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EXMO SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


IPATINGA/MG

BANCO ITAÚ S.A., por sua advogada que esta


subscreve, nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS, pelo rito ORDINÁRIO que lhe promove MARISTELA LOPES
OLIVEIRA (processo nº 313.03.078946-2), apresenta CONTESTAÇÃO,
consubstanciada nas razões que seguem:

I - DA PRETENSÃO INICIAL

Sustenta a autora, em confusa narrativa, que foi


vítima de danos em virtude de hipotética ausência de repasse, ao DETRAN, de
valores representativos de multas aplicadas a veículo de sua propriedade. Alega
que recolheu, em 19/02/2003, a importância de R$ 510,76 1 (quinhentos e dez reais e
setenta e seis centavos), mas que, em 27/02/2003, foi surpreendida com a cobrança
desse mesmo valor pelo DETRAN.

Por conta desse acontecimento, sustenta ter


suportado abalo material e moral o qual estima em absurdos 1.000 (um mil) salários

1
R$ 510,76 é a representação de 4 multas no valor de R$ 127,69 cada.

1
mínimos, atuais R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), acrescido de eventual
apuração em execução de sentença e dos consectários legais.

Entretanto, como se evidenciará, a ação é


infundada, não tendo como prosperar.

II – PRELIMINARMENTE

II.1. - DA FALTA DE INTERESSE DE AGIR

Não é qualquer tipo de interesse que autoriza a


utilização do processo e a sua instauração através da propositura de ação; aqueles
de cunho meramente econômico não autorizam ninguém a valer-se utilmente do
processo.

Nesta esteira, evidencia-se, de plano, a falta de


interesse jurídico para a ação proposta, porquanto a autora não logrou demonstrar
a resistência do contestante à sua pretensão e, conseqüentemente, não mostrou
qual a utilidade deste feito para si.

Com efeito, a autora não provou que o contestante


deixou de repassar ao DETRAN os valores representativos das multas ou que tenha
os repassado com atraso.

Portanto, patente é a falta de interesse de agir,


condição essencial para o exercício da função jurisdicional, pelo que requer-se seja
a autora julgada carecedora de ação, extinguindo-se o feito, com base no art. 267,
VI, do Código de Processo Civil.

II.2. – DA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO BANCO ITAÚ S.A.

O réu é parte ilegítima para figurar no pólo passivo


da presente ação. Reza o artigo 3º do Código de Processo Civil que “para propor ou
contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade.” – sem grifos no
original

A legitimidade decorre da demonstração, pela


autora, de que o réu omitiu-se ou praticou ato que justifique sua vinda aos autos.

2
O pedido da autora direciona-se à suposta ausência
de repasse de valores representativos de 4 multas ao DETRAN. Porém, consoante
documentação que ora se anexa, OS R$ 510,76 FORAM REPASSADOS AO
PRODEMG/DNER EM 20/02/2003, dia posterior ao pagamento das multas. Destarte,
não há que se falar, em absoluto, em inércia do ora contestante.

Pelo extrato de valores repassados ao


PRODEMG/DNER, em 20/02/2003, constam os 4 pagamentos efetuados pela
autora, os quais estão em destaque.

No PRODEMG, órgão que processa as multas do


Estado de Minas Gerais, o repasse foi arquivado sob o nº 00641. Assim, se de
atraso há que se falar, certamente este não ocorreu por conta do agir do Banco
Itaú S.A.

Ademais, pelas determinações do DETRAN,


constantes no site www.detrannet.mg.gov.br, na seção de dúvidas, há a
informação de que “normalmente, o prazo para baixa no pagamento de multa é de
72 horas”. Também nesse mesmo site, é possível visualizar-se a situação atual do
veículo. In casu, pelo documento que ora se junta, não consta mais QUALQUER
TIPO DE PENDÊNCIA com relação ao automóvel de propriedade da autora.

Supõe-se, daí, não ser o contestante parte legítima


para demandar nos autos. Ao réu faltam legitimidade e interesse jurídico para
permanecer no pólo passivo da lide. Daí que, eventual procedência da ação,
nenhum efeito surtirá relativamente ao contestante.

Impõe-se, assim, seja o réu declarado parte


ilegítima (art. 295, II, do CPC), e a inicial seja indeferida, com a conseqüente
extinção do processo sem apreciação do mérito, nos termos do artigo 267, VI, do
CPC.

II.3. DA INÉPCIA DA INICIAL

- QUANTO À EXORDIAL

A petição inicial é inepta (art. 295, inciso I, do


CPC), pois não apresenta fundamentação jurídica do pedido, como exige o artigo
282, inciso III, do CPC, ou ao menos esta é evidentemente defeituosa, como se
depreende das fls. 2 e 3 dos autos.

3
De fato, a autora não demonstrou, como lhe cabia,
a subsunção dos fatos às normas jurídicas, aos dispositivos legais e ao direito
aplicável à espécie, ou a incidência destas normas ao caso concreto, que é a
contrapartida daquela. Aliás, a autora sequer cita qualquer norma, texto de lei,
doutrina ou jurisprudência que pudesse dar sustentação a seu pedido, em evidente
irregularidade formal e substancial de sua peça inicial, demonstrando esta a
ausência completa de base jurídica que pudesse dar embasamento à sua
pretensão.

