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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

O SILENCIO DIANTE DE UM ERRO TAMBEM É UM ATO


Órgão 3ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0705578-98.2018.8.07.0001

IZA TEIXEIRA,JOSE ANTONIO DOS SANTOS FILHOS,EMIVAL PESSOA


APELANTE(S) DE GODOI,ELIZABETH ROSA DE SOUZA CUPERTINO e JOSE
FRANCISCO CUPERTINO

JOSE ANTONIO DOS SANTOS FILHOS,DOUGLAS CUNHA DA


APELADO(S) SILVA,EMIVAL PESSOA DE GODOI,ELIZABETH ROSA DE SOUZA
CUPERTINO,JOSE FRANCISCO CUPERTINO e IZA TEIXEIRA
Relator Desembargador ALVARO CIARLINI
Dessa forma, de acordo com esse mesmo art. 138 do CC, não mais interessa se o
erro é escusável (justificável) ou não. Isso porque foi adotado pelo comando legal o
Acórdão Nº 1620427 princípio da confiança. Na sistemática do atual Código Civil, está valorizada a
eticidade, motivo pelo qual, presente a falsa noção relevante, merecerá o negócio a
anulabilidade.
A essa conclusão chegou o corpo de juristas que participou da I Jornada de
Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal e pelo Superior Tribunal
de Justiça, com a aprovação do Enunciado n. 12, cuja redação merece destaque: “na
EMENTA sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o
dispositivo adota o princípio da confiança”. Destaque-se que o enunciado foi
aplicado expressamente por julgado do Tribunal do Paraná (TJPR, Embargos de
Declaração 0313845-0/01, Cianorte, 8.ª Câmara Cível, Rel. Juiz Conv. José
Sebastião Fagundes Cunha, DJPR 02.10.2009, p. 316).
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ATO ILÍCITO. NEGÓCIO JURÍDICO.
CONTRATOS IMOBILIÁRIOS. NULIDADE E ANULABILIDADE. ERRO SUBSTANCIAL
VERIFICADO. ERRO ESCUSÁVEL E INESCUSÁVEL. INDIFERENÇA. STATUS QUO ANTE
. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.

1. Na presente hipótese a demandante pretende obter a desconstituição de negócios jurídicos ao


argumento de haverem sido celebrados em razão da prática de atos ilícitos pelos réus.

2. As questões que envolvem a existência ou a validade dos negócios jurídicos consubstanciam temas
que dizem respeito à conhecida “teoria do fato jurídico”. 2.1. Com efeito, a) o plano da existência é
informado pelo a.1) núcleo do suporte fático que, por sua vez, compõe-se dos seguintes elementos:
a.1.1) cerne e a.1.2) completantes; b) o plano da validade é curialmente constituído pelos elementos
complementares do suporte fático, como, por exemplo, os previstos no art. 104 do Código Civil
(validade/nulidade), ou, por exceção, diante da ausência das figuras enumeradas no art. 171 do mesmo
código (validade/anulabilidade); finalmente c) o plano da eficácia é formado pelos elementos
integrativos do suporte fático.

3. No caso em deslinde oselementos do núcleodo suporte fático (cerne e completantes), que são os
que denotam a subsistência do negócio jurídico em questão, ou seja, suaexistência, se encontram
presentes. Aliás, é conveniente lembrar que as declarações de vontade foram exteriorizadas livremente
e constituíram o negócio jurídico bilateral, sinalagmático e oneroso ora em destaque. Assim, não pode
haver dúvida de queos negócios em questão existem.

4. A controvérsia se encontra no plano da validade dos negócios jurídicos em exame

5. Observa-se, assim, que a autora pretende obter a anulação dos negócios jurídicos, indicados em sua
José Fernando Simão escreveu profundo artigo, concluindo que o erro não precisa ser escusável, bastando a
cognoscibilidade, o conhecimento do vício por aquele a quem se fez a declaração
(SIMÃO, José Fernando.Requisitos do erro..., 2007, p. 459).
causa de pedir, em razão da existência de erro, dolo ou de coação, nos moldes do art. 171 do Código
Civil. 5.1. Oerropode ser definido, de modo singelo, como a falsa percepção da realidade a respeito de
determinada situação jurídica. Se oerroésubstancial, deve ser considerado o defeito suficiente para
justificar a anulação do negócio jurídico, nos termos do art. 138 do Código Civil. 5.2. Odoloé o
elemento anímico da conduta (comissiva ou omissiva) de uma das partes na relação jurídica, com a
finalidade de induzir, fortalecer ou manter o alterdo negócio na falsa percepção da realidade. Na
hipótese omissiva, chamada de silencio intencional ou omissão dolosa, a respeito de fato ou qualidade
que a outra parte tenha ignorado, deve ser aplicada a regra prevista no art. 147 do Código Civil. 5.3.
Acoaçãopode ser definida como a atuação física ou psicológica (ameaça) exercida sobre a parte
negociante, com o intuito de compeli-la a declarar vontade que não é de seu interesse, diante de
fundado temor de dano iminente contra sua pessoa ou em desproveito da sua família ou de seus bens,
nos termos do art. 151 do Código Civil

6. No caso em exame, ao menos em parte, os fatos alegados pela recorrente, além de revelarem a
suposta ocorrência de delito de natureza criminal (art. 107 do Estatuto do Idoso e art. 1º, inc. I, “a”, da
Lei dos crimes de tortura), também podem ser categorizados na esfera cível como ilícito absoluto, cujo
remédio, correspondente à declaração de nulidade do negócio jurídico, está previsto, no art. 166, inc.
II, do Código Civil, o que deve demandar, seguramente, a devida proteção estatal à luz do princípio da
incolumidade das esferas jurídicas.

7. A despeito das alegações articuladas pela recorrente, por meio da análise do contexto probatório
evidenciado nos autos, não é possível verificar o modo de pagamento alegadamente assumido pela ora
apelante para a aquisição das salas comerciais do empreendimento imobiliário denominado “Centro
Clínico de Águas Claras”. Também não é possível constatar que a aquisição das unidades imobiliárias
do empreendimento em questão foi efetivamente intermediada pelo recorrido. 7.1. Isso não obstante
deve ser acolhida a alegação, articulada pela recorrente, no sentido de que não tinha ciência das ordens
de indisponibilidade inscritas nas matrículas das unidades imobiliárias 505, 518 e 712, ao celebrar o
negócio jurídico em exame. 7.2. Com efeito, não tendo sido comprovado nos autos a omissão dolosa
pela parte contrária a respeito da situação de indisponibilidade aludida, verifica-se que o caso ora em
exame se enquadra na hipótese de erro substancial da recorrente nos termos do art. 138 do Código
Civil.

8. Ficou também evidenciado nos autos, ademais, que a recorrente incorreu, novamente, em erro
substancial em relação ao negócio jurídico que teve por objeto a alienação do imóvel situado na SHIS
QL 20, pois não teve a apelante, na ocasião, consciência de que, na realidade, estava a alienar o aludido
bem, local de sua residência.

10. Para que seja causa de anulabilidade do negócio jurídico basta que o erro seja substancial. Com
efeito não se afigura necessário, para essa finalidade, que o erro seja escusável. 10.1. Logo, ainda que
no caso em análise não seja, em tese, escusável que a recorrente não procedesse à análise mais acurada
dos instrumentos negociais aludidos, a comprovação da ausência de percepção adeaquada, da
realidade, pela apelante, é causa suficiente para evidenciar a ocorrência erro substancial. 10.2. Além
disso é certo que a natureza do erro deve ser avaliado de acordo com os aspectos pessoais das partes
envolvidas nos respectivos negócios jurídicos. Nesse contexto observa-se que a recorrente é idosa e
com deficiência visual, aspectos esses que certamente devem ser considerados para corroborar a
existência dos aludidos defeitos nas respectivas emissões de vontade. 10.3. Convém atentar, aliás, ao
enunciado nº 12 da I Jornada de Direito Civil que dispõe: “na sistemática do art. 138, é irrelevante ser
ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”.

11. Com a anulação dos negócios jurídicos aludidos, deverá ocorrer o retorno das partes ao
statusquoante , nos termos do art. 182 do Código Civil.

12. Quanto ao mais, não merece acolhimento a pretensão, ora exercida pela apelante, em relação à
declaração de nulidade ou à anulação dos demais negócios jurídicos noticiado nos autos, pois não
foram suficientemente comprovados os fatos constitutivos do alegado direito formativo constitutivo
negativo em relação a esse ponto (art. 373, inc. I, do CPC).

principio de confiança
13. Em regra, os honorários de advogado devem ser fixados entre o mínimo de dez e o máximo de
vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, nos moldes do art. 85, § 2º, do CPC. 13.1. Nas hipóteses
em que o valor imposto à parte, à vista da sucumbência, se mostrar exorbitante, é atribuição do Juízo
singular observar os princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade, previstos
também no art. 8º do CPC, em composição com a regra antevista no art. 85, § 2º, do mesmo diploma
legal.

14. Apelações conhecidas e parcialmente providas.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ALVARO CIARLINI - Relator, MARIA DE LOURDES ABREU - 1º Vogal
e ROBERTO FREITAS FILHO - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador LUÍS
GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, em proferir a seguinte decisão: CONHECER E DAR PARCIAL
PROVIMENTO AOS RECURSOS, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.

Brasília (DF), 28 de Setembro de 2022

Desembargador ALVARO CIARLINI


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de apelações interpostas por Iza Teixeira (Id. 25444249), por José Antônio dos Santos
Filhos em conjunto com Emival Pessoa de Godoi (Id. 25444253), bem como por Elizabeth Rosa de
Souza Cupertino em conjunto José Francisco Cupertino (Id. 25444257), contra a sentença proferida
pelo Juízo da 23ª Vara Cível de Brasília (Id. 25444242), que julgou o pedido improcedente.

Na origem Iza Teixeira ajuizou ação submetida ao procedimento comum (Id. 12375946 e Id.
12376018) contra José Antônio dos Santos Filho, Douglas Cunha da Silva, Emival Pessoa de
Godoi, Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e José Francisco Cupertino.

Sustentou, em breve síntese, que conheceu José Antônio dos Santos Filho por indicação de Emival
Pessoa de Godoi. Verberou que após adquirir a confiança da autora, José Antônio dos Santos Filho
teria iniciado uma série de atos aparentemente idôneos e vantajosos em favor da demandante, em
conjunto com os demais réus, com o propósito de apropriar-se de seu patrimônio. Nesse contexto,
verberou que José Antônio dos Santos Filho convenceu ardilosamente a demandante a promover a
compra e venda e a permuta de bens imóveis de seu patrimônio, localizados no Estado de Goiás e no
Lago Norte, com salas comerciais de empreendimento imobiliário localizado em Águas Claras, sob o
argumento de serem ótimos investimentos, além de ter vendido o imóvel localizado no SHIS QL 20,
Conjunto 2, Casa 2, Lago Sul, local de sua residência.

Com efeito, a demandante narrou que em junho de 2014 ofertou à venda bem imóvel localizado em
Águas Lindas-GO, tendo como intermediário o Sr. Luiz Aberto Aves da Silva, que, em nome da
postulante, permutou o aludido bem imóvel pelo Terreno nº 14 na QL 2, Lago Norte, Brasília
pertencente ao réu Emival Pessoa Godoi. Acrescentou que, na ocasião, foi celebrado o negócio
jurídico de “cessão de direitos, vantagens e obrigações” entre a autora e Emival Pessoa Godoi.

Em meados de fevereiro de 2016, diante da necessidade de promover a vena do imóvel aludido, situado
no Lago Norte, entrou em contato com José Antônio dos Santos Filho, pessoa de confiança indicada
por Emival Pessoa Godoi.

Alegou também que José Antônio dos Santos Filho informou à demandante que no dia 1º de março
de 2016 o bem imóvel localizado no Lago Norte teria sido negociado pelo Sr. Luiz Alberto sem a
autorização da demandante, e que já havia sido pago o sinal no importe de R$ 42.000,00 (quarenta e
dois mil reais) por terceiro interessado.

Verberou que após tecer diversas considerações negativas a respeito do Sr. Luiz Alberto, José Antônio
dos Santos Filho assegurou que resolveria a questão da suposta venda do bem imóvel pela comissão
no importe de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Nesse contexto, o demandado em questão informou que foi
celebrado o distrato do negócio jurídico de compra e venda do bem imóvel aludido, tendo, em seguida,
noticiado a existência de outro interessado em adquirir o bem imóvel.

Ademais, o réu teria alegado que poderia restituir à autora as salas comerciais recebidas pelo Sr. Luiz
Alberto por ocasião da permuta, sendo suficiente, para tanto, que a demandante promovesse o
pagamento do saldo devedor das aludidas salas no importe de R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais).

Salientou que aos 3 de março de 2016 José Antônio dos Santos Filho entregou à autora os
instrumentos particulares de aditivos de cessão de direitos, vantagens e obrigações relativos às salas
comerciais números 505, 518 e 812 do empreendimento denominado “Centro Clínico Águas Claras”,
situado na Rua 25 Norte, de Águas Claras, tendo ali figurado como como cedente Douglas Cunha da
Silva, sem reconhecimento de firma e assinados por procuração.

Verberou que o réu José Antônio dos Santos Filho passou a insistir que a autora investisse na
aquisição de mais 5 (cinco) salas no empreendimento imobiliário aludido. Alegou, no entanto, que o
réu se recusava a levar a demandante ao local do empreendimento em questão.
Como a demandante já não dispunha de recursos para a aquisição das unidades imobiliárias oferecidas,
o demandado convenceu a autora a oferecer, em troca, o terreno situado na QL 2 do Lago Norte, além
dos imóveis localizados na Rua 12 A, casa 11, São Sebastião e na Quadra 16, lote 1, Jardim Pérola em
Águas Lindas-GO, além de complementação em dinheiro.

Para garantir a entrega dos bens imóveis aos adquirentes, o aludido réu exigiu a emissão, pela autora,
de notas promissórias e cheques, bem como que promovesse a compra de mercadorias para
complementar o montante.

Nesse contexto alegou que aos 8 de março de 2016 o referido demandado apresentou à autora os 5
(cinco) instrumentos de compra e venda de imóveis, correspondentes às unidades imobiliárias 902,
614, 901, 905, 802, do Centro Clínico Águas Claras, no montante de R$ 1.070.000,00 (um milhão e
setenta mil reais), em que também figurava como cedente o demandando Douglas Cunha da Silva.
Ressaltou que os instrumentos aludidos se encontravam sem as firmas devidamente reconhecidas ou
acompanhados de procuração que autorizasse a assinatura dos referidos instrumentos pelo cedente.
Além disso, verberou que não houve prestação de contas em relação aos 2 (dois) imóveis dados em
permuta.

Sustentou que em março de 2016 José Antônio dos Santos Filho convenceu a demandante a adquirir
salas contíguas no mesmo empreendimento em Águas Claras para revenda a terceiro. Para essa
finalidade o demandado propôs que a demandante oferecesse em troca os bens imóveis, pertencentes à
autora, localizados no município de Águas Lindas-Go, bem como que emitisse notas promissórias e
cheques como garantia de cumprimento das obrigações convencionadas. Nesse contexto a autora alega
haver recebido 3 (três) instrumentos de compra e venda referentes às salas comerciais 808, 810 e 812,
tendo, igualmente, como cessionário, o réu Douglas Cunha da Silva.

