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Tribunal

PJe - Processo Judicial Eletrônico

01/07/2023

Número: 8011423-68.2021.8.05.0000
Classe: HABEAS CORPUS CRIMINAL
Órgão julgador colegiado: Primeira Câmara Criminal 2ª Turma
Órgão julgador: Des. Baltazar Miranda Saraiva- 1ª Câmara Crime 2ª Turma
Última distribuição : 27/04/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0014862-65.2017.8.05.0001
Assuntos: Calúnia, Difamação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MATHEUS BISET PRIATICO MAIA (IMPETRANTE)
HUMBERTO DE ALMEIDA TORREAO NETO (PACIENTE) GAMIL FOPPEL EL HIRECHE (ADVOGADO)
MATHEUS BISET PRIATICO MAIA (ADVOGADO)
GAMIL FOPPEL EL HIRECHE (IMPETRANTE)
QUINTA TURMA RECURSAL DO ESTADO DA BAHIA
(IMPETRADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
14837 26/04/2021 19:26 Habeas Corpus Petição
779
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

GAMIL FÖPPEL e MATHEUS BISET, advogados regularmente


inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Bahia,
respectivamente sob os nº. 17.828 e 44.636, com endereço
profissional no timbre desta, vêm, muito respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, impetrar ordem de

HABEAS CORPUS,
COM PEDIDO LIMINAR,
com o fito de obter o trancamento da ação penal de n°
0014862-65.2017.8.05.0001, com fulcro no Art. 5°, LXVIII, da
CF/88 e Art. 647 e segs.
do Código de Processo Penal,

em favor de HUMBERTO DE ALMEIDA TORREÂO NETO, advogado


inscrito na OAB/BA sob o n.º 31.286, com endereço profissional na rua
Portugal, n.º 17, Edifício Regente Feijó, salas 708/709, Comércio –
Salvador/BA, CEP 40015-00, em face do acórdão exarado pela 5ª
Turma Recursal do Juizado Especial Criminal de Salvador/BA, ora

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apontada como autoridade coatora, que manteve o trâmite de inepta
queixa-crime oferecida em seu desfavor.

Pretende-se, pois, o trancamento da ação penal de n° 0014862-


65.2017.8.05.0001, em trâmite na 6ª Vara do Sistema de Juizados
Especiais Criminais de Salvador/BA, cuja cópia integral segue anexa
(Doc. anexo), e o (indevido) processamento subsiste por força do
Acórdão coator.

De fato, colhe-se que seu trancamento é medida inarredável pelas


razões de fato e de direito doravante expostas, em especial pela
manifesta atipicidade, objetiva e subjetiva, da conduta, uma vez que
teria supostamente agido o paciente em juízo, no âmbito de sua
imunidade profissional (art. 143, I do CP), bem como sem o necessário
dolo de ofender, outrossim ante a hipótese excludente de ilicitude
(atipicidade conglobante), uma vez que teria supostamente agido o
paciente em estrito cumprimento de dever legal.

Ademais, pela nulidade absoluta decorrente do não pagamento das


custas processuais, nulidade essa não sanada dentro do prazo
decadencial, e ainda pela manifesta inépcia da queixa-crime.

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1. DO CABIMENTO E DA COMPETÊNCIA PARA A APRECIAÇÃO DO
PRESENTE HABEAS CORPUS.

Consoante se extrai da análise perfunctória do introito deste


mandamus, o seu cabimento encontra guarida no evidente
constrangimento ilegal a que se submete o Paciente; cuja sujeição
ilegal ao processo penal será escancarada, estreme de dúvidas, no
decorrer da presente ordem de Habeas Corpus.

Com efeito, importante desde logo destacar a competência deste


Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia para processar e julgar
o presente Habeas Corpus, uma vez que o ato coator foi proferido pela
5ª Turma Recursal de Salvador/BA, no julgamento do Habeas Corpus
nº 0000391-08.2020.8.05.9000.

Neste sentido, colaciona-se, por oportuno, trecho da Jurisprudência em Teses


n. 93, do Superior Tribunal de Justiça1:

Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais


Regionais Federais o julgamento dos pedidos de
habeas corpus quando a autoridade coatora for
Turma Recursal dos Juizados Especiais.2

1
Disponível em:
https://www.stj.jus.br/internet_docs/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurispru
dência%20em%20teses%2093%20-%20Juizados%20Especiais%20Criminais%20-
%20I.pdf
2
Julgados que firmaram o entendimento consolidado: HC 369717/MS, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/04/2017, DJe
03/05/2017; RHC 61822/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado

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Para além disso, mister destacar ser, o presente remédio
constitucional, o instrumento adequado para o pleito requerido, qual
seja, a concessão de ordem que determine o trancamento da ação
penal no 0014862-65.2017.8.05.0001, com fundamento nos art. 647 e
648 do Código de Processo Penal.

Conforme restará sobejamente demonstrado, o caso em testilha se


trata de hipótese de flagrante atipicidade da conduta, uma vez que
teriam as aduzidas ofensas supostamente sido proferidas por
advogado, em discussão de causa em juízo, não constituindo crime,
conforme expressamente disciplina o art. 142, I do CP.

Outrossim, flagrantemente atípica, em razão de que, na condição de


patrono e uma vez que teria o paciente agido na defesa dos interesses
do seu constituinte, teria supostamente agido em estrito cumprimento
de dever legal, causa excludente de ilicitude e, por conseguinte de
tipicidade conglobante da conduta, consoante dispõe o art. 23, III do
CP.

Também subjetivamente atípica, uma vez que careceria a conduta do


necessário dolo específico de ofender, necessário à configuração de
qualquer dos crimes contra a honra (crime esse que, na inepta queixa-

em 17/12/2015, DJe 25/02/2016; RHC 30946/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI,


QUINTA TURMA, julgado em 10/12/2013, DJe 03/02/2014; HC 223550/SP, Rel.
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUIN- TA TURMA, julgado em 27/03/2012, DJe
10/05/2012; HC 156178/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 16/09/2010, DJe 11/10/2010; HC 99878/PB, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 23/08/2010. (VIDE
JURISPRUDÊNCIA EM TESES N. 36)

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crime, que ora faz menção ao art. 138, que disciplina o delito de
calúnia, e ora faz menção ao art. 139, que disciplina o delito de
difamação, nem sequer é delimitado).

Não obstante, se trata também de hipótese flagrante de decadência ao


direito de queixa, uma vez que foi essa oferecida sem o necessário
pagamento das custas processuais, nulidade absoluta que não foi
sanada dentro do prazo decadencial.

Ademais, é a queixa-crime manifestamente inepta, pois não imputa


qualquer delito determinado ao paciente, inviabilizando que esse
exerça, com necessária plenitude, seu direito de defesa, bem como não
indica, ainda que minimamente, o necessário dolo específico de
ofender, inerente à configuração de quaisquer dos crimes contra a
honra.

Pelo exposto, a fim de que a matéria fosse apreciada, o Paciente


apresentou defesa preliminar (fls. 88-120 do procedimento originário,
anexo), tratando de questões preliminares de mérito e requerendo o
arquivamento do feito.

Entretanto, em que pese a petição interposta tenha como objeto


questões preliminares de mérito, que podem, e devem, ser tratadas a
qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, a douta magistrada
a quo não acolheu os fundamentos apresentados, recebendo a
descabida queixa-crime e designando a data de 08 de junho de 2021

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para a realização a audiência de instrução e julgamento (fls. 141-142),
constrangendo, portanto, ilegalmente, a liberdade do Paciente.

Outrossim, o paciente impetrou Habeas Corpus contra a r. decisão da


(então) autoridade coatora perante a Turma Recursal de Salvador/BA,
tombado sob o nº 0000391-08.2020.8.05.9000, buscando o
trancamento da ação penal n° 0014862-65.2017.8.05.0001, pelas
razões, en passant, já mencionadas, as quais, conforme se evidenciará
no decorrer deste writ, prescindem de dilação probatória para sempre
comprovadas.

Todavia, o Habeas Corpus de nº 0000391-08.2020.8.05.9000 foi


conhecido e denegado pela 5ª Turma Recursal (fls. 207/213), sob a
justificativa de não restar suficiente demonstrado a respectiva
ilegalidade.

