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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 3ª VARA DA


SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ

Processo nº xxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Réu: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

A xxxxx, na qualidade de curadora especial de xxx xxxx, já devidamente


qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, com o respeito devido, à presença
de Vossa Excelência, com fulcro nos arts. 5º, XXXV, LIV, LV, da Carta Magna, no
art. 1.102-C, do CPC, opor os presentes

EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA

em face da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública federal, inscrita no


CNPJ sob o nº. 00.360.305/0001-04, com sucursal em Teresina – PI na Rua Areolino
de Abreu, nº. 1349, Centro, conforme razões a seguir expendidas.

1. DOS FATOS

A Embargada/CEF ajuizou a presente demanda monitória contra a


Embargante, objetivando a expedição de mandado de pagamento da importância de R$
15.827,48 (quinze mil oitocentos e vinte e sete reais e quarenta e oito centavos),
devidamente atualizada até 13 de maio de 2016 representada pelo Contrato
Particular de Abertura de Crédito à Pessoa Física para financiamento de
Materiais de Construção e Outros Pactos nº 0033891600000024-07, com os

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acréscimos legais, custas processuais e honorários advocatícios.


Entretanto, o contrato em tela contém algumas cláusulas coativas e
abusivas, motivo pelo qual a Embargante pretende vê-las revisadas, em condição de
igualdade contratual, livre dos desmandos da Embargada.
Posto haver nebulosidade envolvendo o valor efetivamente devido, requer,
desde já, a realização de perícia contábil, após a declaração das cláusulas nulas, para,
ao final, chegar-se ao verdadeiro e justo “quantum debeatur”.

2. DO DIREITO

2.1. PRELIMINARMENTE: DA AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE


CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO DO PROCESSO. DA
NULIDADE DA CITAÇÃO: INEQUÍVOCO CERCEAMENTO DE DEFESA.

O procedimento célere da Ação Monitória tem por objetivo a formação de


título executivo a partir de prova escrita do débito, consistindo, portanto, meio apto a
agilizar pretensão de cobrança, convertendo-se o procedimento em execução, caso não
sejam apresentados os embargos previstos no artigo 1.102-C, do Código de Processo
Civil.
Ocorre que o exercício de tal direito pressupõe, necessariamente, o
conhecimento do Réu sobre o débito em questão.
Nos termos do artigo 219, §2º, do Código de Processo Civil, incumbe-se
à parte autora promover a citação do réu, donde se extrai ser da Caixa
Econômica Federal a obrigação de diligenciar previamente no sentido de obter os
endereços do embargante.
Consigne-se que, no caso em comento, houve uma tentativa de citação por
meio de Oficial de Justiça (fls. 28/29), no endereço constante no Contrato. Após a CEF
apresentou novo endereço do devedor, qual seja a Rua São Jorge, nº3971, Bairro
Santo Antônio (fl.32), no entanto, o novo mandado foi expedido com o mesmo

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endereço anterior e não com o novo endereço indicado pela CEF (f.36).
Dessa forma, a Caixa apresentou à fl. 42 um novo endereço, qual seja Rua
São José, nº3971, Bairro Santo Antônio.
Conforme certidão de fl.47, a referida rua não existe.
Por conseguinte, a Caixa solicitou a citação por edital (fl.50) sendo esta
deferida á fl.51, o que não se justifica, já que não foi efetuada a diligência no primeiro
endereço, na Rua São Jorge nº3971, Bairro Santo Antônio, tendo a possibilidade de
ser este o provável endereço do Réu.
A referida citação não logrou êxito, conforme se depreende do despacho
exarado pelo Juiz Federal (fl. 69), em razão do Embargante não ter sido encontrado,
tendo o Juízo nomeado esta DPU/PI curadora especial, a fim de que fosse apresentada
defesa por meio de embargos.
Assim, considerando as peculiaridades que permeiam o procedimento
monitório, verifica-se que a citação por edital pressupõe o prévio esgotamento das
tentativas de localização do demandado, sob pena de total afronta à Magna Carta, a
saber:

“Art. 5º (omissis)
(...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes;”

Na espécie, não se tentou localizar o Embargante, nem através do Tribunal


Regional Eleitoral, nem da Receita Federal, sendo que poderiam fornecer o endereço
atual desta. Repita-se, a citação por edital deverá ser realizada somente em último
caso, após se esgotarem todos os meios de localização do Réu. Nesse sentido,
vejamos:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE


NEGA SEGUIMENTO MONOCRATICAMENTE A AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA. DECISUM QUE INDEFERIU

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PEDIDO DA CEF DE REQUISIÇÃO À RECEITA FEDERAL DE


INFORMAÇÕES ACERCA DO ENDEREÇO ATUAL DO DEVEDOR.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE REALIZAÇÃO DE
DILIGÊNCIAS. POSSIBILIDADE DE CITAÇÃO EDITALÍCIA.
SÚMULA Nº 282 DO STJ.
1. Compete ao credor envidar esforços para a localização do executado,
cabendo ao Judiciário requisitar informações aos órgãos públicos somente
em casos excepcionais, quando comprovada a realização de todas as
diligências possíveis.
2. Na hipótese vertente, a CEF não comprovou ter envidado esforços para
descobrir o endereço atual da ré junto a outros cadastros, além dos seus
próprios.
3. Conforme entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal Federal,
consubstanciado no texto da Súmula nº 282, é possível a citação por edital
em sede de ação monitória.
4. Agravo regimental da CEF improvido”.
(Tribunal Regional da 1ª Região – Agravo Regimental no Agravo de
Instrumento (AGA) 2005.01.00.073812-7/MG, Rel. Desembargadora
Federal Selene Maria De Almeida, Quinta Turma, DJ de 06/03/2016, p.175)
(destacou-se).