Verberou que no mês de maio de 2016, já sem recursos financeiros, com estado de saúde debilitado e
sem liquidez no investimento, se viu obrigada a buscar ajuda financeira de familiares, momento em que
José Antônio dos Santos Filho se ofereceu para obter empréstimo com um suposto primo no importe
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), tendo exigido, no entanto, que a demandante prestasse garantia real
para essa finalidade. Com efeito a autora alegou que oferecera em garantia uma de suas salas
comerciais no “Centro Clínico de Águas Claras”, mas a oferta foi recusada pelo réu. Nesse contexto
verberou que o demandado a convenceu a entregar como garantia o bem imóvel em que reside no SHIS
QL 20, Conjunto 2, Casa 2, Lago Sul, Brasília. Sustentou que, na ocasião, foram lavradas duas
procurações, tenso sido a primeira no Cartório do 1º Ofício de Notas e Protesto de Brasília (“Cartório
JK”), e, a segunda, no Cartório do 2º Ofício de Notas e Protesto de Brasília, com a outorga de amplos
poderes ao demandando em relação ao imóvel aludido. Verberou, no entanto, que o réu repassou à
autora somente o montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ao argumento de que o empréstimo teria
sido realizado em nome do próprio demandado, que arcaria com o pagamento do valor restante de R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

Disse que em julho de 2016 comentou com Douglas Cunha da Silva a respeito da existência de
valores a receber em processo judicial em favor da autora. Nesse contexto sustentou que foi
convencida a contratar advogado da confiança do referido demandado para, supostamente, evitar que o
importe fosse recebido pelo Sr. Luiz Alberto, que, na ocasião do ajuizamento da ação, era responsável
pela administração dos interesses da demandante. Alegou que aceitou a sugestão e contratou o
advogado indicado, Verniou Tadeu Santos Pinto de Almeida, para que procedesse ao levantamento da
quantia depositada em juízo.

Assinalou, no entanto, que aos 15 de julho de 2016 o valor constante no alvará judicial teria sido
sacado por José Antônio dos Santos Filho, no importe de R$ 108.438,22 (cento e oito mil
quatrocentos e trinta e oito reais e vinte e dois centavos), sendo certo que do montante ali expresso foi
descontado 15% (quinze por cento) referente aos serviços prestados pelo advogado aludido. Verberou
haver recebido, do total, apenas a quantia de R$ 11.672,49 (onze mil seiscentos e setenta e dois reais e
quarenta e nove centavos), pois o valor remanescente teria sido retido pelo demandado aludido como
suposto pagamento dos cheques emitidos pela autora.

Sustentou que aos 8 de agosto de 2016, ao revogar os poderes conferidos ao primeiro réu, no “Cartório
JK”, a respeito do imóvel onde reside, situado no Lago Sul, não se apercebeu que havia outorgado os
mesmos poderes por meio de intrumento de mandato levrado no Cartório do 2º Ofício de Notas e
Protesto de Brasília.

Pontuou que ainda no aludido mês, e com sérios problemas financeiros, sem conseguir vender as salas
comerciais localizadas no empreendimento imobiliário aludido, se viu obrigada a vender seu veículo
avaliado em R$ 52.000,00 (cinquenta e dois mil reais). Verberou que, na ocasião, José Antônio dos
Santos Filho ofereceu-se para promover a venda do automóvel, tendo exigido procuração com poderes
específicos para essa finalidade. Após a aludida venda, a autora verberou que teria recebido somente
metade do montante de avaliação do veículo.

Assinalou, ademais, que, ao informar que iria vender seu piano, o aludido réu se apropriou do bem ao
argumento de que seria para o pagamento dos serviços prestados à demandante.

Asseverou que em dezembro de 2016 José Antônio dos Santos Filho convenceu novamente a
demandante a celebrar negócio jurídico, por meio de procuração, com a emissão de cheques e notas
promissórias para garantir a compra das unidades imobiliárias 611, 612, 613, 614 e 615, no multicitado
empreendimento imobiliário. Em relação a esse negócio jurídico a demandante sustentou que os
instrumentos negociais entregues pelo demandado consignavam a data retroativa de 22 de outubro de
2013, tendo como vendedora a sociedade anônima Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A -
SPE.

Diante dessa conjuntura a demandante verberou haver insistido para que o demandando em questão
promovesse a venda das salas comerciais referidas. Alegou que, em virtude do elevado número de
transferências de bens realizadas na serventia, um dos serventuários do “Cartório JK” teria alertado à
autora que, por medida de segurança, não seriam mais lavradas procurações em seu nome naquele
tabelionato.

a velha foi levada por esse jose e por esse outro cara a comprar salas comerciais, vender sua casa, seu carro,
acabar com seu patrimonio
Sustentou que ao procurar um corretor para a venda das multicitadas salas comerciais localizadas no
“Centro Clínico de Águas Claras” foi surpreendida com a notícia de que as unidades imobiliárias
estavam fora do mercado desde o ano de 2013, em virtude das ordens de indisponibilidades inscritas
por meio de decisão judicial nas matrículas das salas comerciais que integram o aludido
empreendimento. Acrescentou que ao entrar em contato com o réu José Antônio dos Santos Filho, as
aludidas informações foram negadas, tendo sido afirmado que poderia vender as salas por um preço
abaixo do valor de mercado. Em seguida, alegou que o réu deixou de atender as chamadas telefônicas
efetuadas pela autora.

Pontuou que aos 4 de janeiro de 2018 recebeu notificação extrajudicial da ré Elizabeth Rosa de Souza
Cupertino com a informação de que a demandada em questão havia celebrado negócio jurídico de
cessão onerosa para a aquisição do bem imóvel localizado no SHIS QL 20, Casa 2, Lago Sul.

Finalmente a demandante destacou que os instrumentos dos negócios jurídicos referentes às unidades
imobiliárias localizadas no empreendimento imobiliário aludido jamais foram entregues acompanhados
da respectiva procuração, ou mesmo da identificação da pessoa que assinara os contratos em nome do
proprietário do bem, bem como que, ao questionar essas irregularidades, o José Antônio dos Santos
Filho insistiu tratar-se de meras formalidades desnecessárias, tendo assegurado a idoneidade dos
vendedores, dentre os quais o demandado Douglas Cunha da Silva.

Destacou ainda que não assinou nenhum instrumento de negócio jurídico tendo por objeto a venda do
bem imóvel localizado no SHIS QL 20, Casa 2, Lago Sul, nem mesmo teria recebido notas
promissórias emitidas por José Antônio dos Santos Filho como pagamento pela venda do bem.

Acrescentou haver informado às autoridades policiais a respeito das mencionadas alegações. Informou
que posteriormente recebeu notificação extrajudicial envidada por José Antônio dos Santos Filho com
informação que os valores pagos pela aquisição do imóvel situado no Lago Sul estariam disponíveis
para resgate, em virtude da nota promissória emitida pelo réu em favor da demandante.

Diante desse contexto formulou requerimento de antecipação dos efeitos da tutela para que fosse
promovido o bloqueio dos bens e valores pertencentes aos réus José Antônio dos Santos Filho e
Douglas cunha da Silva, no importe de R$ 1.902.000,00 (um milhão novecentos e dois mil reais),
correspondente aos prejuízos havidos em decorrência de contratos de compra e venda de unidades
imobiliárias do empreendimento denominado “Centro Clínico de Águas Claras” situado na Rua 25
Norte, lote 10, Águas Claras, bem como para que fosse averbada restrição de transferência na matrícula
do bem imóvel localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Lote 2, Lago Sul.

Quanto ao mais requereu a confirmação da tutela aludida, com a subsequente procedência do pedido,
para que fosse declarada a nulidade dos negócios jurídicos de compra e venda do bem imóvel
localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Lote 2, Lago Sul, bem como das salas comerciais 505, 518,
611, 612, 613, 614, 615, 712, 802, 808, 810, 812, 901, 902, 905 e 906 do empreendimento imobiliário
aludido, com a subsequente condenação dos réus José Antônio dos Santos Filho e Douglas Cunha da
Silva ao pagamento do importe de R$ 1.902.000,00 (um milhão novecentos e dois mil reais),
correspondente ao valor da contrapartida convencionada nos negócios jurídicos de aquisição do
referidos bens imóveis.
Requereu também a condenação do réu José Antônio dos Santos Filho ao pagamento do valor de R$
94.000,00 (noventa e quatro mil reais), relativo à comissão paga pelo distrato da promessa de compra e
venda do bem imóvel localizado na SHIN QL 2, Terreno nº 14, Lago Norte, e do valor de R$
52.000,00 (cinquenta e dois mil reais), correspondente à venda do veículo FORD RANGER XLT 13P,
Cor Branca, Placa NXH-8727, Chassi nº 8AFER13P9CJ469847, ano 2011.

Por meio da decisão referida no Id. 12376025 o Juízo singular concedeu a gratuidade de justiça à
autora e deferiu a antecipação dos efeitos da tutela.

Contra a decisão aludida José Antônio dos Santos Filho interpôs agravo de instrumento (autos nº
0707471-30.2018.8.07000). Na ocasião o recurso foi parcialmente provido pela Egrégia Terceira
Turma Cível, tendo sido revogada a gratuidade de justiça concedida em favor da demandante (Id.
12376375).

O réu José Antônio dos Santos Filho em sua contestação (Id. 12376076 a Id. 12376096), além de
tecer inúmeros comentários pejorativos e fora de contexto em relação à demandante, alegou, em
síntese, que: a) a autora ocultou o fato de que bem imóvel localizado na SHIN QL 2, Terreno nº 14,
teria sido objeto de dação em pagamento aos 21 de outubro de 2014 pela demandante pelos serviços
prestados por seu ex-companheiro Luiz Alberto Alves (Id. 12376080, fls. 2-4); b) nunca vendeu
nenhum imóvel localizado em Águas Claras para a demandante (fl. 4, Id. 12376081); c) o imóvel
localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2, teria sido vendido por R$ 2.400.000,00 (dois milhões e
quatrocentos mil reais) aos 11 de maio de 2016; e d) recebeu os valores do alvará judicial para resgate
de cheque emitido pela demandante em seu favor.

Em sua contestação (Id. 12376356) os réus Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e José Francisco
Cupertino, sustentaram, em síntese, a ausência de má-fé na aquisição do bem imóvel localizado no
SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2, pois acreditaram na idoneidade da procuração que concedia poderes
em causa própria a José Antônio dos Santos Filho para dispor sobre o aludido bem.

O réu Douglas Cunha da Silva, em sua contestação (Id 12376367), suscitou inicialmente a sua
ilegitimidade passiva para integrar a relação jurídica processual. No mérito, sustentou, em síntese, que
nunca teve contato pessoal com a demandante, bem como que havia celebrado negócio jurídico de
permuta com o ex-companheiro da autora tendo por objeto as salas comerciais números 802, 808, 810,
812, 901, 902, 905, e 906, com suas respectivas vagas de garagem, localizadas no empreendimento
imobiliário “Centro Clínico de Águas Claras”.

Salientou que a permuta de bens somente ocorreu após a demandante conhecer e verificar a existência
do empreendimento e da indisponibilidade dos bens imóveis. Acrescentou que posteriormente elaborou
os instrumentos aditivos cedendo os "direitos patrimoniais" sobre os assinalados bens imóveis à
demandante.

Em sua contestação o réu Emival Pessoa de Godoi (Id. 12376380) alegou inicialmente sua
ilegitimidade passiva para a causa. No mérito, asseverou que o negócio jurídico celebrado com o José
Antônio dos Santos Filho é válido e não tem vinculação com fatos pretéritos relacionados à venda do
bem imóvel ao primeiro réu. Afirmou que somente vendeu o bem imóvel localizado no SHIS QL 20,
Conjunto 2, Casa 2 à ré Elizabeth Rosa de Souza Cupertino após colher a anuência da demandante.

Sobreveio a sentença referida no Id. 12376417, por meio da qual o pedido foi julgado improcedente.
Na ocasião o Juízo singular asseverou, em síntese, que diante dos documentos coligidos aos autos, em
especial os comprovantes de pagamento e os recibos emitidos pela autora, não houve sequer vestígios
das apontadas causas de anulação ou de nulidade dos negócios jurídicos em exame.

A demandante interpôs recurso de apelação (Id. 12376455), oportunidade em que suscitou a preliminar
de cerceamento de defesa, ao argumento de que o Juízo singular indeferiu o requerimento de produção
de provas formulado pela autora.

O recurso interposto pela demandante foi provido, tendo sido desconstituída a sentença, com a
determinação de retorno dos autos ao Juízo de origem para que fosse reaberta a fase instrutória do
procedimento, com o acolhimento da produção de prova testemunhal requerida pela apelante, por meio
da designação de audiência, momento em que também deveriam ser colhidos os depoimentos pessoais
das partes (Id. 17961397).

Em cumprimento à determinação aludida o Juízo de origem facultou à demandante a lavratura de


escrituras públicas de declaração como meio de prova testemunhal, em virtude da impossibilidade de
realização presencial de audiência por conta da pandemia (Id. 25444090).

Nesse contexto foram coligidas aos autos as escrituras públicas com declaração das testemunhas
indicadas pela demandante (Id. 25444098, 25444099 e 25444100), bem como os documentos extraídos
do Inquérito Policial nº 139/2017 com os termos de declarações prestadas pelo Sr. Weder Lopes
Teixeira (Id. 12376462) e pela Sra. Lourdes da Conceição Santana (Id. 25444101).

O réu José Antônio dos Santos Filho (Id. 25444107) ofereceu impugnação às declarações prestadas
pelas testemunhas indicadas pela autora e ao documento que contém as declarações da Srª Lourdes da
Conceição Santana.

Os réus Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e José Francisco Cupertino (Id. 25444209) ofereceram
impugnação às declarações prestadas pelas testemunhas indicadas pela autora.

Os réus Jose Antônio dos Santos Filho (Id. 2544216), Douglas Cunha da Silva (Id. 25444218) e a
demandante (Id. 25444221) ofertaram memoriais.

O demandado Douglas Cunha da Silva juntou aos autos a escritura pública de declaração do Sr. Luis
Alberto Alves (Id. 25444219).

O réu José Antônio dos Santos Filho juntou aos autos declarações de “nada consta” criminal (Id.
25444226, Id. 25444227 e Id. 25444228).

Em seguida, a demandante coligiu aos autos uma lista contendo expedientes relativos inquéritos
policiais, ações criminais e notícia de fatos criminais envolvendo José Antônio dos Santos Filho (Id.
25444234 e Id. 25444235).

José Antônio dos Santos Filho ofereceu impugnação à referida lista (Id. 2544239).

Decorrida a marcha processual foi proferida a sentença, referida no Id. 25444242, por meio da qual o
pedido foi julgado improcedente.

Na ocasião o Juízo singular asseverou que de acordo com o acervo probatório coligido aos autos é
incontroverso que, em meados de 2014, a autora ofereceu um imóvel localizado em Águas Lindas-Go,
de sua propriedade, em troca do imóvel localizado na QL 2, lote 14, Lago Norte, pertencente ao réu
Emival Pessoa de Godoi, ambos com valores de R$ 1.600.000,00 (um milhão e seiscentos mil reais),
tendo sido o negócio jurídico devidamente concluído e escriturado em nome do adquirente no dia 4 de
setembro de 2014.

Salientou que não houve impugnação específica a respeito dos negócios jurídicos praticados pelas
partes, pois, desde o ano de 2014, a autora teria negociado diversos de seus bens imóveis, envolvendo
os réus e seu suposto ex-companheiro, o Sr. Luis Alberto.

