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G U I A PRÁTI C O DO S

BENEFÍCIOS
DE PRESTAÇÃO
CONTINUADA
O Ciclo dos Amparos Assistenciais:
do Atendimento ao Judiciário!

“A pobreza costuma ir muito além de uma situação de falta de


dinheiro. A real miserabilidade que atinge à alma do cidadão
desempregado, é a falta de esperança.”

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Dra. Juliana Leite Melo Luft, é formada em direito pela Universidade de


Cuiabá, desde Janeiro de 2007.

Especializou-se em Direito Previdenciário pela Escola Superior do Minis-


tério Público, em Maio de 2012. Possui títulos de especialização em pro-
cesso e Direito do trabalho pela mesma instituição. Atualmente, ministra
cursos pelo Brasil todo, na área Previdenciária.

Lecionou em Pós-graduações como Instituto Infoc; Legale Institucional,


sempre nas áreas Previdenciárias de maior expertise, como BPC’s; se-
gurados especiais; benefícios por incapacidade; Planejamentos Previ-
denciários e Processos Administrativos.

Atua em escritório próprio, com sede na Capital do Estado de Mato Gros-


so, Cuiabá, também, desde 2012. Seu escritório se tornou um dos mais
especializados em processos Previdenciários, no Estado, e já patrocinou
mais de 3.000 Ações somente na esfera Judicial, além das que tramitam
Administrativamente.

Vem desenvolvendo sua técnica autodidata, com base em muito estudo


e observação da atuação na prática previdenciária, com a finalidade de
enaltecer a área, que tem enormes possibilidades para o profissional
que visa especializar-se de fato.

Eis que diante das mudanças que vêm ocorrendo, que atingem direta-
mente a parte mais frágil dessa relação, os segurados da Previdência,
é chegado o momento em que os operadores do Direito, devem estar
atentos à gama de possibilidades de trabalho.

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S UMÁ RI O

Introdução 05
Primeira etapa do ciclo 07
Conceito de miserabilidade 09
Grupo familiar 12
Necessidade de cadastro único,
para aferição de necessidade e
miserabilidade 14
Pessoa com deficiência 33
Diferença entre deficiência e
Incapacidade laboral 34

Segunda etapa do ciclo 37

Checklist documental 39

Terceira etapa do ciclo 43

Quarta etapa do ciclo


A judicialização das Ações de
Amparo Assistencial 45

Interpretando e aplicando as
48
principais Súmulas em BPC/LOAS
Solucionando os principais
52
problemas em BPC/LOAS
Construindo a defesa MOB 60

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INTRODUÇÃO

À quem se destina esse manual?

Aos advogados e profissionais do direito, que atuam diretamente com


segurados e pensionistas do INSS, que procuram orientação nos proce-
dimentos à serem adotados desde o atendimento ao cliente que vem
procurando auxílio profissional, por estar em extremo estado de vune-
rabilidade financeiro e físico, até o trâmite judicial desses Benefícios
de Amparos.

Este Manual, não se destina à aprofundamentos teóricos, e sim, ao diag-


nóstico certeiro do direito e aplicabilidade da LOAS – Lei Orgânica de
Assistência Social, baseado num método diário e experiente.

“A Assistência Social, é intrínseca à Advocacia Previdenciarista.


Não como forma de caridade, mas de humanidade.”

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Por que escolher Direito Previdenciário?

O Direito Previdenciário, está carente de profissionais, que de fato atuem


no que eu chamo de Advocacia Previdenciária Humanizada, profissio-
nais, que estejam engajados em encontrar soluções para os problemas
dos seus clientes, não apenas visando lucro, contudo, que saibam lidar
com essa consequência inerente do Bom Atendimento x Resultado.

Principalmente, que queiram aprender à aproveitar a gama de clientes


e probabilidade de sucesso, que a área proporciona.

Digo sempre aos meus alunos, que não existe, na história do direito, tra-
balho mais gratificante do que aquele que é capaz de devolver além de
um pouco de dignidade, a possibilidade de um recomeço sem necessi-
dade da caridade alheia, ao cliente, através do seu trabalho executado
com excelência.

Para uma pessoa que trabalhou informalmente a vida toda,


que por falta de oportunidades ou conhecimento sócio educa-
tivo deixou de planejar o seu próprio futuro, e quando doente e
idoso, se vê desamparado pelo seu Estado supremo. Você vale
muito para ele!!!

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PRIMEIRA ETAPA
DO CICLO
Os artigos 5º e 203 da nossa Carta Magna, são fontes principais dos fun-
damentos da Lei orgânica da Assistência social. Uma vez que eles nos
trazem, que todo aquele que necessitar de assistência social, terá sua
subsistência provida pelas políticas assistenciais por princípios como
dignidade da pessoa humana, erradicação da pobreza, entre outros, in-
dependentemente de contribuição.

Quem são os detentores do Direito ao Amparo Assistencial, à luz da


LOAS, Lei 8.742/93?

Diante do seu caráter assistencial e não contribuitivo, os conhecidos


benefícios de prestação continuada, ou simplesmente BPC’s são desti-
nados às pessoas de baixíssima renda, que preencham dois requisitos:

Além da baixa renda, que também sejam portadores de defici-


ência que lhe ocasionem impedimentos de longo prazo (igual
ou superior a dois anos) ou possuam 65 anos de idade ou mais.

Ou seja, ambos os requisitos devem estar presentes, para que se al-


meje o benefício de prestação continuada, comumente, chamado de
Loas.

Vale dizer aqui, que esse benefício não visa manter padrões de vida
ou equiparar-se à nenhum outro benefício indenizatório ou salarial, já
que estamos falando do mínimo de dignidade para alguém que já não
é capaz de mantê-la por si só, ou de tê-la provida por sua família. Para

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melhor compreensão, tenha em mente que ele é uma espécie de “bol-


sa”, destinada à quem preenche os requisitos, para recebê-la. É um valor
pago à uma pessoa que esteja em tamanho estado de vulnerabilidade
social, que sequer possui o mínimo para sobreviver, destina-se à quem
não possui o devido tempo de contribuição para uma aposentadoria por
idade; não possui qualidade de segurado; e está doente (deficiência) ou
é idoso.

