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50 teses de reclamantes para potencializar

as reclamações trabalhistas
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Este material, elaborado pelo professor Fabiano
Coelho, é exclusivo para os participantes do curso 50
TESES DE RECLAMANTES PARA POTENCIALIZAR AS
RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS, realizado pela AATSP
– Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo,
na capital paulistana, em 5 de novembro.
O intuito do curso é entregar teses consagradas na
jurisprudência do TST e que são favoráveis aos
reclamantes. Naturalmente, o conhecimento compartilhado
interessa igualmente aos advogados de empresas, que
podem ajustar a sua estratégia processual ou mesmo
orientar melhor o empregador para evitar a criação de
passivos trabalhistas.

O instrutor é o prof. Fabiano Coelho, juiz do trabalho


desde 17 de abril de 1998. É titular da Vara do Trabalho de
Goiatuba (GO). Foi Juiz Auxiliar no TST de agosto de 2014
a fevereiro de 2018. É mestre em Direito pela PUCGO e
doutorando em Direitos Humanos, pela UFG. É um dos
fundadores do projeto Trabalho Notável, que distribui
conteúdos de prática jurídica, especialmente para
advogados trabalhistas.

Tese 01 - Justiça gratuita. A declaração de pobreza é


suficiente para o deferimento da gratuidade da justiça. Prudência 2
da renovação da comprovação da hipossuficiência em caso de longa
duração do processo.
A Reforma Trabalhista retirou da CLT a previsão de comprovação do
estado de hipossuficiência econômica por meio da declaração de pobreza.
No TST, a 4ª Turma insiste que a prova da hipossuficiência, para quem
ganha mais que 40% do teto de benefícios do Regime Geral da Previdência
Social, deve ser feita por prova documental robusta.
No entanto, o entendimento prevalecente, expresso pela SDI-1 do TST, é de
que a declaração de pobreza, por aplicação supletiva do CPC, continua sendo
prova suficiente para este fim, nos termos da súmula 463 da Corte.

"EMBARGOS INTERPOSTOS PELO RECLAMANTE NA VIGÊNCIA DAS


LEIS DE Nºs 13.015/2014 E 13.467/2017. CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS
DA JUSTIÇA GRATUITA. RECLAMAÇÃO TRABALHISTA AJUIZADA NA
VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. PESSOA NATURAL. APRESENTAÇÃO
DE DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA ECONÔMICA. REQUISITO
LEGAL ATENDIDO. 1. Cuida-se de controvérsia acerca da aptidão da
declaração de hipossuficiência econômica para fins de comprovação do direito
da pessoa natural ao benefício da assistência judiciária gratuita, em
Reclamação Trabalhista ajuizada após a entrada em vigor da Lei n.º
13.467/2017, que conferiu nova redação ao artigo 790 da Consolidação das
Leis do Trabalho. 2. Consoante disposto no artigo 790, §§ 3º e 4º, da
Consolidação das Leis do Trabalho, com a redação conferida pela Lei n.º
13.467/2017, o direito aos benefícios da justiça gratuita resulta da insuficiência
econômica da parte - presumida nas hipóteses em que evidenciada a
percepção de salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite
máximo do benefício do Regime Geral de Previdência Social, ou passível de
demonstração pela comprovação da impossibilidade de custeio das despesas
processuais. Verifica-se, contudo, que a alteração legislativa introduzida pela
Lei n.º 13.467/2017 não fez incluir no texto consolidado a forma pela qual se
deve dar a comprovação da insuficiência de recursos para fins da concessão
do benefício. Assim, têm aplicação subsidiária e supletiva as disposições
contidas na legislação processual civil. Conforme se extrai dos artigos 99, § 3º,
do Código de Processo Civil e 1º da Lei n.º 7.115/1983, a declaração de
hipossuficiência econômica firmada por pessoa natural ou por seu procurador
regularmente constituído revela-se suficiente para fins de comprovação da
incapacidade de suportar o pagamento das despesas do processo. Conclui-se,
portanto, que tem plena aplicação, mesmo após a edição da Lei n.º
13.467/2017, o entendimento consubstanciado no item I da Súmula n.º 463 do
Tribunal Superior do Trabalho, no sentido de que, "a partir de 26.06.2017, para
a concessão da assistência judiciária gratuita à pessoa natural, basta a
declaração de hipossuficiência econômica firmada pela parte ou por seu
advogado, desde que munido de procuração com poderes específicos para
esse fim (art. 105 do CPC de 2015)". Precedentes desta Corte superior. 3. A
tese esposada pela Turma, na hipótese dos autos, revela-se dissonante da
jurisprudência iterativa e notória deste Tribunal Superior, consubstanciada no
item I da Súmula n.º 463 do TST. 4. Embargos interpostos pelo reclamante de 3
que se conhece, por divergência jurisprudencial, e a que se dá provimento" (E-
RR-415-09.2020.5.06.0351, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Relator Ministro Lelio Bentes Correa, DEJT 07/10/2022).

"RECURSO DE REVISTA. PEDIDO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA


REALIZADO PELA RECLAMANTE NA REVISTA - INDEFERIMENTO DO
PEDIDO PELO JULGADOR DE PISO - ÚLTIMO SALÁRIO PERCEBIDO
PELA AUTORA SUPERIOR A 40% DO TETO DOS BENEFÍCIOS DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL - NECESSIDADE DE PROVA DA INSUFICIÊNCIA
ECONÔMICA E DA SITUAÇÃO DE DESEMPREGO ALEGADA - CLT, ART.
790, §§ 3º E 4º - SÚMULA 463, I, DO TST SUPERADA PELA LEI13.467/17 -
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA - RECURSO NÃO
CONHECIDO. 1. Nos termos do art. 896-A, § 1º, IV, da CLT, constitui
transcendência jurídica da causa a existência de questão nova em torno da
interpretação da legislação trabalhista. 2. O debate jurídico que emerge do
presente processo diz respeito à interpretação do art. 790, §§ 3º e 4º, da CLT,
com a redação dada pela Lei13.467/17, que estabelece novas regras para a
concessão da gratuidade de justiça no Processo do Trabalho, questão que
exige fixação de entendimento pelo TST, uma vez que a Súmula 463, I, desta
Corte, que trata da matéria, albergava interpretação do ordenamento jurídico
vigente antes da reforma trabalhista de 2017. 3. Ora, o referido verbete
sumulado estava calcado na redação anterior do §3º do art. 790 da CLT, que
previa a mera declaração de insuficiência econômica para isentar das custas
processuais. Com a Lei 13.467/17, se o trabalhador percebe salário superior a
40% do teto dos benefícios da previdência social, há necessidade de
comprovação da insuficiência econômica (CLT, art. 790, §§ 3º e 4º). A
mudança foi clara e a súmula restou superada pela reforma laboral. 4. Por
outro lado, o art. 5º, LXXIV, da CF, esgrimido pela Reclamante como violado,
trata da assistência judiciária gratuita de forma genérica, sendo que à lei
processual cabe dispor sobre os modos e condições em que se dará esse
acesso e essa gratuidade, tal como o fez. Nesse sentido, exigir a comprovação
da hipossuficiência econômica de quem ganhava acima do teto legal não
atenta contra o acesso à justiça nem nega a assistência judicial do Estado.
Pelo contrário, o que não se pode admitir é que o Estado arque com os custos
da prestação jurisdicional de quem pode pagar pelo acionamento da Justiça,
em detrimento daqueles que efetivamente não dispõem de condições para
demandar em juízo sem o comprometimento do próprio sustento ou de sua
família. 5. Assim, diante da mudança legislativa, não se pode pretender que o
verbete sumulado superado continue disciplinando a concessão da gratuidade
de justiça, transformando alegação em fato provado, invertendo presunção e
onerando o Estado com o patrocínio de quem não faz jus ao benefício, em
detrimento daqueles que o merecem. Nem se diga ser difícil provar a
insuficiência econômica, bastando elencar documentalmente os encargos que
se tem, que superam a capacidade de sustento próprio e familiar, comparados
aos gastos que se terá com o acionamento da Justiça. 6. In casu, apesar de a
Reclamante alegar que está desempregada e que não possui condições
financeiras de arcar com as despesas processuais, sem prejuízo do seu
sustento e do de sua família, arrimando-se na declaração de pobreza
apresentada na inicial, não juntou nenhum documento na revista a fim de
comprovar a alegada hipossuficiência econômica, o que é essencial ao 4
deferimento do pleito, à luz do art. 790, §§ 3º e 4º, da CLT. 7. Ainda, convém
registrar que tal pedido restou indeferido pelo Julgador de piso, ao fundamento
de que não ficou comprovada a insuficiência de recursos capaz de isentar a
Parte do recolhimento das custas processuais, notadamente porque a
Reclamante percebeu último salário em valor superior ao limite previsto no art.
790, § 3º, da CLT. 8. Assim, incumbia à Parte, ao renovar o pedido de
gratuidade de justiça na revista, comprovar que os encargos financeiros
assumidos lhe impossibilitam de arcar com as despesas do processo, na forma
como exige o art.790, §§ 3º e 4º, da CLT, bem como juntar cópia da carteira de
trabalho a fim de atestar a baixa do emprego e a não anotação de outro vínculo
empregatício na CTPS (até porque já se passaram mais de um ano e meio da
interposição da presente ação e mais de 2 anos da rescisão contratual relatada
na presente reclamação) 9. Ainda, milita contra as alegações de
hipossuficiência econômica a anotação de contrato de experiência, constante
da cópia de sua CTPS anexada junto à inicial, logo após carimbo do Instituto
Brasileiro de Controle de Câncer, ora Reclamado, registrando o último dia
trabalhado no Demandado. 10. De toda forma, considerando que o pleito de
gratuidade de justiça foi manifestado pela Autora com a intenção de lhe isentar
do pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, convém assinalar
que, ainda que a Reclamante litigasse sob o pálio da justiça gratuita, não
estaria isenta da obrigação de pagar a verba honorária, pois, nos termos do §
4º do art. 791-A da CLT, introduzido pela Lei 13.467/17, é devido o pagamento
de honorários advocatícios pelo beneficiário da justiça gratuita, quando
sucumbente e tenha obtido em juízo, neste ou em outro processo, créditos
capazes de suportar a despesa, dispositivo que se reputa compatível com os
arts. 5º, caput, XXXV, LIV, LV e LXXIV, e 7º, caput e X, da CF, consoante
reiteradas decisões deste Colegiado, em sentido contrário às alegações
autorais. Recurso de revista não conhecido" (RR-1000113- 43.2019.5.02.0016,
4ª Turma, Relator Ministro Ives Gandra Martins Filho, DEJT 05/02/2021)

Tese 2 – LIQUIDAÇÃO DO PEDIDO. O valor indicado na inicial


POR ESTIMATIVA não limita a execução.
A Reforma Trabalhista de 2017 passou a exigir a indicação do valor de
cada pedido, sob pena de considerar inépcia da petição inicial. Surge a dúvida
se o juiz pode impor uma condenação que, liquidada na execução, supere o
valor apontado na inicial.
O TST tem considerado que, na hipótese do advogado apontar que os
valores são declinado por mera ESTIMATIVA, o valor do pedido não limita a
execução. Essa é a Tese 2 do curso.
Algumas Turmas do TST, em especial a 3ª e a 6ª Turma, vem decidindo
que, mesmo que não conste que o valor é uma mera estimativa, a partir da
Reforma Trabalhista de 2017, o valor declinado para o pedido nunca limitará a
5
execução, em razão do que consta da Instrução Normativa 41 do TST.
Pondero que essa tese seja utilizada como último remédio porque não está
consolidada no TST.
De todo modo, não cabe ao juiz exigir a planilha de cálculos para
justificar os valores declinados para cada pedido. Essa medida é ilegal e, se
determina, comporta mandado de segurança, conforme jurisprudência da SDI-2
do TST.

"(...) LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO AO VALOR DOS PEDIDOS.


PREVISÃO DE QUE OS VALORES SÃO ESTIMATIVOS. AUSÊNCIA DE
TRANSCENDÊNCIA. A jurisprudência desta Corte segue no sentido de que a
atribuição de valores específicos aos pedidos formulados na petição inicial,
sem registrar qualquer ressalva, fixa os limites da prestação jurisdicional, por
expressa dicção do art. 492 do CPC. Precedentes. Na hipótese dos autos,
contudo, o v. acórdão regional assentou que a parte registrou expressamente,
na exordial, que os valores elencados para cada um dos pedidos se tratava de
mera estimativa. Assim, ao decidir que os valores indicados na petição inicial
devem ser considerados como estimativa das pretensões deduzidas, sendo
que a apuração do valor da condenação deve ocorrer em liquidação, o e. TRT
atuou em conformidade com a jurisprudência desta Corte. Nesse contexto,
incide a Súmula nº 333 do TST como obstáculo à extraordinária intervenção
deste Tribunal Superior no feito. Agravo não provido" (Ag-AIRR-11049-
92.2019.5.18.0051, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT
08/04/2022).

"RECURSO DE REVISTA. LEIS NºS 13.015/2014 E 13.467/2017. PEDIDOS


LÍQUIDOS. LIMITES DA LIDE. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DA
CONDENAÇÃO AOS VALORES ATRIBUÍDOS AOS PEDIDOS NA PETIÇÃO
INICIAL. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DO ART. 840, §1º, DA CLT.
INAFASTABILIDADE DO JUS POSTULANDI E DOS PRINCÍPIOS DO
AMPLO ACESSO À JURISDIÇÃO (ART. 5º, XXXV, DA CF), DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA (ART. 1º, III, DA CF), PROTEÇÃO SOCIAL DO
TRABALHO (ART. 1º, IV, DA CF), DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA (ART. 5º, LV DA CF), DA IMEDIAÇÃO (ART. 820, DA CLT), DA
INFORMALIDADE, SIMPLICIDADE, DISPOSITIVO. INEXISTÊNCIA DE
VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 141, §2º E 492, DO CPC. APLICAÇÃO DA
REGRA ESPECIAL PREVISTA NA IN 41/2018 C/C ART. 840, §1º, DA CLT.
VALORES INDICADOS NA PETIÇÃO COMO MERA ESTIMATIVA.
DESNECESSIDADE DE INDICAÇÃO DE RESSALVA QUANTO AO
CARÁTER ESTIMADO DOS VALORES. 1. Trata-se de recurso de revista com
fulcro no art. 896, c, da CLT, em que se pretende a reforma do acórdão
regional recorrido quanto à limitação da condenação aos valores atribuídos a
cada pedido apresentado já na exordial. A recorrente aponta violação ao art.
840, §1º, da CLT, com a redação conferida pela Lei nº 13.467/2017. 2. A
adequada interpretação jurídica das alterações promovidas pela Lei nº
13.467/2017 aos parágrafos 1º e 2º do artigo 840, da CLT proporciona impacto
na prática trabalhista, eis que introduz novos requisitos aos pedidos trazidos
nas petições iniciais protocolizadas nas Varas do Trabalho. 3. A exigência de 6
se consignar, na petição inicial, pedidos certos e determinados já era
observada nas reclamações trabalhistas, uma vez que a antiga redação do art.
840, §1º, da CLT não continha detalhes acerca do conteúdo e especificações
do pedido. Assim, aplicavam-se subsidiariamente (arts. 769, da CLT e 15, do
CPC) os artigos 322 e 324 do CPC, quanto à necessidade de que os pedidos
fossem certos e determinados. Com a entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017,
o §1º do art. 840, da CLT torna-se norma específica que disciplina os requisitos
da petição inicial no processo do trabalho. Portanto, além de estipular que os
pedidos devem ser certos e determinados, inaugura-se a obrigatoriedade de
que cada um contenha a indicação de seu valor. 4. Sob este viés, a exigência
de indicação do valor dos pedidos determinada pelo artigo 840, §1º, da CLT
objetiva que, desde a petição inicial, as partes delimitem, com razoável
destreza, o alcance de sua pretensão. 5. A despeito disso, a redação do artigo
840, §1º, da CLT de determinação de indicação do valor na petição inicial não
é inédita no sistema processual trabalhista. Desde os anos 2000, por meio do
art. 852-B, I, da CLT (introduzida pela Lei nº 9.957/2000), passou-se a exigir
que as petições iniciais submetidas ao rito sumaríssimo fossem líquidas, por se
tratarem de causas que, dada a natureza, possuem condições de ser
examinadas de forma mais célere pela Justiça do Trabalho, 6. Assim, o artigo
840, §1º, da CLT passou a prever uma equivalência entre os requisitos da
petição inicial das ações submetidas ao rito sumaríssimo e àquelas sob o rito
ordinário, cuja natureza das demandas, no entanto, tende a ser de ordem mais
complexa. 7. Efetivamente, antes das alterações promovidas pela Lei nº
13.467/2017 nas ações submetidas ao rito ordinário, o quantum debeatur era
estabelecido em fase própria de certificação, qual seja, a liquidação de
sentença. Ou seja, apenas depois de ultrapassada toda a instrução processual,
orientada pelo princípio da imediação, previsto no art. 820 da CLT, com a
respectiva colheita de provas e análise de cada uma delas, iniciava-se o
momento processual de liquidação dos pedidos. 8. Por força das
determinações legais de serem apresentados pedidos certos e determinados, o
sistema processual trabalhista então vigente, como houvera de ser, detinha
preservados a ampla defesa e o contraditório do réu, que tinha ao seu dispor a
possibilidade de contestar cada um dos pedidos, seja na fase de
conhecimento, seja na de liquidação. 9. Isto é, o novo comando do art. 840,
§1º, da CLT incorpora às demandas trabalhistas sob o rito ordinário critérios
técnicos jamais antes exigidos e, uma vez não cumpridos, ter-se-á como
consequência, a extinção do processo sem resolução de mérito, conforme
determina o também novo §3º, do art. 840, da CLT. Com isso, passou-se a
atribuir aos reclamantes o encargo processual de, para ingressar com uma
demanda trabalhista, apresentar valores que venham a corresponder ao objeto
dos pedidos, sem antes se ter iniciada a fase de instrução processual. 10.
Inobstante, o rigor técnico exigido pelo art. 840, §1º, da CLT, interpretado de
forma dissociada das demais normas e princípios que regem a processualística
trabalhista, conduz a um estreitamento do jus postulandi (art. 791, da CLT), que
historicamente é uma das características que mais singularizam, em essência,
a jurisdição trabalhista. A contrario sensu, preservando-se essa orientação,
mesmo com a nova redação do artigo 840, §1º, da CLT manteve-se a
orientação de que, na petição inicial, basta "uma breve exposição dos fatos",
uma vez que as partes, via de regra, não possuem conhecimentos técnicos
para formular ' fundamentos jurídicos do pedido. 11. Nesse cenário, a 7
interpretação gramatical do dispositivo pode conduzir à mitigação do jus
postulandi, em desatenção ao princípio do amplo acesso à jurisdição (art. 5º,
XXXV, da CF). 12. A determinação de indicação dos valores dos pedidos nas
causas submetidas ao rito ordinário tem como reflexo a controvérsia trazida
pela parte recorrente em seu recurso de revista, qual seja, a eventual
vinculação ou limitação da condenação aos valores atribuídos a cada pedido
apresentado já na exordial. 13. De fato, de acordo com a regra da congruência
entre os pedidos formulados na ação e a condenação arbitrada (arts. 832, da
CLT e arts. 141, §2º e 492, do CPC), nos termos do disciplinado nos arts. 141 e
492 do CPC, os valores indicados na petição inicial de forma líquida limitariam
àqueles arbitrados na condenação, sob pena de se incorrer em decisão extra,
ultra ou citra petita. 14. A partir desse cenário, a natureza do conflito trabalhista
submetido à apreciação desta Corte perpassa, entre outros, a averiguação
acerca da (im) possibilidade de se determinar que a condenação limite-se a
exatamente os valores indicados para cada pedido na petição inicial, sob pena
de violação aos artigos 141 e 492 do CPC. 15. No caso concreto,
diferentemente do que entendeu o acórdão regional recorrido, no que diz
respeito à indicação dos pedidos liquidados na petição inicial, a dicção dos
dispositivos acima deve ser cotejada não só com uma interpretação teleológica
do art. 840, §1º, da CLT, como também com os princípios da informalidade e
da simplicidade, que orientam toda a lógica processual trabalhista. A partir
desses princípios, no âmbito desta Justiça Especializada, não se pode exigir
das partes reclamantes que, para que recebam a integralidade das verbas a
que realmente fazem jus ao final de uma demanda trabalhista, correndo o risco
de uma decisão citra, ultra ou extra petita, submetam-se, eventualmente, às
regras de produção antecipada de prova e/ou contratação de serviço contábil
especializado, a fim de liquidar com precisão cada um dos pedidos para
adimplir a exigência do artigo 840, §1º, da CLT e, somente depois disso, ajuizar
uma demanda trabalhista. Interpretação nesse sentido afrontaria, a um só
tempo, o princípio da oralidade e o dispositivo, que, em conjunto, asseguram às
partes reclamantes o direito de ir a juízo pleitear as verbas que entendem lhe
serem devidas. 16. Ou seja, a análise sobre a necessidade de limitação do
valor da condenação àqueles previamente apresentados na exordial deve ser
orientada por uma perspectiva teleológica do direito processual do trabalho,
cuja interpretação dos dispositivos que o integram deve, pois, ser sempre
norteada pelos princípios do amplo acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF),
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), proteção social do trabalho
(art. 1º, IV, da CF). 17. Em atenção a isso e considerando o impacto do art.
840, §1º, da CLT na processualística trabalhista, assim como a necessidade de
oferecer ao jurisdicionado a segurança jurídica indispensável a possibilitar
estabilidade das relações processuais, este Tribunal Superior do Trabalho
aprovou a Instrução Normativa nº 41/2018, que determina que "Para fim do que
dispõe o art. 840, §§ 1º e 2º, da CLT, o valor da causa será estimado,
observando-se, no que couber, o disposto nos arts. 291 a 293 do Código de
Processo Civil". 18. A interpretação do art. 840, §1º, da CLT, aliada aos
princípios mencionados permite chegar à conclusão de que, tendo o
reclamante apresentado, em sua petição inicial, pedido certo e determinado
com indicação de valor - estimado -, por um lado, atende-se à exigência do art.
840, §1º, da CLT. Por outro lado, possibilita ao polo passivo o integral exercício
da ampla defesa e do contraditório, assegurados pelo artigo 5º, LV, da CF. 8
Trata-se, assim, de interpretação que observa os princípios constitucionais do
trabalho, conferindo, igualmente, efetivamente ao referido artigo celetista. 19.
Assim, a Instrução Normativa nº 41/2018 ao se referir ao "valor estimado da
causa" acaba por delimitar que o pedido apresentado na petição inicial "com
indicação de seu valor" a que se refere o art. 840, §1º, da CLT deve ser
considerado de forma estimada, eis que inexiste nos dispositivos do CPC a que
faz remissão a instrução normativa qualquer delimitação em sentido contrário.
O artigo 291, do CPC, pertinente à análise ora empreendida apenas se refere à
necessidade de indicação de "valor certo" da causa, inexistindo, portanto,
qualquer obrigação de liquidação do valor da causa, tampouco do pedido, com
efeito vinculativo à condenação. Ainda, considerando-se a necessária
aplicação supletiva do CPC à hipótese, a ausência de indicação de valores na
petição inicial não deve ter como consequência a extinção do feito sem
resolução do mérito, devendo-se oportunizar à parte a possibilidade de
saneamento do defeito, no prazo de 15 dias, por aplicação analógica da
Súmula 263 deste TST c/c arts. 4º, 6º e 317 do CPC. 20. Nesse mesmo
sentido, interpretando a redação do parágrafo 2º do artigo 12 da IN 41/2018 em
confronto com as exigências do art. 840, §1º, da CLT e, igualmente dos artigos
141 e 492 do CPC, este Tribunal Superior do Trabalho acumula precedentes
no sentido de que os valores constantes nos pedidos apresentados de forma
líquida na exordial devem ser considerados apenas como fim estimado, não
havendo limitação da condenação àquele montante. 21. Por fim, não se ignora
que a Eg. SBDI-1, do TST, em precedente publicado em 29/05/2020 (E-ARR-
10472- 61.2015.5.18.0211, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Relator Ministro Walmir Oliveira da Costa) firmou entendimento de que a parte
autora, ao formular pedidos com valores líquidos na petição inicial, sem
registrar qualquer ressalva, limita a condenação a tais parâmetros, por
expressa dicção do art. 492 do CPC. Ocorre que o precedente em questão
configura situação singular, eis que o recurso de embargos analisado foi
interposto em ação ajuizada antes da entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017
e, portanto, da alteração do art. 840, §1º, da CLT c/c Instrução Normativa
41/2018. Assim, não sem razão, a matéria não foi analisada sob a ótica destas
normas. Portanto, trata-se o caso concreto de hipótese que revela
singularidades quanto àquela analisada pela Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, razão pela qual esta Turma não fica a ela vinculada. 22. A
partir do exposto, na hipótese vertente, em que a inicial foi ajuizada em
11/12/2018, incidem as normas processuais previstas na CLT após as
alterações da Lei 13.467/2017. Portanto, os valores constantes nos pedidos
apresentados de forma líquida na reclamação trabalhista devem ser
considerados como mera estimativa, não sendo necessária qualquer ressalva
e/ou indicação de se tratarem de valores estimados, eis que já devem ser
assim considerados por força da Instrução Normativa nº 41/2018 c/c art. 840,
§1º, da CLT e dos princípios constitucionais que regem o processo do trabalho,
em especial os princípios do amplo acesso à jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF),
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), proteção social do trabalho
(art. 1º, IV, da CF). Recurso de revista de que se conhece e a que se dá
provimento" (RR-11609-45.2019.5.15.0042, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto
Bastos Balazeiro, DEJT 12/08/2022).

“INDEFERIMENTO DA INICIAL. RITO ORDINÁRIO. AÇÃO AJUIZADA NA 9


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. NOVA REDAÇÃO DO ARTIGO 840, § 1º,
DA CLT. PEDIDO CERTO E DETERMINADO. APRESENTAÇÃO DE
MEMÓRIA DE CÁLCULO. DESNECESSIDADE. A nova redação do § 1º do
artigo 840 da CLT, inserida pela Lei nº 13.467/2017, incluiu novas exigências,
dirigidas à parte autora, para o ajuizamento de reclamação trabalhista na
modalidade escrita. Tais exigências dizem respeito ao pedido formulado, “que
deverá ser certo, determinado e com indicação de seu valor”. Entende-se por
pedido certo aquele que não é realizado de forma implícita, em caráter vago ou
genérico, mas sim expresso na petição inicial, por exemplo, o pagamento de
horas extras não adimplidas no curso do contrato. Por outro lado, o pedido
determinado é aquele realizado de modo preciso, sem que haja margem de
interpretação sobre o bem da vida que se deseja, ou seja, em prosseguimento
do exemplo referido, o pagamento da 7ª e 8ª horas trabalhadas durante um
período determinado. Por fim, a indicação de valor é expressão autoexplicativa,
sendo obrigação da parte apontar o valor que pretende receber em razão de
cada pedido certo e determinado que formular. Verifica-se, portanto, que a
norma legal em questão em momento algum também determina que a parte
está obrigada a trazer memória de cálculo ou indicar de forma detalhada os
cálculos de liquidação que a levaram a atingir o valor indicado em seu pedido.
Observa-se que a previsão legal em questão tem por objetivo (mens legis),
possibilitar ao polo passivo o pleno exercício de seus direitos processuais
fundamentais de ampla defesa e de exercício do contraditório, como garantido
pelo artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Assim, havendo o reclamante
apresentado em sua peça inicial pedido certo e determinado, com indicação de
valor, está garantido ao reclamado a possibilidade de amplo exercício de seus
direitos, visto que este sabe precisamente, desde o início do processo, quais
são os pleitos formulados contra si. Ainda, não se pode interpretar tal previsão
legal de modo a, de forma irrazoável e desproporcional, atribuir um peso
desmedido sobre o reclamante que, ao início da demanda, não tem e nem
pode ter conhecimento nem possibilidade de acesso a todos os documentos e
informações necessárias para a precisa liquidação de suas pretensões,
exigindo-se lhe que apresente pedido com indicação precisa de valores,
inclusive com planilhas de cálculo detalhado, sob pena de, assim, impedir o
seu direito de acesso ao judiciário (artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição
Federal), direito este igualmente fundamental, tão importante quanto os da
ampla defesa e contraditório, ora mencionados. Resulta, portanto, que, ao
exigir do reclamante a formulação de pedido certo, determinado e com
indicação de valor, não pode o juiz da causa também lhe exigir a simultânea
apresentação de cálculos detalhados como, no caso em exame, indevidamente
exigiram as instâncias ordinárias, com a flagrante e direta violação dos direitos
fundamentais, constitucionalmente assegurados a ambas as partes, de acesso
ao Judiciário e de defesa de seus direitos materiais alegadamente violados ou
ameaçados (artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República). Recurso de
revista conhecido e provido.” (TST-RR-1001473-09.2018.5.02.0061, 2ª Turma,
Relator Min. José Roberto Freire Pimenta, Julgado em 24/2/2021.)

