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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA
EMENTA
1. O art. 335, I, do CPC, determina que: “o réu poderá oferecer contestação, por petição, no
prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de
mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não compareceu ou,
comparecendo, não houver autocomposição”.
2. A intimação pessoal é cabível apenas em caso de o juiz não resolver o mérito quando o
processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes ou em caso de
abandono da causa pelo autor por mais de 30 (trinta) dias (art. 485, §1º, do CPC).
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os(as) Desembargadores(as) da 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, por unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do
Sr. Desembargador Relator.
RELATÓRIO
Trata-se de Apelação Cível interposta por JOSÉ VICENAR BRAGA DUARTE em face da
sentença proferida pelo Juízo da 5ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza que, nos autos da Ação de
Obrigação de Fazer cumulada com Indenização por Danos Morais ajuizada por MARIA CELDA
ALVES BRAGA contra o apelante, julgou procedentes os pedidos autorais e deferiu a tutela
antecipada de urgência para o fim de “determinar ao requerido a obrigação de autorizar as obras
de reparo no muro limítrofe ao imóvel da autora (às expensas desta) que sofre de infiltrações e tudo
o que for necessário para sanar os vícios apontados na inicial, sob a sanção de multa diária de R$
500,00 (quinhentos reais) pelo descumprimento” (fls. 84/90).
MARIA CELDA ALVES BRAGA apresentou manifestação informando que o requerido lhe
impediu de realizar as obras de reparo no muro determinadas pela sentença. Por este motivo,
requer que (i) as sanções constantes da ordem judicial sejam efetivadas, (ii) seja solicitada força
policial e (iii) seja majorada a multa por descumprimento da medida liminar (fls. 93/96).
O apelante, em suas razões recursais, defende que não foi intimado pessoalmente, pois fora
apenas informado na audiência que deveria apresentar contestação. Entende que a extinção do
processo só poderia ocorrer após sua intimação pessoal para contestar, de modo que o direito de
defesa do apelante foi cerceado, devendo a sentença ser anulada.
Também advoga que as duas fileiras de tijolos a serem construídas no muro não vão
interferir nos problemas de infiltração de ambas as residências e que a recorrida está obrigada a
suportar as águas pluviais naturais originárias do imóvel vizinho, devendo, portanto, ser a
sentença integralmente anulada.
O recorrente, alega que a sentença não foi fundamentada e que não há probabilidade do
direito nem perigo de demora para o deferimento da tutela de urgência. Por fim, requer a
gratuidade judicial (fls. 108/125).
É o relatório.
ESTADO DO CEARÁ
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GABINETE DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA
VOTO
O art. 5º, LXXIV, da CRFB, estabelece que “o Estado prestará assistência jurídica integral e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”, considerando a gratuidade judicial
um direito fundamental, o qual é diretamente vinculado ao acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da
CRFB).
E o art. 98, cabeça, do CPC, dispõe que “a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou
estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”. Já no art. 99, §3º,
do CPC, consta que “presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente
por pessoa natural”.
5. Agravo interno provido para conhecer do agravo e dar parcial provimento ao recurso
especial.
(AgInt no AREsp nº 1.675.896/SP. Rel. Min. Raul Araújo. Quarta Turma. DJe:
26/8/2022.)
2. Esta Corte Superior rechaça a adoção única de critérios abstratos, como faixa de renda
mensal isoladamente considerada, uma vez que eles não representam fundadas razões para
denegação da justiça gratuita.
(STJ, AgInt no REsp n. 1.836.136/PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe: 12/04/2022).
Desse modo, não sendo constatados nos autos elementos concretos que evidenciem a
falta dos pressupostos para a concessão dos benefícios da gratuidade judicial, a presunção da
declaração de hipossuficiência deduzida pelo recorrente não restou ilidida até o momento,
razão pela qual concedo os benefícios previstos no art. 98, §1º, do CPC.
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GABINETE DESEMBARGADOR ANDRÉ LUIZ DE SOUZA COSTA
2.3. Mérito.
Compulsando os autos, observei que o réu, ora recorrente, foi citado para apresentar
defesa e intimado acerca da audiência de conciliação designada para 02/09/2021, às 15h,
com a advertência que o prazo de quinze dias para apresentar contestação seria contado
conforme o art. 335, do CPC, ou seja, a partir da mencionada audiência ou do protocolo do
pedido de seu cancelamento (fls. 47 e 54).
