Você está na página 1de 22

AO JUÍZO DA __ VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE JOÃO PESSOA-PB.

TUTELA DE URGÊNCIA- TRAMITAÇÃO PREFERENCIAL - IDOSA PORTADORA DE CÂNCER CEREBRAL

E. C. , brasileira, viúva, pensionista, residente e domiciliada na Av., n. , Bairro dos ...., João
Pessoa/PB, inscrita no CPF (MF) sob o nº. e portadora do RG: ........., por intermédio da advogada, adiante
assinada – instrumento procuratório acostado com endereço eletrônico e profissional inserto na referida
procuração, o qual, em obediência à diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art. 287, ambos do CPC, indica-o para
as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, ajuizar a
presente,

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS MORAIS E PEDIDO DE ANTECPAÇÃO


DE TUTELA ANTECEDENTE

em face do FUSEX – FUNDO DE SAÚDE DO EXÉRCITO, situada na Av. Pres. Epitácio Pessoa, 2121 - Estados, João
Pessoa - PB, em razão das justificativas de ordem fática e de direito abaixo evidenciadas.

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A Autora não tem condições de arcar com as despesas do processo, uma vez que são insuficientes seus
recursos financeiros para pagar todas as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais, haja
vista que é pensionista.

Destarte, a Demandante ora formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz por declaração de seu
patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine, ambos do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta
no instrumento procuratório acostado e ademais resta por si declarado sua afirmação nos termos do
instrumento de mandado que instrui a demanda.
( b ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

A Promovente opta pela realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319, inc. VII), razão qual requer
a citação da Promovida, por carta (CPC, art. 247, caput) para comparecer à audiência designada para essa
finalidade (CPC, art. 334, caput c/c § 5º), antes, porém, avaliando-se o pleito de tutela de urgência aqui
almejada.

( c ) Prioridade na tramitação do processo (CPC, art. 1.048, inc. I)

A Autora, em face do que dispõe o Código de Processo Civil, assevera que é portadora de doença grave
– documento comprobatório anexo e ainda é maior de 60 anos.

A previsão legal que assegura prioridade processual nas demandas judiciais tem como escopo
possibilitar a parte possibilidade de conhecer e usufruir da decisão do Poder Judiciário de modo efetivo e célere.
Desta feita, requer-se que V.Exa. determine:
I) Prioridade na tramitação de todos os atos e diligências do presente processo.
II) Que o cartório observe rigorosamente a concessão do benefício.

I – CONSIDERAÇÕES FÁTICAS

A promovente é beneficiária/dependente de seu esposo F, Carvalho (falecido).


Desde setembro/2018, a promovente foi diagnosticada com câncer no cérebro (glioblastoma grau IV, o
mais agressivo de todos), tendo se submetido à cirurgia no dia 17/09/2018 e em seguida lhe foi prescrito
tratamento concomitante quimioterápico e radioterápico de intensidade modulada (IMRT), na esperança de
debelar a doença.

Ocorre que o Fusex – Fundo de Saúde do Exército, plano cuja promovente é conveniada, negou cobertura
à prestação da Radioterapia recomendada pelo médico responsável pelo tratamento, sob a alegação de que o
referido tratamento não possui previsão na lista da ANS.

Registre-se também, que o medicamento quimioterápico (TEMODAL 130 mg) referente ao primeiro ciclo de 42
dias até a presente data ainda não foi liberado o seu fornecimento pelo promovido para a promovente.

O promovido autorizou para o tratamento da doença um outro tipo de radioterapia, não recomendada
como a mais adequada e eficaz para o tratamento da promovente, corroborando assim a urgência e
imprescindibilidade de realização do tratamento.
Anote-se que providenciado o encaminhamento do início do tratamento junto a empresa ONCOVIDA
localizada em João Pessoa-PB (conveniada ao FUSEX), a Promovente foi surpreendida com a NEGATIVA DE
AUTORIZAÇÃO por parte do plano de saúde, ora promovido, sob o argumento de que o procedimento requerido
pelo médico não integra o rol da ANS.

Diante da negativa do Promovido, a Autora procurou saber da clínica quanto seria o custo do
procedimento de aplicação da Radioterapia de Intensidade Modulada necessária e indispensável para
tratamento de sua enfermidade, e, conforme demonstra-se através do orçamento colacionado que referido
procedimento alcança à soma de R$ 22.000,00 (Vinte e dois mil reais), nesse primeiro ciclo.
O valor do procedimento ultrapassa em muito a capacidade econômica da Promovente, visto que é
pensionista e percebe mensalmente o suficiente para o seu sustento e custeio de medicamentos.

Como dito em linhas outras a promovente já é beneficiária do plano de saúde de seu falecido esposo,
fazendo uso de medicamentos, agora de uso contínuo, como (Decadron, Hidantal, exodus, codein, pantoprazol),
faz uso também de suplementos alimentares sustein por recomendação médica para restabelecer-se do
procedimento cirúrgico a que se submeteu.

Inconformada com o posicionamento do Promovido, os filhos da Promovente vão pessoalmente por


diversas vezes a sede do Fusex em João Pessoa, na tentativa de solicitar uma reavaliação para modificação da
postura do Promovido, entretanto não tiveram sucesso.

Sendo, beneficiária do plano de saúde e estando regularmente em dia com sua obrigação contratual
(pagamento das mensalidades e coparticipação), viu-se a Promovente em risco grave de morte, abalada
psicologicamente com tal episódio, tendo cada dia que passa uma esperança a menos no combate ao
glioblastoma, grau 4 (escala de 1 a 4) – TUMOR CEREBRAL.