NOTA:

Os Benefícios de Amparo Assistencial ao Idoso e ao Deficiente,


têm como valor base 1 (um) salário mínimo vigente.

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CONCEITO DE
MISERABILIDADE
É direito fundamental, que o cidadão possa vestir-se, alimentar-se, ter
acesso à saúde pública e educação.

Dito isso, vale dizer para vocês, jovens doutores! Que é uma grande di-
ficuldade para o nosso ordenamento jurídico e para a nossa classe de
previdenciaristas, seria a correta aferição dessa miserabilidade, razão
pela qual, venho lhes facilitar isso, por meio desse pequeno Manual.

Sendo assim, esse benefício assistencial, deve ser dado à quem não
possuir meios de manter-se vivo, com certa dignidade, e não possa ter a
sua sobrevivência provida por sua família também (conceito abrangente
e flexível). Nesse momento, trago à tona para vocês, uma palavra que
deve estar tatuada na sua mente quando se falar em LOAS, e esta pala-
vra é “vunerabilidade”.

Saiba, que para ter direito ao benefício de amparo assistencial,


o cidadão, no caso seu cliente, deve estar em situação de ex-
trema vulnerabilidade financeira, à margem da sociedade, sem
emprego, sem perspectiva de melhora, devido à sua situação
periclitante de saúde ou idade.

NOTA:

Recentemente, na letra da Lei, seu artigo art. 20, § 3º, da Lei nº


8.742/93, definiu para fins de percepção do benefício, que a renda
per capta familiar seja inferior à ¼ do salario mínimo vigente, re-

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tirando-se da sua descrição a palavra ‘igual”. Isso, objetivamente


não funciona assim, as variáveis para aferição dessa miserabili-
dade, sempre são levadas em consideração, e devem, nos seus
aspectos biopsicossociais, serem amplamente estudados e es-
miuçados por nós advogados. Basta que se verifique a vasta juris-
prudência existente, nesse sentido.

Para estabelecer um parâmetro do que seria considerado miserabilida-


de, a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742/93) estabelece:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua famí-
lia. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) (Vide Lei nº 13.985,
de 2020)

Para você doutor(a), a primeira coisa a ser verificada é se a renda familiar


é suficiente para manter aquela família, que talvez tenha uma ou mais
pessoas especiais, em seu núcleo, por exemplo. E é decidido pelo STF,
que essa flexibilização deve ser aplicada a cada caso concreto, mediante
a comprovação de renda do grupo familiar x necessidade familiar. Fato é
que os tribunais passaram a ter entendimento de forma a proporcionar
maior justiça social no caso concreto, dando por subjetivo e objetivo o
critério de renda per capta.

Em suma: Entende-se judicialmente hoje, é que o critério só


pode ser entendido como objetivo quando a renda for INFE-
RIOR ao salário mínimo e sendo SUPERIOR, deve-se observar

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as peculiaridades do caso.

Utilizemos, para tal demonstração, o que eu costumo chamar de “qua-


dro de compensação de gastos”.

É importante apresentar os gastos familiares, tais como água, luz, ves-


tuário, alimentação, remédios, enfim, quais os gastos fundamentais e se
essa conta realmente fecha para que a família se mantenha digna.

O estudo social é muito importante nesse sentido, e precede a avalia-


ção médica. Podendo hoje ser efetuado com o simples cruzamento de
dados entre o CADÚNICO, que abordaremos logo abaixo e as informa-
ções do inss, podendo sendo concedido automaticamente no âmbito
administrativo.

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GRUPO
FAMILIAR
Família, para fins de BPC, precisa-se necessariamente residir sob o mes-
mo teto do requerente e ser:

Beneficiário (Titular do BPC)


Seu cônjuge ou companheiro;
Seus pais;
Sua madrasta ou padrasto, caso ausente o pai ou mãe (nunca ambos);
Seus irmãos solteiros;
Seus filhos e enteados solteiros;
Menores tutelados.

Ainda que residam no mesmo terreno, mas não na mesma casa, não se-
rão considerados seus ganhos para cálculo da renda per capita.

Como você já deve ter me ouvido falar, não entram na conta da renda
familiar per capta outro BPC ou um benefício previdenciário de até um
salário mínimo já concedido a outro idoso ou pessoa com deficiência
do mesmo grupo familiar. Ou ainda qualquer outro benefício no valor
equivalente à 1 salário mínimo.

O Supremo Tribunal Federal ao julgar o RE567.985/MT, acabou


por definir a questão e pacificou o entendimento de que todo
benefício no valor de um salário mínimo deve ser excluído do
cálculo da renda familiar.

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NOTA:

Não tente esticar demasiadamente essa questão da renda per


capta. Se um dos membros do grupo familiar, obtiver uma média
salarial de 2 salários mínimos ou mais, entendo que dificilmente
seu cliente será enquadrado do Amparo Assistencial. Salvo em
caso de 1 casal, com 6/7 filhos menores, em que a mãe sequer
possa trabalhar (exemplo).

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DA NECESSIDADE DE CADASTRO
NO CADÚNICO, PARA AFERIÇÃO DE
NECESSIDADE E MISERABILIDADE
(DECRETO 8.805/2016)

Primeiramente, é minha missão esclarecer, que o cadastro acima refe-


rendado, é obrigatório, porém, não é o único meio de prova que um
cidadão possui, para ter o direito à percepção de um amparo. Sendo
parte da política pública dos benefícios assistenciais, portanto, deve ser
feito, mas, como objeto obrigatório, a fim de corroborar todas as outras
formas, em que você, advogado previdenciarista irá utilizar como meio
de prova.

Ele pode ser feito em qualquer unidade de CRAS (centro de referência


de assistência social), da cidade onde resida o Requerente, e é requisito
obrigatório, inclusive para os demais programas assistenciais do gover-
no Federal.

Frise-se: O cadastro Único obrigatório, deve ser feito pessoal-


mente pelo requerente do benefício de amparo, e os dados ali
declarados, constarão na base de dados do INSS. Portanto, de-
vem ser as mesmas informações, ali declaradas.

A MP 871/2019 agora Lei 13.846/2019, traz novamente essa obrigato-


riedade, no seu artigo 20.

Dois pontos importantes sobre o CRAS:

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01. O QUE DEVE SER DECLARADO?