Tese 3 - O recurso ordinário com pedido de gratuidade da


10
justiça não deve ser trancado por deserção na origem.
A SDI-2 do TST tem reiterado que, nos casos em que o recurso ordinário
contiver pleito de gratuidade da justiça, cabe ao relator analisar a questão e,
assim, não cabe trancamento por deserção na instância a quo.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. ATO JUDICIAL DITO COATOR PROFERIDO NA VIGÊNCIA
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. AGRAVO DE INSTRUMENTO
EM RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. SINDICATO.
GRATUIDADE DE JUSTIÇA INDEFERIDA EM DESPACHO DE
ADMISSIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE TRANCAMENTO DO
RECURSO. I. Nos termos do art. 101, §1º, do Código de Processo Civil, o
recorrente que pleitear gratuidade de justiça estará dispensado do recolhimento
de custas até decisão do relator sobre a questão, preliminarmente ao
julgamento do recurso. II. No caso concreto, a autoridade regional não admitiu
o recurso ordinário do sindicato recorrente, por deserção, muito embora
tenham sido pleiteados os benefícios da gratuidade de justiça nas próprias
razões recursais. III. A parte interpôs agravo de instrumento alegando, em
síntese, que requereu, nas razões recursais, a dispensa do recolhimento das
custas processuais fixadas. IV. De fato, havendo pedido expresso de
gratuidade da justiça no recurso ordinário, não pode a autoridade regional
impedir o seguimento do apelo por deserção, sob pena de usurpar a
competência revisora deste Tribunal Superior. Precedentes desta Subseção. V.
Agravo de instrumento de que se conhece e a que se dá provimento.
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PESSOA
JURÍDICA. SINDICATO. NÃO COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE
FINANCEIRA. INSURGÊNCIA EXCLUSIVA EM RELAÇÃO À GRATUIDADE
DE JUSTIÇA. BENESSE INDEVIDA. CONHECIMENTO E NÃO
PROVIMENTO. I. Em relação à concessão da gratuidade de Justiça, esta Corte
Superior consolidou sua jurisprudência na Súmula nº 463, segundo a qual, no
caso de pessoa jurídica, não basta a mera declaração de pobreza, sendo
necessária a demonstração cabal da impossibilidade de a parte arcar com as
despesas do processo. II. Na hipótese dos autos, o sindicato recorrente
requereu a gratuidade de justiça, alegando que deveria ter sido aplicado, no
caso concreto, o art. 18 da Lei nº. 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública),
isentando-a do recolhimento de custas processuais. Trata-se de insurgência
relativa única e exclusivamente ao alegado direito à gratuidade de Justiça. III.
Contudo, verificou-se não ser o caso de aplicação da referida lei, tendo em
vista que o objetivo do sindicato com o ajuizamento da ação matriz e com a
impetração deste mandamus não comportam relação com os interesses por ela
tutelados. Ao revés, seu escopo se refere unicamente à defesa de seus
próprios interesses patrimoniais. Precedente específico. IV. Ademais,
entendeu-se que a parte recorrente não comprovou de forma cabal a
impossibilidade financeira de arcar com as custas fixadas pelo Tribunal
Regional a quo no valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais). V. Recurso
ordinário de que se conhece e a que se nega provimento" (ROT259-
75.2018.5.06.0000, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Relator
Ministro Evandro Pereira Valadao Lopes, DEJT 24/06/2022).
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Tese 4 – Possibilidade de uso do protesto judicial para


interrupção do prazo prescricional trabalhista.
A Reforma Trabalhista de 2017 fez constar na CLT que o ajuizamento da
ação seria o único motivo de interrupção da prescrição trabalhista. A
jurisprudência do TST, no entanto, aponta que as hipóteses de interrupção da
prescrição, previstas no direito comum, são aplicáveis supletivamente às
relações de trabalho, além de indicar que o protesto é considerado uma
modalidade de ajuizamento de ação, para fins de interrupção da prescrição. E,
importante ressaltar, a interrupção alcança tanto a prescrição bienal quanto a
prescrição quinquenal.

"RECURSO DE REVISTA. LEIS NºS 13.015/2014 E 13.467/2017. PROTESTO


JUDICIAL. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO. TRANSCENDÊNCIA
POLÍTICA RECONHECIDA. 1. A jurisprudência do TST é pacífica no sentido
de que o art. 11, § 3º, da CLT, introduzido pela Lei 13.467/2017, ao estabelecer
que a interrupção da prescrição somente ocorrerá pelo ajuizamento de
reclamação trabalhista, deve ser interpretado de forma sistemática com a
disciplina legal a respeito das causas interruptivas de prescrição, de modo que
remanesce aplicável o protesto judicial ao processo do trabalho. 2. Quanto aos
efeitos interruptivos do protesto sobre o prazo prescricional, o entendimento
desta Corte é no sentido de que a interrupção pelo ajuizamento do protesto
judicial atinge não apenas a prescrição bienal, como também a prescrição
quinquenal, desde que os direitos trabalhistas, a que se pretende a incidência
da interrupção da prescrição, sejam especificados na petição inicial (E-ED-RR-
92600- 76.2005.5.05.0462, SDI-1, Relator Ministro Jose Roberto Freire
Pimenta, DEJT 16/06/2017). Recurso de revista de que se conhece e a que se
dá provimento" (RR-743- 25.2019.5. 09.0242, 3ª Turma, Relator Ministro
Alberto Bastos Balazeiro, DEJT 06/05/2022).

Tese 5 – Suspensão da prescrição durante a pandemia.


Decisões isoladas apontam já que a lei 14.010 é aplicável às relações de
trabalho e, com isso, pelo menos entre 12 de junho e 30 de outubro de 2020, a
prescrição está suspensa.
Os Regionais debatem a possibilidade de considerar como termo inicial
da suspensão o ato do CNJ que suspendeu o atendimento presencial em todos
os tribunais ou a data em que a pandemia do covid-19 foi declarada como
estado de emergência de importância internacional.

PRESCRIÇÃO BIENAL. SUSPENSÃO. PANDEMIA COVID-19. LEI Nº


14.010/2020. APLICABILIDADE DE SEU ARTIGO 3º À ESFERA 12
TRABALHISTA Discute-se, no caso, a configuração da prescrição bienal,
tendo em vista a edição da Lei nº 14.010/2020, que suspendeu os prazos
prescricionais até 30/10/2020, em face da pandemia de Covid-19. No caso, não
se constata prescrição bienal, porquanto a ação em apreço foi ajuizada em
27/10/2020, quando ainda estava suspenso o prazo prescricional, nos termos
do artigo 3º da Lei nº 14.010/2020. Não há qualquer motivo, lógico ou jurídico,
que impeça a aplicação dessa lei federal, genérica e que não estabelece
qualquer exceção ou distinção, à esfera trabalhista e a suas correspondentes
obrigações e pretensões, até por força do artigo 8º, § 1º, da CLT, que
estabelece que o direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.
Em período de pandemia que atingiu da mesma forma todas as relações
jurídicas, econômicas e sociais, os empregados, assim como os demais
credores particulares, enfrentam severas dificuldades para buscar a satisfação
de seus direitos. Recurso de revista não conhecido" (RR-593-
04.2020.5.13.0014, 3ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta,
DEJT 02/09/2022).

Tese 6 – A contagem do prazo prescricional tem por termo


inicial o vencimento de cada obrigação, seguindo a lógica da
actio nata.
Como exemplo, se na ação que eu ajuizei em 5 de novembro de 2022,
estou pedindo horas extras, estão a salvo da prescrição todas as horas extras que eu
fiz de 1º de outubro de 2017 em diante. Por quê? Porque as horas extras trabalhadas
em outubro, são pagas até o quinto dia útil de novembro, no contracheque, junto com
o salário do mês de outubro, conforme regra do parágrafo único do art. 459 da CLT.
Assim, se o juiz declara a prescrição das pretensões anteriores a 05 de novembro de
2017, não está atingindo um direito que deveria ter sido pago no 5º dia útil de outubro.
A noção de actio nata indica que o termo inicial da prescrição só surge com a lesão, o
que ocorrerá, no caso das horas extras, não no dia em que eu faço uma hora extra,
mas, sim, no dia em que eu deveria ter recebido tal pagamento, mas assim não
procedeu o meu empregador.

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO. A decisão
Regional que considera como actio nata, na hipótese, a data da exigibilidade
dos salários, no quinto dia útil do mês seguinte, está em conformidade com a
jurisprudência pacífica desta Corte. Incide, portanto, a Súmula nº 333 desta
Corte como óbice ao prosseguimento da revista, a pretexto da alegada ofensa
aos dispositivos apontados. Agravo não provido" (Ag-AIRR-734-
63.2016.5.17.0010, 5ª Turma, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT
30/08/2019).

EMBARGOS. PRESCRIÇÃO. EXIGIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES NO MÊS


SEGUINTE. MARCO INICIAL. VENCIMENTO DA OBRIGAÇÃO. RECURSO 13
DE REVISTA DO SINDICATO CONHECIDO E PROVIDO. Nos termos do art.
199, II, do Código Civil, não corre prescrição antes de vencido o prazo para o
adimplemento da obrigação, o que, no caso em tela, se dá com o dia em que
haveria o crédito do salário, até 5º dia útil do mês seguinte ao do vencimento
da obrigação. Logo, considerando o vencimento dos créditos salariais referente
ao mês 06/2008, a prescrição deve ser contada levando em consideração a
data da exigibilidade dos salários, no quinto dia útil do mês seguinte, a
determinar que a prescrição não atingiu o direito dos empregados
substituídos. Embargos conhecidos e desprovidos. (E-ARR - 1234-
66.2013.5.15.0083 Data de Julgamento: 23/03/2017, Relator Ministro: Aloysio
Corrêa da Veiga, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 31/03/2017)

Tese 7 – Em casos de acidente do trabalho com morte do


empregado, o prazo de ajuizamento da ação pelos herdeiros é
de 3 anos, com base na lei civil.
Havendo o falecimento do trabalhador em virtude de acidente do
trabalho, o dano em ricochete será personalíssimo dos herdeiros ou das
pessoas próximas, que sofreram com o óbito. Assim, a prescrição a ser
aplicável não é a trabalhista, e, sim, o prazo de 3 anos previsto no Código Civil
para pleitos envolvendo ato ilícito.

"I - AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA


LEI 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL REFLEXO, INDIRETO
OU EM RICOCHETE. AÇÃO AJUIZADA PELOS SUCESSORES DO
EXEMPREGADO FALECIDO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE
TRABALHO. DIREITO PLEITEADO EM NOME PRÓPRIO. PRESCRIÇÃO
CIVIL. Constatado possível equívoco na decisão monocrática em que não
conhecido do recurso de revista da parte autora, o agravo merece provimento.
Agravo provido. II - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA
LEI 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL REFLEXO, INDIRETO
OU EM RICOCHETE. AÇÃO AJUIZADA PELOS SUCESSORES DO
EXEMPREGADO FALECIDO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE
TRABALHO. DIREITO PLEITEADO EM NOME PRÓPRIO. PRESCRIÇÃO
CIVIL. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CARACTERIZADA. 1. Discute-se a
prescrição aplicável à pretensão de indenização por danos morais em ação
ajuizada pelos sucessores, em nome próprio, em razão do falecimento do
trabalhador, o que teria decorrido de acidente do trabalho. 2. No âmbito desta
Corte Superior, encontra-se pacificado o entendimento de que o direito de
reparação dos danos de ricochete só nasce para os sucessores na data do
falecimento do ex-empregado. Ainda, entende-se que a prescrição aplicável à
pretensão de indenização por danos morais em ação ajuizada pelos
sucessores, em nome próprio, decorrente do falecimento de ex-empregado em
razão de doença ocupacional e/ou acidente de trabalho, é a trienal disposta no
art. 206, § 3º, V, do Código Civil. 3. Conclui-se, portanto, que o Tribunal
Regional, ao declarar a prescrição trabalhista bienal prevista no art. 7º, XXIX, 14
da Constituição Federal, proferiu decisão dissonante da consolidada no âmbito
desta Corte Superior, o que configura a transcendência política do debate.
Ainda, tendo ocorrido a morte do trabalhador em 25/8/2015, após a vigência do
Código Civil de 2002, aplicável o prazo prescricional civil trienal, na forma do
seu art. 206, § 3º, V, não havendo prescrição a ser declarada, na medida em
que a presente ação foi ajuizada em 19/2/2018. Recurso de revista conhecido e
provido" (AgRR-89-63.2018.5.23.0022, 5ª Turma, Relator Ministro Douglas
Alencar Rodrigues, DEJT 10/06/2022).

Tese 8 – A pretensão de retificação do PPP é imprescritível.


O pedido de retificação o perfil profissiográfico previdenciário tem por finalidade
fazer posterior prova perante a Previdência Social, para fins de contagem de
tempo especial de aposentadoria. Com isso, nos termos do art. 11 da CLT,
este pedido não prescreve.

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º


13.015/2014. PRESCRIÇÃO. RETIFICAÇÃO PERFIL PROFISSIOGRÁFICO
PREVIDENCIÁRIO. A ação cujo objeto é a declaração/retificação do trabalho
executado pelo Autor em documento para fins de prova perante o INSS não
sofre os efeitos da prescrição. Na hipótese dos autos, a pretensão de
declaração ou retificação quanto a condições do trabalho realizado no
documento Perfil Profissiográfico Profissional - PPP, embora se constitua numa
obrigação de fazer, não se sujeita à prescrição, consoante o disposto no art.
11, § 1º, da CLT. Recurso de revista conhecido provido" (RR-1000267-
03.2017.5.02.0252, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT
13/05/2022).

Tese 9 – Qualquer pedido que envolva a nulidade ou o


pagamento do aviso prévio indenizado interfere no dia inicial
da prescrição bienal.
A prescrição bienal é contada a partir do término do contrato de trabalho.
O TST entende que a projeção do aviso prévio indenizado, porventura devido
ao empregado, impacta na contagem do termo inicial da prescrição, ainda que
a ação seja proposta mais de 2 anos após o último dia trabalhado. Assim, nos
pedidos de (1) reconhecimento de vínculo empregatício, (2) reversão da justa
causa ou (3) conversão do pedido de demissão em despedida injusta ou
rescisão indireta, o juiz deverá primeiro analisar o motivo rescisório, decidir se
o reclamante tem direito ao aviso prévio indenizado e, em caso positivo, após a
projeção do seu tempo no término do contrato, será analisado se incide ou não
a prescrição bienal.
15
"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE NA
VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. NULIDADE
DO AVISO PRÉVIO. 1. O Tribunal Regional assentou que a controvérsia sobre
a invalidade do aviso prévio, pela ausência de redução da jornada em 2 (duas)
horas diárias, na forma do art. 488, caput, da CLT, não teria o condão de
alterar a data do término do contrato de trabalho. Ocorre, todavia, que, sendo
reconhecida a nulidade do pré-aviso, o trabalho realizado nesse período
corresponderia simplesmente a um mês de trabalho normal, impondo-se a
concessão de um período efetivo de no mínimo 30 (trinta) dias, a serem
projetados no contrato de trabalho, nos termos do art. 487, § 1.º, da CLT, e da
Orientação Jurisprudencial 82 da SBDI-1 do TST. 2. Deve, assim, ser afastada
a tese jurídica adotada na origem, restituindo-se os autos à Corte a quo para
analisar a questão, à luz da prova produzida nos autos. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-1916- 73.2016.5.05.0251, 8ª Turma, Relatora
Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT 11/04/2022).

"AGRAVO EM RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 - RECONHECIMENTO
JUDICIAL DE VÍNCULO DE EMPREGO - PRESCRIÇÃO BIENAL -
PROJEÇÃO DO AVISO-PRÉVIO INDENIZADO. 1. O período do aviso-prévio,
ainda que indenizado, integra o tempo de serviço do empregado, nos termos
do § 1º do art. 487 da CLT, operando-se a rescisão contratual apenas com o
seu término, conforme determina o caput do art. 487 da CLT e consoante o
entendimento consagrado na Orientação Jurisprudencial nº 83 da SBDI-1 do
TST. 2. Esta Subseção firmou o entendimento de que deve ser considerada a
projeção do aviso-prévio na contagem do prazo prescricional ainda que
controvertida a própria existência do vínculo de emprego, pois "a causa de
pedir alegada é aquela que diz respeito a um contrato cujo término não
cessaria na data em que cessou a prestação de trabalho, mas sim um mês
depois em razão do que prescreve o art. 487, § 1º, da CLT". 3. Consoante o
disposto no art. 894, §2º, da CLT, não enseja o conhecimento de embargos a
divergência superada pela atual e iterativa jurisprudência desta Corte. Agravo
desprovido" (Ag-E-RR-175-68.2011.5.09.0022, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Relator Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT
15/12/2017).

"PRESCRIÇÃO. PROJEÇÃO DO AVISO PRÉVIO NO TEMPO DE SERVIÇO.


ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 83 DA SBDI-1 DO TST. Trata o caso
dos autos da projeção do aviso prévio no tempo de serviço para efeito de
contagem do prazo prescricional. A dedução da pretensão levando-se em
conta um período de trabalho implica a projeção para dentro do biênio
prescricional, tendo em vista a incorporação do tempo de serviço de aviso
prévio. Não estaria a incidir a prescrição bienal, tendo em vista que a causa de
pedir alegada é aquela que diz respeito a um contrato cujo término não
cessaria na data em que cessou a prestação de trabalho, mas sim um mês
depois em razão do que prescreve o art. 487, § 1º, da CLT. O pedido de "aviso
prévio" importa, portanto, a integração ao tempo de serviço, o que influencia na
contagem do prazo prescricional bienal, nos termos do que recomenda a
Orientação Jurisprudencial nº 83 da SDI-1. Recurso de embargos conhecido e
não provido" (E-ED-RR-277-72.2012.5.01.0024, Subseção I Especializada em 16
Dissídios Individuais, Redator Ministro Augusto César Leite de Carvalho, DEJT
09/12/2016).

"(...) 2. PRESCRIÇÃO BIENAL. CONTAGEM. TERMO FINAL. REVERSÃO


DA DISPENSA POR JUSTA CAUSA EM JUÍZO. PROJEÇÃO DO AVISO
PRÉVIO. ALTERAÇÃO DA DATA DA EXTINÇÃO CONTRATUAL. O art. 7º,
XXIX, da CF/88 prevê que o empregado tem o prazo de até dois anos, a contar
da data de extinção do contrato de trabalho, para pleitear os créditos
resultantes da relação de emprego. Além disso, nos termos do art. 132, § 3º,
do Código Civil, "Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número
do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência". Nesse contexto,
recaindo o termo final do prazo prescricional bienal sobre dia sem expediente
forense, o prazo fica prorrogado para o primeiro dia útil, com expediente
subsequente ao fim da contagem, por aplicação dos arts. 775, parágrafo único,
da CLT e 184, § 1º, do CPC/1973 (art. 224 do CPC/2015). Na hipótese dos
autos, o Tribunal Regional consignou que o termo final para a propositura da
reclamação trabalhista recaiu no sábado (08/12/2012), de modo que, tendo a
Parte Recorrente ajuizado a presente ação no primeiro dia útil subsequente
(10/12/2012), não se há falar em prescrição. Esclareça-se que, como bem
entendeu a Corte de origem, a reversão da justa causa imputada ao
Reclamante atrai, nos termos das Orientações Jurisprudenciais 82 e 83, ambas
da SBDI-1/TST, a integração do período do respectivo aviso prévio ao seu
contrato de trabalho, postergando-se em, no mínimo, trinta dias a extinção
contratual e, por conseguinte, os termos de início e fim do prazo prescricional
bienal, o que é suficiente para enquadrar o ajuizamento da presente
reclamação trabalhista dentro deste prazo. Recurso de revista não conhecido
quanto ao tema" (RR-2770-87.2012.5.15.0135, 3ª Turma, Relator Ministro
Mauricio Godinho Delgado, DEJT 05/05/2017).

Tese 10 – Acidente do trabalho. Litisconsórcio entre o


trabalhador acidentado e sua esposa pelo dano em ricochete.
O dano em ricochete é muito perceptível quando o acidente do trabalho
resulta em morte do empregado. A tese aqui trazida é que o dano em
ricochete, devidamente provado, pode ser judicializado, em ação com
litisconsórcio entre o trabalhador acidentado e a pessoa próxima que também
sofreu os danos.
"(...) 2. LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. ACIDENTE DE
TRABALHO. AMPUTAÇÃO DA PERNA. INDENIZAÇÃO PLEITEADA PELO
OBREIRO E POR MEMBROS DO SEU NÚCLEO FAMILIAR. NÃO
PROVIMENTO. I. Cinge-se a controvérsia em aferir a possibilidade de
formação de litisconsórcio ativo entre o empregado e seu núcleo familiar
(cônjuge, ascendentes, descendentes e irmãos), em razão de supostos
prejuízos suportados pelo obreiro (danos materiais, morais e estéticos) e seus
familiares (dano moral por ricochete) decorrentes do acidente de trabalho que 17
acarretou a perda do membro inferior direito do empregado. II. O Tribunal
Regional entendeu que, "embora sejam diferentes as pretensões relativas aos
direitos da vítima direta (obreiro) e das vítimas mediatas (familiares), a causa
indireta do dano está obviamente associada à causa direta". III. No caso, o
pleito de indenização do obreiro e de seus familiares está alicerçado numa
causa comum, qual seja, o acidente de trabalho sofrido pelo empregado,
motivo pelo qual é passível de formação litisconsorcial, nos termos do art. 113,
III, do CPC/2015. Sob esse enfoque, não se divisa violação dos arts. 842 da
CLT e 113 do CPC/2015. IV. Também não se viabiliza o processamento do
recurso de revista por divergência jurisprudencial. O único aresto transcrito
para confronto de teses é inservível, já que oriundo de Turma desta Corte
Superior, órgão não elencado no art. 896, a, da CLT. V. Agravo de instrumento
de que se conhece e a que se nega provimento. 3. RESPONSABILIDADE
CIVIL DO (...) 4. ACIDENTE DE TRABALHO. AMPUTAÇÃO DA PERNA.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. FORNECIMENTO DE PRÓTESE.
PENSÃO MENSAL. FIXAÇÃO DE VALOR CORRESPONDENTE À
REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA. LIMITAÇÃO TEMPORAL.
JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO CARACTERIZADO. NÃO
PROVIMENTO. I. Quanto ao tema "fornecimento de prótese", a decisão
regional está em consonância com o princípio da reparação integral, que visa
ao pleno ressarcimento do prejuízo, de modo a assegurar ao lesado, na
medida do possível, o restabelecimento do status quo ante. Sob esse enfoque,
incólume o art. 944 do Código Civil. II. No tocante à "pensão mensal", o quadro
fático delineado pela Corte Regional revela que a incapacidade laborativa do
obreiro é total, estando o empregado inabilitado para o exercício da função
anterior (coletor de lixo urbano) em decorrência do acidente de trabalho sofrido.
Por essa razão, o Tribunal de origem manteve a sentença em que se deferiu o
pensionamento integral limitado ao período de incapacidade do Autor. III. No
caso, ao afirmar que a redução da capacidade laborativa do Autor consiste em
70%, a parte Reclamada pretende o processamento do seu recurso de revista
a partir de premissa fática diversa daquela consignada no acórdão recorrido, o
que atrai a incidência do óbice previsto na Súmula nº 126 do TST. IV. A
jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que a pensão mensal
(prevista no art. 950 do Código Civil) deve ser paga até o fim da convalescença
do empregado, não havendo qualquer limitação de idade. Conquanto tal
pensão não seja vitalícia, deve ser paga se e enquanto perdurar a
incapacidade para o labor. Decisão regional em conformidade com a
jurisprudência desta Corte Superior, no aspecto. Incidência do óbice previsto
no art. 896, § 7º, da CLT e na Súmula nº 333 do TST. V. Quanto ao alegado
"julgamento fora do pedido quanto à pensão mensal", verifica-se que a Corte
Regional, ao incluir todas as parcelas salariais no cálculo da pensão,
interpretou adequadamente o pleito constante da petição inicial,
circunscrevendo-se aos limites da postulação. Assim, não incorreu em
julgamento extra petita, uma vez que decidiu a lide nos limites em que foi
proposta. Incólume, portanto, o art. 492 do CPC/2015. VI. Agravo de
instrumento de que se conhece e a que se nega provimento. 5. ACIDENTE DE
TRABALHO. AMPUTAÇÃO DA PERNA. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. PENSÃO MENSAL. CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL.
CUMULAÇÃO DE PENSÃO MENSAL COM O BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE. NÃO PROVIMENTO. I. A iterativa, 18
notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho orienta-se no
sentido de que a constituição de capital consiste em faculdade atribuída ao
magistrado, com o fito de assegurar o pagamento da pensão mensal concedida
ao empregado a título de indenização por dano material. II. Também é firme a
jurisprudência desta Corte Superior no sentido de que inexiste óbice legal para
a percepção simultânea de benefício previdenciário e de indenização por danos
materiais, na forma de pensão. III. Dessa forma, o TRT de origem, ao
determinar constituição de capital referente ao pagamento de pensão mensal e
concluir pela possibilidade de cumulação do benefício previdenciário com a
pensão mensal, proferiu decisão em conformidade com a iterativa, notória e
atual jurisprudência desta Corte, o que inviabiliza o processamento do recurso
de revista, na forma do art. 896, § 7º, da CLT e da Súmula nº 333 do TST. IV.
Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega provimento. (...) 7.
ACIDENTE DE TRABALHO. AMPUTAÇÃO DA PERNA. VALOR
ARBITRADO A TÍTULO DE DANO MORAL (R$ 160.000,00) E ESTÉTICO (R$
120.000,00). REDUÇÃO PARA R$ 100.000,00 E R$ 60.000,00,
RESPECTIVAMENTE. DANO MORAL REFLEXO FIXADO EM VALOR
RAZOÁVEL E PROPORCIONAL (R$ 12.000,00). PARCIAL PROVIMENTO. I.
No que tange ao "valor das indenizações a título de dano moral e estético
arbitradas em favor do obreiro", verifica-se que, se por um lado, o quadro fático
delineado na origem não deixa dúvidas acerca da gravidade do abalo moral
sofrido pelo empregado em razão do acidente de trabalho que lhe acarretou a
amputação da perna direita, por outro, os montantes fixados pela instância
ordinária a título de dano moral (R$ 160.000,00) e estético (R$ 120.000,00)
mostram-se excessivos. Demonstrada violação do art. 944 do Código Civil. II.
Já em relação ao "valor arbitrado a título de dano moral reflexo (por ricochete)",
verifica-se que o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) deferido à esposa, aos
ascendentes e aos descendentes do obreiro, perfazendo o total de R$
60.000,00 (sessenta mil reais), não se mostra exorbitante, haja vista os danos
morais experimentados por eles (vítimas indiretas) em decorrência das lesões
sofridas pelo empregado (vítima direta). III. Agravo de instrumento de que se
conhece e a que se dá parcial provimento, para determinar o processamento
do recurso de revista, observando-se o disposto no ATO SEGJUD.GP Nº
202/2019 do TST. B) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMADA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI
Nº 13.015/2014 E ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. DESPACHO
DE ADMISSIBILIDADE PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA INSTRUÇÃO
NORMATIVA Nº 40/2016. 1. ACIDENTE DE TRABALHO. AMPUTAÇÃO DA
PERNA. VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE DANO MORAL (R$ 160.000,00)
E ESTÉTICO (R$ 120.000,00). REDUÇÃO PARA R$ 100.000,00 E R$
60.000,00, RESPECTIVAMENTE. DANO MORAL REFLEXO FIXADO EM
VALOR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL (R$ 12.000,00). PROVIMENTO. I. A
jurisprudência do TST adota o entendimento de que a alteração do quantum
arbitrado a título de dano moral e estético somente é possível quando o
montante fixado se mostra ínfimo ou exorbitante, em flagrante violação aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. II. Hipótese em que os
montantes fixados pela instância ordinária a título de dano moral (R$
160.000,00) e estético (R$ 120.000,00) mostram-se excessivos, à luz dos
parâmetros jurisprudenciais. III. Recurso de revista de que se conhece, por
violação do art. 944 do Código Civil, e a que se dá provimento. C) AGRAVO 19
DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELOS
RECLAMANTES. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA
LEI Nº 13.015/2014 E ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017.
DESPACHO DE ADMISSIBILIDADE PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40/2016. 1. ACIDENTE DE TRABALHO.
MAJORAÇÃO DO VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE DANO MORAL E
ESTÉTICO. PREJUDICADO. I. Em consequência do provimento do recurso de
revista interposto pela Reclamada, em que se reduziu o valor devido ao obreiro
a título de dano moral e estético decorrentes do acidente de trabalho, fica
prejudicado o exame do agravo de instrumento interposto pelos Reclamantes
quanto ao tópico em análise, que visava à majoração dos valores devidos ao
trabalhador a tais títulos. II. Agravo de instrumento prejudicado. 2. PENSÃO
MENSAL. PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA. FACULDADE DO
MAGISTRADO. DECISÃO REGIONAL EM CONFORMIDADE COM A
JURISPRUDÊNCIA ATUAL E NOTÓRIA DESTA CORTE SUPERIOR.
INCIDÊNCIA DO ÓBICE DO ART. 896, § 7º, DA CLT E DA SÚMULA Nº 333
DO TST. NÃO PROVIMENTO. I. O parágrafo único do art. 950 do Código Civil
prevê que "o prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja
arbitrada e paga de uma só vez". II. Sobre o tema, este Tribunal Superior tem
decidido reiteradamente que o exercício da opção pelo recebimento da parcela
indenizatória única por parte do empregado não é direito potestativo da parte.
Impõe-se ao julgador apreciar o pedido quanto à conveniência da conversão da
pensão mensal em pagamento único, avaliando as questões fáticas que
circundam o caso. III. A tese que prevalece neste Tribunal é no sentido de que
o julgador detém discricionariedade quanto à definição da forma de pagamento
da indenização por danos materiais (parcela única ou pensão mensal), em
razão do princípio da convicção fundamentada do julgador (art. 371 do
CPC/2015), ainda que a parte requerente tenha manifestado a opção de
receber parcela indenizatória única. IV. A decisão regional está em harmonia
com a iterativa, notória e atual jurisprudência desta Corte Superior sobre a
matéria, razão pela qual é inviável o processamento do recurso de revista, nos
termos dos arts. 896, § 7º, da CLT e da Súmula nº 333 do TST. V. Agravo de
instrumento de que se conhece e a que se nega provimento. (...)" (RR-10600-
36.2015.5.03.0070, 4ª Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT
01/10/2021).

Tese 11 – O espólio é parte ilegítima para ajuizar a ação


indenizatória por acidente do trabalho na hipótese de óbito do
trabalhador.
Se o acidente do trabalho resulta em morte do trabalhador, o dano a ser
reparado são os prejuízos sofridos pelas pessoas próximas, que sofrem a
perda do ente querido, além do potencial prejuízo envolvendo o sustento até
então de responsabilidade do de cujus.
Tanto a pretensão é personalíssima, que a jurisprudência admite o
ajuizamento de mais de uma ação, de autoria de parentes distintos, pleiteando
20
a indenização por danos decorrentes do óbito do trabalhador.
No caso de ação proposta por irmão do trabalhador falecido, a
jurisprudência está dividida se seria possível considerar um dano in re ipsa.
Assim, na dúvida, é importante que o advogado dos autores busque provar a
convivência e proximidade entre o autor da ação e o de cujus para viabilizar a
procedência do pedido.