Cabe frisar, mais uma vez, que a citação por edital deverá ser procedida em
ÚLTIMO CASO, após se esgotarem todos os meios de localização do demandado, o
que não ocorreu no presente caso.
Nesse ínterim, colaciona-se o seguinte aresto que reitera a necessidade de a
Instituição Bancária esgotar seus próprios meios de localização dos seus
devedores e, somente após se resultarem inúteis e comprovados tais esforços, poderia
ser então requerida, e deferida, a citação por edital:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. ART. 545, DO CPC.


EXECUÇÃO FISCAL. CITAÇÃO POR EDITAL. POSSIBILIDADE
APÓS O EXAURIMENTO DE TODOS OS MEIOS À
LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR.
1. A citação do devedor por edital só é admissível após o esgotamento de
todos os meios possíveis à sua localização.
2. In casu, as conclusões da Corte de origem no sentido de que a
recorrente não esgotou todos os meios para a localização do executado
"(...) o entendimento desta Corte consolidou-se no sentido de que a citação
por edital só pode ser realizada quando esgotadas todas as possibilidades
de localização do devedor, não sendo essa a hipótese dos autos (...)",
resultaram do conjunto probatório carreado nos presentes autos.
Consectariamente, infirmar referida conclusão implicaria sindicar matéria
fática, interditada ao E. STJ em face do enunciado sumular n.º 07 desta
Corte.
3. Agravo regimental improvido.

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(AgRg no REsp 756.911/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 17.05.2016, DJ 31.05.2016 p. 340) (destacou-se).

presente feito, com fulcro no artigo 267, IV, do Código de Processo


Civil, ante a ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do
processo.
Se de outro modo entender Vossa Excelência, requer-se a declaração da
nulidade do processo a partir da citação editalícia, com a consequente intimação
da Caixa Econômica Federal, para que possa esgotar todos os meios necessários
com vista a localizar o paradeiro do Requerido, renovando-se o ato de citação,
sob pena de extinção sem a resolução do mérito.

2.3. DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A incidência das normas do CDC (Lei 8.078/90) nas relações entre os


bancos e seus clientes é reconhecida pelos Tribunais Pátrios, eis que os arts. 2° e 3° do
CDC incluem as Instituições Bancárias como legítimas fornecedoras de serviços aos
seus clientes (consumidores), também em relação aos contratos de financiamento.
Portanto, é entendimento pacificado pela jurisprudência que as instituições
bancárias têm suas relações regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, o que
restou consolidado por meio de Súmula do STJ, senão vejamos:

STJ Súmula nº 297 - 12/05/2004 - DJ 09.09.2004:

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.

Nesse sentir, as cláusulas contratualmente pactuadas devem ser analisadas à


luz dos princípios que regem não somente a legislação consumerista, como também as
normas e diretrizes traçadas pelo ordenamento jurídico pátrio, atreladas aos princípios

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da função social dos contratos, da boa fé objetiva e da probidade.


Tais princípios possibilitam ao Judiciário a análise das razões que induzem
a parte inadimplente a descumprir o contrato, bem como a plausibilidade de adequar a
relação contratual a parâmetros de igualdade substancial entre os contratantes, visando
sempre ao cumprimento da obrigação de acordo com a autonomia da vontade e os
limites estabelecidos pela legislação. Nesse contexto, preconizam os artigos 421 e 422
do Código Civil, respectivamente, in verbis:

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da


função social do contrato.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do


contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Dessa forma, por enquadrar-se na definição disposta no art. 3º, § 2º da Lei


nº 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor - a relação jurídica descrita na
presente ação rege-se pelas suas normas, prevalecendo sobre as possíveis cláusulas
contratuais abusivas, cujo regime é de nulidade absoluta.

2.4. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Como sustentado acima, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos


contratos envolvendo instituição financeira.
In casu, existe necessidade de que haja a inversão do ônus da prova, haja
vista, a verossimilhança das alegações, consubstanciada no fato de que abrangem
contratos de adesão, ou seja, há aproveitamento por parte daquela que redige
unilateralmente as cláusulas da avença.
Por outro lado, é patente a hipossuficiência, não somente econômica, mas,
principalmente, técnica, que separa a Instituição Financeira elaboradora da avença do
consumidor que adere ao contrato.
Estão presentes, portanto, no caso em tela, os requisitos autorizadores da

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inversão do ônus da prova previstos na lei nº. 8.078/90, mais precisamente em seu
artigo 6º, inciso VIII. Vejamos a dicção do próprio dispositivo:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências. (Destacou-se)

Ademais, todo contrato de adesão deve ser redigido em termos claros e com
caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.
O entendimento sufragado em sede jurisprudencial tem exatamente esta direção, do
que é indicativo este precedente do Superior Tribunal de Justiça:

CONTRATO BANCÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.


JUNTADA DE DOCUMENTOS PELO BANCO-RÉU. POSSIBILIDADE.
INVERSÃO DO ÔINUS DA PROVA. SÚMULA 7.
"O Juiz pode ordenar ao banco réu que apresente cópia do contrato e do
extrato bancário. Em assim fazendo, inverte o ônus da prova e facilita a
defesa do consumidor em Juízo." (REsp 264.083/ROSADO).
- A inversão do ônus da prova por depender da apreciação de fatos e
circunstâncias é imune ao recurso especial. Incide a Súmula 7. 1

Não é outro o entendimento dos Tribunais Pátrios. Vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO.


EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. DEVER DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. EXIBIÇÃO DE CONTRATO.
CONSUMIDOR - PARTE HIPOSSUFICIENTE. INCIDÊNCIA DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA. SÚMULA 297 DO STJ. MODIFICAÇÃO DO JULGADO.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Não estando presentes os requisitos autorizadores do artigo 535 do CPC,
será negado provimento aos aclaratórios.

