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AO JUÍZO DO XX JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE SÃO GONÇALO/RJ.

Processo nº.:

JOÃO XXXX, já qualificado nos autos epigrafado, vem à presença de Vossa Excelência por
intermédio de sua advogada infra-assinada, manifestar-se sobre o:
LAUDO SOCIAL - QUESITO DO JUÍZO PARA PERÍCIA BENÉFICO PREVIDENCIÁRIO (LOAS)
Elaborado pela Ilustre Assistente Social Alessandra Gonçalves, matrícula AS: 26235.
Na presente açã o se pleiteia a concessã o de benefício assistencial à pessoa idosa, que foi
indeferido na esfera administrativa por equivocadamente entender o INSS que o
Requerente nã o satisfazia os requisitos constantes no artigo 20, §§ 2º e 3º da Lei 8.742/93.
Realizada a avaliaçã o socioeconô mica 10.08.2019, no endereço do autor sito à Rua Antô nio
Bernardo Ribeiro nº 20, travessa B, Guaxindiba, Sã o Gonçalo/RJ, nos termos do § 1º do
artigo 20 da lei 8742/1993, alterada com a nova redaçã o pela lei nº 12.435/2011, deu-se
conta de que o demandante preenche o requisito socioeconô mico que enseja a concessã o
do BPC-LOAS, conforme se demonstrará a seguir:

DO REQUISITO SOCIOECONÔMICO
O laudo socioeconô mico, muito bem elaborado, fez inconteste prova no sentido de que o
Autor vive em estado de necessidade, satisfazendo o requisito social atinente à concessã o
do benefício pretendido.
Da aná lise do referido documento, observa-se que o grupo familiar é composto pelo Autor
e sua esposa, a qual também não aufere nenhum tipo de renda mensal.

A renda familiar total advém de doaçõ es de cesta bá sica da igreja onde congregam, e à s
vezes de amigos e dos filhos maiores, casados, também hipossuficientes, quando podem
ajudar.
Nesse ínterim, segue a conclusã o da assistente social em seu laudo, vejamos:
Trata-se de família nuclear, composta pelo citado em tela e sua cônjuge. O autor encontra-
se desempregado, não aufere renda. Para manter a sua subsistência, ele conta com a ajuda
dos filhos, que atualmente, estão desempregados, Não podendo contribuir com muito. Recebe
também, ajuda da igreja local, com doação de cesta básica. O citado indica em entrevista
que faz acompanhamento para questões de saúde pelo SUS, não auferindo despesas com
medicamentos em ora. Elencamos como despesas fixas Gás de cozinha, R$ 75,00, e
alimentação no valor de R$ 498,63, com base no DIESSE/07/2019. Ressaltamos que não
consideramos despesas com Roupas e lazer. No que concerne a sua residência, a mesma é
composta por quarto, sala, cozinha e banheiro, como especificado no quesito acima. Casa
própria (posse). O local é bem simples e humilde, apresenta problemas de fiação
elétrica, bem como vazamentos e infiltrações. No que concerne à localidade onde o
usuário reside; de difícil acesso, vias com pavimentação apenas nas ruas principais,
com iluminação pública e saneamento básico. Parco acesso a rede de bens e serviços, Local
de risco social eminente, tanto no que tange a criminalidade e cerceamento de livre acesso.
Em consulta ao CADÚNICO (Sistema de Consultas ao Programa de Benefícios do
Governo Federa) O requerente está cadastrado, entretanto, Pelo perfil ora
apresentado no momento, faz jus á percepção de transferência de renda, mas, não está
percebendo nenhum valor. Cumpre ressaltar que, considerando as despesas e receita
da requerente, neste momento, indico que o mesmo, dentro dos parâmetros utilizados
pela assistência social, se caracteriza por usuário em situação de pobreza, pois tem
acessos precários aos mínimos sociais. – grifos nossos.
Diante da conclusã o acima, é indubitá vel que o Autor faz jus ao benefício requerido, razã o
pela qual nã o merece prosperar o conteú do da petiçã o acostada pela Ré no evento de nº 31,
invocando que foi o pró prio requerente que informou que sua esposa aufere renda de R$
880,00, o que não é verdade, pois ele apenas assinou o que a servidora pediu que ele
assinasse à época. Ademais, vale lembrar que trata-se de um senhor idoso, já com a visã o
deficiente e com pouquíssima instruçã o.
Nessa senda, o Supremo Tribunal Federal já declarou a inconstitucionalidade por
omissã o parcial, sem pronú ncia de nulidade do art. 34, pará grafo ú nico, da Lei 10.741/03,
determinando que nã o só os BPC de idosos devem ser excluídos do cô mputo da renda
familiar, porém também qualquer benefício previdenciá rio de valor mínimo recebido por
idoso ou deficiente:
Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao deficiente. Art. 203, V, da
Constituição. (...). 4. A inconstitucionalidade por omissão parcial do art. 34, parágrafo único,
da Lei 10.741/2003. O Estatuto do Idoso dispõe, no art. 34, parágrafo único, que o benefício
assistencial já concedido a qualquer membro da família não será computado para fins do
cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS. Não exclusão dos benefícios
assistenciais recebidos por deficientes e de previdenciários, no valor de até um salário
mínimo, percebido por idosos. Inexistência de justificativa plausível para discriminação
dos portadores de deficiência em relação aos idosos, bem como dos idosos
beneficiários da assistência social em relação aos idosos titulares de benefícios
previdenciários no valor de até um salário mínimo. Omissão parcial inconstitucional. 5.
Declaração de inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 34,
parágrafo único, da Lei 10.741/2003. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 580963, Relator (a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 18/04/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-225 DIVULG 13-11-2013
PUBLIC 14-11-2013).
Nã o discrepa deste entendimento, a Turma Regional de Uniformização da 4º Região, a
qual já uniformizou decisã o no sentido da exclusã o do benefício previdenciá rio de valor
mínimo recebido por idoso ou pessoa com deficiência, vejamos:
AGRAVO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO JUÍZO RELATOR QUE NÃO CONHECE DE INCIDENTE
DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. IDOSO. EXCLUSÃO DE
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE VALOR SUPERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO.
IMPOSSIBILIDADE. EXCLUSÃO DE GASTOS COM MEDICAMENTOS. OMISSÃO. REEXAME DE
PROVA. NÃO CABIMENTO. [...]. 2. A orientação jurisprudencial do STF, proferida no RE
580963, reforça o entendimento jurisprudencial desta Turma Regional de
Uniformização, no sentido de que é possível a exclusão de benefício previdenciário
recebido por outro membro do grupo familiar, idoso ou pessoa com deficiência, desde
que de até um salário mínimo. [...] (, AGV 5001395-18.2014.404.7108, TURMA REGIONAL
DE UNIFORMIZAÇÃO DA 4ª REGIÃO, Relatora FLÁVIA DA SILVA XAVIER, juntado aos autos
em 05/09/2016)
Destarte, ainda que a esposa recebesse o valor mensal de R$ 880,00, o que não é verdade,
deveria ser excluído do benefício o valor mínimo que a esposa supostamente recebesse
(que nã o recebe), por ser pessoa idosa de 68 anos, de forma que o conjunto fá tico-
probató rio deveria ter sido analisado como se tal benefício não existisse (E NÃO
EXISTE).