Sem olvidar que toda esta situação porque passa a Promovente vem causando-lhe intensa dor e
sofrimento, por se tratar de pessoa idosa e com saúde frágil, a não execução do tratamento correto e mais
adequado provocou-lhe um intenso abalo psicológico, pois credita que a negativa do plano de saúde dar-se ao
fato de que nada mais pode ser feito para controle de sua patologia.

II – DO DIREITO
A recusa da Ré é alicerçada conforme se expressou a Promovida à empresa Solicitante do Procedimento,
doc. anexo a exordial (Doc. 01 - RELATÓRIO MÉDICO com parecer de acordo com indicação de radioterapia
diversa da recomendada FORNECIDO PELO FUSEX)
Observa-se com isso que o Promovido desconsiderou a natureza vital da demanda e a extrema
significância da observância do procedimento sob o falacioso argumento de que: a técnica de IMRT
(Radioterapia com incidência modulada) não está no Rol dos procedimentos da ANS. Assim a conduta da
Promovida NÃO TEM ABRIGO LEGAL, conforme se demonstra ao longo desta exordial.

A Radioterapia de Intensidade Modulada – IMRT é uma avançada modalidade de tratamento que


permite a administração de altas doses de radiação diretamente no tumor, minimizando a radiação nos tecidos
adjacentes e sadios.

É consenso na medicina a importância desta modalidade de radioterapia para o tratamento de regiões


próximas aos órgãos vitais, como é o caso do cérebro. A intensidade modulada evita que os feixes atinjam os
outros órgãos com grande intensidade.

Em verdade, o procedimento de radioterapia com intensidade modulada já está previsto no rol, mas
apenas para os casos de câncer na região da cabeça e pescoço, conforme configura o presente caso, em anexo,
Resolução Normativa 428, Anexo I, página 92 do rol de procedimentos 2018 da ANS.

Antes de mais nada, impõe-se registrar que há risco na demora em iniciar o procedimento, haja vista a
possibilidade de agravamento do problema, em razão da agressividade do patologia como também pela idade
da Autora (74 anos).

A ANS estabelece para o cumprimento por parte das operadoras de Plano de Saúde é o mínimo e o rol
de coberturas não é taxativo, posto que a medicina avança em passos largos e não sendo o tratamento ou
exame, ilegal, antiético ou não recomendado pela ANVISA, a operadora tem a obrigação de disponibilizar ao
consumidor paciente, que paga mensalidade para ter a sua disposição melhor diagnóstico e tratamento
servindo-se dos meios mais adequados solicitados pelo profissional competente. Este é o entendimento
reinante em nossos tribunais.

Nesse pensar tem-se outrossim, que as cláusulas contratuais atinentes aos planos de saúde devem ser
interpretadas em conjunto com as disposições do Código de Defesa do Consumidor, de sorte a alcançar os fins
sociais preconizados na Constituição Federal.

Por apropriado, destacamos o entendimento do STJ, por meio da Súmula nº 469 – Aplica-se o Código de
Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde.

Nesse sentido, Superior Tribunal de Justiça entende abusiva a cláusula que exclui a cobertura para
tratamento da saúde, conforme os precedentes a seguir transcritos:

“AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE


COBERTURA DE PROCEDIMENTO MÉDICO. DOENÇA PREVISTA NO CONTRATO DE
PLANO DE SAÚDE. PROCEDIMENTO NÃO PREVISTO NO ROL DA ANS. ROL
EXEMPLIFICATIVO. COBERTURA MÍNIMA. INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO
CONSUMIDOR. SÚMULA N. 83 DO STJ. DANO MORAL. NÃO IMPUGNAÇÃO DE
FUNDAMENTO SUFICIENTE POR SI SÓ PARA A MANUTENÇÃO DA DECISÃO

AGRAVADA. SÚMULA N. 283 DO STF. QUANTUM INDENIZATÓRIO. SÚMULA N.


182/STJ. 1. Não é cabível a negativa de tratamento indicado pelo profissional de
saúde como necessário à saúde e à cura de doença efetivamente coberta pelo
contrato de plano de saúde. 2. O fato de eventual tratamento médico não
constar do rol de procedimentos da ANS não significa, per se, que a sua prestação
não possa ser exigida pelo segurado, pois, tratando-se de rol exemplificativo, a
negativa de cobertura do procedimento médico cuja doença é prevista no
contrato firmado implicaria a adoção de interpretação menos favorável ao
consumidor. 3. É inviável agravo regimental que deixa de impugnar fundamento
da decisão recorrida por si só suficiente para mantê-la. Incidência da
Súmula n. 283 do STF. 4.” É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada”(Súmula n. 182 do STJ). 5.
Agravo regimental parcialmente conhecido e desprovido.” (AgRg no AREsp
708.082/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 16/02/2016, DJe 26/02/2016).

Prevalecendo-se a tese de se permitir a cobertura do tratamento da patologia, mas estabelecendo-se


limitações quanto aos procedimentos hospitalares e laboratoriais, como no caso em comento, a consequência
é a de que o contratante do plano de saúde, diante desse tipo de situação, vê-se impossibilitado de usufruir
aquilo que foi contratado, aumentando o risco à sua vida e fazendo com que seu tratamento ocorra em
condições extremamente gravosas.