1
STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL: AgRg no REsp 725141 RJ, 2005/0023167-
1, Processo: AgRg no REsp 725141 RJ 2005/0023167-1, Relator(a): Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, Julgamento: 02/12/2016, Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMA, Publicação:DJ 12.12.2016 p.
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2. "Consumidor", para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é


toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade
bancária, financeira e de crédito.
3. In casu, restou demonstrado pedido do autor para que a instituição
financeira apresentasse nos autos todos os extratos referentes aos débitos
originados do contrato em questão.
4. As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência
das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor.
5. Súmula 297 do STJ estabelece: "O Código de Defesa do Consumidor é
aplicável às instituições financeiras".
6. O Juiz pode ordenar ao banco réu a juntada de cópia de contrato e de
extrato bancário, atendendo aos princípios da inversão do ônus da prova e
da facilitação da defesa do direito do consumidor em Juízo. Art. 6º, VIII,
do CDC. Recurso conhecido para fins prequestionadores. Nego
provimento aos aclaratórios. Decisão à unanimidade de votos.
(TJPE - Embargos de Declaração: ED 169642401 PE 0016602-
72.2016.8.17.0000, Processo: ED 169642401 PE 0016602-
72.2016.8.17.0000, Relator(a): Eurico de Barros Correia Filho, Julgamento:
16/12/2016, Órgão Julgador: 4ª Câmara Cível) (g.n.).

2.5. SISTEMA FRANCÊS DE AMORTIZAÇÃO – TABELA PRICE

Conforme estabelece o contrato sub judice, em cláusula décima, “os


encargos mensais serão compostos pela parcela de amortização e juros, calculada
pela Tabela Price, incidente sobre o saldo devedor atualizado monetariamente pela
TR”.
Entretanto, a denominada “Tabela Price” é utilizada ilegalmente pela Caixa
Econômica Federal - CEF, nos contratos de crédito aperfeiçoados com seus clientes,
visto que se trata de um sistema complexo da matéria para multiplicar o lucro em
detrimento daqueles que vão à busca de empréstimo.
Tal tabela foi criada por Richard Price e denominada por ele de Tables of
Compound Interest ou Tabelas de Juro Composto. No Brasil foi feita uma
homenagem a Price, pois se fossem conhecidas como o próprio criador as denominou
seriam imediatamente proibidas pela Lei de Usura (Decreto 22.626/33) e pela Súmula
121 do Supremo Tribunal Federal.
Nessa tabela, por definição, os juros são compostos, ou seja, o que se
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estabelece é um sistema de cobrança de juros sobre juros disfarçados; é dizer: a


capitalização é composta, incidindo a taxa de juros sobre o capital inicial, acrescido
dos juros acumulados até o período anterior.
A jurisprudência pátria tem se manifestado acerca do tema, posicionando-se
CONTRA a adoção da tabela price:

CIVIL E CONSTITUCIONAL – AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS


– TABELA PRICE – CAPITALIZAÇÃO DE JUROS COMPOSTOS –
VEDADA EM CONTRATOS BANCÁRIOS DE EMPRÉSTIMO –
ANATOCISMO – CONFIGURADO
1 – A Tabela Price incorpora a capitalização de juros compostos, sendo
vedada em contratos de empréstimo bancário, pois não há previsão legal
para sua aplicação, merecendo ser afastada.
2 – A amortização da dívida pelo sistema Price é, na verdade, uma
amortização que envolve a definição de juros anuais, mas com
capitalização mensal, mascarando a capitalização de juros que, na
realidade, são compostos e não simples, configurando, assim, o
anatocismo. (Destacou-se)
3- Apelação Provida.
(TJDF - APELACAO CIVEL: APC 20160111160609 DF ; Processo: APC
20160111160609 DF; Relator(a): MARIA BEATRIZ PARRILHA;
Julgamento: 19/12/2016; Órgão Julgador: 4ª Turma Cível; Publicação: DJU
28/02/2016 Pág. : 1830)

No julgado da ementa acima exposta à desembargadora MARIA BEATRIZ


PARRILHA teve um brilhante voto, esclarecendo o que de fato representa a Tabela
Price, do qual extraímos o seguinte trecho:

“Compartilho do entendimento no sentido de que o sistema PRICE consiste


na amortização da dívida em prestações periódicas, em que o valor de cada
uma é composto de duas parcelas distintas: uma de juros e uma de capital.
Isso fica claro na fórmula da tabela Price. Sua utilização prioriza a
amortização total dos juros do período, em detrimento do valor principal
que, permanecendo com o saldo mais elevado, proporciona maior saldo
devedor e, conseqüentemente, mais juros. Assim sendo, como a Tabela Price
representa antecipação de juros, os quais incidem sobre todo o capital e não,
sobre a parcela mensal, implicando pagamentos superiores, se comparados
com os pagamentos a esse título com a mesma taxa pelos juros simples sobre
cada parcela, em razão do prazo, resta conclusão de sua ilegalidade.”

