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1º OFÍCIO GERAL – Boa Vista/RR

AO JUÍZO DA 3ª VARA FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA SJRR

Autor (a): Laryssa Kelry Lopes Pereira


Réu: Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
PAJ nº. 2021/005-00936 
NB: 701.512.159-0

LARYSSA KELRY LOPES PEREIRA, brasileira, solteira, desempregada, com


Registro Geral de nº 402890, inscrita sob o CPF n° 029.004.772-20, residente e domiciliada
na Rua Maria Martins Almeida, nº 184, Bairro Cidade Satélite, Boa Vista (Capital)/RR, CEP
69317-556, representada pelo seu pai o Sr. ANTONIO PEREIRA DA SILVA, vem, à
presença de V. Exa., por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, presentada pela
Defensora Pública Federal signatária, com fundamento no art. 5.º, inciso LXXIV c/c art. 134,
art. 6.º e art. 203, V, todos da Constituição da República, no art. 4.º, incisos I, X e XI, da Lei
Complementar n.° 80/94 e art. 20, caput e §2.º da Lei 8.742/93, propor

AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA – LOAS, COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, autarquia


federal vinculada ao Ministério da Economia, que pode ser citada em endereço conhecido
deste Juízo, pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas.

DADOS SOBRE O REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO


DADOS SOBRE A ENFERMIDADE
1. Número
1. Doença/enfermidade:
do benefício: Neoplasia
2. Data do requerimento:
2. Limitações decorrentes:
3.Razão da Incapacidade
Suspensão:
701.512.159-0
Crônica (CID 10 - D47) com24/03/2015. total para o exercício
Superação dede
qualquer
Renda.
característica de Paralisia Cerebral
Data da Cessação:
atividade laborativa. Dependência
de natureza espástica (CID 10 G80).
01/08/2021. completa de seus familiares.

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I. GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A parte autora ostenta a qualidade de necessitado econômico (art. 5.º, LXXIV


c/c art. 134, CF/88), conforme já constatado por esta Defensoria Pública da União em
Processo de Assistência Jurídica (PAJ), como decorrência lógica também faz jus aos
benefícios da gratuidade da justiça em todos os atos do processo até sua extinção,
previstos no artigo 98, §1.º do Código de Processo Civil (CPC), sendo assegurada a
isenção no pagamento de taxas, emolumentos, custas, honorários de advogado e perito,
dentre outras.

II. PRERROGATIVAS DA DPU

Nos termos do artigo 44, inciso I, da Lei Complementar n° 80/94, é prerrogativa


do membro da Defensoria Pública da União "receber intimação pessoal em qualquer
processo e grau de jurisdição"; corroborado com o art. 186, § 1º, do CPC: “A Defensoria
Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. O
prazo tem início com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do art. 183, §
1o”. Assim, faz-se necessária a observância das prerrogativas da DPU.

III. FATOS

A autora, atualmente com 23 anos de idade, requereu junto ao INSS,


por meio de seu representante legal o Sr. Antonio Pereira da Silva, o Benefício de
Prestação Continuada à Pessoa com Deficiência em 24/03/2015 (NB. 701.512.159-0),
sendo este deferido e recebeu o benefício até a data de 01/08/2021, no qual foi a data
da suspensão do benefício da autora.

O representante da autora o Sr. Antonio Pereira da Silva ao solicitar o


benefício de prestação continuada à pessoa com deficiência encontrava-se desempre-
gado, hoje possui um vinculo de trabalho, motivo esse que o INSS informou em sua
nota técnica que: “foi detectada possível irregularidade na manutenção do benefício ,
identificando irregularidade do benefício desde 19/08/2015”, pois o Sr. Antonio havia

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sido empregado e assim conforme o INSS o valor se igualaria ou superaria um quarto


do salário mínimo per capita”.

Não obstante, de acordo com o laudo médico em anexo, é possível con-


statar que a autora, é portadora de Neoplasia Crônica característica de Paralisia Cere-
bral de natureza espástica (CID 10 G80), e faz acompanhamento médico, em uso da
Terapia Medicamentosa e possuindo total dependência familiar, devido a sua comor-
bidade. De acordo com o comunicado da decisão do INSS, o motivo da suspensão ao
benefício foi: “renda per capita igual ou superior a 1/4 (um quarto), do salário mínimo vi-
gente” (documento em anexo).

O Sr. Antonio é o único provedor de sustento da família, sua renda emb-


ora ultrapasse o valor da renda per capita por pessoa estabelecido é preciso destacamos
que a grande parte do salário são destinado para os cuidados essenciais da manutenção
da saúde e qualidade de vida necessários à requerente, que é sua filha.

