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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por NEY JOSE CAMPOS e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo,

protocolado em 26/09/2023 às 16:44 , sob o número WPRO23012275908.


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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1020863-82.2022.8.26.0100 e código vVkWjDu6.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DA SEÇÃO DE
DIREITO PRIVADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

5.683.106

PROCESSO: 1020863-82.2022.8.26.0100

BANCO SAFRA S A, já devidamente qualificado, por seus procuradores


constituídos, vem à presença de Vossa Excelência, nos autos da ação em epígrafe, na
qual contende com Odila Caiuby Guimarães, igualmente qualificado, não se
conformando, data venia, com a r. Decisão Monocrática retro, vem, perante Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 1.021 do CPC interpor o presente AGRAVO INTERNO
EM RECURSO ESPECIAL, a fim de que este seja provido e, ato contínuo, seja conhecido
o Recurso Especial interposto.

Após cumpridas as formalidades legais, caso Vossa Excelência não exerça


juízo de retratação, requer seja o presente Agravo Interno recebido e, pedindo dia,
inclua-o em pauta para julgamento.

Termos em que, pede deferimento.


Belo Horizonte, 26/09/2023.

P.P NEY JOSÉ CAMPOS


OAB/MG 44.243

P.P DANIEL CAMPOS MARTINS


OAB/MG 119.786

Rua Dom Pedro II, 453 Rua dos Aimorés, 2001, Conj. 901/906 Rua Porto Alegre , nº 316
Bairro Cidade Nobre – Ipatinga/MG Bairro Lourdes– Belo Horizonte /MG Bairro Santa Marta - Uberaba/MG
CEP: 35162-399 TEL: 31 3828-4100 CEP 30140-072 TEL: 31 3785-4269 CEP: 38.061-330 – TEL: 34 3480-2109
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RAZÕES DE AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL

EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA TURMA JULGADORA,

Cuida-se este expediente de Agravo Interno aviado em face da decisão


singular negou seguimento ao Recurso Especial interposto pelo Agravante, com
fundamento no artigo 1.030, I, alínea “b”, do CPC:

“III. Pelo exposto, NEGO SEGUIMENTO ao recurso especial com base no art.
1.030, I, "b", CPC (art. 543-C, § 7º, I, CPC 1973), em razão dos Recursos
Especiais repetitivos nos 1197929/PR e 1199782/PR.”

Contudo, não havia fundamentos para decisão monocrática fulcrada no art.


1.030, I, "b", CPC, pois:

(a) Houve invasão de competência constitucional do Superior Tribunal de


Justiça no exame da violação ao artigo 1.022 c/c 489 do CPC;
(b) Nem todos os objetos do recurso especial são tratados nos Recursos
Especiais repetitivos nos 1197929/PR e 1199782/PR, notadamente a
violação ao artigo 1022 c/c 489 do CPC;
(c) A violação aos art. 186 e 927 do Código Civil possui premissas fáticas que
não se subsumem ao Recursos Especiais repetitivos nos 1197929/PR e
1199782/PR, pois o recurso especial obstado não pretende desconstituir
a responsabilidade objetiva, mas sim reconhecer que o fortuito externo
ocorrido no caso concreto (furto de aparelho celular e fragilização de
dados pela vítima) é causa de exclusão de responsabilidade civil objetiva.

-I-
CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE

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A decisão agravada foi publicada em 01/09/2023. Assim o início do cômputo
do prazo recursal se deu no dia 04/09/2023, segunda-feira, com término em
26/09/2023, terça-feira, computada a suspensão do expediente forense nos dias 07 e
08 de setembro de 2023 (Provimento CSM 2678/2022). Resta, portanto, inconteste a
tempestividade recursal.

- II -
DAS RAZÕES DE AGRAVO

2.1. Da extrapolação de competência por parte do TJSP – análise de mérito do


Recurso Especial – competência exclusiva do STJ – art. 105, III da CF/88

O Desembargador Terceiro Vice-Presidente do TJSP ao prolatar sua decisão de


inadmissão do Recurso Especial extrapolou a sua competência ao analisar o mérito do
mesmo.
A deliberação sobre a presença ou ausência de ofensa à Lei Federal é competência que
cabe apenas ao Superior Tribunal de Justiça no exame do mérito do recurso especial.

