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Tribunal de Justiça de Pernambuco

PJe - Processo Judicial Eletrônico

06/07/2023

Número: 0001229-25.2023.8.17.9480
Classe: HABEAS CORPUS CRIMINAL
Órgão julgador colegiado: Segunda Turma da Câmara Regional de Caruaru
Órgão julgador: Gabinete do Des. Evio Marques da Silva
Última distribuição : 11/05/2023
Valor da causa: R$ 1.320,00
Assuntos: Liberdade Provisória
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ROSICLEIDE LUCENA (PACIENTE)
JUÍZO DA 2ª VARA DA COMARCA DE LAJEDO
(AUTORIDADE COATORA)
Procuradoria de Justiça Regional (MP) - Câmara Regional -
Caruaru (FISCAL DA ORDEM JURÍDICA)
Coordenação da Central de Recursos Criminais (FISCAL
DA ORDEM JURÍDICA)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
28481983 06/07/2023 Acórdão Decisão\Acórdão
14:34
28460259 06/07/2023 Voto Voto
14:34
28305673 06/07/2023 Ementa Ementa
14:34
28305672 06/07/2023 Voto do Magistrado Voto
14:34
28305671 06/07/2023 Relatório Relatório\Relatório (outros)
14:34
Tribunal de Justiça de Pernambuco
Poder Judiciário

Segunda Turma da Câmara Regional de Caruaru

Rua Frei Caneca, s/n, Maurício de Nassau, CARUARU - PE - CEP: 55012-330 - F:( )

Processo nº 0001229-25.2023.8.17.9480

PACIENTE: ROSICLEIDE LUCENA

AUTORIDADE COATORA: JUÍZO DA 2ª VARA DA COMARCA DE LAJEDO

INTEIRO TEOR

Relator:
EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO

Relatório:

HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24 Num. 28481983 - Pág. 1
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070614342423500000028015349
Número do documento: 23070614342423500000028015349
RELATÓRIO

Cuida-se de Habeas Corpus liberatório, impetrado pela Defensoria Pública do Estado de Pernambuco, em favor da
paciente Rosicleide Lucena, no qual se alega a existência de constrangimento ilegal à liberdade deambulatória da
paciente, por ato do Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns, nos autos do processo criminal nº
0000487-74.2023.8.17.5640, agora em trâmite perante o Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca de Lajedo/PE.

Registra o impetrante que a paciente foi presa em flagrante no dia 09/05/2023, sob a suspeita da prática do crime do art.
33 da Lei de Drogas. Apresentada em audiência de custódia, o Ministério Público requereu a conversão da prisão em
flagrante em prisão preventiva, ao tempo em que defesa postulou o relaxamento da prisão em flagrante. O Juízo
plantonista acolheu o pleito ministerial, entendendo pela validade da prisão em flagrante, convertendo em prisão
preventiva.

Nesse contexto, alega o impetrante que o constrangimento ilegal suportado pela paciente decorre de nulidade da prisão
em flagrante, razão da ilicitude da busca pessoal, uma vez que ausente justa causa. Aduz que a nulidade referida
prejudica a existência material do delito e, portanto, afasta os requisitos necessários à manutenção da custódia
preventiva da paciente.

Diante destas alegações, postula, em sede de liminar e no mérito, a concessão da ordem de Habeas Corpus a fim de
que seja revogada a prisão preventiva da Paciente, bem como declarada nula a prisão em flagrante e provas
decorrentes da referida diligência.

Colacionou documentos digitalizados.

O pleito liminar foi indeferido.

Na sequência, o Juízo de origem dispensou as informações requeridas.

Houve, em seguida, manifestação da Procuradoria de Justiça, pela denegação da ordem (ID 27775252).

Posteriormente, foram acostadas as informações antes solicitadas (ID 27778123), oportunidade em que a Procuradoria
de Justiça ratificou sua manifestação (ID 28273614).

É o que importa relatar.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

Voto vencedor:

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24 Num. 28481983 - Pág. 2
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070614342423500000028015349
Número do documento: 23070614342423500000028015349
HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

VOTO DO RELATOR

Presentes os pressupostos processuais necessários à análise do presente writ, passo diretamente à sua apreciação.

Conforme relatado, cuida-se de Habeas Corpus liberatório, impetrado pela Defensoria Pública do Estado de
Pernambuco, em favor da paciente Rosicleide Lucena, no qual se alega a existência de constrangimento ilegal à
liberdade deambulatória da paciente, por ato do Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns, nos
autos do processo criminal nº 0000487-74.2023.8.17.5640, agora em trâmite perante o Juízo de Direito da 2ª Vara da
Comarca de Lajedo/PE.

Consta das informações prestadas pelo Juízo a quo (ID 27778123), que Rosicleide Lucena teria sido presa em flagrante,
no dia 09/05/2023, na posse de revólver calibre .32 municiado, 164g de crack e outras munições, a ela imputando-se
conduta descrita no art. 33 da Lei 11.343/06.

Há, ainda, informações nos autos de que a paciente teve sua prisão preventiva decretada como garantia da ordem
pública, em razão de possuir condenações penais pela prática do crime de tráfico de drogas (Autos nº 3055-
67.2019.8.17.0640 e 1744-56.2015.8.17.0260) bem como uma ação penal em tramitação pela prática do mesmo delito
(Autos n 938-69.2019.8.17.0910). Nesse contexto, não resta dúvida acerca da existência de periculum libertatis a
ratificar a necessidade da segregação cautelar.

Contudo, observo que o impetrante alega estar ausente outro requisito cumulativo para a decretação da custódia
cautelar.

Como é cediço, para decretação da prisão preventiva, necessária se faz a presença concomitante de três requisitos:
fumaça do cometimento do crime – consubstanciada pela presença de prova da materialidade e indícios suficientes de
autoria, demonstração do perigo gerado pelo estado de liberdade do agente e presença de ao menos uma das
hipóteses de cabimento, descritas no art. 313 do CPP.

No caso, o impetrante alega inexistir “fumaça do cometimento do crime” pela falta de prova da materialidade delitiva, em
razão da nulidade relacionada à prisão em flagrante da paciente, uma vez que ausente justa causa para a realização da
busca pessoal realizada na paciente.

Nos termos do art. 244 do CPP, a busca pessoal independerá de mandado quando houver prisão ou fundada suspeita
de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou ainda
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. A busca pessoal é legítima, portanto, se amparada em

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fundadas razões, justificadas a posteriori, de que a pessoa abordada esteja praticando um delito.

Pois bem.

No caso concreto, conforme documentação anexada aos autos, um dos agentes policiais responsáveis pela prisão em
flagrante declarou que:

“(...) na data de hoje 09 de maio de 2023, realizava rondas com abordagens nas proximidades do Posto Santa Rosa na
cidade de Lajedo, quando, por volta das 11hs, passou a observar a Senhora ROSICLEIDE LUCENA, a qual estava no
ponto de transporte alternativo para a cidade de São Bento do Una; QUE em seguida ela atravessou no sentido do pátio
do estacionamento sem nenhum objeto nas mãos; QUE, alguns minutos depois, a Senhora ROSICLEIDE retornou com
uma sacola de papelão na mão; QUE, em seguida, percebendo um certo nervosismo suspeito da imputada resolveu
abordar a Autuada; QUE, durante a abordagem, verificou-se que ROSICLEIDE LUCENA possuía no interior da sacola
os seguintes objetos: UM REVOLVER CALIBRE .32, de marca INA, número de série 33172, municiado com 06 (seis)
munições do mesmo calibre e um pacote com substância análoga a crack, pesando mais ou menos 154 gramas, além
de mais 03 (três) munições intactas de cal. 32, QUE, perguntando a Autuada onde teria adquirido tais objetos, a
Autuada alegou que estava mantendo contato, via telefone celular, com outras duas pessoas, que iriam buscar a
encomenda em um carro prata; QUE a Autuada estava na posse de um aparelho celular de marca XAIOMI; QUE
perguntado a ROSICLEIDE LUCENA se ela havia sido presa, esta afirmou que fora presa anteriormente pelo crime de
tráfico de entorpecente em 2019 na cidade de Garanhuns; QUE, diante dos fatos, foi dado voz de prisão a ROSICLEIDE
LUCENA e conduzida até a Delegacia de Lajedo para a adoção dos procedimentos cablveis.. Nada mais disse nem lhe
foi perguntado. Lido e achado conforme, determinou a Autoridade que fosse encerrado o presente

Tal versão dos fatos coincide com aquela proferida pelo condutor do flagrante, Pedro Claudino de Almeida Júnior,
vejamos:

“QUE, no dia de hoje (09/05/2023), em serviço na cidade de Lajedo, realizava rondas com abordagens nas
proximidades do Posto Santa Rosa, quando, por volta das 11hs, visualizou a Senhora ROSICLEIDE LUCENA a qual
estava no ponto de transporte alternativo para a cidade de São Bento do Una; QUE observou ela atravessando sentido
ao pátio do estacionamento sem nenhum objeto nas mãos; QUE, alguns minutos depois, a Senhora ROSICLEIDE
retornou com uma sacola de papelão na mão; QUE, diante dessa atitude suspeita, o CONDUTOR e sua equipe
resolveram abordar a Autuada; QUE, durante a abordagem, verificou-se que ROSICLEIDE LUCENA possuía no interior
da sacola os seguintes objetos: UM REVOLVER CALIBRE .32, de marca INA, número de série 33172, municiado com
06 (seis) munições do mesmo calibre e um pacote com substância análoga a crack, pesando mais ou menos 154
gramas, além de mais 03 (três) munições intactas de cal. 32; QUE, perguntando a Autuada onde teria adquirido tais
objetos, a Autuada alegou que estava mantendo contato, via telefone celular, com outras duas pessoas, que iriam
buscar a encomenda em um carro prata; QUE a Autuada estava na posse de um aparelho celular de marca XAIOMI:
QUE perguntado a ROSICLEIDE LUCENA se ela havia sido presa, esta afirmou que fora presa anteriormente pelo crime
de tráfico de entorpecente em 2019 na cidade de Garanhuns; QUE, diante dos fatos, foi dado voz de prisão a
ROSICLEIDE LUCENA e conduzida até a Delegacia de Lajedo para a adoção dos procedimentos cabíveis. Nada mais
disse nem lhe foi perguntado, determinou a Autoridade Policial encerrar este Termo, que, após ser lido e achado
conforme, o qual assina juntamente com o Condutor e comigo Escrivão que digitei.

Como se verifica, a abordagem pessoal se deu tão somente em razão do nervosismo da paciente e de suposta atitude
suspeita, consistente no fato de ter, simplesmente, saído do ponto de transporte alternativo para busca uma sacola no
estacionamento próximo ao local, retornando, em seguida.

