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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000750254

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2106124-80.2017.8.26.0000, da Comarca de Mogi-Guaçu, em que são agravantes
CONCEIÇÃO TASSI DA SILVA, JOSÉ GERALDO CASSEMIRO DA SILVA, LUIS
ANTONIO CASSEMIRO DA SILVA e KEILA SILVEIRA MELO CASSEMIRO, é
agravado MARCOS LUIS FERREIRA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 2ª Câmara de Direito Privado do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Não conheceram do recurso
oposto por keila Silveira Melo Cassemiro e deram provimento ao agravo de
instrumento para conceder aos demais a gratuidade da justiça. V.U., de conformidade
com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOSÉ JOAQUIM DOS


SANTOS (Presidente sem voto), ROSANGELA TELLES E JOSÉ CARLOS FERREIRA
ALVES.

São Paulo, 2 de outubro de 2017.

Alcides Leopoldo e Silva Júnior


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

AGRAVO DE INSTRUMENTO
Processo n.: 2106124-80.2017.8.26.0000
Nº de 1ª Instância: 1002031-98.2016.8.26.0362
Comarca: Mogi Guaçu (1ª Vara Cível)
Agravantes: Conceição Tassi da Silva e outros
Agravado: Marcos Luis Ferreira
Juiz: Roginer Garcia Carniel
Voto n. 10.766

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - Gratuidade da


Justiça - Requisitos - Na moderna intelecção do direito de acesso
à justiça, não há necessidade da prova do estado de miserabilidade
para a concessão da gratuidade da justiça, mas tão-somente a
insuficiência de recursos disponíveis, como deflui do art. 98 do
novo CPC – Possibilidade de revogação a qualquer tempo havendo
a disponibilidade de recursos em espécie – Falta de interesse
recursal da esposa do corréu que não integra a lide principal –
Exclusão - Recurso provido.

Trata-se de agravo de instrumento, com pedido de


liminar, nos autos da ação de adjudicação compulsória, das decisões de fls.
594 e 619 (embargos de declaração) dos autos principais, diante do
indeferimento da gratuidade da justiça, sob o fundamento de que, apesar das
declarações e comprovantes juntados, os demais documentos destes autos e
situações verificadas em outros processos que tramitam no Juízo, demonstram
situação financeira incompatível com a alegada situação de miserabilidade,
condição daqueles que percebem mensalmente menos que três salários
mínimos.

Sustentam os recorrentes que não possuem rendimentos


suficientes para arcar com as despesas processuais sem prejuízo do sustento

Agravo de Instrumento nº 2106124-80.2017.8.26.0000 -Voto nº 10.766 2


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próprio e de sua família, pois foram vítimas do crime de usura, cabendo à


parte contrária provar que não preenchem os requisitos da lei para obtenção
do benefício, estando a decisão em franco confronto com o que determina o
Art. 5°, inciso LXXIV, da Constituição Federal c.c o art. 4°, caput, da lei
1.060/50, bem como, com o artigo 98 e seguintes do CPC.

Pleiteiam a concessão do efeito suspensivo e a reforma


para que lhes sejam concedidos os benefícios da assistência judiciária
gratuita, ou, em caso de entendimento contrário, seja ao menos concedida à
Conceição Tassi da Silva, Luiz Antonio Cassemiro da Silva e Keila Silveira
Melo Cassemiro, por não possuirem rendimentos fixos, ou ainda,
alternativamente, o recolhimento das custas ao final.

Indeferido o efeito ativo (fls. 31/33), foram apresentadas


contrarrazões sustentando-se a ilegitimidade da recorrente Keila Silveira
Melo Cassemiro e, no mérito, a manutenção da decisão (fls. 36/42).

É o Relatório.

Como bem observou o agravado, a recorrente Keila


Silveiro de Melo Cassemiro não integra o polo passivo da demanda, razão
pela qual carece de legitimidade para interpor o presente agravo de
instrumento.

A Constituição Federal determina que o Estado prestará


assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos (art. 5º, inciso LXXIV).

O Supremo Tribunal Federal ao apreciar a


constitucionalidade do revogado art. 4º, § 1º, da Lei nº 1.060/50, decidiu que:
"a atual Constituição, em seu artigo 5º, LXXIV, inclui, entre os direitos e

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garantias fundamentais, o da assistência jurídica integral e gratuita pelo


Estado aos que comprovarem a insuficiência de recursos. - Portanto, em face
desse texto, não pode o Estado eximir-se desse dever desde que o interessado
comprove a insuficiência de recursos, mas isso não impede que ele, por lei, e
visando a facilitar o amplo acesso ao Poder Judiciário que é também direito
fundamental (art. 5º, XXXV, da Carta Magna), conceda assistência judiciária
gratuita - que, aliás, é menos ampla do que a assistência jurídica integral -
mediante a presunção "iuris tantum" de pobreza decorrente da afirmação da
parte de que não está em condições de pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família" (RE
204305, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em
05/05/1998, DJ 19-06-1998 PP-00020 EMENT VOL-01915-02 PP-00341).

No vigente CPC/2015 assiste à pessoa natural ou jurídica,


brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas,
as despesas processuais e os honorários advocatícios, direito à gratuidade da
justiça, em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou na redução
percentual de despesas processuais (art. 98), presumindo-se verdadeira a
alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural (art.
99, § 3º), podendo o juiz indeferir o pedido somente se houver nos autos
elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais, devendo antes,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos pressupostos legais
(art. 99, § 2º).

Respeitada a convicção do I. Magistrado, à causa foi


atribuído o valor de R$ 3.100.000,00, e ainda que não se possa imputar aos
agravantes situação de miserabilidade, da documentação anexada, não se
evidencia a suficiência de recursos para arcarem com as custas e honorários

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advocatícios, comprovando Luiz Antonio que possui dívidas e está


negativado (fls. 417/431), José Geraldo é Promotor de Justiça, mas conforme
o holerite de fls. 413, tem depósito consignado e dívidas bancárias, possui
filha que cursa Medicina na PUC - Campinas com mensalidade de R$
6.198,00 (fls. 395) e aluguel de R$ 2.200,00 (fls. 399), além do mais,
informou em sua Declaração de Imposto de Renda (fls. 401/410) dívidas e
ônus reais na ordem de R$ 1.036.073,56 (fls.408). Quanto à Conceição Tassi
da Silva, ainda que conste possuir crédito em relação a terceiro, este remonta
ao ano de 2014, sem que possa ser disponibilizado, inexistindo declaração de
rendimentos.

Uma vez confirmado o recebimento de aluguéis ou


concretizada venda imobiliária, com a disponibilidade de recursos em
espécie, o benefício poderá ser revogado a qualquer tempo.

Na moderna intelecção do direito de acesso à justiça, não


há necessidade da prova do estado de miserabilidade para a concessão da
gratuidade da justiça, mas tão-somente a insuficiência de recursos
disponíveis, como deflui do art. 98 do novo CPC.

Pelo exposto, NÃO SE CONHECE do recurso oposto


por Keila Silveira Melo Cassemiro e DÁ-SE PROVIMENTO ao agravo de
instrumento para conceder-se aos demais a gratuidade da justiça.

Alcides Leopoldo e Silva Júnior


Relator
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