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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

17ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI


RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901 - E-mail: 17CC@tjpr.jus.br

Autos n. 0012397-36.2024.8.16.0000

Recurso: 0012397-36.2024.8.16.0000 AI
Classe Processual: Agravo de Instrumento
Assunto Principal: Usucapião Extraordinária
Agravante(s): MARILDA APARECIDA DA SILVA
Agravado(s): FIDELCINO RIBEIRO BRITO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO MONOCRÁTICA. SÚMULA N.


568 DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. PEDIDO SUBSIDIÁRIO DE RECOLHIMENTO DE
CUSTAS AO FINAL DA DEMANDA. INOVAÇÃO RECURSAL.
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. REVOGAÇÃO. DIREITO INDIVIDUAL, DE
CUNHO FUNDAMENTAL, ASSEGURADO NO INC. LXXIV DO ART. 5º
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. AUSÊNCIA DE
PRESSUPOSTOS QUE CARACTERIZAM A INCAPACIDADE
ECONÔMICO-FINANCEIRA DE ARCAR COM O PAGAMENTO DAS
CUSTAS JUDICIAIS. MANUTENÇÃO DA DECISÃO JUDICIAL.
1. Os arts. 336 e 342 da Lei n. 13.105/2015 (Código de Processo
Civil), especificamente, impedem a denominada inovação
recursal, garantindo, assim, a segurança jurídica entre aqueles
que se encontram sob a égide da relação jurídica processual
(legal), mediante a restrição de surpresas indevidas ao longo da
tramitação processual do feito.
2. O inc. LXXIV do art. 5º da Constituição de República de 1988
assegura, no rol dos direitos fundamentais, que o Estado tem o
dever legal de assegurar àqueles que comprovem a insuficiência
de recursos.
3. O egrégio Superior Tribunal de Justiça já entendeu que “tal
presunção é relativa (art. 99, § 3º, do CPC/2015), podendo a parte
contrária demonstrar a inexistência do alegado estado de
hipossuficiência ou o julgador indeferir o pedido se encontrar
elementos que coloquem em dúvida a condição financeira do
peticionário. Precedentes”. (STJ – 3ª Turma – AgInt. no AREsp. n.
1.311.620/RS – Rel.: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j.
10.12.2018 – DJe 14.12.2018).
4. No vertente caso legal (concreto), verifica-se que a Agravante
não trouxe documentação apta a ensejar a manutenção da
benesse da gratuidade da Justiça.
5. Recurso de agravo de instrumento parcialmente conhecido, e,
nessa extensão, não provido.

VISTOS, RELATADOS E EXAMINADOS.

1. RELATÓRIO

Da análise dos Autos, constata-se que Marilda Aparecida da Silva interpôs o


vertente recurso de agravo de instrumento em face da respeitável determinação
judicial (seq. 134.1) proferida em sede de ação declaratória de usucapião
extraordinária n. 0012043-54.2022.8.16.0170, na qual o douto Magistrado[1]
revogou o benefício da gratuidade da Justiça, nos seguintes termos:

Conforme informações apresentadas pelo Município de Ouro Verde do Oeste


do Paraná na seq. 129, a parte Autora é detentora de diversos imóveis. Sendo
possível aferir rendimentos destes imóveis.

No cenário posto, constata-se que a parte Autora é dotada de patrimônio, o


que afasta a presunção de hipossuficiência e que a situação de insuficiência
de recursos deixou de existir.

[...]

Assim, revogo o benefício da justiça gratuita outrora concedido à parte Autora.

Em suas razões recursais, a Agravante sustentou ser hipossuficiente e, assim,


declarou não possuir capacidade econômico-financeira para arcar com o
pagamento das custas e demais despesas processuais.

Em sede de antecipação dos efeitos da tutela recursal, a Agravante requereu


o imediato restabelecimento do benefício da gratuidade da Justiça, assim como a
suspensão dos efeitos da decisão judicial, aqui, vergastada.
A Agravante requereu, subsidiariamente, que as custas sejam recolhidas ao
final de demanda.

A pretensão liminarmente deduzida restou parcialmente deferida por este


Relator (seq. 16.1/AI).