Pontuou que a demandante alegou haver sido vítima de ato ilícito praticado pelos réus, sem que tenha
se pronunciado a respeito da suposta intermediação de alguns desses negócios pelo seu
ex-companheiro. Sustentou que o contrato de honorários e o recibo assinado pela autora demonstram
que o suposto valor constante no alvará judicial aludido, cujo importe não teria sido recebido pela
autora, foi parcialmente entregue como remuneração ao serviço prestado pelo advogado que atuou na
causa, além de ter sido efetuado o pagamento de parte do valor em favor da demandante.

Em relação ao bem imóvel localizado no Lago Sul, sustentou que o instrumento negocial coligido aos
autos demonstra que o aludido bem foi vendido por R$ 2.400,000,00 (dois milhões e quatrocentos mil
reais) a Emival Pessoa de Godoi, cujo pagamento pelo cessionário foi devidamente comprovado nos
autos, por meio de recibo e das notas promissórias emitidas em favor da autora, que já teriam sido
resgatadas, todos com assinatura da demandante e com reconhecimento de firma.

Verberou que o referido instrumento negocial faz alusão a 10 (dez) notas promissórias que seriam
emitidas com vencimentos trimestrais a partir de 11 de agosto a 11 de novembro de 2018. Por essa
razão, asseverou que não há qualquer nulidade ou anulabilidade nos negócios jurídicos celebrados
entre as partes.

Assinalou que os depoimentos prestados pelas testemunhas da demandante revelam que a autora
celebrou diversos negócios com José Antônio dos Santos Filho.

Pontuou que a lavratura de mais de uma procuração pública em cartórios extrajudiciais diversos não é,
isoladamente, causa de nulidade do negócio jurídico. Com efeito, destacou que, a despeito de terem as
duas procurações o mesmo objeto, houve a iniciativa de José Antônio dos Santos Filho em revogar
uma e, em relação à outra, foi declarada expressamente a vontade da outorgante em emitir, em favor do
réu aludido, poderes em causa própria com cláusula de irrevogabilidade e irretratabilidade.

Em relação ao veículo, ressaltou que, muito embora o Sr. Manoel Marcos Fernandes da Costa tenha
afirmado em seu depoimento que a autora teria assinado o CRV do veículo em branco, ficou
comprovada a venda direta do automóvel a José Antônio dos Santos Filho, sendo que no instrumento
do negócio jurídico houve a estipulação expressa do preço convencionado e a aceitação da vendedora.

Salientou que houve comprovação, nos autos, da venda do piano a José Antônio dos Santos Filho.

Pontuou que não há provas nos autos que possam evidenciar a ocorrência de dolo ou de qualquer outra
causa de nulidade ou anulabilidade em relação ao empreendimento imobiliário localizado na Rua 25
Norte de Águas Claras. Também verberou não haver sido demonstrado que a autora deixaria de
celebrar os negócios em virtude da indisponibilidade inscrita na matrícula das salas comerciais
aludidas. Em relação a esse ponto, aliás, pontuou que essa situação estava devidamente consignada nos
instrumentos negociais alusivos aos negócios jurídicos aludidos.

Ressaltou ainda que a autora é pessoa com formação acadêmica e que não houve sequer alegação no
sentido de que seja desprovida de lucidez, razão pela qual seria possível presumir que tenha adotado as
cautelas pertinentes à celebração dos negócios imobiliários. Acrescentou que não deve ser admitida a
alegação de que a autora pudesse assinar recibos e escrituras públicas de modo repetido, depositando
confiança em pessoas de tão pouca convivência e dispondo de seu patrimônio sem a devida cautela.

Quanto ao mais, asseverou que é incontroverso o fato de que a autora assinou os contratos acostados
aos autos, especialmente o relativo à venda do bem imóvel localizado no Lago Sul. Acrescentou que
autora não trouxe aos autos os esclarecimentos a respeito do recibo anexado aos autos pelo réu.
Assinalou que o arrependimento ou o descumprimento do negócio jurídico não constitui causa de
nulidade ou de anulabilidade.

Além disso afirmou que a autora não se desincumbiu do ônus de comprovar fato constitutivo de sua
pretensão (art. 373, inc. I, do CPC).
Concluiu que os negócios jurídicos celebrados entre as partes são válidos e eficazes.

Finalmente, condenou a demandante ao pagamento do valor das despesas processuais e dos honorários
de advogado, fixado em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Em suas razões recursais (Id. 25444249) a demandante sustenta inicialmente que a recorrente tem 81
(oitenta e um) anos de idade. Verbera que em virtude de suas condições físicas e psicológicas está
sujeita a ser vítima de atos fraudulentos, coação e abuso de confiança, situação que teria sido
aproveitada pelos réus.
a velha acusa disso

Quanto ao mais repisa os fatos e as razões articulados na petição inicial e afirma que, a despeito dos
argumentos sustentados pelos réus, os documentos e termos de declaração coligidos aos autos revelam
os atos delitivos praticados, razão pela qual a sentença deve ser reformada.

Assim, ao impugnar os pontos abordados pela sentença, alega que não formulou qualquer requerimento
em relação ao Sr. Luis Alberto, responsável, unicamente, por intermediar a permuta da chácara
localizada em Águas Lindas de Goiás-Go com o bem imóvel localizado no Lago Norte. Aduz que a sua
pretensão diz respeito à restituição dos montantes pagos ao longo do ano de 2016 aos demandados Jose
Antônio dos Santos Filho e Douglas Cunha da Silva em relação às salas comerciais do
empreendimento imobiliário localizado em Águas Claras.

Sustentou que a escritura pública de declaração de transferência das três salas, lavrada aos 23 de
setembro de 2019, por Luiz Alberto, que supostamente transferira os bens para a demandante, foi
devidamente impugnada. Salienta que o Sr. Luis Alberto nunca foi proprietário das aludidas salas
comerciais. Verbera que, para a aquisição dos direitos patrimoniais em relação às salas comerciais
situadas em Águas Claras, supostamente pertencentes a Douglas Cunha da Silva, e oferecidas por
Jose Antônio dos Santos Filho, teriam sido utilizados como pagamento lotes situados em Águas
Lindas-Go pertencentes à demandante.

Sustenta que o réu Jose Antônio dos Santos Filho sempre exigia que a autora emitisse notas
promissórias e cheques para garantir os negócios jurídicos aludidos, e que os referidos títulos jamais
teriam sido devolvidos à demandante. Assinala que embora os negócios tenham sido celebrados sem a
procuração conferida pela efetiva proprietária dos bens, a sociedade anônima Empreendimentos
Imobiliários Alvorecer S/A – SPE, Jose Antônio dos Santos Filho sempre a convencia da idoneidade
dos contratantes, pois lidava com “pessoas sérias”.

Assevera que, por não serem proprietários dos bens, os réus não poderiam ter negociado as referidas
salas comerciais e que, por essa razão, os direitos patrimoniais dos aludidos bens imóveis nunca lhe
foram efetivamente cedidos. Ressalta que, por essa razão, que os negócios jurídicos são nulos.
Pontua que no Inquérito Policial nº 139/2017 teria sido declarado pelo Sr. Weder Lopes que nenhuma
unidade imobiliária no aludido empreendimento imobiliário Águas Claras fora negociada com os réus
José Antônio dos Santos Filho e Douglas Cunha da Silva. Acrescenta que o próprio réu Douglas
Cunha da Silva declarou, no âmbito do inquérito aludido, que não sabia de quais salas do
empreendimento seria proprietário.

Aduz que os documentos entregues à apelante, relativos às salas comerciais 614, 611, 612, 613 e 615
do empreendimento em questão, supostamente elaborados pela sociedade anônima Empreendimentos
Imobiliários Alvorecer S/A, estão com data de 2013, ao passo que os negócios jurídicos aludidos foram
celebrados no ano de 2016. Alega que os instrumentos de compra e venda das 16 (dezesseis) salas do
empreendimento sequer têm as assinaturas dos supostos compradores.

Destaca que as notas promissórias e cheques exigidos por José Antônio dos Santos Filho, cuja
devolução deveria ocorrer logo após a conclusão da transferência das unidades imobiliárias em Águas
Claras, objeto de permuta com os lotes localizados em Águas Lindas-Go, nunca foram restituídos à
demandante e teriam sido utilizados para validar o suposto negócio de compra e venda do bem imóvel
utilizado pela apelante como residência.

Sustenta que o aludido imóvel, localizado no Lago Sul, deveria ter sido utilizado apenas como garantia
do suposto empréstimo contratado por José Antônio dos Santos Filho em favor da autora. Verbera
que o réu aludido assegurava que essa garantia seria uma mera formalidade e que o bem não correria o
risco de ser alienado. Isso não obstante, alega que aos 11 de maio de 2016, mediante atos fraudulentos,
José Antônio dos Santos Filho promoveu a lavratura de instrumento por meio da qual a demandante
supostamente teria vendido o aludido bem imóvel, havendo sido estipuladas cláusulas absurdas e
desproporcionais. Em relação a esse ponto, aliás, verbera que o aludido imóvel teria sido transferido
para o réu Emival Pessoa Godoi, que, a despeito do valor elevado, nunca visitou o bem antes da
aquisição.

Assevera que existem inquéritos policiais em curso, tendo sido indiciados José Antônio dos Santos
Filho e Douglas Cunha da Silva por estelionato e fraude em relação ao mesmo empreendimento
imobiliário situado em Águas Claras.

Assinala que a sociedade empresária Credcom Factoring Ltda não teria sido localizada mediante
pesquisa no sistema Infoseg, de acordo com relatório policial. Por essa razão alega que as notas
promissórias emitidas em favor da demandante não teriam sido endossadas à referida entidade
empresarial.

Verbera ainda que está confirmada a existência de conluio entre todos os réus, pois, em sua defesa,
Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e José Francisco Cupertino afirmam que teriam marcado com
o corretor cognominado “Messias” e o vendedor, no caso Emival Pessoa Godoi, a visita ao bem
imóvel situado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2. Acrescenta, no entanto, que no dia da visita os
aludidos réus teriam sido acompanhados por José Antônio dos Santos Filho juntamente com o
mencionado corretor, com a suposta permissão da apelante.
Em relação ao veículo, afirma que José Antônio dos Santos Filho induziu a demandante a
outorgar-lhe poderes para se apropriar dos valores pela venda do bem a terceiro, sem repassar a
integralidade do montante obtido à ora recorrente.

Diante desse contexto requer a reforma da sentença para que o pedido seja julgado procedente.

A guia de recolhimento do valor referente ao preparo recursal e o respectivo comprovante de


pagamento foram regularmente acostados aos presentes autos (Id. 25444250 e Id. 25444251).

Somente os réus José Antônio dos Santos Filho e Emival Pessoa de Godoi ofereceram contrarrazões
(Id. 25444265), ocasião em que pugnaram pelo desprovimento do recurso interposto pela autora.

Em suas razões recursais, os réus José Antônio dos Santos Filho e Emival Pessoa de Godoi (Id.
25444253), bem como Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e Jose Francisco Cupertino (Id.
25444257), alegam, em síntese, que os honorários estabelecidos na sentença são irrisórios.

Requerem, portanto, o provimento dos recursos interpostos para que seja fixado o valor dos honorários
nos termos do art. 85, § 2º, do CPC.

As guias de recolhimento dos valores referentes ao preparo recursal e os respectivos comprovantes de


pagamento foram regularmente acostados aos presentes autos pelos réus ((Id. 25444254 e Id.
25444255) e (Id. 25444258 e Id. 25444259).

A demandante ofereceu contrarrazões (Id. 25444267), ocasião em requereu o desprovimento dos


recursos interpostos pelos réus.

A douta Procuradoria de Justiça manifestou-se no sentido que a questão não encerra interesse
indisponível que possa ensejar a atuação do Ministério Público (Id. 28552553).

Por meio da petição referida no Id. 33978172 foi informado o falecimento de Iza Teixeiraaos 28 de
março de 2022.

É o relatório.
VOTOS

O Senhor Desembargador ALVARO CIARLINI - Relator

I - Apelação interposta por Iza Teixeira

O recurso interposto deve ser conhecido, pois estão preenchidos os pressupostos extrínsecos e
intrínsecos de admissibilidade.

A recorrente pretende, em síntese, a desconstituição dos negócios jurídicos celebrados pela autora
entre os anos de 2016 a 2018, sobretudo em relação às unidades imobiliárias do empreendimento
denominado “Centro Clínico de Águas Claras”, localizado na Rua 25 Norte de Águas Claras, bem
como em relação ao imóvel localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2, local de residência da
demandante. Pretende ainda o ressarcimento por José Antônio dos Santos Filho: a) dos valores
referentes às garantias prestadas para a celebração dos negócios jurídicos aludidos e do mútuo
celebrado em favor da demandante; b) dos importes remanescentes da venda de veículo; e c) da
quantia referente ao piano que fora indevidamente apropriado pelo demandado.

Inicialmente, convém rememorar que as questões que envolvem a existência ou a validade do negócio
jurídico consubstanciam temas que dizem respeito à conhecida “teoria do fato jurídico”.

Entre nós, dedicou-se ao tema o insuperável e saudoso Pontes de Miranda[1], ao esclarecer a ideia de
suporte fático e determinar três distintos planos para a configuração dos fenômenos jurídicos, cada
qual informado pelos respectivos requisitos. Assim: a)o plano da existênciaé constituído pelo a.1)
núcleo do suporte fático que, por sua vez, compõe-se dos elementos a.1.1)cerne e a.1.2)
completantes; b)o plano da validadeé curialmente formado pelos elementos complementares do
suporte fático, como, por exemplo, os previstos no art. 104 do Código Civil (validade/nulidade), ou,
por exceção, orienta-se pela ausência das figuras enumeradas no art. 171 do mesmo código
(validade/anulabilidade), finalmente c) o plano da eficácia é formado pelos elementos integrativos do
suporte fático.
erro é no plano da validade

Para compreender adequadamente os aspectos que informam a existência do negócio jurídico, de


acordo com a doutrina do insuperável mestre alagoano (Tratado de Direito Privado, Tomo III, §§ 249,
251, 277 e 278) é necessário observar uma peculiaridade fundamental para a suficiência do suporte
fático respectivo, que é a declaração da vontade de proposição ou de oblação. Se houver a declaração
da vontade do proponente ou do oblato, terá havido igualmente, em boa verdade, o aludido negócio
jurídico bilateral.
No caso em deslinde, portanto, para a pretendida suficiência do suporte fático do negócio jurídico de
compra e venda mostra-se inafastável, ainda de acordo com a doutrina de Pontes de Miranda, a
ocorrência no elemento nuclear do suporte fático, da declaração da vontade da parte, como já
ressaltado anteriormente.

Logo, nessa modalidade de negócio jurídico, feita a proposição negocial, que é a proposta, deve haver
a oblação ou aceitação, ou seja, a vontade receptícia do oblato, também denominado aceitante. A
partir da presença desses elementos constitutivos está constituído, insista-se, o negócio jurídico
bilateral, comutativo, oneroso e sinalagmático.

No caso em deslinde os elementos do núcleodo suporte fático (cerne e completantes), que são os que
denotam a subsistência do negócio jurídico em questão, ou seja, sua existência, se encontram
presentes.

Aliás, é conveniente lembrar que as declarações de vontade foram exteriorizadas e constituíram o


negócio jurídico bilateral, sinalagmático e oneroso ora em destaque. Assim, não pode haver dúvida de
que os negócios em questão existem.