A declaração conterá, a composição do grupo familiar (nos termos da


Lei 8.742/93), e a renda por cabeça, de cada um. O grupo familiar é
aquele composto pelos parentes do requerente, cônjuge, filhos, pais, e
todos que residam sob o mesmo teto.

DICA PRÁTICA 1: Acontecerá no seu escritório... avós que cui-


dam de netos, e até mesmo filhos maiores que residem na mes-
ma casa. Essas pessoas, inválidas ou não, com guarda legal,
tutelas, curatelas ou não. Compõem o grupo familiar do seu
cliente!

DICA PRÁTICA 2: Qualquer ausência de documentação de


guarda legal, divórcio, falta de comprovantes de residência, en-
tre outros documentos exigidos pelo INSS, podem ser supridos
mediantes simples declarações, cujos modelos, encontram-se
no site de apoio da própria autarquia, ou podemos elaborá-los
em nosso próprio escritório (como ensino no meus cursos).

Ou seja, o grupo familiar é composto, pelos parentes do requerente que


residem no mesmo imóvel, sob o mesmo teto. E tais pessoas devem
constar no CRAS, juntamente com a renda, para fins de cálculo da Ren-
da Per Capta, que significa, Renda Por Cabeça.

EXEMPLO PRÁTICO 1: Um homem, portador de cardiopatia, de


cerca de 35 anos, reside com sua mãe, idosa, que recebe um
AMPARO ASSISTENCIAL AO IDOSO + sua irmã maior de idade,
sem renda, e sem trabalho. A irmã não é inválida, apenas de-
sempregada.

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Qual a renda a ser declara no CADÚNICO?

Autor = R$0,00
Mãe do autor = R$998,00
Irmã do autor = R$0,00
Renda per capta igual a R$0,00.

A renda equivalente à Amparo Assistencial não é renda, e 1


salário mínimo à ela equiparada, também não. Jurisprudên-
cia pacificada. Renda mínima deve ser excluída do cômputo
familiar.

EXEMPLO PRÁTICO 2: Uma criança de cerca de 6 anos, reside


com seus pais, sendo que apenas o pai trabalha fora, devido à
necessidade de cuidados constantes com o menor. Este aufere
uma renda mensal de R$1.200,00.

Qual a renda a ser declarada no CADÚNICO?

Autor = Menor, R$0,00


Mãe = Do lar, R$0,00
Pai = R$1.200,00
Renda per capta igual a R$400,00

A renda é baixa, para uma família que possui um filho menor,


incapaz, no qual um dos pais não terá condições de exercer
atividade laboral, podendo-se enquadrar o Amparo Assisten-
cial para o menor, ainda que esteja um pouco acima de ¼ do
salario mínimo, inscrito em Lei.

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As análises de casos concretos devem ser levadas à risca, pelo advoga-


do Previdenciarista! A demonstração: Gasto X Despesa, deve e pode ser
feita mediante estudo psicossocial e comprovantes de gastos mensais,
eu utilizo a tabela de compensação de gastos, já citada, simples, feita no
word, apenas para anexar ao processo administrativo. A jurisprudência
nos nossos tribunais, têm se mostrado bem complacente, com a ques-
tão da miserabilidade (não estamos falando em rendas altas, ok?). Nesse
quesito, o INSS costuma perder mais, do que ganhar!

#FICAADICA

ABAIXO ANEXO UMA SENTENÇA DO MEU ESCRITÓRIO, RECENTE-


MENTE CONQUISTADA, LINDA DE SE LER E DIGNA DE SER COM-
PARTILHADA:

PODER JUDICIÁRIO | JUSTIÇA FEDERAL

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MATO GROSSO JUIZADO


ESPECIAL FEDERAL – 9a VARA

PROCESSO: | AUTOR (A):

RÉ(U) : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL


SENTENÇA: Tipo “A” (Resolução no 535/2006 do CJF)

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

Cuida-se de ação ajuizada por José Batista Gonçalves, contra o


INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, em que requer a
concessão do benefício assistencial de prestação continuada,

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em razão de sua condição de pessoa com deficiência (DER:


29/05/2018).

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei no 9.099,


de 1995.

II - FUNDAMENTAÇÃO

O benefício assistencial pleiteado encontra previsão no art.


203, V, da Constituição de 1988, o qual assegura um salário
mínimo de benefício mensal às pessoas com deficiência e aos
idosos que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família. Senão veja-
mos:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela neces-


sitar, independentemente de contribuição à seguridade social,
e tem por objetivos:

[...]

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pes-


soa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la pro-
vida por sua família, conforme dispuser a lei.

O referido dispositivo constitucional foi regulamentado pela


Lei no 8.742, de 1993, que dispõe sobre a organização da As-
sistência Social. Por sua clareza, confira-se o teor do art. 20:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de

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um saláriomínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso


com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la pro-
vida por sua família.

§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é compos-


ta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na
ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,
desde que vivam sob o mesmo teto.

§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação con-


tinuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, inte-
lectual ou sensorial, o qual, em interação com outras barreiras,
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa


com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita
seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

§ 4o O benefício de que trata este artigo não pode ser acumu-


lado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguri-
dade social ou de outro regime, salvo os de assistência médica
e da pensão especial de natureza indenizatória.

§ 5o A condição de acolhimento em instituições de longa per-


manência não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com
deficiência ao benefício de prestação continuada.

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§ 6o A concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da de-


ficiência e do grau de impedimento de que trata o § 2o, com-
posta por avaliação médica e avaliação social realizadas por
médicos peritos e por assistentes sociais do Instituto Nacional
do Seguro Social - INSS.

§ 7o Na hipótese de não existirem serviços no município de re-


sidência do beneficiário, fica assegurado, na forma prevista em
regulamento, o seu encaminhamento ao município mais próxi-
mo que contar com tal estrutura.

§ 8o A renda familiar mensal a que se refere o § 3o deverá ser


declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujei-
tando-se aos demais procedimentos previstos no regulamento
para o deferimento do pedido.

§ 9o Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado


e de aprendizagem não serão computados para os fins de cál-
culo da renda familiar per capita a que se refere o § 3o deste
artigo.

