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EXMO. SR. DR.

JUIZ PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL


DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO – SÃO PAULO/SP.

Processo TRT/SP nº. 0011514-36.2019.5.15.0132

MKF RESTAURANTE CHOPPERIA E


PIZZARIA LTDA. ME., por seu advogado que esta subscreve, ciente do V. Acórdão
proferido por essa E. Turma e, inconformado, vem, com fundamento no artigo 896
alínea "a", "b" e "c" da CLT, interpor RECURSO DE REVISTA, conforme razões
anexas, requerendo sejam juntadas aos autos, para apreciação pelo Colendo Tribunal
Superior do Trabalho.

A recorrente, neste ato, nos termos do art. 790 da


CLT, da Súmula 463, II do TST, da Súmula 481 do STJ, requer os benefícios da Justiça
Gratuita.

Nestes Termos,
E. Deferimento.
São Paulo, 14 de July de 2023.

ENZO SCIANNELLI TATIANA KISLAK JOSÉ ABÍLIO LOPES


OAB/SP 98.327 OAB/SP 175.682 OAB/SP 93.357
Processo TRT/SP nº. 1000023-72.2020.5.02.0445
2ª Turma – Rel. Larissa Carotta Martins da Silva Scarabelim
Recorrente: MKF RESTAURANTE CHOPPERIA E PIZZARIA LTDA -
ME
Recorrido: WELLINGTON CARLOS DOS SANTOS VIEIRA SERRA,
BERTOLINI & FRANCIS - RESTAURANTE, PIZZARIA E
CHOPPERIA LTDA – ME e
WANDA LUCIA DA SILVA BERTOLINI

RAZÕES DE RECURSO DE
REVISTA

EGRÉGIO TRIBUNAL,

COLENDA TURMA,

MKF RESTAURANTE CHOPPERIA E


PIZZARIA LTDA - ME, inconformado com o V. Acórdão prolatado pela 2º Turma -
4ª Câmara do Colendo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, vem, através desta
revista, recorrer da parte que não lhe foi favorável, na forma assegurada pela Carta
Maior e no Diploma Consolidado, expondo suas razões conforme segue.
PRELIMINAR

I.1. Do Cabimento do Recurso

O presente apelo encontra respaldo no artigo 896,


alíneas “a” e “c”, da Consolidação das Leis do Trabalho, em face de notória afronta ao
que preconiza o estatuto adjetivo em apreço.

Há que ressaltar que não se pretende a revisão de


provas posto que esta sede não se presta para se proceder ao reexame de matéria fato
probante. Entretanto, em se tratando de matéria exclusivamente de direito com base na
exegese da legislação vigente, neste sentido o processamento do presente recurso não há
que encontrar óbice.

I.2. Pressupostos Extrínsecos de Admissibilidade

I.2.1. Regularidade de representação

A Recorrente está devidamente representada nos


autos, por seus procuradores regularmente constituídos através de procuração Id
74df70d.

I.2.2. Tempestividade

O v. Acórdão recorrido foi disponibilizado em


25/05/2022, publicado em 26/05/2022, sendo certo que, o prazo para interposição do
Recurso de Revista se encerra em 07/06/2022, de forma que o presente recurso foi
interposto dentro do prazo de 08 (oito) dias úteis, a contar da publicação do r. Acórdão,
o que comprova que o presente recurso é plenamente tempestivo.

I.2.3. Preparo
A concessão da gratuidade caracteriza a garantia
Constitucional de acesso ao Poder Judiciário, consoante o artigo 1º, incisos III e IV;
artigo 3º, incisos I e III; artigo 5º, caput, incs. XXXV e LXXIV e § 2º; e 7º a 9º, todos
da Constituição Federal.

A Súmula 463, II do TST assim estabelece:

Súmula nº 463 do TST. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. COMPROVAÇÃO (conversão


da Orientação Jurisprudencial nº 304 da SBDI-1, com alterações decorrentes do CPC de 2015) -
Res. 219/2017, DEJT divulgado em 28, 29 e 30.06.2017 – republicada - DEJT divulgado em 12, 13 e
14.07.2017
...
II – No caso de pessoa jurídica, não basta a mera declaração: é necessária a demonstração cabal de
impossibilidade de a parte arcar com as despesas do processo.

A Súmula 481 do STJ, dispõe:

Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar
sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

Já o art. 790, §4º da CLT assim determina:

Art. 790. Nas Varas do Trabalho, nos Juízos de Direito, nos Tribunais e no Tribunal Superior do
Trabalho, a forma de pagamento das custas e emolumentos obedecerá às instruções que serão
expedidas pelo Tribunal Superior do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 10.537,
de 27.8.2002)
...
§ 4º - O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de
recursos para o pagamento das custas do processo.

A reclamada está passando por uma situação


financeira difícil, quitando, ainda, impostos antigos, dívida junto ao Simples Nacional,
ao Ministério do Trabalho, além de ter quitado, nós últimos dias, parcelas junto à
Previdência Social. Assim, nesta oportunidade, junta aos autos os documentos que
comprovam os requisitos necessários para fazer jus a isenção postulada.
Sendo assim, requer a concessão dos benefícios da
Justiça Gratuita.

II - Pressupostos intrínsecos de admissibilidade

O presente recurso merece ser conhecido, em face


do disposto na alínea “a” e “c” do art. 896 da CLT, por contrariedade ao entendimento
do TST, bem como por violação literal de disposição da Constituição Federal.

II. 1 - Ofensa literal da Constituição da República, de Leis Federais e


da Interpretação do TST

O RECURSO DE REVISTA VEM CALCADO EM VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 10


E 448 DA CLT E OJ 261 DA SBDI-1 DO C. TST

DA TRANSCENDÊNCIA

O art. 896-A da CLT estabelece que o TST


examinará previamente se a causa oferece transcendência.

No caso em apreço, destacamos que há


transcendência:

Art.896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente se a


causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social
ou jurídica.
§ 1º. São indicadores de transcendência, entre outros:
I - econômica, o elevado valor da causa;
II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal Superior
do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;
III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente
assegurado;
IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista.
No caso em apreço, se utilizando das palavras da
Ministra Kátia Magalhães Arruda, “deve ser reconhecida a transcendência na forma
autorizada pelo art. 896-A, §1º, caput, parte final, da CLT (critério “e outros”) quando
se mostra aconselhável o exame mais detido da controvérsia devido às peculiaridades
do caso concreto”.

É o que ocorre no presente processo onde há


discussão sobre a validade da sucessão empresarial.

Nas palavras do Mestre Ives Gandra Filho,


transcendência política “é o desrespeito notório ao princípio federativo ou à harmonia
dos Poderes constituídos. Tem como objetivo precípuo a uniformização da
jurisprudência entre os TRT’s. Ocorre em casos em que o desrespeito ao princípio
federativo for notório ou em caso que a discrepância entre os TRT’s for exacerbada”.

A transcendência jurídica eis que existe


divergência entre as entre os Tribunais Regionais do Trabalho sobre o tema: sucessão
empresarial – responsabilidade sucessor, havendo, assim, insegurança jurídica, eis que
já existe decisão consolidada do Tribunal Superior do Trabalho.

Da Determinação do Art. 896, §1º-A, incisos I a III

Do trecho da decisão que se pretende recorrer:

...

RECURSO DA PRIMEIRA RECLAMADA

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PRESCRIÇÃO OU LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO.

A primeira demandada alega que houve um negócio jurídico entre as reclamadas, em 10.04.2017,
no qual a segunda reclamada arrendou seu ponto comercial e toda a estrutura física do local, não
havendo se falar em grupo econômico ou fraude (artigos 10 e 448 da CLT e OJ 261 da SbDI-1 do C.
TST). Requer que a sucessora responda por todas as obrigações contraídas inclusive na época que o
autor trabalhava para a sucedida, que deve ser desonerada, não havendo se falar em
responsabilidade solidária.

Alternativamente, alega que ter-se operado a prescrição do direito em relação a si ou, ao menos,
requer que seja sua responsabilidade limitada ao período em que figurou como empregadora do
reclamante.