Assim, não há dúvidas de que é indevida a utilização da Tabela Price na


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atualização monetária de contrato de empréstimo firmado com instituição do Sistema


Financeiro Nacional. A irregularidade na aplicação desse indicador é decorrente do
fato de que juros crescem em progressão geométrica, sobrepondo-se juros sobre juros,
caracterizando-se a capitalização, o anatocismo.
Na atualização, devem-se aplicar juros legais ajustados de forma não
capitalizada e não composta. As regras previstas no Código de Defesa do Consumidor
(CDC), portanto, são plenamente aplicáveis na hipótese de revisão desse
financiamento que se configura como operação bancária.
Por fim, a utilização da Tabela Price, embora tenha sido pactuada, não pode
obrigar o embargante, na medida em que não fora informado previamente, de forma
clara e precisa, sobre o sentido do sistema francês de amortização e o alcance do ajuste
(art. 46, do CDC), bem como a redação da cláusula em comento não foi redigida com
caracteres diferenciados, com destaque, a fim de permitir ao embargante sua imediata
e fácil compreensão (art. 54, do CDC), sendo necessária que seja dada interpretação da
citada cláusula de maneira mais favorável ao consumidor (art. 47, do CDC).

2.6. DA CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS PREVISTA


EXPRESSAMENTE NO CONTRATO

O contrato sub judice prevê na cláusula décima quarta, parágrafo primeiro


que “sobre o valor da obrigação em atraso, atualizada monetariamente conforme
previsto no caput desta cláusula, incidirão juros remuneratórios, com capitalização
mensal, calculados aplicando-se a mesma taxa de juros contratada para a operação”.
Trata-se, aqui, de pactuação clara e expressa de capitalização de juros sobre juros, não
havendo argumentação a ser formulada em contrário.
Conforme fundamentação supra, não existe norma legal específica
autorizadora de capitalização de juros para contratos como o que ora se discute. Assim
sendo, na ausência de previsão legal autorizadora, a cláusula indigitada, acima
transcrita, é ilegal, conforme estipula a Súmula 121 do STF, devendo ser afastada do

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contrato, com sua substituição por sistema de cálculo de juros simples ou lineares.
Caso se entenda que a capitalização de juros é possível, temos que, no caso
concreto, esta deverá ser afastada. Isto porque, contrariamente ao Código de Defesa do
Consumidor, a cláusula impugnada não é clara quanto à capitalização dos juros e
suas consequências, o que afasta o anatocismo conforme a jurisprudência do e. STJ:

“CIVIL. BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO


CONTRATUAL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. CONTRATAÇÃO
EXPRESSA. NECESSIDADE DE PREVISÃO. DESCARACTERIZAÇÃO
DA MORA.
1. A contratação expressa da capitalização de juros deve ser clara, precisa
e ostensiva, não podendo ser deduzida da mera divergência entre a taxa de
juros anual e o duodécuplo da taxa de juros mensal.
2. Reconhecida a abusividade dos encargos exigidos no período de
normalidade contratual, descaracteriza-se a mora.
3. Recurso especial não provido.”
(REsp 1.302.738-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 3/5/2016.)
(Destacou-se)

2.7. DA IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO CORREÇÃO MONETÁRIA


COM OS ENCARGOS QUE COMPÕEM A COMISSÃO DE PERMANÊNCIA –
PRECEDENTES DO STJ

A cláusula décima quarta, caput e parágrafos, estabelecem cumulação de


correção monetária, pela TR, até a data do pagamento, com juros
remuneratórios, juros moratórios e multa.
Entretanto, conforme jurisprudência pacificada no Superior Tribunal de
Justiça é vedada cobrança de parcelas superiores àquelas que compõem à chamada
“comissão de permanência” nos contratos de mútuo bancário.
Tal índice, por sua vez, é composto da dos juros remuneratórios estipulados
para o período de vigência do contrato, da multa contratual limitada a 2% e dos juros
moratórios limitados a 12% ao ano. Nesse sentido, os precedentes:

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DIREITO COMERCIAL E BANCÁRIO. CONTRATOS BANCÁRIOS


SUJEITOS AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIO
DA BOA-FÉ OBJETIVA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
VALIDADE DA CLÁUSULA. VERBAS INTEGRANTES. DECOTE
DOS EXCESSOS. PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS. ARTIGOS 139 E 140 DO CÓDIGO CIVIL ALEMÃO.
ARTIGO 170 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO.
[...] 3. A importância cobrada a título de comissão de permanência não
poderá ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios
previstos no contrato, ou seja: a) juros remuneratórios à taxa média de
mercado, não podendo ultrapassar o percentual contratado para o período
de normalidade da operação; b) juros moratórios até o limite de 12% ao
ano; e c) multa contratual limitada a 2% do valor da prestação, nos termos
do art. 52, § 1º, do CDC.
4. Constatada abusividade dos encargos pactuados na cláusula de comissão
de permanência, deverá o juiz decotá-los, preservando, tanto quanto
possível, a vontade das partes manifestada na celebração do contrato, em
homenagem ao princípio da conservação dos negócios jurídicos consagrado
nos arts. 139 e 140 do Código Civil alemão e reproduzido no art. 170 do
Código Civil brasileiro. 5. A decretação de nulidade de cláusula contratual
é medida excepcional, somente adotada se impossível o seu aproveitamento.
6. Recurso especial conhecido e parcialmente provido”. (Destacou-se)
(RESP 201601041445, NANCY ANDRIGHI, STJ - SEGUNDA SEÇÃO,
DJE DATA:16/11/2016.)

CONSUMIDOR. MÚTUO BANCÁRIO. COMISSÃO DE


PERMANÊNCIA.
Vencido o empréstimo bancário, o mutuário permanece vinculado à
obrigação de remunerar o capital emprestado mediante os juros
contratados, salvo se a respectiva taxa de mercado for menor, respondendo
ainda pelos juros de mora e, quando ajustada, pela multa, que não pode
exceder de dois por cento se o negócio for posterior ao Código de Defesa do
Consumidor; na compreensão do Superior Tribunal de Justiça, a comissão
de permanência é formada por três parcelas, a saber: 1) juros que
remuneram o capital emprestado (juros remuneratórios); 2) juros que
compensam a demora no pagamento (juros moratórios); e 3) se
contratada, a multa (limitada a dois por cento, se ajustada após o advento
do Código de Defesa do Consumidor) que constitui a sanção pelo
inadimplemento.
Agravo regimental não provido.
(AGA 201601361214, ARI PARGENDLER, STJ - TERCEIRA TURMA, DJ
DATA:03/09/2016 PG:00171.)