Portanto, vale evidenciar que segundo as decisões dos Tribunais


Superiores, o parâmetro objetivo do 1/4 de um salário-mínimo não é absoluto, de modo
que, há outros critérios que podem comprovar a miserabilidade de uma pessoa e de sua
família, como moradia em área de risco ou existência de doença grave ou
degenerativa. Nessas situações, ainda que a renda familiar per capita seja um pouco
maior que 1/4 de um salário-mínimo, ainda assim, haverá o direito ao LOAS.1

O Dr. Francesco Camara Blumetti, Ortopedista e Traumatologista (CRM


SP 111 528), conceitua a patologia da parte autora com as seguintes palavras:

O termo paralisia cerebral (PC), refere-se na verdade a um conjunto de problemas


causados por uma lesão ao cérebro imaturo, que leva a graus variados de
alterações dos movimentos do tronco e dos membros, podendo também interferir
na função sensorial e cognitiva.2

Consoante a Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia publi -


cada em 2010, abordava-se o tema da neoplasia. Verifica-se breve resumo da deficiên -
cia que acomete a requerente:

1
Saber a Lei. LOAS Benefício de Prestação Continuada. Disponível em: <https://saberalei.com.br/loas-beneficio-
de-prestacao-continuada/>. Acesso em 17 de maio 2021.
2
Paralisia Cerebral: principais informações. Publicado pelo Hospital Israelita Albert Einstein em 09/09/2020. Disponível em:
<https://vidasaudavel.einstein.br/paralisia-cerebral-principais-informacoes/>. Acesso em 10/09/2021.
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As síndromes mieloproliferativas crônicas, atualmente denominadas neoplasias


mieloproliferativas (NMP), de acordo com a 4ª edição da classificação da
Organização Mundial da Saúde (OMS), são doenças clonais de célula-tronco
hematopoética, nas quais há proliferação aumentada das séries mieloides com
maturação eficaz, o que leva à leucocitose no sangue periférico, aumento da
massa eritrocitária ou trombocitose. Várias progridem para fibrose medular ou
transformação leucêmica.

A Constituição Federal instituiu o benefício assistencial ao deficiente e


ao idoso nos seguintes termos:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente da contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: (...)
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a
lei. [g.n];

Seguindo essa premissa aqui abordada as jurisprudências a seguir


podem corroborar com esse entendimento.

PRESTAÇÃO CONTINUADA. LOAS. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO


CONSTITUCIONAL. AFERIÇÃO DA CONDIÇÃO ECONÔMICA POR OUTROS
MEIOS LEGÍTIMOS. VIABILIDADE. PRECEDENTES. PROVA. REEXAME.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N.º 7/STJ. INCIDÊNCIA.
1. Este Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento no sentido de que o
critério de aferição da renda mensal previsto no § 3.º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93
deverá ser observado como um mínimo, não excluindo a possibilidade de o
julgador, ao analisar o caso concreto, lançar mão de outros elementos
probatórios que afirmem a condição de miserabilidade da parte e de sua
família.
2. "A limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser considerada a
única forma de se comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, pois é apenas um
elemento objetivo para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a  renda per capita inferior a
1/4 do salário mínimo." (REsp 1.112.557/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 20/11/2009). [g.n]

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL AO IDOSO. REQUISITO


ETÁRIO INCONTROVERSO. ESTADO DE HIPOSSUFICIÊNCIA DO NÚCLEO
FAMILIAR DEMONSTRADO. TUTELA ANTECIPATÓRIA. MANUTENÇÃO. 1.
Inconteste o requisito etário e comprovado o requisito da hipossuficiência do
núcleo familiar, correta a sentença que concedeu o benefício assistencial a
contar da data do requerimento administrativo. 2. Atendidos os pressupostos
legais da probabilidade do direito e do perigo de dano ou risco ao resultado útil do
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processo (art. 300, CPC/15), é de ser mantida a tutela antecipatória deferida na


sentença. (TRF-4 - AC: 50150146720174049999 5015014-67.2017.4.04.9999,
Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Data de Julgamento: 06/09/2017,
SEXTA TURMA). [g.n]

Assim, Vossa Excelência, é visto que a autora encontra-se em pleno


estado de vulnerabilidade, a parte autora vive sobre os cuidados de sua família, seu nú-
cleo familiar e composto por quatro pessoas, seu pai o Sr. Antonio que é o seu repre -
sentante legal que trabalha como motorista, sendo esta a única renda para custeio de
todas as despesas da família.