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Ora, evidente que tal conduta – sair de um local público e retornar com uma sacola, não corrobora a existência de
qualquer espécie delitiva. Além disso, como já decidiu o STJ em inúmeros recentes precedentes, o simples nervosismo
do agente, de acordo com a percepção subjetiva do agente policial, não autoriza a realização da busca e apreensão
pessoal, senão vejamos:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. REVISTA PESSOAL E INGRESSO DE POLICIAIS NO


DOMICÍLIO DO ACUSADO. FUNDADAS RAZÕES. INEXISTÊNCIA. ILICITUDE DOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO
OBTIDOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. Esta Corte Superior tem entendido, quanto ao ingresso
forçado em domicílio, que não é suficiente apenas a ocorrência de crime permanente, sendo necessárias fundadas
razões de que um delito está sendo cometido, para assim justificar a entrada na residência do agente, ou ainda,
autorização para que os policiais entrem no domicílio . 2. Também há a compreensão neste Superior Tribunal de
que se não havia fundadas suspeitas para a realização de busca pessoal no acusado, não há como se admitir
que a mera constatação de situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida. 3. No
caso concreto, o contexto fático que antecedeu a providência tomada pelos policiais não indicam a existência
de fundada suspeita de que o réu estivesse praticando qualquer delito no momento de sua abordagem, as
buscas foram motivadas no "nervosismo" apresentado pelo acusado. Não ficou consignado em sentença nem
no acórdão impugnado que os policiais haviam presenciado o paciente vendendo entorpecentes ou mesmo
praticando qualquer outro delito que justificasse a abordagem pessoal. 4. Ordem concedida para, reconhecendo a
nulidade das provas obtidas ilicitamente, bem como as delas derivadas, absolver o paciente com fundamento no art.
386, II, do Código de Processo Penal. (STJ - HC: 659689 DF 2021/0110456-1, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Data de Julgamento: 15/06/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/06/2021)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. BUSCA PESSOAL. REQUISITOS DO
ART. 244 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA. ABORDAGEM EM VIA
PÚBLICA MOTIVADA APENAS POR IMPRESSÃO DE NERVOSISMO. ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS.
ABSOLVIÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A percepção de nervosismo do averiguado por parte de
agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada
suspeita para fins de busca pessoal, medida invasiva que exige mais do que mera desconfiança fundada em
elementos intuitivos. 2. À falta de dados concretos indicativos de fundada suspeita, deve ser considerada nula a
busca pessoal amparada na impressão de nervosismo do Acusado por parte dos agentes públicos. 3. Recurso
especial provido, a fim de anular as provas obtidas ilicitamente, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Recorrente, nos termos do art. 386, inciso II, do Código de Processo Penal. (STJ - REsp:
1961459 SP 2021/0044017-0, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 05/04/2022, T6 - SEXTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 08/04/2022)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS.


NULIDADE DA BUSCA PESSOAL REALIZADA NO RÉU. ILICITUDE DAS PROVAS. AUSÊNCIA DE FUNDADAS
RAZÕES. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1.
Considera-se ilícita a busca pessoal e domiciliar executada sem a existência da necessária justa causa para a
efetivação da medida invasiva, nos termos do art. 240 do CPP, bem como a prova dela derivada, não sendo
razoável considerar que o nervosismo do acusado ao avistar a autoridade policial, por si só, enquadre-se na
excepcionalidade da revista pessoal ocorrida em seguida ( HC 680.214/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Sexta Turma, julgado em 14/10/2021, DJe de 5/11/2021). 2.
Na hipótese, não houve a indicação de nenhum dado concreto e objetivo sobre a existência de justa causa para
autorizar a busca pessoal, visto que a simples existência de denúncia anônima sobre o deslocamento de pessoas para o
local dos fatos no intuito de exercerem a venda de drogas, bem como o fato de que o suspeito aparentava suposto
nervosismo diante da aproximação dos policias (parâmetro subjetivo dos agentes policiais), não constituem fundamento
idôneo para autorizar a busca pessoal, o que impõe o reconhecimento da ilicitude da prova obtida com a medida

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invasiva, bem como das provas dela derivadas. 3. Agravo regimental do Ministério Público Federal a que se nega
provimento. (STJ - AgRg no AgRg no HC: 706522 SP 2021/0365259-0, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, Data de Julgamento: 22/02/2022, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/02/2022)

É certo que a localização e apreensão de bens que consubstanciam produto ou instrumento de delito, em momento
posterior à deflagração da medida considerada ilícita, não constituem razão para convalidar a medida.

Embora o entendimento firmado, conforme observado, em ambas as Turmas Criminais do STJ, não seja dotado de
caráter vinculante, entendo que se deve conferir preponderância ao órgão uniformizador do direito infraconstitucional.

Constitui responsabilidade do Poder Judiciário garantir uma resposta jurídica segura e isonômica, evitando-se, com isso,
o indesejado solipsismo judicial, consistente na aplicação do direito pautando-se apenas pelas concepções individuais
do julgador alheio ao consenso interpretativo consolidado em órgãos de cúpula do Poder Judiciário.

Pois bem, de modo a preservar uma uniformidade de tratamento na solução dada pelo Estado-Juiz nas causas que lhe
são levadas a julgamento, impende sejam observados os precedentes da Corte Superior, que fixaram tese jurídica
acolhida, na medida em que os tribunais devem manter a jurisprudência estável, íntegra e coerente, conforme determina
o art. 926 do CPC/2015, cuja aplicação é subsidiária em relação ao processo penal.

Além disso, referido entendimento converge com aquele já delineado pelo STF, vejamos:

HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A


SER SUBMETIDO A BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL RECONHECIDA POR TURMA
RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL. Competência do STF para o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º
78.317. Termo que, sob pena de excesso de formalismo, não se pode ter por nulo por não registrar as declarações do
paciente, nem conter sua assinatura, requisitos não exigidos em lei. A "fundada suspeita", prevista no art. 244 do
CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a
necessidade da revista, em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza,
que não se pode ter por configurados na alegação de que trajava, o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma
arma, sob risco de referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de
abuso de poder. Habeas corpus deferido para determinar-se o arquivamento do Termo. (STF - HC: 81305 GO, Relator:
ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento: 13/11/2001, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 22-02-2002 PP-00035
EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284)

(...) “O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas Corpus 81.305, da relatoria do Min. ILMAR GALVÃO,
Primeira Turma, em 13/11/2001, enfrentou a situação: "A fundada suspeita, prevista no art. 244 do CPP, não pode
fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a necessidade da revista,
em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter
configurado na alegação de que trajava, o paciente, blusão suscetível de esconder uma arma, sob risco de referendo a
condutas arbitrárias, ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder". (....)

Ante o exposto, torno sem efeito a decisão agravada e CONCEDO a ordem para o fim de reconhecer a nulidade da
busca pessoal, declarando a ilicitude das provas dela derivadas, com a consequente ABSOLVIÇÃO do paciente, nos
termos do art. 386, II, do Código de Processo Penal (RISTF, art. 21).

(STF - HC: 224294 PR, Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 28/02/2023, Data de Publicação: PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-038 DIVULG 01/03/2023 PUBLIC 02/03/2023)

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Nesse contexto, por considerar infundada a busca pessoal que resultou na prisão em flagrante da paciente, em linha
com a recente jurisprudência das Cortes Superiores, entendo que deve ser declarada nula a prisão em flagrante da
paciente e todos os demais atos posteriormente praticados, caso dela decorrentes, restaurando sua liberdade, diante da
inexistência de justa causa para a manutenção da custódia preventiva (art. 312 do CPP).

Mediante tais considerações, voto pela CONCESSÃO DA ORDEM para restabelecer imediatamente a liberdade da
paciente, bem como declarar nula a prisão em flagrante e todos os elementos de prova dela decorrentes.

Expeça-se alvará de soltura em favor da paciente, colocando-a em liberdade, salvo se por outra razão estiver presa.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

Demais votos:

1ª CÂMARA REGIONAL DE CARUARU – 2ª TURMA


Habeas Corpus nº 0001229-25.2023.8.17.9480
Impetrante: Defensoria Pública de Pernambuco
Paciente: Rosicleide Lucena
Autoridade coatora: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia – Garanhuns
Procurador de Justiça: Ana Maria do Amaral Marinho
Relator: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

VOTO VISTA.

Trata-se de Habeas Corpus interposto pela Defensoria Pública de Pernambuco, em favor


de Rosicleide Lucena, alegando constrangimento ilegal à liberdade diante de suposta nulidade
na busca pessoal realizada por policiais militares, por ocasião da prisão em flagrante delito da
mencionada paciente, pela prática de tráfico de drogas (art.33, da Lei nº 11.343/2006) e porte
ilegal de arma de fogo (art.14, da Lei nº 10826/2003), vez que desamparada de qualquer

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elemento concreto capaz de legitimar a justa causa exigida para tal abordagem, indo, assim, de
encontro ao entendimento consolidado na Jurisprudência.

O Relator do processo, Des. Substituto Evanildo Coelho de Araújo Filho, apresentou voto
no sentido de conceder a ordem, entendendo pela nulidade da prisão em flagrante, e ainda, que a
atitude suspeita decorrente da percepção subjetiva dos policiais não é suficiente para autorizar a
busca realizada na paciente.

Em razão da discussão acerca da legalidade do procedimento de abordagem em questão,


resolvi, na sessão do dia 21/06/2023, pedir vista dos autos para uma melhor análise jurídica do
caso concreto.

Trago-os agora.

Após detida análise dos fundamentos utilizados pelo eminente Relator, bem como em atenção
aos fatos contidos nos autos, peço vênia para divergir de Sua Excelência.

Fundamento.

A impetrante alega constrangimento ilegal devido à nulidade da abordagem pessoal.


Argumenta que a busca foi realizada sem qualquer indício concreto de que a paciente estivesse
portando substância entorpecente ilegalmente, sendo fundamentada apenas na suposta "atitude
suspeita". Isso, segundo defende, não configuraria justa causa exigida pela lei e jurisprudência
dominantes para viabilizar a abordagem policial.

Tenho que não assiste razão à impetrante.

1. Da contextualização da atuação da Polícia Militar:

Antes de adentrar no caso concreto, é de suma importância tratar sobre o dever


constitucional da Polícia Militar de preservar a ordem pública (art.144, § 5º, da CF/88) e da
obrigação legal do policial militar, no exercício do policiamento ostensivo, de agir em estado de
flagrância de crimes (art.301, do CPP). As premissas que circunscrevem tais preceitos (legal e
constitucional) precisam ser sopesadas na avaliação jurídica dos conceitos de “justa causa” e
“fundada suspeita”, quando for subsumir cada caso concreto ao sentido da lei e dos
precedentes persuasivos invocados, para que não haja uma inversão de papeis e dos

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valores jurídicos predominantes, tão pouco o fortalecimento das atividades criminosas,
confundindo-as com a essência do conceito de direitos individuais, em detrimento da supremacia
da segurança da coletividade e do interesse público.

A Polícia Militar, em todos os estados da federação, tem sua missão delineada na


Constituição Federal de 1988, nas constituições estaduais e em leis infraconstitucionais, as quais
demonstram, ainda que de forma abrangente, quais as atividades podem ser realizadas. De
saída, a Carta Magna desponta determinando, em seu bojo, que a competência da Polícia Militar
está insculpida no art. 144, V e § 5º:

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...]

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da


ordem pública; [...] (BRASIL, 1988). (Grifamos)

Quando a Constituição Federal informa que segurança pública “é dever do Estado” está
com isto a dizer que a segurança pública é um serviço público, não só porque pretende atender
aos interesses e às necessidades da coletividade, mas também porque é uma atividade prestada
pelo Estado, bem como em razão de ser uma tarefa exercida sob a égide das normas de direito
público.

Portanto, a Polícia Militar é a instituição de Estado que tem por dever constitucional a
preservação da ordem pública e a polícia ostensiva. Nos dizeres de Lazzarini[i]: “A preservação
abrange tanto a preservação quanto a restauração da ordem pública, no caso, pois seu objetivo é
defendê-la, resguardá-la, conservá-la íntegra, intacta, daí afirmar-se que a polícia de preservação
da ordem pública abrange as funções de polícia preventiva e uma parte da polícia judiciária
denominada de repressão imediata, pois é nela que ocorre a restauração da ordem pública.”

A Polícia Militar exerce funções amplas dentro da concepção de segurança pública, com a
finalidade precípua de ajustar à sociedade a proteção necessária e tanto almejada por ela,
proporcionando uma sossegada tranquilidade, despersuadindo qualquer atentado contra a
incolumidade das pessoas, com a presença frequente do policial fardado, na rua. Ainda versando
sobre o assunto, resta, no plano infraconstitucional, a observação do Decreto-Lei Federal n. 667,
de 2 de julho de 1969, com as alterações efetuadas pelos Decretos-Leis Federais de n. 1406, de
24 de junho de 1975, e 2010, de 12 de janeiro de 1983, que reorganizou as Polícias Militares, em
seu artigo 3º, letra a, determinando-lhe o policiamento geral:

Art. 3º - Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança


interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às
Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: a) executar
com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas,

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o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a
fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o
exercício dos poderes constituídos.

