foi contratado, durante o período em que vigorou a medida liminar, bem como das demais
penalidades contratuais pertinentes, inclusive com o encerramento das
atividades da usina,
parece-me outro contra-senso em face do que decidido na SLS 2.572/DF. Os danos que serão
suportados pela apelante são de difícil ou incerta reparação, além de representar risco de dano
ao resultado útil do processo, estando,
portanto, presentes os requisitos para a concessão da
tutela de urgência a que alude o art. 1.012, § 4º, do novo Código de Processo Civil.
Quanto aos
efeitos da decisão na SLS n. 2.572/DF, devem ser interpretados de forma prospectiva, e não
retroativa. A decisão se refere à "restauração" do poder de polícia administrativa da Aneel,
situação que, a toda evidência, vige do momento da
prolação da manifestação judicial para o
futuro.
Ademais, some-se a este fundamento, o fato de que aludida decisão determinou a
"sustação" dos efeitos do acórdão proferido nestes autos. Portanto, esses efeitos cessam,
consequentemente, a contar do momento em que proferida a decisão na SLS n.
2.572/DF,
não
possuindo, então, efeitos ex tunc. Conforme apontado pela requerente, o "emprego da expressão
sustar, termo que, segundo o Glossário Jurídico do E. STJ1, significa obstar, impedir os efeitos,
não se confunde com cassar efeitos ou cancelar efeitos"
(fl. 1.006).
A aplicação de penalidades
retroativas a período anterior ao que decidido na SLS n. 2.572/DF, viola a confiabilidade, a
previsibilidade e a segurança jurídica que devem permear as relações entre as partes e entre
estas e o Poder Público.
Assim, tendo a decisão do STJ remetido à instância ordinária a
apreciação da questão relativa à cobrança de eventuais débitos compreendidos no período de
tempo em que vigorou a liminar impeditiva do referido poder de polícia, e, estando a peticionante
na iminência de sofrer danos de difícil ou incerta reparação, entendo que deve ser mantida a
segurança jurídica das relações ocorridas no período em questão, diante da excepcionalidade da
situação aqui analisada e que pode representar um real prejuízo
ao sistema energético brasileiro.
De outra parte, a implementação das penalidades, pertinentes ao período em que vigente o
provimento liminar, implicará no encerramento das atividades da empresa, impedindo-se que este
processo alcance o resultado útil que dele espera a postulante.
Nesse sentido, em situação
análoga, inclusive quanto aos efeitos de medida liminar deferida naqueles autos, e citando a
mesma decisão proferida pelo eminente Presidente do STJ, o Juiz Federal João Carlos Mayer
Soares, modulando os efeitos de decisão
anterior, e em expressa atenção àquela determinação,
consignou que (fls. 1.067.1.068):
Nessa linha de intelecção, e verificada a similitude daquela
causa com a presente, é de se reconhecer a relevância jurídica dos argumentos utilizados pela
Corte Infraconstitucional ao deferir medida judicial de contracautela para salvaguardar a
atividade
administrativa (SLS 2.572, julg. cit). Isso porque, na linha do que decidido na mencionada
Suspensão de Liminar e Segurança, a liminar a que se busca revogação vem, no entender da
Corte Infraconstitucional, impedindo o exercício do poder de
polícia em contrariedade ao
interesse público, o que recomenda a revisão do decisum, a fim de se resguardar a ordem
pública.
No que tange aos efeitos das medidas de contracautela, o Superior Tribunal de Justiça
vinha se manifestando no sentido de que o efeito de suspensão de liminar concedida contra o
Poder Público seria ex nunc, ou seja, teria aplicação prospectiva. Isso na
perspectiva de que ela
não revogaria nem modificaria a decisão provisória, apenas suspenderia seus efeitos. (CF. REsp
1.233.191/MA, Segunda Turma, da relatoria do ministro Mauro Campbell Marques, DJ
https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 5/6
06/07/2022 16:18 Jurisprudência

