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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AVAS
Nº 70085745040 (Nº CNJ: 0001604-83.2023.8.21.7000)
2023/CRIME

RECURSO ESPECIAL. FURTO. PRINCÍPIO


DA INSIGNIFICÂNCIA. REITERAÇÃO DELITIVA.
INAPLICABILIDADE. SÚMULA 83 DO STJ.
RECURSO NÃO ADMITIDO.

RECURSO ESPECIAL SEGUNDA VICE-PRESIDÊNCIA

Nº 70085745040 COMARCA DE TRÊS PASSOS


(Nº CNJ: 0001604-83.2023.8.21.7000)

MARCOS MARCELO DOS SANTOS RECORRENTE

JULIANO DA ROSA RECORRENTE

MINISTÉRIO PÚBLICO RECORRIDO

1. MARCOS MARCELO DOS SANTOS e JULIANO DA ROSA interpõem


recurso especial, forte no artigo 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição da República,
contra acórdão do Quarto Grupo Criminal deste Tribunal de Justiça, que julgou embargos
infringentes, assim ementado (fl. 343):

FURTO. ATIPICIDADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA.
Estando um dos agentes a responder a processos criminais outros, sob
imputação da prática de crimes de furto, e ostentando, o outro, quatro
condenações anteriores e irrecorríveis, não há cogitar de atipicidade material
da conduta que observaram, independentemente do valor do objeto da
subtração, pois suas condições pessoais, por si sós, estão a afastar a
observância do chamado princípio da insignificância.
EMBARGOS INFRINGENTES DESACOLHIDOS. POR MAIORIA.

Alegam que o acórdão recorrido negou vigência ao artigo 386, inciso III, do
Código de Processo Penal, visto que deve ser reconhecida a atipicidade da conduta, pela
aplicação do princípio da insignificância, porque (I) “inexpressiva a conduta dos réus, do
valor insignificante dos objetos – sequer se sabe se algum teria expressão econômica – e

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inexistente o prejuízo” (fl. 354-verso) e (II) a reincidência não obsta o reconhecimento da


atipicidade material da conduta. Suscitam dissídio jurisprudencial.

Apresentadas as contrarrazões, vêm os autos conclusos a esta Segunda Vice-


Presidência para realização do juízo de admissibilidade.

É o relatório.

2. Supremo Tribunal Federal fixou os seguintes requisitos para a aplicação


do princípio da insignificância: (I) a mínima ofensividade da conduta do agente; (II) a
ausência total de periculosidade social da ação; (III) o ínfimo grau de reprovabilidade do
comportamento e (IV) a inexpressividade da lesão jurídica ocasionada (HC 84.412/SP, Rel.
Min. Celso De Mello, DJU 19.04.2004).

Nesse norte, Superior Tribunal de Justiça tem decidido ser “incabível a


aplicação do princípio da insignificância quando o montante do valor da res furtiva superar
o percentual de 10% do salário mínimo vigente à época dos fatos” (AgRg no AREsp
1.694.233/RO, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
15/09/2020, DJe 21/09/2020), sendo que “o fato de os bens subtraídos terem sido restituídos
à vítima não afasta, por si só, a tipicidade da conduta e tampouco permite a aplicação do
princípio da insignificância” (HC 610.127/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª Turma/STJ, j.
09/12/2020, DJe 14/12/2020), bem como que “o princípio da insignificância não tem
aplicabilidadeem casos de reiteração da conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando
as instâncias ordinárias entenderem ser tal medida  recomendável  diante  das
circunstâncias concretas [...]” (AgRg no REsp 1.730.698/MG, Rel. Ministro Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, julgado em 12/06/2018, DJe 20/06/2018), de que são exemplos os seguintes
precedentes:

PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. CRIME DE FURTO E CONTRAVENÇÃO DE VIAS DE
FATO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
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IMPOSSIBILIDADE. REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA. RECURSO