Além da imperiosa necessidade de observância do princípio da legalidade, em razão da sua


própria natureza de instituição pública do Estado, a Polícia Militar deve cumprimento ao princípio
da eficiência, a fim de concretizar seu mister constitucional de preservação da ordem pública.
Assim, via de regra, não pode a ação do policial militar ser considerada aleatória, desprovida de
critério e orientação técnica. Há de se presumir que os policiais militares, enquanto servidores
públicos, detém legitimidade, gozam de boa fé e possuem expertise para o cumprimento do seu
mister constitucional, em particular, nas abordagens de pessoas suspeitas da prática de crimes,
rotina diária da atividade policial.

A regra imposta aos policiais militares, em serviço, é de sempre primar pela supremacia do
interesse público, seguindo uma dinâmica de atuação pautada em dados de inteligência e planos
criteriosos, elaborados a partir de fatores sociais do dia a dia. Isso significa dizer que o policial
militar, no exercício de sua atividade-fim, em campo, além de dever obediência às regras técnicas
de atuação (abordagens/revistas, uso progressivo da força, etc) e às leis de proteção dos direitos
do cidadão, também tem a missão de prevenir (evitar que ocorra) e reprimir imediatamente
(restaurar a ordem) a ocorrência de atos ilícitos.

Nesse cenário de deveres e de regras de atuação, ao contrário do que se vem tentando


colocar como usual, os abusos existem e devem ser combatidos com base na legislação própria,
mas não podem servir de parâmetro a estimular uma visão conceitual distorcida de que as ações
policiais habituais (busca a pessoas, veículos, domicílios) não se lastreiam em conformidade com
a lei (art.240 e 244, do CPP).

Faz-se necessário uma visão sistemática de hermenêutica jurídica para compreender que a
concepção de “justa causa” e “fundada suspeita”, numa abordagem realizada por um policial
militar, no exercício do policiamento ostensivo, nas hipóteses do art.244, do CPP e nas situações
de flagrância de crime (art. 302, do CPP), não se atém unicamente ao comportamento do
suspeito ou a uma imprescindível prévia investigação (este papel é da polícia judiciária). Os
policiais militares se utilizam de técnicas e protocolos de emprego da força policial,
definidos em planos operacionais, para as prováveis situações do cotidiano, na rua,
baseados em fatores sociais vivenciados pela própria sociedade. Dentro do senso comum,
se sobressaem, por exemplo: (i) identificação de locais de maior incidência de atos ilícitos,
a partir de relatórios de ocorrências anteriores (“pontos quentes”) e dados de inteligência
policial; (ii) definição de locais e horários de maior probabilidade de ocorrência de
determinados crimes (corredores bancários, feiras, comércio, etc); (iii) identificação de
pontos de maior concentração e fluxo de pessoas (praças esportivas, escolas, rodoviárias,
entre outros); (iv)alocação de força extra em locais de eventos extraordinários (shows,
carnaval, festas de rua, etc); (v) pontos turísticos, (vi) várias outras situações da rotina
policial, que são previamente identificados, em razão da grande probabilidade de

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ocorrência de atos criminosos ou eventos de perturbação da ordem.

Em regra, a abordagem policial nos locais e situações acima destacados, no exercício do


dever constitucional de realizar o policiamento ostensivo e de preservar a ordem pública, está
acobertada pela justa causa e fundada suspeita, sendo a atitude do suspeito nessas
situações/locais, apenas mais um elemento a ser analisado nesse contexto indiciário, mas não o
único. Ou seja, é preciso ser levado em consideração pelo julgador, nas análises jurídicas e
julgamentos dos casos concretos, que o emprego da força policial militar segue premissas e
parâmetros objetivos para o fiel cumprimento do seu dever constitucional. Agora, claro, como
dito, os desvios de finalidade identificados no cenário real devem desqualificar a justa causa e a
fundada suspeita, além de permitirem que os infratores policiais sejam responsabilizados com os
rigores da lei.

É salutar realçar ainda, que diferentemente do cidadão comum, a lei exige/obriga a atuação do
policial militar nas hipóteses de flagrante delito, conforme se extrai do art.301, do CPP. Isto é,
não é permitido ao agente de segurança pública se omitir diante de uma situação de
flagrância, sob pena de ser responsabilizado penalmente (omissão, prevaricação, etc).
Portanto, tal condição especial imposta ao policial militar (art.301, do CPP) não pode ser
desprezada quando da análise e julgamento das situações previstas no art.244, do CPP). Enfim,
também é preciso que se faça uma análise teleológica e sistemática desses dispositivos legais,
contextualizando-o com as situações reais e o bom senso (razoabilidade), realçados pela norma
constitucional impositiva do dever estatal de preservar a ordem pública, para que se possa melhor
aferir a justa causa e a fundada suspeita na abordagem policial, em cada caso concreto,
sobretudo nas hipóteses de crimes permanentes, cuja situação de flagrância não se evidencia tão
somente pela atitude suspeita ou comportamento do infrator, mas por outras variáveis
ponderáveis (local do fato, horário, incidência de ocorrência, etc), já identificadas para fins de
emprego da força policial.

2. Do caso concreto:

Os policiais militares que realizaram o flagrante, disseram que no dia dos fatos, estavam
realizando rondas com abordagens nas proximidades do Posto Santa Rosa, quando avistaram a
paciente, na seguinte situação: ela estava no ponto de embarque/desembarque de transporte
alternativo para a cidade de São Bento do Una, quando atravessou a rua em direção ao
pátio do estacionamento, sem nenhum objeto nas mãos. Após alguns minutos, a paciente
retornou com uma sacola de papelão, momento em que foi feita a abordagem, sendo
encontrado no interior da sacola uma arma de fogo, munição e substância entorpecente
análoga a “crack”.

O motivo da irresignação da impetrante, seria a ilegalidade da busca pessoal realizada,


alegando que vai de encontro ao entendimento consolidado no STJ:

HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA

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LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A SER SUBMETIDO A
BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL RECONHECIDA
POR TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL.
Competência do STF para o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º
78.317. Termo que, sob pena de excesso de formalismo, não se pode ter
por
nulo por não registrar as declarações do paciente, nem conter sua
assinatura,
requisitos não exigidos em lei. A "fundada suspeita", prevista no art. 244 do
CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo
elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, em face do
constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa
natureza, que não se pode ter por configurados na alegação de que trajava,
o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma arma, sob risco de
referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e
caracterizadoras de abuso de poder. Habeas corpus deferido para
determinar-se o arquivamento do Termo. (STF - HC: 81305 GO, Relator:
ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento: 13/11/2001, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJ 22-02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306
RTJ VOL-00182-01 PP-00284) (grifos nossos)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM


FLAGRANTE. PROVA ILÍCITA. REVISTA PESSOAL E VEICULAR
REALIZADA POR GUARDA MUNICIPAL. SITUAÇÃO DE FLAGRÂNCIA.
NÃO OCORRÊNCIA. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA. ILEGALIDADE.
OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1.Considera-se ilícita a busca pessoal, domiciliar pessoal e veicular
executadas por guardas municipais sem a existência da necessária justa
causa para a efetivação da medida invasiva, nos termos do art. § 2º do art.
240 do CPP, bem como a prova derivada da busca pessoal. 2. Tendo a
busca pessoal ocorrido apenas com base em parâmetros subjetivos dos
agentes de segurança, sem a indicação de dado concreto sobre a existência
de justa causa para autorizar a medida invasiva, deve ser reconhecida
ilegalidade por ilicitude da prova, determinando-se o trancamento da ação
penal. 3. Recurso em habeas corpus provido para declarar ilegal a
apreensão e, consequentemente, determinar o trancamento da ação
penal.(STJ - RHC: 142588 PR 2021/0044341-6, Relator: Ministro OLINDO
MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Data
de Julgamento: 25/05/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
31/05/2021)

Sucede que, à luz da própria teoria dos precedentes, a aplicação de um precedente


persuasivo pressupõe, ao menos, similaridade fática. É dizer não basta apenas fazer incidir a tese
firmada por uma Corte Superior, é necessário que se verifique se os pressupostos fáticos que
ensejaram o reconhecimento da tese em abstrato são similares aos casos em que as instâncias
ordinárias estão a solucionar.

Nesse ponto, é importante mencionar que cabe, por disposição constitucional e legal, às
instâncias ordinárias assentarem os fatos controvertidos, uma vez que o Superior Tribunal de

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Justiça e o Supremo Tribunal Federal como tribunais de superposição cuidam apenas da
discussão jurídica incidente sobre esses fatos, os quais, repita-se, são firmados pelas Cortes de
Segundo grau e Juízes de primeira instância.

No tocante às condições legais para a busca pessoal, as razões para a observância deles,
de acordo com o próprio STJ, são:

a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição


desnecessária e abusiva dos direitos fundamentais à intimidade, à
privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constituição), porquanto,
além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora – mesmo se
realizada com urbanidade, o que infelizmente nem sempre ocorre –, também
implica a detenção do indivíduo, ainda que por breves instantes;

b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa


ser contrastada e questionada pelas partes, quanto ter sua validade
controlada a posteriori por um terceiro imparcial (Poder Judiciário), o que se
inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos,
intangíveis e não demonstráveis;

c) evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que


reproduzem preconceitos estruturais arraigados na sociedade, como é o
caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo estrutural. STJ. 6ª
Turma. RHC 158580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
19/04/2022 (Info 735).

No caso concreto, conforme acima destacado, a busca pessoal não se baseou apenas em
uma abordagem rotineira, despropositada, de forma imotivada/aleatória, como tenta fazer crer a
impetrante.

Os policiais estavam realizando o patrulhamento num ponto de grande circulação de


pessoas (ponto de transporte alternativo) e de histórico de provável ocorrência de transporte de
coisas ilícitas, quando avistaram a paciente, a qual, em um momento inicial estava sem nada nas
mãos no referido ponto, e instantes depois se deslocou para local próximo (um estacionamento),
retornando com uma sacola de papelão nas mãos, com um volume que chamou a atenção dos
policiais.

A abordagem realizada diante de todas essas circunstâncias fáticas não foi arbitrária,
porquanto derivada da própria atitude externada pela paciente naquela oportunidade, sendo a
ação dos policiais lícita, fundada na incomum forma de agir, no histórico daquele local e no
protocolo da polícia militar, que deriva de estudo prévio para identificar pontos de maior incidência
de crimes. Tudo isso deve ser levado em conta na identificação da “fundada suspeita”.

Percebe-se que a Polícia Militar, no caso concreto, não se dirigiu e abordou açodadamente
a paciente, sem qualquer justificativa. Somente após a conduta praticada pela ré, que foi para um
determinado local de mãos vazias e voltou ao ponto de transporte público portando sacola de
papelão contendo algo que chamou a atenção do policiamento, somada as demais circunstâncias
que justificaram a presença da Polícia Militar naquele local, foi que houve efetivamente a atuação

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da polícia ostensiva.

É cediço que o conceito de fundada suspeita é genérico, sendo importante analisar alguns
aspectos para identificação de uma pessoa em atitude que a caracterize.

Fazendo uma análise da atitude esboçada pela paciente – sair do local que estava em
direção a um estacionamento e retornar com uma sacola de papelão; o local em que se
encontrava (ponto de embarque/desembarque de transporte alternativo, considerado lugar
comum e propício para crime de tráfico de drogas e até de pessoas ou transporte de coisas
ilícitas), associado ao protocolo dos policiais em serviço, no sentido de patrulhar os locais de
maior incidência criminal da cidade. Todos esses fatores, atendem prontamente a fundada
suspeita (justa causa) para a abordagem policial.