§ 10o Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins


do § 2o deste artigo, aquele que produza efeitos pelo prazo
mínimo de 2 (dois) anos.

§ 11o Para concessão do benefício de que trata o caput deste


artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da
condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de
vulnerabilidade, conforme regulamento.

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Da leitura do art. 20 da Lei no 8.742, de 1993, é possível con-


cluir que a concessão do benefício assistencial de prestação

continuada ao idoso e ao deficiente depende da comprovação


da impossibilidade de prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família.

A deficiência é caracterizada pelo impedimento de longo prazo


de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir a partici-
pação plena e efetiva do indivíduo na sociedade, em igualdade
de condições com as demais pessoas.

No que concerne à configuração da situação de miserabilida-


de, cumpre registrar que, inicialmente, o Supremo Tribunal Fe-
deral manifestou-se pela constitucionalidade do critério de 1⁄4
de salário mínimo fixado no § 3o do art. 20 da Lei no 8.742, de
1993. No entanto, na ocasião, não houve pronunciamento ex-
presso sobre a possibilidade de utilização de outros critérios
para a aferição da miserabilidade.

Posteriormente, contudo, no julgamento dos Recursos Extra-


ordinários no 567.985/MT e no 580.963/PR, em 18/04/2013, o
Supremo Tribunal Federal concluiu que teria havido um pro-
cesso de inconstitucionalização do critério previsto no § 3o do
art. 20 da Lei no 8.742, de 1993, o qual decorreria de mudanças
políticas, econômicas, sociais e jurídicas. Eis o teor da ementa
do RE no 567.985/MT (com destaques acrescidos):

Benefício assistencial de prestação continuada ao idoso e ao

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deficiente. Art. 203, V, da Constituição. A Lei de Organização


da Assistência Social (LOAS), ao regulamentar o art. 203, V, da
Constituição da República, estabeleceu os critérios para que
o benefício mensal de um salário mínimo seja concedido aos
portadores de deficiência e aos idosos que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família. 2. Art. 20, § 3o, da Lei 8.742/1993 e
a declaração de constitucionalidade da norma pelo Supremo
Tribunal Federal na ADI 1.232. Dispõe o art. 20, § 3o, da Lei
8.742/93 que “considera-se incapaz de prover a manutenção
da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja ren-
da mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário
mínimo”. O requisito financeiro estabelecido pela lei teve sua
constitucionalidade contestada, ao fundamento de que per-
mitiria que situações de patente miserabilidade social fossem
consideradas fora do alcance do benefício assistencial previsto
constitucionalmente. Ao apreciar a Ação Direta de Inconstitu-
cionalidade 1.232-1/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou
a constitucionalidade do art. 20, § 3o, da LOAS. 3. Decisões
judiciais contrárias aos critérios objetivos preestabelecidos e
Processo de inconstitucionalização dos critérios definidos pela
Lei 8.742/1993. A decisão do Supremo Tribunal Federal, en-
tretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em
concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido
pela LOAS. Como a lei permaneceu inalterada, elaboraram-se
maneiras de se contornar o critério objetivo e único estipula-
do pela LOAS e de se avaliar o real estado de miserabilidade
social das famílias com entes idosos ou deficientes. Paralela-

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mente, foram editadas leis que estabeleceram critérios mais


elásticos para a concessão de outros benefícios assistenciais,
tais como: a Lei 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei
10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à
Alimentação; a Lei 10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei
9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio fi-
nanceiro a Municípios que instituírem programas de garantia
de renda mínima associados a ações socioeducativas. O Su-
premo Tribunal Federal, em decisões monocráticas, passou a
rever anteriores posicionamentos acerca da intransponibilida-
de dos critérios objetivos. Verificou-se a ocorrência do proces-
so de inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças
fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas
modificações legislativas dos patamares econômicos utilizados
como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais
por parte do Estado brasileiro). 4. Declaração de inconstitucio-
nalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3o,
da Lei 8.742/1993. 5. Recurso extraordinário a que se nega pro-
vimento. (RE 567985, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Rela-
tor(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julga-
do em 18/04/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG
02-10-2013 PUBLIC 03-10-2013)

Cumpre registrar, ademais, que no Recurso Especial no


1.112.557/MG, julgado conforme o procedimento previsto para
os recursos repetitivos (28/10/2009), o Superior Tribunal de
Justiça já havia se manifestado no sentido de que a limitação
do valor da renda familiar “per capita” não deveria ser conside-

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rada a única forma de se comprovar que a pessoa não possui


meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família.

Em 14/04/2016, a Turma Nacional de Uniformização de Juris-


prudência dos Juizados Especiais Federais (TNU), no julgamen-
to do PEDILEF no 5000493-92.2014.4.04.7002, fixou o enten-
dimento de que a renda familiar não deve ser o único critério
para se aferir a miserabilidade de quem pleiteia a concessão
de benefício assistencial. Para a TNU, portanto, não existe se-
quer presunção absoluta de miserabilidade em casos em que a
renda familiar “per capita” seja inferior a 1⁄4 do salário mínimo.
Será sempre imprescindível a avaliação da efetiva necessida-
de da prestação assistencial.

Registro, também, que, com a entrada em vigor da Lei no 13.146,


de 7 de julho de 2015, em 3 de janeiro de 2016, a Lei no 8.742,
de 1993, passou a prever expressamente a possibilidade de
utilização de outros critérios para a aferição da condição de
miserabilidade do idoso ou da pessoa com deficiência.

Por fim, ainda no que concerne à caracterização da miserabi-


lidade, a Lei no 10.741, de 2003 (Estatuto do Idoso), em seu
art. 34, parágrafo único, dispõe que o benefício assistencial de
prestação continuada concedido ao idoso não será computa-
do para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que
se refere a Lei no 8.742, de 1993. O Supremo Tribunal Federal,
no julgamento do RE no 580.963/PR, em 18/04/2013, declarou
a inconstitucionalidade do referido dispositivo, sem pronúncia

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de nulidade, por violação ao princípio da isonomia. Com efei-


to, para o Supremo Tribunal Federal, não haveria justificativa
plausível para a discriminação dos deficientes e dos idosos ti-
tulares de benefícios previdenciários no valor de até um salário
mínimo.