O recurso especial aviado pelo Agravante é cabível (porque a alegação é de ofensa a lei
federal); é tempestivo (porque observou o prazo quinzenal); foi interposto pelo ente
legítimo e com interesse (porque foi o Agravante o prejudicado com o julgamento do
recurso de apelação e do recurso especial é o meio adequado a solucionar a questão
instaurada); preencheu a forma prevista na legislação (porque indicou com precisão e
de forma fundamentada a ofensa que se julga existir); foi devidamente prequestionada
nas instâncias ordinárias; foram esgotados os recursos ordinários cabíveis.

Apenas quanto a estes pontos seria lícita e adequada manifestação do Tribunal de 2ª


instância. Adentrando o mérito do recurso, a Corte de origem usurpou a função que
somente cabe à mais alta Corte Infraconstitucional de Justiça, qual seja, de verificar, em
sede de Recurso Especial, a alegada ofensa à lei federal.

Consoante Nery e Nery,

“Ao tribunal a quo cabe somente verificar se estão presentes os


requisitos formais do RE e do RESP. A efetiva violação da CF ou a efetiva
negativa de vigência da lei federal são o mérito do recurso, cuja

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competência para decidir é dos tribunais superiores (STF e STJ). É vedado
ao tribunal de origem dizer que não houve violação da CF ou que não
existiu negativa de vigência da lei federal.”1

No mesmo sentido, José Carlos Barbosa Moreira: “Não compete ao presidente ou ao


vice-presidente examinar o mérito do recurso extraordinário ou especial, nem lhe é lícito
indeferi-lo por entender que o recorrente não tem razão: estaria, ao fazê-lo, usurpando
a competência do STF ou do STJ.” 2

Ora, o artigo 105 da Constituição da República conferiu apenas ao Superior Tribunal de


Justiça a competência para processar e julgar recurso especial por ofensa a lei federal.

É para isso o que alerta Rita Dias Nolasco3, autora que se vale dos pensamentos de
Tereza Arruda Alvim Wambier, Barbosa Moreira e Nelson Luiz Pinto para concluir pela
impossibilidade de exame de mérito em exame de admissibilidade:

“O juízo de mérito dos recursos pressupõe a sua admissibilidade. Mas às vezes o juízo
de admissibilidade é confundido com o próprio mérito do recurso, como por
exemplo no caso do juízo negativo de admissibilidade dos recursos extraordinário e
especial baseado nas letras a dos arts. 102, III, e 105, III, da CF, onde muito
frequentemente se decide o próprio mérito do recurso4.

1 Nery Júnior, Nelson; Nery, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante. 10ª ed. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007. Pág. 933.
2 Comentários ao Código de Processo Civil. 12 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. Item 325, p. 604.

3 Idem, Possibilidade do Reconhecimento de ofício de matéria de ordem pública no âmbito dos recursos de efeito

devolutivo restrito.” In Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. V. 10. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006. Pag. 478-479.
4 Citação da autora: “Para Teresa Arruda Alvim Wambier, ‘nos recursos com fundamentação vinculada há certa dose

de sobreposição entre o juízo de admissibilidade e o de mérito, pois o juízo de admissibilidade de um recurso de