Importante mencionar que na decisão que homologou o flagrante e converteu a prisão em


preventiva (id. 132613314), o juiz plantonista mencionou a existência de ações penais anteriores
por crimes da mesma espécie (tráfico de drogas) em desfavor da paciente, o que também veio a
dar respaldo a atuação dos policiais, ratificando que o protocolo de realização de patrulhamento
nesse local tinha razoabilidade e estava pautado em estudo prévio. Não se trata de uma atuação
aleatória, tanto que logrou êxito em identificar uma situação de flagrância, que exigiu a ação
policial, por ser obrigatória nesses casos (art.301, do CPP).

O Código de Processo Penal em seu art. 244, dispõe sobre a busca pessoal:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou


quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de
arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito,
ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

A alegada ausência de fundada suspeita não prospera, tanto que da diligência pessoal
encetada, a partir dos fatores fáticos já ressaltados acima, que conceberam a fundada suspeita,
sobreveio a localização da arma de fogo e das substâncias entorpecentes de posse da paciente.
O caso concreto se coaduna com posição também defendida pelo STJ em outros precedentes:

Para a busca pessoal ou veicular sem mandado judicial exige-se, em


termos de standard probatório, a existência de fundada suspeita (justa
causa) baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada
pelos indícios e circunstâncias do caso concreto – de que o indivíduo
esteja na posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar
a diligência.

STJ. 6ª Turma. RHC 158.580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 19/04/2022 (Info 735).

TURMA, Data de Publicação: DJe 19/09/2022)

Corroborando o entendimento aqui esposado:

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. BUSCA PESSOAL. FUNDADAS
RAZÕES. INTELIGÊNCIA POLICIAL. ATITUDE SUSPEITA DO AGENTE.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 244 do CPP, a busca pessoal
independerá de mandado quando houver prisão ou fundada suspeita de que
a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou ainda quando a medida for determinada no
curso de busca domiciliar. 2. A busca pessoal é legítima se amparada em
fundadas razões, se devidamente justificada pelas circunstâncias do
caso concreto. 3. Em recurso especial, a análise da tese defensiva em toda
a sua extensão fica inviabilizada se há necessidade de revolvimento de
matéria fático-probatória, procedimento vedado pela Súmula n. 7 do STJ. 4.
Agravo regimental desprovido.

(STJ - AgRg no AREsp: 2093117 SC 2022/0084525-7, Data de Julgamento:


21/06/2022, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/06/2022)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS E PORTE ILEGAL DE ARMA DE USO
PERMITIDO. NULIDADE. BUSCA PESSOAL. INEXISTÊNCIA. FUNDADAS
SUSPEITAS PARA A ABORDAGEM. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
1. "Exige-se, em termos de standard probatório para busca pessoal ou
veicular sem mandado judicial, a existência de fundada suspeita (justa
causa) - baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada pelos
indícios e circunstâncias do caso concreto - de que o indivíduo esteja na
posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar a diligência."
(RHC n. 158.580/BA, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 19/4/2022, DJe 25/4/2022.) 2. No caso em tela, a
abordagem foi realizada em razão da presença de fundadas suspeitas,
porquanto um dos pacientes se evadiu do local ao avistar a viatura policial e,
após buscas no perímetro, ambos os pacientes foram localizados
escondidos entre os arbustos, circunstâncias que configuraram justa causa
para a realização das buscas pessoais - que resultaram na apreensão de
25g (vinte e cinco gramas) de crack, 97g (noventa e sete gramas) de
maconha, um revólver calibre 32, com 3 munições e um revólver calibre 38,
com 3 munições -, estando hígidas, portanto, as provas produzidas. 3.
Agravo regimental provido para reconhecer a legalidade das buscas
pessoais realizadas.

(STJ - AgRg no HC: 734704 AL 2022/0102858-0, Data de Julgamento:


14/02/2023, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/02/2023)

PENAL E PROCESSO PENAL. TRÁFICO. BUSCA DOMICILIAR.


PRESENÇA DE JUSTA CAUSA. DISPENSA DE OBJETO NO CHÃO.
FUGA IMOTIVADA AO AVISTAR A APROXIMAÇÃO POLICIAL. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. NÃO
CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Verifica-se
fundadas razões para o ingresso no domicílio do paciente uma vez que este,

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ao notar a aproximação policial, dispensou objeto que trazia consigo -
identificado como uma porção de maconha e R$ 208,00 - e pôs-se, de forma
imotivada, em situação de fuga, sendo posteriormente localizado em sua
residência em situação de flagrância, o que afasta a ilicitude das provas. 2.
O decreto de prisão preventiva encerra fundamentação idônea ao destacar a
existência de indício suficiente de autoria do delito pelo paciente e a
apreensão de quantidade significativa de entorpecentes, posto que o
paciente guardava um tijolo de maconha (788,94g), outra porção de
maconha (9,54g), além de embalagens, balança, bloco de anotação e a
importância total de R$ 5.498,00, a revelar a prática da mercancia ilícita. 3.
As circunstâncias que envolvem o fato demonstram que outras medidas
previstas no art. 319 do Código de Processo Penal são insuficientes para a
consecução do efeito almejado, ou seja, tendo sido exposta de forma
fundamentada e concreta a necessidade da prisão, revela-se incabível sua
substituição por outras medidas cautelares mais brandas. 4. Agravo
regimental improvido.

(STJ - AgRg no HC: 829085 SP 2023/0193613-9, Relator: REYNALDO


SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 27/06/2023, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2023)

As circunstâncias do caso concreto justificaram, de forma objetiva, a abordagem


consistente na busca pessoal, sendo devidamente legítima, não havendo que se falar em
nulidade, ou que a Polícia Militar se dirigiu à paciente em razão de mera atitude suspeita.

Assim, conforme exaustivamente explanado, a ação policial foi legal, legítima, não havendo
qualquer mácula à prisão em flagrante da paciente, por constrangimento ilegal, tampouco ao
decreto preventivo, que foi devidamente fundamentado pelo juízo a quo.

3. Da conclusão:

Desta feita, com a fundamentação acima esposada, divirjo do relator, votando pela não
concessão da ordem de Habeas Corpus.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Paulo Augusto de Freitas Oliveira.

Desembargador.

P04

(LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos
[i]
Tribunais, 2003.)

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Ementa:

HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS.
BUSCA PESSOAL. INEXISTÊNCIA DE FUNDADAS SUSPEITAS. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. ATUAÇÃO
LEGÍTIMA DA POLÍCIA OSTENSIVA. ABORDAGEM DEVIDAMENTE JUSTIFICADA. ORDEM DENEGADA. DECISÃO
UNÂNIME.

1.Faz-se necessário uma visão sistemática de hermenêutica jurídica para compreender que a
concepção de “justa causa” e “fundada suspeita”, numa abordagem realizada por um policial
militar, no exercício do policiamento ostensivo, nas hipóteses do art.244, do CPP e nas situações
de flagrância de crime (art. 302, do CPP), não se atém unicamente ao comportamento do
suspeito ou a uma imprescindível prévia investigação (este papel é da polícia judiciária). Os
policiais militares se utilizam de técnicas e protocolos de emprego da força policial, definidos em
planos operacionais, para as prováveis situações do cotidiano, na rua, baseados em fatores
sociais vivenciados pela própria sociedade. Dentro do senso comum, se sobressaem, por
exemplo: (i) identificação de locais de maior incidência de atos ilícitos, a partir de relatórios de
ocorrências anteriores (“pontos quentes”) e dados de inteligência policial; (ii) definição de locais e
horários de maior probabilidade de ocorrência de determinados crimes (corredores bancários,
feiras, comércio, etc); (iii) identificação de pontos de maior concentração e fluxo de pessoas
(praças esportivas, escolas, rodoviárias, entre outros); (iv)alocação de força extra em locais de
eventos extraordinários (shows, carnaval, festas de rua, etc); (v) pontos turísticos, (vi) várias
outras situações da rotina policial, que são previamente identificados, em razão da grande
probabilidade de ocorrência de atos criminosos ou eventos de perturbação da ordem. Em regra, a
abordagem policial nos locais e situações acima destacados, no exercício do dever constitucional
de realizar o policiamento ostensivo e de preservar a ordem pública, está acobertada pela justa
causa e fundada suspeita, sendo a atitude do suspeito nessas situações/locais, apenas mais um
elemento a ser analisado nesse contexto indiciário, mas não o único. Ou seja, é preciso ser
levado em consideração pelo julgador, nas análises jurídicas e julgamentos dos casos concretos,
que o emprego da força policial militar segue premissas e parâmetros objetivos para o fiel

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cumprimento do seu dever constitucional. Agora, claro, como dito, os desvios de finalidade
identificados no cenário real devem desqualificar a justa causa e a fundada suspeita, além de
permitirem que os infratores policiais sejam responsabilizados com os rigores da lei.;

2. É salutar realçar ainda, que diferentemente do cidadão comum, a lei exige/obriga a atuação do
policial militar nas hipóteses de flagrante delito, conforme se extrai do art.301, do CPP. Isto é, não
é permitido ao agente de segurança pública se omitir diante de uma situação de flagrância, sob
pena de ser responsabilizado penalmente (omissão, prevaricação, etc). Portanto, tal condição
especial imposta ao policial militar (art.301, do CPP) não pode ser desprezada quando da análise
e julgamento das situações previstas no art.244, do CPP);

3. No caso concreto, a busca pessoal não se baseou apenas em uma abordagem rotineira,
despropositada, de forma imotivada/aleatória, como tenta fazer crer o impetrante. Os policiais
estavam realizando o patrulhamento num ponto de grande circulação de pessoas (ponto de
transporte alternativo) e de histórico de provável ocorrência de transporte de coisas ilícitas,
quando avistaram a paciente, a qual, em um momento inicial estava sem nada nas mãos no
referido ponto, e instantes depois se deslocou para local próximo (um estacionamento),
retornando com uma sacola de papelão nas mãos, com um volume que chamou a atenção dos
policiais. A abordagem realizada diante de todas essas circunstâncias fáticas não foi arbitrária,
porquanto derivada da própria atitude externada pela paciente naquela oportunidade, sendo a
ação dos policiais lícita, fundada na incomum forma de agir, no histórico daquele local e no
protocolo da polícia militar, que deriva de estudo prévio para identificar pontos de maior incidência
de crimes. Tudo isso deve ser levado em conta na identificação da “fundada suspeita”;

4. Fazendo uma análise da atitude esboçada pela paciente – sair do local que estava em direção
a um estacionamento e retornar com uma sacola de papelão; o local em que se encontrava
(ponto de embarque/desembarque de transporte alternativo, considerado lugar comum e propício
para crime de tráfico de drogas e até de pessoas ou transporte de coisas ilícitas), associado ao
protocolo dos policiais em serviço, no sentido de patrulhar os locais de maior incidência criminal
da cidade. Todos esses fatores, atendem prontamente a fundada suspeita (justa causa) para a
abordagem policial. As circunstâncias do caso concreto justificaram, de forma objetiva, a
abordagem consistente na busca pessoal, sendo devidamente legítima, não havendo que se falar
em nulidade, ou que a Polícia Militar se dirigiu à paciente em razão de mera atitude suspeita

5. Ordem denegada. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos nestes autos, em que figuram como partes as acima referidas, acordam, por unanimidade
de votos, os Desembargadores componentes da 2ª Turma da Primeira Câmara Regional de Caruaru do Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco, em DENEGAR A ORDEM, na conformidade do relatório e votos anexos, que fazem
parte do presente julgado.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

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Proclamação da decisão:

A Turma, à unanimidade, denegou a ordem de Habeas-Corpus, nos termos do voto vista do


Desembargador Paulo Augusto, ao qual anuiu integralmente a relatoria.

Magistrados: [EVIO MARQUES DA SILVA, HONORIO GOMES DO REGO FILHO, PAULO


AUGUSTO DE FREITAS OLIVEIRA]

CARUARU, 6 de julho de 2023

Magistrado

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1ª CÂMARA REGIONAL DE CARUARU – 2ª TURMA
Habeas Corpus nº 0001229-25.2023.8.17.9480
Impetrante: Defensoria Pública de Pernambuco
Paciente: Rosicleide Lucena
Autoridade coatora: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia – Garanhuns
Procurador de Justiça: Ana Maria do Amaral Marinho
Relator: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

VOTO VISTA.

