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br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/Reclamacao-nao-e-via-adequada-para-controle-de-aplicacao-de-
tese-de-recurso-repetitivo--decide-Corte-Especial.aspx
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-antigas/2016/2016-02-12_17-05_Novo-Codigo-de-Processo-Civil-e-
alteracoes-da-lei-ampliam-efeitos-do-recurso-repetitivo.aspx#:~:text=A%20lei%20sancionada%20traz%20em,de%20distin%C3%A7%
2017 - 03 - 03
C3%A3o%20entre%20a%20quest%C3%A3o
Revista de Processo
2015
RePro vol. 245 (Julho 2015)
Meios de Impugnação das Decisões Judiciais
3. Cabimento de ação rescisória contra sentença que viola entendimento fixado em julgamento de incidente de recurso repetitivo e o
necessário afastamento da Súmula 343/STF

3. Cabimento de ação rescisória contra sentença que viola


entendimento fixado em julgamento de incidente de recurso
repetitivo e o necessário afastamento da Súmula 343/STF

Pertinence of rescisory action against sentence that violates


understanding secured in trial of incident appeal and
repeated the necessary removal of Summula 343/STF
VITOR JOSÉ BORGHI

Especialista em Direito Processual Civil Contemporâneo e Mestrando em Direito pela PUC-PR. Assessor Técnico
Especializado da Procuradoria Geral do Município de Guarapuava. Advogado. vitor_borghi@hotmail.com

Sumário:

1. Introdução
2. Ação rescisória contra violação a literal dispositivo de lei
3. A valorização dos precedentes dos tribunais superiores e a relativização da Súmula 343 do STF
4. Ação rescisória com fundamento em violação à jurisprudência do STJ em decisão de recurso
repetitivo
5. Considerações finais
6. Referências

Área do Direito: Processual

Resumo:

Este estudo analisa a amplitude do cabimento da ação rescisória por violação literal de lei. À luz da
jurisprudência e doutrina pátria, pretende considerar como uma violação literal à disposição de lei a
sentença que contraria entendimento formado pelo STJ em decisão de recurso repetitivo. Para tanto, discorre
acerca da aplicação da Súmula 343/STF e a função do STJ como uniformizador da jurisprudência nacional, no
contexto atual de valorização de precedentes dos Tribunais Superiores.

Abstract:

This study examines the extent of the pertinence of the rescisory action by literal violation of law. Illuminated
by jurisprudence and doctrine homeland, it intends to consider as a literal violation of law the sentence that
contradicts understanding secured by STJ in trial of incident appeal. To do so, talks about application of the
Summula 343/STF and STJ's function of standardize national jurisprudence, in the current context of
appreciation of legal precedents edited by the Superior Courts.

Palavra Chave: Ação rescisória - Violação literal de lei - Súmula 343/STF - Recurso repetitivo - Segurança
jurídica.
Keywords: Rescisory action - Literal violation of law - Summula 343/STF - Incident appeal - Legal certainty.

Recebido em: 12.11.2014

Aprovado em: 09.06.2015

1. Introdução

O princípio da segurança jurídica, basilar para a formação do Estado democrático de direito, é comumente
relacionado ao fortalecimento das decisões judiciais e ao respeito à coisa julgada. Ainda, deve ser vinculado à
isonomia de tratamento aos jurisdicionados, evitando-se que casos similares provoquem interpretações
divergentes pelo Judiciário. No plano ideal, tais características caminhariam juntas, formando um Poder
Judiciário justo, seguro e previsível. Contudo, na prática, há situações em que, para garantir à sociedade a
igualdade esperada, depende-se diretamente da flexibilização da coisa julgada.

Embora o direito pátrio outrora tenha preferido privilegiar a inviolabilidade da coisa julgada, fato é que,
atualmente, o alcance da segurança jurídica através da igualdade de tratamento e previsibilidade do
Judiciário parece tomar o primeiro plano na discussão. Soma-se isso à tendência atual de valorização de
precedentes – notadamente das Cortes Superiores com o julgamento de recursos repetitivos (STJ), repercussão
geral e súmulas vinculantes (STF) 1 – e o resultado será a uniformização da jurisprudência nacional com o
enfraquecimento das decisões destoantes.

Essa nova tendência traz grandes questões a serem enfrentadas, principalmente sobre como será efetivado,
na prática, o sistema de vinculação de processos repetidos no âmbito do STJ, o que João Henrique Mouta
Araújo chama de “desafios ao Poder Judiciário”. 2

Para enfrentar esses desafios e reduzir (ou eliminar) as decisões que divergem dos precedentes das cortes
superiores, o sistema processual criou mecanismos de impugnação à decisão judicial, o que pode ser feito por
recursos e por ações autônomas. Os primeiros são ferramentas utilizadas no próprio processo, enquanto as
ações autônomas de impugnação se caracterizam por formar relação processual distinta daquela em que foi
proferida a decisão impugnada. 3

Quando a decisão destoante está acobertada pelo trânsito em julgado, o desafio parece aumentar e, para
solucioná-lo, é necessário um estudo dos mecanismos de rescisão de decisões transitadas em julgado,
verificando a possibilidade de uma nova (e mais apropriada) interpretação de suas hipóteses, abrindo mão de
conceitos que já não mais atendem aos interesses do Poder Judiciário.