"(...) ILEGITIMIDADE ATIVA DO ESPÓLIO DO EMPREGADO FALECIDO


PARA PLEITEAR INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
DECORRENTES DO EVENTO MORTE POR ACIDENTE DE TRABALHO.
RECURSO ORDINÁRIO NÃO CONHECIDO. MATÉRIA DE ORDEM
PÚBLICA. 1. A Corte Regional não analisou a questão relativa à ilegitimidade
ativa do espólio autor, invocada em sede de recurso ordinário pela 2ª
reclamada, sob o fundamento de que a empresa que não suscitou essa
preliminar em contestação, tratando-se, assim, de inovação recursal. 2. Por se
tratar-se de matéria processual de ordem pública, a ilegitimidade das partes é
cognoscível de ofício pelas instâncias ordinárias e poder ser alegada em
qualquer tempo e grau de jurisdição, nos estritos termos do art. 267, § 3º, do
CPC/1973 (art. 485, § 3º, do CPC/2015). Logo, a decisão regional que não
examinou a matéria, sob o fundamento da inovação recursal, afronta o art. 267,
§ 3º, do CPC/73 (vigente à época da decisão). Tem-se que se encontra madura
a causa para exame nesta instância recursal. Desnecessário, portanto, o
retorno dos autos ao Tribunal Regional. Passa-se à análise do mérito da
questão, com fundamento no art. 515, § 3º, do CPC de 1973 (art. 1.013, § 3º,
do CPC/2015). 3. Cinge-se a controvérsia em se definir se o espólio do
trabalhador que faleceu em virtude de acidente de trabalho tem legitimidade
para pleitear indenização por danos morais e materiais decorrentes do evento
morte. Esclareça-se que a ação foi intentada apenas pelo espólio do de cujus e
que não se pleiteiam verbas trabalhistas, mas sim indenização por danos
morais e materiais decorrentes do evento morte ocasionado enquanto o
trabalhador executava suas funções. 4. Acerca da legitimidade ad causam,
dispõe o artigo 18 do CPC/2015 que "Ninguém poderá pleitear direito alheio em
nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico". No sistema
processual brasileiro, a legitimidade ad causam é aferida pela pertinência
subjetiva da relação jurídica de direito material deduzida em Juízo. Na
hipótese, o espólio do empregado falecido propôs, em nome próprio, demanda
em que pleiteia indenização por danos morais e materiais aos herdeiros do de
cujus, vítima fatal de acidente de trabalho. Ocorre que o espólio (conjunto de
bens, direitos e obrigações que integram o patrimônio deixado pelo de cujus) é
parte legítima para pleitear apenas direitos transmissíveis, mas não direitos
personalíssimos dos herdeiros. 5. O entendimento que vem sendo adotado por
esta Corte Superior é o de que os danos morais e materiais são
intransmissíveis, dado o caráter personalíssimo, de forma que não integram a
massa patrimonial do de cujus. Precedentes da SbDI-1. Nesse contexto, deve
ser declarada a ilegitimidade ativa do espólio de Romário de Jesus da Cruz
para figurar nesta demanda. Recurso de revista de que se conhece e a que se
dá provimento. II - AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA
TERCEIRA RECLAMADA (VALE S.A.). Tendo em vista o provimento do
recurso de revista da segunda reclamada para extinguir o processo, sem 21
resolução do mérito, nos termos do art. 485, VI, do CPC/2015, fica prejudicado
o exame do agravo de instrumento interposto pela 3ª reclamada, Vale S.A"
(ARR-1683-84.2013.5.08.0126, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena
Mallmann, DEJT 08/04/2022).

"AGRAVO INTERNO EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO NA


VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014. LEGITIMIDADE ATIVA. INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. PEDIDO FORMULADO PELOS GENITORES DO
TRABALHADOR FALECIDO. EXISTÊNCIA DE AÇÃO ANTERIOR
AJUIZADA PELA VIÚVA E FILHA SOBRE O MESMO FATO GERADOR.
AUSÊNCIA DE PREJUDICIALIDADE. Discute-se nos autos a possibilidade de
os genitores do empregado falecido ajuizarem ação pleiteando indenização por
danos morais, nos casos em que há ação anterior proposta pela viúva e filha
do de cujus. O Regional, entendendo pela necessidade de se garantir a
segurança jurídica e prevenir indenizações em cascata, indeferiu a pretensão
formulada. Ocorre que, nos termos em que pontuado na decisão agravada, é
entendimento desta Corte Superior o de que, em tais casos, não há óbice
processual para que parentes postulem, em ações distintas, indenização por
danos morais, ainda que com base no mesmo fato gerador. Isso porque o
alegado abalo moral é direito personalíssimo, devendo ser pleiteado em nome
próprio e examinado à luz das peculiaridades ínsitas ao ofendido. Diante de
tais considerações, não há falar-se na modificação da decisão agravada que,
buscando adequar a situação jurídica em análise à jurisprudência sedimentada
nesta Corte, conheceu e deu provimento ao Recurso de Revista dos autores
para, afastando o óbice processual divisado pelo Regional, determinar o
retorno dos autos ao Tribunal de origem para o prosseguimento na análise e
julgamento dos temas prejudicados dos Recursos Ordinários. Agravo
conhecido e não provido" (Ag-RR-680-68.2014.5.09.0567, 1ª Turma, Relator
Ministro Luiz Jose Dezena da Silva, DEJT 28/01/2022).

"(...) 2. DANO MORAL INDIRETO OU EM RICOCHETE. NÚCLEO FAMILIAR.


DANO PRESUMIDO (IN RE IPSA). IRMÃO DA VÍTIMA. NECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DO CONVÍVIO PRÓXIMO COM A VÍTIMA E DE
ESTREITO LAÇO AFETIVO. NÃO COMPROVAÇÃO. PROVIMENTO. A
questão em análise consiste em saber se o dano moral indireto ou em
ricochete, o qual se presume em relação aos membros do núcleo familiar,
abrangeria o irmão da empregada vítima de acidente ou se ele, nessa
condição, não estaria inserido no mencionado grupo, necessitando comprovar
o estreito vínculo afetivo. É sabido que tanto a doutrina quanto a jurisprudência
pátria têm sido remansosa em admitir o dano moral indireto ou em ricochete.
Nesse tipo de dano, é possível que um terceiro, ligado por laços afetivos à
vítima direta, sofra de forma reflexa um prejuízo patrimonial ou
extrapatrimonial, o qual decorre do evento danoso principal. Entre os ofendidos
no dano moral indireto podemos citar os familiares mais próximos da vítima
imediata, os quais, nessa posição, gozam de presunção juris tantum quanto ao
prejuízo sofrido em decorrência do dano principal. Malgrado seja tranquila a
questão atinente à desnecessidade de prova do dano moral em ricochete
suportado pelo núcleo familiar, o mesmo não se pode dizer quando a discussão
envolve a delimitação dos membros que compõem o referido círculo, ou seja,
dos parentes que poderão ser considerados como integrantes do núcleo 22
familiar, para fins de presunção do prejuízo oriundo da lesão indireta. No que
diz respeito especificamente ao irmão da vítima, a jurisprudência caminha em
duas direções: a primeira adota posição de que o irmão da vítima não faz parte
do núcleo familiar, necessitando comprovar o convívio próximo da vítima direta
para que seja reconhecido o dano moral sofrido de forma reflexa. Precedentes;
já a segunda, ao contrário, esposa entendimento de que o irmão faz parte do
círculo familiar, sendo presumido o dano moral suportado (dano moral in re
ipsa). Precedentes. Data venia entendimento contrário, filio-me à jurisprudência
que restringe a cadeia de integrantes do núcleo familiar aos pais, cônjuge e
filhos, sendo que em relação ao irmão, a despeito de possuir legitimidade ativa
ad causam para pleitear compensação por dano moral indireto, deve produzir
prova de que possuía estreito laço de afetividade com a vitima imediatamente
ofendida. Ressalte-se que a limitação subjetiva dos pretendentes à reparação
do dano moral em ricochete revela-se necessária, pois, caso contrário, o dever
de reparar se estenderia a um número infinito de pessoas, as quais mantêm
laços de parentesco com a vítima imediata, tornando a obrigação do ofensor
desproporcional e fora dos limites da razoabilidade, já que condicionaria a
limitação do quantum compensatório ao número de integrantes do grupo
familiar e não propriamente à extensão do dano, como estabelecido pelo artigo
944, caput, do Código Civil. No caso dos autos, constata-se que o Tribunal
Regional reconheceu o direito do reclamante ao pagamento de compensação
por dano moral indireto ou em ricochete, no importe de R$ 800.000,00, por
considerar que ele, irmão da empregada vítima do desastre da barragem de
Brumadinho/MG, fazia parte do núcleo familiar da ofendida e, nessa condição,
prescindia a comprovação do prejuízo extrapatrimonial suportado. A referida
decisão, portanto, merece ser reformada, uma vez que, como realçado, não
integrando o reclamante o núcleo familiar, para o qual a presunção do dano é
presumida, caberia a ele, na condição de irmão, comprovar que mantinha
estreito laço afetivo e de convivência com a empregada vitimada. E não tendo
feito prova nesse sentido, não há como reconhecer o seu direito ao pagamento
de compensação por dano moral em ricochete. Recurso de revista de que se
conhece e a que se dá provimento" (RRAg-10489-23.2019.5.03.0099, 4ª
Turma, Relator Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, DEJT 11/02/2022).

Tese 12 – A culpa da Administração Pública, na condição de


tomadora de serviços, não pode ser fixada apenas em razão de
revelia da entidade.
Fica o alerta de que a revelia pode não ser suficiente para garantir a
responsabilidade subsidiária de tomador de serviços integrante da
Administração Pública.

"RECURSO DE REVISTA DA SÃO PAULO PREVIDÊNCIA - SPPREV -


RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA
TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS - ÔNUS DA PROVA - REJEIÇÃO DA TESE 23
DO ÔNUS DO ENTE PÚBLICO NO PRECEDENTE VINCULANTE DO STF
EMANADO DO RE 760.931 (TEMA 246 DE REPERCUSSÃO GERAL) -
ACOLHIMENTO DE RECLAMAÇÕES PELO STF POR DESCUMPRIMENTO
DESSE ENTENDIMENTO - TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA - VIOLAÇÃO DO
ART. 71, § 1º, DA LEI 8.666/93 - PROVIMENTO. 1. Ao apreciar a Reclamação
40.137, a 1ª Turma do STF assentou que "a leitura do acórdão paradigma
revela que os votos que compuseram a corrente majoritária no julgamento do
RE 760.931 (Tema 246 da sistemática da repercussão geral) assentaram ser
incompatível com reconhecimento da constitucionalidade do art. 71, § 1º, da
Lei 8.666/1993 o entendimento de que a culpa do ente administrativo seria
presumida e, consectariamente, afastaram a possibilidade de inversão do ônus
probatório na hipótese" (Red. Min. Luiz Fux, DJe 12/08/20). Tanto a 1ª quanto a
2ª Turmas do STF têm reiteradamente cassado decisões do TST que
reconhecem a responsabilidade subsidiária da administração pública por
inversão do ônus da prova em favor do empregado quanto à fiscalização do
cumprimento das obrigações trabalhistas pela empresa terceirizada. 2. Apesar
de tais decisões, que deixam claro o teor dos precedentes do STF sobre a
matéria, emanados da ADC 16 e do RE 760.931, a SDI-1, em sua composição
completa, reafirmou sua posição no sentido do ônus da prova da administração
pública, alegando silêncio sobre o ônus da prova nos precedentes do STF (E-
RR-925-07.2016.5.05.0281, Rel. Min. Cláudio Mascarenhas Brandão, de
12/12/19; E-ED-RR- 62-40.2017.5.20.0009, Rel. Min. Márcio Eurico Vitral
Amaro, de 10/09/20), em claro confronto com o decidido pelo Supremo Tribunal
Federal. 3. A Suprema Corte, diante de tal posicionamento do TST, a par de
erigir novo tema de repercussão geral (no 1.118), mas sem determinar o
sobrestamento dos feitos, continua a cassar, e de forma ainda mais incisiva,
decisões do TST que atribuam ao tomador dos serviços o ônus da prova da
culpa in vigilando, verbis: "Não se pode admitir a transferência para a
Administração Pública, por presunção de culpa, da responsabilidade pelo
pagamento dos encargos trabalhistas, fiscais e previdenciários devidos ao
empregado da empresa terceirizada, sequer sendo de se lhe atribuir a prova de
que não falhou em seus deveres legais, do que decorreria alguma
responsabilização. [...] Na espécie, a decisão reclamada revela injustificável e
obstinada relutância da autoridade reclamada em dar fiel cumprimento às
ordens emanadas deste Supremo Tribunal, o que não se pode admitir" (Rcl
51.899-RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgada em 17/03/22). 4. Tendo em vista o
caráter vinculante das decisões do STF em temas de repercussão geral, o que
não se dá com decisões da SDI-1 do TST, é de se sobrepor aquelas a estas. 5.
Por outro lado, o STF já assentou que a revelia da entidade pública não
autoriza o reconhecimento da responsabilidade subsidiária à administração,
pois "a simples aplicação da confissão ficta, sem evidenciar que a
Administração teve ciência do descumprimento de um dever trabalhista e não
adotou qualquer providência, não atende ao requisito acima exposto (qual seja,
a demonstração, por parte do reclamante, da culpa in vigilando da
administração pública)" (Rcl 46149/MA, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, DJe de
02/06/21). 6. No caso dos autos, o Regional extraiu a culpa in vigilando da não
demonstração, por parte da 2ª Reclamada, São Paulo Previdência - SPPREV,
da efetiva fiscalização do contrato, conjugada com o inadimplemento das
verbas trabalhistas pela Prestadora, louvando-se também na ocorrência de
revelia. 7. A partir do reconhecimento da culpa in vigilando da administração 24
pública na fiscalização do cumprimento das obrigações trabalhistas por parte
da empresa terceirizada, o Regional reconheceu a responsabilidade subsidiária
da SPPREV por essas obrigações, fazendo-o contra a literalidade do art. 71, §
1°, da Lei 8.666/93 e dos termos de exceção que o STF abriu ao comando
legal. 8. Assim, merece provimento o recurso de revista da 2ª Demandada, na
medida em que não cabe o reconhecimento da responsabilidade subsidiária do
ente público com lastro apenas na inadimplência da prestadora de serviços ou
na culpa presumida, com atribuição do onus probandi da fiscalização (ou da
não culpa) à Administração Pública. Recurso de revista provido" (RR-11822-
73.2016.5.15.0101, 4ª Turma, Relator Ministro Ives Gandra da Silva Martins
Filho, DEJT 30/09/2022).

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
REVELIA E CONFISSÃO FICTA DA ENTIDADE PÚBLICA. ADC 16/DF. RE
760.931. TEMA 246 DA REPERCUSSÃO GERAL DO STF. CULPA "IN
VIGILANDO". ÔNUS DA PROVA. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA
RECONHECIDA. 1. Confirma-se a decisão monocrática que negou seguimento
ao agravo de instrumento em recurso de revista. 2. Na hipótese, o acórdão
regional foi proferido em sintonia com a Súmula n.º 331, V e VI, do TST e nos
limites da decisão do STF na ADC 16/DF (Tema 246 da Repercussão Geral do
STF). 3. A responsabilidade subsidiária da Administração Pública não decorreu
de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas pela empresa prestadora
de serviços, mas em razão da conduta omissiva da entidade pública tomadora
de serviços na fiscalização do adimplemento dessa obrigação, notadamente,
em face de sua revelia e confissão ficta, premissa fática cujo reexame na via
recursal de natureza extraordinária é vedado pela Súmula n.º 126 do TST. 4.
Consoante a jurisprudência pacífica da SbDI-1 do TST, incumbe ao ente
público, tomador de serviço, o ônus de comprovar o cumprimento de seu dever
contratual e legal de fiscalizar o adimplemento das obrigações trabalhistas a
cargo da empresa contratada. Incidência do art. 896, § 7º, da CLT. Agravo a
que se nega provimento" (Ag-AIRR-10924-79.2020.5.15.0017, 1ª Turma,
Relator Ministro Amaury Rodrigues Pinto Junior, DEJT 30/09/2022).

Tese 13 – Validade da utilização de mensagem ou áudio de


conversa captada por um dos interlocutores.
Não existe sigilo de comunicação entre os interlocutores e, assim, é
válida a utilização de áudios e mensagens de aplicativo de celular,
independente do conhecimento ou concordância do outro interlocutor.

"AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA - PROVA LÍCITA - ÁUDIO E MENSAGENS EM APLICATIVO -
UTILIZAÇÃO POR UM DOS INTERLOCUTORES SEM O CONHECIMENTO 25
DO OUTRO - VALIDADE DA PROVA. 1. A utilização por um dos interlocutores
de áudio e de texto recebido por meio de aplicativo de mensagens é prova lícita
e pode ser utilizada em juízo, visto que entre as partes envolvidas não há sigilo
de comunicação. 2. A inviolabilidade do sigilo das comunicações de dados,
prevista no art. 5º, XII, da Constituição Federal, está direcionada à
interceptação de conversa por terceiros estranhos ao diálogo, o que não é o
caso dos autos. (...)" (Ag-AIRR-10290-35.2020.5.18.0103, 2ª Turma, Relatora
Desembargadora Convocada Margareth Rodrigues Costa, DEJT 24/06/2022).

Tese 14 – Ainda que substitua o empregado com deficiência, a


empresa promove desligamento irregular se não cumpre a cota
mínima de contratação de pessoas com deficiência ou
reabilitados perante a Previdência Social.
A lei previdenciária cria a cota de pessoas com deficiência e a exigência
de contratação de pessoa em condição semelhante como condição de validade
do desligamento imediato de empregado ocupante de uma das vagas. No
entanto, nesta decisão a Turma do TST esclarece que o não cumprimento da
cota, após a substituição do empregado despedido configura irregularidade da
dispensa.

"(...) 3 - DISPENSA IMOTIVADA DE EMPREGADO COM DEFICIÊNCIA OU


REABILITADO. HIPÓTESE EM QUE HOUVE COMPROVAÇÃO DE
CONTRATAÇÃO SUBSTITUTIVA. NECESSIDADE DE COMPROVAR O
ATENDIMENTO DO PERCENTUAL DE EMPREGADOS EM TAIS
CONDIÇÕES. REQUISITOS DO ART. 93, CAPUT E § 1.º DA LEI 8.213/91.
Hipótese em que, apesar de restar comprovado nos autos que houve
contratação substitutiva ao empregado deficiente dispensado imotivadamente,
o Tribunal Regional entendeu ser necessária ainda a comprovação de que a
empresa atendeu ao percentual previsto no caput do art. 93 da Lei 8.213/91.
Nesse contexto, escorreita a decisão Regional. Isso porque a norma do art. 93
da Lei 8.213/91 constitui verdadeira ação afirmativa, através da instituição de
cotas para empregados com deficiência e reabilitados da Previdência Social,
com intuito de assegurar a inserção e reinserção desses trabalhadores no
mercado de trabalho. A leitura do parágrafo primeiro do mencionado artigo não
pode ser feita de forma dissociada do que dispõe o seu caput, razão pela qual
não basta a contratação substitutiva ali estabelecida, sendo necessária ainda a
observância da cota prevista no caput (percentual mínimo de empregados
deficientes e reabilitados), finalidade precípua da norma. Tanto é verdade que
é indispensável a observância da cota que, se a empresa, mesmo com a
dispensa do empregado deficiente ou reabilitado, mantiver o percentual mínimo
previsto em lei, esta Corte tem entendido que não é necessária a contratação
substitutiva, uma vez que a cota do caput do art. 93 está sendo observada.
Precedentes. Todavia, no caso dos autos, consoante consignado no acórdão
recorrido, o reclamado não comprovou o atendimento à exigência legal de
manter em seus quadros o percentual mínimo de empregados deficientes e 26
reabilitados exigido pelo art. 93 da Lei 8.213/1991. Nesse contexto, devida a
reintegração do autor. Precedentes. Agravo não provido" (Ag-RR-11917-
61.2016.5.15.0115, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide Alves Miranda Arantes,
DEJT 01/07/2022).

Tese 15 – O casamento não prejudica a continuidade do


benefício de pensão mensal em favor da viúva de trabalhador
falecido em acidente do trabalho.
"(...) MATRIMÔNIO. CESSAÇÃO DO RECEBIMENTO DE PENSÃO DO DE
CUJUS. RECONHECIDA TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA. Nos termos do art.
948, II, do CC o período de recebimento de eventual pensão é limitado
somente à expectativa de vida do de cujus, descabendo limitá-la à eventual
superveniência de casamento ou união estável do cônjuge supérstite ou filhas
sucessoras. Recurso de revista conhecido e provido. (...)" (RRAg-11868-
05.2016.5.03.0034, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de
Carvalho, DEJT 11/03/2022).

Tese 16 - O motorista de aplicativo, a exemplo do UBER, pode


ser considerado empregado, em razão da subordinação
algorítima.
A matéria é polêmica. Existem decisões negando o vínculo e uma
decisão do TST acolhendo a pretensão de reconhecimento do vínculo de um
motorista com a empresa. UBER.

"RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014 E


ANTERIOR À LEI 13.467/2017. UBER DO BRASIL TECNOLOGIA LTDA.
NATUREZA JURÍDICA DA RELAÇÃO MANTIDA ENTRE OS
TRABALHADORES PRESTADORES DE SERVIÇOS E EMPRESAS QUE
ORGANIZAM, OFERTAM E EFETIVAM A GESTÃO DE PLATAFORMAS
DIGITAIS DE DISPONIBILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE AO
PÚBLICO, NO CASO, O TRANSPORTE DE PESSOAS E MERCADORIAS.
NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA FORÇA DE
TRABALHO HUMANA NO SISTEMA CAPITALISTA E NA LÓGICA DO
MERCADO ECONÔMICO. ESSENCIALIDADE DO LABOR DA PESSOA
HUMANA PARA A CONCRETIZAÇÃO DOS OBJETIVOS DA EMPRESA.
PROJEÇÃO DAS REGRAS CIVILIZATÓRIAS DO DIREITO DO TRABALHO
SOBRE O LABOR DAS PESSOAS NATURAIS. INCIDÊNCIA DAS NORMAS
QUE REGULAM O TRABALHO SUBORDINADO DESDE QUE NÃO
DEMONSTRADA A REAL AUTONOMIA NA OFERTA E UTILIZAÇÃO DA
MÃO DE OBRA DO TRABALHADOR (ART. 818, II, DA CLT).
CONFLUÊNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS HUMANISTAS E
SOCIAIS QUE ORIENTAM A MATÉRIA (PREÂMBULO DA CF/88; ART. 1º, III 27
E IV; ART. 3º, I, II, III E IV; ART. 5º, CAPUT; ART. 6º; ART. 7º, CAPUT E
SEUS INCISOS E PARÁGRAFO ÚNICO; ARTS. 8º ATÉ 11; ART. 170,
CAPUT E INCISOS III, VII E VIII; ART. 193, TODOS DA CONSTITUIÇÃO DE
1988). VÍNCULO DE EMPREGO. DADOS FÁTICOS CONSTANTES DO
ACÓRDÃO REGIONAL REFERINDOSE A RELAÇÃO SOCIOECONÔMICA
ABRANGENTE DE PERÍODO DE QUASE DOIS MESES. PRESENÇA DOS
ELEMENTOS INTEGRANTES DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA. INCIDÊNCIA,
ENTRE OUTROS PRECEITOS, TAMBÉM DA REGRA DISPOSTA NO
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 6º DA CLT (INSERIDA PELA LEI n.
12.551/2011), A QUAL ESTABELECE QUE "OS MEIOS TELEMÁTICOS E
INFORMATIZADOS DE COMANDO, CONTROLE E SUPERVISÃO SE
EQUIPARAM, PARA FINS DE SUBORDINAÇÃO JURÍDICA, AOS MEIOS
PESSOAIS E DIRETOS DE COMANDO, CONTROLE E SUPERVISÃO DO
TRABALHO ALHEIO". PRESENÇA, POIS, DOS CINCO ELEMENTOS DA
RELAÇÃO DE EMPREGO, OU SEJA: PESSOA HUMANA PRESTANDO
TRABALHO; COM PESSOALIDADE; COM ONEROSIDADE; COM NÃO
EVENTUALIDADE; COM SUBORDINAÇÃO. ÔNUS DA PROVA DO
TRABALHO AUTÔNOMO NÃO CUMPRIDO, PROCESSUALMENTE (ART
818, CLT), PELA EMPRESA DE PLATAFORMA DIGITAL QUE
ARREGIMENTA, ORGANIZA, DIRIGE E FISCALIZA A PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE. Cinge-se
a controvérsia do presente processo em definir se a relação jurídica havida
entre o Reclamante e a Reclamada - Uber do Brasil Tecnologia Ltda. -
configurou-se como vínculo de emprego (ou não). A solução da demanda exige
o exame e a reflexão sobre as novas e complexas fórmulas de contratação da
prestação laborativa, algo distintas do tradicional sistema de pactuação e
controle empregatícios, e que ora se desenvolvem por meio da utilização de
plataformas e aplicativos digitais, softwares e mecanismos informatizados
semelhantes, todos cuidadosamente instituídos, preservados e geridos por
sofisticadas (e, às vezes, gigantescas) empresas multinacionais e, até mesmo,
nacionais. É importante perceber que tais sistemas e ferramentas
computadorizados surgem no contexto do aprofundamento da revolução
tecnológica despontada na segunda metade do século XX (ou, um pouco à
frente, no início do século XXI), a partir da informática e da internet, propiciando
a geração de um sistema empresarial de plataformas digitais, de amplo acesso
ao público, as quais permitem um novo meio de arregimentação de mão de
obra, diretamente por intermédio desses aplicativos digitais, que têm o condão
de organizar, direcionar, fiscalizar e zelar pela hígida prestação de serviços
realizada ao cliente final. A modificação tecnológica e organizacional ocorrida
nas duas últimas décadas tem sido tão intensa que há, inclusive, autores e
correntes de pensamento que falam na existência de uma quarta revolução
tecnológica no sistema capitalista. Evidentemente que essa nova estrutura de
organização empresarial e de prestação de serviços facilita a aproximação e a
comunicação na sociedade e no âmbito da prestação de serviços ao público-
alvo, seja este formado por pessoas físicas ou por instituições. Porém a lógica
de sua estruturação e funcionamento também tem sido apreendida por grandes
corporações empresariais como oportunidade ímpar para reduzirem suas
estruturas produtivas e, especialmente, o custo do trabalho utilizado e
imprescindível para o bom funcionamento econômico da entidade empresarial.
De nenhuma valia econômica teria este sistema organizacional e tecnológico, 28
conforme se percebe, se não houvesse, é claro, a prestação laborativa por ele
propiciada ao público-alvo objetivado - neste caso, se não existissem
motoristas e carros organizadamente postos à disposição das pessoas físicas e
jurídicas. Realmente, os impactos dessa nova modalidade empresarial e de
organização do trabalho têm sido diversos: de um lado, potenciam, fortemente,
a um custo mais baixo do que o precedente, a oferta do trabalho de transporte
de pessoas e coisas no âmbito da sociedade; de outro lado, propiciam a
possibilidade de realização de trabalho por pessoas desempregadas, no
contexto de um desemprego agudo criado pelas políticas públicas e por outros
fatores inerentes à dinâmica da economia; mas, em terceiro lugar, pela
desregulamentação amplamente praticada por este sistema, gerando uma
inegável deterioração do trabalho humano, uma lancinante desigualdade no
poder de negociação entre as partes, uma ausência de regras de higiene e
saúde do trabalho, uma clara falta de proteção contra acidentes ou doenças
profissionais, uma impressionante inexistência de quaisquer direitos individuais
e sociais trabalhistas, a significativa ausência de proteções sindicais e, se não
bastasse, a grave e recorrente exclusão previdenciária. O argumento
empresarial, em tal quadro, segue no sentido de ser o novo sistema
organizacional e tecnológico tão disruptivo perante a sistemática de
contratação anterior que não se fazem presentes, em sua estrutura e dinâmica,
os elementos da relação empregatícia. E, efetivamente, é o que cabe
examinar, afinal, no presente processo. Passa-se, dessa maneira, ao exame da
relação socioeconômica e jurídica entre as partes do presente processo,
respeitados os aspectos fáticos lançados pelo próprio acórdão regional, como
determina a Súmula 126 do TST. Nesse exame, sem negligenciar a
complexidade das questões que envolvem a discussão dos autos, o eventual
enquadramento como vínculo empregatício da relação jurídica entre o
prestador de serviços e as plataformas digitais, pelo Poder Judiciário
Trabalhista no Brasil, vai depender das situações fáticas efetivamente
demonstradas, as quais, por sua própria complexidade, podem abarcar
inúmeras e múltiplas hipóteses. A propósito, no Direito brasileiro existe
sedimentada presunção de ser empregatício o vínculo jurídico formado - regido
pela Constituição da República (art. 7º) e pela CLT, portanto -, desde que seja
incontroversa a prestação de serviços por uma pessoa natural a alguém
(Súmula 212, TST). Essa presunção jurídica relativa (não absoluta, esclareça-
se) é clássica ao Direito do Trabalho, em geral, resultando de dois fatores
historicamente incontestáveis: a circunstância de ser a relação de emprego a
regra geral de conexão dos trabalhadores ao sistema socioeconômico
capitalista; a circunstância de a relação de emprego, desde o surgimento do
Direito do Trabalho, ter se tornado a fórmula mais favorável e protegida de
inserção da pessoa humana trabalhadora na competitiva e excludente
economia contemporânea. No Brasil, desponta a singularidade de esta antiga
presunção jurídica ter sido incorporada, de certo modo, até mesmo pela
Constituição da República de 1988, ao reconhecer, no vínculo empregatício,
um dos principais e mais eficazes instrumentos de realização de notável bloco
de seus princípios cardeais, tais como o da dignidade do ser humano, o da
centralidade da pessoa humana na ordem jurídica e na vida socioeconômica, o
da valorização do trabalho e do emprego, o da inviolabilidade física e psíquica
da pessoa humana, o da igualdade em sentido substancial, o da justiça social,
o do bem-estar individual e social, o da segurança e o da subordinação da 29
propriedade à sua função socioambiental. Com sabedoria, a Constituição
percebeu que não se criou, na História do Capitalismo, nessa direção inclusiva,
fórmula tão eficaz, larga, abrangente e democrática quanto a estruturada na
relação de emprego. Convergindo inúmeros preceitos constitucionais para o
estímulo, proteção e elogio à relação de emprego (ilustrativamente: Preâmbulo
da CF/88; art. 1º, III e IV; art. 3º, I, II, III e IV; art. 5º, caput; art. 6º; art. 7º, caput
e seus incisos e parágrafo único; arts. 8º até 11; art. 170, caput e incisos III, VII
e VIII; art. 193, todos do Texto Máximo de 1988), emerge clara a presunção
também constitucional em favor do vínculo empregatício no contexto de
existência de incontroversa prestação de trabalho na vida social e econômica.
De par com isso, a ordem jurídica não permite a contratação do trabalho por
pessoa natural, com os intensos elementos da relação de emprego, sem a
incidência do manto mínimo assecuratório da dignidade básica do ser humano
nessa seara da vida individual e socioeconômica. Em consequência, possuem
caráter manifestamente excetivo fórmulas alternativas de prestação de serviços
a alguém, por pessoas naturais, como, ilustrativamente, contratos de estágio,
vínculos autônomos ou eventuais, relações cooperativadas e as fórmulas
intituladas de "pejotização" e, mais recentemente, o trabalho de transporte de
pessoas e coisas via arregimentação e organização realizadas por empresas
de plataformas digitais. Em qualquer desses casos, estando presentes os
elementos da relação de emprego, esta prepondera e deve ser reconhecida,
uma vez que a verificação desses pressupostos, muitas vezes, demonstra que
a adoção de tais práticas se dá, essencialmente, como meio de precarizar as
relações empregatícias (art. 9º, da CLT). Nesse aspecto, cumpre enfatizar que
o fenômeno sóciojurídico da relação empregatícia emerge quando reunidos os
seus cinco elementos fático-jurídicos constitutivos: prestação de trabalho por
pessoa física a outrem, com pessoalidade, não eventualidade, onerosidade e
sob subordinação. Observe-se que, no âmbito processual, uma vez admitida a
prestação de serviços pelo suposto empregador/tomador de serviços, a ele
compete demonstrar que o labor se desenvolveu sob modalidade diversa da
relação de emprego, considerando a presunção (relativa) do vínculo
empregatício sedimentada há várias décadas no Direito do Trabalho, conforme
exaustivamente exposto. A análise casual das hipóteses discutidas em Juízo,
portanto, deve sempre se pautar no critério do ônus da prova - definido no art.
818 da CLT -, competindo ao obreiro demonstrar a prestação de serviços
(inciso I do art. 818 da CLT); e à Reclamada, provar eventual autonomia na
relação jurídica (inciso II do art. 818 da CLT). No caso dos autos, a prova
coligida no processo e referenciada pelo acórdão recorrido demonstrou que a
Reclamada administra um empreendimento relacionado ao transporte de
pessoas - e não mera interligação entre usuários do serviço e os motoristas
cadastrados no aplicativo - e que o Reclamante lhe prestou serviços como
motorista do aplicativo digital. Assim, ficaram firmemente demonstrados os
elementos integrantes da relação de emprego, conforme descrito
imediatamente a seguir. Em primeiro lugar, é inegável (e fato incontroverso) de
que o trabalho de dirigir o veículo e prestar o serviço de transporte, em
conformidade com as regras estabelecidas pela empresa de plataforma digital,
foi realizado, sim, por uma pessoa humana - no caso, o Reclamante. Em
segundo lugar, a pessoalidade também está comprovada, pois o Obreiro
precisou efetivar um cadastro individual na Reclamada, fornecendo dados
pessoais e bancários, bem como, no decorrer da execução do trabalho, foi 30
submetido a um sistema de avaliação individualizada, a partir de notas
atribuídas pelos clientes e pelo qual a Reclamada controlava a qualidade dos
serviços prestados. É também incontroverso de que todas as inúmeras e
incessantes avaliações feitas pela clientela final referem-se à pessoa física do
motorista uberizado, emergindo, assim, a presença óbvia do elemento fático e
jurídico da pessoalidade. O caráter oneroso do trabalho executado é também
incontroverso, pois a clientela faz o pagamento ao sistema virtual da empresa,
em geral por meio de cartão de crédito (podendo haver também, mais
raramente, pagamento em dinheiro) e, posteriormente, a empresa gestora do
sistema informatizado credita parte do valor apurado na conta corrente do
motorista. Ora, o trabalhador somente adere a esse sistema empresarial e de
prestação laborativa porque ele lhe assegura retribuição financeira em
decorrência de sua prestação de trabalho e em conformidade com um
determinado percentual dos valores apurados no exercício desse trabalho.
Sobre a não eventualidade, o labor do Reclamante estava inserido na dinâmica
intrínseca da atividade econômica da Reclamada e inexistia qualquer traço de
transitoriedade na prestação do serviço. Não era eventual, também, sob a
perspectiva da teoria do evento, na medida em que não se tratava de labor
desempenhado para certa obra ou serviço, decorrente de algum acontecimento
fortuito ou casual. De todo modo, é também incontroverso de que se trata de
labor inerente à rotina fundamental da empresa digital de transporte de
pessoas humanas, sem o qual tal empresa sequer existiria. Por fim, a
subordinação jurídica foi efetivamente demonstrada, destacando-se as
seguintes premissas que se extraem do acórdão regional, incompatíveis com a
suposta autonomia do trabalhador na execução do trabalho: 1) a Reclamada
organizava unilateralmente as chamadas dos seus clientes/passageiros e
indicava o motorista para prestar o serviço; 2) a empresa exigia a permanência
do Reclamante conectado à plataforma digital para prestar os serviços, sob
risco de descredenciamento da plataforma digital (perda do trabalho); 3) a
empresa avaliava continuamente a performance dos motoristas, por meio de
um controle telemático e pulverizado da qualidade dos serviços, a partir da
tecnologia da plataforma digital e das notas atribuídas pelos
clientes/passageiros ao trabalhador. Tal sistemática servia, inclusive, de
parâmetro para o descredenciamento do motorista em face da plataforma
digital - perda do trabalho -, caso o obreiro não alcançasse uma média mínima;
4) a prestação de serviços se desenvolvia diariamente, durante o período da
relação de trabalho - ou, pelo menos, com significativa intensidade durante os
dias das semanas -, com minucioso e telemático controle da Reclamada sobre
o trabalho e relativamente à estrita observância de suas diretrizes
organizacionais pelo trabalhador, tudo efetivado, aliás, com muita eficiência,
por intermédio da plataforma digital (meio telemático) e mediante a ativa e
intensa, embora difusa, participação dos seus clientes/passageiros. Saliente-se
ser fato notório (art. 337, I, do CPC/15) que a Reclamada é quem estabelece
unilateralmente os parâmetros mais essenciais da forma de prestação dos
serviços e da dinâmica de funcionamento da atividade econômica, como, por
exemplo, a definição do preço da corrida e do quilômetro rodado no âmbito de
sua plataforma digital. Desse quadro, se percebe a configuração da
subordinação jurídica nas diversas dimensões: a) clássica , em face da
existência de incessantes ordens diretas da Reclamada promovidas por meios
remotos e digitais (art. 6º, parágrafo primeiro, da CLT), demonstrando a 31
existência da assimetria poder de direção/subordinação e, ainda, os aspectos
diretivo, regulamentar, fiscalizatório e disciplinar do poder empregatício; b)
objetiva, tendo em vista o trabalho executado estritamente alinhado aos
objetivos empresariais; c) estrutural, mediante a inteira inserção do profissional
contratado na organização da atividade econômica desempenhada pela
Reclamada, em sua dinâmica de funcionamento e na cultura jurídica e
organizacional nela preponderante; d) por fim, a subordinação algorítima, que
consiste naquela efetivada por intermédio de aferições, acompanhamentos,
comandos, diretrizes e avaliações concretizadas pelo computador empresarial,
no denominado algoritmo digital típico de tais empresas da Tecnologia 4.0.
Saliente-se, por oportuno, que a suposta liberdade do profissional para definir
seus horários de trabalho e de folgas, para manter-se ligado, ou não, à
plataforma digital, bem como o fato de o Reclamante ser detentor e
mantenedor de uma ferramenta de trabalho - no caso, o automóvel utilizado
para o transporte de pessoas - são circunstâncias que não têm o condão de
definir o trabalho como autônomo e afastar a configuração do vínculo de
emprego. Reitere-se: a prestação de serviços ocorria diariamente, com
sujeição do Autor às ordens emanadas da Reclamada por meio remoto e
telemático (art. 6º, parágrafo único, da CLT); havia risco de sanção disciplinar
(exclusão da plataforma) em face da falta de assiduidade na conexão à
plataforma e das notas atribuídas pelos clientes/passageiros da Reclamada;
inexistia liberdade ou autonomia do Reclamante para definir os preços das
corridas e dos seus serviços prestados, bem como escolher os seus
passageiros (ou até mesmo criar uma carteira própria de clientes); não se
verificou o mínimo de domínio do trabalhador sobre a organização da atividade
empresarial, que era centralizada, metodicamente, no algoritmo da empresa
digital; ficou incontroversa a incidência das manifestações fiscalizatórias,
regulamentares e disciplinares do poder empregatício na relação de trabalho
analisada. Enfim, o trabalho foi prestado pelo Reclamante à Reclamada,
mediante remuneração, com subordinação, e de forma não eventual. Cabe
reiterar que, embora, neste caso concreto, tenham sido comprovados os
elementos da relação empregatícia, deve ser considerado que o ônus da prova
da autonomia recai sobre a defesa, ou seja, o ente empresarial, já que
inequívoca a prestação de trabalho (art. 818, II, da CLT), sendo forçoso
reconhecer, também, que a Reclamada não se desvencilhou satisfatoriamente
de seu encargo probatório. Dessa forma, deve ser reformado o acórdão
regional para se declarar a existência do vínculo de emprego entre as Partes,
nos termos da fundamentação. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-
100353-02.2017.5.01.0066, 3ª Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho
Delgado, DEJT 11/04/2022).
Tese 17 – Sem ajuste contratual, a empresa não pode excluir
do cálculo das comissões do vendedor os encargos
financeiros incidentes sobre o parcelamento feito pelo cliente.