A Magistrada de origem observou a ausência de prova documental do cumprimento das obrigações


contratuais com o reclamante pela recorrente até a data da transferência para a segunda
reclamada, o que se confirma compulsando os autos. Havendo reconhecimento por ambas
demandadas da prestação de serviços do reclamante, declarou a sucessão empregatícia nos moldes
dos artigos 10 e 448 da CLT.

Pois bem.

É cediço que a sucessora não herda apenas o ativo, mas também o passivo do estabelecimento,
devendo ser aplicada OJ 261 da SbDI-I do C. TST.

Acrescento que, nos moldes do artigo 448-A da CLT, a sucessora responde pelas obrigações
trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa
sucedida.

Todavia, a primeira ré só poderia ser absolvida da responsabilidade sobre o crédito devido ao


empregado caso comprovasse documentalmente sua extinção e o cumprimento das obrigações
trabalhistas, com a incorporação pela segunda ré, o que não ocorreu.

Limitou-se a juntar contrato de locação de bens móveis para fins comerciais [Id. 89b12e9], com
pretensão de encerrar a empresa em 36 meses, prazo estipulado para o contrato, e não trouxe
documentos comprobatórios da quitação das verbas devidas ao reclamante.

Correta, portanto, a responsabilização da segunda reclamada pelas parcelas deferidas em Juízo, de


forma solidária, como registrado na sentença.

Nego provimento.
...

Decisão Paradigma - Decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 07ª REGIÃO


PROCESSO nº 0000135-43.2021.5.07.0038 (ROT)
RECORRENTE: ANTONIO NILDO DE MELO BALBINO
RECORRIDO: GAZMAX COMERCIO DE GAS E BEBIDAS LTDA, MORRINHOS
DISTRIBUIDORA DE GAS LTDA - ME
RELATORA: MARIA JOSE GIRAO

EMENTA: SUCESSÃO EMPRESARIAL TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA


ENTRE SUCESSORA E SUCEDIDA. NÃO CONFIGURAÇÃO. A sucessão, quando lícita,
transfere para o sucessor a responsabilidade de todos os débitos trabalhistas, inclusive os
contraídos pela empresa sucedida, ficando a responsabilidade solidária restrita aos casos de
comprovada fraude na sucessão, conforme disposição do art. 448-A da CLT. No caso vertente, a
possibilidade de sucessão fraudulenta sequer fora cogitada, não havendo nos autos quaisquer
elementos probatórios que indiquem não incidir na espécie a hipótese legal de sucessão empresarial
trabalhista. Outrossim, as verbas objeto da condenação alcançam apenas o período em que o
recorrente já laborava para a sucessora, não havendo, pois, que se falar em responsabilidade da
empresa sucedida pelo adimplemento das parcelas deferidas. Recurso conhecido e improvido.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso ordinário interposto por ANTONIO NILDO DE MELO BALBINO em face da
sentença de ID. 3911d91, proferida pelo MM. Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Sobral, que julgou
parcialmente procedentes os pedidos formulados na ação trabalhista ajuizada contra GAZMAX
COMERCIO DE GAS E BEBIDAS LTDA e MORRINHOS DISTRIBUIDORA DE GAS LTDA -
ME.

Em suas razões, ID. 6daacd1, o recorrente pugna pelo reconhecimento da responsabilidade


solidária entre as reclamadas quanto ao pagamento das verbas deferidas na origem, em função da
ocorrência de sucessão empresarial.

Não foram apresentadas contrarrazões ao recurso, conforme certificado ao ID. 0d20e9c.

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTAÇÃO

ADMISSIBILIDADE

Presentes os requisitos de admissibilidade, merece conhecimento o recurso.

MÉRITO
DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA

O recorrente requer o reconhecimento da responsabilidade solidária entre as reclamadas quanto ao


pagamento das verbas deferidas na origem, em função da ocorrência de sucessão empresarial.

Alega que "a responsabilidade solidária decorre de lei, sendo que, no caso presente, o ato jurídico -
SUCESSÃO EMPRESÁRIAL, ocorreu em data bem anterior a alteração legislativa, de sorte que a
novel norma não pode retroagir para fatos anteriores a sua vigência."

Razão, contudo, não lhe assiste.

Sobre o tema, coaduna-se com o entendimento esposado pelo magistrado sentenciante, que, de
forma irretorquível, assim destramou a questão (ID. 3911d91 - Págs. 2/4):

"03 DA SUCESSÃO EMPRESARIAL


Impende destacar que na reclamatória nº 0000016-24.2017.5.07.0038, anteriormente ajuizada
pelo reclamante em face das duas empresas demandadas, ficou demonstrada a ocorrência de
sucessão trabalhista, cujo trecho da sentença segue transcrito:
03 DA SUCESSÃO DE EMPREGADORES
Dos elementos probatórios constantes do bojo dos autos, restou incontroverso que o reclamante
manteve contrato de emprego com a empresa GAZMAX COMERCIO DE GAS E BEBIDAS
LTDA no período de outubro de 2007 até 2016, quando esta foi adquirida pela empresa
MORRINHOS GÁS (ABRAÃO DISTRIBUIDORA DE GÁS LTDA-ME), sendo, por esta
última, despedido em 17.11.16, restando manifesta a ocorrência de sucessão trabalhista, nos
termos dos artigos 10 e 448 da CLT, verbis:
Art. 10. Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos
por seus empregados.
Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os
contratos de trabalho dos respectivos empregados.
Como se pode ver, o artigo 10 da CLT dispõe que as alterações na estrutura jurídica da empresa
não afetam os direitos adquiridos por seus empregados, enquanto o artigo 448 da CLT institui
que a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afeta os contratos de
trabalho dos obreiros.
Assim, de acordo com os referidos artigos, a empresa sucessora também responde pelos créditos
devidos aos trabalhadores, ou seja, a nova empregadora também responde pelos contratos já
existentes à época em que ocorreu a sucessão.
Destarte, demonstrado não só que o pacto laboral teve vigência no interregno compreendido de
01.109.07 a 17.11.16, mas também a ocorrência de sucessão trabalhista, resta indiscutível que
as empresas demandadas devem, em consequência da sucessão trabalhista, responder
solidariamente pelos créditos vindicados, em face do disposto no Enunciado nº 4 aprovado pela
Primeira Jornada Nacional Sobre Execução na Justiça do Trabalho.
De fato, a sucessão trabalhista impõe a responsabilidade solidária entre a sucedida e a
sucessora nos termos do Enunciado nº 4 aprovado pela Primeira Jornada Nacional Sobre
Execução na Justiçado Trabalho, conforme a seguir transcrito:
SUCESSÃO TRABALHISTA. Aplicação subsidiária do Direito Comum ao Direito do Trabalho
(Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, art. 8º, parágrafo único). Responsabilidade
solidária do sucedido e do sucessor pelos créditos trabalhistas constituídos antes do trespasse do
estabelecimento (CLT, arts. 10 e 448, c/c Código Civil, art. 1.146).
Diante disso, tem-se que as reclamadas são partes legítimas para figurarem no polo passivo da
relação processual, não havendo como excluir a primeira demandada da relação processual.
Veja que a reclamatória acima citada versou apenas sobre o interregno contratual
compreendido de 01.10.07 a 17.11.16, sendo reconhecida a responsabilidade solidária entre
sucedida e sucessora, haja vista que CLT, no tocante à responsabilidade decorrente da
sucessão, não tinha ainda sofrido a alteração implementada pela Reforma Trabalhistas através
da Lei nº 13.467/2017, que inseriu no Estatuto Celetária o art. 448-A, verbis:
Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e
448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.
Com a inserção da norma supra na Carta Celetária, não há mais como cogitar de
responsabilização solidaria entre sucedida e sucessora, ficando responsável pelos créditos
trabalhistas apenas e exclusivamente a empresa sucessora, mesmo aquelas contraídas na época
que o colaborador trabalhava para a sucedido, sendo, portanto, a hipótese dos autos, mormente
considerando que as verbas objeto da presente reclamatória, além de compreender período
totalmente diverso daquela versado pela reclamatória anterior, já que alcançam apenas o
interregno compreendido de 23.05.2017 a 24.05.2018, objetiva o pagamento somente de créditos
contraídos na época que já laborava para a sucessora.
Pelas razões expendidas, não resta outra alternativa a este Juízo afastar a responsabilidade da
empresa sucedida GAZMAX COMERCIO DE GAS E BEBIDAS LTDA, devendo responder
pelos créditos que porventura forem deferidos no corpo do julgado apenas a sucessora, no caso
a empresa MORRINHOS DISTRIBUIDORA DE GAS LTDA -ME."