O Superior Tribunal de Justiça, por sua vez, no Recurso Espe-


cial no 1.355.052/SP, julgado conforme o procedimento previs-
to para os recursos repetitivos, em 25/02/2015, fixou a seguin-
te tese: “aplica-se o parágrafo único do artigo 34 do Estatuto
do Idoso (Lei no 10.741/03), por analogia, a pedido de benefí-
cio assistencial feito por pessoa com deficiência a fim de que
benefício previdenciário recebido por idoso, no valor de um
salário mínimo, não seja computado no cálculo da renda per
capita prevista no artigo 20, § 3o, da Lei no 8.742/93”.

Feitas essas considerações, passo à análise do caso concreto.

De acordo com o laudo médico pericial, é possível vislumbrar


que a parte autora possui deficiência física que acarreta a efe-
tiva redução de sua mobilidade - (CID: T92, S68.1 e M75). Por
sua clareza, cumpre transcrever trechos do referido laudo (com
destaques acrescidos):

1. O (a) periciando (a) é portador (a) de deficiência física (fisioló-


gica/ anatômica), mental, intelectual ou sensorial que acarrete
em efetiva redução de mobilidade, flexibilidade, coordenação
motora, percepção ou entendimento?

R- Sim, deficiência física, que acarrete em efetiva redução de

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mobilidade, flexibilidade do ombro direito.

1.1 Em caso positivo, indicar a natureza deste impedimento,


com o respectivo CID.

R- Sequela de trauma no ombro direito e amputação parcial


(falange distal) do 2o dedo da mão esquerda. CID T92 (S68.1,
M75). Obs. CID S62, S82.4, S04.9 (fraturas), T90 são incompa-
tíveis com quadro clínico atual. As patologias foram tratadas e
no momento apresenta sequelas.

1.2. É possível determinar a data de início da deficiência ou


doença? Justifique.

R- Desde 2008, conforme o histórico da doença narrado pelo


autor. [...]

3. Exame físico da (o) pericianda (o):

R- Pressão Arterial: 120/70 mmHg, Peso: 45 kg. Bom estado


geral, consciente, orientado no tempo e no espaço, atenção,
humor, a memória preservados, alegre, ativo, respondeu todas
as perguntas com clareza, leve escoliose, a frequência cardía-
ca e a respiratória normal, higiene pessoal satisfatória, entrou
na sala da perícia sozinho, sem uso de equipamento de apoio,
sem alteração da marcha. Com dor e leve limitação da amplitu-
de de movimento do ombro direito, referiu dor nos tornozelos,
amputação parcial (falange distal) do 2o dedo da mão esquer-
da, e cicatriz de ferimento no antebraço direito. Demais mem-
bros e a coluna sem alterações.

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[...]

7. Sendo o(a) periciando(a) portador(a) de deficiência, esta in-


capacita ou limita o(a) periciando(a) para o desempenho de ati-
vidades laborativas?

R- Não.

7.1 Se houver incapacidade laborativa, esta é:

R- Não há incapacidade laborativa por sequelas.

7.2 Se houver incapacidade laborativa, esta é definitiva (qua-


dro irreversível) ou temporária (possibilidade de ser revertida
com o devido tratamento):

R- Não há incapacidade laborativa por sequelas.

7.3 Se temporária, qual o prazo estimado para que seja reverti-


da com o devido tratamento?

R- Não há incapacidade laborativa por sequelas.

7.4 Se temporária e, não sendo possível fixar uma data esti-


mada para a reversão conforme perguntado no item anterior,
qual o prazo estimado para que o(a) periciando(a) se submeta
à nova avaliação médica?

R- Não há incapacidade laborativa por sequelas.

[...]

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11. Outras anotações:

Conclusão: Com base nos elementos, fatos expostos e anali-


sados, sob o ponto de vista da Medicina do Trabalho e com
embasamento técnico-legal, concluímos que o autor com diag-
nóstico de sequelas de trauma no ombro e amputação parcial
(falange distal) do 2o dedo da mão esquerda. Não há inca-
pacidade laborativa por sequelas. Apenas há restrições para
esforços físicos intensos, levantamento de peso, movimentos
repetitivos dos membros com elevação do braço acima de 90
graus (obs. A atividade habitual do autor não exige). O perician-
do não é incapaz de praticar os atos da vida civil.

Entretanto, apesar do laudo médico reconhecer a deficiência


da demandante, este concluiu que as referidas patologias não
a incapacitam para o desempenho de suas atividades labora-
tivas.

De acordo com o artigo 20, § 2o, da Lei no 8.742/93, “para efeito


de concessão do benefício de prestação continuada, conside-
ra-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,
o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.”

Sendo assim, o laudo pericial reconhece a deficiência física ao


afirmar que a parte autora é portador de Sequela de Trauma
no Ombro Direito e de Amputação Parcial (falange distal) do 2o

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dedo da mão esquerda. Contudo, conclui pela inexistência de


“incapacidade”, pois a parte, apesar de apresentar certa restri-
ção, é segundo o laudo pericial “capaz para o exercício de suas
atividades laborativas”.

Todavia, a conclusão do laudo pericial deve ser analisada sob


o enfoque do conceito legal de deficiência para fins de per-
cepção de Loas. Note-se que a lei busca contemplar com o
benefício assistencial pessoas que enfrentem impedimento de
longo prazo que tenha potencial de “obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com
as demais pessoas.”.

Logo, levando em consideração aos elementos sociais apresen-


tados nos autos, vê-se que o autor, hoje com 65 anos de idade,
é portador de diversas sequelas proveniente de um infortúnio
automobilístico, atualmente sem qualquer tipo de tratamento
médico. Por estas razões, não há dúvida que a deficiência da
parte autora, agravada pelo estado de miserabilidade, cria um
obstáculo intransponível a alcançar a desejada igualdade de
condições com as demais pessoas de sua idade.

Já em relação ao requisito da miserabilidade, o laudo socioe-


conômico apontou que a parte autora vive em situação de ex-
trema miserabilidade e vulnerabilidade social, visto que o autor
mora em imóvel alugado, em péssimo estado de conservação,
conforto e higiene. Já no que tange ao proveito econômico,
embora a renda esporádica (R$ 600,00) percebida pela parte
autora ultrapasse o critério objetivo de 1⁄4 do salário-mínimo,

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entendo que se fazem presentes motivos que autorizam ame-


nizar a regra do art. 20 § 3o da Lei 8.742/93, diante da mani-
festa vulnerabilidade social, principalmente das condições de
moradia apresentadas no relatório fotográfico.