"(...) II - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. LEI Nº 13.467/2017. 32


DIFERENÇAS DE COMISSÕES. PAGAMENTO À VISTA E PAGAMENTO À
PRAZO 1. Nos termos do art. 2º da Lei nº 3.207/57, que regulamenta as
atividades dos empregados vendedores, "o empregado vendedor terá direito à
comissão avençada sobre as vendas que realizar." 2. Não há na norma
distinção entre o preço a vista e o preço a prazo para o fim de incidência de
comissões sobre vendas, tampouco menção ao contrato de financiamento
havido entre o consumidor e a empresa nas vendas a prazo. 3. Assim, somente
se expressamente acordado entre empregado e empregadora poderia o
pagamento das comissões das vendas a prazo ser efetuado sobre o valor a
vista do produto vendido. 4. No caso, a reclamada computava no cálculo das
comissões pagas à reclamante tão só o valor da venda a vista, e não há
menção no acórdão de que havia previsão no contrato de trabalho nesse
sentido. Nesse contexto, prevalece o entendimento de que incidem comissões
sobre o financiamento nas vendas feitas a prazo e são devidas à reclamante as
respectivas diferenças. 5. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá
provimento. (...)" (RR-81-57.2020.5.23.0106, 6ª Turma, Relatora Ministra Katia
Magalhaes Arruda, DEJT 27/05/2022).

Tese 18 – Possibilidade de comprovar o justo motivo da


ausência que gerou o arquivamento do processo, quando da
propositura da segunda demanda.

"(...) RECURSO DE REVISTA SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017. AÇÃO


AJUIZADA APÓS A EFICÁCIA DA LEI 13.467/2017. ART. 844, § 2º, DA CLT.
BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. AUSÊNCIA INJUSTIFICADA À
AUDIÊNCIA. ARQUIVAMENTO DA RECLAMAÇÃO TRABALHISTA.
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE CUSTAS. REQUISITOS DO ARTIGO
896, § 1º-A, DA CLT ATENDIDOS. Trata-se de debate acerca da pretensão da
reclamada de condenação do beneficiário da justiça gratuita ao pagamento das
custas processuais, ante sua ausência injustificada à audiência designada pelo
juízo, em reclamação trabalhista proposta após a eficácia da Lei 13.467/2017,
que acresceu o § 2º ao art. 844 da CLT. Em rigor, a inclusão do beneficiário da
justiça gratuita entre os virtuais condenados por custas está em aparente
colisão com o art. 790-A da CLT (que o isenta, sem peias, das custas
processuais) e com o senso comum, daí a isenção se renovar no caso de o
trabalhador, mesmo após o trânsito em julgado (que se opera no oitavo dia
depois da sentença), comprovar o motivo de seu não comparecimento à
audiência no prazo legal (prazo maior, de quinze dias a partir da sentença). E
mesmo o reflexo em outro processo (art. 844, § 3º, da CLT, o qual inibe a
propositura de nova demanda enquanto não pagas as custas do processo
anterior) dá-se na conta dos pressupostos processuais - que não repercutem,
regra geral, com os efeitos da coisa julgada material. Nova discussão sobre a
exigência de custas em hipótese de gratuidade judiciária poderá suceder,
portanto, na demanda seguinte, de tal feita sob as luzes do direito
constitucional à tutela judicial, inclusive aos que comprovarem insuficiência de
recursos (art. 5º, XXXV e LXXIV, da CRFB). O que justifica e, nessa medida,
confere validade constitucional ao art. 844, § 2º, da CLT, é o intuito de impedir 33
a litigância temerária, pois ao trabalhador pobre não é dado provocar
infundadamente a jurisdição, ou onerar a parte contrária com demanda judicial,
se não há interesse em submeter-se, verdadeiramente, ao juiz natural da
causa. Não por outra razão, a ordem jurídica lhe concede dupla oportunidade,
como visto, para justificar a sua contumácia e provar assim que não incidiu em
aventura processual. No aspecto, tem se firmado nesta Corte Superior o
entendimento de que, para as reclamações trabalhistas ajuizadas após a
eficácia da Lei 13.467/2017, a imposição de condenação ao pagamento das
custas processuais, ao beneficiário da justiça gratuita que não apresenta
motivo legalmente justificável para sua ausência no prazo conferido em lei,
como ocorreu no caso concreto, não importa em ofensa aos princípios
constitucionais insculpidos no art. 5º, XXXV e LXXIV, da Constituição Federal.
Compreende-se que o aludido dispositivo legal (art. 844, § 2º, da CLT) confere,
na verdade, efetividade ao princípio da razoável duração do processo (art. 5º,
LXXVIII, da CF), na medida em que inspira a litigância responsável.
Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-1000851-
33.2019.5.02.0468, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de
Carvalho, DEJT 18/02/2022).

Tese 19 – Para que seja considerada a dedicação exclusiva do


advogado, para afastar a jornada legal de 4 horas diárias, é
imprescindível o ajuste de cláusula contratual expressa
tratando desta condição.
Recentemente, o Estatuto da OAB foi alterado para generalizar a
jornada de 8 horas para todos os advogados empregados. Ainda assim, pelo
menos para a prestação de serviços anterior à mudança da lei, prevalece a
tese aqui disposta, no sentido de que o ajuste formal de cláusula por escrito
prevendo a dedicação exclusiva era imprescindível para afastar o regime de 4
horas de jornada.

"(...) II - RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/2014. TRANSCENDÊNCIA


RECONHECIDA. HORAS EXTRAS. JORNADA DE TRABALHO.
ADVOGADO EMPREGADO. EMPRESA PRIVADA. CONTRATAÇÃO
POSTERIOR AO ADVENTO DA LEI 8.906/94. DEDICAÇÃO EXCLUSIVA.
NECESSIDADE DE CLÁUSULA EXPRESSA. Nos termos dos arts. 20, caput,
da Lei 8.906/94 e 12 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e da
Ordem dos Advogados do Brasil, a configuração do regime de dedicação
exclusiva do advogado empregado depende de previsão expressa em contrato
individual de trabalho. Precedentes. Recurso de revista de que se conhece e a
que se dá provimento" (RR914-60.2019.5.11.0004, 5ª Turma, Relator Ministro
Alberto Bastos Balazeiro, DEJT 07/01/2022).

Tese 20 – Reconhecimento do vínculo em razão da constatação 34


de fraude na terceirização, configurando pessoalidade ou
subordinação.
"RECURSO DE REVISTA. LEI 13.467/2017. TRANSCENDÊNCIA
RECONHECIDA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. FRAUDE.
PRESENÇA DOS REQUISITOS DOS ARTS. 2.º E 3.º DA CLT.
DISTINGUISHING (SÚMULA 126 DO TST). O Supremo Tribunal Federal, no
dia 30/08/2018, no julgamento da ADPF 324 e do RE 958252, aprovou a tese
em sede de repercussão geral que: "É licita a terceirização ou qualquer outra
forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas,
independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a
responsabilidade subsidiária da empresa contratante" (RE 958252). Portanto,
de acordo com a Suprema Corte, é lícita a terceirização em todas as etapas do
processo produtivo, sem distinção entre atividade-meio ou atividade-fim. Sob
essa perspectiva, não é mais possível reconhecer vínculo direto com a
tomadora dos serviços, em razão apenas da terceirização da atividade-fim.
Todavia, admite-se a aplicação do distinguishing quanto à tese fixada no
julgamento proferido pelo STF, quando, na análise do caso concreto, verifica-
se a existência de fraude pelas reclamadas para obstar a verificação dos
pressupostos dos artigos 2º e 3º da CLT, situação que autoriza o
reconhecimento do vínculo empregatício direto com a tomadora de serviço,
como ocorre no caso em tela. Constatada fraude na aplicação da legislação
trabalhista, impõe-se reconhecer a ilicitude da terceirização perpetrada pelas
reclamadas. A revisão do entendimento adotado pelo tribunal regional implica
no necessário revolvimento de fatos e provas, o que encontra óbice na Súmula
126 do TST. Recurso de revista não conhecido" (RR-670-45.2017.5.06.0262,
2ª Turma, Relatora Ministra Delaide Miranda Arantes, DEJT 18/12/2020).

Tese 21 – O uso da produção antecipada de provas para a


realização de perícia médica é viável, ainda que o requerente
não demonstre a urgência da prova.
"(...) RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE SOB A ÉGIDE DA LEI
13.467/2017. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS. ART. 381, III, DO
CPC. TRANSCENDÊNCIA SOCIAL E JURÍDICA. A possibilidade de que o
trabalhador se valha da ação de produção antecipada de provas prevista no
art. 381, II e III, do CPC trata-se de debate novo, decorrente do advento da Lei
13.467/2017, a qual atribuiu àquele o ônus pelas despesas processuais de
sucumbência. Verificada, nos termos do art. 896-A, § 1º, III e IV, da CLT, a
existência de transcendência social e jurídica. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE
PROVAS. ART. 381, III, DO CPC. TRANSCENDÊNCIA SOCIAL E JURÍDICA.
ATENDIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 896, § 1º-A, DA CLT. O inciso III
do art. 381 do CPC autoriza a produção antecipada de prova, mesmo nas
hipóteses em que não há urgência na sua colheita, mas quando o prévio
conhecimento dos fatos possa justificar ou obstar o ajuizamento da ação
principal. Ou seja, a necessidade de a parte aferir a viabilidade de sua
pretensão já configura, per se, motivo apto a legitimar a ação de produção
antecipada de provas. Por sua vez, a Lei n. 13.467/2017 introduziu os arts. 35
790-B e 791-A à CLT, os quais alteraram a sistemática anterior e impuseram
ao trabalhador o pagamento de honorários advocatícios e periciais de
sucumbência, mesmo se beneficiário da justiça gratuita. Por esse motivo, têm
sido frequentes, na Justiça do Trabalho, os pedidos de produção antecipada de
provas por empregados, com esteio no art. 381, II e III, do CPC, como uma
forma de eles avaliarem antecipadamente a viabilidade da pretensão e de
evitar o ajuizamento de reclamações trabalhistas cujos pedidos poderão ser
rejeitados e assim gerarão despesas processuais. Salienta-se ser o aludido
dispositivo perfeitamente aplicável ao direito processual do trabalho, ante o que
dispõe o art. 769 da CLT e recomenda o princípio da aptidão para a prova.
Nesse viés, em razão do ônus atribuído ao trabalhador pelas despesas
sucumbenciais, inegavelmente legítimo o seu interesse processual de postular
em juízo, sem o ônus financeiro que sua vulnerabilidade econômica poderia
tornar insustentável, a produção antecipada de provas. E tal se dá, sobretudo,
quando o trabalhador não detém consigo a prova que, estando virtualmente em
poder do empregador como prova pré-constituída ou referindo-se a algo incerto
que repute verossímil, revelar-se prova necessária para que estime a futura
viabilidade de sua pretensão. In casu, o empregado ajuizou a presente
demanda com o fito de realizar a produção antecipada de prova pericial
médica, a fim de demonstrar, potencialmente, o nexo causal entre o labor e as
patologias supostamente dele decorrentes, bem como requereu cópia do
processo administrativo o qual ensejou sua despedida por justa causa. Nesse
diapasão, ao entender incabível a produção antecipada de prova no caso
concreto, por carecer de urgência, o Tribunal Regional maculou o disposto no
art. 381, III, do CPC. Recurso de revista conhecido e provido" (ARR-10610-
81.2018.5.15.0057, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de
Carvalho, DEJT 12/03/2021).

Tese 22 – Nulidade processual em razão do perito negar o nexo


de causalidade da doença com o trabalho sem visitar o local de
trabalho do reclamante.
"DOENÇA OCUPACIONAL - VERIFICAÇÃO POR PERÍCIA QUE NÃO
EXAMINA O LOCAL DE TRABALHO - CERCEIO DE DEFESA -
TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA - VIOLAÇÃO DO ART. 5º, LIV E LV, DA CF -
RECURSO PROVIDO. 1. Constitui transcendência jurídica do recurso de
revista a novidade da causa nele veiculada, a exigir uniformização e
pacificação da jurisprudência pelo TST (CLT, art. 896-A, § 1º, IV). Não tendo
este Relator se debruçado anteriormente sobre a questão da configuração, ou
não, de cerceio de defesa pela não visita do perito ao local de trabalho,
limitando-se ao exame clínico do paciente para concluir no sentido da não
caracterização de doença ocupacional, quando as dores são lombares e
podem ter relação com a ergonomia do trabalho, reconhece-se a
transcendência jurídica da causa. 2. No mérito, o fundamento principal do
Regional para dispensar a visita ao local de trabalho foi o art. 11 da Resolução
1488/98 do Conselho Federal de Medicina, que contemplaria a facultatividade
do exame local. Ora, tal resolução foi revogada pela Resolução 2.183/18 do 36
CFM, que, em seu art. 13, dispõe como deveres do perito médico examinar
clinicamente o trabalhador, vistoriar o local de trabalho e estabelecer o nexo
causal entre patologia e ocupação profissional. E a nova resolução do CFM era
a que estava vigente à época da propositura da ação. 3. Assim, laudo pericial
sem visita ao local de trabalho, concluindo pela inexistência de nexo causal
entre doença e trabalho, incorre em patente cerceio de defesa do Reclamante,
com violação direta do art. 5º, LIV e LV, da CF, por patente atropelo dos
princípios do devido processo legal e da ampla defesa. 4. Assim, é de se dar
provimento ao recurso de revista, para decretar a nulidade do processo a partir
da confecção do laudo pericial, determinando-se a nomeação de novo perito e
a elaboração de novo laudo pericial, com visita ao local de trabalho, para
verificação das condições da prestação laboral pelo Reclamante, com seu
acompanhamento, nos termos do art. 13, II, da Resolução 2.183/18, ficando
prejudicada a questão relativa aos ônus da sucumbência, relativos aos
honorários advocatícios e periciais frente à gratuidade de justiça. Recurso de
revista provido" (RR-1001983-02.2018.5.02.0391, 4ª Turma, Relator Ministro
Ives Gandra Martins Filho, DEJT 04/09/2020).

Tese 23 – Cabe indenização por danos morais pelas más


condições sanitárias oferecidas a trabalhadores externos, a
exemplo dos empregados da limpeza urbana e do transporte
coletivo.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE


REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE
TRABALHO. AUSÊNCIA DE REFEITÓRIOS, SANITÁRIOS E ÁGUA
POTÁVEL. TRABALHADOR EXTERNO. GARI. Trata-se de condenação ao
pagamento de indenização por danos morais decorrentes das condições
degradantes a que foi submetido trabalhador da coleta de lixo (gari), tendo em
vista a ausência de refeitórios, sanitários e água potável durante o labor. A
pessoa humana é objeto de proteção do ordenamento jurídico, sendo detentora
de direitos que lhe permitam a existência digna, própria de um ser humano,
devendo ser tratado como um fim em si mesmo, sem atuar como instrumento
para alcançar qualquer outro objetivo. Nesse sentido, a Constituição Federal de
1988, no rol dos direitos individuais do cidadão, assegura que ninguém será
submetido a tratamento desumano ou degradante e, no seu artigo 170, caput,
erige o trabalho humano como fundamento da ordem econômica, que tem por
fim assegurar a todos existência digna. Hodiernamente, não se discute mais
que os direitos fundamentais são dotados de eficácia horizontal, devendo ser
observados, também, nas relações privadas, no que se incluem as relações
trabalhistas. Nesse contexto, é indubitável que competia à reclamada
empreender todos os esforços necessários para garantir a segurança e higiene
dos trabalhadores no desempenho da atividade laboral, nos termos em que
determina o artigo 7º, inciso XXII, da Constituição Federal, uma vez que a
responsabilidade pela adequação dos procedimentos e pela segurança e 37
higiene do ambiente de trabalho é da empresa, e não dos prestadores de
serviços que nela atuam. No caso, a reclamada não cuidou de providenciar
condições dignas de trabalho ao autor, o que evidencia o descaso e o
desrespeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores, notadamente o direito
à higidez do ambiente de trabalho. Destaca-se que a existência de acordo
tácito, autorizador da utilização de banheiros pelos trabalhadores, entre a
empresa e os comerciantes da região, reveste-se de caráter apenas informal,
de maneira que não se pode aceitar que aqueles que exercem trabalho externo
fiquem a mercê de ajuste que pode ser violado e revogado a qualquer
momento. Ainda oportuno anotar a restrição do funcionamento de tais
estabelecimentos ao horário comercial. Fato é que as atividades de limpeza
urbana desenvolvem-se durante o dia e a noite, não sendo limitadas ao horário
comercial, de modo que, em determinado período do dia, o acordo firmado não
possui aplicação prática, visto que o comerciante não abrirá seu
estabelecimento mais cedo, tampouco o fechará mais tarde, somente para
fazer cumprir um ajuste informalmente estabelecido. Assim, considerando que
a empresa não cumpriu com a obrigação de zelar por um ambiente de trabalho
adequado, exigida no artigo 157 da CLT, afetando a dignidade do trabalho
desenvolvido pelo autor, a indenização por dano moral é medida que se impõe.
Agravo de instrumento desprovido" (AIRR-24711-18.2016.5.24.0066, 2ª Turma,
Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 15/10/2021).

"(...) RECURSO DE REVISTA DO AUTOR. LEI 13.467/2017.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. DANOS MORAIS
CAUSADOS AO EMPREGADO. CARACTERIZAÇÃO. MOTORISTA.
TRANSPORTE COLETIVO URBANO. INSUFICIÊNCIA E INADEQUAÇÃO
DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO. SITUAÇÃO DEGRADANTE.
NECESSIDADE DE BANHEIROS QUÍMICOS NO PONTO FINAL DA LINHA
DE ÔNIBUS. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA. A
responsabilidade civil do empregador pela reparação decorrente de danos
morais causados ao empregado pressupõe a existência de três requisitos,
quais sejam: a conduta (culposa, em regra), o dano propriamente dito (violação
aos atributos da personalidade) e o nexo causal entre esses dois elementos. O
primeiro é a ação ou omissão de alguém que produz consequências às quais o
sistema jurídico reconhece relevância. É certo que esse agir de modo
consciente é ainda caracterizado por ser contrário ao Direito, daí falar-se que,
em princípio, a responsabilidade exige a presença da conduta culposa do
agente, o que significa ação inicialmente de forma ilícita e que se distancia dos
padrões socialmente adequados, muito embora possa haver o dever de
ressarcimento dos danos, mesmo nos casos de conduta lícita. O segundo
elemento é o dano que, nas palavras de Sérgio Cavalieri Filho, consiste na "[...]
subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza,
quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da
própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc.
Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral,
vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral". Finalmente, o
último elemento é o nexo causal, a consequência que se afirma existir e a
causa que a provocou; é o encadeamento dos acontecimentos derivados da
ação humana e os efeitos por ela gerados. Na presente situação, a reclamada
submeteu o trabalhador a situação degradante ao não disponibilizar, durante a 38
jornada de trabalho, locais adequados para a satisfação das suas
necessidades fisiológicas configura dano moral, passível de reparação. Há
precedentes. Recurso de revista conhecido e provido" (ARR-1000206-
33.2016.5.02.0332, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao,
DEJT 27/05/2022).

Tese 24 – O empregado que pilota motocicleta tem direito ao


adicional de periculosidade, inclusive no trabalho como
instrutor de autoescola, vendedor ou como montador de
móveis.
Fiquem atentos para esta oportunidade. Milhares de instrutores de
autoescola, que ministram aulas pilotando motocicleta não recebem o adicional
de motocicleta. O que importa aqui, é o trabalho com motocicletas e que, pela
NR 16, não se encontra em hipótese que a norma regulamentadora exclua o
adicional. Com isso, os instrutores têm direito ao pagamento do adicional de
periculosidade, que equivale à 30% do seu salário base. O mesmo ocorre com
o montador de móveis, que seja obrigado a utilizar a motocicleta nos
deslocamentos e um para outro dos clientes.

"(..) RECURSO DE REVISTA EM FACE DE ACÓRDÃO PUBLICADO APÓS A


VIGÊNCIA LEI Nº 13.467/2017. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE -
INSTRUTOR DE AUTOESCOLA - MOTOCICLETA - EXPOSIÇÃO HABITUAL
- TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. O processamento do
recurso de revista na vigência da Lei nº 13.467/2017 exige que a causa
apresente transcendência com relação aos aspectos de natureza econômica,
política, social ou jurídica (artigo 896-A da CLT). Na hipótese vertente, a Corte
Regional manteve a sentença que julgou improcedente o pedido arguido na
exordial relativo ao pagamento de adicional de periculosidade, sob o
argumento de que "Eg. 9ª Câmara já decidiu no sentido de que o instrutor de
autoescola que ministra aulas de motocicleta não faz jus ao adicional de
periculosidade". A causa oferece transcendência jurídica, na medida em que a
corte a quo afastou aplicação do artigo 193, § 4º, da CLT, que considera como
atividade perigosa aquela exercida por trabalhadores que fazem uso de
motocicleta no desempenho de suas atividades, aplicação esta não pacificada
no âmbito do TST. Dirimindo a controvérsia, o Tribunal Regional, adotando as
razões de decidir insertas no processo 0012626-51.2015.5.15.0109 - RO,
julgado em 12/12/2017, decidiu não ser devido o adicional de periculosidade ao
instrutor de autoescola que ministra aulas de motocicleta. Nesse contexto,
verifica-se que o Regional violou o artigo 193, § 4º, da CLT, haja vista a
constatação de que os empregados estavam expostos de forma habitual a
riscos em decorrência do uso da motocicleta, conforme entendimento firmado
em precedentes desta Corte. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-
10570-62.2018.5.15.0134, 7ª Turma, Relator Ministro Renato de Lacerda
Paiva, DEJT 10/06/2022). 39

"(...) B) RECURSO DE REVISTA. RITO SUMARÍSSIMO. ADICIONAL DE


PERICULOSIDADE. MOTOCICLISTA. O § 4° do art. 193 da CLT possuía
eficácia limitada, porque pendente de regulamentação pelo Ministério do
Trabalho e do Emprego, e foi aperfeiçoado com a publicação da Portaria n°
1.565/2014. Referida portaria foi totalmente suspensa até 7/1/2015, pela
Portaria n° 1.930/2014, e após referida data, por meio da Portaria n° 5/2015 (e
várias que se sucederam), restou mantida a suspensão somente para
determinadas categorias de empregadores. Nessa senda, em 4/3/2015, foi
publicada a Portaria nº 220/2015 suspendendo os efeitos da Portaria n°
1.565/2014, também em relação às empresas associadas à AFREBRAS -
Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil, e às empresas
associadas a outras associações e sindicatos, dentre os quais está incluída a
Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos
Industrializados - ABAD. Nesse contexto, conforme se extrai da sentença, que
foi mantida pelos seus próprios fundamentos pelo Tribunal Regional, a
reclamada é associada à ABAD, razão pela qual é indevida a condenação ao
adicional de periculosidade para o interregno compreendido entre 4/3/2015 e
19/6/2018. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-20332-
22.2019.5.04.0701, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT
23/10/2020).