Com efeito, não se vislumbra nas razões do recurso quaisquer argumentos aptos a contradizer os
fundamentos do julgado vergastado.

A reforma trabalhista transformou em letra de lei o entendimento já aceito na jurisprudência de


que a sucessão, quando lícita, transfere para o sucessor a responsabilidade de todos os débitos
trabalhistas, inclusive os contraídos pela empresa sucedida, ficando a responsabilidade solidária
restrita aos casos de comprovada fraude na sucessão. Vejamos:
"Art. 448-A, da CLT. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos
arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época
em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do
sucessor. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar
comprovada fraude na transferência."

No caso vertente, a possibilidade de sucessão fraudulenta sequer fora cogitada, não havendo nos
autos quaisquer elementos probatórios que indiquem não incidir na espécie a hipótese legal de
sucessão empresarial trabalhista.

Outrossim, como bem ressaltou o magistrado sentenciante, as verbas objeto da presente


reclamatória alcançam apenas o interregno compreendido de 23.05.2017 a 24.05.2018, época em
que o recorrente já laborava para a sucessora, não havendo, pois, que se falar em responsabilidade
da empresa sucedida pelo adimplemento das parcelas deferidas.

Assim, entendo que o Juízo de 1º grau bem examinou as provas dos autos e aplicou o direito, não
havendo razões fáticas e jurídicas para reformar a decisão, que se encontra em total harmonia com
os ditames legais e com o conjunto probatório constante dos autos.

Nada, pois, a reformar.

É como voto.

CONCLUSÃO DO VOTO

Voto por conhecer do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento.

DISPOSITIVO

Acórdão

ACORDAM OS DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO


TRABALHO DA 7ª REGIÃO, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito,
negar-lhe provimento. Participaram do julgamento os Desembargadores Plauto Carneiro Porto
(Presidente), Maria José Girão (Relatora) e Durval César de Vasconcelos Maia. Presente, ainda, o
Procurador do Trabalho, Ricardo Araújo Cozer. Não participou do julgamento a Desembargadora
Maria Roseli Mendes Alencar (Férias). Fortaleza, 08 de setembro de 2021.

MARIA JOSÉ GIRÃO


Desembargadora Relatora

(https://trt-7.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1310858602/recurso-ordinario-trabalhista-rot-
1354320215070038-ce/inteiro-teor-1310858622)

DO MÉRITO

Assim decidiu a 2ª Turma do TRT 15ª Região:

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO


2ª TURMA - 4ª CÂMARA
PROCESSO TRT/15ª REGIÃO Nº 0011514-36.2019.5.15.0132
RECURSO ORDINÁRIO
RECORRENTES: BERTOLINI & FRANCIS - RESTAURANTE, PIZZARIA E CHOPPERIA
LTDA - ME
MKF RESTAURANTE CHOPPERIA E PIZZARIA LTDA - ME
RECORRIDOS: WELLINGTON CARLOS DOS SANTOS VIEIRA SERRA
MKF RESTAURANTE CHOPPERIA E PIZZARIA LTDA - ME
BERTOLINI & FRANCIS - RESTAURANTE, PIZZARIA E CHOPPERIA
LTDA - ME
WANDA LUCIA DA SILVA BERTOLINI
ORIGEM: 5ª VARA DO TRABALHO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
SENTENCIANTE: FRANCINA NUNES DA COSTA
RELATORA: LARISSA CAROTTA MARTINS DA SILVA SCARABELIM

RELATÓRIO

Inconformadas com a r. Sentença [Id. 07a7e72], seguida da decisão de embargos de declaração [Id.
b705c1f], recorrem as primeira e segunda reclamadas.

A segunda reclamada, por meio das razões de recurso ordinário [Id. 4e41f96], postula a reforma
dos seguintes itens da decisão recorrida: em preliminar: a) sobrestamento do feito; b) ilegitimidade
de parte; c) prejudicial de mérito - prescrição; e d) diferenças salariais.

A primeira reclamada, por meio das razões de recurso ordinário [Id. 615e5c6], postula a reforma
do seguinte item da decisão recorrida: a) responsabilidade solidária; b) prescrição ou limitação da
condenação.
Foram apresentadas contrarrazões pela primeira reclamada [Id. 96a2cec] e pelo reclamante [Id.
3ed948e/a94e773].

Parecer do MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO dispensado, em face do disposto no artigo


111, do Regimento Interno do E. TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO.

É o relatório.

VOTO

ADMISSIBILIDADE

Recurso da segunda reclamada tempestivo, haja vista que a intimação se deu na data de 28.06.2021
e a interposição em 01.07.2021.

Não recolheu as custas nem o depósito recursal e requereu a concessão dos benefícios da Justiça
gratuita.

A primeira ré almeja seja afastada sua condenação solidária e, por conseguinte, sua exclusão da
lide, razão pela qual o depósito recursal por ela recolhido não aproveita à segunda (Súmula nº 128,
inciso III, do C. TST).

Apresentou declaração de dezembro de 2019 pelo SIMPLES NACIONAL e do contador


responsável, que atestam o ausência de faturamento de setembro de 2019 a fevereiro de 2020 pelo
encerramento de suas atividades [Ids. 01d6a65 e fdfb7f0].

Diante disso, defiro a gratuidade da Justiça à segunda reclamada, isentando-a do pagamento de


custas e depósito recursal.

Subscritor do recurso com procuração regularizada nos autos [Id. ad817bd].

Recurso da primeira reclamada tempestivo, haja vista que a intimação se deu na data de 14.09.2021
e a interposição em 22.09.2021.

Custas processuais [Id. 32e404d].

Depósito recursal [Id. 9d7db50].

Subscritora do recurso com procuração regularizada nos autos [Id. 74df70d].


CONHEÇO DOS RECURSOS, por entender preenchidos os pressupostos de admissibilidade.

BREVE HISTÓRICO

A parte reclamante foi admitida pela primeira reclamada em 11.11.2010, com registro em sua
carteira profissional [Id. 5c2be45 - Pág. 2], para exercer a função de motoboy, sendo transferido
para a segunda reclamada em 01.06.2017 [Id. 5c2be45 - Pág. 7]. O contrato de trabalho findou-se
em 23.09.2019. O salário bruto recebido em julho de 2019 foi de R$2.420,04, conforme
contracheque [Id. 1b9d562 - Pág. 7]. Ação proposta em 14.11.2019. Ciência da Sentença em
28.06.2021 e RO interposto em 01.07.2021 pela segunda reclamada. Ciência da Sentença de ED em
14.09.2021 e RO interposto em 22.09.2021 pela primeira reclamada. Distribuído por sorteio em
10.11.2021.

APLICABILIDADE - LEI Nº 13.467/2017 - REFORMA TRABALHISTA

Preliminarmente, importa destacar que, mesmo ocorrendo o julgamento do processo após a


vigência da Lei 13.467/2017, suas alterações deverão observar as regras de direito intertemporal.

Assim, as normas de direito material serão aplicadas de acordo com a sua vigência à época dos
fatos. As normas referentes a direito processual, que gerem efeitos materiais, notadamente
honorários advocatícios e periciais, custas processuais, multas e justiça gratuita, serão aplicadas em
conformidade com a sua vigência à data do ajuizamento da ação, a fim de evitar a violação ao
devido processo legal e em prol da segurança jurídica, nos termos previstos também pela Instrução
Normativa 41 de 21/06/2018 do C. TST.

Já as regras de cunho estritamente processual serão aplicadas de acordo com a sua vigência na data
da prática de cada ato processual ("tempus regit actum").