ESPECIAL DESPROVIDO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte Superior está firmada no sentido da não
incidência do princípio da insignificância nas hipóteses de reiteração de
delitos e reincidência, como é o caso dos autos (AgRg no AREsp
896.863/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
DJe 13/6/2016).
2. "O princípio da insignificância é verdadeiro benefício na esfera penal,
razão pela qual não há como deixar de se analisar o passado criminoso do
agente, sob pena de se instigar a multiplicação de pequenos crimes pelo
mesmo autor, os quais se tornariam inatingíveis pelo ordenamento penal.
Imprescindível, no caso concreto, porquanto, de plano, aquele que é
contumaz na prática de crimes não faz jus a benesses jurídicas" (HC
544.468/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, DJe 14/2/2020).
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp n. 2.011.610/MG, relator Ministro Joel Ilan Paciornik,
Quinta Turma, julgado em 27/3/2023, DJe de 31/3/2023)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. REITERAÇÃO CRIMINOSA. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou o
entendimento de que "a reiteração criminosa inviabiliza a aplicação
do princípio da insignificância, ressalvada a possibilidade de, no caso
concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é
socialmente recomendável" (EAREsp n. 221.999/RS, Rel. Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, DJe 10/12/2015).
Hipótese em que, apesar do reduzido valor dos bens subtraídos, não é
possível a incidência do princípio da insignificância, ante a existência de oito
sentenças condenatórias transitadas em julgado em desfavor do réu por
crimes patrimoniais.
Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 1629477/RS, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
15/09/2020, DJe 23/09/2020; grifou-se)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. FURTO. NULIDADE DO ACÓRDÃO
IMPUGNADO. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 282 E 284 DO
STF. REINCIDÊNCIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INAPLICABILIDADE. RESTITUIÇÃO DO BEM À VÍTIMA.
IRRELEVÂNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. No que toca à suscitada nulidade dos atos processuais, praticados a partir
da prolação do acórdão recorrido, não assiste razão ao recorrente. Isso
porque, a referida alegação não foi objeto da apelação interposta,
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constituindo, pois, nítida inovação recursal, o que atrai o óbice da Súmula n.


282/STF, uma vez que o prequestionamento da matéria é indispensável para
o exame do recurso especial. Ainda que assim não fosse, verifica-se, quanto
ao ponto, que o recorrente não indicou qual ou quais foram os dispositivos
de lei federal tidos por violados, bem como não realizou a demostração de
eventual dissídio jurisprudencial entre o v. Acórdão recorrido e o paradigma
oriundo de outro Tribunal Superior. Assim, incide também o óbice da
Súmula 284/STF.
2. Não obstante o baixo valor dos bens furtados, o entendimento desta
Corte se firmou no sentido de que o princípio da insignificância não tem
aplicabilidade nos casos em que se verifica a reiterada prática da
conduta delitiva, salvo excepcionalmente, quando as instâncias
ordinárias entenderem ser tal medida recomendável diante das
circunstâncias concretas, situação que não se apresenta na hipótese.
3. Ademais, o simples fato de o bem haver sido restituído à vítima, não
constitui, por si só, razão suficiente para a aplicação
do princípio da insignificância. Precedentes.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp
1817683/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 27/08/2019, DJe 02/09/2019; grifou-se)

In casu,  acórdão recorrido não reconheceu a incidência do princípio da


insignificância, ante “as condições pessoais dos agentes”, conforme se lê do seguinte
excerto do voto condutor (fls. 343-verrso/346-verso):
Pretende o embargante a prevalência do voto divergente, da lavra
da Drª Carla Fernanda de Cesero Haas:
Com a devida vênia da ilustre Relatora, inauguro
divergência a fim de dar provimento ao apelo defensivo, fins de
absolver os apelantes das imputações que lhe foram feitas.
De fato, muito embora demonstrada a existência das
subtrações e sua autoria pela prova coligida, notadamente
observados os depoimentos das vítimas, é caso de absolvição
dos acusados, ocorrente, a meu sentir, na espécie, o denominado
crime bagatelar.
Com efeito, os bens subtraídos revelaram pequena
expressão, perfazendo, consoante auto de avaliação indireta da fl.
149, R$ 80,00 (uma cadeira de praia - 1º fato) e R$ 78,00 (um
cooler de água e seis garrafas de cerveja vazias - 2º fato).
Nessa toada, analisando objetivamente os fatos em exame,
a despeito de restar patente a existência da tipicidade formal
(perfeita adequação da conduta do agente ao modelo abstrato
previsto na lei penal), mostra-se viável o reconhecimento do fato
insignificante, a descaracterizar, no plano material, a tipicidade
penal das condutas praticadas pelos apelantes.