31/03/2011; AgRg no MS 13.505/DF, Terceira Seção, da


relatoria do ministro Napoleão Nunes
Maia Filho, DJ 18/09/2008; AgRg na SS 1.485/ES, Corte Especial, da retoria do ministro
Francisco Peçanha Martins, DJ 05/11/2007).
No entanto, em recentes julgados, o Supremo
Tribunal Federal, no que vem sendo acompanhado pela Corte Superior de Justiça, vem firmando
a orientação jurisprudencial de que a medida judicial de contracautela tem como marco inicial de
produção dos seus
efeitos o mesmo termo de origem da decisão liminar suspensa, produzindo
suas consequências jurídicas desde então. (Cf. STF, RE 993.585 AgR/DF, Primeira Turma, da
relatoria do ministro Luiz Fux, DJ 31/05/2019; STJ, AgInt na PET no ARE no RE nos EDcl no
AgRg na PET na SLS 1.911/DF, Corte Especial, da relatoria do ministro Francisco Falcão, DJ
05/02/2015).
Assim, embora o efeito da medida de contracautela adotado pelo entendimento
jurisprudencial dos Tribunais Superiores seja ex tunc, aqui se reconhece apenas a relevância do
fundamento jurídico acolhido naquela medida judicial (SLS 2.572/DF), o que não
impede, com
esteio no poder geral de cautela, de se conferir efeitos prospectivos à presente decisão,
mormente pelo decurso do prazo de quase 3 (três) anos desde a concessão da medida liminar, a
recomendar a proteção das relações jurídicas
consolidadas.
Além disso, não se pode deixar de
pontuar que a aludida decisão do STJ (SLS 2.572/DF) foi adotada levando-se em consideração a
cláusula rebus sic standibus, aplicável em decisões de natureza cautelar.
À vista do exposto, em
juízo de reconsideração e valendo-se do poder geral de cautela, defiro, em parte, o pedido
formulado pela ANEEL (fls. 590/596-v) para, observado o pedido subsidiário de modulação dos
efeitos da decisão aviado pela parte autora
(fl. 635), suspender a decisão que concedeu a tutela
de urgência (fls. 567/569), com efeitos prospectivos, com fundamento, per relationem, nas razões
de decidir adotadas na SLS 2.572/DF.
Assim, seja porque expressamente consignado pelo
eminente Ministro Presidente do STJ, que suspendeu os efeitos do acórdão aqui proferido,
situação que aponta no sentido de que seus efeitos são prospectivos, seja porque também
consignou ser "prudente
que
a CCEE não exerça a cobrança do montante discutido decorrente
de ajustes relativos aos meses em que a liminar suspensa estava vigente", seja pelo transcurso
de mais de três anos desde a concessão da medida liminar, ou ainda, porque a usina é relevante
para a manutenção da saúde do sistema elétrico brasileiro, além da necessidade de garantir o
resultado útil do processo, tenho que se fazem presentes os elementos para a concessão da
tutela de urgência.
Ante o exposto, com base no art. 1.012, § 4º, do Código de Processo Civil,
atendo-me aos limites daquilo que consignado na SLS n. 2.572/DF e no poder geral de cautela
do juiz, defiro o pedido, tão somente para impedir o desligamento da Termelétrica
Pernambuco III
do sistema, assim como a cobrança de qualquer glosa referente ao período em que vigente a
tutela de urgência deferida nestes autos e na Tutela Cautelar Antecedente n. 1001336-
27.2018.4.01.0000.
Comunique-se, com urgência.
Intimem-se.
Publique-se.
Brasília, 28 de
fevereiro de 2020.
Desembargador Federal DANIEL PAES RIBEIRO
Relator
Inteiro teor
Acesse aqui

https://www2.cjf.jus.br/jurisprudencia/trf1/index.xhtml 6/6

Você também pode gostar