A comissão de permanência, por sua vez, uma vez admitida, não pode ser
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cumulada com outros índices de atualização do capital (como correção


monetária) posto que tal parcela já está contemplada pelos juros remuneratórios (se
incidentes em conjunto com os juros moratórios). A jurisprudência do STJ não
descura deste entendimento, conforme os seguintes precedentes:

ENUNCIADO DE SÚMULA Nº 30:


A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.

“PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. AGRAVO


REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. CONTRATO
BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. DISPOSIÇÕES ANALISADAS DE
OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS REMUNERATÓRIOS.
LIMITAÇÃO AFASTADA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. JUROS
MORATÓRIOS E MULTA DE MORA. LICITUDE DA COBRANÇA.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. PACTUAÇÃO EXPRESSA.
NECESSIDADE. REPETIÇÃO DO INDÉBITO E COMPENSAÇÃO.
POSSIBILIDADE. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
1. Admitem-se como agravo regimental embargos de declaração opostos a
decisão monocrática proferida pelo relator do feito no Tribunal, em nome
dos princípios da economia processual e da fungibilidade.
2. Não cabe ao Tribunal de origem revisar de ofício cláusulas contratuais
tidas por abusivas em face do Código de Defesa do Consumidor.
3. A alteração da taxa de juros remuneratórios pactuada em mútuo bancário
depende da demonstração cabal de sua abusividade em relação à taxa
média do mercado.
4. Nos contratos bancários firmados posteriormente à entrada em vigor da
MP n. 1.963-17/2000, atualmente reeditada sob o n. 2.170-36/2001, é lícita
a capitalização mensal dos juros desde que expressamente prevista no
ajuste.
5. A partir do vencimento do mútuo bancário, o devedor responderá
exclusivamente pela comissão de permanência (assim entendida como
juros remuneratórios à taxa média de mercado acrescidos de juros de
mora e multa contratual) sem cumulação com correção monetária
(Súmula n. 30 do STJ).
6. Na linha de vários precedentes desta Corte é admitida a cobrança dos
juros moratórios nos contratos bancários até o patamar de 12% ao ano,
desde que pactuada.
7. A multa de mora é admitida no percentual de 2% sobre o valor da quantia
inadimplida, nos termos do artigo 52, § 1º, do Código de Defesa do
Consumidor, com a redação dada pela Lei n. 9.298/96.
8. A jurisprudência do STJ está consolidada no sentido de permitir a

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compensação de valores e a repetição do indébito sempre que constatada a


cobrança indevida do encargo exigido, sem que, para tanto, haja
necessidade de ser comprovado erro no pagamento.
9. Não evidenciada a abusividade das cláusulas contratuais, não há por que
cogitar do afastamento da mora e da manutenção da posse do bem
financiado pelo devedor.
10. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se
dá parcial provimento.”
(EDRESP 201602639823, JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, STJ -
QUARTA TURMA, DJE DATA:23/03/2016.)

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE


MÚTUO BANCÁRIO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
INCIDÊNCIA. SÚMULA 297/STJ. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.
CUMULAÇÃO COM OS DEMAIS ENCARGOS MORATÓRIOS.
IMPOSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO DA VERBA HONORÁRIA.
SÚMULA 306/STJ.
1. A incidência do Código de Defesa do Consumidor nos contratos
celebrados pelas instituições financeiras é matéria pacífica na
jurisprudência desta Corte, consolidada com a edição da súmula 297/STJ.
2. É admitida a cobrança da comissão de permanência no período da
inadimplência, calculada pela taxa média de mercado e limitada à taxa
contratada. Todavia, o encargo não pode ser cumulado com correção
monetária, juros moratórios, multa contratual ou juros remuneratórios.
3. "Os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver
sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à
execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte" (súmula
306/STJ).
4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.” (AGRESP 200301674101,
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE
DATA:19/10/2016.)

“AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO


BANCÁRIO. JUROS REMUNERATÓRIOS. NÃO-LIMITAÇÃO.
COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COBRANÇA. POSSIBILIDADE.
I - A limitação dos juros de 12% ao ano estabelecida pela Lei de Usura
(Decreto nº 22.626/33) não se aplica às operações realizadas por
instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.
II - É admitida a cobrança da comissão de permanência no período da
inadimplência, desde que não cumulada com correção monetária, juros
moratórios, multa contratual ou juros remuneratórios, calculada à taxa
média de mercado, limitada, contudo, à taxa contratada. Agravo
improvido”.
(AGA 200502019568, SIDNEI BENETI, STJ - TERCEIRA TURMA, DJE
DATA:08/10/2016.)
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A cláusula décima quarta, caput e parágrafos, do contrato exequendo, por


sua vez, contrariam tal vedação, pois estabelecem cumulação de correção
monetária, pela TR, até a data do pagamento, com juros remuneratórios, juros
moratórios e multa.
Deve, portanto, ser declarada a nulidade da cláusula, décima quarta, caput,
por prever a cumulação da correção monetária com os demais encargos que compõem
a comissão de permanência.