Nesses termos, a incapacidade total da autora para o desenvolvimento


de qualquer atividade, aliada à sua condição financeira, é fácil concluir que NÃO está
vivendo em condições dignas, após a suspensão do benefício, ficando sem seus recur-
sos para custear as despesas necessárias para a sua própria subsistência, com dig -
nidade. Ressalta-se que, os documentos médicos atualizados e comprovantes de de-
spesas com remédios e outros devidos a parte autora serão juntados ao decorrer do
processo como especificação de provas.

Além disso, é preciso destacar que sobre os valores que o INSS


venha a cobrar, dos quais informa serem relativos ao período de irregularidade não
devem prosperar, pois o representante da autora com Boa-Fé solicitou o requeri-
mento e fez o uso aos cuidados assistências de natureza alimentar e assistência
médica aos cuidados especiais que a autora necessita. Verifica-se a jurisprudência a
corroborar com o entendimento:

PREVIDENCIÁRIO. VALORES RECEBIDOS DE BOA-FÉ POR BENEFICIÁRIO.


ERRO DO INSS. DEVOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. - A jurisprudência do C.
Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de não serem repetíveis valores
recebidos pelos segurados do INSS em decorrência de erro da administração,
face a boa-fé e a natureza alimentar dos benefícios previdenciários. Precedentes. -
Apelação do INSS improvida. (TRF-3 - AC: 00056797020114036112 SP, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI, Data de Julgamento:
26/06/2017, OITAVA TURMA, Data de Publicação: e-DJF3 Judicial 1
DATA:10/07/2017).

Diante do exposto, deve-se afirmar que a suspensão do benefício é in-


devida, visto que a autora satisfaz os requisitos legais para recebimento da prestação
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social (impedimento de longo prazo e miserabilidade social), conforme delineado a


seguir.

IV. DO DIREITO

A cobertura dos eventos doença e invalidez pela Previdência Social possui


guarida constitucional, dispondo o art. 201, inciso I, da Constituição Federal de 1988 da
seguinte forma:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei,
a: 
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

Nota-se que a incapacidade laboral é um dos riscos sociais cuja proteção


se encontra expressa no art. 201, inciso I, da Carta Magna de 1988, supratranscrito,
prevendo a Lei n.º 8.213/91, em seu art. 59, os requisitos para a concessão do benefício por
incapacidade.

V. IMPLANTAÇÃO DO BPC-DEFICIENTE

A autora atende os requisitos legais para o recebimento da assistência


social através da concessão do benefício de prestação continuada (BPC) destinado à
pessoa com deficiência (BPC-Deficiente), conforme será delineado a seguir.

V.1 Requisito da incapacidade

A deficiência da autora possui impedimento permanente, tendo em


vista o laudo médico assinado pelo Dr.Especialista Neurologista Ruy Guilherme Silveira
De Souza (CRM-RR 305), datado de 06/03/2015, que atesta que a requerente possui
Neoplasia Crônica característica de Paralisia Cerebral de natureza espástica ( CID 10
G80).

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Com o advento dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência


Social e dá outras providências do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº
13.146/2015), a redação do art. 20, §2º, da Lei 8.742/93, passou a ser a seguinte:

(...) § 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, consid -


era-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma
ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas. (grifo nosso).

Além do mais, verifica-se o que dispõe o art.151 da Lei nº 8.213 de 24


de Julho de 1991 LBPS - Lei nº 8.213 de 24 de Julho de 1991

Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionada no inciso II do art.
26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e de aposentadoria
por invalidez ao segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido das
seguintes doenças: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose
múltipla, hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte
deformante), síndrome da deficiência imunológica adquirida (aids) ou
contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.
(Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015). [g.n]

Assim, o que se busca é apenas o direito assegurado àquelas pessoas


que, de alguma forma, necessitam da atuação assistencial do Estado, como é o caso evi-
dente da Autora, não somente em função da moléstia que lhe acomete, conforme docu-
mentos anexados, que por si só já é cruel em virtude do estigma social, mas, sobretudo,
em razão da carência econômica sofrida, motivo pelo qual a concessão do benefício
LOAS-deficiente é medida de rigor.