Isso porque negar autorização para a realização de exame ou procedimento de saúde fere a finalidade
básica do contrato, colocando o usuário em posição de intensa desvantagem. Acerca desta questão, assim têm
decidido os Tribunais Federais:

APELAÇÃO CÍVEL - PLANO DE SAÚDE - COBERTURA - RADIOTERAPIA DE


INTENSIDADE MODULADA (IMRT). 1. A RADIOTERAPIA CONSTITUI
TRATAMENTO OBRIGATÓRIO A TODO PLANO DE SAÚDE. 2. NÃO É LEGÍTIMA A

INTERFERÊNCIA DO PLANO DE SAÚDE NO MODO OU TÉCNICA DE REALIZAÇÃO


DO TRATAMENTO CONTRA O CÂNCER, COM OU SEM O AUXÍLIO DA
MODULAÇÃO IMRT, SE O TRATAMENTO COM RADIOTERAPIA ESTÁ PREVISTO NA
LISTAGEM DE COBERTURA ASSISTENCIAL MÍNIMA PARA OS PLANOS PRIVADOS
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE (RESOLUÇÃO

NORMATIVA Nº 211/10, ANEXO I). 3. NEGOU-SE PROVIMENTO AO APELO DA RÉ.


(TJ-DF - APC: 20130110881933 DF 0022759-32.2013.8.07.0001, Relator: SÉRGIO
ROCHA, Data de Julgamento: 30/04/2014, 2ª Turma Cível, Data de Publicação:

Publicado no DJE : 05/05/2014 . Pág.: 162)

Agravo de instrumento. Tratamento Médico-Hospitalar- Fornecimento de


Medicamentos. OBRIGAÇÃO DE FAZER. Antecipação da tutela recursal concedida.

Assegurado ao recorrente o direito ao fornecimento, pela União Federal (Fundo


de Saúde do Exército), mediante a realização de procedimento cirúrgico indicado
pelo médico que o assiste, na cidade de Cuiabá/MT, custeando todas as despesas
e tratamentos hospitalares e médicas pertinentes.

(TRF1 - AI - Agravo de Instrumento. Processo n.0035961-12.2015.4.01.0000. Data


de Autuação: 03/07/2015. Órgão Julgador: QUINTA TURMA. Juiz Relator:

DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE)

E mesmo caso se entenda não constar no aludido rol, entende-se que a lista de procedimentos da ANS
prevê apenas a cobertura mínima obrigatória, constando rol exemplificativo, sua leitura deve ser conjugada
com os princípios do CDC e da Lei 9656/98.

Além do mais, sabe-se que o rol de procedimentos da ANS, não é atualizado com a mesma velocidade
que surgem os avanços tecnológicos da medicina moderna, de forma que sempre existe uma defasagem, que
não pode ser desconhecida, sob pena de se desnaturar a obrigação ajustada, impedindo-se o consumidor de
ter acesso às evoluções médicas.

Nesse sentido, a Lei nº 9.656/98, que trata dos Planos Privados de Saúde, é expressa em estabelecer,
como exigência mínima de tais contratos, a previsão de cobertura “exames complementares indispensáveis
para o controle da evolução da doença e elucidação diagnóstica”, conforme se observa na redação dada pela
Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001.

Vale ressaltar ainda que o fornecimento do exame é acessório do principal – o diagnóstico – sem o qual
se tornaria inócuo o tratamento, cabendo somente ao médico, exímio conhecedor da patologia, ministrar os
meios mais adequados ao caso. No caso em comento, colaciona-se uma justificativa exarada pelo médico que
acompanha a paciente/Autora desde o início do tratamento da patologia no qual este evidencia a
IMPRESCINDIBILIDADE da realização da técnica IMRT (Radioterapia de intensidade moderada) para evitar
sequela irreversíveis que comprometam visão, locomoção, etc.
Nesse sentido, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça em voto condutor da Ministra Nancy Andrighi
emanou o seguinte entendimento:

“Somente ao médico que acompanha o caso é dado estabelecer qual o


tratamento adequado para alcançar a cura ou amenizar os efeitos da
enfermidade que acometeu o paciente; a seguradora não está habilitada,
tampouco autorizada a limitar as alternativas possíveis para o restabelecimento
da saúde do segurado, sob pena de colocar em risco a vida do consumidor. (…) -

A negativa de cobertura de transplante – apontado pelos médicos como essencial


para salvar a vida do paciente –, sob alegação de estar previamente excluído do
contrato, deixa o segurado à mercê da onerosidade excessiva perpetrada pela
seguradora, por meio de abusividade em cláusula contratual. (REsp 1053810/SP,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/12/2009, DJe
15/03/2010)” (grifou-se)

Desta feita, observa-se, que não cabe à operadora do plano de saúde negar cobertura a exame destinado
ao combate do tumor cerebral em busca da cura da paciente, do contrário, estaria autorizada a determinar o
tratamento a que será submetido o consumidor. Visto que interpretação diversa acabaria por atribuir às
seguradoras e planos de saúde o poder de questionar os métodos a serem empregados pelo médico para o
tratamento da doença, cuja cobertura está abrangida pelo contrato.

Não se duvida que as empresas que oferecem planos de assistência à saúde podem estabelecer quais
patologias não são cobertas pelo seguro e inserir tal previsão no instrumento contratual. No entanto, não lhes
cabe eleger os tipos de exames ou de tratamentos que lhes sejam mais convenientes.

Como já referido, em relatório exarado pelos auditores do Fusex, a justificativa para a negativa do
procedimento é que a IMRT (Radioterapia de intensidade modulada) não se encontra no rol da ANS. Em anexo
cópias da negativa pelo promovido.