Em relação a esse ponto convém destacar que, muito embora a recorrente alegue que nunca ofertou à
venda o imóvel localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2, é certo que houve a constituição de
procuração pública em relação ao mencionado imóvel em caráter irrevogável, irretratável e isento de
prestação de contas, ou seja, com cláusula in rem suam(Id. 12375929), em favor de José Antônio dos
Santos Filho. Logo, houve a constituição de título translativo de propriedade em favor do referido
apelado.

A controvérsia se encontra, em verdade, no plano da validade dos negócios jurídicos em exame.

Observa-se, assim, que a autora pretende obter a anulação dos negócios jurídicos celebrados entre as
partes em razão da ocorrência das causas descritas no art. 171 do Código Civil.

O erropode ser definido, de modo singelo, como a falsa percepção da realidade a respeito de
determinada situação jurídica. Se o erroé substancial, deve ser considerado o defeito suficiente para
justificar a anulação do negócio jurídico, nos termos do art. 138 do Código Civil. Ressalte-se ainda o
enunciado nº 12 da I Jornada de Direito Civil: “na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não
escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”.

O doloé o elemento anímico da conduta (comissiva ou omissiva) de uma das partes na relação
jurídica, com a finalidade de induzir, fortalecer ou manter o outro em falsa percepção da realidade[2].
Na hipótese omissiva, chamada de silencio intencional ou omissão dolosa, a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte tenha ignorado, deve ser aplicada a regra prevista no art. 147 do Código
Civil.
A coaçãopode ser definida como a atuação física ou psicológica (ameaça) exercida sobre a parte
negociante, com o intuito de compeli-la a declarar vontade que não é de seu interesse, diante de
fundado temor de dano iminente em seu desfavor ou em desproveito de sua família ou dos seus bens,
nos termos do art. 151 do Código Civil.

Diante das definições acima expostas, conclui-se que os defeitos de consentimento estão relacionados
à base subjetivado negócio jurídico, de acordo com a representação anímica comum dos contraentes,
existente no momento da conclusão do contrato, nos termos das respectivas declarações de vontade.

É importante salientar, ademais, com a devida vênia de quem pense em sentido contrário, que não é
possível presumir que a demandante, que é idosa e com deficiência na visão, de acordo com o laudo
médico acostado aos autos (Id.12375870), por ter formação superior e ter sido considerada "capaz" à
época da celebração dos negócios aludidos, não poderia ser ludibriada pelos apelados a respeito da
viabilidade financeira do investimento relativo às salas comerciais. Além disso, o montante vultoso do
prejuízo patrimonial que a autora alega ter experimentado em virtude da trama alegadamente
perpetrada pelos réus (R$ 1.902.000,00) também denota a evidente e clara necessidade de evitarem-se
presunções no caso em análise

Com efeito, diante dos fatos narrados a situação a ser examinada indica que houve a prática de ato
ilícito por meio do qual a ora recorrente teria sido induzida, mediante ardis e pressão psicológica, a
praticar atos em prejuízo próprio, sem a necessária consciência das consequências dali decorrentes.

Nesse contexto, o que deve ser considerado como fator decisivo é o poder de persuasão perpetrado
pelo ofensor que, por meio de expedientes reprováveis convence a vítima a praticar atos que não
praticaria se estivesse ciente da verdade[3]. Assim, é necessário avaliar com a devida cautela os fatos
narrados e as provas coligidas aos autos.

Convém pontuar, aliás, que os fatos alegados pela recorrente, além de revelarem a suposta ocorrência
de delito de natureza criminal (art. 107 do Estatuto do Idoso e art. 1º, inc. I, “a”, da Lei dos crimes de
tortura), também podem ser classificados, na esfera cível, como ilícitos absolutos, cujo remédio,
correspondente à declaração de nulidade do negócio jurídico, está previsto, no art. 166, inc. II, do
Código Civil, situação que deve demandar, seguramente, a devida proteção estatal à luz do princípio
da incolumidade das esferas jurídicas.

Feito esses esclarecimentos propedêuticos, passo à análise da controvérsia.

1) Negócios jurídicos relativos a salas comerciais do empreendimento imobiliário


denominado “Centro Clínico de Águas Claras”
A recorrente aduziu que ao longo do ano de 2016 teria celebrado diversos negócios jurídicos para a
aquisição de salas comerciais no empreendimento imobiliário denominado “Centro Clínico de Águas
Claras” situado na Rua 25 Norte de Águas Claras. Assevera que o apelado José Antônio dos Santos
Filho foi responsável por intermediar a compra dos aludidos bens imóveis, com a parcicipação do
recorrido Douglas Cunha da Silva.

Com efeito os instrumentos particulares de compra e venda referidos no Id. 12375892, fl. 10, Id.
12375894, fl. 9 e Id. 12375895, fl. 22, revelam que as salas comerciais 505, 518 e 712 foram vendidas
pela sociedade anônima Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A-SPE ao apelado Douglas
Cunha da Silva ainda no ano de 2013. As quitações referidas no Id. 12375892, Id. 12375894 e Id.
12375895, fl. 17, declaradas pela entidade empresária vendedora demonstram que houve o
adimplemento da obrigação relativa aos negócios jurídicos aludidos pelo demandado em questão.

Posteriormente, observa-se que o demandado referido (Douglas) celebrou negócio jurídico de “cessão
de direitos” com a recorrente, aos 3 de março de 2016, tendo por objeto as mencionadas unidades
imobiliárias 505, 518 e 712 (Id. 12375892, fl. 6, Id. 12375894, fl. 4 e Id. 12375895, fl. 20), pelos
valores de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), R$ 220.000,00 (duzentos e vinte mil reais) e R$
120.000,00 (cento e vinte mil reais) respectivamente.

Foi também lavrada procuração pública com cláusula in rem suamoutorgada por Douglas Cunha da
Silva a Iza Teixeira, tendo por objeto as referidas salas comerciais 505, 518 e 712 (Id. 12375894, fl.
2). Na ocasião, declarou-se que os bens imóveis aludidos corresponderiam ao montante total de R$
750.00,00 (setecentos e cinquenta mil reais).

No dia 8 de março de 2016 a recorrente adquiriu outras 4 (quatro) unidades imobiliárias do referido
empreendimento, correspondentes às salas comerciais 902, 901, 905 e 802. Em relação a esse negócio
jurídico foram coligidos aos autos os instrumentos particulares de compra e venda (Id. 12375896, fl.
7, Id. 12375899, fl. 7, Id. 12375901, fl. 6 e Id. 12375902, fl. 6) e as respectivas declarações de
quitação (Id. 12375896, fl. 1, Id. 12375899, fl. 1, Id. 12375901, fl. 1 e Id. 12375902, fl. 1)
relativamente à aquisição das salas comerciais aludidas, merecendo destaque o negócio jurídico
anteriormente celebrado entre Douglas Cunha da Silva e a sociedade anônima Empreendimentos
Imobiliários Alvorecer S/A-SPE. Convém anotar que esses documentos foram produzidos ainda no
ano de 2013.

É importante salientar, ademais, que em relação à sala 614 o instrumento de compra e venda (Id.
12375898, fl. 2) e a quitação (Id. 12375898, fl. 1) juntados aos autos demonstram que a sociedade
empresária aludida vendeu o imóvel em questão à apelante ainda no ano de 2013, embora não conste,
nesses documentos, a assinatura da recorrente.

Isso não obstante, também houve a lavratura de outra procuração pública com cláusula in rem suam
outorgada por Douglas Cunha da Silva a Iza Teixeira, tendo por objeto as referidas salas comerciais
902, 901, 905 e 802 (Id. 12375896, fl. 5), bem como a sala 906, embora não tenham sido juntado aos
autos os eventuais instrumentos particulares de compra e venda ou de “cessão de direito” referente a
essa unidade imobiliária, com os respectivos termos do negócio jurídico celebrado entre a recorrente e
o recorrido aludido. Na ocasião houve a declaração de que os bens imóveis referidos corresponderiam
ao montante total de R$ 1.250.000,00 (um milhão e duzentos e cinquenta mil reais).

Em relação às aludidas salas 902, 901, 905 e 802, não foram juntados aos autos os contratos referentes
ao negócio jurídico alegadamente celebrado entre a recorrente e o apelado Douglas Cunha da Silva
que tinham por objeto as unidades imobiliárias em questão.

Aos 23 de março de 2016 a recorrente também adquiriu as salas 808, 810 e 812 do multicitado
empreendimento. Foram igualmente juntados os instrumentos particulares de compra e venda (Id.
12375903, fl. 6, Id. 12375904, fl. 3 e Id. 12375905, fl. 6) e as declarações de quitação (Id. 12375903,
fl. 1, Id. 12375904, fl. 4 e Id. 12375905, fl. 1) referentes à aquisição das aludidas salas pelo apelado
Douglas Cunha da Silva no ano de 2013. Não foram coligidos aos autos, no entanto, os eventuais
instrumentos particulares referentes ao negócio jurídico de transmissão dos aludidos bens celebrado
entre a recorrente e o recorrido em questão.

Houve, ademais, a lavratura de procuração pública com cláusula in rem suamoutorgada por Douglas
Cunha da Silva a Iza Teixeira, tendo por objeto as referidas salas comerciais 808, 810 e 812 (Id.
12375905, fl. 4). Na ocasião houve a declaração de que os bens imóveis aludidos corresponderiam ao
montante total de R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais).

Finalmente a apelante alega que no mês de maio de 2016 celebrou, novamente, negócio jurídico cujo
objeto consistiu na aquisição das salas 611, 612, 613 e 615, do multicitado empreendimento
imobiliário.

Os instrumentos de compra e venda (Id. 12375906, fl. 2, Id. 12375907, fl. 2, Id. 12375908, fl. 2 e Id.
12375909, fl. 2), bem como as declarações de quitação acostadas aos autos (Id. 2375906, fl. 1, Id.
12375907, fl. 1, Id. 12375908, fl. 1 e Id. 12375909, fl. 1), no entanto, revelam que os bens imóveis
aludidos já haviam sido adquiridos pela recorrente no ano de 2013, embora não conste sua assinatura
nos referidos documentos, tendo sido essa peculiaridade também observada em relação à sala 614,
como já aludido.

Com efeito observa-se, diante dos termos de quitação aludidos, que as salas comerciais 611, 612, 613,
614 e 615 foram adquiridas por Iza Teixeira em virtude da suposta existência de créditos devidos
pela sociedade anônima Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A – SPE em favor da recorrente.

Feitas essas considerações, e, a par do contexto probatório evidenciado nos autos, não existem provas
documentais que revelem o modo de pagamento assumido pela ora recorrente para a aquisição das
unidades imobiliárias aludidas.

Inicialmente a recorrente alega que os negócios jurídicos foram intermediados pelo recorrido José
Antônio dos Santos Filho.
Afirmou haver adquirido as salas comerciais 505, 518 e 712 pelo valor de R$ 32.000,00 (trinta e dois
mil reais), que corresponderia, de acordo com o alegado por José Antônio, ao suposto saldo devedor
deixado pelo Sr. Luís Alberto para a aquisição dos eferidos bens. Na ocasião, assevera haver emitido
nota promissória como meio de garantir o pagamento da dívida.

Em relação às salas 902, 614, 901, 905, 802, assevera que José Antônio dos Santos Filho propôs que
a recorrente oferecesse, em troca, o terreno situado na QL 2 do Lago Norte, além dos imóveis
localizados na Rua 12 A, casa 11, São Sebastião e na Quadra 16, lote 1, Jardim Pérola em Águas
Lindas-Go, bem como a complementação, em dinheiro, no montante total de R$ 130.000,00 (cento e
trinta mil reais).

Alega, ademais, que, para garantir a permuta dos bens imóveis aludidos, foi emitida nota promissória
no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), e, em relação ao pagamento do montante de R$
130.000,00 (cento e trinta mil reais), foram emitidos dois cheques nos montantes de R$ 80.500,00
(oitenta mil e quinhentos reais) e R$ 24.500,00 (vinte e quatro mil e quinhentos reais),
respectivamente. Afirma que o valor correspondente ao restante da dívida foi recebido pelo réu
aludido por meio da compra de mercadorias no cartão de crédito da autora em várias lojas no Distrito
Federal.

Em relação à aquisição das salas 808, 810 e 812, verbera que autorizou, em troca, a venda, pelo réu,
de 42 (quarenta e duas) unidades do loteamento pertencente à apelante localizado em Águas
Lindas-Go. Igualmente, em relação às salas 611, 612, 613, 614 e 615, foi autorizada a venda de mais
66 (sessenta e seis) unidades do loteamento aludido.

Ocorre que não foram produzidas nos autos provas suficientes a respeito da circunstância de que o
pagamento pela aquisição das salas comerciais aludidas teria ocorrido de acordo com o alegado pela
apelante(art. 373, inc. I, do CPC).

Com efeito, o cheque referido no Id. 12375941, fl. 2, foi emitido aos 10 de dezembro de 2015, no
valor de R$ 80.500,00 (oitenta mil e quinhentos), sendo que os cheques nesse valor alegadamente
expedidos pela recorrente teriam sido emitidos em data posterior, para garantir negócio jurídico
celebrado em março de 2016.

Ademais, em relação aos cheques referidos nos Id. 12376393, Id. 12376394 e Id. 12376395, convém
sublinhar que os valores ali constantes não coincidem com os indicados pela própria recorrente como
modo de garantia ou pagamento em relação aos negócios jurídicos aludidos. O cheque constante no
Id. 12376396, aliás, indica como beneficiário o Sr. Aluísio B. da Silva, que em nenhum momento foi
mencionado nos autos.

A fatura do cartão de crédito referida no Id. 12376024, com vencimento aos 21 de janeiro de 2017,
também não é suficiente para comprovar que os itens ali constantes tenham sido revertidos
efetivamente em proveito de José Antônio dos Santos Filho.

Convém destacar que a nota promissória referida no Id. 12375942, fl. 1, foi emitida em branco, e, a
cártula referida no Id. 2375942, fl. 2, teve o nome do beneficiário rasurado, embora ambas tenham
sido emitidas aos 10 de setembro de 2016 no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). Isso não
obstante, à míngua dos respectivos instrumentos que relacionem os títulos em questão como modo de
pagamento ou garantia dos negócios jurídicos celebrados, não há como comprovar que os respectivos
instrumentos tenham servido para garantir a aquisição das salas 902, 614, 901, 905 e 802.

Observe-se, aliás, que não há elementos probatórios relacionados aos bens imóveis localizados na Rua
12-A, casa 11, São Sebastião, e na Quadra 16 lote 1, Jardim Pérola em Águas Lindas-Go, e que, por
essa razão, também não pode ser afirmado, com segurança, que os bens em questão teriam sido, de
fato, utilizados como pagamento para a aquisição de salas comerciais do empreendimento aludido.