RECURSO DA SEGUNDA RECLAMADA (BERTOLINI)

PRELIMINARES

SOBRESTAMENTO DO FEITO

Registro que a primeira reclamada pede, em preliminar, a suspensão do processo por "envolver
discussão sobre a validade de norma coletiva", com amparo na decisão do STF (Tema 1046 -
repercussão geral).
Todavia, aponta como temas recursais "o pagamento de diferenças a título de FGTS, sem os
apontamentos pelo obreiro" e "prescrição quinquenária" que não referem a eventual desrespeito
da validade das CCTs.

Ademais, não cabe ao Juiz buscar, nas razões recursais, quais temas são pertinentes.

Rejeito.

ILEGITIMIDADE DE PARTE

A segunda ré, na pessoa de WANDA LUCIA DA SILVA BERTOLINI, alega que foi a primeira
demandada a real empregadora do reclamante, tratando-se, apenas, de sócia. Sua inclusão no polo
passivo somente poderia ocorrer na fase de execução.

Sem razão.

A segunda reclamada é parte passiva legítima, porque o reclamante pleiteou sua condenação à
satisfação de direito que entende possuir, afinal só é ilegítima a parte quando não existe
correspondência entre as pessoas individuadas na ação e as que de fato nela litigam. O instituto
volta-se única e exclusivamente para os casos de homonímia.

A sentença foi clara ao declarar a ineficácia da personalidade jurídica, respondendo a sócia como
empregadora do autor, a partir da transferência entre as reclamadas (vide CTPS 5c2be45 - Pág. 7),
por ser a representante legal.

A existência ou não de relação jurídico-material entre as partes não configura ilegitimidade nem
induz à extinção do processo sem julgamento do mérito, pelo contrário, atrai o exame deste e
implica um pronunciamento a respeito.

Rejeito.

PREJUDICIAL DE MÉRITO

PRESCRIÇÃO DO FGTS. DIFERENÇAS.

A segunda reclamada diz que o autor não cuidou de apontar em quais meses existiram diferenças
do FGTS. Assim, pede a improcedência do presente pleito sem apreciação do mérito. Ressalta que,
na verdade, a origem deveria ter declarado a prescrição quinquenal no presente caso, eis que a
reclamação trabalhista foi distribuída em 07.11.2019, tendo o obreiro sido admitido em 20.05.2010.
Sem razão.

O reclamante juntou extrato do FGTS [Id. a1e33ae - Págs. 6/7], demonstrando ausência de
depósitos durante o contrato de trabalho com ambas as rés. Desvencilhou-se, portanto, de seu ônus.

Além disso, a origem considerou o término da relação empregatícia em 01.08.2019 e o ajuizamento


da demanda em 14.11.2019 para afastar a prescrição bienal e pronunciou a prescrição das
pretensões a eventuais direitos patrimoniais cujas lesões tenham ocorrido antes de 14.11.2014.

Nada a reformar.

RECURSO DA PRIMEIRA RECLAMADA

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PRESCRIÇÃO OU LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO.

A primeira demandada alega que houve um negócio jurídico entre as reclamadas, em 10.04.2017,
no qual a segunda reclamada arrendou seu ponto comercial e toda a estrutura física do local, não
havendo se falar em grupo econômico ou fraude (artigos 10 e 448 da CLT e OJ 261 da SbDI-1 do C.
TST). Requer que a sucessora responda por todas as obrigações contraídas inclusive na época que o
autor trabalhava para a sucedida, que deve ser desonerada, não havendo se falar em
responsabilidade solidária.

Alternativamente, alega que ter-se operado a prescrição do direito em relação a si ou, ao menos,
requer que seja sua responsabilidade limitada ao período em que figurou como empregadora do
reclamante.

A Magistrada de origem observou a ausência de prova documental do cumprimento das obrigações


contratuais com o reclamante pela recorrente até a data da transferência para a segunda
reclamada, o que se confirma compulsando os autos. Havendo reconhecimento por ambas
demandadas da prestação de serviços do reclamante, declarou a sucessão empregatícia nos moldes
dos artigos 10 e 448 da CLT.

Pois bem.

É cediço que a sucessora não herda apenas o ativo, mas também o passivo do estabelecimento,
devendo ser aplicada OJ 261 da SbDI-I do C. TST.

Acrescento que, nos moldes do artigo 448-A da CLT, a sucessora responde pelas obrigações
trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa
sucedida.
Todavia, a primeira ré só poderia ser absolvida da responsabilidade sobre o crédito devido ao
empregado caso comprovasse documentalmente sua extinção e o cumprimento das obrigações
trabalhistas, com a incorporação pela segunda ré, o que não ocorreu.

Limitou-se a juntar contrato de locação de bens móveis para fins comerciais [Id. 89b12e9], com
pretensão de encerrar a empresa em 36 meses, prazo estipulado para o contrato, e não trouxe
documentos comprobatórios da quitação das verbas devidas ao reclamante.

Correta, portanto, a responsabilização da segunda reclamada pelas parcelas deferidas em Juízo, de


forma solidária, como registrado na sentença.

Nego provimento.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, decido CONHECER DO RECURSO de BERTOLINI & FRANCIS -


RESTAURANTE, PIZZARIA E CHOPPERIA LTDA - ME e MKF RESTAURANTE
CHOPPERIA E PIZZARIA LTDA - ME e, rejeitando as preliminares, NÃO OS PROVER, na
forma da fundamentação.

Em 24/05/2022, a 4ª Câmara (Segunda Turma) do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região julgou o presente processo
em sessão virtual, conforme disposto na Portaria Conjunta GP-CR nº 04/2022 deste E. TRT.
Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Desembargador do Trabalho MANOEL CARLOS TOLEDO FILHO (Regimental)
Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Magistrados
Relator: Desembargadora do Trabalho LARISSA CAROTTA MARTINS DA SILVA SCARABELIM
Desembargador do Trabalho MANOEL CARLOS TOLEDO FILHO
Juiz do Trabalho CARLOS EDUARDO OLIVEIRA DIAS

Convocado para compor quorum, consoante PROAD nºs 6998/2019 e 20212/2020, o Exmo. Sr. Juiz Carlos Eduardo Oliveira
Dias.

Ministério Público do Trabalho (Ciente)


ACORDAM os Exmos. Srs. Magistrados, à unanimidade, em julgar o processo nos termos do voto proposto pela Exma. Sra.
Relatora.

LARISSA CAROTTA MARTINS DA SILVA SCARABELIM


Relatora

O v. Acórdão recorrido foi proferido em flagrante


afronta aos dispositivos legais, inclusive da nossa Carta Magna, e divergência
jurisprudencial, hipóteses que autorizam o cabimento da revista.
Mostra-se absolutamente cabível a Revista in casu,
pelo que se requer o reexame da matéria por esse C. TST, sendo oportuno ressaltar, a
título de extrema cautela, que o verdadeiro objetivo da peça recursal não se atém ao
reexame dos fatos.

A admissibilidade do apelo extremo, nessa


hipótese, tem sido reiteradamente proclamada, a exemplo do que se destaca:

“Para efeito do cabimento do recurso especial, é necessário discernir entre a apreciação da prova e
os critérios legais de sua valoração. No primeiro caso há pura operação mental de conta, peso e
medida, à qual é imune o recurso. O segundo envolve a teoria do valor ou conhecimento, em
operação em que apura se houve ou não a infração de algum princípio probatório.” (RTJ - 56/67;
RSTJ-11/341).

Desta forma, para melhor desenvolvimento da


exposição, oferece o recorrente suas razões de modo articulado, apontando em cada
tópico os fundamentos da revista, sendo certo que cada um deles basta, por si só, para o
seguimento da impugnação, nos exatos termos da Súmula 285, do Tribunal Superior do
Trabalho.

É certo que a falta de regulamentação pelo C.


TST, demonstra a transcendência da presente revista, tendo em conta a sua evidente
configuração nesse caso, haja vista que a matéria discutida é a violação frontal do texto
Constitucional e de Lei Federal, bem como divergências jurisprudenciais, cuja
uniformização é imperativo de segurança jurídica, razão pela qual podemos apontar que
a presente revista é juridicamente transcendente.