Limitações desse tipo devem ser coibidas, pois constituem práticas eivadas de ilegalidade, baseadas no
abuso do poder econômico, em detrimento da defesa e do respeito ao consumidor. Constata-se, portanto, com
clareza meridiana que a negativa do plano de saúde constitui ato abusivo, contrário a lei e aos mais comezinhos
princípios que regulam as relações de consumo, que vai de encontro à jurisprudência recente, como se infere,
verbis:
“CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PLANO DE SAÚDE.
NEGATIVA DE COBERTURA. RECUSA ABUSIVA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DANO

MORAL. OCORRÊNCIA. FIXAÇÃO DO QUANTUM VALOR


RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL. 1. Consoante entendimento firmado neste Tribunal de Justiça, o
rol de procedimentos médicos da Agência Nacional de Saúde – ANS é meramente
exemplificativo, representando um indicativo de cobertura mínima, haja vista que
a medicina está em constante descoberta de tratamentos em prol da humanidade,
não sendo possível manter um rol estanque. 2. Não cabe ao plano de saúde, mas
sim ao médico que acompanha o tratamento, a análise do mérito dos tratamentos
e dos métodos a serem aplicados ao paciente. 3. É abusiva a cláusula contratual
que impede o acesso a serviços inerentes à própria natureza do contrato firmado,
já que incompatível com a boa-fé objetiva e a equidade. 4. In casu, o dano moral
se encontra nos dissabores causados ao autor que, apesar de pagar regularmente
seu plano de saúde, viu-se diante de uma situação em que não poderia obter o
tratamento médico adequado, causando-lhe dor, angústia, sentimento de
impotência e revolta, o que não pode ser encarado como mero aborrecimento do
dia a dia. 5. Necessário analisar criteriosamente a matéria fática a fim de se
perquirir um valor justo, de modo que este não se demonstre nem ínfimo ou
deveras elevado. 6. Apelações conhecidas. Provida parcialmente do autor e
desprovida da requerida.” (Acórdão n.936246, 20150110328600APC, Relator:
GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA 3ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento:
20/04/2016, Publicado no DJE: 04/05/2016. Pág.: 240/251)

Evidencia-se, portanto, que a limitação imposta atinge a lealdade contratual, pois impede que o
aderente tenha a plena consecução do diagnóstico de sua doença, o que fere diretamente a sua saúde e
dignidade.

À luz do disposto no Código de Defesa do Consumidor, em especial nos art. 51, inc. IV c/c o § 1ºdesse
mesmo artigo, a restrição imposta é nula devendo ser afastada à vista de se preservar o direito daquele que
contratou seguro-saúde com o propósito de melhor cuidar de um bem da vida, diga-se, o mais necessário de
todos.

Além do mais, ainda que houvesse cláusula expressa prevendo a exclusão de cobertura para
procedimentos e/ou tratamentos não previstos no rol da ANS, seria nula de pleno direito, conforme determina
o Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV – estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”.

Afirma-se isto porque tal cláusula implicaria em se suprimir procedimentos que podem ser mais
adequados ao controle ou cura da enfermidade, desnaturando o próprio objetivo do contrato de prestação de
serviço de saúde. Haja vista que considerando o quadro clínico da Promovente/autora, e diante da justificativa
médica apresentada ao caso, restando nítida a necessidade de tratamento, a conduta abusiva e atentatória
contra o princípio da dignidade da pessoa humana poderá ensejar reparação por danos morais. A propósito, eis
aresto do Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL.PLANO DE SAÚDE. COBERTURA. ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA

CONTRATUAL.MEDICAMENTO IMPORTADO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-


PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7/STJ. DECISÃO MANTIDA. (…) 2. Consoante a
jurisprudência desta Corte, a recusa indevida da operadora de plano de saúde
em autorizar o tratamento do segurado é passível de condenação por dano
moral.3. (…)” (AgRg no AREsp 327.404/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 19/03/2015, DJe 27/03/2015) Devida,
portanto, a condenação pelos danos morais.

Ademais a doutrina aqui representada por Cláudia Lima Marques, professa no tocante ao assunto
supraabordado, que:

“A evolução da jurisprudência culminou com a consolidação jurisprudencial de que


este contrato possui uma função social muito específica, toca diretamente direitos
fundamentais, daí ser sua elaboração limitada pela função, pela colisão de direitos
fundamentais, que leva a optar pelo direito à vida e à saúde e não aos interesses
econômicos em jogo. Como ensina o STJ: “A exclusão de cobertura de
determinando procedimento médico/hospitalar, quando essencial para garantir a
saúde e, em algumas vezes, a vida do segurado, vulnera a finalidade básica do
contrato. 4. Saúde é direito constitucionalmente assegurado, de relevância social
e individual.” (REsp 183.719/SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j.
18/09/2008, DJe 13/10/2008).” (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de
Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 6ª Ed. São Paulo:
RT, 2011, pp. 1028-1029)

Desse modo a exclusão imposta pela Promovida não deve prosperar, para tanto basta que se observe
de maneira concreta que a natureza da relação ajustada entre as partes e os fins do contrato celebrado não
podem ameaçar o objeto da avença.

III – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Para comprovação do que alegamos colacionamos copias do processo administrativo que tramita
internamente no Fundo de Saúde do Exército, conforme cópias em anexo, fornecidas aos filhos da promovente,
Juliana /carneiro de Carvalho e João Almeida de Carvalho Júnior.