fundamentação vinculada é, muito frequentemente, um juízo de não provimento do recurso, proferido como resultado
de cognição exauriente quanto à inexistência do fundamento invocado na decisão. Por exemplo, os únicos fundamentos
possíveis dos recursos extraordinário e especial são, respectivamente, a ofensa à Constituição Federal e a ofensa à lei
federal. Assim, a decisão de não haver ofensa à lei é baseada em certeza, em cognição exauriente pela obviedade da
situação configurada no caso concreto, cujo objeto, indubitavelmente, é o mérito do recurso.” (Controle das decisões
judiciais. Mcit, p. 173). Correto está Nelson Luiz Pinto ao afirmar que negar seguimento ao recurso especial ou ao
recurso extraordinário sob o fundamento de que não teria efetivamente ocorrido a alegada contrariedade é o
mesmo que adiantar um juízo de mérito do recurso (Manual.... cit. P. 198, 199 e 225). Assim, esta má técnica
utilizada até agora pelos tribunais, no julgamento dos recursos extraordinário e especial, pode levar a
consequências absurdas: pode acontecer que, havendo divergência, alguns votos já estejam no plano do mérito,
enquanto outros se encontram no plano da admissibilidade; pode haver a não apreciação do recurso adesivo em razão
do não conhecimento do recurso, apesar de já se ter ingressado no mérito; pode haver confusão a respeito da
competência para eventual rescisória (neste caso existe a Súmula 294 do STF) (Barbosa Moreira. Comentários ao
Código de Processo Civil. Arts. 476 a 565. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, v. 5. P. 614-615).”

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Barbosa Moreira explica que a hipótese de cabimento dos recursos extraordinário e
especial, prevista na letra a dos arts. 102, III, e 105, III, da CF foi mal redigida, e como
tal merece reforma. Assim, sugere que deveria o legislador ter dito que será cabível
o recurso extraordinário: quando a decisão recorrida for impugnada sob a alegação
de contrariar dispositivo da Constituição Federal; e será cabível o recurso especial:
quando a decisão recorrida for impugnada sob a alegação de contrariar tratado ou
lei federal ou negar-lhes vigência. Quer dizer que basta tal alegação “razoável” a
contrariedade para que se conheça do recurso, pois a verificação se a decisão
recorrida contrariou ou não deve ser feita em etapa posterior, ao se julgar o mérito
do recurso.5”

Vê-se, pois, que é estanque a repartição entre os juízos de mérito e de admissibilidade


dos recursos especiais e que ao Tribunal local compete apenas a análise da presença dos
requisitos formais à interposição do recurso, conforme dicção do artigo 1.030, V do
NCPC:

Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido


será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o
qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido, que deverá:

V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo


Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça;

Assim, data venia ao entendimento exposto, equivocou-se o digníssimo Desembargador


ao proferir juízo sobre o mérito do especial e, ao negar seguimento a esta parte do
recurso, passou a exercer função constitucionalmente assegurada exclusivamente ao
Superior Tribunal de Justiça.

Diante disso, uma vez presentes os requisitos de admissibilidade do recurso especial


interposto (cabimento, tempestividade, preparo, legitimidade, interesse, regularidade
formal, prequestionamento e exaurimento das instâncias ordinárias), pugna o

5 José Carlos Barbosa Moreira. Comentários ... cit. P. 581; 584 e 585. Nelson Luiz Pinto afirma
explica que “alegação razoável” significa a probabilidade de ter havido alegada contrariedade, ou seja,
tanto o tribunal a quo como o STJ para admitir o recurso pela alínea a do art. 105, III, ou pela alínea
a do art. 102, III, da CF devem apenas examinar a plausibilidade da alegação do recorrente, fazendo
uma análise da existência do fumus boni iures da alegada contrariedade ou ofensa à lei federal (no
caso do recurso especial) ou da alegada contrariedade à Constituição Federal (no caso do recurso
extraordinário) (op. Cit. P. 198, 199 e 225).

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Recorrente pela admissão e processamento do recurso excepcional aviado, conforme
manda a lei.

2.2. Violação ao artigo 1022 c/c 489 do CPC: OBJETO DISTINTO DOS
Recursos Especiais repetitivos nos 1197929/PR e 1199782/PR

Na decisão agravada, ao recurso especial foi negado seguimento com fulcro


no com base no art. 1.030, I, "b", CPC (art. 543-C, § 7º, I, CPC 1973), em razão dos
Recursos Especiais repetitivos nos 1197929/PR e 1199782/PR:

“III. Pelo exposto, NEGO SEGUIMENTO ao recurso especial com base no art.
1.030, I, "b", CPC (art. 543-C, § 7º, I, CPC 1973), em razão dos Recursos
Especiais repetitivos nos 1197929/PR e 1199782/PR.”

