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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA CÍVEL

DA CIDADE

Ação Revisional
Proc. nº. 44556.11.8.2018.99.0001
Autora: Farmácia Zeta Ltda
Réu: Banco Xista S/A

FARMÁCIA ZETA LTDA, já qualificada na exordial desta

querela, vem, com o devido respeito a Vossa Excelência, por intermédio de seu
bastante procurados, com suporte no art. 98, § 5º c/c art. 99, § 1º, um e outro da
Legislação Adjetiva Civil, requerer os

BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA,

em razão das justificativas de ordem fática e de direito, tudo abaixo delineado.

I - SUCINTA INTRODUÇÃO

A parte Autora, verdadeiramente, requerera, com a exordial,


a produção de prova pericial contábil. O fito, como se depreende, é examinar todos
os pagamentos realizados durante a relação contratual, firmada com a instituição
financeira ré. Máxime no tocante à cobrança de encargos ilegais.

No despacho que demora às fls. 127, Vossa Excelência


instou que as partes indicassem, querendo, os meios de provas que pretendem

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demonstrar a veracidade dos fatos. Mais uma vez a Promovente insistira, e
requerera, a produção da aludida prova.

Ulteriormente, este magistrado nomeara perito e estipulou


prazo para apresentação de quesitos.

O Expert, consoante se vê do arrazoado que dormita às fls.


139/142, postulou honorários periciais no importe de R$ 9.500,00 (nove mil e
quinhentos reais). O mesmo justifica o montante, asseverando um número elevado
de horas a serem trabalhadas.

A parte Requerente refutara o valor, contudo suas


ponderações foram rechaçadas (fls. 151/153).

Diante desse quadro fático, abaixo se formula, e se justifica,


o benefício da gratuidade da justiça

II – VIABILIDADE DO PLEITO NESTA ETAPA PROCESSUAL

Convém ressaltar, igualmente, que o pleito da gratuidade da


justiça, consoante previsto no Código de Processo Civil, pode ser requerido
durante a instrução processual, de forma parcial ou total (CPC, art. 98, § 5º). É
dizer, pode direcionar-se, até mesmo, a certos atos processuais.

Com esse enfoque, urge transcrever o magistério de


Humberto Theodoro Júnior, o qual revela, ad litteram:

“Importante destacar que, conforme o grau de necessidade, a assistência


judiciária gratuita poderá ser total ou parcial, ou seja, poderá ser
concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais. Prevê-se,
ainda, que possa consistir na redução do percentual de despesas

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processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso do
procedimento (art. 98, § 5º). Segundo o mesmo critério, o juiz poderá
parcelar as despesas processuais que o beneficiário tiver que adiantar no
curso do procedimento (art. 98, § 6º). “ (THEODORO Jr., Humberto. Curso
de direito processual civil. 56ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 318)

Com efeito, inarredável a pertinência processual do pleito


em análise.

III – INCAPACIDADE FINANCEIRA DE ARCAR COM A DESPESA

O valor, almejado pelo perito, é, para a Autora, e para muitos


outros, de montante significativo.

Afirma-se, assim, que aquela, embora sociedade empresária


de direito privado, de pequeno porte, não tem condições de arcar com a despesa
do processo, relacionada à realização da prova pericial.

Destarte, a Demandante ora formula, e abaixo melhor


justifica, pleito de gratuidade da justiça. O faz por declaração de seu patrono, sob a
égide do artigo 105, in fine, do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no
instrumento procuratório acostado.

Aqui a controvérsia se restringe quanto à possibilidade de


deferimento da gratuidade da justiça, mormente em face do valor cobrado em
determinado ato processual do procedimento e, ainda, quando o pleito é formulado
por pessoa jurídica.

De mais a mais, impende asseverar que a Lei nº 1.060/50,


até então principal legislação correspondente a regular os benefícios da justiça

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gratuita, apesar da vigência do novo CPC, ainda permanece em vigor, embora
parcialmente.