Contudo, percebe-se, que a Promovente deve ser beneficiada pela inversão do ônus da prova, pelo que
reza o inciso VIII do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que a narrativa dos fatos
encontra respaldo nos documentos anexos, que demonstram a verossimilhança do pedido, conforme
disposição legal:

"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;"

O requerimento ainda encontra respaldo em diversos estatutos de nosso ordenamento jurídico, a


exemplo do Código Civil. Além disso, segundo o Princípio da Isonomia, todos devem ser tratados de forma igual
perante a lei, mas sempre na medida de sua desigualdade. Ou seja, no caso ora debatido, a Promovente
realmente deve receber a supracitada inversão, visto que se encontra em estado de hipossuficiência, uma vez
que disputa a lide com uma empresa de grande porte, que possui maior facilidade em produzir as provas
necessárias para a cognição do Excelentíssimo magistrado.

IV – DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Diante dos fatos narrados, bem caracterizada a urgência da realização do tratamento Radioterapia de
intensidade modulada – IMRT, requisitado pelo médico da Promovente, credenciado junto ao Fusex, ora
Promovido, especialmente tendo em vista se tratar a Promovente de paciente com risco de vida em face do
tratamento negado. Por esse senda, não resta outra alternativa senão requerer à antecipação provisória da
tutela preconizada em lei.

No que concerne à tutela, especialmente para que o Promovido seja compelido a autorizar de modo
imediato a realização do tratamento na Clínica credenciada ao FUSEX e única em João Pessoa – PB que dispõe
de aparelhamento apto a aplicação da RADIOTERAPIA DE INTENSIDADE MODULADA RECOMENDADA

(ONCOVIDA) buscado e arcar com as suas despesas, justifica-se a pretensão pelo princípio da necessidade.
O Código de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a tutela de urgência quando “probabilidade do
direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”:

Art. 300 – A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem
a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

No presente caso, estão presentes os requisitos e pressupostos para a concessão da tutela requerida,
existindo verossimilhança das alegações, além de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação,
mormente no tocante à necessidade de a Promovente ter o amparo do plano de saúde contratado.

O fumus boni juris se caracteriza pela própria indicação do tratamento prescrito e justificativa efetuada
por médico cadastrado junto à Promovida. Evidencia o caráter indispensável do exame, sua necessidade e
urgência para possibilitar o adequado tratamento radioterápico para tratar a doença que acomete a
Promovente.

Evidenciado, outrossim, se encontra o periculum in mora, eis que a demora na consecução do


tratamento necessário, objeto da lide, certamente acarretará um agravamento da doença diagnosticada,
podendo acometer a promovente de sequelas irreversíveis com o avanço da doença e comprometimento de
áreas vitais do cérebro da promovente. Obviamente isso põe em risco a própria vida da Promovente, levandose
em conta a sua idade, e que o retardo no início do tratamento adequado da moléstia pode obviamente causar
dano irreparável, visto as consequências que a omissão da radioterapia de intensidade modulada pode vir a
causar, a exemplo de cegueira, comprometimento dos movimentos e metástase metástase na paciente, bem
como à natureza do bem jurídico que se pretende preservar — a saúde –, e, em última análise, a vida.

A reversibilidade da medida também é evidente, uma vez que a Promovida, se vencedora na lide, poderá
se ressarcir dos gastos que efetuou, mediante ação de cobrança própria.
Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os elementos indicativos de ilegalidades contido na
prova ora imersa traz à tona circunstâncias de que o direito da Promovente existe.
Acerca do tema do tema em espécie, Nélson Nery Júnior, delimitando comparações acerca da
“probabilidade de direito” e o “fumus boni iuris”, assevera in verbis:

“Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris: Também é preciso
que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela afirmado (fumus
boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia do processo de
conhecimento ou do processo de execução…” (NERY JÚNIOR, Nélson. Comentários ao
código de processo civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-858)

Em face dessas circunstâncias jurídicas, faz-se necessária a concessão da tutela de urgência


antecipatória, o que também sustentamos à luz dos ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:
“O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa de
subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do periculum
evidenciado. Mesmo em situações que o magistrado não vislumbre uma maior
probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da urgência
demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a tutela de urgência,
mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim … [et tal]. – São Paulo: RT,
2015, p. 499)

O TRF5 coaduna desse mesmo entendimento, ordenando fornecimento de medicamento para


tratamento quimioterápico em caso análogo, vejamos:

Agravo de instrumento movimentado pela autora contra decisão que indeferiu o


pedido de antecipação de tutela para que fosse determinado o fornecimento
imediato e gratuito do medicamento Temodal [Temozolomida], para o
tratamento de Glioblastoma Multiforme (CID 10 C71), patologia de que padece a
agravante, consoante prescrição médica.

1. A questão em comento já foi objeto de análise em sede de liminar, da qual trazse


excerto:Inicialmente, observo que a ação originária foi proposta em 20 de abril de
2018, fazendo-se necessário a análise da matéria em consonância com o que foi
decidido no Recurso Especial nº 1.657.156/RJ (2017/0025629-7), representativo
de controvérsia acerca do fornecimento de medicamento não constante dos atos
normativos do SUS, no qual restou decidido que a concessão desses fármacos
exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i) Comprovação, por meio
de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim
como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo
SUS; (ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
(iii) existência de registro na ANVISA do medicamento.