Entretanto, esses recursos especiais não possuem como objeto a análise da


violação aos artigos 1.022 e/ou 489 do Código de Processo Civil.
O objeto desses recursos é diverso.
Tratam-se de recursos especiais julgados em 2011 e que deram origem à
Súmula 479 do STJ. Eles tratam exclusivamente sobre ser subjetiva ou objetiva a
responsabilidade civil das instituições financeiras, o que, aliás, foi destacado na própria
decisão agravada, ao citá-los:

“Responsabilidade das instituições bancárias (tema 466):


O E. Superior Tribunal de Justiça julgou a questão acima mencionada no
regime de recursos repetitivos, de modo a impossibilitar a admissão do recurso neste
âmbito, nos termos dos seguintes precedentes (tema objeto da Súmula 479/STJ):
“"1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituiçõesbancárias respondem
objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros
-como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos
mediante fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como
fortuito interno." (REsp1197929/PR e 1199782/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
DJe 12.9.2011)”

Ocorre que a violação ao artigo 1.022 e ao artigo 489 do CPC não têm
qualquer relação com isso.
Os artigos 1.022 e 489 do CPC tratam de nulidade de decisão judicial que
não sana vício contido em embargos declaratórios.

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Dessa forma, é manifestamente indevida a negativa de seguimento de
recurso especial que aponta violação aos artigos 1.022 e 489 do CPC.
Pede-se, assim, a reforma da decisão agravada, para que seja admitido o
recurso especial interposto por violação aos artigos 1.022 e 489 do CPC.

2.3. Violação aos art. 186 e 927 do Código Civil: objeto distinto e
premissas fáticas que não se subsumem ao Recursos Especiais repetitivos nº
1.197.929/PR e 1.199.782/PR

Permissa venia, afigura-se indevida a negativa de seguimento do recurso


especial na parte referente à violação aos art. 186 e 927 do Código Civil, porque o objeto
do recurso especial não guarda correlação com tais repetitivos.
Noutras palavras, o recurso especial não colide com tais Recursos Especiais
repetitivos nº 1.197.929/PR e 1.199.782/PR.
Isso porque no especial ora obstado o Banco NÃO DEFENDE ser subjetiva a
responsabilidade civil dele.
Os Recursos Especiais repetitivos nº 1.197.929/PR e 1.199.782/PR apenas
assentaram que a responsabilidade dos Bancos é objetiva. Isso não se discute!
O que se aponta, no caso, é a presença de excludente de nexo causal.
A excludente de nexo causal é admitida justamente para casos de
responsabilidade objetiva.
Dessa forma, o recurso especial ao qual foi negado seguimento respeitava
os Recursos Especiais repetitivos nº 1.197.929/PR e 1.199.782/PR, que deram origem às
Súmula 479 do STJ.
Confira-se, para que não haja dúvidas, os repetitivos citados na decisão
agravada: tratam-se de recursos especiais julgados em 2011 e que deram origem à
Súmula 479 do STJ, referentes exclusivamente à deliberação da época sobre ser
subjetiva ou objetiva a responsabilidade civil das instituições financeiras, o que, aliás, foi
destacado na própria decisão agravada, ao citá-los:

“Responsabilidade das instituições bancárias (tema 466):


O E. Superior Tribunal de Justiça julgou a questão acima mencionada no
regime de recursos repetitivos, de modo a impossibilitar a admissão do recurso neste
âmbito, nos termos dos seguintes precedentes (tema objeto da Súmula 479/STJ):
“"1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias respondem
objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros

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-como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos
mediante fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como
fortuito interno." (REsp1197929/PR e 1199782/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
DJe 12.9.2011)”

Relembre-se, agora, da apelação e do recurso especial:

Apelação:

“III – DO PEDIDO DE NOVA DECISÃO

Pontos de reforma

✓ Ausência de nexo causal: ocorrência de fortuito externo e não de fortuito interno;


✓ Ocorrência de culpa exclusiva de terceiros e da vítima;
✓ Ausência de ato ilícito do Apelante;
✓ Transações foram realizadas com senha, cujo dever de guarda era da cliente;
✓ Negligência da autora: comunicação de furto e fraude tardia ao Banco Safra e falha
no dever de guarda da senha;
✓ Não houve desvio de perfil da cliente: autora era investidora qualificada, com altas
movimentações e declarado conhecimento do mercado financeiro;
✓ Sucessivamente, fixação de indenização proporcional ao grau de responsabilidade
de cada parte;”
(...)