Trata-se de Habeas Corpus interposto pela Defensoria Pública de Pernambuco, em favor


de Rosicleide Lucena, alegando constrangimento ilegal à liberdade diante de suposta nulidade
na busca pessoal realizada por policiais militares, por ocasião da prisão em flagrante delito da
mencionada paciente, pela prática de tráfico de drogas (art.33, da Lei nº 11.343/2006) e porte
ilegal de arma de fogo (art.14, da Lei nº 10826/2003), vez que desamparada de qualquer
elemento concreto capaz de legitimar a justa causa exigida para tal abordagem, indo, assim, de
encontro ao entendimento consolidado na Jurisprudência.

O Relator do processo, Des. Substituto Evanildo Coelho de Araújo Filho, apresentou voto
no sentido de conceder a ordem, entendendo pela nulidade da prisão em flagrante, e ainda, que a
atitude suspeita decorrente da percepção subjetiva dos policiais não é suficiente para autorizar a
busca realizada na paciente.

Em razão da discussão acerca da legalidade do procedimento de abordagem em questão,


resolvi, na sessão do dia 21/06/2023, pedir vista dos autos para uma melhor análise jurídica do
caso concreto.

Trago-os agora.

Após detida análise dos fundamentos utilizados pelo eminente Relator, bem como em atenção
aos fatos contidos nos autos, peço vênia para divergir de Sua Excelência.

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Fundamento.

A impetrante alega constrangimento ilegal devido à nulidade da abordagem pessoal.


Argumenta que a busca foi realizada sem qualquer indício concreto de que a paciente estivesse
portando substância entorpecente ilegalmente, sendo fundamentada apenas na suposta "atitude
suspeita". Isso, segundo defende, não configuraria justa causa exigida pela lei e jurisprudência
dominantes para viabilizar a abordagem policial.

Tenho que não assiste razão à impetrante.

1. Da contextualização da atuação da Polícia Militar:

Antes de adentrar no caso concreto, é de suma importância tratar sobre o dever


constitucional da Polícia Militar de preservar a ordem pública (art.144, § 5º, da CF/88) e da
obrigação legal do policial militar, no exercício do policiamento ostensivo, de agir em estado de
flagrância de crimes (art.301, do CPP). As premissas que circunscrevem tais preceitos (legal e
constitucional) precisam ser sopesadas na avaliação jurídica dos conceitos de “justa causa” e
“fundada suspeita”, quando for subsumir cada caso concreto ao sentido da lei e dos
precedentes persuasivos invocados, para que não haja uma inversão de papeis e dos
valores jurídicos predominantes, tão pouco o fortalecimento das atividades criminosas,
confundindo-as com a essência do conceito de direitos individuais, em detrimento da supremacia
da segurança da coletividade e do interesse público.

A Polícia Militar, em todos os estados da federação, tem sua missão delineada na


Constituição Federal de 1988, nas constituições estaduais e em leis infraconstitucionais, as quais
demonstram, ainda que de forma abrangente, quais as atividades podem ser realizadas. De
saída, a Carta Magna desponta determinando, em seu bojo, que a competência da Polícia Militar
está insculpida no art. 144, V e § 5º:

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...]

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da


ordem pública; [...] (BRASIL, 1988). (Grifamos)

Quando a Constituição Federal informa que segurança pública “é dever do Estado” está
com isto a dizer que a segurança pública é um serviço público, não só porque pretende atender
aos interesses e às necessidades da coletividade, mas também porque é uma atividade prestada
pelo Estado, bem como em razão de ser uma tarefa exercida sob a égide das normas de direito
público.

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Portanto, a Polícia Militar é a instituição de Estado que tem por dever constitucional a
preservação da ordem pública e a polícia ostensiva. Nos dizeres de Lazzarini[i]: “A preservação
abrange tanto a preservação quanto a restauração da ordem pública, no caso, pois seu objetivo é
defendê-la, resguardá-la, conservá-la íntegra, intacta, daí afirmar-se que a polícia de preservação
da ordem pública abrange as funções de polícia preventiva e uma parte da polícia judiciária
denominada de repressão imediata, pois é nela que ocorre a restauração da ordem pública.”

A Polícia Militar exerce funções amplas dentro da concepção de segurança pública, com a
finalidade precípua de ajustar à sociedade a proteção necessária e tanto almejada por ela,
proporcionando uma sossegada tranquilidade, despersuadindo qualquer atentado contra a
incolumidade das pessoas, com a presença frequente do policial fardado, na rua. Ainda versando
sobre o assunto, resta, no plano infraconstitucional, a observação do Decreto-Lei Federal n. 667,
de 2 de julho de 1969, com as alterações efetuadas pelos Decretos-Leis Federais de n. 1406, de
24 de junho de 1975, e 2010, de 12 de janeiro de 1983, que reorganizou as Polícias Militares, em
seu artigo 3º, letra a, determinando-lhe o policiamento geral:

Art. 3º - Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança


interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às
Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: a) executar
com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas,
o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a
fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o
exercício dos poderes constituídos.

Além da imperiosa necessidade de observância do princípio da legalidade, em razão da sua


própria natureza de instituição pública do Estado, a Polícia Militar deve cumprimento ao princípio
da eficiência, a fim de concretizar seu mister constitucional de preservação da ordem pública.
Assim, via de regra, não pode a ação do policial militar ser considerada aleatória, desprovida de
critério e orientação técnica. Há de se presumir que os policiais militares, enquanto servidores
públicos, detém legitimidade, gozam de boa fé e possuem expertise para o cumprimento do seu
mister constitucional, em particular, nas abordagens de pessoas suspeitas da prática de crimes,
rotina diária da atividade policial.

A regra imposta aos policiais militares, em serviço, é de sempre primar pela supremacia do
interesse público, seguindo uma dinâmica de atuação pautada em dados de inteligência e planos
criteriosos, elaborados a partir de fatores sociais do dia a dia. Isso significa dizer que o policial
militar, no exercício de sua atividade-fim, em campo, além de dever obediência às regras técnicas
de atuação (abordagens/revistas, uso progressivo da força, etc) e às leis de proteção dos direitos
do cidadão, também tem a missão de prevenir (evitar que ocorra) e reprimir imediatamente
(restaurar a ordem) a ocorrência de atos ilícitos.

Nesse cenário de deveres e de regras de atuação, ao contrário do que se vem tentando


colocar como usual, os abusos existem e devem ser combatidos com base na legislação própria,
mas não podem servir de parâmetro a estimular uma visão conceitual distorcida de que as ações

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policiais habituais (busca a pessoas, veículos, domicílios) não se lastreiam em conformidade com
a lei (art.240 e 244, do CPP).

Faz-se necessário uma visão sistemática de hermenêutica jurídica para compreender que a
concepção de “justa causa” e “fundada suspeita”, numa abordagem realizada por um policial
militar, no exercício do policiamento ostensivo, nas hipóteses do art.244, do CPP e nas situações
de flagrância de crime (art. 302, do CPP), não se atém unicamente ao comportamento do
suspeito ou a uma imprescindível prévia investigação (este papel é da polícia judiciária). Os
policiais militares se utilizam de técnicas e protocolos de emprego da força policial,
definidos em planos operacionais, para as prováveis situações do cotidiano, na rua,
baseados em fatores sociais vivenciados pela própria sociedade. Dentro do senso comum,
se sobressaem, por exemplo: (i) identificação de locais de maior incidência de atos ilícitos,
a partir de relatórios de ocorrências anteriores (“pontos quentes”) e dados de inteligência
policial; (ii) definição de locais e horários de maior probabilidade de ocorrência de
determinados crimes (corredores bancários, feiras, comércio, etc); (iii) identificação de
pontos de maior concentração e fluxo de pessoas (praças esportivas, escolas, rodoviárias,
entre outros); (iv)alocação de força extra em locais de eventos extraordinários (shows,
carnaval, festas de rua, etc); (v) pontos turísticos, (vi) várias outras situações da rotina
policial, que são previamente identificados, em razão da grande probabilidade de
ocorrência de atos criminosos ou eventos de perturbação da ordem.

Em regra, a abordagem policial nos locais e situações acima destacados, no exercício do


dever constitucional de realizar o policiamento ostensivo e de preservar a ordem pública, está
acobertada pela justa causa e fundada suspeita, sendo a atitude do suspeito nessas
situações/locais, apenas mais um elemento a ser analisado nesse contexto indiciário, mas não o
único. Ou seja, é preciso ser levado em consideração pelo julgador, nas análises jurídicas e
julgamentos dos casos concretos, que o emprego da força policial militar segue premissas e
parâmetros objetivos para o fiel cumprimento do seu dever constitucional. Agora, claro, como
dito, os desvios de finalidade identificados no cenário real devem desqualificar a justa causa e a
fundada suspeita, além de permitirem que os infratores policiais sejam responsabilizados com os
rigores da lei.

É salutar realçar ainda, que diferentemente do cidadão comum, a lei exige/obriga a atuação do
policial militar nas hipóteses de flagrante delito, conforme se extrai do art.301, do CPP. Isto é,
não é permitido ao agente de segurança pública se omitir diante de uma situação de
flagrância, sob pena de ser responsabilizado penalmente (omissão, prevaricação, etc).
Portanto, tal condição especial imposta ao policial militar (art.301, do CPP) não pode ser
desprezada quando da análise e julgamento das situações previstas no art.244, do CPP). Enfim,
também é preciso que se faça uma análise teleológica e sistemática desses dispositivos legais,
contextualizando-o com as situações reais e o bom senso (razoabilidade), realçados pela norma
constitucional impositiva do dever estatal de preservar a ordem pública, para que se possa melhor
aferir a justa causa e a fundada suspeita na abordagem policial, em cada caso concreto,
sobretudo nas hipóteses de crimes permanentes, cuja situação de flagrância não se evidencia tão

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somente pela atitude suspeita ou comportamento do infrator, mas por outras variáveis
ponderáveis (local do fato, horário, incidência de ocorrência, etc), já identificadas para fins de
emprego da força policial.

2. Do caso concreto:

Os policiais militares que realizaram o flagrante, disseram que no dia dos fatos, estavam
realizando rondas com abordagens nas proximidades do Posto Santa Rosa, quando avistaram a
paciente, na seguinte situação: ela estava no ponto de embarque/desembarque de transporte
alternativo para a cidade de São Bento do Una, quando atravessou a rua em direção ao
pátio do estacionamento, sem nenhum objeto nas mãos. Após alguns minutos, a paciente
retornou com uma sacola de papelão, momento em que foi feita a abordagem, sendo
encontrado no interior da sacola uma arma de fogo, munição e substância entorpecente
análoga a “crack”.

O motivo da irresignação da impetrante, seria a ilegalidade da busca pessoal realizada,


alegando que vai de encontro ao entendimento consolidado no STJ:

HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA


LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A SER SUBMETIDO A
BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL RECONHECIDA
POR TURMA RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL.
Competência do STF para o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º
78.317. Termo que, sob pena de excesso de formalismo, não se pode ter
por
nulo por não registrar as declarações do paciente, nem conter sua
assinatura,
requisitos não exigidos em lei. A "fundada suspeita", prevista no art. 244 do
CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo
elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, em face do
constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa
natureza, que não se pode ter por configurados na alegação de que trajava,
o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma arma, sob risco de
referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e
caracterizadoras de abuso de poder. Habeas corpus deferido para
determinar-se o arquivamento do Termo. (STF - HC: 81305 GO, Relator:
ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento: 13/11/2001, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJ 22-02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306
RTJ VOL-00182-01 PP-00284) (grifos nossos)

RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO EM


FLAGRANTE. PROVA ILÍCITA. REVISTA PESSOAL E VEICULAR
REALIZADA POR GUARDA MUNICIPAL. SITUAÇÃO DE FLAGRÂNCIA.
NÃO OCORRÊNCIA. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA. ILEGALIDADE.
OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1.Considera-se ilícita a busca pessoal, domiciliar pessoal e veicular
executadas por guardas municipais sem a existência da necessária justa
causa para a efetivação da medida invasiva, nos termos do art. § 2º do art.