2. Ação rescisória contra violação a literal dispositivo de lei

Considera-se como coisa julgada a eficácia protetora da sentença de mérito no momento em que não há mais
recursos cabíveis sobre ela. Isto significa que, a rigor, a matéria ali decidida não mais pode ser alterada. Com
maior profundidade, Eduardo Talamini ensina que a coisa julgada “é atributo que pode recair apenas sobre
atos jurisdicionais. Mais especificamente (...), apenas aqueles que contenham um suficiente grau de
intensidade de cognição”. 4

Em regra, a coisa julgada traz a almejada segurança jurídica, justamente por tornar indiscutível decisão
acobertada por seu manto. No entanto, em que pese a imutabilidade que lhe é atribuída, o próprio diploma
processual civil estabelece os casos em que a sentença meritória pode ser rescindida. Isso porque, pode
ocorrer que a sentença proferida padeça de vícios tão graves, que são necessárias medidas excepcionais
capazes de garantir à parte prejudicada a possibilidade de rescindi-la. 5
Ao abordar o tema, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, elucidam que a decisão meritória que fere
a lei constitucional ou infraconstitucional, pode ser desconstituída por ação rescisória e que, caso isso não
ocorra “a coisa julgada material produz seus efeitos normalmente, em decorrência da inevitabilidade da
jurisdição, da segurança e, principalmente, do Estado Democrático de Direito”. 6

Em outras palavras, mesmo a sentença que padece de vícios, quando encoberta pela coisa julgada, produzirá
seus efeitos normalmente, caso não seja devidamente impugnada pela ação rescisória ou outro meio hábil
para tal fim. Daí a importância da ação rescisória. A nosso ver, a segurança jurídica passa muito mais pela
possibilidade de uma prestação jurisdicional justa e igualitária, do que pela garantia de inalterabilidade da
sentença não recorrida. A ação rescisória pode ser considerada, então, como um remédio para a decisão que
contrarie o bom direito.

Como todo remédio, deve ser prescrita com cautela, para que não fuja do seu nobre fim. Por tal razão, as suas
hipóteses de cabimento são todas previstas em rol taxativo do art. 485 do CPC/1973. 7 Neste estudo, aborda-se
a hipótese trazida pelo inc. V, do mencionado dispositivo, isto é, a rescisão de sentença meritória por violação
literal de dispositivo de lei.

Por tratar-se de rol taxativo, as hipóteses de cabimento de ação rescisória não devem ser interpretadas além
daquilo a que se propôs o legislador. Fundamental, então, a compreensão perfeita do termo “violação a literal
dispositivo de lei”, a qual se faz possível pela contribuição deixada pela doutrina e jurisprudência pátria.

Cassio Scarpinella Bueno esclarece que doutrina e jurisprudência não divergem quanto à ampla abrangência
do termo “lei” e que a complexidade da norma surge somente ao interpretar o que seria “violação a literal
dispositivo de lei”. 8

De fato, o sentido de lei presente no dispositivo é bastante amplo, compreendendo, à evidência, a


Constituição, a lei complementar, ordinária ou delegada, a medida provisória, o decreto legislativo, a
resolução, o decreto emanado do Executivo, o ato normativo baixado por órgão do Poder Judiciário, sejam
elas editadas pela União, Estado-membro ou por Município. 9 Entendimentos mais recentes aceitam a rescisão
de sentença que contraria Princípio Jurídico, Súmula Vinculante e até mesmo Súmula. 10

No entanto, como bem se observou, a interpretação do termo é complexa e, por consequência, há tempos é
motivo de discussão entre estudiosos que procuram o seu melhor significado. No âmbito da jurisprudência, o
C. STJ, num primeiro momento, firmou-se no sentido de que “para ter cabida a rescisória com base no art. 485,
V, do CPC/1973, é necessário que a interpretação conferida pela decisão rescindenda seja de tal forma
extravagante que infrinja o preceito legal em sua literalidade”. 11

Nesse pensar, não bastaria que a sentença rescindenda contrariasse o entendimento da Corte. A rescisão seria
cabível apenas em casos de verdadeira aberração jurídica, ou seja, quando a interpretação dada pelo Juízo
não fosse sequer pautada na razoabilidade.

Esse entendimento baseou-se, principalmente, na Súmula 343/STF, editada em 13.12.1963, com a seguinte
redação: “não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver
baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”. Embora esta Súmula não seja recente,
sua aplicação é ainda bastante comum nos Tribunais Superiores, numa provável tentativa de restringir o
cabimento da ação rescisória por violação a literal dispositivo de lei.

A lição de Lenio Luiz Streck indica que a mencionada Súmula originou-se de julgamentos datados do final da
década de 1950 e início da década de 1960. O autor ainda alerta que a Súmula tem uma abrangência bem
maior do que se possa imaginar à primeira, constituindo um obstáculo quase intransponível à propositura da
ação rescisória. Lenio explica que a sentença flagrantemente injusta, a que utilizou de prova mal examinada
pelo juiz ou ainda aquela que não aplicou a melhor interpretação da lei, não autorizam o exercício da ação
rescisória. 12

Na defesa da aplicação da Súmula, Sérgio Rizzi entende que a ação prevista no art. 485, V, do CPC/1973,
embora concorra residualmente para a unidade da ordem jurídica, não tem como finalidade manter a
unidade do direito federal, ou uniformizar a interpretação das regras jurídicas. O autor acentua que o objeto
da rescisória é a decisão que afronta literal disposição de lei e não a decisão divergente. 13

Houve – e ainda há –, contudo, certa relutância, mesmo que não visível em toda a Corte, em acatar
integralmente a Súmula 343/STF. Neste senso, a Súmula não seria aplicada se a interpretação de um texto,
embora controvertida, viola, no entender da turma julgadora da ação rescisória, a literal disposição da lei. 14