O Agravado não ofereceu contrarrazões (seqs. 23.1 e 23.2/AI).

Em síntese, é o relatório.

2. FUNDAMENTOS

2.1 INOVAÇÃO RECURSAL

De acordo com a atual processualística civil, observa-se que o Relator poderá


não conhecer o recurso considerado como inadmissível, prejudicado ou que não
tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão judicial recorrida,
conforme o disposto no inc. III do art. 932 da Lei n. 13.105/2015 (Código de
Processo Civil).

Nesse sentido, mostra-se inadmissível toda espécie recursal que,


visivelmente, não apresentar um ou mais de seus pressupostos lógicos necessários,
quais sejam, intrínsecos (cabimento, legitimidade recursal, interesse, inexistência
de ato impeditivo ou extintivo do ato de recorrer) ou extrínsecos (tempestividade,
preparo e regularidade formal); sendo certo que, ausente qualquer um destes
pressupostos o Relator não conhecerá o recurso, inadmitindo-o de plano.

Os arts. 336 e 342 da Lei n. 13.105/2015 (Código de Processo Civil),


especificamente, impedem a denominada inovação recursal, garantindo, assim, a
segurança jurídica entre aqueles que se encontram sob a égide da relação jurídica
processual (legal), mediante a restrição de surpresas indevidas ao longo da
tramitação processual do feito.

No vertente caso legal (concreto), verifica-se que o pedido subsidiário de


recolhimento de custas ao final da demanda não fora apreciado pelo douto
Magistrado, razão pela qual, não se afigura legitimamente plausível a devolução de
matéria, que não tenha sido regular a validamente submetida e apreciada pelo
Órgão Julgador competente, sob pena mesmo da ocorrência de supressão de
instância (jurisdicional).
Não é cabível, portanto, a análise com relação a esta fundamentação, uma
vez que não houve ainda decisão acerca desta questão pelo Juízo singular, sob
pena de supressão de instância (jurisdicional).

Acerca da temática, esse egrégio Tribunal de Justiça tem entendido que:

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA – TAXAS


CONDOMINIAIS – INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA
FORMULADO POR PESSOA JURÍDICA – DECISÃO MANTIDA – AUSÊNCIA DE
PROVA CONCRETA DA IMPOSSIBILIDADE DE ARCAR COM OS ENCARGOS
PROCESSUAIS – PEDIDO SUCESSIVO DE RECOLHIMENTO DAS CUSTAS AO
FINAL DO PROCESSO – INOVAÇÃO RECURSAL – NÃO CONHECIMENTO.
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO, E NA EXTENSÃO, DESPROVIDO. (TJPR
– 10ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0017454-40.2021.8.16.0000 – Londrina – Rel.:
Des. Luiz Lopes – Unân. – j. 19.07.2021)

Portanto, ante à evidente inovação recursal, verifica-se a falta do requisito de


admissibilidade concernente à regularidade formal prevista no inc. III (fundamentos
de fato e de Direito) do art. 932 da Lei n. 13.105/2015 (Código de Processo Civil),
razão pela qual não se conhece, neste aspecto, o vertente recurso de agravo de
instrumento.

2.2 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS

No que concerne às demais pretensões, entende-se que o interposto recurso


de agravo de instrumento preenche os pressupostos intrínsecos (cabimento,
legitimidade, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos
(tempestividade, regularidade formal e preparo) de admissibilidade.

Portanto, ante a inexistência de vícios de ordem pública a serem


reconhecidos e/ou declarados, senão, que, tendo sido observados os requisitos
objetivos e subjetivos para a admissibilidade recursal, entende-se que o presente
recurso de agravo de instrumento deve ser parcialmente conhecido.

A questão, aqui, vertida se enquadra na hipótese descrita na Súmula n. 568


do egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
Súmula n. 568. O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça,
poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento
dominante acerca do tema.

Contudo, entende-se que igual sorte não lhe assiste, no mérito, motivo pelo
qual, deixa-se de conceder tutela jurisdicional à pretensão recursal deduzida,
consoante a seguir restará fundamentadamente demonstrado.