Com efeito, persistindo a presente situação, a


insegurança do jurisdicionado será manifesta, uma vez que a duplicidade de
interpretações de casos idênticos gera desorientação e incertezas, atritando-se com a
função principal do direito que é eliminar as antinomias. Nesse sentido podemos
colacionar o seguinte entendimento:
“Há de se considerar que o Direito do Trabalho é fator de integração social e solução dos conflitos.
Mas o Direito deve ser justo, sem o que pode comprometer a sua função. Logo, o justo não é um fim
do Direito. É condição de legitimidade de todo ordenamento jurídico para que tenha condições de
cumprir suas formalidades. É a legitimação do poder, fator indispensável para a manutenção do
Direito como mecanismo de controle social, entendendo-se por legitimação a existência de razões
para sustentar o poder em padrões aceitáveis de justiça e eqüidade, valores que são suporte de
apoio para a sua manutenção. O Direito é, portanto, instrumento de controle dos conflitos sociais.
Nesse sentido é que se fala em segurança jurídica como função do Direito”.

DA MATÉRIA

Da Inexistência de Responsabilidade Solidária

Em que pese o entendimento do juízo monocrático,


a decisão monocrática, no tocante a responsabilidade solidária da 1ª reclamada, merece
reforma, eis que a mesma não se encontra de acorda com o ordenamento jurídico
brasileiro, conforme restará demonstrado.

Inicialmente, destacamos o fato de que, em juízo, o


reclamante afirmou ter recebido todas as verbas corretamente pela 1ª reclamada, ora
recorrente.

O contrato de trabalho é firmado entre o


trabalhador o empregador, independente dos seus titulares e sua eventual mudança ou
alteração, por isso diz-se que é impessoal em relação a quem se encontra à frente do
empreendimento.

Portanto, o verdadeiro empregador é a "empresa",


sendo que a transferência do estabelecimento, supõe também a de todos os elementos
organizados da mesma, dentre eles, o trabalho.

Sendo o vínculo do empregado com a empresa e


não com o empregador, salvo empregador pessoa física, não pode este ser prejudicado
por qualquer tipo de alteração na estrutura jurídica daquela.
A sucessão trabalhista ocorre quando há
transferência de titularidade da empresa sucedida - e, consequentemente, de suas
obrigações - para a empresa sucessora. Com essa transferência também ocorre a
transferência dedívidas trabalhistas.

Neste processo, devem ser respeitados alguns


princípios fundamentais: o princípio da continuidade - determina que os contratos de
trabalho por tempo indeterminado continuem da forma que estavam pré-estabelecidos; o
princípio da despersonalização do empregador - parte da noção de que o contrato de
trabalho só será irrenunciávelem face do empregado, visto que a alteração da figura do
empregador não será impeditivo para a existência contínua do contrato de trabalho; e,
finalmente, o princípio da intangibilidade objetiva do contrato de trabalho - veda
qualquer alteração ou modificação os aspectos objetivos do contrato de trabalho. As
obrigações do empregador face seus empregados, portanto, devem permanecer as
mesmas - ainda que a pessoa jurídica que deu início à relação de emprego seja
substituída por outra no curso do contrato.

Com o advento da "Reforma Trabalhista" (lei


13.467/17) e a edição do artigo 448-A da CLT, a responsabilidade dos débitos da
sucedida ficam de responsabilidade da empresa sucessora, não apenas quanto às
obrigações posteriores à sucessão, mas também no que tange a eventuais direitos dos
trabalhadores referentes ao momento que antecedeu a sucessão.

“A responsabilidade pelos direitos trabalhistas


segue, portanto, o conjunto de bens (materiais e imateriais) que compõem a atividade
empresarial, de forma que, a partir da sucessão, o sucessor fica integralmente
responsável por todas as obrigações trabalhistas dos empregados, inclusive as de
cunho não pecuniário”, frisou juiz convocado Marcelo Moura Ferreira, nos autos do
processo 0001051-09.2012.5.03.0037.

As provas dos autos, (documental e oral),


demonstram que a reclamante permaneceu prestando serviços no mesmo local, em
atividades correlatas de 11/11/2010 a 14/11/2019, sem que tenha recebido, após a
sucessão pela 2ª reclamada, da indenização pelo uso do veículo, o plano de saúde e a
alimentação, além de sequer cumprido aviso prévio. Daí o entendimento de que houve
continuidade de seu contrato de trabalho, que anteriormente era com a sucedida,
passando para a sucessora. Restou demonstrado que a 2ª reclamada deu continuidade na
exploração da atividade das empresas reclamadas, sendo certo que ambas as sucedidas
atuavam/atuam no mesmo ramo de alimentação, característica essa que comprova a
sucessão trabalhista.

Destaca-se que a sucessão fora devidamente


reconhecida na decisão proferida pelo juízo monocrático.

Assim sendo, é de se reconhecer a existência da sucessão empregatícia, nos moldes dos artigos 10 e
448 da CLT.

Todavia, ainda merece menção o fato de que, em


qualquer momento da sentença fora avençada a possibilidade da existência de fraude na
sucessão das reclamadas, o que entende a 1ª reclamada (empresa sucedida), que deixou
de observar o juízo a quo, o previsto no art. 448-A da CLT, que dispõe que a
responsabilidade é do sucessor em tais casos.

Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448
desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor.

Sabidamente, a responsabilidade solidária, no


direito do trabalho, somente pode ser declarada e, assim, imposta, entre empresas de um
mesmo grupo econômico, e, ainda, apenas quando houver, de uma com relação à outra,
direção, controle ou administração, conforme o §2º do art. 2º da CLT, o que, no caso,
não existiu.

Conforme estabelece o art. 265 do Código Civil, a


solidariedade não se presume, decorre da lei ou da vontade das partes.
Consoante já amplamente narrado ao longo da
instrução processual, houve um negócio jurídico entre as reclamadas, em 10/04/2017,
onde a 2ª reclamada arrendou o ponto comercial e toda a estrutura física do local da 1ª
reclamada.

Cada uma das rés possui sua composição societária


e organização empresarial independente e autônoma, não cogitando de formação de
grupo econômico ou conglomerado empresarial de semelhante atuação conjunta, pelo
que não se cogita tal hipótese.

Também destacamos, mais uma vez, por ser


importante para o deslinde da demanda, que em momento algum fora mencionada e,
principalmente, provada, a fraude na sucessão entre as reclamadas.

Tratou-se de legítimo caso de sucessão de


empregadores, para qual a legislação assevera a continuidade do vínculo jurídico
trabalhista, declarando que a alteração do polo contratante da relação de emprego em
nada afetou a situação dos empregados. O contrato vigorou normalmente, em relação ao
sucessor, que passou a ocupar o lugar do anterior (recorrente sucedido), tal qual
estabelece o art. 10 e art. 448 da CLT.

No caso em apreço, destacamos que houve a


sucessão total, aplicando-se a regra geral de que o sucessor responde por todas as
obrigações, tanto em relação aos contratos de trabalho à época da sucessão, quanto em
face dos contratos extintos anteriormente (OJ Transitória 24 e 48 da SDI-1 do TST).

É certo que, verificada a sucessão de


empregadores, como já destacado amplamente, o sucessor assume total compromisso
pelos rumos da empresa, respondendo por todos os encargos trabalhistas dos
empregados da empresa sucedida, a qual fica isenta de qualquer responsabilidade.

O art. 448-A da CLT abraçou a tese consagrada


pela jurisprudência (OJ 261 da SDI-1 do TST) de que o sucessor responde inclusive
pelas obrigações contraídas na época que seus empregados trabalhavam para o
sucedido. Desta forma, o sucedido está desonerado desta responsabilidade, salvo em
caso de fraude, situação essa sequer cogitada ao longo da instrução processual.

261. BANCOS. SUCESSÃO TRABALHISTA (inserida em 27.09.2002)


As obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam
para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este foram transferidos
os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica sucessão trabalhista.