"A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO PELO RECLAMANTE SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nº
13.015/2014 E Nº 13.467/2017. 1. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
MONTADOR DE MÓVEIS. UTILIZAÇÃO DE MOTOCICLETA.
HABITUALIDADE. SÚMULA 364, I, DO TST. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA
RECONHECIDA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO. I. Hipótese em que a
Corte Regional negou provimento ao recurso ordinário interposto pelo
Reclamante, ainda que constatado o uso habitual de motocicleta para o
trabalho. II. Contrariedade à Súmula nº 364, I, do TST. III. Agravo de
instrumento de que se conhece e a que se dá provimento para determinar o
processamento do recurso de revista. 2. USO DE MOTOCICLETA.
DIFERENÇA DE KMS RODADOS. I. No caso dos autos, o Reclamante requer
o pagamento referente à indenização por quilômetros rodados, em razão de
uso de motocicleta própria, com o consentimento da Reclamada. II. A Corte
Regional negou provimento ao recurso do Reclamante, quanto à indenização
por "quilômetros rodados", por ter indeferido o pedido relacionado ao adicional
de periculosidade, sob o fundamento de que a utilização de motocicleta
constitui uma faculdade do empregado. III. Por decorrência logica do
provimento do agravo de instrumento em relação ao tema "ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. MONTADOR DE MÓVEIS. UTILIZAÇÃO DE
MOTOCICLETA. HABITUALIDADE. SÚMULA 364, I, DO TST", determina-se o
processamento do recurso de revista também quanto ao presente tema. B)
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE. ACÓRDÃO
REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS Nos 13.015/2014 E
13.467/2017. 1. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. MONTADOR DE
MÓVEIS. UTILIZAÇÃO DE MOTOCICLETA. HABITUALIDADE. SÚMULA 364,
I, DO TST. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA.
CONHECIMENTO E PROVIMENTO. I. Hipótese em que, muito embora 40
incontroverso que o deslocamento do Autor para o cumprimento de seu ofício
ocorria, habitualmente, com o uso de motocicleta e com o consentimento da
Reclamada, a Corte de origem entendeu que a possibilidade de utilização de
outro meio de transporte pelo Reclamante é capaz de afastar o seu direito ao
adicional de periculosidade e reflexos. 3. Dispõe a Súmula 364 do TST que
"tem direito ao adicional de periculosidade o empregado exposto
permanentemente ou que, de forma intermitente, sujeita-se a condições de
risco. Indevido, apenas, quando o contato dá-se de forma eventual, assim
considerado o fortuito, ou o que, sendo habitual, dá-se por tempo
extremamente reduzido". Logo, incontroversa a utilização de motocicleta em
vias públicas, de forma habitual, para a realização do seu trabalho, faz jus o
Reclamante ao adicional de periculosidade. Desse modo, ao não deferir o
pagamento do referido adicional, a Corte de origem contrariou o disposto na
Súmula 364, I, do TST. Reconhecida, portanto, a transcendência política.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. 2.
ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. USO DE MOTOCICLETA. DIFERENÇA
DE KMS RODADOS. CONHECIMENTO E PROVIMENTO. I. A Corte Regional
negou provimento ao recurso do Reclamante, quanto à indenização por
"quilômetros rodados", por ter indeferido o pedido relacionado ao adicional de
periculosidade, sob o fundamento de que a utilização de motocicleta constitui
uma faculdade do empregado. II. Superada a questão acerca do adicional de
periculosidade, em razão do conhecimento e provimento do recurso de revista
quanto a esse tema e em atenção ao fato descrito de que o deslocamento do
Reclamante para o cumprimento de seu ofício ocorria, habitualmente, com uso
de motocicleta (com o consentimento da Reclamada) e, ainda, em respeito à
vedação da supressão de instância, determina-se o retorno dos autos ao
Tribunal de origem, para que prossiga no exame do tema "USO DE
MOTOCICLETA. VEÍCULO PRÓPRIO. DIFERENÇA DE KMS RODADOS",
conforme entender de direito. III. Recurso de revista de que se conhece e a que
se dá provimento" (RR-466-68.2019.5.19.0003, 4ª Turma, Relator Ministro
Alexandre Luiz Ramos, DEJT 10/12/2021).

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO


PELO AUTOR REGIDO PELA LEI 13.467/2017. ADICIONAL DE
PERICULOSIDADE. MONTADOR DE MÓVEIS. USO DE MOTOCICLETA.
Demonstrada possível violação do art. 193, § 4º, da CLT, impõe-se o
provimento do agravo de instrumento para determinar o processamento do
recurso de revista. Agravo de instrumento provido. II - RECURSO DE REVISTA
REGIDO PELA LEI 13.467/2017. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE.
MONTADOR DE MÓVEIS. USO DE MOTOCICLETA. O Tribunal Regional, ao
manter o indeferimento do pedido de pagamento do adicional de periculosidade
ao empregado que faz uso de motocicleta no desempenho de suas atividades,
decidiu em desconformidade ao disposto no art.193, § 4º, da CLT. Recurso de
revista conhecido e provido" (RR-10659-37.2017.5.15.0129, 2ª Turma, Relatora
Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT 25/06/2021).

Tese 25 – A gestante tem estabilidade no contrato de 41


experiência.
"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017
E DA IN 40 DO TST. RITO SUMARÍSSIMO. REQUISITOS DO ARTIGO 896,
§1º-A, DA CLT ATENDIDOS. CONTRATO DE EXPERIÊNCIA.
ESTABILIDADE DA GESTANTE. No caso em tela, há alegação de
contrariedade à Súmula 244, III, do TST, circunstância apta a demonstrar o
indicador de transcendência política. Transcendência reconhecida. RECURSO
DE REVISTA DA RECLAMANTE. RITO SUMARÍSSIMO. LEI 13.467/2017.
REQUISITOS DO ARTIGO 896, §1º-A, DA CLT ATENDIDOS. CONTRATO DE
EXPERIÊNCIA. ESTABILIDADE DA GESTANTE. INDENIZAÇÃO
SUBSTITUTIVA DO PERÍODO DE ESTABILIDADE. O contrato de experiência
é, em essência, um contrato por tempo indeterminado, com uma cláusula de
experiência, ou seja, estaria vocacionado à vigência por tempo indeterminado,
quando celebrado de boa-fé. Estabelece o artigo 10, II, b, do ADCT, ser vedada
a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto, não impondo nenhuma
restrição quanto à modalidade de contrato de trabalho, mesmo porque a
garantia visa à tutela do nascituro. A matéria já se encontra pacificada pela
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o qual tem se posicionado no
sentido de as empregadas gestantes, independentemente do regime jurídico de
trabalho, terem direito à licença-maternidade de cento e vinte dias e à
estabilidade provisória desde a confirmação da gravidez até cinco meses após
o parto, conforme o artigo 7º, XVIII, da Constituição Federal e o artigo 10, II, b,
do ADCT. Recurso de revista conhecido e provido. (...)" (RR-308-
53.2021.5.12.0030, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de
Carvalho, DEJT 06/05/2022).

Tese 26 – O pedido de demissão da gestante só tem validade


se passar por homologação sindical, ainda que o empregador
desconheça o estado gravídico.
Pelo art. 500 da CLT, o pedido de demissão de um empregado portador
de estabilidade só tem validade se passar por homologação sindical. O TST
acabou interpretando que a regra é aplicável na hipótese de garantias de
emprego, a exemplo da gestante. Nesta hipótese, a jurisprudência do TST
trilha no caminho de que a homologação sindical é necessária para validar o
pedido de demissão, ainda que o empregador não saiba que a empregada
despedida esteja grávida.
"RECURSO DE REVISTA. LEIS NºS 13.015/2014 E 13.467/2017. RITO
SUMARÍSSIMO. EMPREGADA GESTANTE. PEDIDO DE DEMISSÃO.
AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SINDICAL. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA
RECONHECIDA. 1. Esta Corte, adotando a teoria da responsabilidade objetiva,
considera que a garantia constitucional prevista no art. 10, II, "b", do ADCT
42
objetiva a proteção à maternidade e ao nascituro. 2. Assim, interpretando o art.
500 da CLT, sedimentou o entendimento de que é inválido o pedido de
demissão sem assistência sindical da empregada gestante, independente da
duração do contrato de trabalho ou da ciência do estado gestacional pelo
empregador, uma vez que a validade do pedido de dispensa de empregada
gestante está condicionada à homologação prevista no referido dispositivo.
Precedentes. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento"
(RR-1000357- 33.2021.5.02.0264, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Bastos
Balazeiro, DEJT 10/06/2022).

Tese 27 – É do empregador o ônus de provar a jornada do


trabalhador doméstico.
"(...) EMPREGADO DOMÉSTICO. JORNADA DE TRABALHO. HORAS
EXTRAS. REGISTRO E CONTROLE DE HORÁRIOS. ÔNUS DA PROVA DO
EMPREGADOR. LEI COMPLEMENTAR Nº 150/2015. TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA CONSTATADA. Agravo de instrumento provido para determinar o
processamento do recurso de revista, em face de haver sido demonstrada
possível violação dos artigos 12 da Lei Complementar nº 150/2015, 818 da
CLT e 373, II, do Código de Processo Civil. RECURSO DE REVISTA DA
PARTE AUTORA. LEI Nº 13.467/2017. EMPREGADO DOMÉSTICO.
JORNADA DE TRABALHO. HORAS EXTRAS. REGISTRO E CONTROLE DE
HORÁRIOS. ÔNUS DA PROVA DO EMPREGADOR. LEI COMPLEMENTAR
Nº 150/2015. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA CONSTATADA. Assegurada ao
trabalhador doméstico a duração do trabalho não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro horas semanais, consoante inciso XIII do artigo 7º da
Constituição Federal, o artigo 2º da Lei Complementar nº 150/2015 reforça a
duração normal do trabalho doméstico e seu artigo 12 estabelece a
obrigatoriedade do registro de horários pelo empregador. Trata-se de um dever
legal do empregador doméstico viabilizar o registro dos horários laborados, e,
por consequência lógica, é seu o ônus processual de comprovar a jornada de
trabalho. A falta de tal controle, e a não apresentação em juízo, enseja a
presunção relativa da jornada alegada na inicial. Ressalte-se que interpretação
do mencionado artigo 12 em sentido diverso esvazia a finalidade e o alcance
do dispositivo. Conclui-se, portanto, que, uma vez pleiteado em Juízo o
pagamento de horas extras, é encargo do empregador doméstico, além de
realizar o registro e controle da jornada de trabalho, apresentar os documentos
correspondentes ou outro meio de prova suficiente a afastar as alegações da
parte autora. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-102325-
46.2016.5.01.0032, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao,
DEJT 08/04/2022).

Tese 28 – A demonstração de desnecessidade do controle


escrito de jornada é ônus de prova do empregador. 43
Pelo princípio da aptidão, é do empregador o ônus de provar a
quantidade de empregados no estabelecimento, para o fim de definir a
obrigatoriedade, ou não, de apresentar os cartões de ponto em juízo, nos
termos do item I da súmula 338 do TST.
"(...) II - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. LEI Nº 13.015/2014.
ANTERIOR À LEI N.º 13.467/2017. JORNADA DE TRABALHO. CARTÕES
DE PONTO. CONTROVÉRSIA SOBRE A QUANTIDADE DE
FUNCIONÁRIOS. ÔNUS DA PROVA. 1 - Inicialmente, cumpre esclarecer que,
no primeiro acórdão proferido pelo Tribunal Regional, aquela Corte deu
provimento ao recurso ordinário interposto pelo reclamante para deferir-lhe o
pagamento de horas extras, assim consideradas aquelas que ultrapassarem o
limite da 8ª diária e da 44ª semanal, adotando o horário declinado na inicial.
Naquela ocasião, o TRT entendeu que a empresa não comprovou sua
alegação de que o reclamante exercia trabalho externo incompatível com o
controle de jornada, ou que exercia cargo de gerência, ou mesmo que recebia
salário ao menos 40% maior do que receberia caso não ocupasse tal cargo. 2 -
A reclamada opôs embargos de declaração, que foram rejeitados. Na
sequência, interpôs recurso de revista que foi conhecido e provido por esta
Turma para, acolhendo a preliminar de nulidade por negativa de prestação
jurisdicional, anular o acórdão proferido em embargos de declaração e
determinar o retorno dos autos ao TRT para seu exame quanto às alegações
relativas às horas extras. 3 - O TRT, em novo acórdão, deu efeito modificativo
ao julgado para negar provimento ao recurso ordinário interposto pelo
reclamante, mantendo a sentença quanto ao indeferimento de horas extras. 4 -
No caso, o TRT, analisando as provas dos autos, entendeu que o reclamante
não exercia cargo de confiança ou trabalhava externamente (alegações de
defesa do reclamado), motivo pelo qual haveria a obrigatoriedade da
apresentação dos cartões de ponto pela empresa. Entretanto, concluiu que era
ônus da reclamante provar que a empresa contaria com mais de 10
empregados a fim de que houvesse a obrigatoriedade da reclamada de
apresentar os cartões. 5 - Ocorre que é regra geral a apresentação dos
referidos cartões, constituindo, a desnecessidade de registro de ponto, exceção
a ser demonstrada pelo empregador, nos termos da Súmula n.º 338, I, do TST:
"I - É ônus do empregador que conta com mais de 10 (dez) empregados o
registro da jornada de trabalho na forma do art. 74, § 2º, da CLT. A não-
apresentação injustificada dos controles de frequência gera presunção relativa
de veracidade da jornada de trabalho, a qual pode ser elidida por prova em
contrário. (ex-Súmula nº 338 - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003)" 6 -
Nesse contexto, o Tribunal Regional, ao atribuir ao reclamante o ônus da prova
de que a empresa contaria com mais de dez empregados viola o art. 818, II, da
CLT, pois é ônus que cabe ao reclamado, por constituir fato obstativo do direito
pleiteado pelo reclamante. 7 - Recurso de revista de que se conhece e a que
se dá provimento" (Ag-RR-10057-94.2013.5.05.0022, 6ª Turma, Relatora
Ministra Katia Magalhaes Arruda, DEJT 08/04/2022).
"AGRAVO. RECURSO DE REVISTA REGIDO PELA LEI 13.467/2017.
TRABALHADOR EXTERNO. COMPATIBILIDADE COM O CONTROLE DA
JORNADA. CONTROVÉRSIA SOBRE A QUANTIDADE DE EMPREGADOS
NA EMPRESA RECLAMADA. DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA.
CONTRARIEDADE DA SÚMULA 338, I, DO TST. O Tribunal Regional 44
reconheceu a compatibilidade do trabalho externo com o controle da jornada,
considerando o depoimento do preposto da Reclamada, no sentido de que o
Autor iniciava e terminava o expediente na sede da empresa. Indeferiu,
contudo, as horas extras postuladas, ao fundamento de que "não comprovado
que a reclamada possuía mais de 10 empregados, a mesma estava
desobrigada de registrar em controles de ponto o início e fim da jornada. Sendo
assim, alegando o reclamante que laborava em sobrelabor é dele o ônus da
prova, encargo do qual não se desincumbiu, pois, não produziu qualquer prova,
sequer, prova oral." A jurisprudência do TST, todavia, é firme ao atribuir à
Reclamada o ônus da prova quanto à existência de menos de dez
empregados, enquanto circunstância apta a afastar a obrigação do registro de
ponto. Desse modo, o julgamento proferido pelo Regional contraria a diretriz
consagrada na Súmula 338, I, do TST. Demonstrada, assim, a possibilidade de
controle da jornada e não comprovada pela empresa a alegação de que
possuía menos de 10 empregados contratados, presume-se verdadeiro, à
míngua de outros meios de prova, o trabalho extraordinário alegado na inicial,
sendo devido o pagamento das horas correspondentes. Agravo não provido"
(Ag-RR-13-78.2016.5.05.0032, 5ª Turma, Relator Ministro Douglas Alencar
Rodrigues, DEJT 07/01/2022).

Tese 29 - Afastado o enquadramento do reclamante no inciso I


do art. 62 da CLT, a constatação de que a jornada descrita na
inicial seja inverossímil, não autoriza o indeferimento do
pedido.
Juntados cartões de ponto britânicos ou não apresentados os cartões de
ponto, há a presunção de veracidade da jornada descrita na inicial, conforme
súmula 338 do TST. No entanto, a presunção não prevalece para jornadas
inverossímeis, situação em que o reclamante deverá fazer
"(...) RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA
LEI Nº 13.467/2017. HORAS EXTRAS. ATIVIDADE EXTERNA.
POSSIBILIDADE DO CONTROLE DE JORNADA. AUSÊNCIA DE
APRESENTAÇÃO DOS CONTROLES DE PONTO. REFORMA DA
SENTENÇA. JORNADA REPUTADA INVEROSSÍMIL. NECESSIDADE DE
VERIFICAÇÃO DA JORNADA REAL. ÔNUS DA PROVA DO
EMPREGADOR. RETORNO DOS AUTOS AO TRIBUNAL REGIONAL.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. Afastado o enquadramento
obreiro no art. 62, I, da CLT, cabia à reclamada a apresentação dos controles
de ponto, nos termos do art. 74, § 2º, da CLT. Assim, mesmo que reputada
inverossímil a jornada alegada na inicial, e que o Regional tenha afirmado que
a prova testemunhal apresentada pelo autor faltou com seu compromisso com
a verdade, uma vez atribuído o ônus da prova ao empregador, como no caso, a
simples ausência de elementos de prova da jornada real do empregado não
conduz à rejeição imediata do pedido, senão à sua fixação judicial, por meio de
um juízo de adequação guiado por um critério de razoabilidade e
proporcionalidade que seja consentâneo com a prova produzida e com as 45
próprias regras de experiência verificáveis na espécie, sendo essa uma
metodologia compatível com a dimensão de amplitude da cognição em
segunda instância. Inteligência do precedente da SDI-1 desta Corte proferido
nos autos do E-ED-RR-113700-15.2003.5.09.0020, da relatoria do Ministro
Aloysio Corrêa da Veiga (DEJT de 22/04/2016). Do contrário, em lugar de se
afastar a presunção relativa contida no item I da Sumula nº 338 do TST, pela
reputada ausência de verossimilhança, o Regional estaria estabelecendo uma
presunção em sentido reverso, o que não encontra amparo na legislação,
sobretudo em face do que contido no art. 74, § 2º, da CLT, aplicável ao caso
diante do afastamento da incidência do art. 62, I, da CLT. Como a jornada
estabelecida em sentença não foi expressamente referida pelo Regional, e não
sendo possível cotejá-la nesta instância, a teor do que dispõe a Súmula nº 126
do TST, a conclusão do julgado deve se dar no sentido de determinar a
remessa dos autos ao Regional, a fim de que, fixando a jornada real que
entende defluir dos elementos de prova e de convicção daquele colegiado,
julgue a matéria de fundo, como entender de direito. Recurso de revista
conhecido e provido" (RR-1001580-84.2018.5.02.0083, 5ª Turma, Relator
Ministro Breno Medeiros, DEJT 25/02/2022).

Tese 30 – Descabimento da apuração pela média das horas


extras dos meses cujos cartões de ponto não foram juntados
aos autos pela empresa.
"RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. ACÓRDÃO REGIONAL
PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS Nº 13.015/2014 E 13.467/2017.
JORNADA DE TRABALHO. HORAS EXTRAS. AUSÊNCIA PARCIAL DOS
CARTÕES DE PONTO. APURAÇÃO PELA MÉDIA. IMPOSSIBILIDADE.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. CONHECIMENTO E
PROVIMENTO. I. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de ser
incabível a aplicação da média das horas extras apuradas nos controles de
ponto acostados parcialmente aos autos, para o fim de fixação da jornada
suplementar no período em que ausentes esses documentos, por incidência do
item I da Súmula nº 338 do TST, que trata da presunção de veracidade da
jornada de trabalho descrita na petição inicial. II. No caso, a Reclamada não
apresentou os cartões de ponto relativos à parte do vínculo empregatício. Não
obstante, o Tribunal Regional manteve a sentença de primeiro grau que
determinou a utilização da média de horas extras apuradas nos meses em que
corretamente anotada a jornada, em relação ao período em que não
apresentados os cartões de ponto, em dissonância com a jurisprudência desta
Corte Superior. III. Demonstrada transcendência política da causa e
contrariedade ao item I da Súmula nº 338 do TST. IV. Recurso de revista de
que se conhece e a que se dá provimento" (RR-20399-63.2018.5.04.0008, 4ª
Turma, Relator Ministro Alexandre Luiz Ramos, DEJT 18/02/2022).

Tese 31 – A presunção pela ausência de juntada ou


46
irregularidade do ponto será mantida ainda que o autor seja
fictamente confesso, por não comparecer à audiência de
instrução.
Esse tema é bem polêmico e pega muito advogado de surpresa, por não
conhecer a jurisprudência do TST. A Corte reiteradamente afirma que a presunção
ficta, decorrente da ausência de juntada ou da juntada de cartões de ponto irregulares,
só pode ser desfeita por provas concretamente produzidas, não sendo suficiente outra
presunção ficta, no caso decorrente do não comparecimento do reclamante à
audiência de instrução, para a qual foi intimado pessoalmente para depor, sob pena de
confissão ficta.
"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014.
HORAS EXTRAS. CONFISSÃO RECÍPROCA. AUSÊNCIA DE
APRESENTAÇÃO DOS CONTROLES DE JORNADA PELA RECLAMADA.
DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA. SÚMULA 338, I/TST. O Tribunal
Regional entendeu que mesmo diante da ausência da apresentação dos
controles de ponto pela reclamada, não prevalece a jornada descrita na petição
inicial em face da pena de confissão aplicada ao reclamante, que não
compareceu à audiência de instrução. Sob tal fundamento, indeferiu o pedido
de pagamento de horas extras. Todavia, em se tratando de confissão ficta
recíproca, a questão deve ser dirimida à luz do critério da distribuição do ônus
da prova. Assim, se não foram apresentados os cartões de ponto e não foi
elidida a alegação da inicial por prova em contrário, deve ser reconhecida a
jornada de trabalho apontada na inicial para aquele período, nos termos da
Súmula 338, I, do TST. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido"
(RR-1002029-61.2014.5.02.0607, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena
Mallmann, DEJT 18/12/2020).

"RECURSO DE EMBARGOS. HORAS EXTRAS E AVISO PRÉVIO.


CONFISSÃO FICTA IMPOSTA AO AUTOR, AUSENTE À AUDIÊNCIA DE
PROSSEGUIMENTO. NÃO APRESENTAÇÃO INJUSTIFICADA DOS
CARTÕES DE PONTO. Segundo a jurisprudência preponderante do TST, a
contumácia do reclamante, que em princípio implicaria a sua confissão ficta,
não é suficiente para elidir a presunção de veracidade da jornada alegada na
inicial, se não apresentados todos os registros de ponto. Mantém-se com o
empregador o ônus da prova relativo à jornada empreendida, de acordo com a
distribuição do ônus probatório estabelecido pelo princípio da aptidão para
prova. Não se questiona nos autos que a empresa, ora recorrida, tenha mais
de dez empregados, o que lhe impõe a obrigação do registro de jornada dos
empregados na forma do artigo 74, § 2º, da CLT. Há precedentes. Recurso de
embargos conhecido e provido. (E-RR - 1232-27.2010.5.05.0036 Data de
Julgamento: 21/05/2020, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT
29/05/2020).

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO ANTES DA LEI Nº 13.015/2014. (...)


HORAS EXTRAS. CONFISSÃO RECÍPROCA. NÃO COMPARECIMENTO DO
RECLAMANTE À AUDIÊNCIA EM QUE DEVERIA DEPOR.
APRESENTAÇÃO PARCIAL DOS CONTROLES DE JORNADA PELA 47
RECLAMADA. ÔNUS DA PROVA PARCIALMENTE ELIDIDO. SÚMULA 338,
I/TST. O Tribunal Regional entendeu que, para o período em que não foram
juntados os controles de ponto, não prevalece a jornada descrita na petição
inicial em face da pena de confissão aplicada ao reclamante, que não
compareceu à audiência de instrução. Sob tal fundamento, indeferiu o pedido
de pagamento de horas extras. Todavia, em se tratando a hipótese de
confissão ficta recíproca, a questão deve ser dirimida à luz do critério da
distribuição do ônus da prova. Assim, se não foram apresentados os cartões de
ponto e não foi elidida a alegação da inicial por prova em contrário, deve ser
reconhecida a jornada de trabalho apontada na inicial para aquele período, nos
termos da Súmula 338, I, do TST. Precedentes. Recurso de revista conhecido
e provido." (RR-1854-71.2012.5.03.0140, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria
Helena Mallmann, DEJT 18/09/2020).

(...) RECURSO DE REVISTA. HORAS EXTRAS. CONFISSÃO RECÍPROCA.


AUSÊNCIA DE JUNTADA DOS CARTÕES DE PONTO. NÃO
COMPARECIMENTO DA RECLAMANTEÀ AUDIÊNCIA EM QUE DEVERIA
DEPOR. ÔNUS DA PROVA DA RECLAMADA. O contexto fático-probatório
delineado no acórdão recorrido permite verificar que foi aplicada a sanção
processual de confissão ficta à reclamante, ante sua ausência injustificada à
audiência em que deveria prestar depoimento. A aplicação da referida sanção
processual à autora, por ter deixado de comparecer à audiência de instrução,
não conduz necessariamente à improcedência dos pedidos formulados na
inicial. A confissão ficta apenas determina a presunção relativa de veracidade
dos fatos alegados em contestação pela reclamada. Sendo relativa a
presunção, nada impede que seja cotejada com elementos probatórios já
coligidos aos autos por ocasião da cominação da sanção processual de
confissão, nos termos do item II da Súmula nº 74 do Tribunal Superior do
Trabalho. Na hipótese dos autos, o Tribunal Regional presumiu verdadeira a
jornada de trabalho indicada pela reclamada em contestação, mesmo diante do
fato de que não houve juntada dos controles de ponto aos autos. Não tendo a
reclamada se desincumbido de seu encargo probatório - apresentação de
cartões de ponto com a jornada laboral da reclamante -, deve-se presumir a
veracidade da jornada indicada na inicial, de modo que se pode entender pela
ocorrência de confissão ficta recíproca, tendo em vista a não apresentação dos
cartões de ponto pela reclamada e a ausência da reclamante à audiência em
que se encerraria a instrução probatória. Tratando-se a hipótese de confissão
ficta recíproca, a questão deve ser dirimida à luz do critério da distribuição do
ônus da prova, conforme alega a recorrente. Nos termos em que dispõe o item
I da Súmula nº 338 do TST, o encargo probatório relativo ao pedido de horas
extras remanesce com a reclamada, que, ante o descumprimento da obrigação
legal de fornecer os registros válidos de horários da reclamante, submete-se
aos efeitos decorrentes da presunção relativa de veracidade da jornada
declinada na inicial. Portanto, a confissão ficta imposta à autora em decorrência
do seu não comparecimento à audiência em prosseguimento em que deveria
depor, no caso, não se sobrepõe à presunção de veracidade decorrente dos
registros de horário inválidos apresentados pela empresa. Recurso de revista
conhecido e provido." (ARR-1094-83.2016.5.05.0025, 2ª Turma, Relator
Ministro José Roberto Freire Pimenta, DEJT 16/08/2019.)
48

Tese 32 – Cabe mandado de segurança contra decisão que


acolhe exceção de incompetência territorial em audiência, e já
preclusa a oportunidade por não utilizar a impugnação no
prazo do art. 800 da CLT. Igualmente, cabe MS contra decisão
que acolhe a exceção e envia o processo para VT do mesmo
Regional.
As decisões interlocutórias, a exemplo do julgamento da exceção de
incompetência territorial são irrecorríveis de imediato no processo do trabalho.
A súmula 214 do TST admite o recurso ordinário contra a decisão que acolhe a
exceção de incompetência territorial e remete o feito para uma Vara do
Trabalho vinculada a outro TRT.
Excepcionalmente, o TST vem admitindo o uso do mandado de
segurança para impugnar a decisão teratológica, nitidamente contrária à lei e à
jurisprudência, quando o juiz (1) analisar a exceção preclusão, por não ter sido
apresentada no prazo de 5 dias, a contar da notificação o réu (art. 800 da CLT),
(2) acolher a exceção com remessa para VT do mesmo TRT em prejuízo ao
reclamante e sem seguir os parâmetros jurisprudenciais ou (3) quando for
rejeitada a exceção na hipótese em que a empresa teria direito de deslocar a
competência para o juízo competente.