V.2 Requisito carência econômica: matéria controversa

À luz do art. 1.º, III c/c art. 203, inciso V, da Constituição Federal, fun-
dado no fundamento da República e em preceitos de solidariedade social, é assegurada
ao idoso e aos portadores de deficiência que não tenham condições de prover a própria
subsistência ou de tê-la provida por sua família, a garantia de um salário-mínimo, inde-
pendentemente de contribuição à seguridade social, nos termos da lei.

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Para regulamentar o dispositivo constitucional acima mencionado, foi ed-


itada a Lei nº 8.742/93, que em seu art. 20, § 3º, dispôs que: “considera-se incapaz de
prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal per capita seja inferior a ¼ do salário mínimo”.

Entretanto, ao julgar a Reclamação (RCL) 4374, no mesmo sentido dos


RE's 567.985 e 580.963, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria dos
votos, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo 3.° do artigo 20 da Lei Orgânica
da Assistência Social (Lei n° 8.742/1993), por considerar que esse critério está defasado
para caracterizar a situação de miserabilidade, sem declarar, no entanto, a nulidade da
norma.

Em seu voto, o relator da reclamação, ministro Gilmar Mendes destacou


que ao longo dos últimos anos houve uma “proliferação de leis que estabeleceram
critérios mais elásticos para a concessão de outros benefícios assistências”, como a Lei
10.836/2004, que criou o bolsa-família; a Lei 10.689/2003, que instituiu o Programa Na-
cional de Acesso à Alimentação; e a Lei 10.219/2001, que criou o Bolsa Escola, demon-
strando a possibilidade da concessão do benefício assistencial fora dos parâmetros obje-
tivos fixados pelo art. 20 da LOAS.

Dessa forma, pode o juiz valer-se de outros elementos de prova


para aferir o estado de miserabilidade. Nesse sentido, a Quinta Turma do Tribunal Re-
gional Federal da 4ª Região já entende:

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. CONCESSÃO. PESSOA COM DEFICIÊNCIA.


CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA. MISERABILIDADE. PREENCHIMENTO DE
REQUISITOS. BENEFÍCIO DE RENDA MÍNIMA. EXCLUSÃO. CORREÇÃO MON-
ETÁRIA E JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. TUTELA ES-
PECÍFICA. 1. O direito ao benefício assistencial, previsto no art. 203, V, da Consti -
tuição Federal, e nos arts. 20 e 21 da Lei 8.742/93 (LOAS) pressupõe o preenchi -
mento de dois requisitos: a) condição de pessoa com deficiência ou idosa e b) situ-
ação de risco social, ou seja, de miserabilidade ou de desamparo. 2. Reconhecida
a inconstitucionalidade do critério econômico objetivo em regime de repercussão
geral, bem como a possibilidade de admissão de outros meios de prova para
verificação da hipossuficiência familiar, cabe ao julgador, na análise do caso
concreto, aferir o estado de miserabilidade da parte autora e de sua família.
3. Deve ser excluído do cômputo da renda familiar o benefício previdenciário de
renda mínima (valor de um salário mínimo) a partir da data em que o pai da autora
completou 65 anos. 4. Preenchidos os requisitos, é de ser concedido o benefício

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assistencial desde a data em que o pai da autora completou 65 anos. 5. Deliber -


ação sobre índices de correção monetária e taxas de juros diferida para a fase de
cumprimento de sentença, a iniciar-se com a observância dos critérios da Lei
11.960/2009, de modo a racionalizar o andamento do processo, permitindo-se a
expedição de precatório pelo valor incontroverso, enquanto pendente no Supremo
Tribunal Federal decisão sobre o tema com caráter geral e vinculante. 6. Ordem
para implantação do benefício. Precedente. (TRF4 5021240-54.2018.4.04.9999,
QUINTA TURMA, Relatora GISELE LEMKE, juntado aos autos em 05/11/2018).
[grifo nosso]

Assim, o critério socioeconômico estabelecido pelo art. 20, §3.° Lei n°


8.742/93, serve apenas como um norte ao aplicador do direito, não devendo ser tomado
de forma absoluta, mas como medida objetiva na aferição do grau de pobreza de determi-
nada família. A renda do núcleo familiar da autora é de um salário mínimo.

A proteção à vida e o respeito à dignidade da autora, que encontra-se


em estado de miserabilidade é a mens legis implementada pela Lei 8.742/93 (Lei
Orgânica da Assistência Social), a exigir do aplicador o atendimento aos fins a que ela se
dirige e às exigências do bem comum (art. 5.º, Decreto-Lei 4.657/42).