Neste sentido, reconhecendo expressamente a


inépcia da inicial por ausência e omissão dos fundamentos jurídicos do pedido e da
causa de pedir, ou da demonstração destes, nossos Tribunais têm decidido de
modo uniforme e reiterado, servindo de mero exemplo as ementas dos julgados
abaixo transcritas.

“INÉPCIA DA INICIAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO. POR


SE TRATAR DE MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA, A
INÉPCIA DA INICIAL PODER SER EXAMINADA A TODO
TEMPO. NO CASO, POR OCASIÃO DA INICIAL, O
AUTOR NÃO NARROU OS FATOS DOS QUAIS
EXTRAIU A CONCLUSÃO DO PEDIDO, COMO
EXIGE O ART. 282, III, DO CPC. SEM ELEMENTOS
CAPAZES DE REVELAR OS LIMITES DA LIDE,
FORÇOSO É RECONHECER A INÉPCIA DA
INICIAL, O QUE, NO CASO, SE FAZ DE OFÍCIO.
DECISÃO: DE OFÍCIO, JULGAR EXTINTO O PROCESSO
SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, À UNANIMIDADE.”
(Tribunal de Justiça do Distrito Federal - PROCESSO:
APELAÇÃO CÍVEL 19980710047987APC DF - ACÓRDÃO:
129599 - ORGÃO JULGADOR: 3a Turma Cível - DATA:
12/06/2000 - RELATOR: VASQUEZ CRUXÊN -
PUBLICAÇÃO: Diário da Justiça do DF: 04/10/2000 Pág:
26) - grifamos

“PETIÇÃO INICIAL - INÉPCIA - OMISSÃO DOS FATOS


E FUNDAMENTOS JURÍDICOS - ART. 282, III DO
CPC - AGRAVO RETIDO PROVIDO.”
(PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL, APELAÇÃO
CÍVEL n.º 00385346-0/00, ORIGEM: SÃO PAULO, 3.ª.
CÂMARA ESPECIAL, j. em 12/01/1988, RELATOR:

4
SCARANCE FERNANDES, v. u., publicação JTA 108/141)
- grifamos

“PETIÇÃO INICIAL - COBRANÇA - CAMBIAL - CHEQUE -


AJUIZAMENTO FUNDADO TÃO SOMENTE NO TÍTULO -
AUSÊNCIA DE DEMONSTRACÃO DOS FATOS
CONSTITUTIVOS DO DIREITO INVOCADO -
INEXISTÊNCIA DE CAUSA DE PEDIR - ART. 295, I
C/C, PARÁGRAFO ÚNICO, I, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL - PRELIMINAR DE INÉPCIA
ACOLHIDA - EXTINÇÃO DO PROCESSO
DECRETADA.”
(PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL, Ag. 430.925-9
- Rel. Jacobina Rabello - MF 600/178) - grifamos

“PETIÇÃO INICIAL - RESPONSABILIDADE CIVIL -


ACIDENTE DE TRÂNSITO - AUSÊNCIA DE CAUSA DE
PEDIR, POIS INEXISTENTE A DESCRIÇÃO DA
MODALIDADE DE CULPA E DOS FATOS DE
MANEIRA A INDICÁ-LA - INÉPCIA RECONHECIDA
- EXTINÇÃO DECRETADA - RECURSO DESPROVIDO,
ALTERADO O DISPOSITIVO DE IMPROCEDÊNCIA PARA
CARÊNCIA.” (PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL,
APELAÇÃO CÍVEL n.º 00390095-8/00, ORIGEM:
FERNANDÓPOLIS, 5.ª CÂMARA, j. em 25/05/1988,
RELATOR: SCARANCE FERNANDES v. u., Publicação: MF
146/9) - grifamos

Ante o exposto, ausente a fundamentação jurídica


do pedido e a demonstração analítica da causa de pedir, como exige o artigo 282,
inciso III, do CPC, requer o réu se digne V. Exa. julgar extinto o processo sem
análise do mérito, condenando-se a autora no pagamento dos encargos de
sucumbência, com base no art. 267, inciso I, do CPC.

- QUANTO AOS DANOS MATERIAIS

A autora formulou pedido ilíquido no tocante aos


danos materiais.

Não houve qualquer descrição dos prejuízos


materiais havidos, a não ser genérica menção de supostas perdas e danos advindas
de ato supostamente praticado pelo réu.

5
Nos termos do artigo 286, do CPC, o pedido deve
ser sempre certo e determinado, sendo que, embora em seus incisos venham
elencadas as exceções, a autora não justificou que sua situação pudesse,
eventualmente, encartar-se em quaisquer delas. Aliás, o artigo 286 não foi sequer
mencionado na inicial.

Assim, não se justifica remeter eventual apuração


desse dano material para a fase de liqüidação. O dano patrimonial é, por
definição, mensurável e depende de prova de sua expressão diretamente
sobre o patrimônio do demandante (conforme decisão do Tribunal de Alçada de Minas
Gerais, Apelação Cível 188.522-9, rel. Juiz Francisco Bueno, j. 2/2/95, no bol. IOB de Jurisprudência,
1ª quinzena de out/95, p. 299).