"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO COATOR


QUE ACOLHEU EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA APRESENTADA
INTEMPESTIVAMENTE. DECISÃO PROFERIDA NA VIGÊNCIA DA LEI
13.467/2017. MITIGAÇÃO DA APLICAÇÃO DA OJ N. 92 DA SBDI-2. Trata-se
de mandado de segurança impetrado contra decisão da Juíza da 3ª Vara do
Trabalho de Lages que, durante a audiência inicial, acolheu exceção de
incompetência e remeteu os autos à Vara do Trabalho de Florianópolis. Com
efeito, da nova redação do art. 800 da CLT, extrai-se que o prazo de cinco dias
para apresentação da exceção de incompetência é de caráter preclusivo.
Nesse sentido, a SBDI-2/TST firmou tese no sentido de que "o art. 800 da CLT
contém expressa disposição para que a exceção de incompetência territorial
seja apresentada antes da audiência, no prazo de 5 dias, a contar da
notificação" (CC-10467-93.2019. 5.15.0013, Relator Ministro Luiz Jose Dezena
da Silva, DEJT 25/09/2020). Assim, a alteração do juízo depois de operada a
"perpetuatio jurisdictionis" sem qualquer oposição da parte ré no prazo previsto
no art. 800 da CLT, além de ilegal, impõe relevante prejuízo à marcha
processual, o que justifica a admissão da via mandamental. Desta feita, sendo
incontroverso que a exceção de incompetência não foi apresentada
tempestivamente, impõe-se reconhecer a prorrogação da competência do juízo
onde foi ajuizada a ação subjacente. Não merece reparos o acórdão regional
que concedeu a segurança. Recurso ordinário não provido" (RO-142-
82.2019.5.12.0000, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais,
Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 19/03/2021).
"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. EXCEÇÃO DE 49
INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. ACOLHIMENTO. ADMISSÃO
EXCEPCIONAL DA AÇÃO MANDAMENTAL. EMPRESA COM ATUAÇÃO
INTERESTADUAL E SEDE NA CIDADE EM QUE PROPOSTA A AÇÃO.
CONCESSÃO DA ORDEM. 1. Mandado de segurança impetrado contra
decisão proferida pelo MM. Juízo da 21ª Vara do Trabalho de Salvador/BA, na
qual acolhida exceção de incompetência em razão do lugar arguida em
reclamação trabalhista, em hipótese em que a empresa reclamada mantinha
sede no local em que proposta a ação, embora o labor tenha sido prestado em
outra cidade (Valença-BA). 2. Com o objetivo de assegurar o exercício efetivo
do direito fundamental de acesso à Justiça (artigo 5º, XXXV, da CF), com
respostas em tempo razoável, incluída a atividade satisfativa (CF, artigo 5º,
LXXVIII), o sistema processual brasileiro vem recebendo alterações
significativas nas últimas décadas, com especial destaque para o CPC de
2015. No sistema processual em vigor, deve o juiz interpretar as novas regras
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na CF (artigo 1º),
atendendo aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e
promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência
(artigo 8º do CPC). 3. A jurisprudência desta Corte, atenta às normas sediadas
no artigo 893, § 1º, da CLT e no artigo 5º, II, da Lei 12.016/2009, consagrou a
tese do não cabimento do mandado de segurança contra decisões
interlocutórias que, não detendo aptidão para gerar danos imediatos
irreparáveis ou de difícil reparação, poderiam ser reexaminadas e,
eventualmente, retificadas posteriormente, com a interposição do recurso
cabível contra a decisão definitiva (OJ 92 da SBDI-2). No entanto, também
atenta a valores de ordem lógico-sistêmica, esta Corte consagrou situações de
exceção à regra da irrecorribilidade imediata, inscritas na Súmula 214 do TST,
às quais foi adicionada recentemente uma nova situação (artigo 6º da IN
39/TST), envolvendo decisão proferida em Incidente de Desconsideração de
Personalidade Jurídica - IDPJ (atual art. 855-A, § 1º, da CLT). Mas a
necessidade de compatibilização da garantia de amplo acesso à Justiça (CF,
artigo 5º, XXXV) e da regra da irrecorribilidade imediata das interlocutórias
(CLT, artigo 893, § 1º) acabou impondo a admissão excepcional do mandado
de segurança contra decisões interlocutórias insuscetíveis de recurso imediato,
mas que assumem, em tese, aptidão para gerar danos manifestos, na linha
prescrita na Súmula 414 do TST. Assim, em situações absolutamente
excepcionais, caracterizadas por inescusável ilegalidade, com evidentes
prejuízos, o mandado de segurança tem sido admitido contra decisões de
natureza interlocutória, afastando-se a incidência da OJ 92 desta SBDI-2 do
TST. Essa linha de exceção, adotada com cautela por esta Subseção, tem se
prestado à correção de desvios manifestos na compreensão e aplicação das
normas jurídicas, com graves prejuízos ao próprio Poder Judiciário, apenas
convocado a examinar, pelas vias ordinárias de impugnação e de forma
diferida no tempo, situações inusitadas e antijurídicas que consolidam efeitos
lesivos aos cidadãos, em nítida afronta aos escopos maiores da jurisdição. 4.
No caso dos autos, verifica-se que a prestação de serviços ocorreu em
Valença/BA, cidade próxima de Salvador/BA, capital onde ajuizada a ação,
sendo a reclamada sediada em Salvador (conforme depoimento de seu
preposto e procuração juntada aos autos), com filiais em outras cidades da
Bahia e também em outros estados da federação, como Sergipe, Espírito 50
Santo e Santa Catarina. Nesse cenário, a par de demonstrada a ausência de
qualquer prejuízo à defesa, em face da atuação da empresa em várias
localidades do país, soma-se a circunstância de a reclamante ter comprovado,
com relatório médico, que seu estado de saúde a impede de se deslocar até a
cidade onde ocorreu a prestação de serviços, não havendo razão que justifique
a retificação do foro eleito pela trabalhadora, sob pena de ofensa ao artigo 5º,
XXXV, da CF. R ecurso ordinário conhecido e provido" (RO-679-
10.2018.5.05.0000, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais, Relator
Ministro Douglas Alencar Rodrigues, DEJT 27/09/2019).

Tese 33 – Direito a horário especial de trabalho, sem redução


de salário, à mãe de criança com transtorno do espectro
autista, empregada pública.
Para a incidência desta tese, é necessária a comprovação de que a
criança demanda cuidados especiais, a justificar a redução da jornada.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


PUBLICADO APÓS A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. EMPREGADA
PÚBLICA - DEPENDENTE PORTADOR DE TRANSTORNO ESPECTRO
AUTISTA (TEA). REDUÇÃO DE JORNADA DE TRABALHO SEM REDUÇÃO
DO SALÁRIO OU NECESSIDADE DE COMPENSAÇÃO - POSSIBILIDADE.
O processamento do recurso de revista na vigência da Lei nº 13.467/2017
exige que a causa apresente transcendência com relação aos reflexos gerais
de natureza econômica, política, social ou jurídica (artigo 896-A da CLT). Pelo
prisma da transcendência, como a questão jurídica em destaque mostra-se
nova, tendo em vista que ainda não há jurisprudência sedimentada no âmbito
desta Corte Superior sobre a matéria, evidenciada a transcendência jurídica da
causa. No mérito, de acordo com definição extraída de site oficial do Governo
Federal, "O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do
neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico,
manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social,
padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar
um repertório restrito de interesses e atividades". Consta, ainda, a informação
de que "o tratamento oportuno com estimulação precoce deve ser preconizado
em qualquer caso de suspeita de TEA ou desenvolvimento atípico da criança,
independentemente de confirmação diagnóstica"(). Por sua vez, nos termos do
§2º do art. 1º da Lei nº 12.764/2012, que dispõe sobre a Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, "A
pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com
deficiência, para todos os efeitos legais". Assim sendo, cabe enfatizar que a
Constituição Federal estabelece inúmeras diretrizes e normas destinadas à
proteção da pessoa com deficiência, com "absoluta prioridade" à criança e ao
adolescente, a teor do seu art. 227, §1º, II, juntamente com o Decreto nº
6.949/09, que introduziu, no ordenamento jurídico brasileiro, a Convenção
Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, com o status de
emenda constitucional (art. 5º, §3º, da CF/88). Nesse contexto, não merece 51
reparos a decisão regional que aplica, por analogia, à reclamante - empregada
pública -, com dependente portadora de transtorno do espectro autista, a regra
insculpida nos parágrafos 2º e 3º do art. 98 da Lei nº 8.112/90, segundo os
quais se assegura horário especial de trabalho ao servidor público que possui
cônjuge, filho ou dependente portador de deficiência, notadamente porque a
analogia nada mais é do que uma fonte formal integrativa do direito do
trabalho, conforme previsão expressa no art. 8º da CLT. Do contrário, estar-se-
ia conferindo tratamento jurídico anti-isonômico a pessoas que vivenciam a
mesma realidade fática (dependentes com espectro autista), importando em
discriminação injustificável sob o frágil argumento da ausência de previsão
legal. Por derradeiro, os demais aspectos fáticos levantados pela reclamada
esbarram na Súmula/TST nº 126. Precedentes de Turmas do TST. Agravo
desprovido" (AIRR-11138-49.2020.5.03.0035, 7ª Turma, Relator Ministro
Renato de Lacerda Paiva, DEJT 26/08/2022).

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DO


RECLAMANTE. JORNADA DE TRABALHO. REDUÇÃO PARA CUIDADO DE
FILHO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA (AUTISMO). EMPREGADO PÚBLICO.
ANALOGIA. ART. 98, § 3º, DA LEI 8.112/90. Demonstrada possível violação
dos arts. 227 e 229 da Constituição Federal, impõe-se o provimento do agravo
de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista. Agravo
de instrumento conhecido e provido. II - RECURSO DE REVISTA DO
RECLAMANTE. JORNADA DE TRABALHO. REDUÇÃO PARA CUIDADO DE
FILHO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA (AUTISMO). EMPREGADO PÚBLICO.
ANALOGIA. ART. 98, § 3º, DA LEI 8.112/90. Esta Corte tem admitido a
redução de jornada de empregado público com dependente com deficiência
sem alteração remuneratória e sem compensação de horário, a depender da
especificidade do caso, não se tratando de uma decisão generalizável. No
particular, entendo que há provas suficientes da necessidade de atenção
especial a essa criança portadora de autismo. Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-1372- 68.2019.5.22.0005, 8ª Turma, Redatora Ministra Delaíde
Alves Miranda Arantes, DEJT 22/04/2022).

Tese 34 – Aplicação da nova regra de grupo econômico,


mesmo que o contrato tenha encerrado antes da vigência da
Reforma Trabalhista de 2017.
A tese é minoritária no TST, mas ainda não houve definição da SDI-1. É
uma questão de direito intertemporal da Reforma Trabalhista de 2017. A
vantagem da tese, caso aceita, é que amplia a possibilidade do grupo
econômico horizontal (por coordenação), ainda que a prestação de serviços
tenha ocorrido em período anterior a 11 de novembro de 2017, data do início
da vigência da Reforma Trabalhista.

"(...) RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. GRUPO ECONÔMICO POR


COORDENAÇÃO. RESPONSABILIDADE EXECUTIVA SECUNDÁRIA.
APLICAÇÃO DA REGRA PREVISTA NO ARTIGO 790 DO CPC. 52
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. DIVERGÊNCIA ATUAL ENTRE TURMAS
DESTA CORTE. APLICAÇÃO DO ARTIGO 2º, §§ 2º e 3º DA CLT, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.467/17 AOS PROCESSOS EM CURSO,
AINDA QUE A RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL TENHA OCORRIDO
ANTES DA VIGÊNCIA DA REFERIDA LEI. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA
CONSTATADA. A jurisprudência desta 7ª Turma se firmou no sentido de ser
possível a configuração de grupo econômico "por coordenação", mesmo diante
da ausência de hierarquia, desde que as empresas integrantes do grupo
comunguem dos mesmos interesses. Segundo o referido entendimento, o
artigo 2º, § 2º, da CLT, em sua redação anterior, disciplinava apenas uma das
modalidades de formação do grupo econômico e não impede que a sua
configuração possa ser definida por outros critérios. Por sua vez, a SbDI-I
desta Corte, no julgamento do E-ED-RR-214940- 39.2006.5.02.0472, Relator
Ministro Horácio Raymundo de Senna Pires, firmou a tese no sentido de que "o
simples fato de as empresas possuírem sócios em comum não autoriza o
reconhecimento de grupo econômico". Assim, no caso, mostra-se plenamente
possível a aplicação analógica de outras fontes do direito que admitem a
formação do grupo econômico com base na comunhão de interesses, a
exemplo do artigo 3º, § 2º, da Lei nº 5.889/73, que, já antes da vigência da Lei
nº 13.467/17, estabelecia a responsabilidade solidária do grupo por
coordenação no âmbito rural. De todo modo, ainda que se entenda que tema
se encontra suficientemente debatido e uniformizado em sentido contrário pela
SBDI-1, julga-se existir novo fundamento a justificar a manutenção da
jurisprudência desta e. Turma. Com a entrada em vigor da Lei nº 13.467/17, a
redação do § 2º do artigo 2º da CLT foi alterada e incluído o § 3º, para
contemplar a modalidade de grupo econômico formado a partir da comunhão
de interesses e atuação conjunta das empresas. Mencionado artigo também
deve ser aplicado às relações iniciadas ou já consolidadas antes da vigência da
mencionada Lei nº 13.467/17. Consoante se verifica da referida norma, a regra
nela estabelecida é voltada para a responsabilidade patrimonial executiva
secundária das empresas integrantes do grupo, prevista no artigo 790 do CPC,
que leva em consideração "tão somente, a participação de determinado sujeito
no processo, sem que, necessariamente, essa participação decorra da ligação
do legitimado com o direito material". É o que extrai da expressão "serão
responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de
emprego". Tal responsabilidade, quando não admitida formalmente a
constituição do grupo, somente é determinada em juízo quando constatados o
descumprimento da obrigação e a ausência de patrimônio do empregador
capaz de suportá-la. Isso porque, se as empresas integrantes do grupo forem
demandadas, nesta condição, desde a fase de conhecimento, nenhuma dúvida
haverá quanto ao fato de figurarem na relação jurídico-processual na condição
de devedoras solidárias e, por conseguinte, legitimadas passivas primárias na
execução, situação que permite ao credor exercer a opção que lhe assegura o
artigo 275 do Código Civil. E não há novidade nesse aspecto, em face da
diferença existente entre "débito" e "responsabilidade" e, mesmo nesta, a
existência de responsabilidades primária e secundária, aquela atribuída ao
devedor da obrigação, ou seja, quem efetivamente a contraiu (Shuld), e, esta, a
terceiro que não era originariamente vinculado (Haftung). A peculiaridade do
Direito Processual do Trabalho é existir um sujeito passivo específico, na
condição de responsável executivo secundário - o grupo econômico 53
empresarial -, que, na execução, ocupa o mesmo papel reservado aos demais
legitimados passivos previstos no artigo 790 do CPC, alguns deles igualmente
aplicáveis à seara processual trabalhista, como o sócio e demais responsáveis,
nos casos da desconsideração da pessoa jurídica (incisos II e VII). Por isso, a
jurisprudência desta Corte não exige que a empresa participante do grupo
conste do título executivo judicial como pressuposto para integrar a lide
somente na fase de execução, fato que ensejou o cancelamento da Súmula nº
205, o que se mostrou coerente na medida em que reconhece o grupo como
empregador único (Súmula nº 129), tanto que não admite a configuração de
múltiplas relações de emprego nas situações em que o trabalhador presta
serviços para as diversas empresas que o compõem, nos mesmos local e
horário de trabalho, e por elas é remunerado. Como a matéria da
responsabilidade do grupo econômico é própria da execução, somente surge
quando o devedor primário não dispõe de patrimônio suficiente para a garantia
da execução e integra grupo econômico. Não depende, portanto, de existência
pretérita. Essencial é, pois, que, ao tempo do inadimplemento da obrigação e
da constatação da inexistência de patrimônio do obrigado primário capaz de
garantir a execução, o novo legitimado passivo integre o grupo econômico.
Terá, a partir de então, no momento processual adequado e segundo as regras
pertinentes, oferecer as defesas que entender cabíveis. Não se trata, por
conseguinte, de aplicação retroativa do novo regramento; ao contrário, é
aplicação contemporânea à prática do ato no curso da execução, exatamente
no momento processual em que se lhe atribui a responsabilidade executiva
secundária. Assim, por se tratar de norma com natureza também processual,
nesse ponto, nada impede sua aplicação imediata aos processos em curso,
ainda que a relação jurídica material tenha se consolidado antes da vigência da
Lei nº 13.467/17. Destarte, considerando que, no caso, ficou constatada a
conjugação de interesses e a atuação das rés em ramos idênticos no mesmo
endereço, está patente a caracterização do grupo econômico e a manutenção
da responsabilidade solidária das rés. Agravo interno conhecido e não provido.
(...)" (Ag-AIRR-25697- 55.2016.5.24.0006, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio
Mascarenhas Brandao, DEJT 20/05/2022).

Tese 35 – Cumulação dos juros de 1% ao mês, fixados em


sentença transitada em julgado, com a SELIC desde o
ajuizamento da ação.
Essa tese ainda não foi disseminada no TST e tem Turma julgando em
sentido contrário. Seria aplicável quando o juiz definiu os juros de 1% e a
correção monetária nos termos da lei. Se a decisão transitou em julgado assim,
discute-se se a aplicação da SELIC afastaria a incidência dos juros de 1% ao
mês.
O critério de juros e correção monetária, fixado pelo STF na ADC 58,
não se aplica às execuções contra a Fazenda Pública. Com base na
jurisprudência do próprio STF, a 6ª Turma do TST estabeleceu este
distinguishing, para afastar a aplicação da tese fixada na ADC 58 quando o
54
executado integra a Fazenda Pública.

"AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA DO EXECUTADO - ATUALIZAÇÃO


DE DÉBITO JUDICIAL TRABALHISTA - NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS NA
FASE PRÉ-PROCESSUAL - QUESTÃO COM TRÂNSITO EM JULGADO -
CUMULAÇÃO DOS JUROS DE MORA COM TAXA SELIC NO PERÍODO
PROCESSUAL - RESPEITO À COISA JULGADA - MARCO DEFINIDOR DO
INÍCIO DO PERÍODO PROCESSUAL - DATA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO
- PROVIMENTO PARCIAL. 1. O STF, ao deslindar o tema da ADC 58 quanto à
atualização dos débitos judiciais trabalhistas, fixou tese no sentido da aplicação
do IPCA-E como índice de correção monetária para o período pré-processual e
a Taxa Selic para o período processual. 2. No caso dos juros de mora, a
legislação trabalhista também distingue os períodos (Lei 8.177/91), sendo que
o caput do art. 39 da lei trata do período pré-processual ("compreendido entre a
data de vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento") e o seu § 1º do
período judicial ("contados do ajuizamento da reclamatória"). 3. Antes da Lei
13.467/17 (CLT, art. 879, § 7º), à míngua de norma trabalhista específica,
lançava-se mão do caput do art. 39 da Lei 8.177/91 para se fixar a TR como
índice de correção monetária dos débitos judiciais trabalhistas, enquanto os
juros de mora seriam de 1% ao mês, com base no § 1º do mesmo dispositivo
legal. Ora, a interpretação dada ao comando legal se justificava apenas
enquanto não havia norma legal específica. Com a reforma trabalhista de 2017,
a questão da correção monetária dos débitos trabalhistas passou a ter
disciplina legal própria, razão pela qual a literalidade do art. 39, caput, da Lei
8.177/91 deve ser respeitada, porque trata específica e claramente de juros de
mora e da fase préprocessual. E como apenas o § 1º do art. 39 da Lei 8.177/91
(quanto aos juros) e o § 7º do art. 879 da CLT (quanto à correção monetária)
foram afastados pelo STF na ADC 58, não há como deixar de reconhecer que
o ordenamento jurídico trabalhista vigente contempla juros de mora também
para a fase pré-processual. 4. Contudo, no presente caso, constou
expressamente da sentença transitada em julgado que "os juros incidirão a
partir da data do ajuizamento da ação, observada a Súmula nº 200 do C. TST,
à razão de 1% (um por cento) ao mês, de forma simples, nos termos do artigo
39, parágrafo 1º da Lei nº 8.177/91", postergando para a fase de execução
apenas a fixação do índice de atualização monetária. 5. Dessa forma, em
observância à formação da coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF), devem ser
excluídos da condenação os juros de mora relativos à fase pré-processual,
assim considerado o período anterior ao ajuizamento da presente ação. 6. Por
outro lado, não prospera a insurgência do Executado no tocante à cumulação
dos juros de 1% ao mês, fixados pelo título executivo judicial, com a Taxa
SELIC, para o período judicial, na medida em que não há como excluí-los sem
violação da coisa julgada, pois transitados em julgado. Registre-se que não
cabe a cisão da Taxa SELIC, a fim de ver incidente apenas o índice de
correção monetária, dada a sua natureza composta (juros de mora e índice de
correção monetária). No caso, a Taxa SELIC passa a corresponder, como um
todo, à correção monetária. 7. Por fim, considerando que, após o julgamento da
demanda por este Ministro Relator, o STF, acolhendo parcialmente os
embargos de declaração opostos pela AGU na ADC 58, retificou o marco
definidor do início do período processual como a data do ajuizamento da ação
(Min. Rel. Gilmar Mendes, DJe de 09/12/21), o agravo também merece 55
provimento neste aspecto, para adequar a decisão proferida nestes autos à
tese vinculante do STF na ADC 58, após o julgamento dos referidos embargos
declaratórios, no sentido de incidência do IPCA-E mais juros pela TR
acumulada na fase pré-judicial e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência
da Taxa Selic, além dos juros de 1% ao mês determinados na sentença
exequenda para a fase judicial Agravo parcialmente provido" (Ag-RR-684-
16.2016.5.14.0141, 4ª Turma, Relator Ministro Ives Gandra da Silva Martins
Filho, DEJT 01/07/2022).

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. LEI


Nº 13.467/2017. RECLAMADA. TRANSCENDÊNCIA. ENTE PÚBLICO.
CORREÇÃO MONETÁRIA. ÍNDICE APLICÁVEL. TESE VINCULANTE DO
STF. Há transcendência política quando se constata que o acórdão recorrido
não está conforme a tese vinculante do STF. Aconselhável o provimento do
agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista
para melhor exame da alegada violação do art. 5º, II, da Constituição Federal.
Agravo de instrumento a que se dá provimento. II - RECURSO DE REVISTA.
EXECUÇÃO. LEI Nº 13.467/2017. ENTE PÚBLICO. CORREÇÃO
MONETÁRIA. ÍNDICE APLICÁVEL. TESE VINCULANTE DO STF. 1 - A
correção monetária aplicável a débitos da Fazenda Pública foi prevista no art.
1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com a redação conferida pela Lei nº 11.960/2009):
"Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua
natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e
compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo
pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança". 2 - A correção monetária aplicável a débitos da
Fazenda Pública, da expedição de precatório até o efetivo pagamento, foi
prevista no art. 100, § 12, da CF/88 (incluído pela Emenda Constitucional nº
62/2009): "A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização
de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento,
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação
da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre
a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros
compensatórios". 3 - O STF, nas ADIs nºs 4.357 e 4425, Redator Designado
Ministro Luiz Fux, ao decidir sobre o regime de execução contra a Fazenda
Pública mediante precatório, concluiu pela "impossibilidade jurídica da
utilização do índice de remuneração da caderneta de poupança como critério
de correção monetária", consignando que "o direito fundamental de
propriedade (CF, art. 5º, XXII) resta violado nas hipóteses em que a
atualização monetária dos débitos fazendários inscritos em precatórios perfaz-
se segundo o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança, na
medida em que este referencial é manifestamente incapaz de preservar o valor
real do crédito de que é titular o cidadão. É que a inflação, fenômeno
tipicamente econômico-monetário, mostrase insuscetível de captação
apriorística (ex ante), de modo que o meio escolhido pelo legislador constituinte
(remuneração da caderneta de poupança) é inidôneo a promover o fim a que
se destina (traduzir a inflação do período)". Nesse contexto declarou
inconstitucional a expressão "índice oficial da remuneração básica da 56
caderneta de poupança", constante no art. 100, § 12, da CF/88, incluído pela
Emenda Constitucional nº 62/2009. Por outro lado, o STF firmou a tese de que
"o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, ao
reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação
de juros moratórios de créditos inscritos em precatórios incorre nos mesmos
vícios de juridicidade que inquinam o art. 100, §12, da CF, razão pela qual se
revela inconstitucional por arrastamento". 4 - Em Questão de Ordem nas ADIs
nºs 4.357 e 4425, o STF decidiu conferir eficácia prospectiva à declaração de
inconstitucionalidade, nos seguintes termos: "(i) fica mantida a aplicação do
índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos
termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual
(a) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (b) os precatórios tributários deverão
observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus
créditos tributários; e (ii) ficam resguardados os precatórios expedidos, no
âmbito da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº
12.919/13 e nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção
monetária". Foram extintas sem resolução de mérito as ADIs nº 4.372 e 4.400,
Redator Designado Ministro Luiz Fux, que tratavam da mesma matéria das
ADIs nºs 4.357 e 4425. 5 - Posteriormente, no RE 870947, Relator Ministro Luiz
Fux, o STF decidiu o seguinte quanto à correção monetária aplicável aos
débitos da Fazenda Pública: a) deve ser aplicado o IPCA-E, como índice de
correção monetária, tanto antes quanto depois da expedição de precatório; b) é
inconstitucional o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997 (com a redação dada pela Lei
nº 11.960/2009) na parte em que disciplina a atualização monetária segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança. Ainda no RE 870947, o STF
esclareceu que: a) no julgamento das ADIs 4425 e 4357 foi decidida a correção
monetária de precatórios expedidos, não havendo naquela ocasião decisão
sobre o período entre o dano efetivo (ou o ajuizamento da demanda) e a
imputação de responsabilidade à Fazenda Pública (fase de conhecimento do
processo); b) para evitar lacuna sobre o tema, e assegurar a coerência e a
uniformidade com o julgamento na Questão de Ordem nas ADIs 4425 e 4357,
deve ser idêntico o critério de correção monetária de precatórios e de
condenações judiciais da Fazenda Pública. Assim como havia ocorrido nas
ADIs 4425 e 4357, no RE 870947 não houve distinção entre correção
monetária de créditos tributários e não tributários (essa distinção, nas referidas
decisões, referiu-se à hipótese de juros de mora). 6 - No RE 870947, o STF
não fez modulação quanto aos efeitos da sua decisão sobre a correção
monetária. Constou em notícia na página do STF na internet (20/09/2017) o
seguinte registro feito pelo Relator do RE 870947, Ministro Luiz Fux: "para
evitar qualquer lacuna sobre o tema e com o propósito de guardar coerência e
uniformidade com a decisão do STF ao julgar a questão de ordem nas ADIs
4357 e 4425, (...) devem ser idênticos os critérios para a correção monetária de
precatórios e de condenações judiciais da Fazenda Pública". Porém, na
publicação do acórdão do STF não constou o efeito modulatório. 7 - A partir de
dezembro de 2021, iniciou-se a vigência da EC nº 113/2021, que dispõe: "Art.
3º Nas discussões e nas condenações que envolvam a Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, de
remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório,
haverá a incidência, uma única vez, até o efetivo pagamento, do índice da taxa 57
referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic),
acumulado mensalmente". 8 - A fim de orientar acerca da gestão dos
precatórios e respectivos procedimentos operacionais no âmbito do Poder
Judiciário, o CNJ editou a Resolução n. 448, de 25 de março de 2022, que
alterou a Resolução Nº 303 de 18/12/2019, passando a dispor acerca da
aplicação da Taxa SELIC a partir de dezembro de 2021, inclusive para os
precatórios emitidos pela Justiça do Trabalho. 9 - Portanto, na hipótese de
débito trabalhista da Fazenda Pública: a) quando se discute a correção
monetária de precatório desde a expedição até o efetivo pagamento, aplicam-
se a TR até 25/3/2015 e o IPCA-E de 26/3/2015 a 30/11/2021, com fundamento
nas ADIs 4425 e 4357 (nas quais de decidiu sobre os arts. 100, § 12, da CF/88
e 1º-F da Lei nº 9.494/1994, com a redação conferida pela Lei nº 11.960/2009)
e, a partir de dezembro de 2021, aplica-se a SELIC, com fundamento no art. 3º
da EC nº 113/2021; b) nas demais hipóteses, aplicase o IPCA-E como índice
de correção monetária, com fundamento no RE 870947 (no qual se decidiu
sobre o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1994), observados os parâmetros da
uniformidade e da coerência com a Questão de Ordem nas ADIs 4425 e 4357
(exceto a modulação) até 30/11/2021 e, a partir de dezembro de 2021, aplica-
se a SELIC, com fundamento no art. 3º da EC nº 113/2021. 10 - No caso
concreto, o TRT determinou a aplicação da tese firmada pelo STF na ADC nº
58. Logo, o acórdão regional revela-se em desconformidade com a tese
vinculante firmada pelo STF. Isso porque, o Supremo Tribunal Federal, ao
julgar os embargos de declaração contra o acórdão proferido na ADC nº 58,
consignou expressamente que não foi determinada a aplicação da referida tese
vinculante à Fazenda Pública. 11- Recurso de revista a que se dá provimento"
(RR-1411- 87.2011.5.04.0024, 6ª Turma, Relatora Ministra Katia Magalhaes
Arruda, DEJT 05/08/2022).

Tese 36 – A desistência da ação até o momento da frustração


da conciliação independe da anuência do réu.
A Reforma Trabalhista acrescentou ao art. 841 o § 5º, para indicar que,
ofertada a contestação, a desistência do autor dependeria da anuência do réu. Assim,
há quem entenda que após a juntada da defesa no PJE a desistência da ação
dependeria da concordância do réu. A matéria é polêmica e ainda será pacificada pelo
TST. Deixo aqui, porém, decisão da 5ª Turma do TST que entende que, nos termos do
art. 847 da CLT, a entrega formal da defesa ocorre em audiência, ainda que a peça
seja juntada com antecedência nos autos eletrônicos. Por isso, a Turma entende que
até a frustração da conciliação, em audiência, o reclamante pode desistir da ação,
independente de anuência do réu. A matéria é objeto de divergência no TST.
Pelo mesmo raciocínio, o reclamante poderia aditar ou emendar o pedido,
independente de anuência do réu, desde que o faça até a frustração da conciliação,
ato de audiência.

"I - RITO SUMARÍSSIMO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE


REVISTA INTERPOSTO SOB A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. PEDIDO
DE DESISTÊNCIA. POSSIBILIDADE ANTES DO MOMENTO PRÓPRIO
58
PARA APRESENTAÇÃO DA CONTESTAÇÃO. Esta e. Turma tem firme
entendimento de que o momento de apresentação da defesa é aquele que
sucede à tentativa de acordo. E, ainda, que a inserção da contestação no
sistema eletrônico, de forma antecipada, não se presta à impedir o pedido de
desistência da ação. Precedente. Agravo de instrumento a que se nega
provimento" (AIRR-10128-82.2019.5.03.0009, 5ª Turma, Relator
Desembargador Convocado Joao Pedro Silvestrin, DEJT 18/12/2020).

