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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.16.040083-4/001 Númeração 0400834-


Relator: Des.(a) José de Carvalho Barbosa
Relator do Acordão: Des.(a) José de Carvalho Barbosa
Data do Julgamento: 03/11/2016
Data da Publicação: 03/11/2016

EMENTA: EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - GRATUIDADE DA


JUSTIÇA - REQUISITOS PREENCHIDOS - ART. 99, § 3º, do NCPC -
PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DA DECLARAÇÃO DE POBREZA -
AUSÊNCIA DE PROVAS EM CONTRÁRIO - CONCESSÃO DO BENEFÍCIO
PRETENDIDO - RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. Não sendo
demonstrada, de forma inequívoca, a capacidade financeira do agravante
para custear o processo, sem prejuízo de sua subsistência e de sua família,
inexistindo nos autos elementos de prova suficientes para afastar a
presunção de veracidade de declaração de pobreza apresentada, deve ser
deferido o benefício da gratuidade da justiça, nos termos do art. 99, § 3º, do
NCPC. A contratação de Advogado particular não é óbice ao deferimento do
benefício pleiteado, nos termos do art. 99, § 4º, do NCPC.

AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.16.040083-4/001 - COMARCA


DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S): CARLOS ANTONIO DE SOUSA -
AGRAVADO(A)(S): BV LEASING - ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA

RELATOR.

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DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto eletronicamente por


CARLOS ANTONIO DE SOUSA contra decisão proferida pelo MM. Juiz de
Direito da 4ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, nos autos da "Ação
Ordinária de Revisão Contratual" movida em face de BV LEASING -
ARRENDAMENTO MERCANTIL S.A., que indeferiu seu pedido de justiça
gratuita e determinou o recolhimento das custas no prazo de 10 dias, sob
pena de cancelamento da distribuição do feito.

Em suas razões recursais acostadas ao documento nº 01 deste recurso


eletrônico, alega o agravante que requereu os benefícios da gratuidade
judiciária, juntando aos autos declaração de carência e comprovando sua
condição de hipossuficiência financeira.

Afirma não ter condições de arcar com as custas processuais,


argumentando que está desempregado, sobrevivendo com a ajuda de
familiares.

Assevera que o simples fato de ser a parte patrocinada por advogado


particular não impede a concessão dos benefícios da assistência judiciária.

Acrescenta que, para a concessão do benefício da justiça gratuita, basta


a afirmação da parte interessada de que não possui condições de arcar com
as custas e despesas processuais, sem prejuízo próprio ou de sua família,
cabendo à parte contrária "comprovar que a informação é inverídica".

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Pede concessão de efeito suspensivo ao agravo e, ao final, o seu


provimento, para que lhe seja deferida a justiça gratuita.

Decisão agravada anexada por cópia ao documento nº 02 deste recurso


eletrônico.

Sem preparo, por ser a concessão da assistência judiciária objeto do


presente recurso.

Pela decisão acostada ao documento nº 25, foi atribuído efeito


suspensivo ao agravo de instrumento.

Sem informações do magistrado a quo.

Contraminuta anexada ao documento nº 28 deste recurso eletrônico.

É o relatório.

Conheço do recurso.

Cinge-se a controvérsia posta em aferir se a parte agravante tem ou não


direito ao benefício da gratuidade da justiça.

Observa-se que, no presente caso, o magistrado a quo indeferiu a


gratuidade da justiça, nos seguintes termos:

INDEFIRO o pedido de justiça gratuita requerido, pois a contratação de


advogado particular - com os custos que tal opção representa - já demonstra
capacidade financeira do autor para arcar com as custas processuais, já que
a parte poderia ter se valido dos serviços defensoria pública, se carente de
recursos.

Induvidoso, conforme jurisprudência já pacificada por este Tribunal, que


pode o magistrado determinar produção de provas quanto à alegada
condição de miserabilidade, quando verificar indícios de que a parte possui
condição financeira suficiente para

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custear o processo.

No entanto, essa faculdade do julgador, por si só, não ocasiona o


afastamento da presunção de veracidade da declaração de pobreza. Tal
presunção somente pode ser elidida mediante prova em contrário, o que não
existe nos autos.

De salientar, também, que os Tribunais Superiores já se manifestaram


no sentido de não haver incompatibilidade entre o art. 5º, inciso LXXIV, da
Constituição Federal e o artigo 4º da Lei 1.060/50, persistindo, a princípio, a
exigência de mera declaração da insuficiência para o deferimento da
assistência judiciária gratuita.

Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA. PESSOA NATURAL. DECLARAÇÃO DE MISERABILIDADE.
PRESUNÇÃO JURIS TANTUM OPERANDO EM FAVOR DO REQUERENTE
DO BENEFÍCIO. RECURSO PROVIDO. 1. O art. 4º, § 1º, da Lei 1.060/50
traz a presunção juris tantum de que a pessoa natural que pleiteia o benefício
de assistência judiciária gratuita não possui condições de arcar com as
despesas do processo sem comprometer seu próprio sustento ou de sua
família. Por isso, a princípio, basta o simples requerimento, sem qualquer
comprovação prévia, para que lhe seja concedida a assistência judiciária
gratuita. Embora seja tal presunção relativa, somente pode ser afastada
quando a parte contrária demonstrar a inexistência do estado de
miserabilidade ou o magistrado encontrar elementos que infirmem a
hipossuficiência do requerente. 2. Na hipótese, as instâncias ordinárias,
ignorando a boa lógica jurídica e contrariando a norma do art. 4º, § 1º, da Lei
1.060/50, inverteram a presunção legal e, sem fundadas razões ou
elementos concretos de convicção, exigiram a cabal comprovação de fato
negativo, ou seja, de não ter o requerente condições de arcar com as
despesas do processo. 3. Recurso especial provido, para se conceder à
recorrente o benefício da assistência judiciária gratuita.

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(STJ - REsp 1178595 / RS - Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, DJ


04/11/2010).

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. JUSTIÇA GRATUITA.
DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO LEGAL QUE FAVORECE AO
REQUERENTE. LEI 1.060/50. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. "O pedido de
assistência judiciária gratuita previsto no art. 4º da Lei 1.060/50, quanto à
declaração de pobreza, pode ser feito mediante simples afirmação, na
própria petição inicial ou no curso do processo, não dependendo a sua
concessão de declaração firmada de próprio punho pelo hipossuficiente"
(REsp 901.685/DF, Rel. Min. ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJe
6/8/08). 2. Hipótese em que a sentença afirma que "existe requerimento a
Autora na peça vestibular, às fls. 5 dos autos principais, pleiteando o
benefício da Justiça Gratuita, por ser hipossuficiente" (fl. 19e). 3. É firme a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, para fins de
concessão do benefício da justiça gratuita em favor das pessoas naturais,
basta "a simples afirmação de se tratar de pessoa necessitada, porque
presumida, juris tantum, a condição de pobreza, nos termos do artigo 4º da
Lei nº 1.060/50" (EREsp 1.055.037/MG, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO,
Corte Especial, DJe 14/9/09). 4. Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg
no REsp 1208487 / AM - Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira
Turma, DJ 14/11/2011).

A situação não se altera se for analisada de acordo com o novo Código


de Processo Civil.

Com efeito, o art. 99, § 2º, do novo Código de Processo Civil, dispõe
que:

O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.

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Já os §§ 3º e 4º, do mesmo artigo dispõem que, "presume-se verdadeira


a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural",
bem assim que "a assistência do requerente por advogado particular não
impede a concessão de gratuidade da justiça".

No caso em apreço, além de ter o agravante apresentado declaração de


pobreza (documento 04), também juntou cópia de sua CTPS (documento
17), demonstrando que possuía remuneração de R$ 1.086,00 em seu último
emprego formal.

Quanto ao fato destacado na decisão agravada, de estar a parte


assistida por advogado particular, tenho que também não impede que a ela
seja deferido o benefício da gratuidade da justiça, por força do disposto no
art. 99, § 4º, do NCPC, sendo certo que inexiste na lei exigência de que a
parte seja assistida por Defensor Público para que lhe seja concedido tal
benefício.

Dessa forma, à míngua de qualquer elemento de prova que seja capaz


de afastar a presunção de veracidade da declaração de pobreza
apresentada, entendo que faz jus o agravante ao benefício pretendido.

Posto isso, dou provimento ao agravo, para conceder ao agravante os


benefícios da gratuidade da justiça.

Custas recursais pela parte agravada.

DES. NEWTON TEIXEIRA CARVALHO

Acompanho, na íntegra, o judicioso voto proferido pelo douto Des. José


de Carvalho Barbosa.

DES. ALBERTO HENRIQUE - De acordo com o Relator.

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SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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