Ademais, nenhuma prova foi juntada aos autos


quanto aos efetivos danos materiais supostamente sofridos pela autora,
especialmente no tocante aos atos praticados pelo contestante, sendo que tais
provas deveriam necessariamente ter acompanhado a petição inicial, por ser este o
momento adequado para que se produza a prova documental dos fatos alegados,
sob pena de preclusão.

Diante disso, torna-se inequívoco que a petição é


inconcludente e o pedido ilíquido, impedindo, de forma irremediável, o exercício da
atividade jurisdicional.

Isto posto, é imperativo o indeferimento da inicial,


julgando-se extinto o processo com fulcro no artigo 267, I, c/c artigo 295, I, ambos
do CPC.

III - MÉRITO
Na mais remota hipótese de serem ultrapassadas as
preliminares argüidas, o réu adentrará ao mérito da questão, a fim de continuar
demonstrando a licitude do seu agir o que levará, certamente, à improcedência da
ação.

1. DA AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR

6
Para a caracterização da responsabilidade civil, é
necessário que concorram três circunstâncias, sem as quais a lei, a doutrina e
a jurisprudência não autorizam a indenização por parte do causador do ato :

- CULPA : É A AÇÃO IMPRUDENTE, NEGLIGÊNCIA OU IMPERITA DO CAUSADOR DO DANO;

- DANO : ASSIM COMPREENDIDA A CONDUTA ANTIJURÍDICA QUE CAUSA LESÃO AO


INDIVÍDUO E GERE PREJUÍZO, E;

- NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O DANO E A CULPA : VALE DIZER, A RELAÇÃO DE


CAUSALIDADE ENTRE A ANTIJURIDICIDADE DA AÇÃO E O MAL CAUSADO.

Ausente um dos pressupostos não há que se falar


em obrigação de indenizar.

1.1. DA INEXISTÊNCIA DE ATO ILÍCITO

A responsabilidade civil, no direito brasileiro,


norteia-se pelo princípio da culpa, cuja noção tem fundamental importância na
caracterização do ato ilícito e sua responsabilização. Nesse sentido dispõe o artigo
159, do Código Civil.

Assim, para que nasça a obrigação de alguém


reparar um dano, é imprescindível que tenha praticado culposamente um ato ilícito,
que seja causa do prejuízo experimentado pela vítima.

Conforme ensina Silvio Rodrigues, “ato ilícito é


aquele praticado com infração a um dever e do qual resulta dano para outrem.
Dever legal ou contratual” (in DIREITO CIVIL, Parte Geral, vol. I, 20ª edição, p. 324).

Daí resulta que não basta a prática do ato (ou a


omissão); é necessário que tal prática esteja revestida da ilicitude.

Importante, neste particular, a lição de Pontes de


Miranda (Tratado de Direito Privado - volume 53/82) , segundo a qual, "para que a
indenização se haja de dar sem ter havido agente culpável, é preciso que se tire do texto
legal". E complementa (página 85) "que o simples cometimento de dano patrimonial em
bem de outrem não torna, de regra, responsável pelo dano, a pessoa que o causou; pois é
preciso existir determinado fundamento pessoal da parte do autor, que justifique o
ressarcimento".

7
Como visto, o réu repassou os valores
representativos das multas em 20/02/2003, dia seguinte ao pagamento, não
havendo que se falar em atraso ou na configuração de qualquer ato ilícito,
despiciendo cogitar-se sobre o elemento culpa.

Dessa forma, não pode o réu ser penalizado por


sua conduta, absolutamente regular, que não deu causa ao resultado danoso
alegado na inicial.

Inexistindo, assim, qualquer ato ilícito que possa


ser imputado ao contestante, não há que se falar em obrigação de indenizar,
relativamente a ele, restando inaplicável o artigo 159, do Código Civil.

1.2. DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS

Jamais poderá prosperar a pretensão indenizatória,


na medida em que os fatos em apreço não geraram absolutamente qualquer dano
à autora.

Nas ações indenizatórias, como é cediço, o


interessado deve evidenciar o prejuízo dessa natureza, experimentado pela conduta
lesiva. Para a indenização de qualquer tipo de dano não basta, a rigor, o
acontecimento em si ! Exige-se a existência e demonstração de sua repercussão
efetiva na esfera moral e de interesse do prejudicado, a teor da atual legislação a
respeito.

Como consigna José de Aguiar Dias, "o dano moral


é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria lesão, abstratamente
considerada".2

A autora, na espécie, em nenhum momento


comprova ter sofrido qualquer tipo de dano decorrente do acontecimento em
questão, ao qual, maliciosamente, procura emprestar uma relevância que
absolutamente inexistiu no caso.

Como sabido, nas ações indenizatórias as provas


devem ser concretas e suficientes, no sentido de demonstrarem efetivo

2
Da Responsabilidade Civil, 9ª ed. vol. II, p. 737

8
prejuízo na fase cognitiva da ação, só se remetendo para o juízo sucessivo da
execução a eventual apuração do respectivo quantum.