In casu, a situação em foco preenche todos esses requisitos. A agravante é


assistida pela Defensoria Pública, o que reflete a sua incapacidade econômica, o
medicamento possui registro na ANVISA, e o relatório médico indica que a
paciente já se submeteu aos tratamentos ofertados pelo SUS (cirurgia e radiologia)
sem êxito, além de que o fármaco requerido é imprescindível para seu tratamento.
2. Corrobora-se os fundamentos acima transcritos e destaca-se que há relatório
médico acostado aos autos, exarado pelo oncologista Roberto E. R. Furlani, CRM
8528, atestando que a agravante... necessita com urgência sob risco de morte em
caso de atraso ou não administração da droga de alto custo (não fornecida pelo
SUS) TEMODAL(r) com a posologia de 75mg/m2 por dia continuamente durante a
radioterapia, seguida de 150mg por metro quadrado por dia, durante 5 dias a cada
4 semanas, por período inicial de 12 ciclos.

Essa droga não é contemplada pela APAC do SUS e não existe outra medicação
que a substitua nesta linha de tratamento.

3. Destarte, verifica-se que não é possível fechar as portas para a melhora do


paciente, sobretudo quando a saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação [art. 196, da Constituição].
Consagrar o inconformismo da agravada representaria a negativa do texto
constitucional.

4. Agravo de instrumento provido.


(PROCESSO: 08085564920184050000, AG/SE, DESEMBARGADOR FEDERAL
FREDERICO DANTAS (CONVOCADO), 2ª Turma, JULGAMENTO: 17/09/2018,
PUBLICAÇÃO: )

Diante disso, a Autora vem pleitear, sem a oitiva prévia da parte contrária (CPC, art. 9º, parágrafo único,
inc. I, art. 300, § 2º c/c CDC, art. 84, § 3º), independente de caução (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência
antecipatória no sentido de:

a) Seja deferida tutela provisória inibitória positiva de obrigação de fazer (CPC, art. 497 c/c art.
537), no sentido de que o Promovido, de imediato, autorize e/ou custeie o tratamento de RADIOTERAPIA
DE INTENSIDADE MODULADA na ONCOVIDA e o FORNECIMENTO IMEDIATO DO MEDICAAMENTO
TEMODAL conforme prescrição médica, descrito nesta peça inicial, sob pena de imposição de multa diária
de R$ 1.000,00 (mil reais), determinando-se, igualmente, que o meirinho cumpra o presente mandado em
caráter de urgência;

b) Ainda com o propósito de viabilizar o cumprimento urgente da tutela pugnada, a Promovente


pede
que Vossa Excelência inste a parte adversa, no mesmo sentido acima, dessa feita por intermédio de
comunicação eletrônica e/ou fax ou, ainda, por meio de ligação telefônica e certificada pelo senhor Diretor de
Secretaria desta Vara (CPC, art. 297, caput).

V – DA REPARAÇÃO DE DANOS
O Promovido, deve ser condenado a reparar os danos sofridos pela Promovente. Haja vista que está fora
tomada de angustia ao saber que o tratamento não seria realizado, em face da absurda negativa sob pretensa
alegação de não constar esse tratamento em rol da ANS. Como se observa do laudo fornecido pelo médico, a
paciente (ora Promovente) se encontra acometida de um câncer em estado avançado, e em mais alto grau de
agressividade, tendo se submetido a cirurgia e agora recomendada a iniciar tratamento quimioterápico e
radioterápico de intensidade modulada concomitantes, vê-se impedida de fazer. A Promovente encontra-se
extremamente nervosa, desestabilizada emocionalmente, tendo sido, inclusive sedada para conter o desespero,
com sua situação de grave risco de vida, tudo por conta da absurda e negligente recusa.

Não percamos de vista o que, nesse contexto, disciplina o Código Civil:

Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

Para afirmar e defender tal entendimento, colaciona-se jurisprudência produzidas nos Tribunais de
Justiça e Turmas recursais de diversos estados brasileiros que vão ao encontro do entendido do STJ, in verbis:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONTRATO. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE


COBERTURA A EXAME ESSENCIAL AO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER. IMPOSSIBILIDADE.

OFENSA AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. REEXAME DE CLÁUSULAS


CONTRATUAIS E PROVAS DOS AUTOS. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. DANO MORAL
CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO. QUANTUM. RAZOABILIDADE. (…) 3. No caso concreto, o
Tribunal de origem, analisando o contrato e a prova dos autos, concluiu que a negativa
de cobertura do exame pretendido foi abusiva, não só porque existia previsão
contratual para exames complementares necessários para o controle da evolução da
doença, mas também porque não havia exclusão expressa do procedimento requerido.
Alterar esse entendimento é inviável na instância especial a teor do que dispõe a
referida Súmula. 4. Está pacificado no STJ que a injustificada recusa, pelo plano de
saúde, de cobertura de procedimento necessário ao tratamento do segurado gera
dano moral. […]”. (AgRg no AREsp 169.486/DF, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS
FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 12/03/2013) (grifou-se)

“DIREITO CIVIL. PLANO DE SAÚDE. COBERTURA. RECUSA INJUSTIFICADA. DANO MORAL.