Em precedente elencado na obra de Teotônio Negrão, o Min. Eduardo Ribeiro, na condição de revisor do
julgamento da AR 208/RJ, proferido há mais de vinte anos, já demonstrava preocupação com a utilização
errônea da Súmula 343/STF, como fica visível no trecho retirado de seu voto:

“Embora já tenha invocado a Súmula 343 do Supremo Tribunal Federal, assim como a de número 134 do
Tribunal Federal de Recursos, sempre encarei com reservas aqueles enunciados, que me parecem tentativa
pouco feliz de fixar um critério objetivo para decidir quanto ao cabimento da rescisória, com fundamento no
item V do art. 485 do CPC/1973 (...).” Ocorre que o fato de isso verificar-se não pode servir de motivo para que
o órgão, a quem caiba julgar o pedido de rescisão, se demita, da responsabilidade, de examinar a
concorrência do pressuposto colocado pela lei. Se houve a reclamada violação literal, isso não haverá de ser
reconhecido e proclamado, nada importando que no mesmo erro tenham incidido outras Cortes de Justiça. 15

Esse entendimento parece mais sensato. Com efeito, a decisão de mérito transitada em julgado que tenha
ofendido a Lei Federal é apta à rescisão, independentemente de divergência jurisprudencial ou até mesmo
doutrinária sobre o correto entendimento da lei cuja aplicação se questiona. 16

É notório que as Cortes Superiores sempre preferiram adotar o entendimento de que nem toda violação à Lei
Federal é capaz de rescindir a decisão que fez coisa julgada. Todavia, o próprio STF já reviu sua posição e
consolidou o entendimento de que a interpretação razoável disposta na Súmula 343 não é adequada quando
se tratar de matéria constitucional. 17

Para não adentrar no mérito dos próximos tópicos, o fundamental, por ora, é destacar que o termo “violação
literal a dispositivo de lei” constante na norma processual, refere-se à uma violação do sistema, e não
necessariamente a letra da lei posta. 18 Portanto, não pode ser interpretado de forma restrita, tampouco
validar a interpretação razoável quando contrária ao melhor entendimento da matéria.

3. A valorização dos precedentes dos tribunais superiores e a relativização da Súmula 343


do STF

A busca pelo atendimento à razoável duração do processo, princípio que desafia o judiciário pátrio, gerou,
nos últimos anos, um estímulo à valorização dos precedentes judiciais. Como exemplo, João Henrique Mouta
Araújo cita a inovação trazida pelo art. 285-A do CPC/1973, que permite ao Juiz de 1.º grau a resolução
imediata de mérito contrário ao interesse do autor, quando atendidos os requisitos do artigo. 19

São mencionadas pelo autor, ao lado da trazida pelo art. 285-A do CPC/1973, outras alterações recentes na
legislação processual, como a possibilidade de não recebimento de recurso de apelação nas causas repetitivas
e já sumuladas pelos Tribunais Superiores, e o poder concedido ao relator do recurso de apelação ou agravo
de instrumento em tribunais locais, para resolver os recursos contrários às súmulas e à jurisprudência
dominante do STJ ou STF. 20

Em verdade, não é de hoje que Tereza Arruda Alvim Wambier e Maria Lúcia Lins Conceição e Medeiros
sustentam ser indesejável a excessiva discordância entre os tribunais sobre como decidir uma mesma
questão de direito. Reconhecem, contudo, que o legislador percebeu esta tendência, de modo que o sistema
processual hoje está repleto de mecanismos que viabilizam atribuir maior importância aos precedentes do
STJ e do STF, prestigiando a isonomia, a uniformidade, a previsibilidade e a segurança jurídica. 21

São os mesmos motivos que levam José Miguel Garcia Medina a discordar da redação da Súmula 343/STF.
Diversamente do que dispõe a Súmula em comento, entende que negar a rescisão porque a decisão conferiu
interpretação razoável à legislação – mesmo que não a melhor – contraria os princípios da legalidade e da
isonomia. 22

Realmente, parece ser a mais correta esta corrente que busca o fortalecimento dos precedentes judiciais. Em
especial, os precedentes das Cortes Superiores precisam ser mais valorizados para que se alcance uma
jurisprudência isonômica.

Aliás, ainda é de se observar que o Recurso Especial tem como uma de suas principais finalidades, a de
consolidar e uniformizar a jurisprudência nacional, garantindo ao STJ a última palavra sobre a correta
interpretação de lei infraconstitucional. 23 Portanto, é evidente que a decisão cuja interpretação da lei
contraria aquela que foi proferida pelo STJ, mesmo que razoável, não deixa de resultar em violação literal de
lei.

A situação é semelhante ao que ocorre na interpretação da norma constitucional. Como se sabe, o STF é o
guardião da Constituição, nos termos do art. 102, CF/1988. Por tal razão, a Corte Suprema decidiu que é
inaplicável a Súmula 343/STF, quando a decisão rescindenda abordar matéria constitucional. Nesse sentido,
destacam-se os seguintes julgados:

“Agravo regimental no agravo de instrumento. Súmula 343/STF. Inaplicabilidade. Precedentes. 1. A


jurisprudência desta Corte está consolidada no sentido da inaplicabilidade da Súmula 343 quando a matéria
versada nos autos for de cunho constitucional, mesmo que a decisão objeto da rescisória tenha sido
fundamentada em interpretação controvertida ou anterior à orientação fixada pelo Supremo Tribunal
Federal. 2. Agravo regimental não provido” (AgRg no AgIn 703485, 1.ª T., rel. Min. Dias Toffoli, j. 11.12.2012,
acórdão eletrônico DJe-027 divulg. 07.02.2013, public. 08.02.2013).