"(...) B) RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI


13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017. DESISTÊNCIA DA AÇÃO
APÓS A APRESENTAÇÃO DA CONTESTAÇÃO. ANUÊNCIA DA PARTE
CONTRÁRIA. ART. 485, § 4º, DO CPC/2015. Dispõe o § 4º do art. 485 do
Código de Processo Civil, aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho,
que, "oferecida a contestação, o Autor não poderá, sem o consentimento do
réu, desistir da ação". Embora o art. 847, caput, da CLT estabeleça que a
contestação será aduzida em audiência, no prazo de vinte minutos, após a
proposta conciliatória e a leitura da reclamação trabalhista, quando esta não for
dispensada pelas partes, na prática, a Justiça do Trabalho consagrou a defesa
apresentada de forma escrita. Nesse sentido, o art. 10 da Lei nº 11.419/06 -
que instituiu o processo eletrônico no âmbito da Justiça do Trabalho, e o art. 22
da Resolução nº 187/2017 do CSJT - que estabeleceu o procedimento adotado
para o envio da contestação via PJe. Referido procedimento foi ratificado pela
Lei nº 13.467/2017, que acrescentou o parágrafo único ao art. 847 da CLT. Na
hipótese dos autos, sendo incontroverso o fato de que o oferecimento da
contestação pela Reclamada ocorreu anteriormente ao pedido de desistência
da reclamação trabalhista, a decisão regional, ao entender desnecessária a
anuência da Ré, por considerar que a concordância da Reclamada somente
seria necessária caso o pedido fosse apresentado pelo Autor após o
recebimento da defesa em audiência, violou o artigo 485, § 4º, do CPC/2015.
Recurso de revista conhecido e provido" (RR-1000888- 03.2017.5.02.0057, 3ª
Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT 12/04/2019).

"(...) RECURSO DE REVISTA DO AUTOR. LEI Nº 13.467/2017.


TRANSCENDÊNCIA ECONÔMICA DA CAUSA RECONHECIDA. NULIDADE
PROCESSUAL. ADITAMENTO DA PETIÇÃO INICIAL APÓS A CITAÇÃO.
PROCESSO DO TRABALHO. POSSIBILIDADE. Na regra processual comum
(artigo 329 do CPC), o aditamento da petição inicial, com alteração do pedido
ou da causa de pedir, sem anuência da parte adversa, é admitido até a citação,
momento a partir do qual corre o prazo para apresentação da defesa, garantida
no artigo 5º, LV, da Constituição Federal. Não obstante, na Justiça do
Trabalho, por força dos princípios da economia processual, celeridade,
instrumentalidade das formas e simplicidade, o momento para o exercício do
direito de defesa é a data da audiência inaugural, independentemente da data
da citação (artigo 847 da CLT). Firmou-se nesta Corte o entendimento no
sentido de que o aditamento da petição inicial é possível, mesmo após a
citação da ré e sem a sua anuência, desde que seja notificada e tenha
oportunidade de se manifestar no prazo do artigo 841, caput, da CLT,
procedimento observado no caso concreto. Importa ressaltar que o acréscimo
feito à petição inicial, desde que assegurado o prazo mínimo de cinco dias para
a manifestação do reclamado antes da audiência designada, contribui para a
redução do número de ações, na medida em que se evita a formulação da 59
pretensão em outra, posteriormente ajuizada. Ademais, as normas que regem
a declaração de nulidade no processo do trabalho vinculam o desfazimento do
ato à ocorrência de prejuízo à parte, inocorrente no caso em tela. Assim, a
decisão do Tribunal Regional no sentido de ser defeso ao autor modificar o
pedido ou a causa de pedir após a citação implica obstar ao recorrente o direito
ao devido processo legal, consagrado no artigo 5º, LIV, da Constituição
Federal. Recurso de revista conhecido e provido" (RRAg-597-
24.2017.5.09.0122, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas Brandao,
DEJT 09/09/2022).

Tese 37 - A oposição à desistência do autor deve ser


fundamentada pelo réu, sob pena de ser ignorada pelo juiz.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO


PELA RECLAMADA. LEI Nº 13.467/2017. DESISTÊNCIA DA AÇÃO PELO
AUTOR. PEDIDO FORMULADO APÓS A APRESENTAÇÃO DA DEFESA.
CONTESTAÇÃO JUNTADA VIA SISTEMA ELETRÔNICO ANTES DA
AUDIÊNCIA. ARTIGO 841, § 3º, DA CLT. AÇÃO AJUIZADA NA VIGÊNCIA
DA LEI Nº 13.467/2017. NECESSIDADE DE CONSENTIMENTO DA PARTE
RECLAMADA. RECUSA SEM JUSTIFICATIVA RELEVANTE. ABUSO DE
DIREITO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA DA CAUSA RECONHECIDA. O
artigo 841, §3º, da CLT, introduzido pela Lei nº 13.467/2017, dispõe que:
“Oferecida a contestação, ainda que eletronicamente, o reclamante não
poderá, sem o consentimento do reclamado, desistir da ação”. Em
interpretação do mencionado dispositivo, esta Corte Superior vem firmando
posicionamento no sentido de que o simples protocolo da peça de defesa,
ainda que antes da audiência, configura a angularização da relação processual
e impede, por consequência, a desistência da ação sem o consentimento da
parte ré. Precedentes. Não obstante essa discussão, é bem verdade que
eventual recusa da ré quanto ao pleito formulado pelo autor deve ser
devidamente justificada, com a apresentação de motivo relevante que
demonstre o interesse na resolução da controvérsia de modo diverso, para
assim ser reputada válida. Contudo, no presente caso, o quadro fático
delineado no acórdão regional revela que “nenhum motivo indica a terceira ré
para se opor ao pedido de desistência apresentado pelo autor, caracterizando-
se a recusa
Tese 38 – Possibilidade de substituição da testemunha
arrolada previamente pela parte, sem a exigência de
enquadramento nas situações previstas no CPC.
O processo do trabalho prevê, no art. 825 da CLT, a apresentação
espontânea de testemunhas. Com isso, a produção de prova testemunhal
segue a diretriz da informalidade, não exigindo a apresentação do rol, previsto 60
no CPC. Diante desta situação, a jurisprudência do TST tem trilhado no sentido
de que a substituição de testemunha, ainda que previamente arrolada, constitui
faculdade da parte, independente do enquadramento da situação ao disposto
no art. 451 do atual CPC. O indeferimento da substituição, nesta hipótese,
configura cerceamento do direito de defesa.
"RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL. PUBLICAÇÃO ANTES
DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. PROVA TESTEMUNHAL.
TESTEMUNHA ÚNICA ARROLADA PELA PARTE RECLAMADA.
SUBSTITUIÇÃO EM AUDIÊNCIA. INDEFERIMENTO COM BASE NO ART.
408 DO CPC DE 1973. CERCEAMENTO DE DEFESA. CONFIGURAÇÃO. I. A
legislação processual trabalhista possui regramento próprio quanto à prova
testemunhal, dispondo a CLT que as testemunhas comparecerão à audiência
independentemente de notificação ou intimação, sendo que as que não
comparecem serão intimadas, a requerimento ou de ofício, ficando sujeitas a
condução coercitiva, a teor do art. 825, caput e parágrafo único; trata-se de
manifestação do princípio da informalidade que vigora no processo do trabalho.
Nesse contexto, esta Corte Superior tem entendido pela não aplicação das
disposições trazidas no art. 408 do CPC de 1973 (art. 451 do CPC de 2015),
que pressupõem a apresentação de rol de testemunhas, depois da qual, em
regra, não é possível substituir a testemunha, salvo as exceções discriminadas
na norma. II. Nessa diretriz, a Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais já decidiu que "traduz típico cerceamento de defesa, à luz do art. 5º,
LV, da Constituição Federal, a recusa de substituição de testemunha arrolada
por outra que comparece à audiência de instrução (...) o art. 408 do CPC de
1973 cuida das hipóteses de substituição de testemunha no processo comum,
que exige a apresentação de rol de testemunhas pelas partes, contrariamente
à previsão de comparecimento espontâneo do art. 825 da CLT" (E-ED-RR-884-
18.2013.5.03.0114, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator
Ministro Joao Oreste Dalazen, DEJT 17/03/2017). III. No caso dos autos, se
extrai do acórdão regional que a Corte de origem manteve a recusa na
substituição da única testemunha arrolada, que não compareceu à audiência,
(Sr. Paulo Viana Moia) por outra testemunha presente na mesma assentada
(Sr. Cláudio Barroso Neto), ao fundamento principal de que não foi verificada
nenhuma das hipóteses previstas no art. 408 do CPC de 1973, tendo
consignado que "nos termos do artigo 408 do CPC, a parte só poderá substituir
a testemunha que faleceu, que, por enfermidade, não estivesse em condições
de depor ou que, tendo mudado de residência, não seja encontrada pelo oficial
de justiça". IV. Nesse contexto, conquanto o órgão julgador tenha ampla
liberdade na condução do processo, cabendo-lhe indeferir diligências inúteis ou
meramente protelatórias, o ato do Tribunal Regional de recusa na substituição
da testemunha arrolada por outra que compareceu à audiência, com
fundamento na aplicação do art. 408 do CPC/73 em detrimento da regra
própria da sistemática processual trabalhista, caracterizou o cerceamento do
direito de defesa e a violação do art. 5º, LV, da Constituição da República,
conforme entendimento jurisprudencial majoritário sobre a matéria. V. Recurso
de revista de que se conhece e a que se dá provimento" (RR-1289-
80.2013.5.08.0125, 7ª Turma, Relator Ministro Evandro Pereira Valadao Lopes,
DEJT 17/06/2022). 61

Tese 39 – A devolução de valores percebidos a maior na


execução trabalhista, demanda o ajuizamento de uma ação de
repetição de indébito.
O reclamante levantou na execução trabalhista valor que não era a ele
devido? Nesta hipótese, ainda que alguns juízes, por pragmatismo, promovam
a execução negativa nos próprios autos em que houve o pagamento indevido,
a jurisprudência do TST não corrobora com tal procedimento. No caso, se você
está advogando pelo reclamante pode usar a tese aqui trazida, no sentido de
que a devolução de valores recebidos a maior demanda o ajuizamento de uma
ação própria, não cabendo executar o reclamante nos próprios autos. Como
estamos num processo de execução de sentença, é importante que o
advogado do reclamante alegue ofensa ao devido processo legal,
correspondente ao inciso LIV do art. 5º para que, caso o Regional não acolha o
argumento no agravo de petição, você possa apresentar um recurso de revista,
considerando que, na fase de execução, o RR só pode tratar de uma violação
direta e literal da Constituição.

"(...) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO EM FACE DE ACÓRDÃO


PUBLICADO APÓS A VIGÊNCIA LEI Nº 13.467/2017. EXECUÇÃO.
DEVOLUÇÃO DE VALORES RECEBIDOS A MAIOR NOS PRÓPRIOS
AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE AJUIZAMENTO DE AÇÃO
PRÓPRIA. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA EVIDENCIADA. (alegação de
violação aos artigos 5º, LIV e LV e 93, IX, da CF, 223, 505 e 942 do CPC)
Tratando-se de recurso de revista interposto em face de decisão regional que
se mostra contrária à jurisprudência reiterada desta Corte, revela-se presente a
transcendência política da causa, a justificar o prosseguimento do exame do
apelo. No mérito, o e. Tribunal Regional, ao determinar o prosseguimento da
execução quanto à restituição dos valores recebidos a maior pela Exequente
no próprio processo de execução em curso, contrariou a jurisprudência desta
Corte Superior, segundo a qual é necessário o manejo de ação própria de
repetição de indébito para que se veja restituído valor pago a maior, sob pena
de violação aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do
contraditório. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-
21137-51.2014.5.04.0021, 7ª Turma, Relator Ministro Renato de Lacerda
Paiva, DEJT 10/06/2022).

Tese 40 – O exequente tem direito à expedição de ofícios para


descobrir atividade remunerada do executado. 62
"RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. LEI 13.467/2017.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. EXECUÇÃO.
INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO AO INSS E AO
CAGED EM BUSCA DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO EXEQUENDO.
PENHORA SOBRE PERCENTUAL DE SALÁRIOS, PROVENTOS DE
APOSENTADORIA OU PENSÃO. POSSIBILIDADE. ART. 833, § 2.º, DO
CPC. 1. No caso em tela, o reclamante requer sejam expedidos ofícios ao
CAGED e ao INSS, a fim de se obter informações sobre aposentadoria, pensão
e/ou salários dos executados, com vistas à penhora de percentual destes. 2. O
Tribunal Regional negou provimento ao agravo de petição do reclamante, sob o
entendimento de que os valores porventura percebidos pelos sócios
executados, a título de salários ou proventos de aposentadoria, não podem ser
objeto de penhora. 3. Entretanto, esta Corte tem entendido que, em razão da
evidente natureza salarial do crédito trabalhista, é lícita a penhora, encontrando
expressa autorização legal no art. 833, § 2.º, do CPC, limitada a 50% dos
ganhos líquidos do executado (art. 529, § 3.º). Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-221200-65.2009.5.02.0040, 8ª Turma, Relatora Ministra Delaide
Alves Miranda Arantes, DEJT 27/05/2022).

Tese 41 – A homologação de acordo na ação coletiva não


prejudica a busca da reparação integral da lesão por meio de
ação individual.
A existência de ação coletiva, ainda que resultante em acordo do qual o
substituído não tenha participado, anuindo pessoalmente, ou dando procuração
com poderes de quitação ao advogado do sindicato, não impede o
prosseguimento da reclamação trabalhista.
E, havendo a ação coletiva, caso queira, o trabalhador poderá, no prazo
de 30 dias a partir da ciência da ação coletiva, requerer a suspensão do seu
processo até solução final da demanda coletiva. Julgada procedente, o
trabalhador poderá habilitar-se para a execução. E, julgada improcedente,
poderá requerer o prosseguimento de sua ação individual.

"RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL. PUBLICAÇÃO ANTES


DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. 1. AÇÃO COLETIVA AJUIZADA POR
SINDICATO. SINDICATO COMO SUBSTITUTO PROCESSUAL.
HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO NO BOJO DA AÇÃO COLETIVA. AÇÃO
INDIVIDUAL PROPOSTA PELO EMPREGADO. COISA JULGADA. NÃO
CONFIGURAÇÃO. I. Esta Corte Superior firmou entendimento de que, com
base no art. 104 da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), o
ajuizamento de ação coletiva pelo sindicado de classe, na qualidade de
substituto processual, não impede o ajuizamento de ação individual idêntica
pelo titular do direito material, por não haver a identidade de partes, em seu
aspecto formal, a que alude o artigo 301, § 2º, do CPC de 1973 (atual art. 337,
§ 2º, do CPC/2015), ainda porque há expressa ressalva quanto a ausência de
configuração de litispendência ou coisa julgada, em relação a interesses
individuais, na expressa dicção do artigo citado. Logo, nessas hipóteses, não 63
há litispendência ou coisa julgada. Precedentes. II. Nessa ordem de ideias,
entende-se que, ainda que haja homologação de acordo nos autos da ação
coletiva ajuizada pelo sindicato substituto, não há configuração de
litispendência ou coisa julgada, relativamente à ação individual que vier a se
proposta por empregado substituído, e, pela mesma razão, identidade entre as
partes das ações coletiva e individual. Precedentes. III. No caso dos autos, o
Tribunal Regional, adotando os fundamentos da sentença, concluiu "pelo
reconhecimento da coisa julgada em face do pedido de progressão e promoção
salarial, uma vez que tais pretensões são as mesmas pleiteadas pelo sindicado
profissional, foram objeto de decisão judicial e sobre a qual não cabe mais
recurso", tendo concluído, ainda , que "o sindicato profissional na condição de
substituto processual firmou acordo com o reclamado, sendo forçoso concluir
que a ocorrência da trilogia prevista no parágrafo 2 do art. 301 o do CPC,
quando lhe forem comuns as partes, o pedido e a causa de pedir, o que
impede nova apreciação da lide". IV. Sob essa perspectiva, a decisão regional
violou o art. 301, § 2º, do CPC de 1973 (atual art. 337, § 2º, do CPC/2015). V.
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento" (RR-10159-
60.2013.5.03.0091, 7ª Turma, Relator Ministro Evandro Pereira Valadao Lopes,
DEJT 23/04/2021).

"(...) III) RECURSO DE REVISTA - REGÊNCIA PELAS LEIS NS. 13.015/2014


E 13.467/2017. PEDIDO DE SUSPENSÃO DESTA AÇÃO INDIVIDUAL EM
VIRTUDE DA EXISTÊNCIA DE AÇÃO COLETIVA COM O MESMO OBJETO.
ART. 104 DO CDC. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. 1.
Conquanto não exista litispendência entre a "ação individual" e a "ação
coletiva", é certo que para se beneficiar da coisa julgada formada na ação
coletiva (transporte in utilibus), a parte deve fazer essa opção, no prazo de 30
dias contados da ciência desta, suspendendo-se o trâmite da ação individual,
sendo exigido ainda não tenha havido sentença de mérito na ação individual, a
fim de preservar o postulado do juiz natural, bem com evitar decisões
conflitantes. 2. No caso, verifica-se que o pedido de suspensão foi realizado
antes da prolação da sentença, de maneira que não há razão para o
indeferimento da pretensão pelo Tribunal Regional, devendo ser assegurado o
direito potestativo do reclamante em optar pela ação coletiva, na forma do art.
104 do CDC. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-11450-
27.2019.5.03.0078, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Bastos Balazeiro, DEJT
27/05/2022).
Tese 42 – A proporcionalidade do aviso prévio não pode
favorecer o empregador.
A jurisprudência do TST é pacífica no sentido de que o aviso prévio
proporcional ao tempo de serviço só beneficia o empregado. Assim, caso o
trabalhador peça demissão, o aviso prévio nunca será superior a 30 dias. E, se for
despedido sem justa causa, o empregador só pode exigir o cumprimento de 30 dias do
64
aviso prévio, devendo indenizar o restante do período. Assim, se o empregado
trabalhou na empresa 3 anos e 7 meses, terá direito a 39 dias de aviso prévio,
podendo ser exigido 30 dias de cumprimento do aviso e 9 dias serão indenizados.

RECURSO DE EMBARGOS - INTERPOSIÇÃO SOB A REGÊNCIA DA LEI Nº


13.015/2014 - AVISO PRÉVIO PROPORCIONAL - LEI Nº 12.506/2011 -
OBRIGAÇÃO LIMITADA AO EMPREGADOR - AUSÊNCIA DE
RECIPROCIDADE 1. Com a ressalva de meu entendimento, esta C. SBDI-I já
decidiu que a proporcionalidade do aviso prévio, prevista na Lei nº
12.506/2011, é um direito exclusivo do trabalhador, de modo que sua exigência
pelo empregador impõe o pagamento de indenização pelo período excedente a
30 (trinta) dias. 2. Estando o acórdão embargado em sintonia com esse
entendimento, inviável o conhecimento dos Embargos (art. 894, II, e § 2º, da
CLT). Embargos não conhecidos. (TST-E-RR-10739-43.2015.5.03.0181,
Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, DEJT 19/12/2018)

"(...) RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA NA


VIGÊNCIA DAS LEIS 13.015/2014 e 13.105/2015, MAS ANTES DA LEI Nº
13.467/2017. AVISO-PRÉVIO PROPORCIONAL - FORMA DE CONTAGEM -
LEI Nº 12.506/11. (violação ao artigo 1º, "caput" e parágrafo único da Lei nº
12.506/2011 e divergência jurisprudencial) Esta Corte, interpretando o teor da
Lei nº 12.506/2011, assim como a Nota Técnica nº 184/2012/CGRT/SRT/MTE,
firmou o entendimento de que o primeiro ano de trabalho do empregado na
empresa é computado para fins de cálculo do aviso prévio devido, sendo
devido o total de 30 dias. Ultrapassado o 1º ano do contrato, há que se
acrescer mais 3 dias por ano de trabalho, ainda que incompleto, até completar
o limite máximo de 90 dias de pré-aviso. Assim, no caso, incontroversa a
prestação de serviço por 1 ano e 8 meses, já é aplicada a soma de 3 dias
prevista na lei, sendo devido, portanto, 33 dias de aviso-prévio. Recurso de
revista não conhecido" (ARR-802-34.2016.5.12.0048, 7ª Turma, Relator
Ministro Renato de Lacerda Paiva, DEJT 03/12/2021).

Tese 43 – A pensão por dano material do empregado


aposentado por invalidez em razão do acidente deve
corresponder a 100% da remuneração, e não ao percentual de
redução da capacidade laborativa apurado pelo perito.
Cabe destaque de que a incapacidade leva em conta a redução da
capacidade para o ofício exercido no momento do acidente. Ademais, cabe a
apuração do dano material, mesmo que o acidente não resulte em sequela
permanente, sendo cabível a indenização equivalente à remuneração do
período em que o empregado recebeu benefício por incapacidade laborativa.
Isso ocorre porque não há impedimento para a cumulação da indenização a
65
cargo do empregador com o benefício previdenciário.
Em caso de readaptação, diante de redução ainda que parcial da capacidade
laborativa, cabe a cumulação da pensão a cargo do empregador com os
salários decorrentes da execução do contrato de trabalho.

"(...) DANOS MATERIAIS. ACIDENTE DE TRABALHO. TOTAL


INCAPACIDADE LABORATIVA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO. PENSÃO MENSAL DE
100% SOBRE A ÚLTIMA REMUNERAÇÃO. Trata-se de pedido de
indenização por danos materiais decorrentes de acidente de trabalho em que o
reclamante, no exercício da função de plataformista, teve um objeto de madeira
arremessado sobre a sua cabeça, no momento da efetivação da troca de uma
broca da plataforma. Segundo constou no laudo pericial, "o acidente referido
causou hematoma extradural, sendo realizada cirurgia para drenagem do
mesmo e outra, tempos depois, para colocação de placa de titânio
(cranioplastia). O traumatismo craniano desencadeou síndrome cócleo
vestibular periferia póstraumatistmo (zumbidos, tonteira, alteração do equilíbrio)
que tende a regredir com o passar do tempo". Ainda, de acordo com a prova
técnica, "NÃO PODE SER ELUCIADO O EVENTO DO ACIDENTE QUANTO À
SEGURANÇA NO MOMENTO DO ACIDENTE, A RECLAMADA NÃO
DISPONIBILIZOU PESSOAL SOLICITADO PARA COMPARECER À PERÍCIA
E NÃO COMPROVOU TREINAMENTO PARA A FUNÇÃO - EXERCIDA PELO
PERICIADO" (destacou-se). Concluiu, assim, a Corte regional ser objetiva a
responsabilidade da empresa pelo acidente sofrido, com amparo nos artigos
927, parágrafo único, do Código Civil e 7º, inciso XXVIII, da Constituição
Federal, mas deixou claro que é "incontroverso o grave acidente que vitimou o
obreiro, sem que, qualquer das reclamadas tenha comprovado nos autos ter
providenciado as condições ideais de segurança para a realização do evento
do qual resultou, como exsurge do silêncio da ré junto ao perito". O Regional,
apesar de registrar que o empregado foi aposentado por invalidez, deferiu ao
reclamante "pensão vitalícia, desde o acidente, inclusive indenização única
referente às prestações vincendas, em valor equivalente à diferença entre os
8,7 (oito inteiros e sete décimos) salários mínimos nacionais adimplidos ao
autor no mês do acidente, outubro de 2002, e aquele pago pela autarquia
previdenciária a título de aposentadoria". A controvérsia, portanto, cinge-se a
saber se a concessão de aposentadoria por invalidez ao empregado importa
em pagamento de pensão mensal com base em 100% da última remuneração
recebida pelo trabalhador. Nos termos do artigo 950 do Código Civil, a pensão
mensal, destinada à reparação de danos materiais, deve ser correspondente à
depreciação que o trabalhador sofreu, compatível com as funções para as
quais ficou incapacitado. No caso dos autos, em que pese tenha o Regional
arbitrado pensão mensal com base em 8,7% salários mínimos, ressaltou que
foi concedida a aposentadoria por invalidez ao empregado. Esta Corte tem
decidido que, em casos como o dos autos, quando há registro expresso de que
o empregado se aposentou por invalidez, significa que, à luz da legislação
previdenciária, ele perdeu toda a sua capacidade de trabalho,
independentemente de o Regional arbitrar o valor da pensão em 8,7% salários
mínimos. Dessa forma, constatada a incapacidade total para o trabalho
exercido antes do afastamento do emprego, haja vista a concessão da 66
aposentadoria por invalidez, a indenização mensal deve corresponder à
integralidade da remuneração percebida pelo empregado na atividade, nos
termos consagrados na parte final do artigo 950 do Código Civil, a fim de
garantir a reparação integral pelo dano sofrido. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido. (...)" (ARR-35200-84.2007.5.01.0482, 2ª Turma,
Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 20/05/2022).

Tese 44 – A indenização pelos danos materiais decorrentes de acidente


do trabalho deve ser plena, ainda que não identificadas de modo preciso
as despesas futuras, sendo possível a liquidação por artigos.
"(...) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA
INTERPOSTO PELO AUTOR. LEI Nº 13.467/2017. DANOS EMERGENTES.
DESPESAS FUTURAS COM TRATAMENTO MÉDICO. TRANSCENDÊNCIA
POLÍTICA CONSTATADA. Constata-se que há transcendência política da
causa, considerando que o acórdão regional possivelmente contrariou
jurisprudência pacificada nesta Corte (inciso II do § 1º do artigo 896-A da CLT),
a justificar que se prossiga no exame do apelo. Agravo de instrumento a que se
dá provimento para determinar o processamento do recurso de revista, em face
de haver sido demonstrada possível violação do artigo 949 do Código Civil. (...)
DANOS EMERGENTES. DESPESAS FUTURAS COM TRATAMENTO
MÉDICO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA. Em se tratando de
doença, reconhecido o nexo causal com o trabalho, surge o dever de
reparação integral e a regra prevista no artigo 949 do Código Civil impõe que
alcance todas as despesas daí decorrentes, ainda que não identificadas de
imediato. Portanto, caracterizada a lesão a bem jurídico integrante do
patrimônio de outrem, no caso, material, haverá dano a ser indenizado, que
abrange os danos emergentes (despesas com tratamento médico devidamente
comprovadas) e lucros cessantes, em valor correspondente àquele auferido
pelo trabalho para o qual se encontra inabilitado, observado o Princípio da
Reparação Integral, com fulcro no artigo 949 do Código Civil de 2002. Observa-
se que a lesão pode permanecer e fazer gerar gastos com aquisição de
medicamentos, exames de acompanhamento, tratamentos para minimizar os
efeitos, etc., de maneira que os danos emergentes deverão ser remetidos para
artigos de liquidação. Além disso, o artigo 950 do Código Civil não trata de
regra de natureza processual concernente ao instante em que a prova deva ser
produzida - cognição ou execução. Recurso de revista conhecido e provido"
(RR-1327-33.2014.5.09.0965, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas
Brandao, DEJT 18/04/2022).
Tese 45 – Determinação de recolhimento do FGTS como obrigação de
fazer, em lugar do pagamento direto ao reclamante, ainda que o
reclamado seja integrante da Administração Pública.
"(...) 3 - FGTS. DESCUMPRIMENTO DA DETERMINAÇÃO DE
RECOLHIMENTO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FAZENDA PÚBLICA.
ASTREINTES. CABIMENTO (ART. 536, § 1º, DO CPC). A obrigação de
recolhimento dos valores do FGTS na conta vinculada do empregado constitui 67
dever de exercer determinada conduta, e, portanto, em obrigação de fazer, nos
termos do reconhecimento expresso do artigo 26, parágrafo único, da Lei nº
8.036/90. Com efeito, os artigos 536, § 1º, e 537, caput, do CPC, aplicáveis
subsidiariamente ao processo do trabalho, autorizam a imposição de multa ao
réu para o cumprimento imediato da obrigação de fazer, ainda que o polo
passivo seja ocupado por ente da administração pública. Precedentes. Recurso
de revista conhecido e provido" (RR-102-11.2018.5.05.0492, 8ª Turma,
Relatora Ministra Delaide Alves Miranda Arantes, DEJT 11/04/2022).

Tese 46 – SDI-1 do TST confirma entendimento pelo qual a empresa é


obrigada ao pagamento de salários ao recusar a prestação de serviços do
trabalhador após a alta previdenciária (limbo previdenciário)

"AGRAVO EM EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE


EMBARGOS INTERPOSTO SOB A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
LIMBO JURÍDICO. CONCLUSÃO DO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL - INSS PELA APTIDÃO PARA O RETORNO AO TRABALHO.
CONCLUSÃO DA EMPRESA EM SENTIDO CONTRÁRIO. AUSÊNCIA DE
SALÁRIO E BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. Demonstrada divergência válida e específica, na forma do artigo 894,
II, da CLT, dá-se provimento ao agravo para determinar o processamento do
recurso de embargos. Agravo conhecido e provido. RECURSO DE
EMBARGOS. RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A VIGÊNCIA
DA LEI Nº 13.467/2017. LIMBO JURÍDICO. CONCLUSÃO DO INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PELA APTIDÃO PARA O
RETORNO AO TRABALHO. CONCLUSÃO DA EMPRESA EM SENTIDO
CONTRÁRIO. AUSÊNCIA DE SALÁRIO E BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A egrégia Sexta Turma, no tema,
conheceu do recurso de revista da reclamada, por violação do art. 7º, XXVIII,
da Constituição, e, no mérito, deu-lhe provimento para excluir da condenação o
pagamento da indenização por danos morais. A c. Turma, assentando estar a
reclamante, desde a alta previdenciária, sem receber salários em razão de o
INSS constatar a aptidão para o trabalho e o serviço médico da empresa
atestar inaptidão total para a atividade que realizava, concluiu que nessas
situações, não está configurada a culpa ou dolo da empresa, justificada a
conduta da empresa de demonstrar vigilância quanto à situação psicobiofísica
da reclamante, que foi posteriormente confirmada pela perícia realizada nos
autos (incapacidade total e permanente para a atividade exercida e parcial para
o trabalho em geral). A conduta da empresa, ao impedir o retorno do
empregado à atividade laboral e, consequentemente, inviabilizar o
percebimento da contraprestação pecuniária, mesmo após a alta
previdenciária, se mostra ilícita, nos termos do artigo 187 do Código Civil. O
sofrimento ensejado pela atitude abusiva da empregadora, ao sonegar direitos
básicos do trabalhador, independe de comprovação fática do abalo moral (é
presumido em razão do próprio fato), configurando-se, in re ipsa, sendo
desnecessário qualquer tipo de prova. Assim, demonstrada a existência da
conduta patronal abusiva e ilícita no acometimento do dano sofrido pelo 68
reclamante e do nexo de causalidade entre eles, exsurge a responsabilidade
civil da reclamada, nos termos do artigo 5º, X, da Constituição Federal,
revelando-se despicienda a configuração do elemento subjetivo da conduta do
empregador (dolo ou culpa). Precedentes. Recurso de embargos conhecido e
provido" (E-ED-RR-51800-33.2012.5.17.0007, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Relator Ministro Breno Medeiros, DEJT 25/03/2022).