Em relação a esse ponto é necessário pontuar que o bem imóvel identificado como "Terreno nº 14", da
QL 2, lote 14, Lago Norte foi, aos 21 de outubro de 2014, objeto de dação em pagamento pelos
serviços prestados pelo Sr. Luiz Alberto Alves à recorrente (Id. 12376080, fls. 2-5). Na ocasião
declarou-se, como preço do bem, o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

A esse respeito foi coligido aos autos o instrumento de cessão de direitos (Id. 12376155, 12376156 e
12376157) que revela a celebração de negócio jurídico aos 20 de agosto de 2015 entre o Sr. Luiz
Alberto Alves e o recorrido José Antônio dos Santos Filho, tendo por objeto o aludido bem imóvel
pelo valor ajustado de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

Isso não obstante o demandado aludido celebrou negócio jurídico denominado “promessa de distrato”
no dia 1º de março de 2016, com o intuito de, supostamente, impedir a venda do bem em questão pelo
Sr. Luiz Alberto Alves a terceiros (Id. 12375955). Na ocasião foi ajustado que a recorrente deveria
transferir R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais) para a conta bancária do Sr. Wisley Rodrigues da
Silva, suposto interessado na aquisição do aludido bem, e efetuar o pagamento de comissão no valo de
R$ 8.000,00 (oito mil reais) a José Antônio dos Santos Filho.

A situação acima descrita não foi devidamente elucidada nos autos, e, não tendo havido maiores
esclarecimentos a esse respeito, não é possível constatar que tenha havido o retorno do referido bem
ao patrimônio da demandante, bem como a sua relação com o empreendimento imobiliário situado em
Águas Claras.

Assim, como a questão não está devidamente esclarecida, não é possível acolher as alegações feitas
pela apelante em relação ao aludido bem imóvel referido como "Terreno nº 14", localizado na QL 2,
lote 14, Lago Norte.
Diante dos elementos probatórios coligidos aos autos, ademais, não há comprovação de que os
negócios jurídicos relativos às unidades imobiliárias do “Centro Clínico de Águas Claras” tenham
sido efetivamente intermediados pelo recorrido José Antônio dos Santos Filho.

Com efeito, os instrumentos negociais juntados aos autos em relação ao aludido empreendimento não
mencionam o nome do referido apelado. Convém rememorar, ademais, que as procurações públicas
referidas no Id. 12375894, fl. 2, Id. 12375896, fl. 5 e Id. 12375905, fl. 4, revelam que houve a
celebração de negócio jurídico translativo referente às salas comerciais em questão entre a apelante e
o apelado Douglas Cunha da Silva, sem que tenha sido consignada a existência de eventual
intermediador para essa finalidade. Fora isso, apenas os instrumentos particulares referidos no Id.
12375892, fl. 6, Id. 12375894, fl. 4 e Id. 12375895, fl. 20, revelam os termos da negociação entre a
recorrente e o recorrido Douglas Cunha da Silva a respeito da alienação das salas comerciais do
empreendimento (unidades 505, 518 e 712), nos quais, inclusive, não houve menção à eventual
intermediação exercida por José Antônio dos Santos Filho.

O contrato de “captação de cliente e opção de venda” referido no Id. 12375944 demonstra que a
apelante ajustou, aos 8 de agosto de 2017, com José Antônio dos Santos Filho, a prestação do
serviço de venda das unidades 611, 612, 613, 614 e 615, fato esse posterior à aquisição das referidas
salas comerciais pela recorrente.

Convém destacar, aliás, que, à míngua de outros elementos probatórios, não é possível concluir que as
procurações públicas com cláusula in rem suam aludidas nos Id. 12375984, Id. 12375985, Id.
12375986, Id. 12375987, Id. 12375989, fl. 4, Id. 12375990, fls. 1-5, Id. 12375991, fl. 1 e Id.
12375992, fl. 1, referentes às unidades do loteamento localizado em Águas Lindas-Go, outorgadas em
favor de José Antônio dos Santos Filho, teriam servido como meio de pagamento pela aquisição das
salas comerciais 808, 810, 812, 611, 612, 613, 614 e 615 do empreendimento imobiliário “Centro
Clínico de Águas Claras”, a despeito das alegações, articuladas pela or recorrente, em sentido
contrário. Com efeito, não há, nos aludidos mandatos, menção ao empreendimento imobiliário em
exame.

Nesse contexto convém pontuar que o instrumento particular referido no Id. 12375911 demonstra a
celebração de negócio jurídico entre Iza Teixeira e José Antônio dos Santos Filho aos 16 de janeiro
de 2017, tendo por objeto a “cessão de direitos imobiliários” de 27 (vinte e sete) lotes do loteamento
aludido. Igualmente, o contrato referido no Id. 12375912 também demonstra a celebração de outro
negócio jurídico entre as mesmas partes aos 15 de março de 2017, desta vez, tendo por objeto 6 (seis)
lotes. Em ambos os instrumentos não há qualquer menção ao empreendimento imobiliário
denominado “Centro Clínico de Águas Claras”.

Convém destacar, aliás, que dentre as procurações públicas juntadas referentes ao loteamento em
questão, outorgadas em favor de José Antônio dos Santos Filho, os mandatos referidos no Id.
12375989 se reportam aos lotes versados no mencionado negócio jurídico de “cessão de direitos”
celebrado aos 16 de janeiro de 2017(Id. 12375911). As procurações referidas no Id. 12375991, fl. 1,
ademais, também foram outorgadas no mês de março de 2017.

Diante desse contexto, observa-se que foram juntadas aos autos as procurações públicas referentes a
19 (dezenove) unidades do loteamento aludido, outorgadas em favor de José Antônio dos Santos
Filho no dia 6 de maio de 2016, à exceção da procuração referida no Id. 12375985, fl. 1, outorgada
aos 23 de março de 2016. Com efeito esse número de unidades imobiliárias não corresponde à
quantidade de 108 (cento e oito) lotes ao todo alegadamente ofertada pela recorrente para a aquisição
das salas comerciais 808, 810, 812, 611, 612, 613, 614 e 615, convém ressaltar.

As demais procurações públicas coligidas aos autos (Id. 12375988, Id. 12375989 e Id. 12375991)
foram outorgadas a terceiros estranhos à relação jurídica processual em exame, e, na ausência de
outras provas em contrário, não podem, igualmente, ser associadas à aquisição das unidades
imobiliárias aludidas pela recorrente.

Quanto ao mais observa-se que foram juntadas aos autos cópias das certidões das matrículas números
242507, 242520, 242531, 242532, 242533, 242534, 242535 e 252550 (Id. 12375910), do Cartório do
3º Ofício do Registro de Imóveis do Distrito Federal, referentes às salas comerciais 505, 518, 611,
612, 613, 614, 615 e 712, respectivamente, do empreendimento imobiliário em questão. Por meio da
análise dos referidos documentosobserva-se que ainda consta como proprietário das aludidas
unidades imobiliárias a sociedade anônima Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A – SPE.

Verifica-se, ademais, que constam nas matrículas das referidas unidades imobiliárias averbações com
ordens de indisponibilidade, inscritas aos 22 de novembro de 2013 (Av.2 e Av. 3 de cada matrícula).

Em relação a esse ponto a recorrente alega que desconhecia a referida situação de indisponibilidade.

Verbera também que as salas comerciais objeto dos negócios jurídicos celebrados ao longo do ano de
2016 nunca passaram ao domínio de Douglas Cunha da Silva ou mesmo de Jose Antônio dos
Santos Filho, e que, por essa razão, os direitos patrimoniais dos aludidos bens imóveis jamais foram
efetivamente cedidos à apelante.

Nesse contexto, aliás, é importante ressaltar que Douglas Cunha da Silva alegou, em sua
contestação, que não teve contato pessoal com a demandante, bem como que havia celebrado negócio
jurídico de permuta com o ex-companheiro da recorrente, tendo por objeto as salas comerciais 802,
808, 810, 812, 901, 902, 905, e 906, com suas respectivas vagas de garagem, localizadas no
empreendimento imobiliário “Centro Clínico de Águas Claras”.

Com efeito, o instrumento negocial referido no Id. 12376370 demonstra que, aos 21 de maio de 2015,
Douglas Cunha da Silva cedeu os direitos patrimoniais relativos às unidades 802, 808, 810, 812, 901,
902, 905, e 906, ao Sr. Luiz Alberto Alves.

Posteriormente, aos 21 de dezembro de 2015 (Id. 12376369), o Sr. Luiz Alberto Alves teria autorizado
o mencionado recorrido a ceder, sem reservas, os direitos patrimoniais sobre as unidades aludidas a
Iza Teixeira. A mencionada autorização foi confirmada pelo Sr. Luiz Alberto Alves por meio da
escritura pública declaratória referida no Id. 25444219.

Nesse sentido as procurações por meio das quais o recorrido Douglas Cunha da Silva outorgou à
recorrente poderes em causa própria em relação aos direitos patrimoniais correspondentes às unidades
imobiliárias 802, 901, 902, 905 e 906, 808, 810 e 812 (Id. 12375963, fls. 2-4, e Id. 12375971, fls. 1-2),
coincidem com as mesmas unidades anteriormente negociadas com o Sr. Luiz Alberto Alves, aos 21
de maio de 2016 (Id. 12376370), embora não tenha sido consignado, na ocasião, que o mandato fora
outorgado por autorização do o Sr. Luiz Alberto Alves.

Logo, o contexto probatório ora delineado conecta-se com as alegações articuladas pelo recorrido
Douglas Cunha da Silvaem relação à outorga de poderes à recorrente relativamente às unidades
imobiliárias aludidas, por autorização do Sr. Luiz Alberto Alves.

Isso não obstante a apelante coligiu aos autos alguams peças do Inquérito Policial nº 139/2017, por
meio do qual os recorridos José Antônio dos Santos Filho e Douglas Cunha da Silva são
investigados pela suposta prática de crime contra idoso, com o intuito de comprovar que os apelados
em questão jamais tiveram poderes para dispor de salas do multicitado empreendimento imobiliário.

No referido inquérito policial o Sr. Weder Lopes Teixeira prestou as seguintes declarações, de acordo
com o termo nº 432/2019 (Id. 12376462):

“Adquiriu de ROBERTO CORTOPASSI JUNIOR o empreendimento denominado “Centro Clínico de


Águas Claras” no ano de 2011, por meio de procuração, tornando-se proprietário também da empresa
“Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A – SPE; QUE no ano de 2013 decidiu se desfazer do
empreendimento quando o negociou com JOSE ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO; QUE apesar de
ter passado o empreendimento para JOSÉ ANTÔNIO, este não honrou com os pagamentos, razão pela
qual ambos fizeram um acordo verbal para que o empreendimento fosse renegociado com outra
pessoa, no caso, LOURDES CONCEIÇÃO SANTANA; (...); QUE apesar que ter sido transferida
para o nome de JOSE ANTÔNIO, a empresa nunca ficou sob a responsabilidade dele, ou seja, o
declarante se manteve à frente da empresa até o momento em que entregou a posse de tudo à
LOURDES CONCEIÇÃO SANTANA (...); QUE grande parte das unidas já estavam com
“INDISPONIBILIDADE”, ou seja, por bloqueio judicial, não poderiam ser negociadas ou
renegociadas; QUE até a data em que repassou o empreendimento para LOURDES, 07/11/2013,
nenhuma unidade foi vendida ou negociada com JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO ou
DOUGLAS CUNHA DA SILVA, bem com IZA TEIXEIRA; QUE nunca constaram como
proprietário de unidades do empreendimento as pessoas de JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO
e DOUGLAS CUNHA DA SILVA, bem como IZA TEIXEIRA; QUE acerca das unidades 505, 518,
611, 612, 613, 614, 615, 717, 802, 808, 810, 812, 901, 902, 905 e 906, foi repassado à LOURDES a
situação específica de cada uma delas, sendo ela a pessoa ideal para prestar tais esclarecimento;
QUE nenhuma unidade já vendida poderia ser renegociada a terceiro, por meio de cessão de
direito, sem anuência da ALVORECER; (...); QUE os documentos de 38, 39, 40, 41 e 42,
certamente são documentos inidôneos, ou seja, que não correspondem aos registros constantes
da ALVORECER; QUE não reconhece as assinaturas constante de tais documentos, das quais
não consta o nome do signatário, nem mesmo se verificando o necessário registro de firma; QUE
qualquer venda ou negociação feita por JOSE ANTÔNIO ou DOUGLAS referente a unidades
do empreendimento da empresa ALVORECER se trata de atos fraudulentos, não existindo
nada que os autorizam a praticarem tais atos.”
(Ressalvam-se os grifos)

Ainda de acordo com o termo nº 422/2019 (Id. 25444101), também prestou depoimento a Srª Lourdes
da Conceição Santana, tendo declarado que:

“Adquiriu de ROBERTO CORTOPASSI JUNIOR o empreendimento denominado “Centro Clínico de


Águas Claras” no ano de 2013, por meio de procuração, tornando-se proprietária também da empresa
“Empreendimentos Imobiliários Alvorecer S/A – SPE; QUE formalmente, adquiriu o
empreendimento de JOSE ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO, contudo, o proprietário de fato seria
WEDER LOPES TEIXEIRA, o qual, inclusive, assinou o contrato de compra e venda na condição de
anuente; QUE em 22 de outubro de 2013, a empresa estava no nome de ROBERTO CORTOPASSI
JUNIOR, o qual a teria, posteriormente, a negociado com WEDER, que colou em nome de JOSÉ
ANTÔNIO; QUE a declarante, quando adquiriu o empreendimento, já idosa, não foi informada
corretamente acerca das salas e lojas que já haviam sido vendidas; QUE somente depois de realizar o
negócio, já com o auxilio de seus filhos, que veio a saber a situação real e atual de cada unidade,
sendo a maioria já vendida e com ações judiciais em andamento; QUE grande parte das unidades já
tinha bloqueio judicial que as impediam de serem negociadas; QUE a declarante, em razão das ações
judiciais, veio a ficar com o nome comprometido, não conseguindo crédito em instituições financeira;
QUE desde que assumiu a propriedade do empreendimento, nenhuma unidade foi negociada, até
porque a preocupação da declarante passou a ser a solução das questões relativas àquelas unidades já
vendidas; QUE no ano de 2015, a obra foi embargada em razão de uma vistoria feita pela AGEFIS, a
qual detectou a existência de alguns funcionários sem equipamentos de segurança; QUE a partir desse
embargo, a declarante, por falta de dinheiro e sem possibilidade de pegar empréstimo, decidiu manter
a obra parada; QUE acerca das unidades das unidades 505, 518, 611, 612, 613, 614, 615, 717, 802,
808, 810, 812, 901, 902, 905 e 906, quatro nunca foram vendidas, quatro retornaram à
propriedade da ALVORECER por meio de distrato, e o restante possuem proprietários certos,
os quais possuem inclusive, demandas judiciais contra a ALVORECER; QUE os nomes dos
compradores, proprietários das unidades citadas, constam de lista apresentada nesta ocasião;
QUE nenhuma unidade já vendida foi negociada a terceiro, por meio de cessão de direito, sem a
anuência da ALVORECER; QUE nunca constaram como proprietário de unidades do
empreendimento as pessoa de JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO e DOUGLAS CUNHA
DA SILVA, bem como IZA TEIXEIRA;QUE a advogada da empresa já contatou todos os
proprietário de unidades não constando dentre estes nenhuma das pessoa anteriormente citadas; QUE
os documentos de folhas 38, 39, 40, 41 e 42, certamente são frios, ou seja, que não correspondem aos
registros constantes da ALVORECER; QUE não reconhece as assinaturas constante de tais
documentos, das quais não consta o nome do signatário, nem mesmo se verificando o necessário
registro de firma; (...).”

(Ressalvam-se os grifos)

O documento que acompanha os termos de declaração (Id. 25444101, fl. 3) indica, supostamente, que
as unidades imobiliárias 505, 518, 612, 615, 717, 802, 808, 810, e 902 constam nos cadastros da
sociedade anônima aludida como pertencentes a terceiros.