Pelos fatos apontados, configura-se a r. 5ª Turma Recursal do Juizado


Especial Criminal de Salvador-Ba como (ora) autoridade coatora e seu
acórdão como ato coator, na medida em que manteve o ilegal trâmite
dos autos n° 0014862-65.2017.8.05.0001, em processamento 6ª Vara
do Sistema de Juizados Especiais Criminais de Salvador/BA.

Superado este ponto, urge ressaltar não trazer, o presente


remédio constitucional, qualquer discussão a respeito dos fatos
imputados ao Paciente na ação penal originária, os quais o
Paciente rechaça em sua integralidade, mas, única e
exclusivamente, visa a demonstrar a necessidade de

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trancamento da ação penal através da discussão de matéria
estritamente de direito.

Demonstrados, portanto, seu cabimento e competência para


apreciação, passa-se à análise das questões de fato e de direito que,
decerto, conduzirão este Egrégio Tribunal do Estado da Bahia à
determinar o trancamento efetivo da ação penal originária.

2. DO BREVE ESCORÇO FÁTICO.

Foi oferecida inepta queixa-crime em desfavor do Paciente (fls. 01–03


do processo originário), pela suposta vítima, AUGUSTO CEZAR GOMES
DE ALMEIDA MACIAEL, em razão de hipotético crime contra a honra- o
qual sequer é determinado na exordial acusatória.

Em síntese, narra a inepta queixa-crime que, no dia 20 de novembro


de 2016, teria o querelante tomado conhecimento de que o paciente
supostamente teria ofendido sua honra objetiva, através de petição
protocolizada em processo trabalhista, ao afirmar que o querelante
“deixou de frequentar o escritório”, tendo sido “surpreendido o
escritório com algumas denúncias promovidas por alguns clientes
perante a OAB e o Ministério Público, de que o mesmo teria recebido
alvarás dos respectivos processos, sem, contudo, efetuar o
pagamento.”

O processo foi inicialmente distribuído para a 4a Vara do Sistema de


Juizados Especiais Criminais da Comarca de Salvador/BA, tendo,

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posteriormente, sido remetido ao juízo da 6a Vara do Sistema de
Juizados Especiais Criminais da Comarca de Salvador/BA, por razão de
prevenção (fls. 44 e 47).

Foi então designada audiência de instrução e julgamento para o dia


04/09/2019 (fl. 50-51), tendo sido o paciente pessoalmente intimado
apenas em 29/08/2019 (fl. 62).

Redesignada a assentada para o dia 19/09/2019 (fls. 77-79), restou


infrutífera a tentativa de conciliação. Ademais, requereu o paciente a
nulidade de todos os atos praticados antes da sua intimação pessoal,
bem como apresentou defesa preliminar, expondo questões
preliminares, de ordem pública, que impunham o imediato
arquivamento daqueles autos (fls. 86-120).

Com efeito, destacou o paciente a decadência ao direito de queixa,


uma vez que fora essa oferecida sem o pagamento das custas
processuais, nulidade absoluta que não fora sanada dentro do prazo
decadencial de 6 (seis) meses.

Outrossim, a manifesta atipicidade, objetiva e subjetiva, da conduta,


uma vez que supostamente teria o paciente agido na condição de
patrono constituído, em discussão de causa em juízo, sendo manifesta
a ausência do dolo de ofender na hipotética conduta.

Ademais, ressaltou ainda o paciente a causa excludente de ilicitude do


art. 23, III do CP, uma vez que, ao praticar a hipotética conduta, teria

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o paciente agido em estrito cumprimento de dever legal e em exercício
regular de direito, visto que, como dito, teria a suposta conduta sido
realizada em defesa dos interesses do seu constituinte, em ação
trabalhista.

Por fim, destacou ainda o paciente a manifesta inépcia da queixa-


crime, uma vez que não narra os fatos com todas as suas necessárias
circunstâncias, especialmente por não indicar o necessário dolo
específico da suposta conduta, essa que nem mesmo é determinada
ou subsumida a tipo penal específico.

Malgrado a imperiosidade do arquivamento da malfadada ação


penal, recebeu, data venia, equivocadamente o juízo a quo a
insubsistente queixa-crime, designando audiência de instrução
e julgamento para o dia 08 de junho de 2021.

Nesse sentido, o paciente impetrou Habeas Corpus (0000391-


08.2020.8.05.9000) contra a r. decisão da (então) autoridade coatora
perante a Turma Recursal de Salvador/BA, almejando o imediato
trancamento dos autos n° 0014862-65.2017.8.05.0001, em que
tramitam a inepta queixa-crime, pelas razões, en passant, já
mencionadas, as quais, conforme se evidenciará no decorrer deste
writ, prescindem de dilação probatória para sempre comprovadas.

Sem embargo, a ordem de Habeas Corpus foi conhecida e, nesta


extensão, denegada pela 5ª Turma Recursal (doc.anexo), às fls. 207-
213; que, data máxima venia, equivocamente não vislumbrou o

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evidente constrangimento ilegal a que se assujeita o paciente, sob a
justificativa, em síntese, de não restar suficiente demonstrado, prima
facie, a respectiva ilegalidade.

Desta forma, passa-se a demonstrar as razões para a concessão do


Habeas Corpus perante este Égregio Tribunal de Justiça.

3. DA MANIFESTA ATIPICIDADE DA CONDUTA. ATIPICIDADE


CONGLOBANTE. ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL.
ART. 386, III DO CPP E ART. 142, I E 23, III DO CP.

No que tange a questão da tipicidade da conduta, cumpre destacar, ab


initio, que, conforme a abalizada teoria da tipicidade conglobante,
sustentada por Eugênio Raúl Zaffaroni, além de formalmente típica,
para que se fale em tipicidade penal, deve ainda ser a conduta
antijurídica.

Notadamente, a tipicidade conglobante limita a ingerência punitiva


estatal na esfera de liberdade das pessoas. O autor elabora sua teoria
baseado no dogma de coerência, unidade e completude das normas do
Ordenamento Jurídico.

Norberto Bobbio assevera que as normas jurídicas nunca existem


isoladas, mas sempre em um contexto de normas com relações
particulares entre si. Para que um conjunto de normas seja

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compreendida enquanto ordem ou ordenamento jurídico, é preciso
organização, consubstanciada na unidade, completude e coerência.

Zaffaroni parte da mesma premissa delineada por Bobbio, na linha de


que as normas penais não podem ser isoladamente vistas, mas sim
como partículas de um universo maior, um Ordenamento Jurídico.

Dessa maneira, um determinado fato da vida, qualificado pelo direito


e encontrando adequação a um modelo definido previamente em lei
penal, somente poderá ser típico se, além de guardar juízo positivo de
tipicidade objetiva e subjetiva constantes da norma penal, for contrário
às demais normas do ordenamento jurídico como um todo.

Em outras palavras, somente será típica e, portanto, proibida pelo


direito, uma determinada conduta, se, além de definida em lei penal,
for proibida pelo ordenamento jurídico como um todo. Desse modo,
esse segundo plano da tipicidade opera como corretivo da tipicidade
legal, reduzindo a verdadeira dimensão do que a norma proíbe,
deixando fora da tipicidade penal aquelas condutas que só são
alcançadas pela tipicidade legal, porém que a ordem normativa não
proíbe, precisamente porque as ordena ou as fomenta ou não as pode
alcançar, por exceder o poder repressivo do Estado.

Por assim dizer, a norma que proíbe não existe isoladamente. A ilha de
proibição de um tipo penal, em outras palavras, não representa um
nódulo apartado do ordenamento jurídico, senão que um elemento que
efetivamente integra determinada ordem normativa. Elemento,

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portanto, que integra uma ordem jurídica sistêmica, não deve servir
de estandarte interpretativo absoluto, de modo que a consideração de
normas outras, de todos os ramos do direito, é etapa imprescindível
para a devida compreensão da natureza proibitiva.