Com efeito, o dano, tem que ser provado, não


havendo nenhuma razão jurídica para se estabelecer derrogações aos princípios
gerais probatórios (art. 333, I, CPC) e aos da responsabilidade civil (art. 159, CC). A
respeito leciona Wilson Melo da Silva:

“Para a prova dos danos morais, valeriam todos os


meios, em direito permitidos, inclusive as presunções
estabelecidas, segundo se verá, para determinadas
pessoas da família da vítima.
Aqui o ônus probandi incumbit et qui dixit ainda é a
norma.
Se o que pede a reparação por danos morais não tem, a
seu favor, a presunção sempre vencível, juris tantum,
desses mesmos danos, terá que prová-los.
Não valeria, em absoluto, contrariamente às antigas
praxes e aos ensinamentos de Borciani, a prova
originada do juramento supletório de parte”.
(DANO MORAL E SUA REPARAÇÃO - pág. 510)

A posição jurisprudencial, por sua vez, é firme no


sentido de que não há dano sem prova, seja ele moral ou patrimonial:

“MANDATO. COAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL.


APELAÇÃO: REQUISITOS
1 – Permitindo os elementos de convicção trazidos aos
autos reconhecer-se a existência de coação sobre o
mandante, cabe indenização pelos prejuízos advindos.
2 - Sem base probatória segura para que seja
identificado, o dano moral não há de ser indenizado.”
(STJ - Ag. I. 42.383-3 - Rio Grande do Sul, Rel. Min.
Cláudio Santos, DJU 21.02.94, nº 197, pág. 21685)
(grifos do contestante)

“INDENIZAÇÃO – Perdas e danos – Ausência de


comprovação cabal dos prejuízos aferíveis
economicamente – Dano hipotético que não justifica a
reparação – Ação improcedente – Recurso não provido.”
(RJTJSP 120/175)

9
“RESPONSABILIDADE CIVIL - Abalo de crédito
decorrente de protesto de título - Indenização -
Necessidade de prova do prejuízo - Requisito não
atendido na espécie - Ação Improcedente.
(...)
Ora, a prova feita, tal a do negócio a realizar e que se
perdera, foi bem considerada como sem condições de
convencer. E nada mais se produziu, ao contrário, com
a publicação nos jornais, atestando a idoneidade do
autor, fez-se verdadeiro ressarcimento "in natura",
prevenindo-se algum dano indenizável e que não se
demonstrou presente.” (RT 423/166)

“RESPONSABILIDADE CIVIL - Ação de indenização por


abalo de crédito
(.....)
A jurisprudência é pacífica no entendimento de que não
se pode falar em indenização quando o autor não
comprova a existência do dano.” (RT 568/167 - TJSC -
Ap. Cível n.º 15.636, Florianópolis, j. 4.5.82)

“Para que haja pagamento da indenização pleiteada,


além da prova do dolo do agente, é necessário
comprovar a ocorrência de um dano patrimonial ou
moral.” (RT 436/97, 433/88, 368/181, 458/20, 434/101;
RTJ-39/38, 41/844; RF 221/200)(grifos do contestante)

“Indenização – Ato ilícito – Contribuição do


representante da autora para que o ato que considera
lesivo – Inexistência de efetivo prejuízo econômico para
fazer jus a indenização por dano material ou por dano
moral, de efeitos econômicos verificáveis –
Descabimento de indenização por dano moral,
pela simples ocorrência do protesto sem
qualquer prova de dano – Decisão incorreta fixando
indenização exacerbada sem apontar critério – Recurso
provido para inverter o resultado e julgar improcedente
a ação.” (Apel. 570.388-0, 10ª Câm., 1º TACSP, j.
02.04.96) - grifamos

Conclui-se, pois, pela não comprovação dos


alegados danos, nada, pois, sendo devido à autora.

10
Agostinho Alvim, ensina que “ainda mesmo que
haja violação de um dever jurídico, e que tenha existido culpa e até mesmo dolo
por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha
verificado prejuízo.” (da Inexecução das Obrigações e Suas Conseqüências - pág. 162)

Por outro lado, o artigo 159 do Código Civil é


expresso ao determinar a reparação integral dos danos que o ofendido tenha
suportado em razão de ato culposo de outrem.

Porém, a reparação integral dos danos deve ser a


justa, isto é, a que compreenda os danos efetivamente sofridos e decorrentes
diretamente do ato culposo do agente.

No caso dos autos, não demonstrado, pela autora,


a ocorrência efetiva do dano alegado – divagando sobre meras suposições -, não
há que se falar em obrigação de indenizar.

Como sabido, no Direito pátrio não se indenizam


danos potenciais, eventuais, supostos ou abstratos.

O sistema abraçado pelo vigente Código Civil, em


seu artigo 1.060, não alimenta dúvidas a tal respeito:

“Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as


perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os
lucros cessantes por efeito dela direito e mediato.”
(grifamos)

Assim, convém lembrar que não é qualquer dano


moral que é indenizável.

José Osório de Azevedo Júnior, ilustre


Desembargador do Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, em trabalho intitulado
"O Dano Moral e sua Avaliação" (publicado na Revista do Advogado n° 49, de
dezembro/96 - AASP – Associação dos Advogados de São Paulo) , enfatiza:

“os aborrecimentos, percalços, pequenas


ofensas, não geram o dever de indenizar.
O nobre instituto não tem por objetivo

11
amparar as suscetibilidades exageradas e
prestigiar os chatos.
...
por outras palavras, somente o dano
moral razoavelmente grave deve ser
indenizado.” (pág. 11) - grifamos

Nessa seara, o réu transcreve ementas de decisões


recentes demonstrando o entendimento do STJ:

“INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. QUEDA EM COLETIVO.