“Constitucional. Administrativo. Agravo regimental em agravo de instrumento. Servidor público. Percepção


de vencimento base não inferior ao salário mínimo. Ação rescisória. Súmula 343, do Supremo Tribunal
Federal. Não incidência. Acórdão recorrido em desacordo com a Súmula Vinculante 16. 1. É cabível ação
rescisória por ofensa à literal disposição constitucional, ainda que a decisão rescindenda tenha por
fundamento interpretação controvertida ou seja anterior à orientação assentada pelo Supremo Tribunal
Federal (ED RE 328.812, da relatoria do Min. Gilmar Mendes). 2. Nos termos da Súmula Vinculante 16, ‘os arts.
7.º, IV, e 39, § 3.º (redação da EC 19/98), da Constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo
servidor público’. 3. Agravo regimental desprovido” (AgRg-segundo AgIn 659048, rel. Min. Ayres Britto, 2.ª T., j.
20.09.2011, DJe-216, divulg. 11.11.2011, public. 14.11.2011, ement. vol. 02625-03, p. 00336).

Medina explica que a Constituição não é uma lei qualquer, mas a lei fundamental do sistema, na qual todas as
demais assentam suas bases de validade e de legitimidade. Dessa forma, a jurisprudência do STF emprega
tratamento diferente à violação de lei comum em relação à da norma constitucional, deixando de aplicar a
esta, a súmula 343. 24 Ao aplicar o entendimento à prática, junto à Rafael Guimarães, o autor aduz que “a
nossa Constituição tem supremacia sobre todas as normas e somente pode ter uma hermenêutica. Por isso
não poderia uma decisão contrária à norma maior prevalecer, ainda que se pense em numa “interpretação
razoável”. 25

Como bem menciona José Henrique Mouta Araújo, as sistemáticas da súmula vinculante e da repercussão
geral presentes no Supremo, procuram evitar a desobediência interpretativa. Assim, como regra no âmbito do
STF, a última interpretação constitucional é a que ele próprio apresentou. 26

Acertado o entendimento da Suprema Corte. De fato, quando a Constituição Federal lhe confia a posição de
seu guardião, espera-se que o seu entendimento sobre a norma constitucional prevaleça sobre os demais.
Pensando assim, não faz sentido que o órgão máximo do Judiciário nacional se submeta a uma decisão
divergente, mesmo que tenha sido proferida com razoabilidade. Trata-se aqui, em verdade, de garantir a
todos os jurisdicionados que o entendimento que foi aplicado ao seu caso é, notadamente, a melhor
interpretação que se tem.

É reluzente o direito do jurisdicionado de rescindir a sentença que não aplicou o melhor entendimento, por
configurar violação literal a dispositivo de lei. O fato de que na época do julgamento não havia consenso
sobre a matéria não deve servir de empecilho para que o melhor entendimento seja aplicado agora, desde
que respeitado o prazo de dois anos do trânsito em julgado, obviamente. Acontece que, assim como é
atribuído ao STF o dever de guardião da norma constitucional, é do STJ a missão de uniformizar a
jurisprudência e atribuir à norma infraconstitucional o seu melhor entendimento.

O argumento de que a norma constitucional é superior à norma infraconstitucional, embora relevante, não é
capaz de justificar o tratamento diferenciado nesse caso. A norma infraconstitucional é digna da mesma
segurança jurídica empregada à Constituição. Em trabalho conjunto, José Miguel Garcia Medina e Teresa
Arruda Alvim Wambier afirmam que a impossibilidade de ação rescisória contra interpretação razoável
contraria os princípios constitucionais da legalidade e da isonomia, vez que “a lei é uma só, necessariamente
vocacionada para comportar um só e único entendimento, no mesmo momento histórico e nunca mais de um
entendimento simultaneamente válido”. 27

Pode-se dizer que o Min. Teori Zavascki, atualmente no STF, foi pioneiro ao não aplicar a Súmula 343/STF em
caso de violação à lei federal com matéria controvertida nos Tribunais à época do julgamento. No julgamento
em questão, embora o Ministro, então no STJ, tenha reconhecido a interpretação razoável na decisão
rescindenda, as forças normativas dos princípios constitucionais da isonomia e da segurança jurídica
resultaram no acórdão que agora se lê:

“Processual civil. Ação rescisória. Violação à lei federal. Matéria controvertida nos tribunais à época da
prolação da decisão rescindenda. Jurisprudência do STJ em sentido contrário. Súmula 343/STF. Não aplicação.
Revisão da jurisprudência a respeito. 1. A Súmula 343/STF, editada antes da Constituição de 1988, tem origem
na doutrina (largamente adotada à época, inspiradora também da Súmula 400/STF) da legitimidade de
interpretação razoável da norma, ainda que não a melhor, permitindo assim que a respeito de um mesmo
preceito normativo possa existir mais de uma interpretação e, portanto, mais de um modo de aplicação. 2. Ao
criar o STJ e lhe dar a função essencial de guardião e intérprete oficial da legislação federal, a Constituição
impôs ao Tribunal o dever de manter a integridade do sistema normativo, a uniformidade de sua
interpretação e a isonomia na sua aplicação. O exercício dessa função se mostra particularmente necessário
quando a norma federal enseja divergência interpretativa. Mesmo que sejam razoáveis as interpretações
divergentes atribuídas por outros tribunais, cumpre ao STJ intervir no sentido de dirimir a divergência,
fazendo prevalecer a sua própria interpretação. Admitir interpretação razoável, mas contrária à sua própria,
significaria, por parte do Tribunal, renúncia à condição de intérprete institucional da lei federal e de guardião
da sua observância. 3. Por outro lado, a força normativa do princípio constitucional da isonomia impõe ao
Judiciário, e ao STJ particularmente, o dever de dar tratamento jurisdicional igual para situações iguais.
Embora possa não atingir a dimensão de gravidade que teria se decorresse da aplicação anti-isonômica da
norma constitucional, é certo que o descaso à isonomia em face da lei federal não deixa de ser um fenômeno
também muito grave e igualmente ofensivo à Constituição. Os efeitos da ofensa ao princípio da igualdade se
manifestam de modo especialmente nocivos em sentenças sobre relações jurídicas de trato continuado:
considerada a eficácia prospectiva inerente a essas sentenças, em lugar da igualdade, é a desigualdade que,
em casos tais, assume caráter de estabilidade e de continuidade, criando situações discriminatórias
permanentes, absolutamente intoleráveis inclusive sob o aspecto social e econômico. Ora, a súmula 343 e a
doutrina da tolerância da interpretação razoável nela consagrada têm como resultado necessário a
convivência simultânea de duas (ou até mais) interpretações diferentes para o mesmo preceito normativo e,
portanto, a cristalização de tratamento diferente para situações iguais. Ela impõe que o Judiciário abra mão,
em nome do princípio da segurança, do princípio constitucional da isonomia, bem como que o STJ, em nome
daquele princípio, também abra mão de sua função nomofilácica e uniformizadora e permita que,
objetivamente, fique comprometido o princípio constitucional da igualdade. 4. É relevante considerar
também que a doutrina da tolerância da interpretação razoável, mas contrária à orientação do STJ, está na
contramão do movimento evolutivo do direito brasileiro, que caminha no sentido de realçar cada vez mais a
força vinculante dos precedentes dos Tribunais Superiores. 5. Por todas essas razões e a exemplo do que
ocorreu no STF em matéria constitucional, justifica-se a mudança de orientação em relação à Súmula 343/STF,
para o efeito de considerar como ofensiva a literal disposição de lei federal, em ação rescisória, qualquer
interpretação contrária à que lhe atribui o STJ, seu intérprete institucional. A existência de interpretações
divergentes da norma federal, antes de inibir a intervenção do STJ (como recomenda a súmula), deve, na
verdade, ser o móvel propulsor para o exercício do seu papel de uniformização. Se a divergência
interpretativa é no âmbito de tribunais locais, não pode o STJ se furtar à oportunidade, propiciada pela ação
rescisória, de dirimi-la, dando à norma a interpretação adequada e firmando o precedente a ser observado; se
a divergência for no âmbito do próprio STJ, a ação rescisória será o oportuno instrumento para
uniformização interna; e se a divergência for entre tribunal local e o STJ, o afastamento da Súmula 343 será a
via para fazer prevalecer a interpretação assentada nos precedentes da Corte Superior, reafirmando, desse
modo, a sua função constitucional de guardião da lei federal. 6. Recurso especial provido” (REsp 1026234/DF,
1.ª T., j. 27.05.2008, rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe 11.06.2008).

Nesse sentido, vieram outras decisões. 28 Embora não se possa tratar a ação rescisória como um recurso, é
inegável a função que exerce para garantia da isonomia e segurança jurídica. Caso assim não o seja, a
“jurisprudência lotérica”, tão repudiada pela doutrina, ganhará força ao passo que a ação rescisória já não
será mais capaz de suprimi-la.

Aceitar que a sentença que contraria entendimento do STJ, mesmo que pacificado após sua prolação, não
pode ser objeto de ação rescisória, gera grande insegurança jurídica. É certo que a jurisprudência está sempre
em evolução, no entanto, a ação rescisória deve ser interposta em até dois anos do trânsito em julgado da
sentença, prazo este, pequeno demais para que seja respeitada a decisão que contraria a melhor
interpretação da norma constitucional e infraconstitucional.

4. Ação rescisória com fundamento em violação à jurisprudência do STJ em decisão de


recurso repetitivo

Para enfrentar o problema da demora na prestação jurisdicional pelo STJ, resultante, em grande parte, do
inchaço decorrente de inúmeros recursos interpostos com mesmo fundamento, a Lei 11.672/2008 incluiu ao
diploma processual civil o art. 543-C do CPC/1973, que cuida do julgamento de recursos fundados em questão
idêntica de direito.

O dispositivo estipula que caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos
representativos da controvérsia e encaminhá-los ao STJ, enquanto os demais ficam sobrestados aguardando a
decisão definitiva. Caso não adotada esta providência pelo tribunal de origem, ficará a cargo do relator no
STJ, ao identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta
ao colegiado, determinar a suspensão dos processos na segunda instância.