Se, diante desse cenário, a existência de uma norma proibitiva


coexistir com uma norma autorizativa, teremos uma contradição em
termos. Apenas para lembrar Zaffaroni, “se isso fosse admitido, não se
poderia falar em ‘ordem normativa’, mas em um amontoado caprichoso
de normas arbitrariamente reunidas”.

Nessa linha, ainda que formalmente se considerasse hipoteticamente


subsumida a conduta analisada a crime de difamação ou mesmo de
calúnia, não se poderia limitar a análise da tipicidade a simplesmente
verificar se determinado fato da vida configura uma hipótese legal.
Atividade por demais simplista e até mecânica.

No ponto, é fundamental levar em conta que condutas aparentemente


típicas, quando cotejadas com o ordenamento como um todo (quando,
portanto, consideradas conglobadamente), na verdade, representam
perfeito exemplo de conduta atípica.

A observação, aqui, a fim de que os critérios da tipicidade conglobante


sejam respeitados, gira em torno, portanto, de verificar a existência de
uma norma jurídica que ordena, de uma lado, e uma outra norma
jurídica que parece proibir, ou, como diria Zaffaroni, “quando uma
norma parece proibir o que outra norma exclui do âmbito de proibição”.

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Notadamente, para a tipicidade penal, não basta que a conduta
seja apenas aparentemente proibida, devendo implicar
contrariedade à ordem normativa.

Desse modo, configurada causa excludente da ilicitude, ou seja,


sendo a conduta lesiva a bem jurídico juridicamente autorizada ou
até mesmo imposta por lei, a conduta é atípica.

No que tange as causas excludentes de ilicitude, prevê o art. 23, III do


CP, expressamente, entre elas, o estrito cumprimento de dever legal.
In verbis:
Art. 23 - Não há crime quando o agente
pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
III - em estrito cumprimento de dever
legal ou no exercício regular de direito.
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Como não poderia deixar de ser, por consectário lógico, a atuação


conforme a lei manda não constitui conduta antijurídica e, portanto,
típica.

Quanto à vergastada cláusula excludente de ilicitude, vejam-se as


lições de Cezar Roberto Bitencourt3:

3
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial 2 – Crimes contra a Pessoa.
17 ed. São Paulo: Saraiva. 2017. P. 440.

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Quem pratica uma ação em cumprimento de um
dever imposto por lei não comete crime, de acordo
com a norma permissiva inscrita no art. 23, III, do
nosso Código Penal. Ocorrem situações em que a lei
impõe determinada conduta e, em face da qual,
embora típica, não será ilícita, ainda que cause
lesão a um bem juridicamente tutelado.

Dito isso, conforme se verifica, icto oculi, dos autos impugnados, a


conduta insubsistentemente imputada ao paciente teria sido praticada
na condição de advogado, em estrita defesa dos interesses do
outorgante, na ação trabalhista tombada sob o no 0000595-
63.2016.5.05.0134.

Com efeito, conforme narra a insubsistente queixa-crime, na condição


de patrono de parte da mencionada ação trabalhista, teria o paciente
informado que o querelante, que lhe era sócio em escritório de
advocacia, “deixou de frequentar o escritório” e que o escritório havia
sido “surpreendido com as denúncias promovidas por alguns clientes
perante a OAB e o MINISTÉRIO PÚBLICO em desfavor do já
mencionado advogado”, “de que o mesmo haveria recebido alvarás dos
respectivos processos, sem, contudo, efetuar o pagamento aos
mesmos”.

No entanto, conforme se depreende do documento à fl.8 dos autos


originários, tal suposta afirmação apenas teria sido realizada com o

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único e exclusivo fim de que o alvará referente àquele processo fosse
emitido exclusivamente em seu nome, fundamentando tal
requerimento. Eis o teor:

Destarte, visando resguardar o bom nome da


advocacia, do escritório e os direitos de seus
clientes, eis que este patrono solicitou e reitera o
pedido para que o alvará seja emitido em seu nome.

Não apenas permitida- exercício regular de direito-, mas, sobretudo,


determinada.

Evidente, portanto, que teria agido o paciente em exercício regular de


direito e, sobretudo, em estrito cumprimento de dever legal, ao
atuar em defesa dos interesses do seu constituinte, na forma como
impõe o art. 2o, § 2º do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogadoos do Brasil (Lei nº 8.906/94). In verbis:

Art. 2º O advogado é indispensável à administração


da justiça.

§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na


postulação de decisão favorável ao seu constituinte,
ao convencimento do julgador, e seus atos
constituem múnus público.

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Não por outro motivo, o § 3º do mencionado dispositivo de lei dispõe
sobre a inviolabilidade do advogado por atos e manifestações no
exercício da profissão. Eis o teor:

§ 3º No exercício da profissão, o advogado é


inviolável por seus atos e manifestações, nos limites
desta lei.

Com efeito, Excelência, ao praticar a hipotética conduta, teria agido o


paciente em estrito cumprimento de dever legal, qual seja, a defesa
dos interesses do seu constituinte.

Portanto, teria agido em manifesto e estrito cumprimento de dever


legal, restando excluída a antijuridicidade ou ilegalidade da conduta,
conforme expressamente dispõe o art. 23, III do CP.

Nesse diapasão, consoante restou consignado, ressalta o Estatuto da


Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (Lei nº 8.906/94) a
inviolabilidade do advogado por atos e manifestações no exercício da
profissão como forma de, justamente, assegurar o cumprimento do
dever do advogado de atuar nos interesses de seu constituinte.

Ou seja, Excelência, a conduta insubsistentemente imputada não só


configura evidente hipótese excludente de ilicitude e, portanto, de
tipicidade (atipicidade conglobante), como ainda é garantida ao
paciente sua inviolabilidade por esse suposto ato.

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Nesse sentido, veja-se a consolidada jurisprudência pátria:

APELAÇÃO CRIMINAL. AMPLA DEVOLUTIVIDADE DO


RECURSO DEFENSIVO. MATERIALIDADE E AUTORIA
INCONTROVERSAS. EXCLUDENTE DE
CULPABILIDADE. ESTRITO CUMPRIMENTO DE
DEVER LEGAL. ABSOLVIÇÃO. CABÍVEL. 1. A
apelação defensiva possui ampla devolutividade das
questões processuais e meritórias que venham a
repercutir em benefício do réu. Trata-se de
construção tendente a dotar de efetiva concretude
os princípios constitucionais da ampla defesa e do
devido processo legal (art. 5º, incisos LIV e LV, da
Constituição Federal), bem como tutelar o direito
fundamental à liberdade. 2. A materialidade a e
autoria delitiva são incontroversas nos autos,
entretanto, o ponto central devolvido pelo recurso
sob exame reside em averiguar se é possível
reconhecer a excludente de culpabilidade disposta
no art. 23, inciso III, do CP. 3. O apelante, além
de herdeiro, é inventariante e advogado do
inventário de seu genitor, e a este cabe a
administração dos bens da herança do de
cujus. 4. A conduta do apelante está
justificada pelo estrito cumprimento de dever
legal, não se consubstanciando, pois, em crime
(art. 23, inciso III, do CP), razão pela qual o

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pleito absolutório é cabível. 5. Recurso provido.
(TJ-DF 20170810027137 DF 0002635-
65.2017.8.07.0008, Relator: J.J. COSTA
CARVALHO, Data de Julgamento: 03/10/2019, 1ª
TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no
DJE : 14/10/2019 . Pág.: 162-168)

Para além de permitida, a conduta insubsistentemente imputada, é


legalmente imposta, sendo, por tal razão, manifestamente legal.

Em face da mencionada causa de exclusão da antijuridicidade (ou


ilicitude), a conduta é atípica, ou seja, nas expressas palavras do
Códex Penal, “não há crime”.

Logicamente, não pode o Estado punir ou mesmo processar


conduta que não só é permitida, mas determinada, imposta por
lei, de modo que, conforme tudo quanto fartamente exposto,
impõe-se sejam arquivados os vergastados autos, com
fundamento no art. 397, I e III do CPP c/c o art. 23, III do CP
e o art. 2o, § 3º da Lei nº 8.906/94.

3.1. DA ATIPICIDADE, OBJETIVA E SUBJETIVA, DA CONDUTA.


EVIDENTE ANIMUS NARRANDI. ART. 386, III DO CPP.