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240 do CPP, bem como a prova derivada da busca pessoal. 2. Tendo a
busca pessoal ocorrido apenas com base em parâmetros subjetivos dos
agentes de segurança, sem a indicação de dado concreto sobre a existência
de justa causa para autorizar a medida invasiva, deve ser reconhecida
ilegalidade por ilicitude da prova, determinando-se o trancamento da ação
penal. 3. Recurso em habeas corpus provido para declarar ilegal a
apreensão e, consequentemente, determinar o trancamento da ação
penal.(STJ - RHC: 142588 PR 2021/0044341-6, Relator: Ministro OLINDO
MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Data
de Julgamento: 25/05/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
31/05/2021)

Sucede que, à luz da própria teoria dos precedentes, a aplicação de um precedente


persuasivo pressupõe, ao menos, similaridade fática. É dizer não basta apenas fazer incidir a tese
firmada por uma Corte Superior, é necessário que se verifique se os pressupostos fáticos que
ensejaram o reconhecimento da tese em abstrato são similares aos casos em que as instâncias
ordinárias estão a solucionar.

Nesse ponto, é importante mencionar que cabe, por disposição constitucional e legal, às
instâncias ordinárias assentarem os fatos controvertidos, uma vez que o Superior Tribunal de
Justiça e o Supremo Tribunal Federal como tribunais de superposição cuidam apenas da
discussão jurídica incidente sobre esses fatos, os quais, repita-se, são firmados pelas Cortes de
Segundo grau e Juízes de primeira instância.

No tocante às condições legais para a busca pessoal, as razões para a observância deles,
de acordo com o próprio STJ, são:

a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição


desnecessária e abusiva dos direitos fundamentais à intimidade, à
privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constituição), porquanto,
além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora – mesmo se
realizada com urbanidade, o que infelizmente nem sempre ocorre –, também
implica a detenção do indivíduo, ainda que por breves instantes;

b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa


ser contrastada e questionada pelas partes, quanto ter sua validade
controlada a posteriori por um terceiro imparcial (Poder Judiciário), o que se
inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos,
intangíveis e não demonstráveis;

c) evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que


reproduzem preconceitos estruturais arraigados na sociedade, como é o
caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo estrutural. STJ. 6ª
Turma. RHC 158580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
19/04/2022 (Info 735).

No caso concreto, conforme acima destacado, a busca pessoal não se baseou apenas em
uma abordagem rotineira, despropositada, de forma imotivada/aleatória, como tenta fazer crer a

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impetrante.

Os policiais estavam realizando o patrulhamento num ponto de grande circulação de


pessoas (ponto de transporte alternativo) e de histórico de provável ocorrência de transporte de
coisas ilícitas, quando avistaram a paciente, a qual, em um momento inicial estava sem nada nas
mãos no referido ponto, e instantes depois se deslocou para local próximo (um estacionamento),
retornando com uma sacola de papelão nas mãos, com um volume que chamou a atenção dos
policiais.

A abordagem realizada diante de todas essas circunstâncias fáticas não foi arbitrária,
porquanto derivada da própria atitude externada pela paciente naquela oportunidade, sendo a
ação dos policiais lícita, fundada na incomum forma de agir, no histórico daquele local e no
protocolo da polícia militar, que deriva de estudo prévio para identificar pontos de maior incidência
de crimes. Tudo isso deve ser levado em conta na identificação da “fundada suspeita”.

Percebe-se que a Polícia Militar, no caso concreto, não se dirigiu e abordou açodadamente
a paciente, sem qualquer justificativa. Somente após a conduta praticada pela ré, que foi para um
determinado local de mãos vazias e voltou ao ponto de transporte público portando sacola de
papelão contendo algo que chamou a atenção do policiamento, somada as demais circunstâncias
que justificaram a presença da Polícia Militar naquele local, foi que houve efetivamente a atuação
da polícia ostensiva.

É cediço que o conceito de fundada suspeita é genérico, sendo importante analisar alguns
aspectos para identificação de uma pessoa em atitude que a caracterize.

Fazendo uma análise da atitude esboçada pela paciente – sair do local que estava em
direção a um estacionamento e retornar com uma sacola de papelão; o local em que se
encontrava (ponto de embarque/desembarque de transporte alternativo, considerado lugar
comum e propício para crime de tráfico de drogas e até de pessoas ou transporte de coisas
ilícitas), associado ao protocolo dos policiais em serviço, no sentido de patrulhar os locais de
maior incidência criminal da cidade. Todos esses fatores, atendem prontamente a fundada
suspeita (justa causa) para a abordagem policial.

Importante mencionar que na decisão que homologou o flagrante e converteu a prisão em


preventiva (id. 132613314), o juiz plantonista mencionou a existência de ações penais anteriores
por crimes da mesma espécie (tráfico de drogas) em desfavor da paciente, o que também veio a
dar respaldo a atuação dos policiais, ratificando que o protocolo de realização de patrulhamento
nesse local tinha razoabilidade e estava pautado em estudo prévio. Não se trata de uma atuação
aleatória, tanto que logrou êxito em identificar uma situação de flagrância, que exigiu a ação
policial, por ser obrigatória nesses casos (art.301, do CPP).

O Código de Processo Penal em seu art. 244, dispõe sobre a busca pessoal:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou


quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de

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https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070614342489000000027993847
Número do documento: 23070614342489000000027993847
arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito,
ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar.

A alegada ausência de fundada suspeita não prospera, tanto que da diligência pessoal
encetada, a partir dos fatores fáticos já ressaltados acima, que conceberam a fundada suspeita,
sobreveio a localização da arma de fogo e das substâncias entorpecentes de posse da paciente.
O caso concreto se coaduna com posição também defendida pelo STJ em outros precedentes:

Para a busca pessoal ou veicular sem mandado judicial exige-se, em


termos de standard probatório, a existência de fundada suspeita (justa
causa) baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada
pelos indícios e circunstâncias do caso concreto – de que o indivíduo
esteja na posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar
a diligência.

STJ. 6ª Turma. RHC 158.580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 19/04/2022 (Info 735).

TURMA, Data de Publicação: DJe 19/09/2022)

Corroborando o entendimento aqui esposado:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. BUSCA PESSOAL. FUNDADAS
RAZÕES. INTELIGÊNCIA POLICIAL. ATITUDE SUSPEITA DO AGENTE.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 244 do CPP, a busca pessoal
independerá de mandado quando houver prisão ou fundada suspeita de que
a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, ou ainda quando a medida for determinada no
curso de busca domiciliar. 2. A busca pessoal é legítima se amparada em
fundadas razões, se devidamente justificada pelas circunstâncias do
caso concreto. 3. Em recurso especial, a análise da tese defensiva em toda
a sua extensão fica inviabilizada se há necessidade de revolvimento de
matéria fático-probatória, procedimento vedado pela Súmula n. 7 do STJ. 4.
Agravo regimental desprovido.

(STJ - AgRg no AREsp: 2093117 SC 2022/0084525-7, Data de Julgamento:


21/06/2022, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/06/2022)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.


TRÁFICO DE DROGAS E PORTE ILEGAL DE ARMA DE USO
PERMITIDO. NULIDADE. BUSCA PESSOAL. INEXISTÊNCIA. FUNDADAS
SUSPEITAS PARA A ABORDAGEM. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO.
1. "Exige-se, em termos de standard probatório para busca pessoal ou
veicular sem mandado judicial, a existência de fundada suspeita (justa
causa) - baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada pelos
indícios e circunstâncias do caso concreto - de que o indivíduo esteja na
posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar a diligência."

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Número do documento: 23070614342489000000027993847
(RHC n. 158.580/BA, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 19/4/2022, DJe 25/4/2022.) 2. No caso em tela, a
abordagem foi realizada em razão da presença de fundadas suspeitas,
porquanto um dos pacientes se evadiu do local ao avistar a viatura policial e,
após buscas no perímetro, ambos os pacientes foram localizados
escondidos entre os arbustos, circunstâncias que configuraram justa causa
para a realização das buscas pessoais - que resultaram na apreensão de
25g (vinte e cinco gramas) de crack, 97g (noventa e sete gramas) de
maconha, um revólver calibre 32, com 3 munições e um revólver calibre 38,
com 3 munições -, estando hígidas, portanto, as provas produzidas. 3.
Agravo regimental provido para reconhecer a legalidade das buscas
pessoais realizadas.

(STJ - AgRg no HC: 734704 AL 2022/0102858-0, Data de Julgamento:


14/02/2023, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/02/2023)

PENAL E PROCESSO PENAL. TRÁFICO. BUSCA DOMICILIAR.


PRESENÇA DE JUSTA CAUSA. DISPENSA DE OBJETO NO CHÃO.
FUGA IMOTIVADA AO AVISTAR A APROXIMAÇÃO POLICIAL. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS. NÃO
CABIMENTO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Verifica-se
fundadas razões para o ingresso no domicílio do paciente uma vez que este,
ao notar a aproximação policial, dispensou objeto que trazia consigo -
identificado como uma porção de maconha e R$ 208,00 - e pôs-se, de forma
imotivada, em situação de fuga, sendo posteriormente localizado em sua
residência em situação de flagrância, o que afasta a ilicitude das provas. 2.
O decreto de prisão preventiva encerra fundamentação idônea ao destacar a
existência de indício suficiente de autoria do delito pelo paciente e a
apreensão de quantidade significativa de entorpecentes, posto que o
paciente guardava um tijolo de maconha (788,94g), outra porção de
maconha (9,54g), além de embalagens, balança, bloco de anotação e a
importância total de R$ 5.498,00, a revelar a prática da mercancia ilícita. 3.
As circunstâncias que envolvem o fato demonstram que outras medidas
previstas no art. 319 do Código de Processo Penal são insuficientes para a
consecução do efeito almejado, ou seja, tendo sido exposta de forma
fundamentada e concreta a necessidade da prisão, revela-se incabível sua
substituição por outras medidas cautelares mais brandas. 4. Agravo
regimental improvido.

(STJ - AgRg no HC: 829085 SP 2023/0193613-9, Relator: REYNALDO


SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento: 27/06/2023, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2023)

As circunstâncias do caso concreto justificaram, de forma objetiva, a abordagem


consistente na busca pessoal, sendo devidamente legítima, não havendo que se falar em
nulidade, ou que a Polícia Militar se dirigiu à paciente em razão de mera atitude suspeita.

Assim, conforme exaustivamente explanado, a ação policial foi legal, legítima, não havendo
qualquer mácula à prisão em flagrante da paciente, por constrangimento ilegal, tampouco ao

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decreto preventivo, que foi devidamente fundamentado pelo juízo a quo.

3. Da conclusão:

Desta feita, com a fundamentação acima esposada, divirjo do relator, votando pela não
concessão da ordem de Habeas Corpus.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Paulo Augusto de Freitas Oliveira.

Desembargador.

P04

(LAZZARINI, Álvaro. Temas de direito administrativo. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos
[i]
Tribunais, 2003.)

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Número do documento: 23070614342489000000027993847
HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. TRÁFICO DE DROGAS.
BUSCA PESSOAL. INEXISTÊNCIA DE FUNDADAS SUSPEITAS. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. ATUAÇÃO
LEGÍTIMA DA POLÍCIA OSTENSIVA. ABORDAGEM DEVIDAMENTE JUSTIFICADA. ORDEM DENEGADA. DECISÃO
UNÂNIME.