2.3 GRATUIDADE DA JUSTIÇA

É certo que a concessão da assistência judiciária gratuita depende da


comprovação da incapacidade econômico-financeira do beneficiário para, sem
sacrifício do atendimento adequado de suas necessidades vitais básicas, poder
realizar o pagamento das custas e despesas processuais.

O inc. LXXIV do art. 5º da Constituição da República de 1988, assegura, no rol


dos direitos fundamentais, que o Estado tem o dever legal de assegurar àqueles
que comprovem a insuficiência de recursos, a prestação de assistência judiciária
gratuita.

A concessão da gratuidade da Justiça deverá ser analisada de acordo com o


caso concreto, e, tendo-se em conta os elementos probatórios trazidos para
apreciação do Órgão Julgador.

Acerca da temática, essa colenda 17ª (Décima Sétima) Câmara Cível do


egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná tem entendido que:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. SENTENÇA EXTINTIVA. AÇÃO EXTINTA


POR INÉPCIA DA INICIAL. APELO DA PARTE AUTORA. PEDIDO DE JUSTIÇA
GRATUITA. ÓBITO DA PARTE. HABILITAÇÃO. NOVO PEDIDO DE JUSTIÇA
GRATUITA. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. ART. 99, § 3º, DO CPC.
DEVER DE COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS NOS AUTOS
SUFICIENTES A COMPROVAR A ALEGAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA.
INDEFERIMENTO MANTIDO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO DE FORMA
MONOCRÁTICA (ART. 932, IV, “A”, CPC). (TJPR – 17ª Câm. Cível – Apel. Cível n.
0000852-51.2021.8.16.0136 – Pitanga – Rel.: Des. Tito Campos de Paula – j.
06.05.2022)
Ademais, já se entendeu no âmbito do egrégio Superior Tribunal de Justiça
que:

De início, é consabido que o benefício da assistência judiciária gratuita pode


ser pleiteado a qualquer tempo, bastando a simples afirmação de que a parte
não está em condições de pagar as custas processuais e os honorários de
advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. No entanto, cuidando-se de
afirmação que possui presunção relativa, pode o magistrado indeferir a
gratuidade se encontrar, na análise do suporte fático trazido aos autos,
fundamentos que contrariem o estado de hipossuficiência afirmado pelo
requerente. (STJ – 3ª Turma – AResp. n. 626.487/MG – Rel.: Min. Ricardo Villas
Boâs Cueva – Decisão Monocrática – Dje 04/02/2015)

Não se pode olvidar do que agora dispõe o § 2º do art. 99 da Lei n. 13.105


/2015 (Código de Processo Civil), ou seja “o juiz somente poderá indeferir o pedido
se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar
à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos”.

O egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná tem reiteradamente


entendido que a gratuidade da Justiça deva ser concedida àqueles que possuam
rendimentos inferiores a 3 (três) salários mínimos.

Senão, veja-se:

DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MATERIAIS E MORAIS C/C TUTELA ANTECIPADA. DECISÃO QUE
INDEFERIU BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA EM PRIMEIRO GRAU. ELEMENTOS
QUE DEMONSTRAM A HIPOSSUFICIÊNCIA ALEGADA. RENDIMENTOS MENSAIS
INFERIORES A TRÊS SALÁRIOS MÍNIMOS. BENEFICIO QUE MERECE SER
CONCEDIDO. ART. 932, V, DO CPC. SÚMULA 568 STJ. RECURSO PROVIDO.
DECISÃO MONOCRÁTICA. (TJPR – 17ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0030529-
83.2020.8.16.0000 – Cascavel – Rel.: Desa. Subs. Sandra Bauermann –
Decisão Monocrática – j. 06.06.2020)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CONSTITUTIVA-NEGATIVA C/C AÇÃO


CONDENATÓRIA. DECISÃO QUE INDEFERIU O PLEITO DA JUSTIÇA GRATUITA.
INSURGÊNCIA. ÚLTIMAS DECLARAÇÕES DO IMPOSTO DE RENDA QUE
COMPROVAM O ESTADO DE MISERABILIDADE DO AUTOR, TENDO EM VISTA
QUE A QUANTIA MENSAL RECEBIDA CORRESPONDE A MENOS DE 3 SALÁRIOS
MÍNIMOS. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA E PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO
98 C/C 99, §3º, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. RECURSO
CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR – 7ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0013298-
77.2019.8.16.0000 – Sarandi – Rel.: Desa. Ana Lúcia Lourenço – Unân. – j.
04.06.2019)

APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE DIVÓRCIO QUE DEFERIU


PARCIALMENTE O PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. RENDA DOS
APELANTES INFERIOR A 3 (TRÊS) SALÁRIOS MÍNIMOS. PARÂMETRO ADOTADO
POR ESTA CORTE DE JUSTIÇA PARA O DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO PARTICULAR QUE NÃO AFASTA A CONDIÇÃO
DE NECESSIDADE DA JUSTIÇA GRATUITA – DEFERIMENTO DO BENEFICIO DE
FORMA INTEGRAL – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TJPR – 12ª Câm. Cível
– Apel. Cível. n. 0022210–89.2017.8.16.0014 – Rel.: Des. Francisco Cardozo
Oliveira – j. 08.11.2017)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA.


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. INDEFERIMENTO NA ORIGEM. EXAME DO
CASO CONCRETO. ELEMENTOS SUFICIENTES AO INDEFERIMENTO DO
BENEFÍCIO. RENDA MENSAL QUE PERMITE PROVER A DEMANDA E
ULTRAPASSA O LIMITE DE ISENÇÃO PARA IMPOSTO DE RENDA DA RECEITA
FEDERAL. ARTIGO 5º, XXXV DA CF. ACESSO À JUSTIÇA PELOS POSTULANTES
VINCULADOS ÁS PROVAS DE SEUS SUSTENTOS E DA SUA FAMÍLIA. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DE NECESSIDADE COM JUNTADA DE DEMONSTRATIVO DE
DESPESAS FAMILIARES DE SUBSISTÊNCIA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO
MESMO EM CRISE DO COVID-19. EXEGESE DA EXIGÊNCIA EXPRESSA DO
ARTIGO 5º, LXXIV DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PADRÃO SOCIAL
INCOMPATÍVEL COM O ENDEREÇAMENTO DA BENESSE. REJEIÇÃO MANTIDA.
DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR - RECURSO DESPROVIDO. (TJPR – 17ª
Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0051208-41.2019.8.16.0000 – Londrina – Rel.: Des.
Fabian Schweitzer – Decisão Monocrática – j. 17.04.2020)

DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. USUCAPIÃO


EXTRAORDINÁRIA. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
GRATUITA. DIREITO FUNDAMENTAL PREVISTO NO ART. 5º, LXXIV, DA CF E NO
ART. 98 DO CPC/2015. PARTE POSTULANTE QUE COMPROVOU, POR
DOCUMENTAÇÃO IDÔNEA, NÃO DISPOR DE RECURSOS LÍQUIDOS, BEM COMO
QUE SUA RENDA É COMPATÍVEL COM A CONCESSÃO PRETENDIDA. ART. 932,
V, ALÍNEA C, DO CPC. RECURSO PROVIDO. (TJPR – 18ª Câm. Cível – Ag. Inst. n.
0010114-79.2020.8.16.0000 – Campo Mourão – Rel.: Des. Espedito Reis do
Amaral – Decisão Monocrática – j. 23.07.2020)
Em suas razões recursais, a Agravante sustentou que o benefício da
gratuidade da Justiça anteriormente concedido (seq. 30.2) deve ser restabelecido,
sob o argumento de que não possui capacidade econômico-financeira para suportar
o pagamento das custas e despesas processuais.

A Agravante discorreu que ela e seu cônjuge, o Sr. Claudenir de Souza,


recebem, respectivamente, benefício previdenciário no valor de R$ 1.320,00 (mil
trezentos e vinte reais) e R$ 2.070,16 (dois mil e setenta reais e dezesseis
centavos), ou seja, montante inferior a 3 (três) salários mínimos.