Destarte, presentes os seus requisitos, concluo que a parte au-


tora faz jus à concessão do benefício assistencial de presta-
ção continuada com data do início do benefício (DIB) na data
de entrada do requerimento administrativo, que se deu em
29/05/2018.

As prestações vencidas devem ser corrigidas monetariamente


pelo IPCA-E (RE no 870.947).

Quanto aos juros moratórios, não se tratando de causa que


verse sobre relação jurídico-tributária, devem ser observados
os critérios dispostos no art. 1o-F da Lei no 9.494, de 1997, que
determina a aplicação dos índices oficiais de remuneração bá-
sica e juros aplicados à caderneta de poupança, a partir de
30/06/2009, quando entrou em vigor a Lei no 11.960, de 2009.
Ademais, cumpre ressaltar que eles são devidos a partir da ci-
tação, em relação às parcelas a ela anteriores, e de cada ven-
cimento, no tocante às subsequentes.

III - DISPOSITIVO

Diante do exposto, com fundamento no art. 487, I, do Código


de Processo Civil, julgo PROCEDENTE o pedido formulado pela
parte autora, para condenar a parte ré a:

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a) a proceder à implantação do benefício assistencial de presta-


ção continuada em favor da parte autora, com renda mensal de
um salário mínimo e DIB em 29/05/2018 e DIP em 1o/10/2019;

b) efetuar o pagamento das prestações vencidas entre a DIB e


a DIP, corrigidas monetariamente pelo IPCA-E e acrescidas de
juros de mora, a partir da citação, em relação às parcelas a ela
anteriores, e de cada vencimento, no tocante às subsequentes,
nos termos do art. 1o-F da Lei no 9.494, de 1997, como consig-
nado na fundamentação.

Por fim, com fulcro no art. 300 do Código de Processo Civil,


concedo a tutela provisória de urgência, para determinar que
o INSS promova a implantação do benefício assistencial de
prestação continuada, observada a DIP acima fixada, no pra-
zo de 30 (trinta) dias, porquanto se encontram presentes os
seus requisitos. A probabilidade do direito foi devidamente de-
monstrada na fundamentação e o perigo de dano decorre da
natureza alimentar do benefício, substitutivo da remuneração e
necessário à subsistência do autor.

Defiro o pedido de gratuidade da justiça.

Condeno a parte ré a restituir os honorários periciais, nos ter-


mos do art. 12, § 1o, da Lei no 10.259, de 2001.

Sem condenação ao pagamento de custas e honorários advo-


catícios, nos termos do art. 55 da Lei no 9.099, de 1995.

Registre-se.

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Intimem-se.

CUIABÁ (MT), 11 de novembro de 2019.

FRANCISCO ANTÔNIO DE MOURA JÚNIOR


Juiz Federal Substituto em Substituição na 9a Vara/MT

02. QUANDO ELE DEVE SER EFETUADO?

O CADÚNICO, deve ser atualizado a cada 02 (dois) anos, e você deve


estar de posse da cópia do seu cliente, quando efetuar o pedido na es-
fera administrativa, ou seja, é requisito pré determinado ao pleito.

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DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


- LEI 13.146 DE 2015
Importante lembrar, que de acordo com a convenção de Nova Iorque
(2007), a expressão correta a se utilizar é a referida acima. Jamais utili-
zem em suas petições, outras formas de se denominar o requerente de
BPC, nesses casos.

Nesse sentido, apenas haverá deficiência no caso concreto. Por essa ra-
zão, a melhor expressão é “pessoa com deficiência”. Conforme exposto
adiante, desenhos universais, que possibilitam o pleno uso de espaços,
eliminam a deficiência em casos específicos. Significa, portanto, que a
pessoa apenas terá deficiência em face do meio externo, em face da di-
ficuldade de se integrar à sociedade (BEVERVANÇO, 2001, p. 5).

A Convenção de Nova Iorque (2007), em seu artigo 1, conceitua a “pes-


soa com deficiência” como:

“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos


de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou senso-
rial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obs-
truir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualda-
des de condições com as demais pessoas”.

Tendo trazido essas informações, ainda que, de maneira breve, pode-


mos concluir que, deficiência não se confunde com incapacidade labo-
ral, especialmente para fins de concessão de Amparo Assistencial.

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DA DIFERENÇA ENTRE
DEFICIÊNCIA E INCAPACIDADE
LABORAL
Eu já tive diversas Ações, em que o médico perito, ao analisar o meu
cliente na esfera judicial, concluiu pela existência de deficiência, porém,
não pela incapacidade laboral, e o nobre magistrado, mesmo após ma-
nifestação, indeferiu nestes termos a concessão do amparo assistencial.
Casos inclusive, de menores de idade, crianças de 4 anos, em que tive o
desprazer de ler em sentença, que “por tratar-se de criança”, não havia
incapacidade laboral, portanto, não faria jus ao benefício.

Ora vejam, por parte do médico o despreparo nos requisitos e concei-


tos diferentes, entre os benefícios é aceitável, pois foge da sua esfera
de domínio, digamos assim. Mas magistrados e nós advogados, jamais
podemos confundir os diferentes conceitos, dos benefícios por incapa-
cidade, especialmente os específicos da LOAS.

Incapacidade Laboral, para atividade habitual é conceito para


concessão de Auxílio-doença e seus adjacentes.

Quando falamos de Amparo Assistencial, nos referimos à pessoas com


deficiência, que implicam em impedimento de longo prazo, e que a
impeça de conviver e sobreviver em igualdade de condições com os
demais.

Essa alteração no conceito, veio com a alteração da redação original, do


art. 20, parágrafo 2º da LOAS, pelo estatuto da pessoa com deficiência,
Lei 13.146/15.

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VIDE SÚMULA 29 DA TNU

Para os efeitos do art. 20, § 2º, da Lei nº 8.742, de 1993, incapa-


cidade para a vida independente não é só aquela que impede
as atividades mais elementares da pessoa, mas também a im-
possibilita de prover ao próprio sustento.