1.Faz-se necessário uma visão sistemática de hermenêutica jurídica para compreender que a
concepção de “justa causa” e “fundada suspeita”, numa abordagem realizada por um policial
militar, no exercício do policiamento ostensivo, nas hipóteses do art.244, do CPP e nas situações
de flagrância de crime (art. 302, do CPP), não se atém unicamente ao comportamento do
suspeito ou a uma imprescindível prévia investigação (este papel é da polícia judiciária). Os
policiais militares se utilizam de técnicas e protocolos de emprego da força policial, definidos em
planos operacionais, para as prováveis situações do cotidiano, na rua, baseados em fatores
sociais vivenciados pela própria sociedade. Dentro do senso comum, se sobressaem, por
exemplo: (i) identificação de locais de maior incidência de atos ilícitos, a partir de relatórios de
ocorrências anteriores (“pontos quentes”) e dados de inteligência policial; (ii) definição de locais e
horários de maior probabilidade de ocorrência de determinados crimes (corredores bancários,
feiras, comércio, etc); (iii) identificação de pontos de maior concentração e fluxo de pessoas
(praças esportivas, escolas, rodoviárias, entre outros); (iv)alocação de força extra em locais de
eventos extraordinários (shows, carnaval, festas de rua, etc); (v) pontos turísticos, (vi) várias
outras situações da rotina policial, que são previamente identificados, em razão da grande
probabilidade de ocorrência de atos criminosos ou eventos de perturbação da ordem. Em regra, a
abordagem policial nos locais e situações acima destacados, no exercício do dever constitucional
de realizar o policiamento ostensivo e de preservar a ordem pública, está acobertada pela justa
causa e fundada suspeita, sendo a atitude do suspeito nessas situações/locais, apenas mais um
elemento a ser analisado nesse contexto indiciário, mas não o único. Ou seja, é preciso ser
levado em consideração pelo julgador, nas análises jurídicas e julgamentos dos casos concretos,
que o emprego da força policial militar segue premissas e parâmetros objetivos para o fiel
cumprimento do seu dever constitucional. Agora, claro, como dito, os desvios de finalidade
identificados no cenário real devem desqualificar a justa causa e a fundada suspeita, além de
permitirem que os infratores policiais sejam responsabilizados com os rigores da lei.;

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https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070614342445200000027842393
Número do documento: 23070614342445200000027842393
2. É salutar realçar ainda, que diferentemente do cidadão comum, a lei exige/obriga a atuação do
policial militar nas hipóteses de flagrante delito, conforme se extrai do art.301, do CPP. Isto é, não
é permitido ao agente de segurança pública se omitir diante de uma situação de flagrância, sob
pena de ser responsabilizado penalmente (omissão, prevaricação, etc). Portanto, tal condição
especial imposta ao policial militar (art.301, do CPP) não pode ser desprezada quando da análise
e julgamento das situações previstas no art.244, do CPP);

3. No caso concreto, a busca pessoal não se baseou apenas em uma abordagem rotineira,
despropositada, de forma imotivada/aleatória, como tenta fazer crer o impetrante. Os policiais
estavam realizando o patrulhamento num ponto de grande circulação de pessoas (ponto de
transporte alternativo) e de histórico de provável ocorrência de transporte de coisas ilícitas,
quando avistaram a paciente, a qual, em um momento inicial estava sem nada nas mãos no
referido ponto, e instantes depois se deslocou para local próximo (um estacionamento),
retornando com uma sacola de papelão nas mãos, com um volume que chamou a atenção dos
policiais. A abordagem realizada diante de todas essas circunstâncias fáticas não foi arbitrária,
porquanto derivada da própria atitude externada pela paciente naquela oportunidade, sendo a
ação dos policiais lícita, fundada na incomum forma de agir, no histórico daquele local e no
protocolo da polícia militar, que deriva de estudo prévio para identificar pontos de maior incidência
de crimes. Tudo isso deve ser levado em conta na identificação da “fundada suspeita”;

4. Fazendo uma análise da atitude esboçada pela paciente – sair do local que estava em direção
a um estacionamento e retornar com uma sacola de papelão; o local em que se encontrava
(ponto de embarque/desembarque de transporte alternativo, considerado lugar comum e propício
para crime de tráfico de drogas e até de pessoas ou transporte de coisas ilícitas), associado ao
protocolo dos policiais em serviço, no sentido de patrulhar os locais de maior incidência criminal
da cidade. Todos esses fatores, atendem prontamente a fundada suspeita (justa causa) para a
abordagem policial. As circunstâncias do caso concreto justificaram, de forma objetiva, a
abordagem consistente na busca pessoal, sendo devidamente legítima, não havendo que se falar
em nulidade, ou que a Polícia Militar se dirigiu à paciente em razão de mera atitude suspeita

5. Ordem denegada. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos nestes autos, em que figuram como partes as acima referidas, acordam, por unanimidade
de votos, os Desembargadores componentes da 2ª Turma da Primeira Câmara Regional de Caruaru do Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco, em DENEGAR A ORDEM, na conformidade do relatório e votos anexos, que fazem
parte do presente julgado.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24 Num. 28305673 - Pág. 2
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Número do documento: 23070614342445200000027842393
HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

VOTO DO RELATOR

Presentes os pressupostos processuais necessários à análise do presente writ, passo diretamente à sua apreciação.

Conforme relatado, cuida-se de Habeas Corpus liberatório, impetrado pela Defensoria Pública do Estado de
Pernambuco, em favor da paciente Rosicleide Lucena, no qual se alega a existência de constrangimento ilegal à
liberdade deambulatória da paciente, por ato do Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns, nos
autos do processo criminal nº 0000487-74.2023.8.17.5640, agora em trâmite perante o Juízo de Direito da 2ª Vara da
Comarca de Lajedo/PE.

Consta das informações prestadas pelo Juízo a quo (ID 27778123), que Rosicleide Lucena teria sido presa em flagrante,
no dia 09/05/2023, na posse de revólver calibre .32 municiado, 164g de crack e outras munições, a ela imputando-se
conduta descrita no art. 33 da Lei 11.343/06.

Há, ainda, informações nos autos de que a paciente teve sua prisão preventiva decretada como garantia da ordem
pública, em razão de possuir condenações penais pela prática do crime de tráfico de drogas (Autos nº 3055-
67.2019.8.17.0640 e 1744-56.2015.8.17.0260) bem como uma ação penal em tramitação pela prática do mesmo delito
(Autos n 938-69.2019.8.17.0910). Nesse contexto, não resta dúvida acerca da existência de periculum libertatis a
ratificar a necessidade da segregação cautelar.

Contudo, observo que o impetrante alega estar ausente outro requisito cumulativo para a decretação da custódia
cautelar.

Como é cediço, para decretação da prisão preventiva, necessária se faz a presença concomitante de três requisitos:
fumaça do cometimento do crime – consubstanciada pela presença de prova da materialidade e indícios suficientes de
autoria, demonstração do perigo gerado pelo estado de liberdade do agente e presença de ao menos uma das
hipóteses de cabimento, descritas no art. 313 do CPP.

No caso, o impetrante alega inexistir “fumaça do cometimento do crime” pela falta de prova da materialidade delitiva, em
razão da nulidade relacionada à prisão em flagrante da paciente, uma vez que ausente justa causa para a realização da
busca pessoal realizada na paciente.

Nos termos do art. 244 do CPP, a busca pessoal independerá de mandado quando houver prisão ou fundada suspeita
de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou ainda
quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. A busca pessoal é legítima, portanto, se amparada em

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24, EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHONum.
- 20/06/2023 19:45:45
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Número do documento: 23070614342463500000027842392
fundadas razões, justificadas a posteriori, de que a pessoa abordada esteja praticando um delito.

Pois bem.

No caso concreto, conforme documentação anexada aos autos, um dos agentes policiais responsáveis pela prisão em
flagrante declarou que:

“(...) na data de hoje 09 de maio de 2023, realizava rondas com abordagens nas proximidades do Posto Santa Rosa na
cidade de Lajedo, quando, por volta das 11hs, passou a observar a Senhora ROSICLEIDE LUCENA, a qual estava no
ponto de transporte alternativo para a cidade de São Bento do Una; QUE em seguida ela atravessou no sentido do pátio
do estacionamento sem nenhum objeto nas mãos; QUE, alguns minutos depois, a Senhora ROSICLEIDE retornou com
uma sacola de papelão na mão; QUE, em seguida, percebendo um certo nervosismo suspeito da imputada resolveu
abordar a Autuada; QUE, durante a abordagem, verificou-se que ROSICLEIDE LUCENA possuía no interior da sacola
os seguintes objetos: UM REVOLVER CALIBRE .32, de marca INA, número de série 33172, municiado com 06 (seis)
munições do mesmo calibre e um pacote com substância análoga a crack, pesando mais ou menos 154 gramas, além
de mais 03 (três) munições intactas de cal. 32, QUE, perguntando a Autuada onde teria adquirido tais objetos, a
Autuada alegou que estava mantendo contato, via telefone celular, com outras duas pessoas, que iriam buscar a
encomenda em um carro prata; QUE a Autuada estava na posse de um aparelho celular de marca XAIOMI; QUE
perguntado a ROSICLEIDE LUCENA se ela havia sido presa, esta afirmou que fora presa anteriormente pelo crime de
tráfico de entorpecente em 2019 na cidade de Garanhuns; QUE, diante dos fatos, foi dado voz de prisão a ROSICLEIDE
LUCENA e conduzida até a Delegacia de Lajedo para a adoção dos procedimentos cablveis.. Nada mais disse nem lhe
foi perguntado. Lido e achado conforme, determinou a Autoridade que fosse encerrado o presente

Tal versão dos fatos coincide com aquela proferida pelo condutor do flagrante, Pedro Claudino de Almeida Júnior,
vejamos:

“QUE, no dia de hoje (09/05/2023), em serviço na cidade de Lajedo, realizava rondas com abordagens nas
proximidades do Posto Santa Rosa, quando, por volta das 11hs, visualizou a Senhora ROSICLEIDE LUCENA a qual
estava no ponto de transporte alternativo para a cidade de São Bento do Una; QUE observou ela atravessando sentido
ao pátio do estacionamento sem nenhum objeto nas mãos; QUE, alguns minutos depois, a Senhora ROSICLEIDE
retornou com uma sacola de papelão na mão; QUE, diante dessa atitude suspeita, o CONDUTOR e sua equipe
resolveram abordar a Autuada; QUE, durante a abordagem, verificou-se que ROSICLEIDE LUCENA possuía no interior
da sacola os seguintes objetos: UM REVOLVER CALIBRE .32, de marca INA, número de série 33172, municiado com
06 (seis) munições do mesmo calibre e um pacote com substância análoga a crack, pesando mais ou menos 154
gramas, além de mais 03 (três) munições intactas de cal. 32; QUE, perguntando a Autuada onde teria adquirido tais
objetos, a Autuada alegou que estava mantendo contato, via telefone celular, com outras duas pessoas, que iriam
buscar a encomenda em um carro prata; QUE a Autuada estava na posse de um aparelho celular de marca XAIOMI:
QUE perguntado a ROSICLEIDE LUCENA se ela havia sido presa, esta afirmou que fora presa anteriormente pelo crime
de tráfico de entorpecente em 2019 na cidade de Garanhuns; QUE, diante dos fatos, foi dado voz de prisão a
ROSICLEIDE LUCENA e conduzida até a Delegacia de Lajedo para a adoção dos procedimentos cabíveis. Nada mais
disse nem lhe foi perguntado, determinou a Autoridade Policial encerrar este Termo, que, após ser lido e achado
conforme, o qual assina juntamente com o Condutor e comigo Escrivão que digitei.

Como se verifica, a abordagem pessoal se deu tão somente em razão do nervosismo da paciente e de suposta atitude
suspeita, consistente no fato de ter, simplesmente, saído do ponto de transporte alternativo para busca uma sacola no
estacionamento próximo ao local, retornando, em seguida.