Aos olhos de Rodrigo Teixeira, a idêntica questão de direito mencionada pelo dispositivo em apreço é
caracterizada quando os recursos tem as mesmas causas de pedir e mesmos pedidos. 29 Assim, além da
celeridade já mencionada, o instituto também tem como finalidade a uniformização da interpretação da
norma infraconstitucional, ao propiciar que recursos idênticos sejam julgados com um mesmo olhar. Para
enfatizar essa função do Tribunal Superior, Tereza Arruda Alvim Wambier e Maria Lúcia Lins Conceição de
Medeiros 30 citam trecho do acórdão proferido no julgamento do AgRg nos EDiv no REsp 228432/RS, de
relatoria do Min. Humberto Gomes de Barros, dizendo que “o STJ foi concebido para um escopo especial:
orientar a aplicação da lei federal e unificar-lhe a interpretação, em todo o Brasil. Se assim ocorre, é
necessário que sua jurisprudência seja observada para se manter firme e coerente. Assim sempre ocorreu em
relação ao STF, de quem o STJ é sucessor nesse mister. Em verdade, o Poder Judiciário mantém sagrado
compromisso com a justiça e a segurança. Se deixarmos que nossa jurisprudência varie ao sabor das
convicções pessoais, estaremos prestando um desserviço a nossas instituições. Se nós – os integrantes da Corte
– não observarmos as decisões que ajudamos a formar, estaremos dando sinal para que os demais órgãos
judiciários façam o mesmo. Estou certo de que, em acontecendo isso, perde sentido a existência de nossa
Corte. Melhor será extingui-la.” 31

Escolhido o recurso representativo da controvérsia e dado vista ao Ministério Público e demais interessados,
o recurso será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado em regime de
preferência. Eis que, com a publicação do acórdão, os recursos especiais sobrestados na origem terão
seguimento negado na hipótese de o acórdão coincidir com a orientação do STJ, ou serão novamente
examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação.

Em que pese o dispositivo em comento utilizar o termo “orientação”, acredita-se que o julgamento do recurso
representativo tem efeito vinculante sobre os demais recursos, pois a intenção do legislador ao regularizar a
admissibilidade de recursos repetitivos é o de vincular o recurso já julgado com os demais, com a repetição,
nos recursos sobrestados, do resultado obtido no recurso que os representou. 32

Com tais características, não há como negar que o julgamento de recurso repetitivo consolida o entendimento
do STJ sobre o tema, atribuindo à matéria discutida a sua melhor interpretação.

Assim, se é cediço que a sentença que contraria entendimento de norma infraconstitucional já pacificado no
STJ, é rescindível nos termos do art. 485, V, do CPC/1973, e que a ação rescisória com tal fundamento é cabível
mesmo que o entendimento tenha sido pacificado após o julgamento da sentença rescindenda, desde que
dentro do prazo de dois anos, também é lógica a conclusão de que o efeito vinculante do julgamento de
recurso repetitivo não pode se limitar apenas aos recursos sobrestados. Tal situação restringiria o melhor
entendimento a um número ínfimo de demandas, se comparado ao tanto de lides que podem se beneficiar
desta interpretação.

Muito mais interessante será, se até mesmo as lides que já tenham se resolvido e, portanto, encobertas pelo
manto da coisa julgada, puderem se aproveitar desta melhor decisão. Desta forma, aquela que foi decidida em
consonância com a orientação da Corte Superior, permanecerá imutável, desfrutando dos efeitos da coisa
julgada. No entanto, a decisão que contrariou o entendimento do STJ e, por consequência, violou a literal
disposição de lei, ficará sujeita a rescisão.

5. Considerações finais

O cabimento da ação rescisória por violação literal a dispositivo de lei sempre foi assunto de controvérsia. O
entendimento tradicional, respaldado na Súmula 343 do STF, transmite a ideia de que é rescindível apenas a
sentença que viola absurdamente a lei, protegendo aquela que aplicou ao caso entendimento razoável.
Contudo, não parece ser esse o melhor caminho.

Com efeito, a manutenção da sentença divergente configura verdadeira submissão do Tribunal Superiora a
entendimento contrário ao seu. Tal submissão é intolerável, vez que a Constituição Federal atribui ao STF e
STJ a missão de guarda da norma constitucional e infraconstitucional, respectivamente.

Por mais que se possa pensar que a rescisão de sentença com entendimento razoável possa tornar vulnerável
o sistema judiciário pátrio, ameaçando a segurança jurídica, muito mais inseguro e injusto será proteger a
decisão que não aplicou o melhor entendimento. Em verdade, a possibilidade de rescisão da sentença que não
aplicou o melhor entendimento, tanto no âmbito constitucional quanto no infraconstitucional, reflete o zelo
do Estado pela justiça isonômica e, por isso, inspira maior segurança jurídica do que a manutenção da decisão
errônea transitada em julgado.

Foi visto que o entendimento atual do STF é pela rescisão da sentença que contraria o seu entendimento em
matéria constitucional, mesmo que tal entendimento tenha se firmado em momento posterior ao julgamento
da lide. Portanto, a interpretação razoável anteriormente aplicada não resistiria se contraposta ao melhor
entendimento.

Embora se reconheça a Constituição Federal como norma fundamental, a prerrogativa aberta pelo STF deve
ser entendida como um modelo a ser seguido. Assim, é de se entender também pelo cabimento de ação
rescisória contra sentença de mérito que contraria o entendimento pacificado do STJ, sobre matéria
infraconstitucional, nos mesmos moldes aplicados pelo STF em relação a matéria constitucional. Quer dizer, a
rescisão será cabível mesmo que a interpretação da lei infraconstitucional tenha se pacificado após o trânsito
em julgado da decisão que se busca rescindir.

Diante de tais condições, a possibilidade de rescisão de sentença meritória que contraria entendimento do STJ
proferido em julgamento de incidente de recurso repetitivo – desde que provocada no lapso de dois anos do
trânsito em julgado – é a conclusão óbvia, pelo caráter vinculativo de tais decisões.