VIDE SÚMULA 48 DA TNU

Para fins de concessão do benefício assistencial de prestação


continuada, o conceito de pessoa com deficiência, que não se
confunde necessariamente com situação de incapacidade la-
borativa, exige a configuração de impedimento de longo prazo
com duração mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido no caso
concreto, desde o início do impedimento até a data prevista
para a sua cessação.

Devemos ter atenção redobrada aos prazos, com relação à essa dura-
ção mínima de 2 (dois) anos. Podemos demonstrar, como faço muitas
vezes, que a doença vem se arrastando há algum tempo, e que o prog-
nóstico de melhora é ínfimo, diante da falta de tratamento adequado, ou
de algum caráter degenerativo, incurável, ou estigmatizada da doença.

O HIV É UM CASO TÍPICO, EM QUE A DOENÇA PODE ESTAR EM RE-


MISSÃO (ESTÁGIO NÃO AGUDO), CONTROLADA POR MEDICAÇÃO,
EM QUE A VULNERABILIDADE DO CIDADÃO É LATENTE, DEVIDO AO
GRANDE ESTIGMA DA DOENÇA.

COMPETÊNCIAS

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A redação originária do art. 109, §§ 3º e 4º, da CF, estabelecia


que nos locais onde não houvesse vara federal, seriam pro-
cessadas e julgadas na Justiça Estadual, no foro de domicílio
dos segurados ou beneficiários, as causas em que fosse parte
instituição de previdência social.

De acordo com a nova redação do art. 15, III, da lei 5.010/66,


com a redação dada pela lei 13.876/2019: Vale dizer que agora,
à partir de Janeiro de 2020, de acordo com as alterações, a
competência delegada da Justiça Estadual foi restringida na
esfera comum. As comarcas de domicilio de segurados, que
estejam em até 70 KM de distância da próxima vara Federal,
deverão ser ajuizadas na esfera FEDERAL. O que quer dizer,
que podemos concluir, que ao menos 60% das Ações Previ-
denciárias, com exceção, da competência residual, das ações
ditas Acidentárias (oriundas de acidente de trabalho), tramita-
rão, nas varas FEDERAIS.

Como forma de alento, a Justiça Federal já tem unidades em


várias cidades do país, embora ainda não tenha alcançado o
grau de interiorização equivalente ao da Justiça Estadual.

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SEGUNDA ETAPA
DO CICLO
Uma pequena entrevista deve ser feita ao cliente que adentra o seu
escritório, com intuito de perceber Amparo Assistencial ao Idoso ou ao
Deficiente.

Primeiramente, para diagnóstico do benefício cabível, terás que saber:

01 – O que ele tem, em termos de doença? Se for doença tratável e


curável, dificilmente o enquadraremos em doença de longo prazo,
que o impeça de conviver em igualdade de condições com os demais?

Exemplos: Alguns tipos leves de epilepsia, doenças de pele que não


sejam graves, somente pressão alta, entre outras.

02 – Qual a idade? Se LOAS idoso.

03 – Reside com quem?

04 – É casa alugada, cedida ou própria?

05 – Quanto cômodos possuem a casa?

06 – Possui veículo? Se sim, novo ou não?

07 – Se ninguém tem renda na casa, que o mantém? Igreja? Casa de


caridade? Filhos ajudam?

08 – Se sim para qualquer das perguntas acima, com qual valor?

09 – Recebe algum tipo de benefício? Bolsa-família? Se sim, quanto?

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10 – Se alguém do grupo familiar tem renda, qual o valor? (pegue ex-


trato, holerites, etc)

11 – Compra medicações ou pega em farmácias do governo?

12 – Tem indicação de cirurgia? Tem acesso ao tratamento adequado?

É preciso reforçar que você, como advogado, deve entrar no


meu.inss.gov.br, e verificar todas as informações constantes no
CNIS desse cidadão. Muitas pessoas chegam ao meu escritório
querendo aposentar-se, quando na verdade estão se referindo
ao BPC. Ou tem os que querem receber a pensão por morte
da esposa, quando na verdade aquela nunca fora aposentada,
mas sim, recebia LOAS.

O amparo assistencial morre, com quem o detém. Não gera


pensão, e não passa de uma pessoa à outra.

Ele pode ser acumulado com outros Amparos Assistenciais


dentro do mesmo grupo familiar. Já atendi mães que tinham
mais de 1 filho, recebendo LOAS, por doenças congênitas.

Podemos fazer dois pedido na mesma casa, LOAS Idoso +


LOAS Deficiente para casais. Lembrem-se Amparo não é ren-
da, portanto, não conta como tal.

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CHECKLIST DOCUMENTAL
BPC/LOAS

Além de uma boa “entrevista” ao cliente BPC, é primordial que se traba-


lhe com um checklist documental, ou seja, conheça o rol de documentos
que são importantes, essenciais e indispensáveis para a construção da
demanda, seja em sede administrativa ou judicial.

Sendo assim, preparei para você logo abaixo o rol de documentos, bem
como a aplicação prática de cada um deles:

1. DOCUMENTOS PESSOAIS

1.1 CÉDULA DE IDENTIDADE (RG)

1.2 COMPROVANTE DE CADASTRO DE PESSOA FÍSICA (CPF)

1.3 COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA (Em nome do cliente ou de


algum parente próximo – em sendo residência alugada, apresentar
contrato de locação.

*Em casos de casa cedida, ou abrigo, utilizamos uma declaração do


responsável pelo local. – Modelo 1, pg.

Obs.: Deverão ser apresentados os documentos pessoais de iden-


tificação acima descritos não apenas do cliente, mas também de
cada componente do grupo familiar.

2. COMPROVANTE DE INSCRIÇÃO NO CADASTRO ÚNICO (CadÚ-


nico)

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Conforme já explicado, o CadÚnico obrigatoriamente deverá ser atuali-


zado a cada dois anos. É importante verificar antes de se juntar:

Se existe a necessidade de promover atualização ou até mesmo


correção no CadÚnico.

Se existe algum membro que não faz parte mais daquele núcleo
familiar.

Se houve alteração de renda.

Se houve o ingresso de um novo membro.