Disciplina a Legislação Adjetiva Civil, in verbis:

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL


Art. 1.072 - Revogam-se:
(...)
III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de
fevereiro de 1950;

Nesse compasso, com a vigência do CPC, há, apenas,


uma revogação limitada, a saber:

“5. A Lei 1.060/1950. Até a edição do CPC/2015, a Lei 1.060/1960


constituía a principal base normativa do benefício da justiça gratuita. Essa
lei não foi completamente revogada pelo CPC/2015, sobretudo porque
há nela disposições que se relacionam à assistência judiciária. “ (Teresa
Arruda Alvim Wambier ... [et. al.], coordenadores. Breves comentários ao
Novo Código de Processo Civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 355)

A Constituição Federal afirma que tal benefício passou a


constituir-se em verdadeira garantia constitucional. Nessa diretriz, estabelece o
inciso LXXIV, de seu art. 5º, em observância ao devido processo legal.

No caso em tela, não se vislumbra qualquer indício de boa


situação financeira da sociedade empresária Autora.

A confirmar o quanto alegado, a Postulante acosta pesquisa


feita junto à Serasa, a qual atesta que pesam contra aquela mais de 45 (quarenta e

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cinco) protestos e, mais, 7 (sete) cheques sem provisões de fundos. (doc. 01) Lado
outro, o balancete do último trimestre também demonstra que houve um prejuízo
de mais de R$ 135.000,00 (cento e trinta e cinco mil reais) . (doc. 02) Ademais, os
extratos bancários ora acostados, também demonstram saldo negativo há mais de
6(seis) meses e, além disso, empréstimos vários tomados em diversas instituições
financeiras. (doc. 03/011)

Noutro giro, o acesso ao Judiciário é amplo, voltado também


às pessoas jurídicas. Aquela, como visto acima, demonstrou sua total carência
econômica, de modo que se encontra impedida de arcar a despesa processual em
liça.

Ao contrário disso, sob pena de ferir-se princípios


constitucionais, como os da razoabilidade e o da proporcionalidade, a restrição de
direitos deve ser vista com bastante cautela.

De mais a mais, registre-se que a parte contrária poderá


requerer, a qualquer momento durante a instrução processual, a revogação de tais
benefícios, desde que demonstre, cabalmente, a existência de recursos da parte
adversa. (CPC, art. 100, caput)

Lado outro, o fato daquela, igualmente, utilizar-se dos


trabalhos particulares de profissional da advocacia, não implica, nem de longe, a
ausência de pobreza, na forma da lei.

Até porque, na hipótese, seu defensor optou por ser


remunerado na forma ad exitum, consoante prova instruída nesta petição (doc..
12). Ou até melhor, há registro na legislação processual justamente nesse ensejo
(CPC, art. 99, § 4°).

Nessa esteira de entendimento, professa Humberto


Theodoro Júnior in verbis:

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“Está assente na jurisprudência que o benefício da Lei 1.060/1950 não é
exclusivo das pessoas físicas, podendo estender-se também às pessoas
jurídicas (art. 98, caput, NCPC). “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a
pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua
impossibilidade de arcar com os encargos processuais” (Súmula
481/STJ).206 A diferença está em que a pessoa natural não precisa
comprovar seu estado de carência, pois este é presumido de sua
alegação (art. 99, § 3º).207-208 Já a pessoa jurídica, para obter
assistência judiciária, tem o ônus de comprovar sua incapacidade
financeira de custear o processo. Em qualquer caso, o fato de o
requerente ser assistido por advogado particular não impede a
concessão do benefício (art. 99, § 4º).” (THEODORO Jr, Humberto. Curso
de Direito Processual Civil [livro eletrônico]. Vol. I. 57ª Ed. Forense,
03/2016. Epub. ISBN 978-85-309-7022-2)

A corroborar o exposto acima, urge transcrever o magistério


de Daniel Assumpção Neves:

“A presunção de veracidade da alegação de insuficiência, apesar de


limitada à pessoa natural, continua a ser a regra para a concessão do
benefício da gratuidade da justiça. O juiz, entretanto, não está vinculado
de forma obrigatória a essa presunção nem depende de manifestação da
parte contrária para afastá-la no caso concreto, desde que existam nos
autos ao menos indícios do abuso do pedido de concessão da
assistência judiciária. “ (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código
de Processo Civil – Lei 13.105/2015. – Rio de Janeiro: Método, 2015, p.
106)
(os destaques são nossos)

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Com esse enfoque, urge transcrever trecho do voto do
eminente Ministro OG Fernandes, do STJ, proferido nos autos do REsp nº
1.504.432/RJ, in verbis:

“Na oportunidade, a Ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso, citou


judiciosa lição de José Carlos Barbosa Moreira, que transcrevo a seguir:

[...] o fato de obter o benefício da gratuidade de maneira alguma


impede o necessitado de fazer-se representar por profissional liberal.

Se o seu direito abrange ambos os benefícios – isenção de pagamentos


e a prestação de serviços –, nada obsta a que ele reclame do Estado
apenas o primeiro. É antijurídico impor-lhe o dilema: tudo ou nada.

No precedente, portanto, admitiu-se a possibilidade de gozo da


assistência judiciária gratuita mesmo ao jurisdicionado contratante de
representação judicial com previsão de pagamento de honorários
advocatícios ad exitum.”

Por outro lado, a contratação de advogado particular não


deve impressionar, pois consoante precedente do E. Superior Tribunal de Justiça
“nada impede a parte de obter os benefícios da assistência judiciária e ser
representada por advogado particular que indique, hipótese em que, havendo a
celebração de contrato com previsão de honorários ad exito, estes serão devidos,
independentemente da sua situação econômica ser modificada pelo resultado final
da ação, não se aplicando a isenção prevista no art. 3º, V, da Lei 1.060/50,
presumindo-se que a esta renunciou” (STJ, 3ª Turma, REsp 1.153.163, Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. 26/06/2012, DJ 02/08/2012) .”

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Assim, em determinados casos, comprovada, por meio de
declaração de hipossuficiência econômica, mesmo em se tratando de beneficiário
que se utiliza de advogado particular, tem a jurisprudência o seguinte
entendimento:

APELAÇÃO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. IMPUGNAÇÃO.


REQUERIMENTO AFIRMANDO A INCAPACIDADE FINANCEIRA.
PRESUNÇÃO JURIS TANTUM DE VERACIDADE. ASSISTÊNCIA POR
ADVOGADO PARTICULAR. INEXISTÊNCIA DE ÓBICE AO DEFERIMENTO
DO BENEFÍCIO.

1. A declaração da parte de que não possui condição financeira de arcar


com o pagamento das custas, sem prejuízo do seu sustento e de sua
família, possui presunção relativa de veracidade. 2. A assistência por
advogado particular não obsta a concessão da ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. 3. 3. Precedentes do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (TJAM;
APL 0236468-66.2015.8.04.0001; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Airton
Luís Corrêa Gentil; Julg. 22/10/2018; DJAM 30/10/2018; Pág. 14)

RECURSO DE APELAÇÃO. IMPUGNAÇÃO À CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS


DA JUSTIÇA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. AUSÊNCIA DE
PROVA EM CONTRÁRIO. PRESUNÇÃO JURIS TANTUM.
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA RESPALDADA NOS RENDIMENTOS
PERCEBIDOS PELO RECORRIDO. PARTE ASSISTIDA POR ADVOGADO
PARTICULAR. IRRELEVÂNCIA. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. O art. 5º, da Constituição da República, assegura às partes, de forma


indistinta, os benefícios da assistência jurídica integral e gratuita, desde
que demonstrada a insuficiência dos recursos. 2. A afirmação de pobreza
é munida de presunção juris tantum, sendo necessária a existência nos