Tese 47 – Segundo a SDI-2 do TST, a fruição de benefício previdenciário


acidentário (B-91) não é condição imprescindível para a concessão de
tutela de urgência para fins de reintegração de empregado supostamente
portador de estabilidade acidentária.

"RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO COATOR QUE


INDEFERE PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.
REINTEGRAÇÃO NO EMPREGO. ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA. DOENÇA
OCUPACIONAL. OFENSA A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. Trata-se de mandado de
segurança impetrado contra decisão que indeferiu tutela de urgência consubstanciada
no pedido de reintegração do impetrante ao emprego. Com efeito, para o deferimento
da antecipação da tutela, é necessária a prova do risco de dano irreparável ao
requerente e da plausibilidade da pretensão autoral - aferível através de juízo sumário.
Na hipótese em tela, evidente o preenchimento do primeiro pressuposto - o periculum
in mora -, uma vez que o empregado se encontra em estado de saúde precário,
desamparado pelo plano de saúde e sem sua fonte principal de sustento. Além disso, a
prova pré-constituída anexada à inicial também indica a probabilidade do direito
pleiteado pelo reclamante, uma vez que há farta evidência da existência de moléstia
possivelmente relacionada à atividade desenvolvida na empresa e de parcial inaptidão
ao trabalho. Os atestados colacionados aos autos permitem concluir que o impetrante,
admitido na empresa em 2009, sofre de doenças na coluna cervical que se manifestam
desde janeiro de 2017, pelo menos. Em 2018, lhe foram concedidos dois afastamentos
para gozo de benefício previdenciário, sendo que, um mês após o retorno do último
afastamento, lhe foi comunicada a dispensa. Registre-se, ainda, a existência de Nexo
Técnico Epidemiológico Previdenciário entre a fabricação de pneumáticos (CNAE
2211- 1/00), atividade desenvolvida pela empregadora, e doenças do sistema
osteomuscular (CID M40-54 e M60-79). Tais elementos fáticos, constantes de prova
documental pré-constituída, permitem concluir no sentido do preenchimento dos
requisitos contidos no art. 300 do CPC/2015. Malgrado a concessão do benefício
previdenciário B-91 configure importante elemento de prova para a demonstração de
nexo de causalidade entre a moléstia e o trabalho, não é possível inferir que a
concessão do auxílio-doença simples (B-31) inviabiliza de forma absoluta a
reintegração durante o curso do processo subjacente. É nesse sentido que preceitua a
Súmula 378, II, do TST, que reconhece a estabilidade quando constatada, após a
despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do
contrato de emprego. A percepção do auxílio-doença acidentário, portanto, não pode
ser considerada conditio sine qua non para o reconhecimento da estabilidade.
Ressalte-se ainda que a concessão da segurança também é compatível com o
entendimento jurisprudencial consubstanciado nas Orientações Jurisprudenciais n. 64 e
n. 142, ambas da SBDI-2. Ademais, a constatação definitiva da existência ou não do
nexo de causalidade entre a patologia e as atividades exercidas na empresa
contratante, assim como a configuração da dispensa discriminatória - matérias
controvertidas nos autos do processo matriz - escapam aos limites da ação
mandamental, porquanto demanda de cognição sumária, incompatível com a dilação
probatória e o contraditório que se fariam necessários. Recurso ordinário não provido" 69
(RO-21801-72.2019.5.04.0000, Subseção II Especializada em Dissídios Individuais,
Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT 05/02/2021)

Tese 48 – A irregularidade no recolhimento do FGTS não


implicará em rescisão indireta, quando evidente que o
empregado teve outros motivos para não pretender a
continuidade do vínculo.

O descumprimento de obrigação trabalhista, a exemplo do FGTS,


implica em rescisão indireta. Nesta hipótese, cabe a rescisão indireta ainda que
o empregador tenha feito o parcelamento do FGTS inadimplente perante a
Caixa Econômica Federal.

Para o reconhecimento da rescisão indireta, não é necessária a


imediatidade da reação do empregado em relação às reiteradas condutas
ilegais do empregador.

A jurisprudência entende ser devida a multa do § 8º da CLT na rescisão


indireta, por se tratar de decisão declaratória, e não constitutiva.

Não bastasse, cabe destacar ser possível a conversão do pedido de


demissão em rescisão indireta, com presunção em favor do reclamante, caso
provada a falta grave patronal, contemporânea ao desligamento.

Julgado improcedente o pedido de rescisão indireta, havendo a


cessação da prestação de serviços o juiz declara o término do contrato por
pedido de demissão, sendo vedada a compensação do aviso prévio não
trabalhado.

"(...) II - RECURSO DE REVISTA. RECLAMANTE. LEI Nº 13.467/2017


RESCISÃO INDIRETA. IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DOS
DEPÓSITOS DO FGTS 1 - O provimento do agravo de instrumento (juízo
precário de admissibilidade) não vincula o julgamento do recurso de revista
(juízo definitivo de admissibilidade). 2 - No caso concreto, o TRT registrou ser
fato incontroverso que "a ausência de recolhimento de depósitos de FGTS,
com parcelamentos periódicos da dívida, durante a contratualidade". 3 - A
jurisprudência majoritária desta Corte adota o entendimento de que a ausência
de recolhimentos dos depósitos de FGTS constitui falta grave do empregador,
suficiente para acarretar a rescisão indireta do contrato de trabalho nos termos
do art. 483, "d", da CLT. Julgados. 4 - O caso concreto, contudo, guarda
peculiaridades que o distinguem da hipótese firmada na jurisprudência. 5 - O 70
TRT não refutou a defesa da reclamada de que os atrasos no recolhimento do
FGTS sempre foram reconhecidos e negociados com a Caixa Econômica
Federal - CEF, ou seja, não se trata de empresa notoriamente inidônea, na
medida em que sempre tentou regularizar a situação e o atraso no
recolhimento não acarreta prejuízo, porque solucionado pela empresa junto à
CEF. 6 - Por outro lado, ao justificar porque no caso concreto não poderia ser
reconhecida a rescisão indireta por motivo dado pela empresa, o TRT
fundamentou sua conclusão nos seguintes termos: a reclamante exercia
atividade insalubre, recebeu aposentadoria especial e continuou trabalhando;
teria pedido demissão ante o "receio da reclamante na cessação da sua
aposentadoria especial e de ter que devolver valores indevidamente
percebidos, em face de manter-se trabalhando em atividade que enseja a
concessão do aludido benefício‟; "ainda que a aposentadoria voluntária não
seja causa de extinção do contrato de trabalho (nos termos da OJ nº 361 da
SDI-1 do TST), o pedido de aposentadoria especial, decorrente do labor em
condições prejudiciais à saúde, aponta ausência de ânimo na manutenção do
contrato de trabalho, prevalecendo a conclusão do Juízo de origem". 7 - Assim,
e considerando que a parte não refuta sua ausência de ânimo em findar o
contrato de emprego, deixa a recorrente de impugnar fundamento autônomo,
capaz por si só de manter o acórdão do TRT, não realizando o confronto
analítico sobre o tema. 8 - Ressalte-se que, nos termos do art. 896, §1º-A, III,
da CLT, é dever da parte, em observância ao princípio da dialeticidade, realizar
o confronto analítico do excerto transcrito com a fundamentação jurídica
invocada pela parte nas razões recursais. 9 - Recurso de revista de que não se
conhece. Ante a aplicação da Lei 13.015/2014, fica prejudicada a análise da
transcendência" (RR-20378- 47.2017.5.04.0841, 6ª Turma, Relatora Ministra
Katia Magalhaes Arruda, DEJT 16/04/2021).

"RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA COM AGRAVO.


ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017. RESCISÃO
INDIRETA. AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DO FGTS. O Tribunal Regional
reformou a sentença em que declarada a rescisão indireta do contrato de
trabalho, ao entendimento de que a "conduta da ré no que se refere ao não
recolhimento do FGTS" não é justificativa "a ensejar a justa causa imputada ao
empregador, irregularidades que podem ser corrigidas com o ajuizamento de
reclamação trabalhista", pelo que "não houve (...) a incidência da reclamada
nas hipóteses do artigo 483 da CLT". A c. Terceira Turma conheceu e deu
provimento ao recurso de revista da parte reclamante para reformar o acórdão
regional e restabelecer a r. sentença que declarou a rescisão indireta do
contrato de trabalho, com fundamento no art. 483, "d", da CLT, porquanto a
ausência ou irregularidade dos depósitos do FGTS implica falta grave do
empregador. A decisão embargada, tal como proferida, encontra-se em
conformidade com a compreensão do órgão uniformizador interno deste TST.
Precedentes. Alcançada a finalidade precípua deste Colegiado quanto à
matéria, o apelo esbarra no óbice do art. 894, § 2.º, da CLT, segundo o qual a
divergência apta a ensejar os embargos deve ser atual, não se considerando
tal a ultrapassada por súmula do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo
Tribunal Federal, ou superada por iterativa e notória jurisprudência do Tribunal
Superior do Trabalho. Recurso de embargos não conhecido" (E-ARR-10352-
59.2017.5.03.0051, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator 71
Ministro Breno Medeiros, DEJT 21/05/2021).

"RECURSO DE REVISTA. RECURSO INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS


LEIS NºS 13.015/14 e 13.105/15, E ANTERIORMENTE À LEI Nº 13.467/2017.
RESCISÃO INDIRETA - IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DOFGTS -
PARCELAMENTO JUNTO À CAIXA ECONÔMICA FEDERAL -
CONFIGURAÇÃO (alegação de violação do artigo 483, "d", da Consolidação
das Leis do Trabalho e divergência jurisprudencial). A jurisprudência desta
Corte Superior já se consolidou no sentido de que a reiterada ausência ou
insuficiência do recolhimento dos depósitos do FGTS na conta do trabalhador
constitui falta grave apta a justificar a rescisão indireta do contrato de trabalho,
com base no artigo 483, "d", da CLT. Precedentes. Nesse contexto, impende
registrar que a jurisprudência desta Corte Superior também se sedimentou no
sentido de que o termo de parcelamento da dívida do FGTS firmado pela
empresa reclamada junto à Caixa Econômica Federal não afasta a rescisão
indireta. Precedentes. Desta forma, conclui-se que a irregularidade no
recolhimento dos depósitos de FGTS autoriza o reconhecimento da rescisão
indireta, com o consequente pagamento das verbas rescisórias relativas a essa
modalidade de ruptura do contrato de trabalho, mostrando-se irrelevante para
tanto, a existência de acordo de parcelamento da dívida com o órgão gestor do
FGTS, a Caixa Econômica Federal. Recurso de revista conhecido e provido"
(RR-3934-36.2014.5.12.0027, 7ª Turma, Relator Ministro Renato de Lacerda
Paiva, DEJT 20/08/2021).

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO A ACÓRDÃO PUBLICADO NA


VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. RITO SUMARÍSSIMO. MULTA
PREVISTA NO ARTIGO 477, § 8º, DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO
TRABALHO. RESCISÃO INDIRETA RECONHECIDA EM JUÍZO.
CABIMENTO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA DA CAUSA RECONHECIDA.
1. Cinge-se a controvérsia a estabelecer se o reconhecimento da rescisão
indireta em Juízo tem o condão de afastar a incidência da multa prevista no
artigo 477, § 8º, da CLT. 2. A tese esposada pela Corte regional, na hipótese
dos autos, revela-se dissonante da jurisprudência atual, iterativa e notória deste
Tribunal Superior, resultando configurada a transcendência política da causa
(artigo 896-A, § 1º, II, da CLT). 3. O § 8º do artigo 477 da CLT é expresso ao
impor ao empregador a obrigação de pagar multa pelo não adimplemento da
obrigação de quitar as parcelas constantes do instrumento de rescisão no
prazo legal, excepcionada apenas a hipótese de o trabalhador,
comprovadamente, ter dado ensejo à mora. Num tal contexto, a existência de
controvérsia a respeito da forma de extinção do contrato de trabalho, por si só,
não tem o condão de afastar a incidência da multa, porquanto não se pode
cogitar em culpa do empregado, uma vez que cabe ao empregador responder
por seus atos. 4. O reconhecimento em juízo da rescisão indireta, portanto, não
tem o condão de isentar a reclamada do pagamento da penalidade, fazendo jus
a reclamante, na hipótese dos autos, ao recebimento da multa pelo atraso no
pagamento das verbas rescisórias. Precedentes desta Corte superior. 5.
Recurso de Revista conhecido e provido" (RR-646- 24.2020.5.11.0019, 6ª
Turma, Relator Ministro Lelio Bentes Correa, DEJT 20/05/2022). 72

"(...) CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA.


ATRASO REITERADO NO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS E
IRREGULARIDADE NO RECOLHIMENTO DO FGTS. O atraso reiterado no
pagamento dos salários, bem como a irregularidade no recolhimento do FGTS,
denota o não cumprimento das obrigações por parte do empregador e,
portanto, enseja a rescisão contratual pelo empregado, nos termos do art. 483,
d, da CLT. Ademais, esta Corte tem reiteradamente decidido pela relativização
do requisito da imediatidade no tocante à rescisão indireta, em observância aos
princípios da continuidade da prestação laboral e da proteção ao
hipossuficiente. Por fim, é firme, na jurisprudência, o posicionamento de que o
pedido de demissão do empregado, ainda que homologado pelo sindicato da
categoria profissional, não obsta a configuração da rescisão indireta. O art.
483, caput e § 3º, da CLT, faculta ao empregado considerar rescindido o
contrato de trabalho antes de pleitear em juízo as verbas decorrentes da
rescisão indireta. Todavia, o referido dispositivo não estabelece o procedimento
a ser adotado pelo empregado quando o empregador incidir em um dos casos
de justa causa. Vale dizer, não há qualquer exigência formal para o exercício
da opção de se afastar do emprego antes do ajuizamento da respectiva ação
trabalhista. Assim, no presente caso concreto, o pedido de demissão da obreira
demonstra tão somente a impossibilidade de manutenção do vínculo
empregatício, sem significar qualquer opção pela modalidade de extinção
contratual. Comprovada em juízo a justa causa do empregador, presume-se a
relação entre a falta patronal e a iniciativa da empregada de rescindir o contrato
de trabalho. E não há, no quadro fático delineado pelo TRT, qualquer indício de
que tenha sido outro o motivo do desligamento da reclamante. Recurso de
revista conhecido e provido. (...)" (RR-103100-40.2012.5.17. 0005, 6ª Turma,
Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 09/04/2021).

"I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEI N°


13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA. CONVERSÃO DO PEDIDO DE
DEMISSÃO. TRANSPORTE DE VALORES SEM SEGURANÇA. NÃO
PAGAMENTO DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. O Tribunal de origem
converteu o pedido de demissão em rescisão indireta, sob o fundamento de
que o autor transportou altas quantias em espécie sem segurança, além de ter
trabalhado em condições insalubres sem nunca receber o adicional respectivo.
Esta Corte Superior firmou o entendimento de que é possível a conversão do
pedido de demissão em rescisão indireta quando presente alguma das
hipóteses do art. 483 da CLT. No caso, o empregador incorreu em falta grave
do art. 483, "c" e "d", da CLT, apta a romper o vínculo contratual, pois não
observou o dever de diminuição dos riscos inerentes ao trabalho (transporte de
valores elevados sem escolta), submetendo o autor, sem treinamento, a perigo
contra a sua integridade física. Outrossim, a ausência de pagamento do
adicional de insalubridade caracteriza inadimplemento das obrigações
contratuais por parte do empregador. Diante do contexto fático-probatório
delineado, incólumes os arts. 5°, XXXVI, da CF, 483 da CLT e 151 do Código
Civil. Os arestos colacionados esbarram no óbice da Súmula nº 296 do TST.
Agravo de instrumento a que se nega provimento. (...)" (RR-1115-
40.2013.5.04.0721, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena Mallmann, DEJT
17/12/2021). 73

"(...) CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA.


JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR. IMEDIATIDADE DESNECESSÁRIA.
TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA CONSTATADA. Constatado equívoco na
decisão agravada, e em se tratando de recurso em face de acórdão regional
que possivelmente contrariou a jurisprudência desta Corte, revela-se presente
a transcendência política da causa (inciso II do § 1º do aludido dispositivo), dá-
se provimento ao agravo para determinar o processamento do agravo de
instrumento. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA
AUTORA. LEI 13.467/2017. CONVERSÃO DO PEDIDO DE DEMISSÃO EM
RESCISÃO INDIRETA. JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR. IMEDIATIDADE
DESNECESSÁRIA. Agravo de instrumento a que se dá provimento para
determinar o processamento do recurso de revista, em face de haver sido
demonstrada possível violação do artigo 483, "d", da CLT. RECURSO DE
REVISTA DA AUTORA. LEI 13.467/2017. CONVERSÃO DO PEDIDO DE
DEMISSÃO EM RESCISÃO INDIRETA. JUSTA CAUSA DO EMPREGADOR.
IMEDIATIDADE DESNECESSÁRIA. No que tange, especificamente, à
rescisão indireta, o artigo 483 da CLT elenca os tipos de infrações cometidas
pelo empregador que poderão dar ensejo a tal modalidade de extinção
contratual. Em sua alínea "d" prescreve como motivo da rescisão contratual o
descumprimento pelo empregador das obrigações contratuais. Aqui, embora
exista posicionamento minoritário em sentido contrário, a doutrina e
jurisprudência atualmente vêm entendendo que as obrigações contratuais
citadas pela norma se referem tanto àquelas estipuladas diretamente pelas
partes, como também às derivadas de preceito legal ou normativo. No caso, o
Tribunal Regional consignou que: "em que pese a irregularidade de depósitos
de FGTS constitua falta patronal passível a justificar declaração de rescisão
indireta, a teor do artigo 483, "d", da CLT, o fato é que a autora, ciente das
irregularidades perpetradas ao longo do ano de 2015, formalizou pedido de
demissão (id. 1da9d9e) em 04-01-2016" e "A conduta obreira não se
harmoniza com o princípio da imediatidade, operando-se assim a figura do
perdão tácito". Assim, a conduta da reclamada revela-se suficientemente grave,
ensejando, pois, a rescisão indireta do contrato de trabalho, diante dos
prejuízos ocasionados à autora, nos moldes do artigo 483, "d", da CLT.
Acrescente-se que o critério de imediatidade da insurgência da empregada,
ante a falta cometida, merece sérias ponderações, uma vez que a qualidade de
hipossuficiente do obreiro na relação e a consequente necessidade de
manutenção do vínculo para sua própria subsistência, principalmente em se
tratando de descumprimento de obrigações contratuais que se renovam no
tempo, dificultam a pronta manifestação da parte que, na verdade, fica à mercê
do mau empregador. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido"
(RR-760-08.2016.5.12.0008, 7ª Turma, Relator Ministro Claudio Mascarenhas
Brandao, DEJT 12/03/2021).

"RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO


SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA. PEDIDO
JULGADO IMPROCEDENTE. AVISO PRÉVIO. DEDUÇÃO INDEVIDA. Em
hipóteses como a dos autos, em que é postulada a rescisão indireta do
contrato de trabalho, o ajuizamento da ação trabalhista supre a obrigação do 74
empregado de conceder aviso prévio, não sendo aplicável a disposição contida
no art. 487, § 2º, da CLT ("A falta de aviso prévio por parte do empregado dá
ao empregador o direito de descontar os salários correspondentes ao prazo
respectivo"). Recurso de embargos conhecido e desprovido" (E-Ag-RR-10356-
85.2015.5.03.0142, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Relator
Ministro Hugo Carlos Scheuermann, DEJT 07/12/2018).

Tese 49 – É possível a juntada de documentos até o encerramento da


instrução, desde que observado o contraditório.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE


REVISTA REGIDO PELO CPC/2015 E PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº
40/2016 DO TST. JUNTADA DE CONTROLES DE JORNADA ANTES DO
ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO. OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO.
VALIDADE. Não se trata, na hipótese, de juntada de documentos novos,
tampouco de documentos a que a reclamada estava impedida de fazê-lo no
momento processual adequado, sendo, portanto, inaplicável à hipótese a
previsão contida no artigo 435, parágrafo único, do CPC de 2015, invocado
pela agravante. No caso, embora a reclamada não tenha trazido, com a
contestação, a totalidade dos controles de jornada, o fez anteriormente ao
encerramento da instrução processual, tendo inclusive sido "conferido à autora
prazo para manifestação e para apresentação de novo demonstrativo de
diferenças de horas extras". Assim, a decisão regional encontra-se em
consonância com a notória, reiterada e atual jurisprudência desta Corte
superior, no sentido de, na forma do artigo 845 da CLT, ser válida a juntada de
documentos até o encerramento da instrução probatória, desde que observado
o contraditório, como na hipótese. Agravo de instrumento desprovido. (...)"
(AIRR-474-92.2017.5.09.0003, 2ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire
Pimenta, DEJT 25/06/2021).

Tese 50 - A nulidade da decretação da confissão ficta da reclamante, que


não foi intimada pessoalmente para comparecimento na audiência
dependia do registro oportuno dos protestos.
De acordo com a súmula 74 do TST, a confissão ficta pela ausência do litigante
à audiência na qual deveria prestar o seu depoimento pessoal depende da prévia
intimação pessoal para o seu comparecimento. No caso concreto, a reclamante foi
intimada para comparecimento na audiência por meio do seu advogado, o que seria
irregular. No entanto, sob pena de preclusão, a nulidade deveria ter sido arguida em
audiência, com o consequente registro de protestos, caso o magistrado não acolhesse
a argumentação. Porém, se o advogado deixa para alegar a nulidade apenas no
recurso ordinário, sem ter registrado o inconformismo, houve preclusão, a impedir o
revolvimento da matéria na instância recursal. 75
Por outro lado, se o acórdão regional registra a juntada de cartões de ponto e o
integral cumprimento das obrigações pelo empregador, em relação a eventual
sobreaviso ou prontidão, caberia à reclamante embargar de declaração, se fosse o
caso, para explicitar que a juntada dos registros de ponto tenha sido irregular. Não o
fazendo, não é possível arguir a tese de confissão recíproca e pedir a aplicação do
item I da súmula 338 do TST já que, para tanto, os Ministros do TST deveriam
promover o revolvimento da matéria fática para confirmar o acerto do recurso de
revista em relação aos fatos pertinentes à existência ou não de irregularidade na
juntada dos cartões de ponto.
Em terceiro lugar, deixamos uma lição sobre a elaboração do recurso de
revista que tenho reiterado em diversas oportunidades: de acordo com a súmula 221
do TST é preciso delimitar no RR de modo preciso qual é o dispositivo que se tem por
violado ou sobre o qual paira a divergência jurisprudencial. Assim, em RR que discuta
desacerto quanto às regras de distribuição do ônus da prova, não basta o recorrente
invocar o art. 818 da CLT ou o art. 373 do CPC, sendo imprescindível a delimitação
sobre qual o inciso de tais artigos trata o recurso.

"(...) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA PARTE RECLAMANTE.


ACÓRDÃO REGIONAL. PUBLICAÇÃO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. 1. CERCEAMENTO DE DEFESA. INTIMAÇÃO PESSOAL DA PARTE
RECLAMANTE. NOTIFICAÇÃO DO ADVOGADO. CONFISSÃO FICTA.
PRECLUSÃO. DIALÉTICA RECURSAL. I. A parte reclamante traz questão preclusa,
nas razões do recurso de revista, quanto à nulidade por cerceamento de defesa,
decorrente da decretação da confissão ficta que lhe foi imputada pela sua ausência na
audiência de instrução, sem que tenha sido notificada pessoalmente para comparecer
ao aludido ato processual solene. II. Isso porque a parte recorrente não suscitou a
pretensa nulidade por cerceamento de defesa no primeiro momento em que se
manifestou nos autos, após o ato processual eventualmente viciado, consoante
determina o art. 795 da CLT, evidenciando a preclusão dessa discussão. Importa
destacar que a parte reclamante interpôs embargos de declaração (fls. 738/740) em
face da sentença e não arguiu a mencionada nulidade, de modo que se torna
inoperável aferir contrariedade à Súmula 74 do TST, bem como identificar dissenso
jurisprudencial, especialmente porque a abordagem trazida pela parte reclamante, nas
razões do recurso de revista, não se insurge quanto à conclusão do Tribunal a quo de
que a discussão sobre a suscitada nulidade encontra-se preclusa, desatendendo,
assim, a dialética recursal, de que trata a Súmula 422 do TST . III. Recurso de revista
de que não se conhece. 2. HORAS EXTRAORDINÁRIAS. SOBREAVISO E
PRONTIDÃO. TEMPO DE VIAGEM. SÚMULA 74, I E II, DO TST. CONFISSÃO FICTA
RECÍPROCA. JUNTADA DOS CARTÕES DE PONTO. SÚMULA 338, I, DO TST.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. I. O Tribunal Regional manteve a sentença que
reputou indevidas as horas extraordinárias referentes ao tempo de expectativa de
serviço (sobreaviso e prontidão), porque foi declarada a confissão ficta da parte
reclamante por não ter comparecido à audiência de instrução para depor, o que
resultou na presunção relativa de veracidade da tese defensiva, não elidida pela prova
pré-constituída nos autos, ante o teor da defesa da parte reclamada. II. Observados os
limites fáticos do acórdão regional, nos moldes da Súmula 126 do TST, constata-se
que a decisão regional harmoniza-se com os itens I e II da Súmula 74, do TST, porque
não houve desconstituição da conclusão de que inexistiu labor em sobreaviso e de
pagamento do labor em estado de prontidão pela prova pré-constituída nos autos,
mantendo-se a confissão ficta do autor. III. Importa destacar que a parte reclamante
não interpôs embargos de declaração para que o Tribunal Regional do Trabalho se 76
manifestasse sobre a ausência da juntada dos controles de ponto quanto ao labor em
estado de prontidão. Efetivamente, o acórdão regional limita-se a informar nesse tópico
que a defesa apresentada pela parte reclamada "aduziu o pagamento correto das
horas de prontidão e negou a permanência do demandante em sobreaviso (fls. 43-46 e
49-50)" (fl. 829), não especificando se houve, ou não, a apresentação dos cartões de
ponto para comprovar a ausência de labor em prontidão. Por essa perspectiva, caso
houvesse algum dado fático no acórdão regional consignando que a parte reclamada
não apresentou os registros da jornada de trabalho, ônus que lhe cabia, consoante a
Súmula 338, I, do TST, estaríamos diante da confissão ficta recíproca, o que importaria
o reconhecimento das alegações da petição inicial, quanto ao pleito referente à
extrapolação da jornada de trabalho em relação ao trabalho em prontidão, pois a
apresentação dos cartões de ponto é medida esperada antes da audiência e decorre
de exigência legal, nos termos do art. 74, § 2º, da CLT (Precedentes do TST). IV. Frise-
se: a afirmação genérica do acórdão regional de que a defesa apresentada pela parte
reclamada manteve inalterado o ônus probatório do obreiro em comprovar suas
alegações em relação à jornada de trabalho em prontidão, em função da confissão
ficta, não é precisa ao ponto de se concluir se houve, ou não, a juntada dos cartões de
ponto para esse fim. V. Cabia à parte reclamante pugnar pelos esclarecimentos sobre
essa premissa fática, por meio da interposição dos embargos de declaração em face
do acórdão regional, a viabilizar a identificação da confissão ficta recíproca, para efeito
de prequestionamento, como exige a Súmula 297 do TST. Como não o fez, torna-se
inviável apreciar a matéria sob essa perspectiva. VI. Pontue-se que, em outro tópico do
acórdão regional, ao se examinar o tema: "horas extraordinárias - turno ininterrupto de
revezamento", há menção de que "os controles de freqüência atrelados à defesa
comprovam que o autor laborou em turnos ininterruptos de revezamento
(exemplificativamente, veja-se os documentos de fls. 154-155), abarcando os períodos
diurno e noturno" (fl. 832). Essa afirmação do Tribunal a quo, em que pese não tratar
do labor em prontidão, consigna que a parte reclamada apresentou as provas
documentais que lhe eram exigidas, nos termos da Súmula 338, I, do TST. VII.
Portanto, ante a aderência jurisprudencial do acórdão regional ao teor dos itens I e II da
Súmula 74 do TST, incide o óbice da Súmula 333 do TST para o processamento do
recurso de revista. VIII. Recurso de revista de que não se conhece. 3. FGTS. ÔNUS
DA PROVA. DESATENDIMENTO DO ART. 896 DA CLT. SÚMULA 221 DO TST. I. A
parte reclamante, no recurso de revista, menciona os arts. 818 da CLT e 359 do CPC
de 1973, sem especificar qual inciso desses dispositivos restariam violados. II. Com
efeito, a compreensão da cabeça dos tipos legais citados depende da explicitação dos
apostos constantes em seus incisos. Deixando a parte recorrente de detalhar qual
deles entende vulnerado acaba por inviabilizar o cotejo analítico de suas razões como
exige a Súmula 221 do TST. III. Do mesmo modo, o único julgado colacionado, nas
razões do recurso de revista, não cita o repositório oficial ou a fonte de publicação
respectivos aptos a ensejar a comprovação de divergência jurisprudencial, como exige
os itens I e III da Súmula 337 do TST. IV. Recurso de revista de que não se conhece.
(...) 5. HORAS EXTRAORDINÁRIAS. INTERVALO INTRAJORNADA. SUPRESSÃO.
CATEGORIA ESPECIAL. FERROVIÁRIO. SÚMULA 446 DO TST. I. O acórdão
regional indeferiu o pagamento de horas extraordinárias em decorrência da supressão
do intervalo intrajornada para descanso e alimentação porquanto "o acionante está
enquadrado na situação prevista pelo artigo 238, § 5°, do Consolidado, pois ostenta a
condição de ferroviário pertencente à categoria especial e, existindo preceito
específico, resta desautorizada a incidência de norma geral aplicada aos demais
trabalhadores. Impõe-se, pois, a ratificação do veredicto de origem. (fl. 829). II. Como
se observa, o Tribunal Regional proferiu decisão em confronto com a Súmula 446 do
TST, segundo o qual "a garantia ao intervalo intrajornada, prevista no art. 71 da CLT,
por constituir-se em medida de higiene, saúde e segurança do empregado, é aplicável
também ao ferroviário maquinista, não havendo incompatibilidade entre as regras
inscritas nos arts. 71, § 4º, e 238, § 5º, da CLT". III. Recurso de revista de que se 77
conhece e a que se dá provimento" (ARR-320-29.2010.5.15.0108, 7ª Turma, Relator
Ministro Evandro Pereira Valadao Lopes, DEJT 08/10/2021).

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