Todavia, verifica-se que a Agravante, e o seu cônjuge, são proprietários de


vários bens imóveis localizados na cidade de Ouro Verde do Oeste/PR, consoante
documentos acostados pela Procuradora do Município (seq. 129.1 a 129.7), in verbis
:

Assim, filia-se ao que restou consignado pela douta Magistrada (seq. 134.1),
no sentido de que “conforme informações apresentadas pelo Município de Ouro
Verde do Oeste do Paraná na seq. 129, a parte autora é detentora de diversos
imóveis. Sendo possível aferir rendimentos destes imóveis. No cenário posto,
constata-se que a parte autora é dotada de patrimônio, o que afasta a presunção
de hipossuficiência e que a situação de insuficiência de recursos deixou de existir”.

Em casos análogos, esse egrégio Tribunal de Justiça tem entendido que:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA.


DECISÃO QUE DEFERIU O PARCELAMENTO DAS CUSTAS INICIAIS EM ATÉ 10
VEZES E INDEFERIU A JUSTIÇA GRATUITA. INDÍCIOS DE CONDIÇÃO
FINANCEIRA. MOVIMENTAÇÕES BANCÁRIAS DE VALORES EXPRESSIVOS.
AGRAVANTE QUE É POSSUÍDOR DE VÁRIOS AUTOMÓVEIS E BENS
IMÓVEIS. EXAME QUE DEVE SE PAUTAR NO ARCABOUÇO PROBATÓRIO
COMO UM TODO. RECORRENTE QUE DISPÕE DA POSSIBILIDADE DE
ARCAR COM AS DESPESAS PROCESSUAIS. DECISÃO DE INDEFERIMENTO
DA GRATUIDADE MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. No caso,
há indícios de condição econômica suficiente por parte do agravante para
arcar com as custas processuais. Documentos acostados sugerem a ausência
de preenchimento dos pressupostos necessários à concessão, e não
expressam que seus rendimentos sejam insuficientes para suportar as
despesas processuais sem que isso implique prejuízo ao seu sustento.
Recurso não provido. (TJPR – 18ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0031588-
04.2023.8.16.0000 – Assis Chateaubriand – Rel.: Des. Pericles Bellusci de
Batista Pereira – Unân. – j. 14.08.2023) [grifou-se]

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. OPOSIÇÃO DE EMBARGOS À


EXECUÇÃO EM AÇÃO DE COBRANÇA EM FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO,
POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA AO
EMBARGANTE. IRRESIGNAÇÃO DO EMBARGADO APENAS QUANTO AO
BENEFÍCIO DA GRATUIDADE CONCEDIDO. NÃO DEMONSTRADA A
HIPOSSUFICIÊNCIA E A NECESSIDADE DA JUSTIÇA GRATUITA.
PROPRIETÁRIO E HERDEIRO DE VÁRIOS IMÓVEIS. BENEFÍCIO
REVOGADO. SENTENÇA REFORMADA NESTE PONTO. NÃO APLICAÇÃO DE
MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR
– 17ª Câm. Cível – Apel. n. 0054513-20.2021.8.16.0014 – Londrina – Rel.: Des.
Rogerio Ribas – Unân. – j. 19.09.2022) [grifou-se]

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE JUSTIÇA


GRATUITA. DECLARAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA. PRESUNÇÃO RELATIVA (IURIS
TANTUM ). INTIMAÇÃO DA AGRAVANTE PARA APRESENTAR
DOCUMENTOS COMPROBATÓRIOS DA SUPOSTA INSUFICIÊNCIA
ECONÔMICA. EXISTÊNCIA DE VÁRIOS VEÍCULOS E IMÓVEIS DE
PROPRIEDADE DO AGRAVANTE. HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA NÃO
COMPROVADA. GRATUIDADE NÃO CONCEDIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR – 14ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0057970-
73.2019.8.16.0000 – Ribeirão Claro – Desa. Subs. Fabiane Pieruccini – Unân. –
j. 01.06.2020) [grifou-se]

Ademais, verifica-se que a Agravante não trouxe nenhum documento apto a


ensejar a manutenção da benesse da gratuidade da Justiça.

Portanto, diante de tais considerações, entende-se que a revogação do


referido benefício deve ser mantida.