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No aspecto, quando do julgamento do HC n. 84.412-0/SP


no STF, o Ministro Celso de Melo sedimentou vetores para
autorizar a incidência do postulado da insignificância, assentando
que o princípio da insignificância - que deve ser analisado em
conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção
mínima do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou
de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de
seu caráter material. Doutrina. Tal postulado - que considera
necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a
presença de certos vetores, tais como: (a) a mínima ofensividade
da conduta do agente; (b) nenhuma periculosidade social da ação;
(c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento;
(d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em
seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o
caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função
dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do
Poder Público.
À luz de tais diretrizes, impende destacar que os valores
das coisas subtraídas, individualmente consideradas, na espécie, já
que referentes a fatos diversos, perfizeram importância inferior a
10% do salário mínimo vigente à época dos acontecimentos (R$
998,001). Outrossim, restou, ao fim, aos patrimônios das vítimas
reintegrada a res furtivae.  E ainda que descrito agir praticado em
concurso de agentes, não há óbice ao reconhecimento, a meu
sentir, na situação telada, da atipia penal.
Para além disso, agrega-se aos parâmetros alhures
indicados a análise das condições subjetivas dos autores dos fatos.
Nesse passo, analisando a certidão de antecedentes criminais do
apelante MARCOS, não se constata qualquer registro anterior,
afora aquele que ensejou o feito em apreço, salientando que o réu
ao tempo dos fatos contava 24 anos de idade. Em relação ao réu
JULIANO, em vista da certidão de antecedentes criminais do
apelante, constata-se a existência de quatro condenações
irrecorríveis (processos nº 075/2.15.0000324-9, 075/2.14.0001366-
8, 075/2.17.0001270-5 e 075/2.18.0001808-0), referente a ilícitos
cometidos em momento anterior às infrações penais descritas na
denúncia.
Ainda assim, a meu sentir, não há óbice ao reconhecimento
do delito de somenos. E isso porque, tendo em conta que a
insignificância afasta a tipicidade penal, no seu aspecto material,
não se pode concluir que condição do agente a determine. Com
efeito, uma mesma conduta, para um indivíduo sem qualquer
apontamento na certidão de antecedentes, poderá não ensejar a
atuação do sistema penal; em situação diversa, dito igual agir, se
reincidente seu autor ou com maus antecedentes, arredará o
princípio da insignificância. É descabido assentar, com a devida
1
Decreto nº 9.661/2019.
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vênia, que conduta idêntica é típica para alguns, apenas. A recidiva


em infrações penais não pode ser elevada à circunstância elementar
do delito.
Nessa toada, tendo em conta o reduzido valor das res
furtivae, promovida a restituição dos bens surrupiados às vítimas,
inexistente, portanto, repercussão social ou econômica, justificada
está a incidência à hipótese em liça do princípio da insignificância.
Não se trata aqui de estimular a prática de pequenos
delitos, mas de reconhecer que há ainda desproporcionalidade de
eventual pena, salientando que, in casu, pelas subtrações em
apreço, o apelante JULIANO recebeu, neste grau, reprimenda
superior a 03 (três) anos de reclusão e o recorrente MARCOS pena
superior a 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
Ao fim, transcreve-se a percuciente doutrina de Fernando
Capez  sobre o tema em comento:
2

A dignidade humana, porém, dirige-se também ao


operador do direito, proibindo-o de aplicar abusivamente a norma
incriminadora, bem como de fazê-la atuar quando desnecessário.
Não basta a correspondência formal, para que se proceda à
adequação típica.
Assim, é de ser provida a apelação, ao efeito de absolver
os réus, porquanto os fatos descritos na denúncia não constituem
infração penal.
Pelo exposto, voto no sentido de dar provimento ao
recurso defensivo para absolver os réus JULIANO DA ROSA e
MARCOS MARCELO DOS SANTOS das
imputações narradas na exordial acusatória, com espeque no
art. 386, inc. III, do Código de Processo Penal.
Por outro turno, no ponto divergente, assim registra
o voto proferido pela Desª Isabel de Borba Lucas, no que acompanhada pelo
Des. Leandro Figueira Martins, verbis:
[...]
Por outro lado, o pedido de absolvição, em razão da
atipicidade material do fato, não merece prosperar. Ainda que o
valor da res talvez permitisse a incidência da bagatela, pois a
cadeira subtraída por ocasião do 1º fato foi estimada em R$ 80,00
e, os objetos relacionados ao 2º fato, em R$ 78,00 (auto de
avaliação indireta da fl. 149), montantes estes que, individualmente
considerados (porque fatos diversos), são inferiores a dez por cento
do salário mínimo então vigente, de R$ 998,00, na aplicação do
princípio da insignificância há que se levar em conta, além do valor
da res, também o desvalor da conduta e do resultado, a repercussão
do fato na pessoa da vítima e as condições pessoais dos acusados.
Na espécie, trata-se de furtos qualificados, perpetrados por dois
indivíduos e em pleno dia, em que em um dos fatos houve,
2
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – parte geral. 10. ed. rev. e atual. Vol. 1. São Paulo:
Saraiva, 2006. Pág. 133.
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inclusive, ingresso na garagem existente na propriedade da vítima,