O mero receio ou dissabor não pode ser alçado ao
patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos
da vida, causando fundadas aflições ou angústias
no espírito de quem ela se dirige.
(...)
Recurso especial conhecido e provido.”
(RESP 337771/RJ; RECURSO ESPECIAL 2001/0105794-0
– Fonte: DJ DATA:19/08/2002 PG:00175 – Relator Min.
CESAR ASFOR ROCHA - Data da Decisão: 16/04/2002 –
Órgão Julgador: 4ª TURMA) - grifamos

“CIVIL. DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA.


O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar
do dano moral, mas somente aquela agressão que
exacerba a naturalidade dos fatos da vida,
causando fundadas aflições ou angústias no
espírito de quem ela se dirige.
Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte,
provido.”
(RESP 215666/RJ; RECURSO ESPECIAL 1999/0044982-7
– Fonte: DJ DATA:29/10/2001 PG:00208 - RSTJ
150/382 – Relator: Min. CESAR ASFOR ROCHA - Data
da Decisão: 21/06/2001 – Órgão Julgador: 4ª TURMA) -
grifamos

Veja-se, desse último acórdão, trechos do voto do


Ministro Relator César Asfor Rocha, pelo qual conclui-se que aquele E. STJ
pretende cessar com banalização do dano moral:

“(...)

12
Sérgio Cavalieri Filho, em seu ‘Programa de
Responsabilidade Civil’ (Malheiros Editores Ltda., 1996, pg.
76), mencionado pela recorrente, traz lição de Antunes
Varela, segundo a qual observa ‘a gravidade do dano há
de medir-se por um padrão objetivo (conquanto a
apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias
de cada caso), e não à luz de fatores subjetivos (de uma
sensibilidade particularmente embotada ou
especialmente requintada).
Por outro lado, a gravidade será apreciada em função da
tutela do direito: ‘o dano deve ser de tal modo grave
que justifique a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado’.
Por isso é que, ‘nessa linha de princípio, só deve
ser reputado como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à
normalidade, interfira intensamente ao
comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio
em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento,
mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada
estão fora da órbita do dano moral.’
(...)
Mas, a meu sentir, certo é que o embaraço aqui
noticiado não pode ser alçado à categoria do dano
moral.” - grifamos

Destarte, o dano moral que deve ver indenizado é


aquele que representa uma angústia real, um sentimento de inferiorização ou
humilhação do ofendido.

Nessa linha de raciocínio, cita o réu recente decisão


proferida pela 2ª Câmara Cível, do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro, na qual, confirmando a improcedência de pedido de indenização
por dano moral, o rel. Des. Sergio Cavalieri Filho, com propriedade, enfatizou :

“A matéria de mérito cinge-se em saber o que configura


e o que não configura o dano moral. Na falta de
critérios objetivos, essa questão vem se tornando
tormentosa na doutrina e na jurisprudência, levando o
julgador a situação de perplexidade. Ultrapassadas as
fases da irreparabilidade do dano moral e da sua
inacumulabilidade com o dano material, corremos o

13
risco de ingressarmos na fase da sua industrialização,
onde o aborrecimento banal ou mera sensibilidade são
apresentados como dano moral, em busca de
indenizações milionárias.
Tenho entendido que, na solução dessa questão,
cumpre ao juiz seguir a trilha da lógica do razoável, em
busca da sensibilidade ético-social normal. Deve tomar
por paradigma o cidadão que se coloca a igual distância
do homem frio, insensível, e o homem de extrema
sensibilidade.
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como
dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar.
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano
moral, porquanto, além de fazerem parte da
normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar,
tais situações não são intensas e duradouras, a ponto
de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se
assim não se entender, acabaremos por banalizar o
dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.” (Ap.
Cível nº 8.218/95, j. 13.02.96) (grifos do contestante)

Resta claro que os danos alegados na inicial são


meramente especulativos e irreais. Nenhum efeito prático grave, lesivo à moral da
autora, foi experimentado por ela no caso. Portanto, não há que se falar em
obrigação de indenizar.

1.3. DA AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL

Das considerações formuladas abstrai-se que, se


não há ilícito imputável ao réu, os eventuais danos reclamados não podem ter
como causa sua esfera de ação.

Compete ao lesado provar que a causa apontada


foi a produtora única do resultado lesivo, situando-se este como sua conseqüência
ou seu efeito.

14
Deve ficar evidenciado que o dano sofrido adveio
exclusivamente da atividade ou inatividade do agente, contrária aos legítimos
interesses do lesado, amparados pela ordem jurídica.

De fato, como observa ORLANDO GOMES:

“Indispensável é a conexão causal. Se o dano provém


de outra circunstância, ainda que pela atitude culposa
do agente tivesse que ocorrer, este não se torna
responsável, uma vez que não há a relação de causa
e efeito. Não basta, com efeito, que o dano
pudesse sobrevir por efeito da conduta do
agente, mas é preciso que se produza na
realidade como conseqüência desta, e não de
outro acidente.” 3 (grifamos)

Inexistindo conexão causal, não há dever de


reparar.