[4]
A situação acima descrita revela a ocorrência de cessão a non domino dos bens imóveis aludidos
que, embora válida e eficaz, podem acarretar o inadimplemento do negócio jurídico caso o cedente
não garanta a transmissão do bem ao cessionário.
Isso não obstante, o contexto probatório produzido nos autos não permite concluir que os apelados
não tinham poder de dispor das unidades imobiliárias do empreendimento em questão. Com efeito, a
recorrente apenas coligiu aos autos os depoimentos prestados pelas testemunhas aludidas no âmbito de
inquérito policial, sem o devido respeito ao contraditório e à ampla defesa. Com efeito os depoimentos
em questão têm mero caráter indiciário, e não podem ser, isoladamente, considerados como meio de
prova das alegações da recorrente. Nesse contexto, à míngua de outros elementos probatórios em
sentido contrário, não há como afirmar que os instrumentos negociais em nome dos recorridos
referentes ao “Centro Clínico de Águas Claras” foram ilicitamente produzidos.

Diante de todas as considerações acima articuladas, não se mostra possível acolher, com segurança, as
alegações articuladas pela recorrente.

Com efeito, os documentos coligidos aos autos demonstram que a recorrente figurou como cessionária
das salas comerciais 611, 612, 613, 614 e 615 ainda aos 20 de agosto de 2013, data anterior à
inscrição, na matrícula desses bens, das ordens judiciais de indisponibilidade aludidas.

As unidades imobiliárias 808, 810, 812, 901, 902 e 905, a seu turno, foram cedidas à apelante por
meio de autorização, sem reservas, prestada pelo Sr. Luiz Alberto Alves. No instrumento referido no
Id. 12376370, aliás, consta que o cessionário aludido estava ciente da indisponibilidade dos bens,
embora não tenham sido juntadas as matrículas desses imóveis que possam confirmar a averbação de
ordem de indisponibilidade sobre as unidades em questão, ou mesmo a data em que tais
indisponibilidades fora inscritas na matrícula.

Em relação a essas unidades, ademais, não é possível concluir, diante da anállise dos autos, a forma de
pagamento alegada pela recorrente, ou mesmo a intermediação eventualmente feita por José Antônio
dos Santos Filho.

A situação descrita, portanto, mostra que a autora não se desincumbiu do ônus de comprovar o fato
constitutivo de sua pretensão (art. 373, inc. I, do CPC).

Convém rememorar, no entanto, que os instrumentos referidos no Id. 12375892, fl. 6, 12375894, fl. 4
e 12375895, fl. 20, demonstram que a recorrente celebrou com o recorrido Douglas Cunha da Silva
negócio jurídico de cessão "dos direitos" referentes às salas 505, 518 e 712, aos 3 de março de 2016.
Não houve, nos contratos aludidos, qualquer informação a respeito das indisponibilidades averbadas
nas matrículas dos bens em questão. Além disso, o apelado referido não comprovou que a apelante
estava ciente dos mencionados gravames no momento em que houve a celebração do negócio jurídico
em destaque(art. 373, inc. II, do CPC).

Em relação a esse ponto, com efeito, deve ser acolhida a alegação, formulada pelo recorrente, de que
não tinha ciência da indisponibilidade das unidades imobiliárias aludidas no momento da celebração
do negócio jurídico em exame.
Nesse contexto, observa-se que não foi comprovada, nos autos, a omissão dolosa por parte de
Douglas Cunha da Silva a respeito da situação de indisponibilidade aludida. Logo, o caso ora em
exame se enquadra à hipótese de erro substancial da recorrente, nos termos do art. 138 do Código
Civil.

A esse respeito examine-se o seguinte trecho da obra de Arnaldo Rizzardo[5]:

“Erro substancial ou essencial é o que vicia o ato em sua substância, como o nome está a dizer,
provocando uma exteriorização da vontade que não seria emitida, se o agente tivesse representação
exata da realidade, e que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio, ou seja, desde que a compreensão não envolva grande complexidade.”

Diante dessa peculiaridade a recorrente e o recorrido Douglas Cunha da Silva deverão ser restituídos
ao status quo ante em relação ao negócio jurídico cujo objeto consistiu na cessão de direitos das salas
comerciais 505, 518 e 712 do empreendimento imobiliário “Centro Clínico de Águas Claras”, nos
termos do art. 182 do Código Civil.

Quanto ao mais não afigura possível acolher as alegações articuladas pela recorrente em relação às
demais salas comerciais do empreendimento em questão.

2) Negócios jurídicos relativos ao imóvel localizado no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2

A recorrente alega que no mês de maio de 2016 se viu obrigada a buscar ajuda financeira prestada por
familiares, momento em que José Antônio dos Santos Filho se ofereceu para obter empréstimo com
um suposto primo no importe de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), tendo exigido, no entanto, que a
demandante prestasse garantia real. Nesse contexto verberou que o mencionado recorrido a convenceu
a entregar como garantia o bem imóvel em que reside no SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2.

Sustenta que, na ocasião, foram lavradas duas procurações, uma no Cartório do 1º Ofício de Notas e
Protesto de Brasília (“Cartório JK”), e outra no Cartório do 2º Ofício de Notas e Protesto de Brasília,
conferindo amplos poderes ao demandando em relação ao imóvel aludido.

Verbera, no entanto, que o demandado entregou, à autora, apenas o montante de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), ao argumento de que o empréstimo teria sido realizado em nome do próprio demandado,
que arcaria com o pagamento do valor restante de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).
Pontua que aos 4 de janeiro de 2018 recebeu notificação extrajudicial da apelada Elizabeth Rosa de
Souza Cupertino com a informação de que a recorrida em questão havia celebrado negócio jurídico
de cessão onerosa para a aquisição do bem imóvel localizado no SHIS QL 20, Casa 2.

Assevera que nunca teve a intenção de vender o aludido bem imóvel, que deveria ter sido utilizado
apenas como garantia do suposto empréstimo contratado por José Antônio dos Santos Filho em
favor da autora.

As alegações formuladas pela ora recorrente demonstram a ocorrência de erro em razão da


divergência entre “a vontade do manifestante e aquilo que efetivamente manifesta”[6].

No caso a demandante juntou aos autos o instrumento referido no Id. 12375925, que demonstra a
celebração de negócio jurídico de “cessão de direitos” relativo ao bem imóvel localizado no SHIS QL
20, Casa 2, aos 11 de março de 2016. Na ocasião o imóvel foi cedido pelo valor total de R$
2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais), a serem pagos do seguinte modo:

“1º - 465.000,00 representados pelo resgate na praça das cártulas de cheques nº 008873, 008879 e
008880 da AG: 0002 C/C 01241104-0 do banco nº 104 emitidas por Iza Teixeira CPF: (omissis) onde
após o resgate das cártulas descritas a Cedente dará ao Cessionário Total quitação a este Item.

2º - 35.000,00 neste ato em dinheiro de contato onde a Cedente dá ao Cessionário Total quitação a
este Item.

3º - 1.900.000,00 neste ato representados por 10 (dez) Notas Promissórias emitidas em caráter
Pro-Soluto com seus vencimentos trimestrais emitidas nesta data pelo o aqui cessionário onde após o
pagamento de cada título este será devolvido ao emissor e a Cedente com a devolução do título dará
total quitação do mesmo sem que seja necessário a emissão de recibos uma vez que o título executivo
Pro-Soluto não estará mais em seu poder após o resgate de todas as Notas promissórias a Cedente dá
ao Cessionário Total quitação a este Item.

As notas promissórias Pro-Soluto descritas a cima tem como seus números e seus vencimentos:

1ª: 41581-01/10 vencimento 11/08/2016, 2ª: 41581-02/10 vencimento 11/11/2016, 3ª: 41581-03/10
vencimento 11/02/2017, 4ª: 41581-04/10 vencimento 11/05/2017, 5ª: 41581-05/10 vencimento
11/08/2017, 6ª: 41581-06/10 vencimento 11/11/2017, 7ª 41581-07/10 vencimento 11/02/2018, 8ª:
41581-08/10 vencimento 11/05/2018, 9ª: 41581-09/10 vencimento 11/08/2018, 10ª: 41581-10/10
vencimento 11/11/2018.”

O recorrido José Antônio dos Santos Filho juntou aos autos a declaração de quitação feita pela
recorrente (Id. 12376102), em relação ao resgate dos aludidos cheques números 008873 (Id.
12376104), 008879 (Id. 12376103) e 008880 (Id. 12376103).

Foram juntadas, igualmente, as notas promissórias 41581-01/10 (Id. 12376106), 41581-02/10 (Id.
12376107), 41581-03/10 (Id. 12376108), 41581-04/10 (Id. 12376109), 41581-05/10 (Id. 12376110),
41581-06/10 (Id. 12376111) e 41581-07/10 (Id. 12376112), bem como a declaração de quitação
parcial formalizada por Iza Teixeira em relação a esses títulos de crédito (Id. 12376113).

Convém salientar, ademais, a anotação, no verso das notas promissórias 41581-06/10 e 41581-07/10,
do endosso dos títulos de crédito em exame, promovido pela apelante, à sociedade empresária
Credcom Factoring Ltda. Verificou-se, nesse sentido, a existência da sociedade empresarial Credicom
Factoring Ltda, por meio de pesquisa promovida no sistema Infoseg, no âmbito do Inquérito policial
nº 139/2017 aludido (Id. 12376445). A divergência do nome da sociedade empresarial referida não foi
devidamente elucidada nos autos.

Observa-se, aliás, que aos 18 de maio de 2016 a recorrente outorgou duas procurações públicas com
cláusula in rem suam em favor de José Antônio dos Santos Filho, uma no Cartório do 1º Ofício de
Notas e Protesto de Brasília (Id. 12375934), e outra no Cartório do 2º Ofício de Notas e Protesto de
Brasília (Id. 12375929). A procuração elaborada pelo Cartório do 1º Ofício de Notas e Protesto de
Brasília, no entanto, foi revogada aos 8 de agosto de 2016 (Id. 12375935).

Não há provas nos autos a respeito do suposto empréstimo contratado por José Antônio dos Santos
Filho em favor da recorrente. Aliás, é possível observar, de acordo com o R.12 da matrícula nº 41.581
do 1º Ofício do Registro de Imóveis do Distrito Federal (Id. 12375936), que a recorrente promoveu a
alienação fiduciária do referido imóvel à Caixa Econômica Federal em garantia da dívida no valor de
R$ 33.700,00 (trinta e três mil e setecentos reais).

É necessário destacar, ademais, que José Antônio dos Santos Filho celebrou, aos 8 de setembro de
2017, negócio jurídico de compra e venda com Emival Pessoa de Godoi, cujo objeto consistiu na
aquisição, por José Antônio, de um terreno de aproximadamente 800 m² localizado na QSC 19,
Chácara 26, conjunto A, lote 1, Taguatinga (Id. 12375930). Na ocasião José Antônio dos Santos
Filho deu em pagamento o imóvel situado no SHIS QL 20, Lote 2, Lago Sul.

Posteriormente o referido imóvel situado no Lago Sul foi alienado aos recorridos Elizabeth Rosa de
Souza Cupertino e José Francisco Cupertino (12376426, fl. 21). Com efeito, alegam os apelados
em questão que não procederam de má-fé na aquisição do bem imóvel localizado no SHIS QL 20,
Conjunto 2, Casa 2, pois acreditaram na idoneidade da procuração que concedeu poderes em causa
própria a José Antônio dos Santos Filho para dispor sobre o aludido bem.

Com o intuito de comprovar que jamais teve a intenção de vender o imóvel situado no Lago Sul, a
recorrente juntou aos autos os depoimentos de testemunhas prestados no 10º Ofício de Notas e
Protesto de Ceilândia e no 1º Ofício de Notas e Protesto de Brasília.

Com efeito, verifica-se que a testemunha Manuel Marcos Fernandes da Costa (Id. 25444098), em seu
depoimento, respondeu que:

I) Presta serviços autônomos para IZA TEIXEIRA desde o ano de 2008 até a presente data,
ajudando-a na documentação dos imóveis localizados em Águas Lindas de Goiás-GO, na execução de
trabalho de digitação de documentos, lavraturas de Escrituras Públicas, fiscalização do loteamento,
para que não seja invadido ou vendido por terceiros sem a autorização da proprietária; II) Ajudou a
comercializar alguns dos imóveis do loteamento; III) Conheceu JOSE ANTÔNIO DOS SANTOS
FILHO quando IZA TEIXEIRA começou a negociar com ele os seus imóveis; IV) Desde que Iza
Teixeira conheceu José Antônio, depositou nele um excessiva confiança, entregando-lhe todos os seus
negócios para que tomasse conta; V) Alertou Iza Teixeira quanto aos excesso de confiança que ela
mantinha em José Antônio, tendo em vista que tomou conhecimento que Jose Antônio era envolvido
com confusões relacionadas à vendas de imóveis mas, Iza Teixeira não deu importância ao alerta,
defendendo José Antônio e continuando a realizar negócios com o mesmo; VI) sabe que Iza Teixeira
adquiriu de José Antônio, salas comerciais em Águas Claras, e ela não foi ao empreendimento para
conhecer os imóveis, e que deu em pagamento muitos lotes de seu loteamento em Águas Lindas de
Goiás-GO, possivelmente mais de cem lotes, transferindo-os para José Antônio e outras pessoa que
eram indicadas por ele, por meio de Procurações e Escrituras Públicas; VII) Continuou avisando Iza
Teixeira sobre os riscos de manter a confiança demasiada em alguém que ela pouco conhecei, tendo
em vista o volume de negócios que estava presenciando, nos quais José Antônio estava envolvido e
não prestava contas a ela, mas não teve sucesso, haja vista que eles mantiveram relação comercial , até
que Iza Teixeira fora surpreendida por uma notificação da venda do imóvel no Lago Sul, uma vez que
ela não tinha realizado nenhuma transação imobiliária relativa ao imóvel, mas que o bem, sem o seu
conhecimento, tinha sido vendido para Emival, que o adquiriu de José Antônio; VIII) José Antônio
frequentava a casa de Iza Teixeira e já o viu por diversas vezes na residência de Iza, inclusive na
piscina, demonstrando uma aparente relação de confiança entre ambos; IX) Percebia que Iza Teixeira
era emocionalmente influenciada por José Antônio, este mostra ser amigo e preocupado com os
negócios de Iza; X) Acompanhou o negócio relativo à transferência do veículo Ford Ranger, de
propriedade Iza Teixeira, ocasião que José Antônio pediu-me para colher assinatura no DUT do
veículo, o que encontrava-se em branco, e que José Antônio, de posse dos documentos assinado,
alienou o bem para terceiros, sem ter repassado o valor relativo ao veículo; XI) tem conhecimento que
Iza Teixeira nunca anunciou, para venda, o imóvel situado no SHIS QL 20, Conjunto 02, Casa 02,
Lago Sul, Brasília-DF, pois jamais teve interesse em se desfazer do imóvel no qual residia, dizendo
ser o seu castelo; XII) Iza Teixeira somente tomou conhecimento de que a casa do Lago Sul tinha sido
vendida quando foi notificada por uma compradora que adquiriu o imóvel de Emival; XIII); Não
conhece Emival; XIV) Iza Teixeira ficou desesperada quando percebeu que havia sido enganada por
José Antônio e ingressou com uma ação na Justiça em desfavor dele; XV) Ouviu e presenciou, por
diversas vezes, José Antônio gritando com Iza Teixeira pelo telefone e pessoalmente, ofendendo-a,
inclusive chamando-a de “velha sem vergonha” e outros xingamentos; XVI) Nunca presenciou Iza
Teixeira embriagada e que ela não é alcoólatra; XVII) nunca viu, ou ouviu dizer que Iza Teixeira tem
vicio em jogos de azar; XVIII) Não mantém relação de amizade intima, vinculo de emprego ou
inimizade com Iza Teixeira nem com JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO e demais réus no
processo.”