POSSIBILIDADE. – Mero descumprimento contratual não gera dano moral. Entretanto,
se há recusa infundada de cobertura pelo plano de saúde -, é possível a condenação
para indenização psicológica.” (AgRg no Ag 846077 / RJ, 3ª Turma. Relator Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ 18.6.2007 p. 263) (grifou-se)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL
CIVIL.RESPONSABILIDADE CIVIL. INJUSTA A RECUSA DE COBERTURA POR PARTE DO
PLANO DE SAÚDE. DANO MORAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A c. Corte de origem dirimiu,
fundamentadamente, as matérias que lhe foram submetidas, motivo pelo qual o
acórdão recorrido não padece de omissão, contradição ou obscuridade. Não se
vislumbra, portanto, a afronta ao art. 535 do Código de Processo Civil. 2. Não obstante
o inadimplemento contratual não dar ensejo, em regra, à reparação de ordem
extrapatrimonial, é possível, nos casos em que considerada injusta a recusa de
cobertura por parte do plano de saúde, a condenação em pagamento de dano moral,
quando a negativa agrava o contexto de aflição psicológica do segurado,
ultrapassando os limites do mero desconforto ou aborrecimento, como ocorreu na
hipótese. (g. n.) 3. A modificação da conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias
a respeito da existência de dano moral encontra óbice na Súmula 7/STJ, por demandar
o vedado revolvimento de matéria fático-probatória. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento. AgRg no AREsp 14557/PR, Relator Raul Araújo, 4ª Turma, julgado em
13/09/2011, DJe de 03/10/2011) (grifou-se)".

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF - Apelação Cível : APC


20140110330697. Publicado por Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios -
Processo: APC 20140110330697 - Orgão Julgador: 2ª Turma Cível - Publicação: Publicado
no DJE : 06/02/2015 . Pág.: 183 - Julgamento: 21 de Janeiro de 2015 - Relator:
MARIOZAM BELMIRO – Ementa: CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO DE
FAZER. NEGATIVA DE AUTORIZAÇÃO. EXAME PET/SCAN. DANO MORAL. EXISTÊNCIA.
VALOR INDENIZATÓRIO. PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 1. A injusta recusa
para a realização de exame capaz de viabilizar o controle de neoplasia maligna
oportuniza sofrimento e dor aquele que já padece de doença grave. Precedentes deste
eg. TJDFT e do col. STJ. 2. O valor indenizatório deve pautar-se pelas balizas da
proporcionalidade e da razoabilidade. 3. Recurso provido. Acordão. DAR PROVIMENTO.
UNÂNIME.

“APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS E MATERIAIS – PRIMEIRA APELAÇÃO - OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE -

NEGATIVA DE COBERTURA DE EXAMES - SITUAÇÃO DE URGÊNCIA COMPROVADA -


SEGUNDA APELAÇÃO - SOMENTE QUANTO À IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO REFERENTE

AOS DANOS MORAIS - PRESENTES OS REQUISITOS AUTORIZADORES - REFORMA


PARCIAL DA SENTENÇA. Se o plano de saúde não exclui especificamente da cobertura o
tratamento prescrito por médicos especialistas ao usuário do plano de saúde, compete
à seguradora pagar as respectivas despesas decorrentes do procedimento
diagnosticado, como corolário de respeito aos princípios do contrato, mormente de
respeito à saúde. Ao restar demonstrada a relação de causalidade entre a negativa
injustificada de cumprimento do contrato pela apelante e o sofrimento experimentado
pelo apelado, tem a Unimed Cuiabá o dever de indenizar o dano moral provocado.”
(TJMT. Apelação nº 16184/2009. Segunda Câmara Cível. Relator Des. A. Bitar Filho, Data
de Julgamento: 07/10/2009).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. COBERTURA.


NEGATIVA. PROCEDIMENTO DE URGÊNCIA. DANO MORAL. CABIMENTO. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO COM APLICAÇÃO DE MULTA. (…) ” Nos
termos da jurisprudência reiterada do STJ, a recusa indevida à cobertura pleiteada pelo
segurado é causa de danos morais, pois agrava a sua situação de aflição psicológica e de
angústia no espírito (REsp 657717/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJ 12/12/2005)”
(AgRg no Ag 1318727/RS, de minha relatoria, QUARTA TURMA, julgado em 17/05/2012,
DJe 22/05/2012 2. É pacífico neste Sodalício que a revisão da indenização por dano
moral apenas é possível quando o quantum arbitrado nas instâncias originárias se
revelar irrisório ou exorbitante. Não estando configurada uma dessas hipóteses, não
cabe examinar a justiça do valor fixado na indenização, uma vez que tal análise demanda
incursão à seara fático-probatória dos autos, atraindo a incidência da Súmula 7/STJ.3.
Agravo regimental a que se nega provimento”. (AgRg no AREsp 431.163/DF, Rel.

Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/05/2014, DJe


13/05/2014)

Desta forma, torna-se demasiadamente crível o sofrimento, a aflição, o desalento da Promovente, que
em todos os meses do ano tem por observado a cobrança da mensalidade do plano de saúde, que é paga sempre
rigorosamente, mas quando realmente necessita usá-lo, vê-se desamparada. De que adianta garantir a
cobertura da doença se o tratamento adequado é negado???

Resta demonstrada, assim, a relação de causalidade entre a negativa injustificada de atendimento por
falha na prestação do serviço contrato e o sofrimento experimentado pela Promovente, de tal modo que o
Promovido tem o dever de indenizar o dano moral provocado.

Os danos morais suportados pela Promovente tornam-se evidentes diante dos fatos que deram origem
a presente ação. Eles decorrem, pois, da injustificada ausência de prestação dos serviços de saúde contratados
pela Promovente no momento em que esta necessitou do atendimento e foi obstada de realizar o tratamento
radioterápico recomendado que se mostra imprescindível para avaliação diagnóstica e terapêutica da patologia
(câncer de cabeça) e a demora em fornecer o medicamento quimioterápico (TEMODAL 130 mg)
contratualmente prevista e coberta pelo plano de saúde, ora Promovido.