6. Referências

ARAÚJO, José Henrique Mouta. Processos repetitivos e o desafio do Judiciário: rescisória contra interpretação
de lei federal. Revista de Processo. vol. 183. São Paulo: Ed. RT, 2010.

ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa; MEDEIROS, Maria Lúcia L. C. de. Recursos repetitivos: realização integral
da finalidade do novo sistema impõe mais do que a paralisação dos recursos especiais que estão no 2.º grau.
Revista de Processo. vol. 191. São Paulo: Ed. RT, 2011.

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 1998.

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos. Processo e incidentes nos
Tribunais. Sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões jurisdicionais. 3. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2011.

MEDINA, José Miguel Garcia. Código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao
projeto do novo CPC. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2012.

______; GUIMARÃES, Rafael de Oliveira. Ação rescisória. Violação literal a dispositivo de lei com base em
contrariedade à jurisprudência dominante. Revista de Processo. vol. 211. São Paulo: Ed. RT.

______; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recursos e ações autônomas de impugnação. 2. ed. São Paulo: Ed.
RT, 2011.

NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira; BONDIOLI, Luiz Guilherme Aidar; FONSECA, João
Francisco N. da. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 44. ed., atual. e reform. São Paulo:
Saraiva, 2012.

NERY JR., Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. rev., ampl. e atualizada
até 1.º de outubro de 2007. São Paulo: Ed. RT, 2007.

______; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 11. ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2010.

OLIVEIRA, Robson Carlos de. Ação rescisória de sentença baseada em lei posteriormente declarada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, via controle difuso de constitucionalidade: crítica à Súmula
343 do STF. In: NERY JR., Nelson; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos
recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Ed. RT, 2006.

RIZZI, Sérgio. Ação rescisória. São Paulo: Ed. RT, 1979.

STRECK, Lenio Luiz. Súmulas no direito brasileiro: eficácia, poder e função. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 1998.

TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Ed. RT, 2005.

TEIXEIRA, Rodrigo Valente Giublin. Recursos Especiais Repetitivos. Revista de Processo. vol. 191. São Paulo:
Ed. RT, 2011.

Pesquisas do Editorial

AÇÃO RESCISÓRIA POR VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI: A VISÃO JURISPRUDENCIAL


E DOUTRINÁRIA DA SÚM. 343 DO STF, de Livia Cipriano Dal Piaz - RePro 147/2007/233
AÇÃO RESCISÓRIA VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI, de José Manoel de Arruda Alvim
Netto - RePro 4/1976/304

O CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA E A SÚMULA 343 DO STF, de Teresa Arruda Alvim


Wambier - Pareceres - Teresa Arruda Alvim Wambier 2/281

AÇÃO RESCISÓRIA. CABIMENTO. VIOLAÇÃO A LITERAIS DISPOSITIVOS DE LEI (CPC 2.º, 128 E
460 E CC 884). CABIMENTO DE AÇÃO RESCISÓRIA PELA PREVISÃO LEGAL DO CPC 485 V, de
Nelson Nery Junior - RDPriv 57/2014/235

FOOTNOTES
1

ARAÚJO, José Henrique Mouta. Processos repetitivos e o desafio do Judiciário: rescisória contra interpretação de lei federal. RePro 183/145.

Idem, p. 148.

MEDINA, José Miguel Garcia. Código de processo civil comentado: com remissões e notas comparativas ao projeto do novo CPC. 2. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 492.

TALAMINI, Eduardo. A coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Ed. RT, 2005. p. 30.

OLIVEIRA, Robson Carlos de. Ação rescisória de sentença baseada em lei posteriormente declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal,
via controle difuso de constitucionalidade: crítica à Súmula 343 do STF. In: NERY JR., Nelson; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (coords.). Aspectos
polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Ed. RT, 2006. p. 531.

NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Ed. RT, 2010.

“Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I – se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou
corrupção do juiz; II – proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente; III – resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da
parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV – ofender a coisa julgada; V – violar literal disposição de lei; VI – se fundar em
prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória; VII – depois da sentença, o autor obtiver
documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII – houver
fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença; IX – fundada em erro de fato, resultante de atos ou de
documentos da causa; (...)”.

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos. Processo e incidentes nos Tribunais. Sucedâneos recursais:
técnicas de controle das decisões jurisdicionais. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 378-379.

9
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p.129.

10

Nesse sentido: “Processual civil. Ação rescisória. Sentença rescindenda. Julgamento contrário a entendimento sumulado no STJ (Súmula 289).
Dissídio jurisprudencial superado. Súmula 343/STF. Não incidência. Segurança jurídica. Uniformidade e previsibilidade da prestação jurisdicional.
Necessidade. 1. A principiologia subjacente à Súmula 343/STF é consentânea com o propósito de estabilização das relações sociais e, mediante a
acomodação da jurisprudência, rende homenagens diretas à segurança jurídica, a qual é progressivamente corroída quando a coisa julgada é
relativizada. 2. Porém, o desalinho da jurisprudência – sobretudo o deliberado, recalcitrante e, quando menos, vaidoso – também atenta, no mínimo,
contra três valores fundamentais do Estado Democrático de Direito: a) segurança jurídica, b) isonomia e c) efetividade da prestação jurisdicional. 3.
A Súmula 343/STF teve como escopo a estabilização da jurisprudência daquela Corte contra oscilações em sua composição, para que entendimentos
firmados de forma majoritária não sofressem investidas de teses contrárias em maiorias episódicas, antes vencidas. Com essa providência, protege-
se, a todas as luzes, a segurança jurídica em sua vertente judiciária, conferindo-se previsibilidade e estabilidade aos pronunciamentos da Corte. 4.
Todavia, definitivamente, não constitui propósito do mencionado verbete a chancela da rebeldia judiciária. A solução oposta, a pretexto de não
eternizar litígios, perpetuaria injustiças e, muito pelo contrário, depõe exatamente contra a segurança jurídica, por reverenciar uma prestação
jurisdicional imprevisível, não isonômica e de baixa efetividade. 5. Assim, a Súmula 343/STF não obsta o ajuizamento de ação rescisória quando,
muito embora tenha havido dissídio jurisprudencial no passado sobre o tema, a sentença rescindenda foi proferida já sob a égide de súmula do STJ
que superou o mencionado dissenso e se firmou em sentido contrário ao que se decidiu na sentença primeva. 6. Recurso especial provido para,
removendo-se o óbice da Súmula 343/STF, determinar o retorno dos autos à Corte Estadual para que se prossiga no julgamento da ação rescisória”
(REsp 1163267/RS, 4.ª T., j. 19.09.2013, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 10.12.2013).