A testemunha Maria Ivalda de Souza Amaral (Id. 25444099), em seu depoimento, respondeu que:

“(...) presta serviços autônomos de faxina para Sra. IZA TEIXEIRA, há mais de 10 (dez) anos; (...)
QUE iniciou executando semanalmente as faxinas no imóvel de IZA TEIXEIRA, localizado no SHIS
QL 20, Conjunto 02, Casa 02, Lago Sul, Brasília-DF; QUE a partir do início do ano de 2018 as diárias
passaram a ser realizadas quinzenalmente, em razão das dificuldades financeira que IZA TEIXEIRA
passou a sofrer; QUE nos dias que prestou seus serviços no imóvel de IZA TEIXEIRA não viu placa
de anuncio de venda do imóvel e não viu nenhuma pessoa visitar o imóvel para avaliação ou com
interesse em compra-lo; QUE o imóvel não esteve disponível para venda; QUE nunca soube que
IZA TEIXEIRA tivesse coloca a casa à Venda, pois, IZA TEIXEIRA sempre falou que gosta muito da
casa que residia, mesmo sendo uma casa muito grande, não a venderia, e que o imóvel ficaria para
seus familiares; QUE várias vezes presenciou JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO na casa de
IZA TEIXEIRA; QUE percebia que JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO tinha a confiança de
IZA TEIXEIRA, e mantinha com ela uma aparente relação de amizade; QUE por diversas vezes
JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO chamava IZA TEIXEIRA para tratarem de negócios no
escritório da casa; QUE JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO evitava qualquer conversa sobre de
negócios na presença da declarante ou na presença de outras pessoas que estivessem na casa; QUE
IZA TEIXEIRA tinha uma boa condição financeira e vários imóveis, até que percebeu que tinha sido
enganada por JOSÉ ANTÔNIO e tomou conhecimento de sua casa tinha sido vendida para ele, mas,
não sabia dizer como isso tinha acontecido; QUE quando IZA TEIXEIRA foi notificada pela
compradora do imóvel, ficou desesperada e chorava muito, fiando deprimida e chegava a gritar dentro
de casa clamando por Deus, sem sabe como resolver a questão; QUE IZA TEIXEIRA dizia que não
tinha vendido imóvel para JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO ou qualquer outra pessoa; QUE
IZA TEIXEIRA passou a ter medo de JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO, se sentido insegura
em ficar em casa sozinha; QUE IZA TEIXEIRA, morava sozinha no imóvel localizado no SHIS QL
20, Conj. 02, Casa 02, Lago Sul, Brasília-DF, mas, depois que descobriu que foi enganada por JOSÉ
ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO, convidou uma amiga para residir com ela, por medida de
segurança, pois, já é idosa; QUE nunca presenciou IZA TEIXEIRA embriagada; QUE nunca soube
que IZA TEIXEIRA fosse viciada em jogos de azar, pois, nunca viu nenhuma jogatina na casa, nem
ouviu dizer que IZA TEIXEIRA gostasse de jogos de azar ou frequentasse esse tipo de
estabelecimento; QUE não mantém relação de amizade íntima, vinculo de emprego ou inimizade com
IZA TEIXEIRA, bem como com JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO.”

A testemunha Ricardo de Almeida (Id. 25444100), em seu depoimento, respondeu que:

“presta serviços de jardinagem no imóvel de IZA TEIXEIRA, localizado no SHIS QL 20, Conjunto
02, Casa 02, Lago Sul, Brasília-DF; Que até o final do ano de 2018 as diária eram realizadas
semanalmente, todas as terças-feiras, mas, em razão das dificuldades financeira que Iza Teixeira
passou a ter, as diárias passaram para quinzenais; Que nos dias eu o declarante prestou seus serviços
no imóvel de Iza Teixeira nunca viu instalada placa de anúncio de venda do imóvel, ou qualquer outro
meio de anúncio de o imóvel estava disponível para venda; Que nunca soube que Iza Teixeira tivesse
colocado a casa à Venda; Que nunca presenciou pessoas visitando a casa com o intuito de comprar o
imóvel; Que várias vezes viu JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO na casa de Iza Teixeira, mas
com ele nunca manteve qualquer contato direto; Que nunca ouviu os assuntos de negócios entre Iza
Teixeira e JOSÉ ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO, pois esse assuntos eram tratados no interior da
casa; Que Iza Teixeira sempre falou que gostava muito da casa que residia e que o imóvel ficaria para
seus familiares; Que nunca presenciou Iza Teixeira embriagada; Que nunca soube que Iza Teixeira
fosse viciada em jogo de azar, pois nunca viu nenhuma jogatina na casa , nem ouviu dizer que Iza
Teixeira gostasse de jogos de azar ou frequentasse esse tipo de estabelecimento; Que não mantém
relação de amizade intima, vínculo de emprego ou inimizade com Iza Teixeira, bem como com JOSÉ
ANTÔNIO DOS SANTOS FILHO e demais réus no processo(...)”

Diante desse contexto, ficou devidamente comprovado que a recorrente incorreu, novamente, em erro
substancial em relação ao negócio jurídico aludido, pois não teve, na ocasião, consciência de que, na
realidade, estava a vender o bem imóvel aludido.

Com efeito, para que seja causa de anulabilidade do negócio jurídico basta que o erro seja substancial.
Logo não se afigura necessário, para essa finalidade, que o erro seja escusável.
A esse respeito atente-se às lições esclarecedoras do notável Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda:

“O que importa, para se conferir a ação de anulação por erro, é que tenha, realmente, havido o erro.
Erro pode haver, digno de se considerar elemento do suporte fático dos arts. 86-91, ainda que
inescusável; porque essa inescusabilidade é na dimensão ética, e não na dimensão jurídica. Na
dimensão jurídica, o ato de manifestar a vontade, com culpa no erro, nada tem com a pretensão
constitutiva negativa, se bem que, produzindo-se, com a desconstituição do ato jurídico, os danos
derivados de não se ter levado a cabo a eficácia do negócio, passa dar causa a indenização dos
interesses negativos, o que se presta ainda se não houve culpa.”[7]

Convém observar, ademais, o enunciado nº 12 da I Jornada de Direito Civil: “na sistemática do art.
138, é irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”.

Por essa razão a comprovação da ausência de de percepção exata da realidade, pela apelante, é causa
suficiente para evidenciar a ocorrência do erro substancial.

Além disso é certo que a natureza do erro deve ser avaliado de acordo com os aspectos pessoais do
contratante. Nesse contexto, observa-se que a recorrente era idosa e com deficiência de visão no
momento da celebração do negócio, aspectos que certamente devem ser considerados para corroborar
a existência de erro substancial no presente caso.

Diante desse contexto mostra-se igualmente necessário o retorno das partes ao estado anterior, nos
termos do art. 182 do Código Civil.

Finalmente é necessário pontuar que os danos eventualmente suportados por Elizabeth Rosa de
Souza Cupertino e José Francisco Cupertino, cuja boa-fé não restou afastada na hipótese, deverão
ser ressarcidos em ação autônoma, nos termos do art. 125, § 1º, do CPC, em virtude da ocorrência do
fenômeno da evicção.

3) Alvará de levantamento de valores depositados em Juízo no âmbito do processo nº


2012.01.1.104052-3 da 7ª Vara da Fazenda Pública doDistrito Federal.

Em relação a esse ponto a demandante alega que em julho de 2016 tinha valores a receber em
processo judicial. Diz também que foi convencida a contratar certo advogado para, supostamente,
evitar que o importe fosse recebido pelo Sr. Luiz Alberto, que, na ocasião do ajuizamento da ação, era
responsável pela administração dos interesses da demandante. Alega que aceitou a sugestão e
contratou o advogado indicado, Verniou Tadeu Santos Pinto de Almeida, para levantar a quantia
depositada em juízo.
Assinala, no entanto, que aos 15 de julho de 2016 o valor constante no alvará judicial teria sido sacado
por José Antônio dos Santos Filho, no importe de R$ 108.438,22 (cento e oito mil quatrocentos e
trinta e oito reais e vinte e dois centavos), sendo que do montante ali expresso, foi retido 15% (quinze
por cento) como pagamento pelos serviços prestados pelo advogado aludido. Verbera haver recebido
apenas a quantia de R$ 11.672,49 (onze mil seiscentos e setenta e dois reais e quarenta e nove
centavos), pois o valor remanescente teria sido retido pelo demandado aludido como suposto
pagamento dos cheques emitidos pela autora.

Diante da análise do documento referido no Id. 12376086, fl. 5, observa-se que a recorrente celebrou
transação judicial com o intuito de promover a satisfação do crédito versado nos autos do processo nº
2012.01.1.104052-3 que tramitou na 7ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal. Na ocasião ficou
ajustado que, do valor total depositado em Juízo, a quantia de R$ 108.153,00 (cento e oito mil cento e
cinquenta e três reais) seria vertida em favor de Iza Teixeira.

Ocorre que por meio da quitação referida no Id. 12375941, fl. 1, a recorrente declarou que o valor
referente a 15% (quinze por cento) do aludido montante seriam revertidos em favor do advogado
Verniou Tadeu Santos Pinto de Almeida, bem como seria descontado o valor de R$ 80.500,00 (oitenta
mil e quinhentos reais) para o pagamento do cheque nº 900351 emitido pela recorrente. O valor de R$
11.672,49 (onze mil seiscentos e setenta e dois reais e quarenta e nove centavos) restante, ademais,
teria sido entregue em espécie à apelante. Nesse contexto o cheque aludido foi juntado aos autos, e
dele não consta o nome do remetente (Id. 12375941, fl. 2).

Logo, diante da ausência de outras provas em sentido contrário, não há como afirmar que o
mencionado valor teria sido indevidamente retido pelo apelado José Antônio dos Santos Filho.

Por essas razões, não merecem ser acolhidas as alegações da recorrente em relação a esse ponto.

4) Negócio jurídico de compra e venda do veículo Ford Ranger XLT 13P, placa NXH-8727.

A recorrente alega que no mês de agosto de 2016, com sérios problemas financeiros, e sem conseguir
vender as salas comerciais localizadas no empreendimento imobiliário aludido, viu-se obrigada a
vender seu veículo Ford Ranger XLT 13P, placa NXH-8727 avaliado em R$ 52.000,00 (cinquenta e
dois mil reais). Verbera que, na ocasião, José Antônio dos Santos Filho ofereceu-se para promover a
venda do automóvel, tendo exigido procuração com poderes específicos para essa finalidade. Após a
aludida venda, a apelante assevera que teria recebido somente metade do montante de avaliação do
veículo.

A ora recorrente coligiu aos autos a procuração pública com cláusula in rem suam outorgada aos 26 de
agosto de 2016 pela apelante em favor de José Antônio dos Santos Filho (Id. 12375913), em relação
ao veículo Ford Ranger XLT 13P, placa NXH-8727, ocasião em que foi declarado como valor do bem
o montante de R$ 46.000,00 (quarenta e seis mil).
Foi juntado aos autos, ademais, o contrato (Id. 12376115, Id. 12376116 e Id. 12376117) que revela a
celebração de negócio jurídico de compra e venda entre a recorrente e recorrido em questão tendo por
objeto o aludido bem, cujo pagamento ficou convencionado nos seguintes termos:

“Cláusula Terceira: pelo pagamento da coisa paga-se a vendedora o preço na quantia de R$ 50.000,00
(Cinquenta mil reais) da seguinte:

1º: R$ 20.000,00 (Vinte mil reais) através da cártula de cheques nº 900352 a ag: 0002 da conta:
01241104-0 do banco 104 (Caixa Econômica Federal) emitida por Iza Teixeira CPF: (omissis) onde
esta foi resgatada na praça e entregue neste ato a sua emissora.

2º: R$ 26.000,00 (Vinte e seis mil reais) em dinheiro de contado entregue nas mãos da aqui
vendedora.

3º: R$ 4.000,00 (Quatro mil quinhentos e setenta reais) para pagamento da primeira transferência e
impostos junto ao Detran-GO”.

Com efeito, a recorrente declarou a ocorrência de quitação em relação ao resgate do cheque emitido
no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) (Id. 12376132), em cumprimento à cláusula terceira do
contrato de compra e venda aludido. O valor de R$ 26.000,00 (vinte e seis mil reais) corresponde à
metade do valor de avaliação do veículo que a própria recorrente alega ter recebido.

Diante desse contexto, à míngua de outros elementos probatórios, não pode ser afirmada a ocorrência
de retenção indevida, pelo recorrido José Antônio dos Santos Filho, dos valores relativos à venda do
aludido bem.

5) Negócio jurídico de compra e venda do Piano

A recorrente alega que, ao informar que iria vender seu piano, José Antônio dos Santos Filho se
apropriou do bem em questão ao argumento de que seria para o pagamento dos serviços prestados à
demandante.

Observa-se, no entanto, que foi coligido aos autos o recibo que atesta o recebimento pela apelante do
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) (Id. 12376083) correspondente à aquisição do bem pelo
mencionado recorrido. Além disso, não há nos autos outros elementos de prova que possam
evidenciar que a recorrente, a despeito de ter assinado o referido recibo, não tenha efetivamente
recebido o montante ali expresso.

Por essas razões não merecem ser igualmente acolhidas as alegações da recorrente em relação a esse
ponto.
II – Apelações interpostas por José Antônio dos Santos Filho, Emival Pessoa de Godoi,
Elizabeth Rosa de Souza Cupertino e Jose Francisco Cupertino

Os recursos merecem ser conhecidos, pois se encontram preenchidos seus pressupostos extrínsecos e
intrínsecos.

Alegam os recorrentes que o valor honorários de advogado estipulados na sentença são irrisórios e que
fixação desse valor deve observar os parâmetros especificados no art. 85, § 2º, do CPC.

No caso em análise o valor da causa corresponde a R$ 4.896.000,00 (quatro milhões oitocentos e


noventa e seis mil reais).

Sucede que o percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da causaresulta na quantia de R$
489.600,00 (quatrocentos e oitenta e nove mil e seiscentos reais), o que se mostra desproporcional e
exorbitante, se analisado com o contexto do labor desenvolvido pelos procuradores dos recorrentes.

Nesse ponto é preciso ressaltar que o sistema jurídico pátrio tem solução para a situação revelada nos
autos por meio da aplicação dos princípios expressamente previstos no art. 8º do CPC, notadamente
a respeito dos critérios da razoabilidade e da proporcionalidade.

Aliás, não é demais reiterar que para Robert Alexy, diferentemente do que ocorre com as regras
jurídicas, “os princípios costumam ser relativamente gerais, porque não estão referidos às
[8]
possibilidades do mundo real ou normativo.”