Não obstante, conforme se pode depreender, icto oculi, de uma leitura,


ainda que perfunctória, da peça incoativa e de tudo o quanto

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precariamente coligido nos originários autos, a conduta
insubsistentemente imputada ao peticionário é formalmente
atípica, tanto objetiva, quanto subjetivamente.

Na indigitada peça incoativa, aduz, descabidamente, o querelante que


teria sido vítima de hipotético crime contra a honra objetiva,
supostamente praticado pelo peticionário.

Alega, nesse diapasão, que, ao supostamente protocolizar petição em


processo trabalhista no qual atua como patrono, supostamente, teria
o paciente proferido ofensa em seu detrimento.

Dessa forma, consoante a indigitada versão do querelante, teria sido


praticado crime contra sua honra objetiva- crime este que, destaque-
se desde logo, sequer é determinado, fazendo, ineptamente, a queixa-
crime ora menção ao dispositivo atinente ao delito de difamação e ora
menção ao dispositivo atinente ao delito de calúnia.

Pois bem.

Da análise da malfadada queixa-crime e de tudo quanto coligido nos


autos, flagrante, Excelência, é a atipicidade da conduta.

Quanto a atipicidade objetiva, cumpre-se destacar que, ainda que se


considere, apenas por amor ao debate, que a conduta ineptamente
atribuída se subsuma ao delito de difamação, uma vez que
supostamente teria o paciente praticado a conduta nos estritos
interesses de seu constituinte, em discussão de causa em juízo, teria
agido este com a imunidade profissional prevista no art. 142, I do CP.
In verbis:

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Exclusão do crime

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação


punível:

I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da


causa, pela parte ou por seu procurador;

Dessa forma, em face da manifesta configuração da hipótese de


exclusão do crime, objetivamente atípica é a conduta.

Não obstante, data venia, gritante é a atipicidade subjetiva da conduta,


Excelência.

Veja-se que o delito insubsistentemente imputado- o qual, repise-se,


apenas por amor ao debate, considera-se ser o de difamação (art. 139
do CP)-, requer, para sua configuração, a presença do elemento
subjetivo específico do tipo, qual seja, o animus diffamandi.

Com efeito, quanto ao delito de difamação, exige esse, para a sua


configuração, a existência de vontade consciente de difamar e o
especial fim de ofender, consubstanciado no animus diffamandi. Nesse
sentido, vejam-se as lições de Cezar Roberto Bitencourt4:

O elemento subjetivo do crime de difamação é


o dolo de dano, que se constitui da vontade
consciente de se difamar o ofendido imputando-
lhe a prática de fato desonroso;

4
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial – Crimes Contra a Pessoa. 17
ed. São Paulo: Saraiva. 2017 p. 375.

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[...] Além do dolo, é indispensável o animus
diffamandi, elemento subjetivo especial do
tipo, como ocorre em todos os crimes contra a
honra. A difamação também exige o fim
especial de difamar, a intenção de ofender, de
denegrir, o desejo de atingir a honra do
ofendido. A ausência desse especial fim
impede a tipificação do crime. (grifos
destacados)

Destaque-se que, do mesmo modo, ainda que se considere


hipoteticamente o crime de calúnia, requer esse, para a sua
configuração, a presença do elemento subjetivo especial do tipo, ou
seja, a vontade consciente de caluniar e o especial fim de agir nesse
sentido, consubstanciado no animus caluniandi. Veja-se, mais uma
vez, o escólio de Cezar Roberto Bitencourt5:

O elemento subjetivo geral do crime de calúnia


é o dolo de dano, que é constituído pela
vontade consciente de caluniar a vítima,
imputando-lhe a prática de fato definido como
crime, de que o sabe inocente. É indispensável
que o sujeito ativo- tanto o caluniador quanto
o propalador- tenha consciência de que a

5
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial 2 – Crimes contra a Pessoa.
17 ed. São Paulo: Saraiva. 2017. P. 443-446.

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imputação é falsa, isto é, que o imputado é
inocente da acusação que lhe faz.

Da análise dos autos, evidente é que não houve, no vergastado


petitório, dolo de ofender, seja a título de animus caluniandi ou de
animus diffamandi, a honra da pseudovítima.

Notadamente, ao supostamente peticionar na mencionada ação


trabalhista, requerendo e fundamentando que o alvará
referente àqueles autos fosse emitido em seu nome, teria o
paciente agido com evidente animus narrandi.

Como é cediço, a presença de animus narrandi na conduta afasta o


dolo de ofender, uma vez que, imbuído de tal elemento subjetivo, age
o sujeito com o exclusivo fim de narrar um fato, o que, por derradeiro,
não constitui crime.

Nesse sentido, destacam-se, mais uma vez, as lições do mencionado


autor6:

Na verdade, uma variedade de animus pode excluir,


de alguma forma, a responsabilidade penal do
agente: animus jocandi (intenção jocosa, de
caçoar); animus consulendi (intenção de
aconselhar, advertir), desde que tenha dever
jurídico ou moral de fazê-lo; animus corrigendi
(intenção de corrigir), desde que haja a relação de

6
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Especial 2 – Crimes contra a Pessoa.
17 ed. São Paulo: Saraiva. 2017. P. 359.

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autoridade, guarda ou dependência, exercida em
limites toleráveis; animus defendendi (intenção de
defender), [...] animus narrandi, quando o
agente limita-se a relatar ou narrar o que sabe
e deve fazer. Enfim, qualquer animii que, de
alguma forma, afaste o animus offendendi
exclui o elemento subjetivo. (grifos destacados)

No mesmo sentido, veja-se o sedimentado entendimento


jurisprudencial pátrio, a exemplo do seguinte julgado do STF, que
destaca que a presença de animus narrandi afasta a tipificação dos
crimes de calúnia e difamação:

PENAL. QUEIXA-CRIME. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO.


DOLO. AUSÊNCIA. MERA INTERPRETAÇÃO PESSOAL
DE FATOS PÚBLICOS. ANIMUS NARRANDI. FALTA
DE JUSTA CAUSA. REJEIÇÃO DA QUEIXA-CRIME. 1.
A queixa crime reclama a subsunção do fato
concreto ao tipo penal previsto na norma abstrata
como pressuposto lógico do juízo de tipicidade
aferível no ato de recebimento. 2. (a) A persecução
penal, a partir da superação do paradigma causal da
ação pelo da “ ação final” , legitima-se quando
presentes indícios do elemento subjetivo do tipo,
consistente na vontade livre e consciente de
produzir o resultado violador do bem jurídico
tutelado pela norma penal. (b) Os crimes contra a
honra pressupõem que as palavras atribuídas ao

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agente, além de se revelarem aptas a ofender,
tenham sido proferidas exclusiva ou principalmente
com esta finalidade, sob pena de criminalizar-se o
exercício da crítica, manifestação do direito
fundamental à liberdade de expressão. (c) A
jurisprudência desta Corte consolidou-se no
sentido de que, para a incidência dos tipos
penais referentes à calúnia, à difamação e à
injúria, o mero animus narrandi não configura
o dolo imprescindível à configuração de tais
delitos. [...] 4. Assenta-se, dessa forma, ser
induvidosa a ausência de justa causa para o
início da ação penal, porquanto ausente
animus caluniandi ou difamandi. 5. Ex positis,
rejeito a queixa-crime, nos termos do art. 395,
III, do Código de Processo Penal (Art. 395. A
denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...] III
- faltar justa causa para o exercício da ação penal).
(STF - Pet: 5735 DF - DISTRITO FEDERAL 0005098-
52.2015.1.00.0000, Relator: Min. LUIZ FUX, Data
de Julgamento: 22/08/2017, Primeira Turma, Data
de Publicação: DJe-206 12-09-2017)

Nesse diapasão, destaca-se, ainda, o seguinte julgado do STJ:

QUEIXA-CRIME. DIFAMAÇÃO (ART. 139, CP).


ELEMENTOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DO TIPO.
AUSÊNCIA NA ESPÉCIE. FALTA DE JUSTA CAUSA.