IV – RAZÕES DE RECURSO

A sentença foi fundamentada nos seguintes pontos:

“A ocorrência do furto do celular da autora é fato incontroverso, eis que não


impugnado pela ré.
Pelo que consta dos autos, o furto ocorreu no dia 10/08/2021, por volta das
18h15, conforme consta do boletim de ocorrência de fls. 18/21.
Pelo documento de fl. 23, percebe-se que as operações foram feitas logo após
o ocorrido, sendo a primeira realizada às 18h32 e a última às 9h28 do dia
seguinte.
Ora, considerando que o furto ocorreu já no período noturno, não se pode
falar que houve desídia da vítima na comunicação do fato no dia seguinte, já
que certamente não teria tempo hábil ou condições para efetuar contatar a
instituição bancária logo em seguida à ocorrência.

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Verificada falha na prestação do serviço bancário, a instituição financeira
responde independentemente de culpa pelos danos decorrentes, cumprindo
ao consumidor provar tão-somente o dano e o nexo de causalidade.
(...)
Verifica-se assim, não apenas a falha nos sistemas de segurança do aplicativo
de celular, mas também falha na monitoração das operações que
evidentemente fogem ao perfil da consumidora: em um período de uma
hora, foram realizados nada menos do que 5 (cinco)transferências via Pix em
altos valores (vide fls. 23 e 29/37). Portanto, resta evidente que não é hipótese
de culpa exclusiva da vítima, sendo certo que não houve conduta da
consumidora que contribuísse para a ocorrência do delito.
Patente a falha na prestação do serviço e a não reparação de um dano, cuja
responsabilidade é da ré. Neste diapasão, segundo o parágrafo primeiro,
incisos I e II do art. 14 do CDC, “o serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor pode dele esperar”.
No mais, sequer se cogita de culpa exclusiva de terceiro, pois o estranho que
drenou os valores das contas da autora utilizou-se de “brecha” no sistema de
segurança do réu, o que permite verificar a fragilidade constante aos quais os
dados de seus correntistas estão imersos. ”
Evidências de que
não houve pedido Não se discute o furto, nem se discute que a responsabilidade da
de elisão da instituição financeira e objetiva, essa questão é absolutamente superada.
responsabilidade Mas discute-se a ausência de nexo causal, que afasta a responsabilidade
objetiva. civil da instituição financeira.