Logo, a negativa da implantação do benefício a autora mostra-se


ato violador da proteção social para a parte autora, que tem necessidades próprias e
precisa de um mínimo substancial ao cumprimento destas, mostra-se legítimo, enquanto
negar o benefício de resgate da condição de miserabilidade sem análise da situação
fática é desconectá-lo da sistemática do Estado providência, é afastar-se da principiologia
constitucional que impõe maximizar a dignidade humana.

VI. TUTELA ANTECIPADA NA SENTENÇA. EFEITO RECURSAL APENAS DEVOLU-


TIVO. PRAZO PARA IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO. ASTREINTES

Na eventual prolação de sentença acolhendo o pedido condenatório de


implantação do benefício de prestação continuada à deficiente, cuja natureza alimentar é
assente, faz-se necessário antecipar o provimento jurisdicional para evitar dano de difícil
reparação ao Autor (art. 4.º1 da Lei 10.259/2001 e art. 300 do CPC). Com efeito, a regra é
a admissibilidade de eventual recurso apenas com efeito devolutivo, conforme dispõe o
art. da Lei 9.099/1995 c/c art. 1.º da Lei 10.259/2001).
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Portanto, eventual decisão impondo a implantação do benefício pleit-


eado apenas com o trânsito em julgado carece de fundamentação na legislação incidente
ao contrariar, por via transversa, a norma do efeito meramente devolutivo e, diretamente,
a principiologia dos juizados e da proteção assistencial. Na espécie, trata-se de pedido de
obrigação de fazer (implantar e pagar benefício assistencial), cuja desobediência deve en-
sejar a aplicada multa diária (astreintes) no valor de R$ 200,00, como previsto nos art.
536, § 1.º e art. 537 c/c art. 5.º e art. 77 do CPC. Logo, ainda que não se antecipe a tutela
na sentença, há que constar determinação para implantação do benefício em 30 dias a
partir da intimação, sob pena de multa diária.

VII. DOS PEDIDOS

Do exposto, requer a procedência dos pedidos abaixo formulados:

1. Concessão do benefício da Justiça Gratuita, nos termos do artigo 98,


§1.º do Código de Processo Civil (CPC), haja vista que a autora não possuir condições de
custear o processo sem prejuízo do seu sustento e de sua família;

2. Observância das prerrogativas da DPU, especialmente a intimação


pessoal (LC 80/94, art. 44, I) e a dispensa de procuração (LC 80/94, art. 44, XI);

3. Seja declarada a manutenção da qualidade de segurada da parte au-


tora;

4. Condenar o Réu a implantar e pagar com os acréscimos legais o


benefício assistencial a autora (NB: 701.512.159-0);

5. Antecipar a tutela jurisdicional na sentença e fixar o prazo de 30 dias


corridos para implantação do benefício, a contar da intimação da sentença, sob pena de
multa diária (astreintes) no valor de R$ 200,00, conforme previsão dos art. 536, § 1.º e art.
537 c/c art. 5.º e art. 77 do CPC;

6. Condenar o Réu ao pagamento dos ônus sucumbenciais, aplicáveis


na hipótese de insurgência recursal (art. 55, 2.ª parte, Lei 9.099/95), revertidos ao Fundo
de Aparelhamento da DPU;

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7. A Produção de prova documental acostada à presente inicial, e a


realização de estudo socioeconômico, para que seja comprovada a vulnerabilidade
socioeconômica da parte autora, com consequente intimação desta Defensoria Pública
para apresentação de quesitos e para manifestação posterior quanto ao laudo social
elaborado por meio desta prova pericial social.

Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.

Atribui-se à causa o valor de R$ 19.869,34 (dezenove mil e oitocentos e


sessenta e nove reais e trinta e quatro centavos), com os devidos acréscimos de direito.

Termos em que pede deferimento.


Boa Vista/RR, datado eletronicamente.

JAQUELINE GUEDES MARINHO


Defensora Pública Federal

NATHÁLIA KAROLINE GOMES RODRIGUES


Estagiária da Defensoria Pública da União

Documentos Concatenados:

1- Outorga;
2- QSE;
3- RG e CPF da Requerente;
4- Documento Médico;
5- Nota Técnica do INSS;
6- Declaração INSS;
7- Documentos de Identificação do núcleo familiar;
8- CTPS do pai e da madrasta da requerente;
9- Comprovante de Residência;
10- Imagem da residência;
11- Comprovante de Residência;
12- Extratos bancários;
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1º OFÍCIO GERAL – Boa Vista/RR

13- Recibo de Pagamentos;


14- Comprovante de Cadastramento no Cad-Único;
15- Valor da Causa.

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