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REJEIÇÃO DA AÇÃO PENAL (ART. 6º DA LEI
8.038/90). [...] 3. A doutrina pátria leciona: "Para
que se possa admitir como configurada a difamação,
tal como penalmente considerada, é necessário que
se explique o prejuízo moral que dela redundou; não
basta retirar um dito qualquer de uma frase: é
mister que seja acompanhado de circunlóquios,
como esclarecem doutrina e jurisprudência. Não há
'animus diffamandi' na conduta de quem se
limita a analisar e argumentar sobre dados,
fatos, elementos, circunstâncias, sempre de
forma impessoal, sem personalizar a
interpretação. Na verdade, postura
comportamental como essa não traduz
intenção de ofender (...)" (Cezar Roberto
Bitencourt, "Tratado de Direito Penal", Parte
Especial, vol. 2, 8ª ed., São Paulo, Saraiva, 2008,
pp. 304-305). 4. Os elementos subjetivos que
integram o tipo da difamação excluem o
denominado "animus narrandi". Sob esse
ângulo, já asseverava Nelson Hungria: "Pode-se,
então, definir o dolo específico do crime contra a
honra como sendo a consciência e a vontade de
ofender a honra alheia (reputação, dignidade ou
decoro), mediante a linguagem falada, mímica ou
escrita. Ê indispensável a vontade de injuriar ou
difamar, a vontade referida ao 'eventus sceleris',

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que é no caso, a ofensa à honra" ("Comentários ao
Código Penal", volume VI, 5ª ed.: Rio de Janeiro,
Forense, 1982, p. 53). 5. A Corte Especial tem
assentado que: "PENAL. DENÚNCIA. JUIZ DO
TRABALHO. ART. 299 DO CÓDIGO PENAL.
REJEIÇÃO. [...] O seu recebimento só se impõe
quando narra fato que permite adequação penal
típica. Caso contrário, prevalece a necessidade de
sua rejeição. A denúncia, tem afirmado a doutrina e
a jurisprudência, afirmou o Min. Orozimbo Nonato
(RF 150/393), 'não pode ser o resultado de vontade
pessoal e arbitrária do acusador. O Ministério
Público,para validamente formular a denúncia
penal, deve ter por suporte uma necessária base
empírica, a fim de que o exercício desse grave
dever-poder não se transforma em um instrumento
de injusta persecução estatal. O ajuizamento da
ação penal condenatória supõe a existência de justa
causa, que se tem por inocorrente quando o
comportamento atribuído ao réu, nem mesmo em
tese constitui crime, ou quando, configurado uma
infração penal, resulta de pura criação mental da
acusação'. Constitui fortalecimento ao Estado de
Direito e consagração do princípio da dignidade
humana a afirmação do Min. Celso de Mello (HC nº
70.763-7/DF, 1ª T, DJU de 23.9.94, p. 25.328) no
sentido de que 'o processo penal do tipo acusatório

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repele, por ofensiva à garantia de defesa, quaisquer
imputações que se mostrem indeterminadas, vagas,
contraditórias, omissas ou ambíguas. Existe, na
perspectiva dos princípios constitucionais que
regem o processo penal, em nexo de indiscutível
vinculação entre a obrigação estatal de oferecer
acusação formalmente precisa e juridicamente apta
e o direito individual de que dispõe o acusado à
ampla defesa'. Em um Estado de Direito não se há
de prestigiar denúncia que não contenha exposição
de" fato delituoso em toda a sua essência e com
todas as suas circunstâncias [...] "(Min. Celso de
Mello, HC nº 73.271-2-SP, DJU de 4.10.96). (STJ -
APn: 607 MS 2009/0221277-1, Relator: Ministro
LUIZ FUX, Data de Julgamento: 15/09/2010, CE -
CORTE ESPECIAL, Data de Publicação: DJe
30/09/2010)

No citado decisum, em similaridade ao que ora se sustenta, ante a


manifesta atipicidade da conduta imputada, não apenas reconheceu o
STJ a atipicidade da conduta, como, também a inépcia e a ausência de
justa causa, pela presença de animus narrandi, que exclui o dolo
específico da conduta. Veja-se:

[...] 6. Denúncia que se rejeita por não


descrever conduta que possa ser, mesmo em
tese, considerada criminosa. (APn nº 418/MT,
Corte Especial, Rel. Min. José Delgado, DJ

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03.04.2006)" 6. Deveras, o Ministério Público
opinou, verbis: "... ao analisar os autos do processo
em epígrafe, verifica-se que não há o pressuposto
da justa causa para a persecução penal contra o
Querelado. A consumação do delito imputado exige
um elemento subjetivo correspondente à vontade
específica de macular a imagem de alguém (animus
diffamandi), o que não foi evidenciado na narrativa
dos fatos. Assim sendo, não se vislumbra na
hipótese o elemento subjetivo do injusto, qual seja,
o dolo específico consistente na vontade livre e
consciente de ofender a honra objetiva e subjetiva
[...] Note-se que, na espécie, não há o emprego de
expressão ofensiva. Não se vislumbra, portanto,
que o Querelado tivesse a vontade específica de
atingir a honra subjetiva e objetiva da Querelante,
mas, antes, de fundamentar a decisão de sua lavra.
Assim, o cenário fático delineado nos autos denota
que não houve o dolo específico de difamar L.E.A.B.
(...) Desse modo, conclui-se que as expressões
utilizadas na decisão do Querelado não alcançam o
patamar da relevância penal, não se configurando o
crime imputado, notadamente em virtude da
ausência do animus diffamandi vel injuriandi. Ante
o exposto, manifesta-se o Procurador-Geral da
República pela rejeição da queixa-crime". 7.

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Queixa-crime rejeitada por ausência de justa causa
(art. 6º,"caput", da Lei nº 8.038/1990).

Por tudo quanto exposto, inconteste a atipicidade, objetiva e


subjetiva, da conduta, impondo-se seja arquivada a vergastada
ação penal, com fundamento no art. 386, III do CPP.

4. DA AUSÊNCIA DO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS


DEVIDAS. ART. 806 CPP C/C 92 DA LEI N. 9.099/95. NULIDADE
ABSOLUTA NÃO SANADA DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL.
ART. 107, IV DO CP.

Como bem reconhecido pelo Juízo da 4ª Vara do JECRIM, em audiência


à fl.28, não houve o pagamento das custas processuais devidas
quando do oferecimento da queixa-crime.

Com efeito, consoante a previsão do art. 806 do CPP c/c o art. 92 da


Lei n. 9.099/95, para o oferecimento de queixa-crime deve haver o
devido pagamento das custas processuais. Eis o teor:

Art. 806. Salvo o caso do art. 32, nas ações


intentadas mediante queixa, nenhum ato ou

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diligência se realizará, sem que seja
depositada em cartório a importância das
custas.

§ 1o Igualmente, nenhum ato requerido no


interesse da defesa será realizado, sem o prévio
pagamento das custas, salvo se o acusado for
pobre.

§ 2o A falta do pagamento das custas, nos


prazos fixados em lei, ou marcados pelo juiz,
importará renúncia à diligência requerida ou
deserção do recurso interposto.

Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as


disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal,
no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Assim, uma vez que não houve o pagamento das custas processuais
devidas, impõe-se o reconhecimento da nulidade no processo ora
combatido. Com efeito, pela intelecção do art. 806 do CPP c/c o art. 92
da Lei n. 9.099/95, uma vez que foi a queixa-crime oferecida e
distribuída sem o pagamento das custas devidas, é essa nula.

Registre-se ainda que, uma vez que não foi tal nulidade sanada dentro
do prazo decadencial, resta extinta a punibilidade deste paciente, pela
decadência, com escopo no art. 107, IV do CP.

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Número do documento: 21042619243074800000014589926
Com efeito, embora narre a indigitada queixa-crime que, no dia
20/11/2016, tomou conhecimento o querelante dos fatos
hipoteticamente praticados, apenas em 09/04/2018 (mais de
um ano depois) veio a efetuar o pagamento das custas devidas.

Como é cediço, conforme preveem os art. 38 do CPP e 103 do CP, a


decadência opera-se no prazo de seis meses da data em que tomou
conhecimento da suposta autoria.