Com efeito, a sucessão de empregadores é


disciplinada pelos arts. 10 ("Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não
afetará os direitos adquiridos por seus empregados.") e 448 da CLT ("A mudança na
propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho
dos respectivos empregados."), com o objetivo de vincular o empregado à unidade
econômica, e não à pessoa do empregador. Trata-se de instituto que busca assegurar a
continuidade da relação de emprego ou, quando extinta a relação empregatícia, fixar a
responsabilidade do adquirente da unidade econômica quanto aos efeitos presentes,
pretéritos e futuros dos contratos de trabalho firmados pela sucedida.

A sucessão empresarial transfere direitos e


obrigações ao sucessor, que responde integral e exclusivamente pelo contrato de
trabalho, cujas condições são preservadas por força dos artigos 10 e 448 da CLT.

Repete-se, a única hipótese de a sucedida


responder pelas verbas, no caso da sucessão empresarial, é quando restar comprovada
fraude na transferência, o que não é o caso dos autos, eis que a matéria SEQUER foi
suscitada pelo reclamante, ora recorrido, em exordial.

Ainda, a ora recorrente não pode ser mantida no


polo passivo da ação como mera garantidora de créditos trabalhista, eis que não há
qualquer lei que determine!!!
Por via de consequência, há de se concluir que a
decisão em apreço está a vulnerar também o princípio da legalidade, inserto no inciso II
do artigo 5° da Constituição Federal, que contém a seguinte redação:

Artigo 5° - ...
...
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

Dessa forma, merece reforma a r. decisão, eis que


afronta diretamente o art. 448-A, da CLT, a Orientação Jurisprudencial – SDI-1 do C.
TST nº. 261, bem como o artigo 5º, II, da CF.

Ainda, como se não bastasse a Orientação


Jurisprudencial do TST, temos as decisões majoritárias, que também são no sentido de
que a empresa sucedida não possui responsabilidade pelos contratos de trabalho
transferidos à sucessora, a qual assume todo o ônus decorrente da relação de emprego,
conforme determina os artigos 10, 448 e 448-A da CLT:

SUCESSÃO EMPRESARIAL- RESPONSABILIDADE DA SUCESSORA - para que seja


reconhecida a sucessão empresarial deve estar comprovada a transferência do “estabelecimento”
para outro titular e a inexistência de solução de continuidade das atividades. (TRT 17ª R., 0032000-
41.2011.5.17.0011, Rel. Desembargador Lino Faria Petelinkar, DEJT 12/03/2013).
(https://trt-17.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/418040420/agravo-de-peticao-ap-
320004120115170011)

SUCESSÃO EMPRESARIAL. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA SUCESSORA. Os


requisitos para o instituto da sucessão na esfera trabalhista podem ser condensados através da
manutenção dos fins da empresa, decorrência do "princípio da continuidade da empresa". O
sucessor é aquele que, total ou parcialmente, absorve o patrimônio do sucedido, para desenvolver o
mesmo objeto social, como na hipótese vertente. A aquisição de parte do universo patrimonial da
sucedida naquilo que era capaz de produzir riqueza, inclusive da estrutura funcional preexistente,
preconiza a legitimidade do sucessor pelas obrigações que antes oneravam o sucedido, o que
viabiliza a sua inclusão no polo passivo da execução para responder pela dívida. Portanto, se houve
a manutenção de atividade comercial no mesmo local em que funcionava a empresa sucedida, com
a assunção do fundo de comércio, houve também a assunção, pela sucessora, dos créditos não pagos
pela sucedida, uma vez que tais obrigações acompanham o patrimônio transferido. (TRT-17 - AP:
00248006720125170004, Relator: CLÁUDIO ARMANDO COUCE DE MENEZES, Data de
Julgamento: 06/03/2018, Data de Publicação: 13/03/2018)
(https://trt-17.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/621441180/agravo-de-peticao-ap-
248006720125170004)

RECURSO ORDINÁRIO DA 1ª RECLAMADA. SUCESSÃO EMPRESARIAL.


RESPONSABILIDADE. EMPRESA SUCESSORA. A empresa sucessora passa a responder por
todos os deveres da sucedida, tornando-se responsável pela adimplência de todos os direitos dos
trabalhadores, ainda que contraídos na época da prestação de serviços à empresa anterior
(sucedida), tenham eles os seus contratos extintos ou não. Isso posto, verifico que houve um
equívoco do julgador de origem ao condenar a empresa sucedida (1ª reclamada), e não a sucessora
(2ª reclamada), ao pagamento das verbas rescisórias devidas ao autor decorrente do
reconhecimento de vínculo empregatício havido entre as partes (inicialmente, com a 1ª reclamada,
e, posteriormente, com a 2ª reclamada). Assim sendo, dou provimento ao apelo da 1ª reclamada
para, reformando a sentença, condenar a 2ª reclamada ao pagamento das verbas trabalhistas
reconhecidas em sentença, decorrente do vínculo empregatício reconhecido. Fica a 1ª reclamada
absolvida dos pleitos da exordial. Recurso da 1ª reclamada conhecido e provido. RECURSO
ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. TERCEIRIZAÇÃO. ENTE INTEGRANTE DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONDENAÇÃO SUBSIDIÁRIA. TESE DE REPERCUSSÃO
GERAL. RE Nº 760.931/DF. ÔNUS DA PROVA. A respeito do ônus da prova de demonstrar a
efetiva fiscalização do contrato, ou a ausência dela, este julgador entende que a fiscalização do
contrato é fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do reclamante, de modo a ser da
Administração Pública o ônus de demonstrá-lo nos autos, a teor do art. 373, II, do CPC/2015. Não
há que se falar, assim, em inversão do ônus da prova, já que fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do reclamante é naturalmente ônus da parte ré, tal qual prevê a legislação
processual civil em vigor. Ademais, exigir da parte autora o ônus da prova de que a Administração
não teria fiscalizado o contrato administrativo havido com a reclamada seria atribuir-lhe ônus de
fato negativo ou, ainda, equivaleria exigir-lhe acesso a documentos que estariam, na verdade, em
poder da Administração Pública. Outrossim, vale ressaltar que a fiscalização do contrato é dever
imposto à Administração Pública por força do comando legal inserto nos arts. 58, III, e 67 da Lei nº
8.666/93. Por todo o exposto, dou provimento ao apelo do reclamante para condenar o
MUNICÍPIO DE MANACAPURU, litisconsorte passivo, de forma subsidiária, pelas parcelas
deferidas em sentença. Recurso do reclamante conhecido e provido. (TRT-11 - RO:
00006321320195110201, Relator: AUDALIPHAL HILDEBRANDO DA SILVA, Data de
Julgamento: 02/12/2020, 2ª Turma, Data de Publicação: 15/12/2020)
(https://trt-11.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1165228503/recurso-ordinario-rito-sumarissimo-ro-
6321320195110201)

... SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE DA SUCEDIDA AESC (Análise conjunta


do Recurso Ordinário do Município de Canoas). À luz dos arts. 10 e 448 da CLT, bem como dos
princípios da primazia da realidade e da despersonalização do empregador, entende-se que a
sucessão trabalhista típica enseja transferência da unidade econômica ou produtiva para outro
titular, sem que sejam afetados os contratos de trabalho e os direitos adquiridos. Isso porque a
sucessão trabalhista está amparada em condições objetivas de continuidade dos serviços e do
estabelecimento (unidade econômico-produtiva) e na identidade de objetivos e meios, ainda que não
haja vínculo entre o titular precedente e o sucessor. Caso em que a trabalhadora foi admitida pela
AESC em 2014, e em 01.12.2016 houve a assunção do Hospital de Pronto Socorro e Unidades de
Pronto Atendimento pelo sucessor GAMP, constando no Acordo de Transição e Cooperação a
sucessão dos contratos de trabalho em vigor. Não existe no direito brasileiro a responsabilidade
solidária do sucedido. Negado provimento a ambos os recursos. (TRT-4 - ROT:
00214513420175040201, Data de Julgamento: 29/11/2019, 10ª Turma) (grifo nosso)
(https://pje.trt4.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0021451-34.2017.5.04.0201/2#4b5327f –
id. 460e457)