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24, EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHONum.
- 20/06/2023 19:45:45
28305672 - Pág. 2
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23070614342463500000027842392
Número do documento: 23070614342463500000027842392
Ora, evidente que tal conduta – sair de um local público e retornar com uma sacola, não corrobora a existência de
qualquer espécie delitiva. Além disso, como já decidiu o STJ em inúmeros recentes precedentes, o simples nervosismo
do agente, de acordo com a percepção subjetiva do agente policial, não autoriza a realização da busca e apreensão
pessoal, senão vejamos:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. REVISTA PESSOAL E INGRESSO DE POLICIAIS NO


DOMICÍLIO DO ACUSADO. FUNDADAS RAZÕES. INEXISTÊNCIA. ILICITUDE DOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO
OBTIDOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. 1. Esta Corte Superior tem entendido, quanto ao ingresso
forçado em domicílio, que não é suficiente apenas a ocorrência de crime permanente, sendo necessárias fundadas
razões de que um delito está sendo cometido, para assim justificar a entrada na residência do agente, ou ainda,
autorização para que os policiais entrem no domicílio . 2. Também há a compreensão neste Superior Tribunal de
que se não havia fundadas suspeitas para a realização de busca pessoal no acusado, não há como se admitir
que a mera constatação de situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida. 3. No
caso concreto, o contexto fático que antecedeu a providência tomada pelos policiais não indicam a existência
de fundada suspeita de que o réu estivesse praticando qualquer delito no momento de sua abordagem, as
buscas foram motivadas no "nervosismo" apresentado pelo acusado. Não ficou consignado em sentença nem
no acórdão impugnado que os policiais haviam presenciado o paciente vendendo entorpecentes ou mesmo
praticando qualquer outro delito que justificasse a abordagem pessoal. 4. Ordem concedida para, reconhecendo a
nulidade das provas obtidas ilicitamente, bem como as delas derivadas, absolver o paciente com fundamento no art.
386, II, do Código de Processo Penal. (STJ - HC: 659689 DF 2021/0110456-1, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Data de Julgamento: 15/06/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 18/06/2021)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. BUSCA PESSOAL. REQUISITOS DO
ART. 244 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA. ABORDAGEM EM VIA
PÚBLICA MOTIVADA APENAS POR IMPRESSÃO DE NERVOSISMO. ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS.
ABSOLVIÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A percepção de nervosismo do averiguado por parte de
agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso, não é suficiente para caracterizar a fundada
suspeita para fins de busca pessoal, medida invasiva que exige mais do que mera desconfiança fundada em
elementos intuitivos. 2. À falta de dados concretos indicativos de fundada suspeita, deve ser considerada nula a
busca pessoal amparada na impressão de nervosismo do Acusado por parte dos agentes públicos. 3. Recurso
especial provido, a fim de anular as provas obtidas ilicitamente, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Recorrente, nos termos do art. 386, inciso II, do Código de Processo Penal. (STJ - REsp:
1961459 SP 2021/0044017-0, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 05/04/2022, T6 - SEXTA TURMA,
Data de Publicação: DJe 08/04/2022)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS.


NULIDADE DA BUSCA PESSOAL REALIZADA NO RÉU. ILICITUDE DAS PROVAS. AUSÊNCIA DE FUNDADAS
RAZÕES. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1.
Considera-se ilícita a busca pessoal e domiciliar executada sem a existência da necessária justa causa para a
efetivação da medida invasiva, nos termos do art. 240 do CPP, bem como a prova dela derivada, não sendo
razoável considerar que o nervosismo do acusado ao avistar a autoridade policial, por si só, enquadre-se na
excepcionalidade da revista pessoal ocorrida em seguida ( HC 680.214/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Sexta Turma, julgado em 14/10/2021, DJe de 5/11/2021). 2.
Na hipótese, não houve a indicação de nenhum dado concreto e objetivo sobre a existência de justa causa para
autorizar a busca pessoal, visto que a simples existência de denúncia anônima sobre o deslocamento de pessoas para o
local dos fatos no intuito de exercerem a venda de drogas, bem como o fato de que o suspeito aparentava suposto
nervosismo diante da aproximação dos policias (parâmetro subjetivo dos agentes policiais), não constituem fundamento
idôneo para autorizar a busca pessoal, o que impõe o reconhecimento da ilicitude da prova obtida com a medida

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 06/07/2023 14:34:24, EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHONum.
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invasiva, bem como das provas dela derivadas. 3. Agravo regimental do Ministério Público Federal a que se nega
provimento. (STJ - AgRg no AgRg no HC: 706522 SP 2021/0365259-0, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, Data de Julgamento: 22/02/2022, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 25/02/2022)

É certo que a localização e apreensão de bens que consubstanciam produto ou instrumento de delito, em momento
posterior à deflagração da medida considerada ilícita, não constituem razão para convalidar a medida.

Embora o entendimento firmado, conforme observado, em ambas as Turmas Criminais do STJ, não seja dotado de
caráter vinculante, entendo que se deve conferir preponderância ao órgão uniformizador do direito infraconstitucional.

Constitui responsabilidade do Poder Judiciário garantir uma resposta jurídica segura e isonômica, evitando-se, com isso,
o indesejado solipsismo judicial, consistente na aplicação do direito pautando-se apenas pelas concepções individuais
do julgador alheio ao consenso interpretativo consolidado em órgãos de cúpula do Poder Judiciário.

Pois bem, de modo a preservar uma uniformidade de tratamento na solução dada pelo Estado-Juiz nas causas que lhe
são levadas a julgamento, impende sejam observados os precedentes da Corte Superior, que fixaram tese jurídica
acolhida, na medida em que os tribunais devem manter a jurisprudência estável, íntegra e coerente, conforme determina
o art. 926 do CPC/2015, cuja aplicação é subsidiária em relação ao processo penal.

Além disso, referido entendimento converge com aquele já delineado pelo STF, vejamos:

HABEAS CORPUS. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA LAVRADO CONTRA O PACIENTE. RECUSA A


SER SUBMETIDO A BUSCA PESSOAL. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL RECONHECIDA POR TURMA
RECURSAL DE JUIZADO ESPECIAL. Competência do STF para o feito já reconhecida por esta Turma no HC n.º
78.317. Termo que, sob pena de excesso de formalismo, não se pode ter por nulo por não registrar as declarações do
paciente, nem conter sua assinatura, requisitos não exigidos em lei. A "fundada suspeita", prevista no art. 244 do
CPP, não pode fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a
necessidade da revista, em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza,
que não se pode ter por configurados na alegação de que trajava, o paciente, um "blusão" suscetível de esconder uma
arma, sob risco de referendo a condutas arbitrárias ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de
abuso de poder. Habeas corpus deferido para determinar-se o arquivamento do Termo. (STF - HC: 81305 GO, Relator:
ILMAR GALVÃO, Data de Julgamento: 13/11/2001, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 22-02-2002 PP-00035
EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284)

(...) “O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas Corpus 81.305, da relatoria do Min. ILMAR GALVÃO,
Primeira Turma, em 13/11/2001, enfrentou a situação: "A fundada suspeita, prevista no art. 244 do CPP, não pode
fundar-se em parâmetros unicamente subjetivos, exigindo elementos concretos que indiquem a necessidade da revista,
em face do constrangimento que causa. Ausência, no caso, de elementos dessa natureza, que não se pode ter
configurado na alegação de que trajava, o paciente, blusão suscetível de esconder uma arma, sob risco de referendo a
condutas arbitrárias, ofensivas a direitos e garantias individuais e caracterizadoras de abuso de poder". (....)

Ante o exposto, torno sem efeito a decisão agravada e CONCEDO a ordem para o fim de reconhecer a nulidade da
busca pessoal, declarando a ilicitude das provas dela derivadas, com a consequente ABSOLVIÇÃO do paciente, nos
termos do art. 386, II, do Código de Processo Penal (RISTF, art. 21).

(STF - HC: 224294 PR, Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 28/02/2023, Data de Publicação: PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-038 DIVULG 01/03/2023 PUBLIC 02/03/2023)

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Nesse contexto, por considerar infundada a busca pessoal que resultou na prisão em flagrante da paciente, em linha
com a recente jurisprudência das Cortes Superiores, entendo que deve ser declarada nula a prisão em flagrante da
paciente e todos os demais atos posteriormente praticados, caso dela decorrentes, restaurando sua liberdade, diante da
inexistência de justa causa para a manutenção da custódia preventiva (art. 312 do CPP).

Mediante tais considerações, voto pela CONCESSÃO DA ORDEM para restabelecer imediatamente a liberdade da
paciente, bem como declarar nula a prisão em flagrante e todos os elementos de prova dela decorrentes.

Expeça-se alvará de soltura em favor da paciente, colocando-a em liberdade, salvo se por outra razão estiver presa.

Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

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HABEAS CORPUS Nº: 0001229-25.2023.8.17.9480

PROCESSO ORIGINÁRIO: 0000487-74.2023.8.17.5640

IMPETRANTE: Defensoria Pública do Estado de Pernambuco

IMPETRADO: Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns/Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca
de Lajedo

PACIENTE: Rosicleide Lucena

ÓRGÃO JULGADOR: 1ª Câmara Regional de Caruaru – 2ª Turma

RELATOR EM SUBSTITUIÇÃO: Des. Evanildo Coelho de Araújo Filho

RELATÓRIO

Cuida-se de Habeas Corpus liberatório, impetrado pela Defensoria Pública do Estado de Pernambuco, em favor da
paciente Rosicleide Lucena, no qual se alega a existência de constrangimento ilegal à liberdade deambulatória da
paciente, por ato do Juízo de Direito do Pólo de Audiências de Custódia - Garanhuns, nos autos do processo criminal nº
0000487-74.2023.8.17.5640, agora em trâmite perante o Juízo de Direito da 2ª Vara da Comarca de Lajedo/PE.

Registra o impetrante que a paciente foi presa em flagrante no dia 09/05/2023, sob a suspeita da prática do crime do art.
33 da Lei de Drogas. Apresentada em audiência de custódia, o Ministério Público requereu a conversão da prisão em
flagrante em prisão preventiva, ao tempo em que defesa postulou o relaxamento da prisão em flagrante. O Juízo
plantonista acolheu o pleito ministerial, entendendo pela validade da prisão em flagrante, convertendo em prisão
preventiva.

Nesse contexto, alega o impetrante que o constrangimento ilegal suportado pela paciente decorre de nulidade da prisão
em flagrante, razão da ilicitude da busca pessoal, uma vez que ausente justa causa. Aduz que a nulidade referida
prejudica a existência material do delito e, portanto, afasta os requisitos necessários à manutenção da custódia
preventiva da paciente.

Diante destas alegações, postula, em sede de liminar e no mérito, a concessão da ordem de Habeas Corpus a fim de
que seja revogada a prisão preventiva da Paciente, bem como declarada nula a prisão em flagrante e provas
decorrentes da referida diligência.

Colacionou documentos digitalizados.

O pleito liminar foi indeferido.

Na sequência, o Juízo de origem dispensou as informações requeridas.

Houve, em seguida, manifestação da Procuradoria de Justiça, pela denegação da ordem (ID 27775252).

Posteriormente, foram acostadas as informações antes solicitadas (ID 27778123), oportunidade em que a Procuradoria
de Justiça ratificou sua manifestação (ID 28273614).

É o que importa relatar.

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 20/06/2023 19:45:30 Num. 28305671 - Pág. 1
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Número do documento: 23062019452984000000027842141
Caruaru, data da assinatura eletrônica.

Evanildo Coelho de Araújo Filho

Desembargador Substituto

Assinado eletronicamente por: EVANILDO COELHO DE ARAUJO FILHO - 20/06/2023 19:45:30 Num. 28305671 - Pág. 2
https://pje.tjpe.jus.br:443/2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23062019452984000000027842141
Número do documento: 23062019452984000000027842141

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