Assim, passados mais de seis meses da data em que supostamente


teria tomado conhecimento da hipotética autoria, quando veio a
efetuar o pagamento das custas devidas para o oferecimento de
queixa-crime, resta extinta a punibilidade deste paciente, conforme a
previsão do art. 107, IV do CP. In verbis:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - pela prescrição, decadência ou


perempção;

Nesse sentido, ressalta-se ser o entendimento sedimentado e


remansoso dos tribunais pátrios, destacando-se, por oportuno, os
seguintes julgados:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PENAL E


PROCESSUAL PENAL. QUEIXA-CRIME. CRIMES
DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. RECURSO CONTRA
DECISÃO QUE REJEITOU A QUEIXA-CRIME E
DECLAROU A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

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DECADÊNCIA. PROCURAÇÃO. CUSTAS
PROCESSUAIS. VÍCIOS. PEDIDO DE
RECEBIMENTO DA QUEIXA-CRIME.
INVIABILIDADE. VÍCIOS NÃO SUPRIDOS
DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Em regra, o
direito de queixa deve ser exercido no prazo de 06
(seis) meses, contados do dia em que o ofendido
(ou seu representante legal) teve conhecimento de
quem é o autor do crime, nos termos do art. 38,
caput, do CPP e do art. 103 do CP. 2. O prazo
decadencial deve ser contado na forma do art. 10
do CP, ou seja, o dia de ciência da autoria do fato
pelo querelante é o primeiro dia do prazo para
oferecimento da queixa-crime. 3. A queixa-crime
deve estar acompanhada de procuração com
poderes especiais que autorizem o causídico a
promover a ação penal, apontando o nome do
querelado e a menção do fato criminoso, salvo
quando tais esclarecimentos dependerem de
diligências que devem ser previamente requeridas
no Juízo Criminal, conforme dispõe o art. 44 do CPP.
4. A ação penal privada está sujeita ao prévio
pagamento das custas iniciais referentes à
tramitação do processo judicial, nos termos do
art. 806 do CPP. 5. Apesar de ser admissível o
saneamento de eventuais vícios da queixa-

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crime, a referida regularização deve ocorrer
dentro do prazo decadencial, sob pena de
indevidamente alargar-se tal período. 6.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJDF; RSE
07238.47-20.2020.8.07.0001; Ac. 131.7101;
Segunda Turma Criminal; Rel. Des. Robson Barbosa
de Azevedo; Julg. 18/02/2021; Publ. PJe
19/02/2021)

JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. DIREITO


PROCESSUAL PENAL. QUEIXA-CRIME.
AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE CUSTAS
INICIAIS. ART. 806 DO CPP. REJEIÇÃO.
ADITAMENTO DE QUEIXA CRIME. NÃO
CABIMENTO. RECURSO PREJUDICADO.
SENTENÇA ANULADA. 1. Insurgem-se os
querelantes contra a sentença que homologou a
transação penal oferecida pelo Ministério Público, na
qualidade de fiscal da Lei, e aceita pelo querelado.
Afirmam que, por se tratar de ação penal privada, o
Parquet não poderia ter proposto o referido
benefício sem o consentimento dos ora recorrentes,
razão pela qual requerem a anulação da sentença
que homologou o acordo. 2. Os querelantes não
recolheram as custas iniciais do processo quando do
protocolo da exordial acusatória, tampouco
pugnaram pela concessão da gratuidade de justiça
na peça de queixa-crime. 3. À míngua de previsão
expressa na Lei nº 9.099/95 quanto à isenção do
pagamento de custas iniciais no âmbito dos Juizados
Especiais Criminais, aplica-se às ações penais
intentadas mediante queixa o disposto no art. 806
do Código de Processo Penal. CPP, cuja incidência

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subsidiária é determinada pelo art. 92 da Lei nº
9.099/95. 4. Precedentes: Acórdão n. 608652,
20120110483702APJ, Relator: DIVA LUCY DE
FARIA Pereira 1ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento:
07/08/2012, Publicado no DJE: 13/08/2012. Pág. :
240. Partes: Jader Oliveira Ticly versus Tomaz José
Ferreira Da Rosa e outros; Acórdão 1176977,
20180710053300APJ, Relator: João Luís Fischer
DIAS, 2ª TURMA RECURSAL, data de julgamento:
22/5/2019, publicado no DJE: 12/6/2019. Pág. :
577/583. Partes: Wando Lobato Campos versus
Jean Michel da Silva Rocha. 5. O recolhimento das
custas dentro do prazo decadencial de 6 (seis)
meses, contados do dia em que conhecida a
autoria do delito, é condição de
procedibilidade da ação. O não cumprimento
desse requisito caracteriza vício insanável, a
inviabilizar o recebimento da queixa-crime
(art. 395, II, do CPP), notadamente quando o
recolhimento das custas junto ao recurso
inominado se deu quando já transcorrida a
decadência. 6. Não há que falar em intimação
dos querelantes para pagamento das custas
iniciais, posto que deveriam eles ser diligentes
para realizar o aditamento de sua queixa crime
no devido prazo decadencial. Ainda, não há
texto legal que exija tal intimação. Por
aplicação analógica do CPP, o recolhimento
das custas é condição de procedibilidade.
Precedente: Acórdão 1160191,
20181610006617APJ, Relator: Arnaldo Corrêa
Silva, 2ª TURMA RECURSAL, data de julgamento:
20/3/2019, publicado no DJE: 26/3/2019. Pág. :
675/676. Partes: Armando Luis Teixeira Andrade

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versus Fernando Artaban Resende. 7. Recurso
PREJUDICADO. Sentença anulada de ofício diante
da ausência de condição de procedibilidade para a
ação penal. Processo extinto sem resolução do
mérito (art. 395, II, do CPP). Custas recolhidas.
Sem condenação em honorários sucumbenciais por
ausentes contrarrazões. (JECDF; APR 07529.49-
76.2019.8.07.0016; Ac. 126.2361; Segunda Turma
Recursal; Rel. Des. João Luis Fischer Dias; Julg.
07/07/2020; Publ. PJe 22/07/2020).

Vê-se, portanto, que o recolhimento das custas afigura insofismável


condição de procedibilidade da ação penal privada, que jamais poderá
ser recebida sem que seja satisfeita, tempestivamente, a exigência
indigitada.

Sobreleva destacar, na esteira dos julgados colacionados, que a


tempestividade no recolhimento das custas confunde-se com a
tempestividade para o próprio ajuizamento da queixa-crime; haja
vista que o prazo decadencial de 06 (seis) meses aplica-se nos dois
casos.

De fato, uma vez inobservada a diligência referida, que acarreta,


invariavelmente, na rejeição da queixa-crime, inexiste fundamento
legal a justificar a exasperação do prazo decadencial, ou para
sobrestá-lo, a fim de que seja oportunizado o recolhimento das
custas.

Ora, o recolhimento das custas, enquanto condição de


procedibilidade, é conditio sine qua non para o exercício da ação penal
privada, que deverá sê-lo dentro de 06 (seis) meses, razão pela qual,

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inequivocamente, a sua satisfação deve se dar tempestivamente, sob
pena de que a pretensão seja fulminada pela decadência.

Por tudo quanto exposto, requer a concessão definitiva da


ordem pelo trancamento da vergastada ação penal, ante a
ausência do pagamento das custas processuais devidas quando
do oferecimento da indigitada queixa-crime, e uma vez que não
foi tal nulidade sanada dentro do prazo decadencial, com
fundamento nos art. 806 do CPP c/c o art. 92 da Lei no 9.099/95
e art. 107, IV do CP.

5. DA INÉPCIA DA QUEIXA-CRIME. ART. 41 C/C O ART. 395,


I DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.

O art. 41 do Código de Processo Penal estabelece um conteúdo mínimo


necessário para que a peça acusatória seja recebida, devendo essa
expor o fato delituoso com todas as suas circunstâncias, dentre as
quais a qualificação do acusado, a individualização e determinação
da conduta, descrevendo meio, modo, tempo e lugar e a
classificação do crime. Eis o teor:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a


exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol
das testemunhas.