2.8. DA LIMITAÇÃO DOS JUROS MORATÓRIOS A 12% AO ANO

A cláusula décima quarta, parágrafo segundo, do contrato exequendo prevê


a incidência de juros moratórios de 0,033333% ao dia. Multiplicado pelo número de
dias de um ano comum (365 dias), tal índice chega a 12,166545% ao ano.
Nada obstante, já está mais do que pacificado o entendimento de que os
juros moratórios em relações de consumo (nos termos do art. 52, inc. II, do CDC),
estão limitados a 12% ao ano. É representativo deste entendimento o seguinte
acórdão:

“CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO REVISIONAL. ARRENDAMENTO


MERCANTIL. RECURSO ESPECIAL. TEMPESTIVIDADE. VIOLAÇÃO
DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DISPOSIÇÕES
ANALISADAS DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. JUROS
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO AFASTADA. CAPITALIZAÇÃO
MENSAL DE JUROS.
PACTUAÇÃO EXPRESSA. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
PRESSUPOSTO NÃO EVIDENCIADO. JUROS MORATÓRIOS. MULTA
CONTRATUAL. LICITUDE DA COBRANÇA. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO E COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE.
[...]
7. Na linha de vários precedentes do STJ, é admitida a cobrança dos juros
moratórios nos contratos bancários até o patamar de 12% ao ano, desde
que pactuada.
[...]
11. Agravo regimental provido.
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[…]
No que concerne aos juros moratórios, na esteira do artigo 52, II, do Código
de Defesa do Consumidor e de vários precedentes desta Corte (Quarta
Turma, AgRg no REsp 897400⁄RS, Ministro Relator Hélio Quaglia Barbosa,
DJ de 29.10.2016; Terceira Turma, REsp 728372⁄RS, Ministro Relator
Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 06.03.2016; Quarta Turma, REsp
487.648⁄RS, Ministro Relator Aldir Passarinho Junior, DJ de 30.06.2003),
podem eles ser cobrados no percentual máximo de 12% (doze por cento) ao
ano, equivalente a 1% (um por cento) ao mês, desde que previstos
contratualmente.”
(AgRg no Ag 1028568/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
QUARTA TURMA, julgado em 27/04/2016, DJe 10/05/2016)

Portanto, deve ser declarada nula a cláusula contratual que prevê a


incidência de juros moratórios em patamar superior a 12% ao ano.
2.9. DA ILEGALIDADE DA AUTOTUTELA

O “Contrato Particular de Abertura de Crédito à Pessoa Física para


Financiamento de Materiais de Construção e Outros Pactos” que se discute neste
processo, estabelece a seguinte cláusula:

CLÁUSULA DÉCIMA NONA “AUTORIZAÇÃO DE BLOQUEIO DE


SALDO – O(s) DEVEDOR(es), desde logo, autoriza(m) a CAIXA a utilizar
o saldo de qualquer conta, aplicação financeira e/ou crédito de sua
titularidade, em qualquer unidade da CAIXA, para liquidação ou
amortização das obrigações assumidas no presente contrato.

Parágrafo Único – Fica a CAIXA autorizada a efetuar, nas referidas contas,


aplicações e/ou créditos, o bloqueio dos saldos credores, até que a
importância seja suficiente à integral liquidação da parcela vencida.

Essa previsão contratual estabelece em prol da Embargada uma


prerrogativa de autotutela, claramente anti-isonômica e iníqua, para fazer valer seus
direitos creditícios, por conta própria, independentemente do necessário recurso ao
Poder Judiciário, ao arrepio dos incisos I e XXXV do art. 5º da Constituição Federal.
Logo, tal cláusula contratual deve ser reputada como não escrita, eis que
nula de pleno direito, a teor do art. 51, caput, IV e XV, e § 1º, III, do Código de Defesa
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do Consumidor.
A corroborar essa tese, veja-se julgado do TRF da 3ª Região:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO LEGAL. ARTIGO 557, § 1º, DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. CONTRATO DE
FINANCIAMENTO ESTUDANTIL - FIES. INCONFORMISMO
QUANTO A DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. POSSIBILIDADE ASSEGURADA PELO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR (ART. 6º, V, LEI Nº 8.078/90). AGRAVO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - Existência de cláusula, no contrato de financiamento estudantil, que
autoriza a CEF a utilizar o saldo de qualquer conta, aplicação financeira
e/ou crédito de titularidade dos executados, para amortização ou
liquidação das obrigações assumidas. Nulidade. Incidência do artigo 6º,
inciso V, do Código de Defesa do Consumidor. (...).
(TRF da 3ª Região – AC 1296270, Des. Rel. Henrique Herkenhoff,
03/10/2016).

2.10. DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA CONTRATUAL DE DESPESAS


PROCESSUAIS E DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Também é ilegal a cláusula décima sétima, que estabelece que, na hipótese


de a embargada vir a lançar mão de qualquer procedimento judicial ou extrajudicial
para a cobrança de seu crédito, o embargante deveria pagar, além do principal e demais
encargos, a pena convencional de multa contratual correspondente a 2% (dois por
cento) sobre o valor do débito apurado na forma do contrato, respondendo também
pelas despesas judiciais e por honorários advocatícios de até 20% (vinte por cento)
sobre o valor total da dívida apurada.
Tal cláusula é abusiva por colocar a CEF em posição de extrema
supremacia, em especial porque não dispôs cláusula semelhante em favor da
embargante, deixando de haver, neste caso, reciprocidade. Em outras palavras, no
eventual descumprimento do contrato pela CEF, a embargante não teria qualquer pena
análoga a ser aplicada.
Ressalta-se, ademais, que em relação aos honorários advocatícios e

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despesas judiciais, a cobrança dos valores apostos no contrato, em cumulação com


eventuais valores cobrados em demanda judicial, é ilegal por caracterizar claro bis in
idem. Essas despesas são verbas de cunho sucumbencial, não cabendo cobrança
duplicada em razão de previsão contratual.
Neste sentido, o TRF da 4ª Região já afirmou que é “nula a cláusula
contratual que prevê a possibilidade de cobrança antecipada de despesas processuais
e honorários advocatícios, uma vez que as despesas processuais de cobrança serão
aquelas efetivamente despendidas na presente demanda e a sua cobrança estaria
acarretando bis in idem.” (AC 201671000418827, Des. Rel. MARGA INGE BARTH
TESSLER, QUARTA TURMA, 19/11/2016).
Assim, pugna-se pelo reconhecimento da ilegalidade e consequente
afastamento da cobrança dos encargos processuais e dos honorários advocatícios.