Tal falha na prestação dos serviços é causa de danos morais porque abala diretamente o estado
psicológico causando grande aflição e angústia à Promovente, não restando dúvidas que padece com os abalos
psíquicos em razão de todo o ocorrido, ante a premente necessidade do atendimento no tratamento tolhido.
VI – DO QUANTUM CONDENATÓRIO A TITULO DE DANO MORAL
Notória ainda a responsabilidade objetiva da Promovida, a qual independe do seu grau de culpabilidade,
uma vez que incorre em lamentáveis falhas, gerando o dever de indenizar, pois houve defeito relativo à
prestação de serviços. O Código de Defesa do Consumidor consagra a matéria em seu artigo 14, dispondo que:

"Art. 14. O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa,


pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação
dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos"

Com relação ao dano moral puro, resta igualmente comprovado que a Promovida, com sua conduta
negligente, violou diretamente direito da Promovente, qual seja, de ter sua paz interior e exterior inabalada por
situações com ao qual não concorreu. Trata-se do direito da inviolabilidade à intimidade e à vida privada.

A indenização dos danos puramente morais deve representar punição forte e efetiva, bem como,
remédio para desestimular a prática de atos ilícitos, determinando, não só à requerida, mas também a outras
empresas, a refletirem bem antes de causarem prejuízo a outrem.

Imperativo, portanto, que a Promovente seja indenizada pelo abalo moral em decorrência dos atos
ilícitos, em razão de ter sido vítima de completa e total falha e negligência da demandada.
A análise quando da fixação do quantum indenizatório deve observar ainda outros parâmetros,
destacando-se o poderio financeiro da parte culpada, com o objetivo de desestimular a prática dos atos abusivos
e ilegais. A Promovente por sua vez, será ressarcida de forma que amenize o prejuízo, considerando-se o seu
padrão sócio econômico.

O dano moral prescinde de prova, dada a sua presunção, isto é, a simples ocorrência do fato danoso, já
traduz a obrigação em indenizar. O fato que originou todo este constrangimento não tem nenhuma justificativa
plausível por parte da Promovida, tendo trazido toda sorte de transtornos à Promovente, que se sente lesada e
humilhada.

Para o arbitramento do valor da indenização por danos morais, devem ser levados em consideração o
grau de lesividade da conduta ofensiva e a capacidade econômica da parte pagadora, a fim de se fixar uma
quantia adequada.
O quantum indenizatório fixado a título de danos morais deve atender aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, considerando, no caso concreto, a extensão e a gravidade do dano, a capacidade econômica
do agente, além do caráter punitivo-pedagógico da medida.

VII – PEDIDOS e REQUERIMENTOS


Diante do que foi exposto, pleiteia a Promovente que Vossa Excelência defira os seguintes pedidos e
requerimentos:
7.1. Requerimentos:
a) A parte Promovente opta pela realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319, inc.
VII), razão qual requer a citação da Promovida, por carta (CPC, art. 247, caput) para comparecer à
audiência designada para essa finalidade (CPC, art. 334, caput c/c § 5º), antes, porém, avaliando-se
o pleito de tutela de urgência almejada;

b) requer, ademais, seja deferida a inversão do ônus da prova, maiormente quando a


hipótese em estudo é abrangida pelo CDC, bem assim a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita
e a prioridade no andamento do processo.

7.2. Pedidos:
Requer sejam JULGADOS PROCEDENTES todos os pedidos formulados nesta demanda, declarando nulas
todas as cláusulas contratuais que prevejam a limitação de tratamentos/procedimento de radioterapia de
intensidade modulada, tornando definitiva a tutela provisória de urgência antes concedida e, além disso:

7.2.1. Solicita que o requerido seja condenado, por definitivo, a custear e/ou autorizar a
realização do tratamento de radioterapia de intensidade modulada (IMRT) conforme indicação e na
quantidade indicada pelo profissional de medicina que acompanha e trata da Promovente;

7.2.2. Solicita que seja fornecido o medicamento quimioterápico TEMODAL 130 mg,
conforme prescrito e pelo tempo necessário para tratamento da promovente;

7.2.3.Em caso de descumprimento da decisão anterior, pede-se a imputação ao pagamento de multa


diária de R$ 1.000,00 (mil reais);
7.2.4. Pugna pela condenação da Promovida a pagar, a título de reparação de danos
morais, o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
7.2.5. Pleiteia que seja definida, por sentença, a extensão da obrigação condenatória, o
índice de correção monetária e seu termo inicial, os juros moratórios e seu prazo inicial (CPC, art.
491, caput); observando-se o teor das Súmulas 431 e 542 do STJ.

7.2.6. Seja a Promovida condenada em custas e honorários advocatícios, esses


arbitrados em 20%(vinte por cento) sobre o valor da condenação (CPC, art. 82, § 2º, art. 85 c/c art.
322, § 1º), além de outras eventuais despesas no processo (CPC, art. 84).
Protesta e requer a produção de provas admissíveis à espécie, em especial a oitiva do representante
legal da Promovida e de testemunhas, bem como perícia, se o caso assim o requerer.

Dá-se à causa o valor da pretensão condenatória de R$ 90.000,00 (noventa mil reais). (CPC, art. 292, inc.
V) Respeitosamente, pede e espera deferimento.

João Pessoa-PB, 20 de setembro de 2018.

Meu querido aluno do P6 Unipê


Advogado OAB/PB ....

DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS PARA FINS DE ESTUDOS NO UNIPÊ, NÃO AUTORIZADA A DIVULGAÇÃO OU
REPRODUÇÃO EM QUALQUER OUTRO MEIO.

1 Súmula 43 do STJ – Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.
2 Súmula 54 do STJ – Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual

Você também pode gostar