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autos de prova em contrário para o indeferimento do benefício da justiça
gratuita. 3. Auferindo o recorrido remuneração líquida compatível com a
insuficiência financeira alegada, a manutenção da decisão que deferiu os
benefícios da justiça gratuita é medida que se impõe. 4. O simples fato de
a parte ser assistida por advogado particular não impede a concessão do
benefício da justiça gratuita. 5. Recurso não provido. (TJMG; APCV
1.0193.15.000465-6/001; Rel. Des. Corrêa Junior; Julg. 25/09/2018;
DJEMG 05/10/2018)

Respeitante aos benefícios da gratuidade da justiça,


destinados à pessoa jurídica, agregando fundamentos ao conteúdo da Súmula 481
do STJ, impende trazer à tona os seguintes julgados:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. PESSOA JURÍDICA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA
INDEFERIDA. AUSÊNCIA DE RECURSOS FINANCEIROS.

1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que, nos


autos da Ação de Execução de Título Extrajudicial, indeferiu pleito de
concessão de gratuidade de justiça. 2. Conforme a Súmula nº 481/STJ,
Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins
lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos
processuais. 3. Comprovada a insolvência por meio de balancete e
demonstrativo de déficit, defere-se o benefício da justiça gratuita. 4. O
fato se encontrar-se representado por advogado particular não impede a
concessão da benesse legal, nos moldes do previsto no art. 99, §4º, do
CPC. 5. Recurso conhecido e provido. (TJDF; Proc. 07161.28-
58.2018.8.07.0000; Ac. 114.4117; Segunda Turma Cível; Rel. Des. César
Loyola; Julg. 13/12/2018; DJDFTE 19/12/2018)

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
INDEFERIMENTO NA ORIGEM. PESSOA JURÍDICA. IRMANDADE DA
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PORTO ALEGRE. REFORMA DA
DECISÃO NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO.

Segundo dicção do artigo 98 da novel legislação processual, há a


possibilidade de concessão do benefício de gratuidade judiciária à pessoa
jurídica. Por sua vez, o artigo 99, §2º do mesmo pergaminho legal,
estipula que o juiz somente poderá indeferir o pedido de AJG se houver
nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para
a concessão. Ademais, o colendo Superior Tribunal de Justiça, através da
Súmula nº 481, prevê que faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa
jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade
de arcar com os encargos processuais. No caso concreto, demonstrada a
fragilidade econômica da entidade, a ensejar a concessão da benesse,
ainda mais considerando a relevância da atividade desempenhada.
Agravo de instrumento provido. (TJRS; AI 0376664-62.2018.8.21.7000;
Porto Alegre; Décima Sexta Câmara Cível; Relª Desª Deborah Coleto
Assumpção de Moraes; Julg. 12/12/2018; DJERS 19/12/2018)

Ex positis, a extensa prova documental, imersa neste


arrazoado, sobejamente permitem superar quaisquer argumentos pela ausência de
pobreza, na acepção jurídica do termo. É indissociável a existência de todos os
requisitos legais à concessão da gratuidade da justiça.

IV – PEDIDOS

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Diante do exposto, a parte Autora, no tocante ao pagamento
dos honorários periciais, com apoio no art. 98, § 5º c/c art. 99, § 1º, ambos do
CPC, vem requerer a concessão da gratuidade da justiça, mormente quanto ao
pagamento, adiantado, dos honorários do perito.

Não sendo esse o entendimento, o que se diz apenas por


argumentar, subsidiariamente (CPC, art. 326) pede que seja reduzido a 30% (trinta
por cento) do valor almejado pelo perito (CPC, art. 98, § 5º, parte final).

Em arremate, requer-se seja intimada a parte adversa, por


seu patrono, para, no prazo de quinze dias, querendo, apresente impugnação
(CPC, art. 100, caput).

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de fevereiro do ano de 0000.

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