Ademais, é imperioso salientar que o registro fotográ fico indica moradia simples, humilde,
com vá rios problemas de fiaçã o, infiltraçã o, razã o pelo qual todo o contexto que revolve a
situaçã o deve ser analisado.
E como bem indicou a Assistente Social a morada foi adquirida, há anos, por meio de posse.
Portanto, a partir das informaçõ es prestadas no laudo é cristalina a situaçã o de
hipossuficiência econô mica no caso em tela, eis que a renda familiar é (claramente)
insuficiente para a mantença do Autor e de sua esposa que também é idosa e
encontra-se desempregada, de maneira que sequer cobre as despesas mensais
essenciais, NÃO sendo capaz de atender as suas necessidades mais elementares para
a manutenção de uma vida digna.
Logo, Excelência, evidente é a situaçã o de risco e vulnerabilidade social vivenciada pelo
Autor, porquanto, a partir das consideraçõ es da Sra. Assistente Social constante no laudo
socioeconô mico, e tendo em vista que a renda mensal do grupo familiar sequer é capaz de
cobrir os gastos essenciais à digna manutençã o da sua subsistência, é evidente que ele nã o
possui meios suficientes para garantir uma vida digna.
Assim, diante das peculiaridades do presente caso, é imperiosa a concessão do
benefício pleiteado, eis que a condição econômica evidenciada é claramente incapaz
de promover a subsistência do Demandante.
Outrossim, necessá rio ser aplicado ao presente caso o princípio in dubio pro misero, que
determina a interpretaçã o do conjunto fá tico-probató rio de forma mais favorá vel ao
segurado.
Tal princípio possui aplicaçã o em diversos precedentes recentes no Tribunal Regional
Federal da 5ª regiã o – TRF5, sendo que foram utilizados em casos aná logos ao do Autor,
devendo igualmente ser utilizado no caso em concreto, a fim de garantir a defesa dos
direitos do Demandante.
Diante de todo o exposto, o Autor concorda integralmente com o laudo social apresentado
pela Assistente Social, A dra. Alessandra Gonçalves, a qual acertadamente teve um olhar
perspicaz e condizente a tudo que presenciou na residência do demandante.
Assim, requer que seja levado em consideraçã o nã o só o r. laudo social, bem como todo o
conjunto fá tico-probató rio dos autos, que demonstram a situaçã o de miserabilidade
vivenciada pelo Autor.
Termos em que, aguarda e confia no deferimento.
Niteró i, 26 de agosto de 2019.
ADVOGADA
OAB/RJ XXX.XXX

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