11

AR 624/SP, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, DJ 23.11.1998.

12

STRECK, Lenio Luiz. Súmulas no direito brasileiro: eficácia, poder e função. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p.175-176.

13

RIZZI, Sérgio. Ação rescisória. São Paulo: Ed. RT, 1979, p. 109-110.

14

NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira; BONDIOLI, Luiz Guilherme Aidar; FONSECA, João Francisco N. da. Código de Processo Civil e
legislação processual em vigor. 44. ed., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 599.

15

AR 208/RJ, rel. Min. Nilson Naves, 2.ª Seção, j. 11.03.1992, DJ 13.04.1992, p. 4970 apud NEGRÃO; GOUVÊA; BONDIOLI; FONSECA. Op. cit., p. 599.

16

NERY JR., Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. rev., ampl. e atualizada até 1.º de outubro de 2007. São Paulo:
Ed. RT, 2007. p. 781-782.

17

Esse entendimento será melhor explicado no tópico seguinte quando será abordada a mitigação da Súmula 343/STF.

18

MEDINA, José Miguel Garcia; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Recursos e ações autônomas de impugnação. 2. ed. São Paulo: Ed. RT, 2011, p. 291-
294.

19

ARAÚJO, op. cit., p. 147-149.

20
Idem, p. 148-149.

21

ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa; MEDEIROS, Maria Lúcia L. C. de. Recursos repetitivos: realização integral da finalidade do novo sistema impõe
mais do que a paralisação dos recursos especiais que estão no 2.º grau. RePro 191/188.

22

MEDINA, op. cit., 495.

23

ARRUDA ALVIM WAMBIER; MEDEIROS, op. cit., loc. cit.

24

MEDINA, op. cit., p. 495-496.

25

MEDINA, José Miguel Garcia; GUIMARÃES, Rafael de Oliveira. Ação rescisória. Violação literal a dispositivo de lei com base em contrariedade à
jurisprudência dominante. RePro 211/461.

26

ARAÚJO, op. cit., p. 155.

27

MEDINA; ARRUDA ALVIM WAMBIER, op. cit., p. 291-294.

28

“Nos termos do Enunciado 343 da Súmula do STF, não é cabível ação rescisória por violação de literal dispositivo de lei quando a matéria era
controvertida nos Tribunais à época do julgamento. A jurisprudência, contudo, tanto do STF como do STJ evoluiu de modo a considerar que não se
pode admitir que prevaleça um acórdão que adotou uma interpretação inconstitucional (STF) ou contrária à Lei, conforme interpretada por seu
guardião constitucional (STJ). Assim, nas hipóteses em que, após o julgamento, a jurisprudência, ainda que vacilante, tiver evoluído para sua
pacificação, a rescisória pode ser ajuizada. 6. Compete ao requerente, ao demonstrar a violação de literal dispositivo de lei, expor em que sentido se
pacificou a jurisprudência dos Tribunais Superiores” (AR 3682/RN, rel. Min. Nancy Andrighi, 2.ª Seção, j. 28.09.2011, DJe 19.10.2011). “Processual civil.
Previdência privada. Resgate de contribuições. Prescrição. Ação rescisória. Divergência de entendimentos. Não cabimento. 1. ‘Nos termos do
Enunciado 343 da Súmula do STF, não é cabível ação rescisória por violação de literal dispositivo de lei quando a matéria era controvertida nos
Tribunais à época do julgamento. A jurisprudência, contudo, tanto do STF como do STJ evoluiu de modo a considerar que não se pode admitir que
prevaleça um acórdão que adotou uma interpretação inconstitucional (STF) ou contrária à Lei, conforme interpretada por seu guardião
constitucional (STJ). Assim, nas hipóteses em que, após o julgamento, a jurisprudência, ainda que vacilante, tiver evoluído para sua pacificação, a
rescisória pode ser ajuizada’ (2.ª Seção, AR 3.682/RN, rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 19.10.2011) 2. Recurso especial provido” (STJ, 4.ª T., REsp
1.324.072/DF, j. 04.09.2012, rel. Min. Maria Isabel Galotti, DJe 14.09.2012).

29

TEIXEIRA, Rodrigo Valente Giublin. Recursos Especiais Repetitivos. RePro 191/164.

30

ARRUDA ALVIM WAMBIER; MEDEIROS, op. cit., p. 188.

31

DJ 01.02.2002.
32

TEIXEIRA, op. cit., p. 182.

© edição e distribuição da

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