Como ensina Antônio L. Montenegro (in


“Ressarcimento de Danos”, pág. 47) , “o nexo causal constitui dado fundamental da
obrigação de ressarcir. Na verdade, onde não exista causalidade jurídica, ou seja, a
relação de causa e efeito entre o evento (dano) e ação ou omissão que o produziu
não há dever de responder”.

Na espécie, definitivamente, não há relação alguma


entre o ato do contestante e os danos alegados.

Infere-se, pois, que mesmo que fossem


verdadeiras as alegações da autora, e tivesse esta experimentado eventual
prejuízo, primordial seria o estabelecimento do nexo causal entre o alegado dano e
a conduta do réu e, ainda, para que surgisse a obrigação de indenizar, necessário
far-se-ia a prova do procedimento ilícito deste, que nem de longe logrou o autor
demonstrar.

1.4. DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS DANOS MATERIAIS

Relativamente à descrição de danos materiais, não


há qualquer elo que os vincule ao réu.
3
Obrigações, p. 368

15
Patrimônio é qualquer bem exterior com relação ao
sujeito e que seja capaz de classificar-se na ordem da riqueza material, quase
sempre valorável, para satisfazer uma necessidade econômica, ou, como descrito
no Dicionário Aurélio, “é um complexo de bens, materiais ou não, direitos, ações,
posse e tudo o mais que pertença a uma pessoa ou empresa e seja suscetível de
apreciação econômica”.

Portanto, o dano patrimonial “é o dano que atinge


o patrimônio do ofendido” (Pontes de Miranda, in Tratado do Direito Privado, XXVI, §
3.108, p. 30), é o dano puramente econômico suportado pelo ofendido, que é,
necessariamente, mensurável.

No dano patrimonial existe um empobrecimento do


que o lesado possui e guarda, materialmente.

O prejuízo suscetível de apreciação pecuniária,


materializado por um dano emergente ou por lucro cessante é o dano patrimonial.

No dano emergente, a quantificação é exata,


existindo lógica relação entre o que a vítima desembolsou ou vai desembolsar para
repor seus bens no estado anterior de forma íntegra.

O caso concreto, entretanto, sustenta-se em meras


suposições. O dano patrimonial é irrefletidamente provado.

Ademais, não há na inicial sequer descrição dos


reais prejuízos materiais havidos, a não ser genérica menção de perdas e danos.

Ora, a prova dos autos é contundente no sentido


de que a autora não experimentou qualquer prejuízo, tão pouco teve lucro
frustrado, em decorrência do ato questionado.

Em suma, sabendo-se que a indenização não se


pautará pelo hipotético, mas sim pelo provado, tem-se que ante a inexistência do
prejuízo e da falta de sua comprovação, não há como se admitir o pedido de
indenização por perdas materiais.

Neste diapasão, as ações indenizatórias são


norteadas por algumas máximas :

16
“O DANO É PRESSUPOSTO NECESSÁRIO À
INDENIZAÇÃO.”

“A PROVA DO DANO FICA A CARGO DO AUTOR (ART.


333, I, DO CPC). “

“QUANDO O AUTOR NÃO COMPROVA A EXISTÊNCIA


DO DANO NÃO HÁ QUE SE FALAR EM INDENIZAÇÃO
(ART. 159 DO CÓDIGO CIVIL).”

Ante o exposto, não há que se falar em reparação


por dano material, eis que totalmente incomprovado.

2. DA EXORBITÂNCIA DO MONTANTE RECLAMADO A TÍTULO DE DANOS


MORAIS

Admitindo-se, pelo princípio da eventualidade, a


existência efetiva de danos e sua comprovação, impugna o réu o exorbitante valor
pleiteado a título de indenização por dano moral.

O dano moral deve ser mensurado mediante a


conjugação de diversos elementos, entre os quais, o grau de culpa, a
gravidade, a extensão e a repercussão da ofensa, bem como a
intensidade do sofrimento acarretado à vítima.

Consigne-se que a orientação jurisprudencial tem


se valido dos critérios estabelecidos pelo Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei
4117/62, art. 84, § 1º), que limita a indenização por dano moral entre 5 e 100 salários

mínimos, e pela Lei de Imprensa (Lei 5250/67, arts. 51 e 52), que prevê o valor de 5 a
200 salários mínimos:

“Considerando-se, porém, as dificuldades da


positivação, traços, contornos do “dano moral”, bem
como passo a acompanhar a orientação recente da
Câmara (Ap. 498.097/0 - 4ª C., Rel. Walter Guilherme;
Ap. 404.563/6, 6ª C., Rel. Carlos Gonçalves; Ap.
446.553/0, 2ª C., Rel. José Rodrigues de Carvalho; Ap.
512.593/1, de Pereira Barreto, Rel. Morato de Andrade),
consistente em partir-se da regra do artigo 84 do CBT
(Lei 4117/62) que prevê a reparação do dano moral de
5 a 100 salários mínimos, por injúria, difamação e

17
calúnia, considerando-se ainda o art. 52 da Lei de
Imprensa (Lei 5.250/67), que permite o arbitramento
do dano moral até 200 salários mínimos.
(...)
Pelo dano moral, arbitra-se em 50 salários
mínimos, partindo-se da exegese analógica e
parâmetros da legislação retro-citada, sendo também
matéria de ponderação os dispositivos dos arts. 4º e 5º
da LICC.” (RT 698/104)