Após, o requerido foi advertido também acerca do prazo da contestação, tendo sido,
portanto, intimado em audiência (fls. 60/61).
O art. 335, I, do CPC, determina que: “o réu poderá oferecer contestação, por petição, no
prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de
mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não compareceu ou,
comparecendo, não houver autocomposição”.
1. Compulsando os autos, observa-se que o réu, ora recorrente, foi citado para apresentar
defesa e intimado acerca da audiência de conciliação designada para o dia 26 de outubro de
2016, com a advertência que o prazo de quinze dias para apresentar contrarrazões seria
contado a partir da referida audiência ou do protocolo do pedido de seu cancelamento (fl. 28).
2. O art. 335, I, do CPC determina que: O réu poderá oferecer contestação, por petição, no
prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiência de conciliação ou de
mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não compareceu ou,
comparecendo, não houver autocomposição;
4. Ademais, o atestado médico juntado pelo recorrente à fl. 34, somente se presta a afastar a
aplicação da multa prevista no § 8º do art. 334 do CPC.
6. A par disso, o Juízo a quo analisou, de forma acurada os argumentos expostos na exordial,
bem como as provas dos autos demonstram a inadimplência do recorrente junto ao bando que
financiou a compra do veículo, bem como a negativação do nome da apelada em razão do
referido atraso.
Não merece prosperar, portanto, o argumento do recorrente de que deveria ter sido
intimado pessoalmente, pois o juízo de primeira instância seguiu adequadamente o rito
determinado pelo Código de Processo Civil em seu art. 335.
Ademais, a intimação pessoal que o apelante defende ser necessária é cabível apenas em
caso de o juiz não resolver o mérito quando o processo ficar parado durante mais de 1 (um)
ano por negligência das partes ou em caso de abandono da causa pelo autor por mais de 30
(trinta) dias (art. 485, §1º, do CPC), mas a presente lide não se refere a nenhuma dessas
hipóteses.
Outrossim, uma vez decretada, a revelia tem como efeitos os seguintes: presunção de
veracidade dos fatos alegados pelo autor, ausência de intimação do réu dos atos processuais e
julgamento antecipado da lide.
No caso, o réu não se manifestou durante toda a marcha processual vindo a constituir
patrono nos autos apenas após o julgamento do feito quando teve uma sentença contrária aos
seus interesses.
O ônus decorrente de sua inércia, com os efeitos oriundos da revelia, deve ser suportado
pelo apelante. Nesse sentido, todas as razões de mérito invocadas para ter a sentença
reformada não são possíveis de serem acolhidas por este Tribunal.
Ora, tal alegação não deve prosperar. O apelante, revel, assumiu o ônus de ter contra si a
presunção de veracidade de todos os fatos articulados pela apelada. Ademais, aceitar os
argumentos do recorrente implica necessariamente em desconstituir a natureza jurídica da
apelação e transformá-la em peça de defesa, violando toda a estrutura processual civil.
Ao réu revel só se admite discutir em grau recursal matéria unicamente de direito sob
pena, ainda, de caracterizar supressão de instância, haja vista que a matéria trazida em grau
de recurso não foi submetida à instância de primeiro grau, permitindo que a recorrida dela
tomasse conhecimento e pudesse exercer o seu direito constitucional ao contraditório por
meio de réplica à contestação.
A revelia induz à presunção de veracidade dos fatos, não alcançando as matérias de direito,
que devem ser enfrentadas e fundamentadas pelas provas produzidas pelas partes, para que se
apure se o autor deve ter, de fato, a sua pretensão deferida.
Não é lícito ao réu suscitar depois de configurada a sua revelia, as questões que
deveriam ter sido arguidas na contestação, pois, a seu respeito, operou-se a preclusão.
Dessa forma, reconheço que a sentença se encontra bem fundamentada, tendo aplicado
devidamente as regras determinadas pelo Código de Processo Civil, razão pela qual nego
provimento aos argumentos apresentados pelo recorrente.
É como voto.