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA


INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017. SUCESSÃO DE EMPREGADORES.
AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO SUCEDIDO. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 10 E 448 DA
CLT. CONFIGURAÇÃO. Demonstrada possível violação dos arts. 10 e 448 da CLT, impõe-se o
provimento do agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista.
Agravo de instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA INTERPOSTO
NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017. SUCESSÃO DE EMPREGADORES. AUSÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE DO SUCEDIDO. De acordo com a jurisprudência desta Corte,
caracterizada a sucessão trabalhista, na forma dos artigos 10 e 448 da CLT, não há se falar em
responsabilidade da empresa sucedida, seja solidária, seja subsidiária. Em tal situação, a
responsabilidade recai exclusivamente sobre o sucessor, o qual assume, integralmente, as
obrigações relativas aos contratos de trabalho que lhe foram transferidos. Apenas se constatada
fraude na sucessão é que se admite a responsabilização da empresa sucedida, o que não ocorreu no
caso. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. (TST - RR: 11691-27.2017.5.15.0081,
Relator: Delaide Alves Miranda Arantes, Data de Julgamento: 19/05/2021, 2ª Turma, Data de
Publicação: 21/05/2021) (grifo nosso)
(https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?
consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=11691&digitoTst=27&anoTst=2017&orgaoTst=5&tri
bunalTst=15&varaTst=0081&submit=Consultar)

"RECURSO DE REVISTA. SUCESSÃO EMPRESARIAL. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA


DO SUCESSOR PELOS CRÉDITOS TRABALHISTAS DEVIDOS. ARTS. 10 E 448 DA CLT. A
sucessão empresarial transfere direitos e obrigações ao sucessor, que responde integral e
exclusivamente pelo contrato de trabalho, cujas condições são preservadas por força dos artigos 10
e 448 da CLT. Recurso de revista não conhecido" (Processo: TST RR 406-22.2014.5.09.0562,
Relator Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/08/2017) (TRT-
18 - ROT: 00115161520195180005 GO 0011516-15.2019.5.18.0005, Relator: KATHIA MARIA
BOMTEMPO DE ALBUQUERQUE, Data de Julgamento: 09/06/2020, 2ª TURMA)
(https://pje.trt18.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0011516-15.2019.5.18.0005/2#44e5701
– id. 49a65c1)

SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR. ART. 10 E 448, DA CLT.


Conforme definido pelo TST, o liame que une empresas sucessora e sucedida, a teor da inteligência
que deflui da OJSDI1 nº 261, do TST, é da seguinte ordem: as obrigações trabalhistas, inclusive as
contraídas à época em que os empregados trabalhavam para o sucedido, são de responsabilidade do
sucessor, uma vez que a este foram transferidos os ativos, os direitos e deveres contratuais,
caracterizando típica sucessão trabalhista. ... (TRT-7 - Remessa Necessária Trabalhista:
00879000420065070030 CE, Relator: FRANCISCO JOSE GOMES DA SILVA, Data de
Julgamento: 04/02/2020, 2ª Turma, Data de Publicação: 04/02/2020)
(https://pje.trt7.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0087900-04.2006.5.07.0030/2#938e2ac –
id 1672d18)

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA TERCEIRA


RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017 - SUCESSÃO
TRABALHISTA - RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA EMPRESA SUCESSORA
Vislumbrada violação aos artigos 10 e 448 da CLT, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento
para processar o Recurso de Revista. II - RECURSO DE REVISTA DA TERCEIRA
RECLAMADA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017 - SUCESSÃO
TRABALHISTA - RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA EMPRESA SUCESSORA A
jurisprudência desta Corte entende que a ocorrência de sucessão trabalhista, sem notícia de fraude
ou de insuficiência econômico-financeira do sucessor, nos moldes dos arts. 10 e 448 da CLT,
justifica a responsabilização exclusiva do sucessor. Recurso de Revista conhecido e provido. (TST -
RR: 10866.76.2016.5.03.0138, Relator: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento:
12/06/2019, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 14/06/2019)
(https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?
consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=10866&digitoTst=76&anoTst=2016&orgaoTst=5&tri
bunalTst=03&varaTst=0138&submit=Consultar)

AGRAVO DE INSTRUMENTO DAS RECLAMADAS RADIO BEL LTDA. E DEL REY


RADIOFUSÃO. DESERÇÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (...) RECURSO DE REVISTA
DA RECLAMADA RÁDIO E TELEVISÃO RECORD S.A. SUCESSÃO TRABALHISTA.
RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA EMPRESA SUCESSORA. Em se tratando de sucessão
de empregadores, como regra, a responsabilidade exclusiva pelo adimplemento dos créditos
trabalhistas é transferida para o sucessor, obrigando este ao pagamento das parcelas devidas à
época em que ocorreu a sucessão. Uma vez que a alteração na propriedade e na estrutura jurídica
da empresa não afeta os contratos de trabalho e os direitos adquiridos dos empregados (arts. 10 e
448 da CLT), o sucessor assume os direitos e as obrigações decorrentes dos contratos de trabalho.
Não estando noticiada no acórdão regional a ocorrência de fraude ou absoluta insuficiência
econômico-financeira do sucessor, mantém-se a regra exposta, no sentido de responsabilizar o
sucessor pelos créditos. Assim, deve ser reformada a trabalhistas reconhecidos mediante decisão
judicial decisão regional que impôs responsabilidade subsidiária à empresa sucedida. Recurso de
revista de que se conhece e a que se dá provimento. (ARR - 10731-63.2016.5.03.0106, Relatora
Desembargadora Convocada: Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento: 12/09/2018, 6ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 14/09/2018)
(https://consultaprocessual.tst.jus.br/consultaProcessual/consultaTstNumUnica.do?
consulta=Consultar&conscsjt=&numeroTst=10731&digitoTst=63&anoTst=2016&orgaoTst=5&tri
bunalTst=03&varaTst=0106&submit=Consultar)

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO


TRT/SP nº 0000742-85.2014.5.02.0088 - 4ª Turma
RELATORA: IVANI CONTINI BRAMANTE
EMENTA: SUCESSÃO DE EMPRESAS. RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR. O Juízo da
execução deve lançar mão de todos os esforços para obter a satisfação do crédito. Para tanto deve
valer-se dos instrumentos jurídicos à sua disposição, como por exemplo, penhora de bens e direitos,
penhora nos bens dos sócios e nos bens de empresas do mesmo grupo econômico, além da
"desconsideração da personalidade jurídica, direta ou inversa" e, ainda a figura da sucessão de
empresas, quando cabível. O instituto da sucessão trabalhista é regulado pelos arts. 10 e 448, da
CLT, que dispõem: Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os
direitos adquiridos por seus empregados. Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura
jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. Cumpre
salientar que a sucessão trabalhista independe de ter ou não havido prestação de serviços do
trabalhador diretamente ao sucessor, bastando que a atividade empresarial, no todo ou em parte,
tenha sido transferida sem solução de continuidade. Isto porque, os dispositivos trabalhistas acima
transcritos ao tratarem da questão, objetivaram a preservação do contrato de trabalho tal como
vigente na data da alteração na propriedade ou estrutura jurídica da empresa, independentemente
de sua natureza. O reconhecimento da "sucessão de empregadores" impõe a responsabilidade
integral sobre a empresa sucessora, incluindo as obrigações contraídas pela sucedida, ainda que a
incorporação tenha ocorrido após a dispensa do reclamante, consoante determinação do art. 448-A
da CLT: Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e
448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os
empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. (Artigo
incluído pela Lei n° 13.467/2017 - DOU 14/07/2017). Parágrafo único. A empresa sucedida
responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência .
Mantenho.
(https://pje.trt2.jus.br/consultaprocessual/detalhe-processo/0000742-85.2014.5.02.0088/2#7cb237d -
Id 46a6536)
Destaque-se, assim, que o contrato de trabalho
adere à pessoa jurídica e ao estabelecimento empresarial, pouco importando quem sejam
os seus sócios ou titulares.

A sucessão trabalhista parte da ideia de que a


pessoa jurídica, vista como organismo econômico-produtivo, em virtude de alterações
estruturais, não pode ter comprometida as condições iniciais que asseguravam o
cumprimento de obrigações trabalhistas.

