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MERITÍSSIMO JUÍZO - 1ª VARA DA FAZENDA PUBLICA - FORO DA COMARCA DE PORTO

ALEGRE/RS.

PROCESSO Nº 0042941-20.2011.8.21.0001
PARTE CONTRÁRIA: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

OBJETO: APLICAÇÃO DOS TEMAS 810 E 905/STF – REMESSA DO FEITO À CONTADORIA

GIOVANI DA SILVA FERREIRA, já qualificado nos autos do processo


epigrafado, por seus advogados ao final assinados, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, dizer e requerer o que segue:

Compulsando os autos verifica-se que a memória de cálculo homologada pelo


Juízo e que culminou na expedição de requisitório de pagamento, na modalidade de precatório,
aplicou, para o período compreendido entre 30/06/2009 a, no mínimo, 15/03/2015, ou até mais,
a variação da TR como fator de correção monetária.

Ocorre que, em 03/03/2020 transitou em julgado a decisão do Supremo


Tribunal Federal no leading case no RE n° 870.947 (Tema n° 810), com a decisão anteriormente
proferida no sentido de considerar inconstitucional a aplicação da TR como fator de correção
monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública, devendo ser adotado, a partir de 30/06/2009,
o IPCA-E, deixando a Suprema Corte de modular os efeitos do julgado.

Nesse ínterim, justo e necessário a aplicação da correção monetária em


conformidade com a decisão do Pretório Excelso que, recentemente, em decisão de relatoria do
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Ministro Alexandre de Moraes, esposou entendimento no sentido de que a diferença gerada pela
aplicação do Tema 810 merece recomposição para garantir o adimplemento da integralidade do
pagamento instrumentalizado em execução/cumprimento de sentença, mesmo que já tenham
sido pagos anteriormente com a aplicação do índice inconstitucional 1.

O Ministro, ao negar seguimento ao Agravo em Recurso Extraordinário ainda


asseverou que o v. Acórdão combatido por meio do Recurso Extraordinário – e na sequência
pelo ARE manejado -, da lavra do Tribunal de Justiça Paulista, está alinhado à jurisprudência da
Corte Suprema ao decidir que, “... tratando-se de recomposição de diferenças decorrentes de
correção monetária pelo IPCA-E, não há necessidade de expedição de novo precatório...”,
devendo a complementação se dar no mesmo precatório, na esteira do já decidido na ADI
2924/SP.

No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no


sentido de que a correção monetária e os juros de mora - em razão de serem consectários legais
oriundos da condenação principal e possuírem natureza de ordem pública -, devem ser aplicados
imediatamente a todos os processos, inclusive àqueles em que já houve o trânsito em julgado e
estejam em fase de execução, sem que isso viole a coisa julgada 2.

1
STF - ARE 1396783, Relator: Alexandre de Morais, Data de Julgamento: 05/08/2022.
(…) Requisição de pagamento pelo valor incontroverso, por precatório, iniciado em 29 de agosto de 2016, ofício
requisitório nº 642/2016, expedido em 5 de setembro de 2016, no valor de R$ 641.647,31, depósito efetuado em 28 de
dezembro de 2018, autos originários, fls. 01, 109 e 135. Não se verifica desacordo dos cálculos efetuados por DEPRE
com o título executivo ou com as determinações do Supremo Tribunal Federal, Tema 810, e dos embargos à execução
nº 1003547-47.2015.8.26.0053, que ao tempo da elaboração dos cálculos, em dezembro de 2018, ainda não haviam sido
definitivamente julgados. Mas, com o trânsito em julgado nos referidos embargos à execução, em 17 de julho de 2019,
determinados somente juros de mora na forma da Lei 11960/2009, falta compor diferença correção monetária pela TR
e pelo IPCA-E, que integram a obrigação de pagamento, Constituição Federal, artigo 100, § 5º, parte final. 4 Anote-se
que Supremo Tribunal Federal acabou de sufragar a possibilidade de requisição de pagamento pelo valor incontroverso,
como foi o caso, Tema 28, julgamento encerrado em 05-06-2020, cuja complementação de pagamento deve ser feita no
mesmo precatório, como também já decidiu aquela Corte na ADI 2924/SP, em especial no que envolve disposição do
Regimento Interno desta Corte: (…) Correspondente diferença, portanto, que deve ser recomposta em favor dos
agravantes por simples complementação da requisição de pagamento.
2
STJ - REsp: 2047378, Relator: BENEDITO GONÇALVES, Data de Publicação: 09/02/2023.
(...)Ademais, o Superior Tribunal de Justiça assentou, em sede de recurso especial repetitivo - REsp 1.112.746/DF, a
tese segundo a qual os juros de mora e a correção monetária são obrigações de trato sucessivo, que se renovam mês a
mês. Com isso, devem ser aplicados no mês de regência a legislação vigente e, por isso, a lei nova superveniente que
altera o regime dos juros moratórios deve ser aplicada imediatamente a todos os processos, inclusive, àqueles em que já
houve o trânsito em julgado e estejam em fase de execução, sem que isso viole a coisa julgada.(...)
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Nessa trilha vertical, o Tribunal de Justiça Gaúcho também já firmou
entendimento no sentido que não se sujeita à preclusão ou mesmo à coisa julgada a modificação
dos critérios de correção monetária em face do que decidiu o STF no Tema 810, inclusive
negando seguimento à Recurso Especial manejado pelo Estado do Rio Grande do Sul.