3. DO CABIMENTO DE REVISÃO CONTRATUAL EM SEDE DE


EMBARGOS MONITÓRIOS E DA NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE
PERÍCIA CONTÁBIL

Sem prejuízo do exposto, é preciso salientar que em sede de embargos


monitórios, é possível pleito revisional de contratos, sendo esse o entendimento
esposado pela jurisprudência:

CONTRATOS. AÇÃO MONITÓRIA. EMBARGOS. POSSIBILIDADE


DE REVISÃO. RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDA. JUROS.
CAPITALIZAÇÃO. DEC. N.º 22.626/33. SÚMULA 596 DO STF.
1. É possível a revisão de contratos em sede de embargos à ação monitória.
2. É vedado o anatocismo mesmo nos contratos bancários. A Súmula nº
596 do STF não trata da capitalização de juros. 3. Apelo improvido.
(TRF/ 4ª Região, 4ª Turma; AC - Apelação Cível – 494848; Relator Juiz
João Pedro Gebran Neto; Proc. origem: 200171020010410/RS; Decisão:
27/06/2002; DJU de 07/08/2002; p. 409).

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A doutrina também se posiciona no mesmo sentido, como se pode observar


no trecho seguinte:

A nulidade da cláusula abusiva deve ser reconhecida judicialmente, por


meio de ação direta (ou reconvenção), de exceção substancial alegada
em defesa (contestação), ou, ainda, por ato ex officio do juiz. A sentença
que reconhece a nulidade não é declaratória, mas constitutiva negativa.
(NELSON NERY JUNIOR. ‘Código Brasileiro de Defesa do Consumidor
comentado pelos autores do anteprojeto’. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1998, p. 402).

Acrescente-se que, no caso em análise, em que a Embargante figura como


Demandada na ação monitória ajuizada pela CEF, resta patente o interesse em
questionar a legalidade das cláusulas constantes do instrumento de empréstimo.
Neste passo, verifica-se ainda que se trata, na espécie, de típico contrato
de adesão, enquadrando-se na descrição legal do Código de Defesa do
Consumidor, in verbis:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente
pelo fornecedor de produtos ou serviço, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Ora, é público e notório o fato de que os contratos bancários são redigidos


unilateralmente pelas instituições financeiras, sem que haja ingerência ou a
participação do aderente na redação. A participação do aderente resume-se em aceitá-
los ou não, ou seja, aceitar as cláusulas leoninas, das quais sequer tem compreensão,
ou não obter o almejado empréstimo (em regra vislumbrado como a solução das
dificuldades, mas que, em muitos casos, se torna o principal problema).
Na qualidade de contratos de ADESÃO, não é demais afirmar que, em sua
maioria, estes apresentam condições ILEGÍTIMAS, eis que oneram sobremaneira a
parte mais frágil ou mesmo não observam as normas tutelares do pólo mais vulnerável
da relação jurídica. Assim, estes contratos contêm, em sua redação, cláusulas abusivas

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e ilegais, que colocam o financiado em condição inferior em seu direito de


manifestação (praticamente negando a possibilidade de exercício).
Configuram-se, dessa forma, contratos visivelmente impostos, onde o
financiado não tem como se insurgir, cabendo aceitá-los na forma em que já se
encontram formulados, restando ao Poder Judiciário promover um mínimo de
equilíbrio entre as partes.
O contrato constante nos autos, como já referido, é de adesão e decorre de
modelo padrão, redigido unilateralmente pelo credor, sem qualquer possibilidade de
inserção de outras cláusulas e condições, além daquelas já estipuladas pelo Banco
(CEF). E isso se verifica especialmente no que atine à estipulação dos encargos.
A questão, portanto, é aderir ou não aderir, jamais havendo margem para a
discussão de cláusulas e condições. Não há dúvida de que o dinheiro deve ser
devolvido pelo devedor. Mas a devolução deve ser feita segundo o que determina a lei
e nos limites do imprescindível equilíbrio contratual, excluídas as cláusulas abusivas e
a onerosidade excessiva.
Na sociedade moderna, além dos requisitos de validade sobre a formação
do contrato, assumem tanto ou maior relevância as questões ligadas à execução do
contrato, especialmente no que se refere ao princípio do equilíbrio contratual e da
função social do contrato, necessário para atingir o que se chama de justiça do
contrato.
Impõe-se reconhecer que não há dúvida de que a instituição financeira não
tem finalidade social – muito pelo contrário, vive do lucro e da ganância – e empresta
o dinheiro porque quer e para quem bem entender e segundo os ganhos que pretende
obter, mas não sem antes analisar muito bem o cliente e tomar todas as informações
sobre ele, incluindo a sua idoneidade moral, financeira e patrimonial. Somente após
todo um processo integral de análise do cliente, é que é firmado qualquer contrato por
qualquer instituição financeira.
Porém, não se pode impedir a revisão do contrato, não só quanto à sua
formação, mas também no que atine a abusividade e a onerosidade excessiva do pacto

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como simples resultado da execução contratual normal, independentemente de que


tenha havido abuso do poder econômico por parte do fornecedor, ou que este tenha
praticado atos reprováveis ao contratar, ou ao executar o contrato.
Desse modo, tem-se como necessária para a correta e justa
compreensão da lide a intervenção de expert da área contábil, fato que encontra
respaldo na Jurisprudência pátria:

PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO


ROTATIVO. EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA. 1. O contrato de
abertura de crédito rotativo em conta corrente constitui título hábil para a
promoção de ação monitória (súmula 247 - STJ).
2. É necessária a realização de perícia, quando há fundada controvérsia a
respeito do valor devido. 3. Dá-se parcial provimento à apelação.
(AC 2000.38.00.015969-2/MG, Rel. Desembargadora Federal Maria Isabel
Gallotti Rodrigues, Sexta Turma, DJ de 29/11/2004, p.43).

PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. PRODUÇÃO DE


PROVA PERICIAL DETERMINADA EX OFFICIO PELO JUIZ ÀS
EXPENSAS DA CEF. FACULDADE DO MAGISTRADO. ART. 130 DO
CPC. CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO ROTATIVO.
MATÉRIA QUE NÃO É EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO ANTE A
SUA NATUREZA TÉCNICA. NECESSIDADE DE PERÍCIA.
1. Decisão de primeira instância que defere pedido de perícia, em sede de
ação monitória, na qual a Caixa Econômica Federal - CEF pleiteia a
constituição do título executivo consubstanciado em contrato de abertura de
crédito rotativo, pelo valor integral da dívida, até o seu efetivo pagamento,
no valor total de R$ 10.766,53 (dez mil, setecentos e sessenta e seis reais e
cinqüenta e três reais).
2. Imprescindível a realização da prova pericial em razão da natureza
técnica da matéria discutida nos autos, não se tratando, portanto, de
matéria eminentemente de direito.
3. Cabe ao Magistrado, na condução do processo decidir sobre a
necessidade ou não de realização de prova, sendo dotado, até mesmo, da
faculdade de determiná-la de ofício (CPC, art. 130), ou seja, sem a
necessidade de formulação de requerimento pelas partes, o que em princípio
não aponta qualquer irregularidade no entendimento recorrido. Precedentes
do TRF/1ª Região.
4. Afigura-se temerário impedir a realização da perícia, por atentar contra
os princípios do contraditório e da ampla defesa.
5. Agravo de instrumento da CEF improvido.

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(AG 2004.01.00.004207-5/DF, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria


De Almeida, Quinta Turma, DJ de 25/10/2004, p.72)

À vista do exposto, considerando o objetivo da ação monitória intentada


pela CEF, é medida de cautela a realização de perícia contábil judicial na qual fique
discriminado o valor do principal da dívida, e todos os encargos impostos, bem como a
legalidade das taxas aplicadas, devendo ser deduzidas ainda as parcelas já pagas.
Na forma complessiva em que a CEF demonstrou seu crédito, resta espaço
para cobranças indevidas, o que sugere que se faça a exata demonstração dos valores
cobrados, à custa da parte autora, eis que a ela incumbe tal detalhamento. Deve se
considerar que o pedido autoral tende a ficar acobertado pela força preclusiva da coisa
julgada, de sorte que interessa a todos que a sentença que julgue esta demanda não
legitime uma eventual cobrança ilegal.
Resta, portanto, patente a necessidade de perícia contábil, que indicará o
adequado patamar para a dívida em conformidade com a lei e o contrato. Assim, desde
já, requer que seja realizada perícia contábil capaz de apurar os reais valores
devidos, para ao final apurar-se o verdadeiro e justo “quantum debeatur”.

5. DOS PEDIDOS

Destarte, em atenção aos princípios da boa-fé, da probidade, bem como da


função social dos contratos (artigo 421 e 422 do Código Civil), requer a Embargante:

a) Sejam observadas as prerrogativas conferidas aos xxxx xxxx,


conforme a Lei Complementar nº. 80/94 e as demais disposições na legislação
ordinária (especialmente as intimações pessoais e a contagem de todos os prazos
processuais em dobro);
b) a não-incidência do ônus da impugnação especificada, haja vista a
regra que permite a negativa geral;
c) a extinção do presente processo, com fulcro no artigo 267, IV, do Código
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de Processo Civil, por nulidade da citação por edital;


d) caso não se acolha o pedido veiculado na alínea “c”, que se declare a
nulidade do processo a partir da citação editalícia, com consequente intimação da parte
Embargada, para, querendo, promover a citação da Requerida/Embargante e, caso não
se obtenha êxito na diligência, renove-se a intimação para que a Caixa esgote todos os
meios necessários com vista a localizar o paradeiro da Requerida/Embargante;
e) seja feita a intimação da Caixa Econômica Federal – CEF, na pessoa
do seu representante legal, para manifestar-se acerca dos presentes embargos;
f) seja aplicado o CDC com todos os consectários legais, dentre eles a
inversão do ônus da prova em favor da embargante, consoante o artigo 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor, bem como a aplicação de todas as
disposições de proteção ao consumidor
g) seja realizada perícia contábil judicial, observando-se as regras de
equilíbrio contratual do Código de Defesa do Consumidor e do Código Civil, e sejam
expurgadas as cláusulas abusivas do contrato em comento, bem como limitados os
juros a 12% ao ano;
h) a procedência dos presentes Embargos, com a revisão do contrato de
adesão para expurgar as cláusulas abusivas e encargos ilegais cobrados pela
Embargada.

Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente prova pericial, depoimentos pessoais, provas documentais e quaisquer
outras providências probatórias que se fizerem necessárias, estando tudo, desde logo,
requerido.
Termos em que espera e aguarda deferimento,
Teresina (PI), 11 de março de 2016.

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