É importante ressaltar que para o referido doutrinador os princípios não podem ser aplicados
plenamente nas situações concretas da vida, mas são identificados como autênticos “mandados de
otimização”. Nesse sentido, os princípios são espécies do gênero “normas jurídicas”, mas sua
aplicação se dirige a resultados “otimizáveis”, ou seja, a “algo que seja realizado na maior medida
possível”. A esse respeito, assim ensina o Jurista:

“Princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das
possibilidades jurídicas e reais existentes. Portanto, os princípios são mandados de otimização, que
estão caracterizados pelo fato de que podem ser cumpridos em diferentes graus, e que a medida devida
de seu cumprimento não só depende das possibilidades reais, como também das jurídicas. De outro
lado, as regras são normas que só podem ser cumpridas ou não. Se uma regra é válida, então se deve
fazer exatamente o que ela exige, nem mais nem menos. Portanto, as regras contêm determinações no
[9]
âmbito do fático e juridicamente possível”.
Para o festejado professor alemão, portanto, os princípios “não contêm mandados definitivos, mas
[10]
somente prima facie” . Assim, muito embora um princípio possa ser aplicado a uma determinada
situação fática, essa peculiaridade não conduz à constatação no sentido de que esse resultado seja
definitivo. É conveniente perceber que diferentemente das regras, que contêm comandos expressos, a
[11]
vincular situações em um dado âmbito jurídico e fático , os princípios devem ser vistos como
[12]
autênticas razões prima facie .

Por essa razãoos princípios funcionam como autênticos comandos de otimização, ou seja, devem
atuar para que a aplicação de uma regra possa atingir o melhor resultado em um caso concreto.

Nesse ponto, deve-se ter em evidência o teor normativo do art. 8° do CPC, que assim dispõe:

“Ao aplicar o ordenamento jurídico, o Juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência”

O disposto no art. 8º, acima transcrito, estabelece objetivamente os elementos principiológicos da


proporcionalidade, razoabilidade, legalidade, publicidade e eficiência como “normas fundamentais do
processo civil”, situadas no capítulo I do Título Único do Livro I da Parte Geral do atual CPC.

Diante do rol dos referidos elementos normativos fundamentais da nova ordem processual brasileira,
inaugurada pela Lei n° 13105/2015, merece destacada análise, por seu aspecto problemático, o
princípio da proporcionalidade. Nesse caso, convém destacar a peculiaridade de que o aludido
princípio não mereceu tópico específico no Texto Constitucional, mas se encontra esparso na
[13]
Constituição Federal, como defende Paulo Bonavides . Sustenta o referido doutrinador a
compreensão pluriforme da proporcionalidade, segundo a qual a ratio essendi desse dado
principiológico está fundamentada essencialmente do declínio na ideia de “legalidade” e na
correspondente ascensão da própria constitucionalidade, elemento caro à própria subsistência da
unidade da Constituição. Nessa linha de entendimento, a proporcionalidade deve servir como
ferramenta de mediação ao intérprete para que adote, na forma da interpretação conforme, o resultado
[14]
que mais se compatibilize com o Texto Constitucional . Assim, a proporcionalidade, como
ferramenta do labor hermenêutico, promove a conciliação da atividade interpretativa de uma dada
regra com o contexto dos direitos fundamentais.

Ressalte-se ainda que a proporcionalidade pode funcionar também como um critério para o controle
[15]
pragmático dos resultados da interpretação de regras infraconstitucionais , a partir de seus três
[16]
elementos intrínsecos, quais sejam, a adequação, a necessidade e a proporcionalidade stricto sensu .

Observe-se, nesse contexto, que o mencionado princípio deve proporcionar a máxima segundo a qual
“uma medida estatal não é necessária se sua finalidade puder também ser alcançada por outro meio
igualmente eficaz, sem que isso importe em restrição a direitos fundamentais ou mesmo que sua
[17]
repercussão seja de menor intensidade” .

Enfim, merece a devida ponderação, diante da análise dos fins e dos meios alcançados pelo intérprete,
qual seria a equação custo-benefício mais razoável, justa e adequada. Busca-se, portanto, nas medidas
de concretização do resultado da pretensão ou do direito, uma relação aceitável entre o fim produzido
(justamente o resultado do exercício dessa pretensão e direito) e o meio necessário, que importará na
imposição de restrições à esfera jurídica de outrem. Por isso, para atingir o resultado legítimo,
propõe-se o seguinte problema: “as vantagens do fim são maiores do que as desvantagens do meio?”
Se a resposta for positiva, teremos então uma solução à controvérsia legitimamente mediada pela
[18]
proporcionalidade .

Convém registrar ainda, com a devida vênia, que ao julgar o REsp nº 1.746.072, com a determinação a
respeito da proeminência da “regra geral” do art. 85, § 2º, do CPC em detrimento de qualquer outro
critério normativo aplicável, como a equidade ou a proporcionalidade, o Colendo Superior Tribunal de
Justiça demonstrou que aparentemente ainda não refletiu mais amiúde a respeito da validade sistêmica
das normas fundamentais do processo civil, dentre as quais figura o princípio da proporcionalidade.

A propósito, observe-se a ementa do julgado supracitado:

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.


JUÍZODEEQUIDADENA FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE
SUCUMBÊNCIA. NOVASREGRAS: CPC/2015,ART. 85, §§ 2º E 8º. REGRA GERAL
OBRIGATÓRIA(ART. 85,§ 2º). REGRA SUBSIDIÁRIA (ART. 85, § 8º).
PRIMEIRORECURSOESPECIALPROVIDO. SEGUNDO RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO.

1. O novo Código de Processo Civil - CPC/2015 promoveu expressivas mudanças na disciplina da


fixação dos honorários advocatícios sucumbenciais na sentença de condenação do vencido.

2. Dentre as alterações, reduziu, visivelmente, a subjetividade do julgador, restringindo as hipóteses


nas quais cabe a fixação dos honorários de sucumbência por equidade, pois: a) enquanto, no
CPC/1973, a atribuição equitativa era possível: (a.I) nas causas de pequeno valor; (a.II) nas de valor
inestimável; (a.III) naquelas emque não houvesse condenação ou fosse vencida a Fazenda Pública; e
(a.IV) nas execuções, embargadas ou não (art. 20, § 4º); b) no CPC/2015 tais hipóteses são restritas às
causas: (b.I) em que o proveito econômico for inestimável ou irrisório ou, ainda, quando (b.II) o valor
da causa for muito baixo (art. 85, § 8º).

3. Com isso, oCPC/2015 tornou maisobjetivoo processo de determinação da verba sucumbencial,


introduzindo, na conjugação dos §§ 2º e 8º do art. 85, ordem decrescente de preferência de critérios
(ordem de vocação) para fixação da base de cálculo dos honorários, na qual a subsunção do caso
concreto a uma das hipóteses legais prévias impede o avanço para outra categoria.

4. Tem-se, então, a seguinte ordem de preferência: (I) primeiro, quando houver condenação, devem
ser fixados entre 10% e 20% sobre o montante desta(art. 85,§ 2º); (II) segundo, não havendo
condenação, serão também fixados entre 10% e 20%, das seguintes bases de cálculo: (II.a) sobre o
proveito econômico obtido pelo vencedor (art. 85,§ 2º); ou (II.b) não sendo possível mensurar o
proveito econômico obtido, sobre o valor atualizado da causa (art. 85, § 2º); por fim, (III) havendo ou
não condenação, nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou em que o
valor da causa for muito baixo, deverão, só então, ser fixados por apreciação equitativa (art. 85, § 8º).

5. A expressiva redação legal impõe concluir: (5.1) que o § 2º do referido art. 85 veicula a regra geral,
de aplicação obrigatória, de que os honorários advocatícios sucumbenciais devem ser fixados no
patamar de dez a vinte por cento, subsequentemente calculados sobre o valor: (I) da condenação; ou
(II) do proveito econômico obtido; ou (III) do valor atualizado da causa; (5.2) que o § 8º do art. 85
transmite regra excepcional, de aplicação subsidiária, em que se permite a fixação dos honorários
sucumbenciais por equidade, para as hipóteses em que, havendo ou não condenação: (I) o proveito
econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou (II) o valor da causa for muito baixo.

6. Primeiro recurso especial provido parafixaros honorários advocatíciossucumbenciaisem 10%


(dez por cento) sobre o proveito econômico obtido. Segundo recurso especial desprovido.”

(REsp nº 1746072-PR, 2018/0136220-0, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Segunda Seção, Data de
Julgamento: 13/2/19; Data de Publicação: 29/3/19)

Igualmente, parece não ter havido ainda o devido dimensionamento da validade desse princípio em
sua órbita constitucional. Não foram testados, ademais, diante do critério da proporcionalidade, os
possíveis resultados consequenciais da aplicação do art. 85 do CPC a partir do critério normativo
previsto no art. 20 da LINDB (incluído pela Lei nº 13655/2018).

A apreciação ora em curso na Colenda Corte Superior, por ocasião do julgamento do REsp nº
1.644.077-PR (Tema repetitivo nº 1046) não trará, com a devida vênia, maiores subsídios para o
tratamento da matéria, que tem nítida feição constitucional. Com efeito, muito embora seja evidente,
com a devida licença, a inaplicabilidade da regra prevista no art. 85, § 8 º, do CPC, isso não pode
significar que tenhamos que aplicar o § 2º do referido dispositivo legal sem a devida atenção aos
critérios delineados no art. 8º do Estatuto Processual Civil, não é demais insistir.

Feitas essas considerações, convém destacar que a fixação dos honorários de advogado deve observar
quatro requisitos elementares previstos nos incisos do art. 85, § 2°, do CPC, quais sejam: a) o grau de
zelo do profissional, b) o lugar da prestação do serviço, c) natureza e a importância da causa e d) o
trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

No caso em exame, verifica-se a inexistência de relevante complexidade nos fatos que dão suporte à
demanda, bem como da própria instrução processual. Além disso, o dispêndio de tempo de serviço
não se mostrou elevado.

Por essa razão, em situações como a presente, é necessário avaliar-se cuidadosamente a fixação dos
honorários de advogado, devendo ser aplicado, ademais, o critério da interpretação conforme a
[19]
Constituição, pois, nos termos da doutrina de Luiz Roberto Barroso :

“A interpretação conforme a Constituição compreende sutilezas que se escondem por trás da


designação truística do princípio107. Cuida-se, por certo, da escolha de uma linha de interpretação de
uma norma legal, em meio a outras que o Texto comportaria. Mas, se fosse somente isso, ela não se
distinguiria da mera presunção de constitucionalidade dos atos legislativos, que também impõe o
aproveitamento da norma sempre que possível. O conceito sugere mais: a necessidade de buscar uma
interpretação que não seja a que decorre da leitura mais óbvia do dispositivo.

É, ainda, da sua natureza excluir a interpretação ou as interpretações que contravenham a Constituição


. À vista das dimensões diversas que sua formulação comporta, é possível e conveniente decompor
didaticamente o processo de interpretação conforme a Constituição nos elementos seguintes:

1) Trata-se da escolha de uma interpretação da norma legal que a mantenha em harmonia com a
Constituição, em meio a outra ou outras possibilidades interpretativas que o preceito admita.

2) Tal interpretação busca encontrar um sentido possível para a norma, que não é o que mais
evidentemente resulta da leitura de seu texto.

3) Além da eleição de uma linha de interpretação, procede-se à exclusão expressa de outra ou outras
interpretações possíveis, que conduziriam a resultado contrastante com a Constituição.

4) Por via de consequência, a interpretação conforme a Constituição não é mero preceito


hermenêutico, mas, também, um mecanismo de

controle de constitucionalidade pelo qual se declara ilegítima uma determinada leitura da norma legal.

Na interpretação conforme a Constituição, o órgão jurisdicional declara qual das possíveis


interpretações de uma norma legal se revela compatível com a Lei Fundamental. Isso ocorrerá,
naturalmente, sempre que um determinado preceito infraconstitucional comportar diversas
possibilidades de interpretação, sendo qualquer delas incompatível com a Constituição. Note-se que o
texto legal permanece íntegro, mas sua aplicação fica restrita ao sentido declarado pelo tribunal.”
(Ressalvam-se os grifos)

Assim, diante da alta complexidade da causa, do médio tempo de duração do processo e do trabalho
desenvolvido pelos procuradores dos recorrentes, o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) se
revela mais razoável e proporcional, nos termos do art. 85, caput, em composição com o art. 8º,
ambos do CPC.

Feitas essas considerações, dou parcial provimento ao recurso interposto pela demandante para
determinar: a) a anulação dos negócios jurídicos celebrados entre Iza Teixeira e Douglas Cunha da
Silva referente às salas comerciais 505, 518 e 712 do empreendimento imobiliário denominado
“Centro Clínico Águas Claras”, situado na Rua 25 Norte de Águas Claras; e b) a anulação do negócio
jurídico celebrado entre Iza Teixeira e José Antônio dos Santos Filho referente ao imóvel situado no
SHIS QL 20, Conjunto 2, Casa 2, Lago Sul. As partes deverão ser restituídas ao estado anterior, sendo
que os valores ou bens efetivamente entregues em contrapartida em relação aos negócios jurídicos
aludidos deverão ser apurados em liquidação de sentença.

Quanto ao mais, dou parcial provimento aos recursos interpostos pelos réus para majorar o valor
referente aos honorários de advogado para R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) nos termos do
art. 85, §§ 1º e 11, em composição com o art. 8º, ambos do Código de Processo Civil.

Em virtude das sucumbência recíproca em instância recursal, a demandante arcará com 50%
(cinquenta por cento) dos valores referentes aos ônus da sucumbência, e as demais, partes, em frações
iguais, com o restante.

É como voto.

[1] MIRANDA. Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. Tomos I ao V.
Campinas: Bookseller, 2000.

[2] MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico. Plano da validade. São Paulo: Saraiva,
2013, p. 209.

MELLO, Marcos Bernardes de,Teoria do Fato Jurídico. Plano da Validade. São Paulo: Saraiva, 2012,
p.188-265.

[4] Miranda, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado. Tomo III. Campinas:
Bookseller, versão eletrônica, § 249, item 3.

[5] RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. 15 ed. Rio de Janeiro, Forense, 2015.

[6] MELLO, Marcos Bernardes de, Teoria do Fato Jurídico. Plano da Validade. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 191

[7] MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado de Direito Privado, Tomo III. Campinas:
Bookseller, versão eletrônica, § 442, item 3.

[8] ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionales, 1993, p. 103.

[9] ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionales, 1993, p. 86-87.

[10] ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionales, 1993, p. 99.

[11] ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionales, 1993, p. 99.

[12] ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madri: Centro de Estudios
Constitucionales, 1993, p. 101.

[13] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p.
434-436.

[14] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p.
425.

[15] BEATTY, David M. The Ultimate Rule of Law. Oxford: Oxford University Press, 2004. p. 172.

[16] FREITAS, Juarez. O intérprete e o poder de dar vida à Constituição. Revista da Faculdade de
Direito da UFPR, vol. 34, 2000, p. 59-76

[17] BOROWSKI, Martin. La Estructura de los Derechos Fundamentales. Trad. Varlos Bernal Pulido.
Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2003, p. 130.
[18] HAEBERLIN, Mártin. Revisitando a proporcionalidade: da análise dos seus possíveis usos à
crítica de seu abuso no Direito brasileiro. Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 45, n. 145, dezembro,
2018.

[19] BARROSO. Luis Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição – Fundamentos de uma


dogmática constitucional transformadora. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 193-195.

A Senhora Desembargadora MARIA DE LOURDES ABREU - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador ROBERTO FREITAS FILHO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER E DAR PARCIAL PROVIMENTO AOS RECURSOS, UNÂNIME

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