“RESPONSABILIDADE CIVIL – AÇÃO ORDINÁRIA


OBJETIVANDO INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
Cliente de supermercado que teve uma cédula de R$
50,00 recusada pela caixa do estabelecimento. Não
comprovado por prova idônea e convincente ter sido
imputada à autora a suposta falsificação da nota, mas
tendo sido a mesma submetida a vexame, diante do
tumulto surgido na ocasião, há que ser reformada em
parte, a sentença, para reduzir a indenização a
vinte salários mínimos.” (j. 11/08/98 - Apelação Cível
6585/98 - TJRJ - 18ª Câmara Cível - unânime – Relª.
Desª. Helena Bekhor – AASP nº 2090) - grifamos

“RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO.


LESÕES GRAVES. DANOS MORAL E ESTÉTICO.
CUMULABILIDADE. POSSIBILIDADE. ORIGENS
DISTINTAS. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. CRITÉRIO.
PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I - Nos termos em que veio a orientar-se a
jurisprudência das Turmas que integram a Seção de
Direito Privado deste Tribunal, as indenizações pelos
danos moral e estético podem ser cumuladas, mesmo
quando derivadas do mesmo fato, se inconfundíveis
suas causas e passíveis de apuração em separado.
II - Na fixação da indenização a esse título,
recomendável que o arbitramento seja feito com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao
nível sócio-econômico dos autores e, ainda, ao porte
econômico da ré, orientando-se o juiz pelos critérios
sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de
cada caso.”

18
(RESP 228244/SP ; RECURSO ESPECIAL 1999/0077417-
5 - Fonte DJ DATA:17/12/1999 PG:00381 – Relator Min.
SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA - Data da Decisão
09/11/1999 - Órgão Julgador 4ª TURMA) – grifos
nossos

“Responsabilidade civil. Cheque (devolução). Dano


moral. Indenização (valor). Honorários advocatícios.
1. Conforme a instância ordinária, o sacado deixou de
pagar sem justa causa, pois o sacador "dispunha de
fundos necessários para suportar o saque da
importância constante do referido cheque". Matéria
atinente à prova, irrevisível na instância especial ("A
pretensão de simples reexame de prova não enseja
recurso especial", Súmula 7).
2. No dano moral, a indenização há de ser
arbitrada moderadamente, certo que sempre em
atenção a peculiaridades de cada caso.
Precedentes do STJ. Na espécie, entendeu a
Turma que houve excesso.
3. Ora, se se deixou à autoridade judiciária a tarefa de
arbitrar a indenização, não há aqui então de vir a pêlo o
caput do art. 21 do Cód. de Pr. Civil. Montante dos
honorários (Súmula 389/STF).
4. Recurso especial conhecido e provido em parte.”
(RESP 208797/AM ; RECURSO ESPECIAL
1999/0025755-3 - Fonte DJ DATA:22/11/1999
PG:00158 – Relator Min. NILSON NAVES - Data da
Decisão 05/08/1999 – Órgão Julgador 3ª TURMA) -
grifamos

Na tentativa de obter vantagens, pede a autora o


arbitramento indenizatório em equivalente a 500 salários mínimos, atuais R$
120.000,00 o que, além de inconcebível, sugere inegavelmente o intuito de
locupletamento ilícito à custa do contestante.

Pelo quantum pretendido, o que se percebe, na


realidade, é um oportunismo deveras condenável, que, inclusive, tem sido objeto
de rejeição por parte do Poder Judiciário.

A despeito da inexistência de critérios para a


fixação do dano moral, há certa uniformidade na jurisprudência quanto à

19
razoabilidade das indenizações, em especial do E. Superior Tribunal de Justiça
que, mostrando-se cauteloso, reiteradamente tem afastado os ressarcimentos
vultosos, recomendando o arbitramento com moderação, independente da
intensidade da culpa ou do dano.

Veja-se:

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. LOJAS DE


DEPARTAMENTOS. CONTRANGIMENTO ILEGAL E
CÁRCERE PRIVADO. INDENIZAÇÃO. QUANTUM.
RAZOABILIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. INTERESSE RECURSAL
ALTERAÇÃO DO PEDIDO. INOCORRÊNCIA. RECURSO
DESACOLHIDO.
(...)
III - A indenização por danos morais deve ser
fixada em termos razoáveis, não se justificando
que a reparação venha a constituir-se em
enriquecimento sem causa, com manifestos
abusos e exageros, devendo o arbitramento
operar-se com moderação, proporcionalmente ao
grau de culpa e ao porte econômico das partes,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela
doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.
Ademais, deve ela contribuir para desestimular o ofensor
a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica.
IV - Em face dos manifestos e freqüentes abusos
na fixação do quantum indenizatório, no campo
da responsabilidade civil, com maior ênfase em se
tratando de danos morais, lícito é ao Superior
Tribunal de Justiça exercer o respectivo controle.
(...).”
(STJ – Resp 265133/RJ; RECURSO ESPECIAL
(2000/0064103-0) – j. 19/09/00 – DJ
DATA:23/10/2000, PG:00145 - LEXSTJ 138/233 -
RSTJ 137/485 – Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO
TEIXEIRA - QUARTA TURMA) - grifamos