A respeito da vexata quaestio, este Relator tem reiteradamente entendido


que:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO MONOCRÁTICA. SÚMULA N. 568 DO


EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
DECISÃO QUE REVOGOU A GRATUIDADE DA JUSTIÇA. DIREITO INDIVIDUAL, DE
CUNHO FUNDAMENTAL, ASSEGURADO NO INC. LXXIV DO ART. 5º DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS QUE
CARACTERIZAM A INCAPACIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE ARCAR COM O
PAGAMENTO DAS CUSTAS JUDICIAIS. POSSIBILIDADE FINANCEIRA DE ARCAR
COM O PAGAMENTO DAS CUSTAS JUDICIAIS. MANUTENÇÃO DA DECISÃO
JUDICIAL OBJURGADA.

1. O inc. LXXIV do art. 5º da Constituição de República de 1988 assegura, no


rol dos direitos fundamentais, que o Estado tem o dever legal de assegurar
àqueles que comprovem a insuficiência de recursos.

2. O egrégio Superior Tribunal de Justiça já entendeu que “tal presunção é


relativa (art. 99, § 3º, do CPC/2015), podendo a parte contrária demonstrar a
inexistência do alegado estado de hipossuficiência ou o julgador indeferir o
pedido se encontrar elementos que coloquem em dúvida a condição
financeira do peticionário. Precedentes”. (STJ – 3ª Turma – AgInt. no AREsp. n.
1.311.620/RS – Rel.: Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j.10.12.2018 – DJe
14.12.2018).

3. “O pedido de assistência judiciária gratuita pode ser indeferido quando o


magistrado tiver fundadas razões para crer que o requerente não se encontra
no estado de miserabilidade declarado” (STJ – 3ª Turma – AgInt no REsp. n.
1.884.300/SE – Rel.: Min. Nancy Andrighi – j. 23.11.2020 – DJe 27.11.2020).

4. Recurso de agravo de instrumento, e, no mérito, não provido.

(TJPR – 17ª Câm. Cível – Ag. Inst. n. 0045581-51.2022.8.16.0000 – Cornélio


Procópio – Rel.: Des. Mário Luiz Ramidoff – Decisão Monocrática – j.
31.10.2022)

O objetivo da legislação de regência é o de possibilitar àqueles que, de fato,


não possuam capacidade econômico-financeira de arcar com as custas judiciais
sem prejuízo de seu próprio sustento.

[2]
Senão, é o que bem pontua Rogério Vidal Cunha , em sua comemorada
obra Manual da Justiça Gratuita, acerca da natureza jurídica da assistência
judiciária gratuita, in verbis:

Portanto, o requisito não é a situação de pobreza, de miserabilidade, mas a


grandeza das despesas processuais frente à situação econômica do
postulante do benefício, é a sua situação de hipossuficiência econômica, que
é a falta de recursos suficientes para o custeio das despesas do processo.
Na verdade, a legislação da assistência judiciária visa possibilitar aos
econômico-financeiramente hipossuficientes o acesso à Justiça para que não
fiquem à margem social e não sejam vítimas de qualquer forma de discriminação.

Deste modo, não se pode admitir que se desvirtue a essência deste instituto
jurídico-legal concedendo o benefício da gratuidade da Justiça àqueles que
possuem capacidade econômico-financeira.

Até porque, do conjunto dos elementos de cognição consolidado nos Autos


não se extrai prova suficiente, em Direito, que demonstre a incapacidade
econômico-financeira da Agravante para arcar com as custas e despesas
processuais, motivo pelo qual, não lhe reconhece o benefício da gratuidade da
Justiça.

3. DISPOSITIVO

Bem por isso, julga-se monocraticamente o vertente recurso de agravo de


instrumento, com base na Súmula n. 568 do egrégio Superior Tribunal de Justiça, e,
assim, impõe-se conhecê-lo em parte, e, nesta extensão, negar-lhe provimento,
manutenindo-se a decisão judicial, aqui, vergastada, por seus próprios e bem
lançados fundamentos de fato e de Direito.

Por conseguinte, determina-se a publicação e o registro desta decisão


judicial, mediante a regular e válida intimação das Partes.

--

[1] Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito Marcelo Marcos Cardoso.

[2] CUNHA, Rogério de Vidal. Manual da justiça gratuita: de acordo com o novo
Código de Processo Civil. Curitiba: Juruá, 2016, p. 45.

Curitiba(PR), 27 de março de 2024.

Desembargador Mário Luiz Ramidoff

Relator

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