De se ver:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. ADOÇÃO, PARA


TODO O PERÍODO DA CONDENAÇÃO, DA TESE FIRMADA NO TEMA 810 DO
STF. 1. Conforme entendimento pacificado nas Câmaras integrantes do Segundo
Grupo Cível deste Tribunal, a modificação dos critérios de correção monetária por
força do decidido pelo STF no Tema 810 é possível a qualquer tempo, não se
sujeitando à preclusão ou mesmo à coisa julgada, considerando o caráter processual
das normas que se referem à correção monetária. Precedentes no STJ no sentido de
que, por se tratar de matéria de ordem pública, é possível a modificação dos juros e
índices de correção monetária, inclusive de ofício, para que se adequem ao regime
legal vigente, ainda que estabelecidos os critérios iniciais posteriormente ao trânsito
em julgado da fase cognitiva. 2. Não há falar em violação ao Tema 733 do STF,
porquanto não houve modulação dos efeitos da tese firmada em sede de repercussão
geral do Tema 810 do STF, definindo aquele excelso Tribunal que o índice de
correção monetária dos débitos judiciais da Fazenda Pública deve ser o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), inclusive no período anterior a
25.03.2015. 3. Prequestionamento. Fundamentos jurídicos e legais pertinentes ao
caso devidamente apresentados. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.
UNÂNIME.(Agravo de Instrumento, Nº 70085281905, Quarta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Voltaire de Lima Moraes, Julgado em: 28-04-2022)

RECURSO ESPECIAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. TEMA 905 DO STJ. NEGATIVA


DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. NEGADO SEGUIMENTO AO
RECURSO. RECURSO NÃO ADMITIDO QUANTO ÀS DEMAIS
QUESTÕES.(Recurso Especial, Nº 70085673929, Primeira Vice-Presidência,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alberto Delgado Neto, Julgado em: 01-11-2022)

Nesse ínterim, merecendo o tema – correção monetária – conhecimento de


pelo Juízo de ofício, insta a remessa dos autos à Contadoria do Foro (CPC, 524, §2) para

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apuração das diferenças havidas com a aplicação da TR em detrimento do IPCA-E como fator
de correção monetária e, por seu turno, seja comandada a expedição de requisitório
complementar ao Setor de Precatórios para que seja ela (diferença) paga no mesmo precatório
já expedido em relação ao Principal e no RPV em relação aos honorários, se houver.

Ante o exposto, requer:

a) A remessa dos presentes autos à Contadoria Judicial para que seja


apurada a diferença ainda devida pelo Requerido, aplicando-se o IPCA-E
em substituição à TR, como fato de correção monetária (Tema 810/STF),
tanto em relação ao principal, quando aos honorários sucumbenciais, se
houver;

b) com a sobrevinda dos cálculos, sejam expedidos os requisitórios


complementares aos precatório (Principal) e RPV (honorários), a serem
pagos na mesma ordem e modalidade dos primários.

Porto Alegre, 21 de julho de 2023.

Paula Cristina Ely Bergamaschi, Luís Alberto Ely Bergamaschi,


OAB/RS 70.837. OAB/RS 63.371.

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