Portanto, verifica-se que o sucessor responde


inclusive pelas obrigações contraídas na época que seus empregados trabalhavam para o
sucedido.

Assim, o sucedido está desonerado dessa


obrigação, sendo que a responsabilidade da sucedida somente é possível em
circunstâncias excepcionais de fraude ou absoluta insuficiência econômico-financeira
do sucessor, hipótese que não se verifica no presente caso, eis que sequer foi suscitada.

Nesse sentido, há que se ressaltar novamente que,


diante de toda a doutrina e entendimento majoritário do C. TST, na sucessão
empresarial, a responsabilidade é exclusiva do sucessor, motivo pelo qual não há
embasamento jurídico para manutenção da recorrente no polo passivo da presente
demanda, devendo a r. decisão ser reformada para afastar a responsabilidade solidária
da ora recorrente.

Isso porque a recorrente não tem ingerência sobre a


segunda reclamada ou vice-versa, são empresas totalmente distintas e totalmente
independentes entre si e perante terceiros, cada qual com sua própria personalidade
jurídica e direção.

Desta forma, não cabe ser imposta


responsabilidade solidária para a recorrente, por absoluta falta de amparo legal,
destacando tratar-se de empresas totalmente distintas, uma da outra, ambas com
existência legal e sem que tenha havido, de uma com relação à outra, direção, controle
ou administração.

Assim diante de todo o exposto, temos que a r.


decisão deverá ser reformada, excluindo a ora recorrente da lide, tendo em vista que não
há que se falar em responsabilidade da empresa sucedida no presente caso.

Da Prescrição ou Da Limitação da Condenação

Em remota hipótese de ser superada a tese acima


exposta, quanto a responsabilidade exclusiva do sucedido, a 1ª reclamada alega que, no
caso em apreço, operou-se a prescrição do direito em face desta recorrente ou,
alternativamente, que deve ter sua responsabilidade limitada ao período em que figurou
como empregadora do reclamante.

Conforme a documentação trazida aos autos, o


contrato de trabalho entre o reclamante e a 1ª reclamada se encerrou em 10/04/2017.

Desta forma, analisando a documentação acostada


aos autos, conclui-se que o contrato de trabalho entre o reclamante e a 1ª reclamada se
encerrou em 10/04/2017, portanto, 2 anos 07 meses e 04 dias, antes do início da
postulação da reclamação trabalhista, que se deu em 14/11/2019. Portanto, operou-se a
prescrição com relação à recorrente, 1ª reclamada.

Com efeito, a legislação pátria, em respeito ao


princípio da segurança jurídica, e, em analogia, estabelece que a responsabilidade do
sócio retirante pelas dívidas da empresa, inclusive trabalhistas, limita-se ao biênio
posterior à sua saída e desde que seja nele acionado, aplicando-se, neste caso, a
interpretação por analogia. Esta é a inteligência dos arts. 1003 e 1032 do Código Civil,
consoante entendimento do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região,
verbis:
AGRAVO DE PETIÇÃO. SÓCIO RETIRANTE. RESPONSABILIDADE TRABALHISTA.
LIMITAÇÃO TEMPORAL. ARTIGOS 1.003 E 1.032 DO CÓDIGO CIVIL. INGRESSO DA
RECLAMAÇÃO TRABALHISTA APÓS O BIÊNIO. TÍTULOS VINDICADOS QUE NÃO SE
RELACIONAM AO PERÍODO DE PRESTAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO EM QUE O
AGRAVADO FIGURAVA COMO SÓCIO. RISCO-PROVEITO. AUSÊNCIA. Nos termos dos
artigos 1.003 e 1.032 do Código Civil, o sócio retirante apenas pode ser responsabilizado pelos
débitos relativos ao período em que foi sócio e desde que seja acionado no prazo de dois anos
seguintes à sua saída. Pela cronologia dos fatos, o biênio após a sua retirada da sociedade se esvaiu
no mês de março de 2014 e o agravante ingressou com a presente reclamação trabalhista no mês de
setembro de 2014, portanto seis meses após o fim do prazo bienal. Ademais, a concomitância do
período em que o reclamante foi contratado e o período em que o agravado era sócio são de apenas
dois meses, sendo que os títulos vindicados dizem respeito a verbas rescisórias que não abrangem
esse período. Apenas o recolhimento do FGTS poderia ser atingido no período em que o sócio ainda
fazia parte da sociedade, mas há provas nos autos de que houve o regular recolhimento nos meses
de fevereiro e março de 2012. Assim, embora o agravante tenha sido contratado enquanto o sócio
figurava na empresa, os títulos vindicados não se relacionam a esse período e, além disso, a
reclamação trabalhista só foi ajuizada após o biênio temporal de sua saída dos quadros societários.
[...] Agravos de petição conhecidos e improvidos. (TRT 21- 0001105-88.2014.5.21.0041 AP. Relator:
José Rêgo Júnior. Julgamento: 22.08.2017) (grifo nosso).

Assim, tendo a reclamação trabalhista sido


ajuizada a mais de dois anos após o término do contrato de trabalho com a 1ª reclamada,
nenhuma responsabilidade possui está quanto às verbas trabalhistas executadas naquela,
devendo ser excluído da relação processual.

SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA SUCEDIDA.


LIMITAÇÃO AOS DÉBITOS TRABALHISTAS CONSTITUÍDOS ATÉ A FORMALIZAÇÃO
DA SUCESSÃO. Não é razoável atribuir à empresa sucedida responsabilidade pelos débitos
trabalhistas constituídos após a transferência da propriedade e da administração da empresa à
sucessora. A proteção que a legislação confere aos trabalhadores nos casos de sucessão empresarial,
através dos artigos 10 e 448 da CLT, consiste exclusivamente na responsabilização do sucessor
pelos direitos trabalhistas adquiridos no período de labor prestado ao sucedido, de forma plena.
Porém, o contrário não é cabível, uma vez que não encontramos na legislação qualquer disposição
que possibilite tal raciocínio, sob pena de atribuir-lhe responsabilidade perpétua pelos atos
praticados pelo sucessor. Recurso da segunda reclamada parcialmente provido. (TRT-15 - RO:
00105012520145150084 0010501-25.2014.5.15.0084, Relator: MANUEL SOARES FERREIRA
CARRADITA, 7ª Câmara, Data de Publicação: 26/09/2017)
Alternativamente, admitindo-se, remotamente, a
hipótese de responsabilidade, a recorrente entende que, em sendo mantida a
condenação, deve ser observado o fato de que, conforme a documentação trazida aos
autos, o contrato de trabalho entre o reclamante e a 1ª reclamada se encerrou em
10/04/2017.

Desta forma, em remota hipótese de ser mantida a


condenação da 1ª reclamada, entende que a mesma deve ser limitada até a data do
contrato havido entre essa e o reclamante, não podendo ser condenada por verbas
decorrentes do contrato havido com a 2ª reclamada, vez que o próprio texto de lei
afirma ser obrigação do sucedido responder pelos débitos trabalhistas.

SUCESSÃO TRABALHISTA. RESPONSABILIDADE. Hipótese em que a maioria dos integrantes


da Turma, vencido o Relator, entende que a empresa sucedida deve ser responsabilizada de forma
solidária pelos direitos relativos até o período em que teve o proveito da mão de obra do
trabalhador, ou seja, até a transferência. Após, salvo comprovação de fraude (art. 9º da CLT), não
há responsabilidade pela sucedida. (TRT-4 - ROT: 00208863920175040373, 6ª Turma, Data de
Publicação: 05/09/2019)

Por todo o exposto, o recorrente espera que sejam


acolhidas e providas as presentes Razões da Revista para que, ao final, seja reformada o
V. Acórdão, na forma da fundamentação, como medida da mais pura J U S T I Ç
A!!!

Nestes termos.
E. deferimento.
São Paulo, 14 de July de 2023.

ENZO SCIANNELLI TATIANA KISLAK JOSÉ ABÍLIO LOPES


OAB/SP 98.327 OAB/SP 175.682 OAB/SP 93.357

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