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE


CIVIL. IMPRENSA. NOTÍCIA JORNALÍSTICA IMPUTANDO
LEVIANA E INVERÍDICA A JUÍZA FEDERAL.

20
(...)
DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
CONTROLE PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRECEDENTE. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
(...)
II - O valor da indenização por dano moral
sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de
Justiça, sendo certo que, na fixação da
indenização a esse título, recomendável que o
arbitramento seja feito com moderação,
observando as circunstâncias do caso, aplicáveis a
respeito os critérios da Lei 5.250/67.
III - Sem embargo da leviandade da notícia jornalística,
a atingir a pessoa de uma autoridade digna e
respeitada, e não obstante se reconhecer que a
condenação, além de reparar o dano, deve também
contribuir para desestimular a repetição de atos desse
porte, a Turma houve por bem reduzir na espécie o
valor arbitrado, inclusive para manter coerência com
seus precedentes e em atenção aos parâmetros legais.”
(STJ - RESP 295175/RJ; RECURSO ESPECIAL
(2000/0138885-1) - DJ DATA:02/04/2001, PG:00304 -
LEXSTJ 143/231 - j. 13/02/01 - Min. SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA - QUARTA TURMA) - grifamos

Se não bastasse a ausência de critérios norteadores


capazes de mensurar as indenizações nas ações de reparação por danos e, visando
coibir o enriquecimento indevido, o Superior Tribunal de Justiça tem se preocupado
em arbitrar, em última instância, o quantum devido ao ofendido.

Assim, tolhendo um agravamento das situações


hodiernas é que o STJ, tem chamado para si o controle dos valores das
indenizações por dano moral, à consideração de que “na fixação da
indenização, tem-se que, necessariamente, observar um padrão de
razoabilidade, e isso, em verdade, constitui questão jurídica, sendo passível, pois,
de exame por esta Corte.” (do voto do Min. Costa Leite, no Resp 53.321/RJ, j.
16/09/97,publ. 24/11/97 – RSTJ 105/230)

Na sua declaração de voto o Min. CARLOS


ALBERTO MENEZES DIREITO, ponderadamente, consignou que “ à medida que o
Tribunal se vê diante de uma fixação que foge a qualquer parâmetro e que violenta

21
o razoável, é evidente que a sua intervenção se faz necessária, até mesmo pela
função política que tem a Corte Superior, qual seja, a de estabelecer um padrão de
razoabilidade para a fixação do dano moral.”

No julgamento do Recurso Especial nº 171.084-MA


(j. 18/08/98, publ. em 05/11/98) , utilizando a mesma linha de raciocínio, o rel. Min.
SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA enfatizou que “a indenização deva ser fixada
em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em
enriquecimento indevido, com manifestos abusos e exageros, recomendando-se
que o arbitramento se opere com moderação, proporcionalmente ao grau de
culpa, ao porte empresarial das partes, suas atividades comerciais, e, ainda, ao
valor do negócio, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atendo à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual, e às
peculiaridades de cada caso, sendo certo que o arbitramento do valor
indenizatório por dano moral se sujeita ao controle desta Corte (REsps
53.321-RJ e 173.366-SP).” (grifamos)

Destarte, se devida fosse a indenização, esta


deveria ser suficiente apenas para restabelecer o status quo ante, em coerência
aos princípios que norteiam a obrigação de indenizar, que não tolera o
enriquecimento sem causa.

Vê-se, portanto, que em contraposição à


desmedida e infundada ambição do autor, o réu apresenta critérios lógicos que, na
eventualidade de condenação, devem obrigatoriamente, ser aplicados para a justa
composição de interesses.

IV - CONCLUSÕES

Por todo o exposto o réu requer:

a- seja acolhida a preliminar de falta de interesse


de agir, determinando-se a extinção do processo sem análise do mérito,
condenando-se a autora no pagamento dos encargos de sucumbência, com base
nos artigos 267, inciso VI, do Código de Processo Civil.

22
b- que seja acolhida a preliminar de ilegitimidade
passiva argüida, extinguindo-se o feito nos termos do art. 267, VI, do CPC ou, se
assim não entender esse D. Juízo;

c- que seja acolhida a preliminar de inépcia da


inicial, extinguindo-se o feito nos termos do art. 267, I, c/c art. 295, I, ambos do
CPC;

d- ao final e se ultrapassadas as preliminares,


considerando a inexistência de ato ilícito praticado pelo réu e da ausência de
comprovação dos danos sofridos, seja a ação julgada improcedente,
condenando-se a autora nas verbas de sucumbência;

Caso assim não entenda esse R. Juízo, necessária


se faz a observância aos parâmetros legais e jurisprudenciais consagrados, tudo
com o intuito de evitar-se locupletamento ilícito por parte da autora.

Outrossim, requer a produção de todas as provas


em direito admitidas, em especial a juntada de novos documentos, a expedição de
ofícios, a realização de prova pericial contábil, o depoimento pessoal da autora e a
oitiva de testemunhas a serem arroladas oportunamente.

Termos em que,
pede deferimento.
Ipatinga, 15 de abril de 2003

_____________________________________
LÍGIA MARIA BRAZ MARTINS
OAB/MG

2003/08
BJ 030200031968

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