DA NEGLIGÊNCIA DA CLIENTE EM COMUNICAR O FURTO

Ao contrário do que pontuou o magistrado de origem, houve enorme


desídia da autora na comunicação do fato ao Banco: ela só o fez o dia seguinte da
concretização das operações e o Banco possui canal disponível 24 horas por dia, para
receber denúncias de fraude.
Como a cliente utilizava o Internet Banking no celular, deveria ter
comunicado o furto ao Banco imediatamente. O atraso da cliente contribuiu
enormemente com a fraude em si e também com a efetividade das medidas de
recuperação das quantias.
Isso porque, mesmo que não fosse possível impedir a fraude, o Banco
conseguiria tomar as medidas de prevenção para bloquear o saque das quantias
pelos beneficiários.
Essas medidas de bloqueio e resgate de quantias poderiam ser tomadas
pelo próprio Banco Safra, caso as contas dos beneficiários fossem mantidas no
próprio Banco, ou pelas demais instituições, após comunicação de fraude pelo Banco
Safra. Essa comunicação de fraude é rotineiramente conhecida como “contestação”
e não depende sequer de provas. A mera alegação do cliente já é suficiente para que
o Banco aja na busca pelo bloqueio de quantias. Dessa forma, ocorreu sim grave
desídia da autora na comunicação do furto ao Banco.
Se tivesse sido comunicado imediatamente ao Banco, a fraude não teria
ocorrido ou, se já o tivesse, seria em valor muito inferior e o Banco ainda teria
conseguido recuperar quantias e devolver à cliente.
Evidências de que
não houve pedido DA DESÍDIA DA AUTORA: FALHA NO DEVER DE GUARDA DA SENHA
de elisão da Furto ocorreu após negligência da autora na guarda da bolsa
responsabilidade
objetiva.
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Bairro Cidade Nobre – Ipatinga/MG Bairro Lourdes– Belo Horizonte /MG Bairro Santa Marta - Uberaba/MG
CEP: 35162-399 TEL: 31 3828-4100 CEP 30140-072 TEL: 31 3785-4269 CEP: 38.061-330 – TEL: 34 3480-2109
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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por NEY JOSE CAMPOS e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 26/09/2023 às 16:44 , sob o número WPRO23012275908.
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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1020863-82.2022.8.26.0100 e código vVkWjDu6.
Fraude ocorreu em razão dos dados salvos pela autora no aparelho celular

Conforme informado pela autora na inicial, a bolsa da autora estava no


banco de passageiros quando foi furtada. O furto de pertences no banco de
passageiro é extremamente comum. Trata-se de problema de segurança pública.
As orientações da Polícia à população são nesse sentido: não deixar os
pertences à mostra dentro de veículos, em local de fácil acesso. O correto é deixar
os pertences longe do alcance da visão de terceiros.
A autora poderia ter sido mais cautelosa com seus pertences: não deveria
ter deixado à mostra sua bolsa, em local de fácil acesso a criminosos, especialmente
porque o telefone celular estava nela e o aparelho continha informações sensíveis
gravados, capazes de permitir fraude bancária, tal como ocorrido.
Compete ao cliente o dever de zelar pela guarda da senha e a autora atuou
com negligência, colocando-se em situação que aumentava o risco de furto.

DA AUSÊNCIA DE FALHA NO APLICATIVO DE INTERNET BANKING

Alegou-se na sentença de origem ter havido falha nos sistemas de


segurança do aplicativo de celular. Mas essa conclusão não foi fundamentada em
provas, nem em indícios. Com efeito, é extremamente comum que os clientes
deixem salvas as senhas nos aplicativos.
A única prova que se tem é que houve furto o aparelho celular da autora.
Não é possível concluir-se que, pelo só fato de transações terem sido realizadas,
houve falha no aplicativo de segurança.
E não houve. Tivesse havido, o número de fraudes teria sido visto em
escala mundial e em números bilionários.
De posse do aparelho celular da autora, os criminosos tiveram acesso à
senha e também aos mecanismos de recuperação dela.
Por isso, o furto de telefone celular não pode ser transferido ao Banco.
A autora foi vítima de ação criminosa praticada por terceiros e estes
realizaram operações munidos de senha pessoal da cliente.
Não houve violação de segurança, nem entrada forçada á conta bancária
da cliente: os estelionatários realizaram a operação livremente.
Não fosse assim, como é que as operações seriam realizadas em apenas
alguns minutos após o furto?
Os estelionatários possuíam a senha da autora.
Por isso, há rompimento do nexo de causalidade: ocorrência de culpa
Evidências de que exclusiva da autora, somada à culpa de terceiros.
não houve pedido
de elisão da FRAUDE PERFEITA - CASO FORTUITO EXTERNO
responsabilidade
objetiva.
Como já salientado, não se trata de caso de invasão do sistema do Banco,
mas sim de fornecimento de dados sensíveis diretamente pela parte autora a
terceiros, os quais estavam salvos no aparelho celular dela.
O dano noticiado na inicial decorreu de culpa exclusiva da vítima e não
caracteriza o fortuito interno, mas sim externo, que não é passível de ser transferido
ao banco Santander.