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Imperioso que a exposição do fato supostamente criminoso atenda a
esse conteúdo mínimo, pois, de outra forma, restaria inviabilizada a
defesa do acusado, em flagrante inobservância ao contraditório e à
ampla defesa, inerentes ao processo penal. Nesse sentido, destaca-se
a seguinte jurisprudência:

HABEAS CORPUS. QUEIXA-CRIME. DELITOS


CONTRA A HONRA. INÉPCIA DA PEÇA
INCOATIVA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
Sabe-se que, na queixa-crime, o autor da ação
penal deve narrar o suposto fato delituoso com
todas as suas circunstâncias, sob pena de
obstar o exercício de direito de defesa, uma vez
que o acusado se defende dos fatos que lhe são
imputados. In casu, a peça incoativa é
totalmente genérica, eis que, além de não
conseguir descrever os fatos delituosos,
também não detalhou as circunstâncias dos
acontecimentos, como data, local e forma,
informações que eram possíveis de ser
narradas, não atendendo, assim, os requisitos
insculpidos no artigo 41 da Lei Adjetiva Penal,
fazendo com que seja inepta. Habeas corpus
concedido. (Habeas Corpus Nº 70053773925,
Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do

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RS, Relator: Manuel José Martinez Lucas, Julgado
em 24/04/2013)

Com este mesmo entendimento, destaca-se jurisprudência do


Supremo Tribunal Federal:

HABEAS CORPUS. PEDIDO DE TRANCAMENTO DE


AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE, OU
ABUSO DE PODER. REGRAMENTO
CONSTITUCIONAL DO HABEAS CORPUS. DENÚNCIA
QUE DESCREVE SUFICIENTEMENTE OS FATOS
ILÍCITOS. ORDEM DENEGADA.2. Quando se trata de
apreciar a alegação de inépcia da denúncia ou de
sua esqualidez por qualquer outro motivo, dois são
os parâmetros objetivos que orientam tal exame: os
arts. 41 e 395 do Código de Processo Penal. O art.
41 indica um necessário conteúdo positivo
para a denúncia, pois ela, denúncia, deve
conter a exposição do fato criminoso, ou em
tese criminoso, com todas as suas
circunstâncias, de par com a qualificação do
acusado, ou, de todo modo, conter
esclarecimentos que possam viabilizar a
defesa do acusado. Isso para que o
contraditório se estabeleça nos devidos
termos. Já o artigo 395, este impõe à peça de
acusação um conteúdo negativo. Se no primeiro
(art. 41) há uma obrigação de fazer por parte do

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Ministério Público, no segundo (art. 395) há uma
obrigação de não fazer; ou seja, a denúncia não
pode incorrer nas impropriedades indicadas no
mencionado art. 395 do CPP.” (STF - HC: 98134 PA,
Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento:
30/11/2010, Segunda Turma, Data de Publicação:
DJe-043 DIVULG 03-03-2011 PUBLIC 04-03-2011
EMENT VOL-02476-01 PP-00012) – (grifos nossos).

Quanto à determinação contida ao teor do art. 41 do Código de


Processo Penal, destaca-se também o seguinte julgado:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO CONHECIDO


COMO APELAÇÃO. FUNGIBILIDADE RECURSAL.
QUEIXA-CRIME. ARTIGO 139, C/C 141, III, AMBOS
DO CÓDIGO PENAL. DIFAMAÇÃO. AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTO PROCESSUAL. FALTA DE
CAPACIDADE POSTULATÓRIA. INICIAL FIRMADA
POR PESSOA SEM INSCRIÇÃO NA OAB/RS.
DECADÊNCIA. REJEIÇÃO DA QUEIXA CRIME.
INÉPCIA DA INICIAL. 3. Para o recebimento da
queixa-crime faz-se necessário que a inicial
venha acompanhada de um mínimo de
elementos indiciários da existência do ilícito,
de forma a configurar justa causa para o início
da ação penal, além da exposição do fato
criminoso com todas as suas circunstâncias,
sob pena de inépcia da inicial, de acordo com

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o estipulado no art. 41 do CPP. 4. Na situação
versada, além de não descrever a data, local e hora
da suposta prática do delito contra a honra, a inicial
não expõe os fatos com todas as circunstâncias,
sequer narrando a própria conduta entendida como
difamatória. APELAÇÃO IMPROVIDA. (Recurso...
Crime Nº 71005430608, Turma Recursal Criminal,
Turmas Recursais, Relator: Edson Jorge Cechet,
Julgado em 09/11/2015). (TJ-RS - RC:
71005430608 RS, Relator: Edson Jorge Cechet,
Data de Julgamento: 09/11/2015, Turma Recursal
Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do
dia 12/11/2015)

Em observância à referida necessidade, o art. 395, I, do Código de


Processo Penal determina a rejeição da peça acusatória quando essa
for manifestamente inepta, ou seja, não atender ao conteúdo positivo
mínimo elencado no art. 41 do Código de Processo Penal. In verbis:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada


quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de
2008).

I - for manifestamente inepta;

Feitas essas considerações, observa-se que a queixa-crime não


descreve o fato supostamente delituoso com todas as suas
circunstâncias, como estabelece a lei processual penal. Note-se,
Excelência, que a peça incoativa apenas narra que o peticionário
supostamente teria atingido a honra objetiva do querelante ao

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hipoteticamente afirmar, em petição protocolizada em processo
trabalhista, que o querelante teria deixado o escritório e as causas nas
quais, nele, atuava, bem como de que fora hipoteticamente informado
de que respondia a procedimentos administrativos.

Não há, portanto, qualquer descrição pormenorizada da hipotética


conduta, limitando-se a queixa-crime a descrever a genérica conduta
ora transcrita.

Ademais, não há qualquer demonstração, ainda que mínima, do


elemento subjetivo essencial à configuração do delito
imputado, qual seja, o animus diffamandi, motivo pelo qual a
queixa-crime também é inepta.

Outrossim, e não menos importante, embora


insubsistentemente impute ao peticionário a prática do delito
previsto no art. 138 do CP, requer o querelante, na queixa-
crime, a condenação do paciente nas penas de outro crime, qual
seja, o crime de calúnia, previsto ao teor do art. 139 do CP.

Além de ora pedir seja condenado às penas do art. 139 e ora


pedir para serem-lhe aplicadas as penas do art. 139, apenas
narra, como conduta criminosa, a suposta mácula à sua honra
objetiva, o que hipoteticamente se enquadraria em qualquer
dos dois dispositivos, sendo flagrantemente inepta.

Outrossim, além da citação dos artigos destacados, não faz a


queixa-crime qualquer menção ao delito que teria sido
supostamente praticado, ao arrepio das garantias à ampla

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defesa e ao contraditório, bem como ao comando do art. 41 do
CP.

Assim, flagrante a inépcia da queixa-crime e a total ofensa ao


contraditório e ampla defesa deste paciente, pelo que pugna-
se, subsidiariamente, a concessão definitiva da ordem pelo
trancamento da ação penal n°0014862-65.2017.8.05.0001, em
trâmite na 6a Vara do Sistema de Juizados Especiais Criminais,
de Salvador/BA, com base nos art. 41 e art. 395, I, do Código
de Processo Penal.

6. DA PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS À CONCESSÃO LIMINAR


DA ORDEM, PARA OBSTAR, DE IMEDIATO, O PROSSEGUIMENTO
DO FEITO.

Diante do evidente constrangimento ilegal sofrido pelo Paciente, com


a formal instauração do vergastado processo criminal, mediante o
recebimento da malfadada queixa-crime, e designação do dia 08 de
junho de 2021, 08:30h (fls. 141/142), para a realização de
audiência de instrução e julgamento, mesmo diante de conduta
manifestamente atípica, tanto pela exclusão de ilicitude decorrente do
estrito cumprimento de dever legal (art. 23, III do CP), como pela
flagrante atipicidade objetiva e subjetiva da conduta. Bem como, ante
a nulidade do oferecimento da queixa-crime, uma vez que interposta
sem o necessário pagamento das custas processuais, vício este não
sanado dentro do prazo decadencial, e ainda da flagrante inépcia da
exordial acusatória, restam consubstanciados os pressupostos à

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concessão da medida liminar, a fim de suspender, imediatamente, o
trâmite da ação penal originária.