circunstâncias que impedem a aplicação do aludido princípio. Não
bastasse isso, especificamente no tocante a JULIANO, trata-se de
réu multirreincidente específico na prática de furtos (fls. 198/208),
o que igualmente configura óbice à insignificância.
Destaco a impossibilidade de aplicação da bagatela,
conforme jurisprudência deste órgão fracionário, relembrando
votos do hoje aposentado MM Desembargador Danúbio Edon
Franco, então presidente desta 8ª Câmara Criminal, que, de forma
percuciente, inteligente e clara, sempre enfrentou a matéria,
afastando a aplicação do princípio, que pode estimular a
criminalidade, por não se punir as pequenas infrações. Suas
decisões tentam evitar a violação da lei, que nunca pode ser
considerada irrelevante, uma insignificância, uma bagatela.
Seguindo este entendimento, portanto, não é possível, aqui, a
aplicação do princípio da insignificância ou bagatela.
[...]
Assim posta a questão, não assiste razão ao embargante.
Isso porque, independentemente do valor do bem subtraído
(R$ 80,00, primeiro fato e R$ 78,00, segundo fato), estão a afastar, por si
sós, a observância do chamado princípio da insignificância, as condições
pessoais dos agentes, pois Marcos Marcelo dos Santos responde a dois
processos criminais outros sob imputação dos delitos de furto (n.º
5003132-21.2022.8.21.0075 e n.º 5001738-81.2019.8.21.0075); e Juliano
da Rosa, de sua vez, ostenta quatro condenações anteriores e
irrecorríveis pelos crimes de furto (n.º 075/2.15.0000324-9 e n.º
075/2.14.0001366-8, n.º 075/2.17.0001270-5 e n.º 075/2.18.0001808-0),
E dúvida alguma há de que o histórico criminal do agente deve ser
examinado para fins de observância do precitado princípio, pois, do
contrário, estar-se-ia estimulando a prática de pequenos furtos, aos quais um
indivíduo poderia se dedicar, ciente de que, ainda que reiteradamente o
fizesse, consequência alguma sofreria. 
A jurisprudência das Cortes Superiores, aliás, é iterativa com
respeito a presença da tipicidade material em situações como a presente,
quando verificada a contumácia delitiva: [...]
Por conseguinte, estando um dos agentes a responder a
processos criminais outros, sob imputação da prática de crimes de furto,
e ostentando, o outro, quatro condenações anteriores e irrecorríveis, não
há cogitar de atipicidade material da conduta que observaram,
independentemente do valor do objeto da subtração, pois suas condições
pessoais, por si sós, estão a afastar a observância do chamado princípio
da insignificância.
Por isso que voto por desacolher os embargos infringentes. [grifou-
se]

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Incide, portanto, a Súmula 83 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a


qual "não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal
se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida", aplicável ao recurso interposto tanto pela
alínea a quanto pela c do artigo 105, inciso III, da Constituição da República, conforme se lê
do seguinte precedente:

AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA.


PROCESSO INCLUÍDO EM PAUTA E NÃO JULGADO NA DATA
PREVISTA. DESNECESSIDADE DE NOVA INCLUSÃO DO FEITO EM
PAUTA. JULGAMENTO DO FEITO EM PRAZO RAZOÁVEL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83/STJ. APLICAÇÃO A AMBAS AS
ALÍNEAS DO ART. 105, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que após o processo ter
sido regularmente incluído em pauta, tendo sido as partes devidamente
intimadas da data da sessão de julgamento, que, contudo, não se realiza no
dia designado, não é necessário sua reinclusão em pauta ou nova intimação
das partes, mormente quando o feito é levado a julgamento em tempo
razoável.
2. O recurso especial é inviável quando o tribunal de origem decide em
consonância com a jurisprudência do STJ (Súmula 83/STJ).
3. A Súmula 83 do STJ é aplicável aos recursos especiais interpostos
tanto pela alínea "a" quanto pela alínea "c" do inciso III do art. 105 da
Constituição Federal.
4. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1858976/AM,
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado
em 07/12/2020, DJe 11/12/2020; grifou-se)

Ante o exposto, NÃO ADMITO o recurso especial.

Intimem-se.

DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA,


2º VICE-PRESIDENTE.

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