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A parte autora, incauta, acabou atuando ao lado dos criminosos,
fornecendo-lhes informações sensíveis, o que lhes permitiu acessar a conta bancária
que mantinha junto ao Banco. O Banco não tomou parte nisso!
Ainda que aplicável a teoria da responsabilidade objetiva, ela não
prescinde da prova do nexo causal, que no caso é inexistente.
O fato é que os artigos 186 e 927 do Código Civil, assim como o artigo 14
do Código de Defesa do consumidor, também não dispensam a prova do nexo causal,
que constitui requisito para a responsabilização civil.
Para que se configurasse a obrigação de indenizar, mostrar-se-ia
necessária a comprovação de causa e efeito entre o fato e o dano, ou seja, seria
essencial a comprovação de que a conduta do agente deu ensejo ao dano. Sobre a
matéria, a lição de MARIA HELENA DINIZ:

"Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a) fato lesivo voluntário,
causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência (RT,
443:143, 450:65, 494:35, 372:323, 440:74, 438:109, 440:95, 477:111 e 470:241); b) ocorrência
de um dano patrimonial ou moral, sendo que pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça
serão cumuláveis as indenizações por dano material e moral decorrentes do mesmo (RT,
436:97 e 433:88); c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente (RT,
477:247, 463:244, 480:88, 481:211, 479:73 e 469:84)." (in Código Civil Anotado, São Paulo,
Saraiva, 2ª ed., 1996, p. 169)

Por todos esses fundamentos, a sentença merece ser reformada, para


improcedência integral da pretensão, eis que ausente o nexo causal.

SÚMULA 479 STJ NÃO ELIDE FORTUITO EXTERNO

No caso, ocorreu fortuito externo, pois foi através do furto do aparelho


celular da autora, que continha as informações para acesso à conta bancária, que a
parte autora acabou fornecendo dados sensíveis a terceiros, rendendo ensejo à
ocorrência da fraude combatida na ação.
Não houve invasão do sistema do Banco, nem atuação através do Banco.
A conduta dos terceiros foi dirigida à parte autora, fora das dependências do Banco.
O Banco não é responsável pelo furto de aparelhos celulares que contêm
as informações que concedem aos estelionatários o acesso às senhas.
A Súmula 479 do STJ só se aplica a casos de fortuito interno, isso é, em
que há alguma conduta das instituições financeiras que acarrete a ocorrência de
fraudes e delitos praticados por terceiros.
Impossível responsabilizar as instituições financeiras, por exemplo, nos
casos de fraude perfeita e caso fortuito externo, ante a ausência do nexo causal.
Fraude perfeita é aquela identificável somente por meio de trabalho
realizado por expert, enquanto caso fortuito externo traduz evento que deu causa
ao suposto dano não relacionado com a organização da empresa ou sua atividade,
sendo totalmente estranha à sua atuação.

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1020863-82.2022.8.26.0100 e código vVkWjDu6.
Apesar de o CDC adotar a responsabilidade objetiva como regra geral, os
artigos 12, §3º, inciso III, e 14, §3º, inciso II, trazem as hipóteses acima como
exceções.

RECURSO ESPECIAL:

“Não se trata de caso de invasão do sistema do Banco, mas sim de


fornecimento de dados sensíveis diretamente pela parte autora a terceiros, os
quais estavam salvos no aparelho celular dela.
O dano noticiado na inicial decorreu de culpa exclusiva da vítima e não
caracteriza o fortuito interno, mas sim externo, que não é passível de ser transferido
ao Banco Santander.
A parte autora, incauta, acabou atuando ao lado dos criminosos,
fornecendo-lhes informações sensíveis, o que lhes permitiu acessar a conta bancária
que mantinha junto ao Banco. O Banco não tomou parte nisso!
Ainda que aplicável a teoria da responsabilidade objetiva, ela não
prescinde da prova do nexo causal, que no caso é inexistente.
O fato é que os artigos 186 e 927 do Código Civil, assim como o artigo 14
do Código de Defesa do consumidor, também não dispensam a prova do nexo causal,
que constitui requisito para a responsabilização civil.
Para que se configurasse a obrigação de indenizar, mostrar-se-ia
necessária a comprovação de causa e efeito entre o fato e o dano, ou seja, seria
essencial a comprovação de que a conduta do agente deu ensejo ao dano. Sobre a
matéria, a lição de MARIA HELENA DINIZ:

"Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a) fato lesivo
voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência (RT, 443:143, 450:65, 494:35, 372:323, 440:74, 438:109, 440:95,
477:111 e 470:241); b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral, sendo que
pela Súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça serão cumuláveis as indenizações
por dano material e moral decorrentes do mesmo (RT, 436:97 e 433:88); c) nexo
de causalidade entre o dano e o comportamento do agente (RT, 477:247, 463:244,
480:88, 481:211, 479:73 e 469:84)." (in Código Civil Anotado, São Paulo, Saraiva,
2ª ed., 1996, p. 169)

Em verdade, no caso, ocorreu fortuito externo, pois foi através do furto


do aparelho celular da autora, que continha as informações para acesso à conta
bancária, que a parte autora acabou fornecendo dados sensíveis a terceiros,
rendendo ensejo à ocorrência da fraude combatida na ação.
Não houve invasão do sistema do Banco, nem atuação através do Banco.
A conduta dos terceiros foi dirigida à parte autora, fora das dependências do
Banco.

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as informações que concedem aos estelionatários o acesso às senhas.
A Súmula 479 do STJ só se aplica a casos de fortuito interno, isso é, em
que há alguma conduta das instituições financeiras que acarrete a ocorrência de
fraudes e delitos praticados por terceiros.
Impossível responsabilizar as instituições financeiras, por exemplo, nos
casos de fraude perfeita e caso fortuito externo, ante a ausência do nexo causal.
Fraude perfeita é aquela identificável somente por meio de trabalho
realizado por expert, enquanto caso fortuito externo traduz evento que deu causa
ao suposto dano não relacionado com a organização da empresa ou sua atividade,
sendo totalmente estranha à sua atuação.
Apesar de o CDC adotar a responsabilidade objetiva como regra geral, os
artigos 12, §3º, inciso III, e 14, §3º, inciso II, trazem as hipóteses acima como
exceções.
O caso fortuito deveria ter sido reconhecido.
Assim não reconhecendo, o acórdão recorrido destoou do artigo 14 do
CDC e dos arts. 186 e 927 do Código Civil:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e
riscos.
(...)
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

É o caso, em que houve culpa exclusiva da vítima ou de terceiros, restando


identificada a violação aos artigos de lei citados.

O Banco não é responsável pela ação de terceiros, quando ocorrido fortuito externo.
Há rompimento do nexo causal, impondo-se a improcedência de toda a pretensão.

Notória e cristalina, portanto, a ofensa ao artigo e 14, §3º, II, da Lei 8.078/90, bem
como aos artigos 186 e 927 do Código Civil, devendo ser reconhecida a ofensa à lei
e, em consequência, ser reformado o acórdão, julgando-se improcedentes todos os
pedidos.”

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O caso concreto tampouco se subsume ao que foi analisado pelo STJ nos
Recursos Especiais repetitivos nº 1.197.929/PR e 1.199.782/PR, pois, naquela ocasião,
não se discutiam transações não reconhecidas decorrentes de furto d telefone celular
do cliente.
Dessa forma, seja porque o objeto do especial é outro, seja porque as
premissas fáticas dos casos são distintas, não se aplicam ao presente caso os Recursos
Especiais repetitivos nº 1.197.929/PR e 1.199.782/PR.
Pede-se, assim, a reforma da decisão agravada, para que seja admitido o
recurso especial interposto.

- III -
CONCLUSÃO

Ex positis, pede-se que Vossa Excelência reconsidere a decisão agravada ou,


caso entenda pela impossibilidade de retratação, que submeta o presente Recurso ao
julgamento pelo Órgão Especial Colegiado, fim de que seja admitido o recurso especial.

Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 26/09/2023.

NEY JOSÉ CAMPOS


OAB/MG 44.243

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