Conforme exposto, trata-se a ação penal originária de hipótese


inequívoca de atipicidade (conglobante) da conduta, uma vez que, na
condição de patrono constituído em processo trabalhista, teria o
paciente agido na defesa dos interesses de seu constituinte, em
manifesto e estrito cumprimento de dever legal (art. 23, III do CP).

Outrossim, trata-se ainda de conduta manifestamente atípica, objetiva


e subjetivamente, pois na condição de patrono defendendo os
interesses do constituinte em processo judicial, teria o paciente agido
sob o manto da imunidade disciplinada no art. 142, I do CP, e da
inviolabilidade profissional insculpida no art. Art. 2o, § 3o do Estatuto
de Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (Lei no 8.906/94),
em flagrante animus narrandi, portanto, desprovido de dolo específico
de ofender.

Não obstante, configura hipótese manifesta de nulidade no


oferecimento da queixa-crime, em razão de ter sido oferecida sem o
pagamento das necessárias custas processuais, vício esse não sanado
dentro do prazo decadencial.

Como se não bastasse, a queixa-crime insubsistentemente oferecida é


manifestamente inepta, pois não imputa qualquer delito determinado
ao paciente, bem como não indica a presença do indispensável (e não

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configurado) dolo específico de ofender, a configurar crime contra a
honra.

Pelo quanto exposto, evidencia-se a fumaça do bom direito,


haja vista estar a ação penal intentada contra o Paciente, ab
initio, prejudicada pela flagrante atipicidade da conduta, pela
nulidade da queixa-crime e decadência, bem como pela
manifesta inépcia da exordial de acusação.

Diante de tudo quanto foi exposto, imperioso reconhecer que o


recebimento da queixa-crime e designação de audiência de
instrução e julgamento, no caso em tela, configura nítido
constrangimento ilegal, ao submeter o Paciente à teratológico
processo penal, bem como à audiência de instrução e
julgamento no qual será interrogado e eventualmente
condenado (embora o flagrante descabimento!) por conduta
manifestamente atípica.

Neste diapasão, destaca-se abalizada jurisprudência, no sentido de


deferimento de liminar para suspender processo em decorrência da
designação de audiência de instrução e julgamento:

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


ESTADO DO PARÁ TURMA RECURSAL PERMANENTE
DOS JUIZADOS ESPECIAIS Processo Nº 0000181-
36.2019.8.14.9001 [...] Trata-se de Habeas Corpus
impetrado por ADALBERTO SILVA, JACQUELINE

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MARIA MALCHER MARTINS e THIAGO LUIZ DO
AMARAL SILVA em favor de FERNANDO FRANÇA DE
MENDONÇA FILHO, ANTONIETA VITÓRIA FRANÇA
DE MENDONÇA e BRÍGIDO NEVES DA SILVA, os
quais requerem o trancamento da Ação Penal nº.
0005194-42.2019.8.14.0133, em trâmite perante o
juízo do JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DE
MARITUBA. [...]. O conhecimento do habeas corpus
pressupõe prova pré-constituída do direito alegado,
devendo a parte demonstrar de maneira inequívoca
a pretensão deduzida e a existência do evidente
constrangimento ilegal. Pretendem os impetrantes
o trancamento da ação penal instaurada contra os
pacientes, denunciados pela prática do delito
capitulado no artigo 60 da Lei 9.605/98. Visam, em
sede de novo pedido liminar, a suspensão da
realização da Audiência de Instrução e
Julgamento agendada paraa3 ocorrer no dia
30/09/2019 às 09:00h, perante o Juízo do
Juizado Especial Cível e Criminal de Marituba,
no curso da Ação Penal nº 0005194-
42.2019.8.14.0133. Inicialmente ressalto que
a concessão de liminar em habeas corpus,
admitida pela doutrina e jurisprudência, exige
demonstração inequívoca dos requisitos
autorizadores do periculum in mora, do fumus
boni iuris e da plausibilidade do direito

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alegado. Compulsando os Autos, entendo que
estão preenchidos os requisitos do periculum
in mora e do fumus boni iuris, pois vislumbro
a possibilidade de dano irreparável ou de
difícil reparação aos pacientes antes da
decisão de mérito, bem como, perecem
relevantes os argumentos dos impetrantes a
demonstrar a ilegalidade dos atos
impugnados. Ante o exposto, havendo fumus
boni iuris e periculum in mora, DEFIRO A
LIMINAR PARA SUSPENDER a realização da
Audiência de Instrução e Julgamento agendada
para ocorrer no dia 30/09/2019 às 09:00h, perante
o Juízo do Juizado Especial Cível e Criminal de
Marituba, no curso da Ação Penal nº 0005194-
42.2019.8.14.0133, até o julgamento final do
presente Habeas Corpus. Publique-se. (TJ-PA - HC:
00001813620198149001 BELÉM, Relator: ANA
ANGELICA PEREIRA ABDULMASSIH, Data de
Julgamento: 30/09/2019, TURMA RECURSAL
PERMANENTE, Data de Publicação: 30/09/2019)

Portanto, o prosseguimento do feito em seu trâmite natural,


com a realização da audiência de instrução e julgamento,
representa patente constrangimento ilegal, ao submeter o
paciente à situação vexatória de responder como suposto autor
de fato hipoteticamente criminoso que não cometeu, podendo,

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eventualmente- embora, à míngua de qualquer fundamento ou
elemento para tanto- ser condenado por conduta que, para
além de não constituir crime, é justamente exigida por lei.

Destarte, consubstanciado o periculum in mora, requer a


suspensão do feito até a apreciação do presente remédio
constitucional.

7. DOS REQUERIMENTOS.

Por tudo o quanto fartamente exposto, requer:

a) A suspensão liminar do processo n°0014862-


65.2017.8.05.0001, até o julgamento final deste writ;

b) Seja intimado o Ministério Público para manifestar-se;

c) Seja reconhecida a causa excludente de ilicitude do estrito


cumprimento do dever legal (art. 23, III do CP) e a
consequente atipicidade conglobante da conduta,
arquivando o processo originário com fundamento no art.
386, III do CPP c/c o art. 23, III do CP;

d) Seja reconhecida a causa excludente de tipicidade da


imunidade judiciária (art. 142 do CP) e ter o paciente
agido sob o manto da inviolabilidade profissional (art. 2o,
§ 3o da Lei no 8.906/94), arquivando o processo originário

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com fundamento no art. 386, III do CPP c/c o art. 142, I
do CP e art. 2o, § 3o da Lei no 8.906/94);

e) Seja reconhecida a atipicidade da conduta pela manifesta


ausência do dolo específico de ofender, uma vez que
supostamente praticada com evidente animus narrandi,
arquivando o processo originário com fundamento no art.
386, III do CPP;

f) Seja reconhecida a nulidade absoluta do oferecimento da


queixa-crime sem o necessário pagamento das custas
processuais, vício este não sanado dentro do prazo
decadencial, arquivando o processo originário em razão
da extinção de punibilidade, com fundamento no art. 806
do CPP c/c o art. 92 da Lei no 9.099.95 e o art. 107, IV do
CP;

g) Seja reconhecida a flagrante inépcia da queixa-crime,


reformando a, data vênia, equivocada decisão de
recebimento da queixa-crime, rejeitando-a e arquivando,
em definitivo, os autos originários, com fundamento no
art. 41 c/c o art. 395, I do CPP;

h) Requer, ainda que todas as intimações sejam feitas


exclusivamente em nome do advogado Gamil Föppel El
Hireche, inscrito na Oab/Ba sob o n° 17.828, sob pena de

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nulidade, na forma do artigo 272, §5°, do Código de
Processo Civil;

i) Por fim, a intimação para a sessão de julgamento do


presente mandamus, a fim de viabilizar a sustentação oral
de suas razões, sob pena de nulidade.

Salvador, 26 de abril de 2021.

GAMIL FÖPPEL

OAB/BA 17.828

MATHEUS BISET

OAB/BA 44.636

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