3. FORMULÁRIO PADRÃO DO INSS DA COMPOSIÇÃO DA RENDA


FAMILIAR

A qualificação de cada um dos membros do grupo familiar com a descri-


ção de sua renda.

4. FORMULÁRIO PADRÃO DO INSS DA COMPOSIÇÃO DO GRUPO


FAMILIAR

A qualificação de cada um dos membros do grupo familiar.

5. TERMO DE REQUERIMENTO (Padrão INSS. É a autorização do Re-


querente).

6. PROCURAÇÃO (No padrão exigido pelo INSS, ou seja, com cláusu-


la especifica para representação perante a Autarquia)

7. CARTEIRA DE TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL (CTPS)

Mesmo na ausência de anotação é importante apresentar para fins de

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prova, ou seja, a demonstração da ausência de vínculo empregatício.


Ajuda na demonstração de vulnerabilidade.

8. DOCUMENTOS PESSOAIS DO ADVOGADO (Em sede administra-


tiva)

9. LAUDO SOCIAL DO CENTRO DE REFERÊNCIA E ASSISTÊNCIA


SOCIAL - CRAS

Em algumas regiões o CRAS dispõe de visita domiciliar com emissão de


parecer técnico por parte de assistente social. O requerente solicita no
CRAS a visita e o parecer técnico, poderá ser utilizado como meio de
prova da vulnerabilidade.

Obs.: Esse documento não é obrigatório! Verifique se há essa possibili-


dade e/ou necessidade.

10. DOCUMENTOS MÉDICOS ATUALIZADOS

É importante construir uma linha temporal com documentos médicos


mais antigos e os mais recentes (considere recente até 6 meses antes
da DER ou judicialização).

Obs.: O BPC exige impedimento de longo prazo, como longo prazo é


entendido parecer médico atestando a deficiência impeditiva por no mí-
nimo 2 (dois) anos. Sendo assim, cuidado para não apresentar laudos
médicos com tempo determinado inferior a este prazo.

11. COMPROVANTE DO BOLSA-FAMÍLIA (se for o caso)

O fato do cliente receber bolsa-família já é um indicativo de possível vul-

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nerabilidade socioeconômica.

12. FOTOS DA RESIDÊNCIA (pedir com antecedência ao cliente e ve-


rificar a estrutura do lar – pode juntar também em sede administrativa)

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TERCEIRA ETAPA
DO CICLO

De posse de toda a documentação acima, caso o requerente ainda não


tenha solicitado o benefício junto ao INSS, você o fará, diretamente pelo
site, quando anexará toda a documentação do autor, e o Requerimento
de BPC (obrigatório) + a composição do Grupo Familia, devidamente
preenchida, além do CRAS.

Lembre-se, você é advogado, foi contratado para isso, e deve atuar no


processo. Não passe esses documentos para o requerente preencher,
até mesmo porque, na grande maioria das vezes, ele nem saberá fazê-
-lo.

Sabemos que toda e qualquer solicitação, hoje, é feita mediante o site


do INSS, online e digital, em que não existe a necessidade de compare-
cimento pessoal.

Após esse procedimento, acompanhe seu pedido semanalmente, pois


nos pedidos de BPC, o INSS costuma marcar primeiro uma entrevista
com assistente social, na APS mais próxima, e em seguida a perícia mé-
dica. Podem ocorrer em datas diversas, ou não. O Importante é acompa-
nhar, tanto pelo site, quanto pelo seu e-mail, que já deverá constar nos
autos administrativos, no momento do protocolo. Nesse caso, todo e
qualquer andamento, chegará para você, via e-mail.

DICAS:

Não protocole seu pedido, faltando documentos. Esteja de posse

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de todos eles, digitalize-os, e então dê entrada no direito do re-


querente, a fim de se evitar quaisquer maiores delongas por parte
da autarquia, mediante cartas de exigências.

Após 30 dias, deve-se ter resultado ou carta de exigência, por


meio de comunicado via E-mail. Esse prazo ainda não vem sendo
cumprido!!!

O INSS demora um pouco mais. Contudo, um processo bem instruído,


trará um resultado eficaz.

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QUARTA ETAPA
DO CICLO

A JUDICIALIZAÇÃO DAS AÇÕES DE AMPARO ASSISTENCIAL

Na prática, na grande maioria dos casos, o INSS nega esses pedidos.


Digamos, que a média seja de 40% dos processos, deferidos, apenas.

Nesse caso, compete à você recorrer à esfera Judicial, para obter com
êxito o direito do requerente, aquele que está em situação de vulnerabi-
lidade física e social.

AS NEGATIVAS PODEM DAR-SE POR:

“Não há impedimento de longo prazo”

“Não foi constatada miserabilidade do grupo familiar”

“Não compareceu ou não apresentou documentos necessários”


(aqui você terá um problema para judicializar, uma vez que se faz
necessário que haja uma negativa fundamentada pela autarquia).

Nessas Ações Judiciais, não ocorrem audiências, salvo em casos de mu-


tirões, em que o INSS tem interesse em propor acordo. Mas é muito raro,
uma vez que, até mesmo esses acordos têm sido feitos por meio de pe-
tições no autos.

Primeiramente o advogado deve certificar-se de que não há litispendên-


cia. É extremamente comum, que tenham-se ajuizados pedidos anterio-
res, desde que você esteja de posse de novos laudos médicos, e aquele

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pedido antigo já tenha o trânsito em julgado certificado.

Posto isso, o magistrado determinará Perícias Médicas e Estudo Psicos-


social, com Assistente Social, à depender do motivo da negativa.

Na perícia médica, o advogado deverá novamente utilizar suas técnicas


e todo seu conhecimento previdenciário, na elaboração dos quesitos,
que deverão ser extremamente direcionados à finalidade pretendida.
Como já dito alhures, a maioria dos médicos, acha que todo pedido é de
Auxílio-doença. Esteja atento!!!

O advogado previdenciarista deverá agir da mesma forma, quando for o


momento da manifestação sobre esse laudo médico.

Caso seja necessária a elaboração de laudo socioeconômico por assis-


tente social. Costumo deixar os quesitos à cargo do próprio magistrado.
Normalmente se anexam fotografias da casa, e dos móveis que guarne-
cem a residência. Por isso, o cuidado na triagem das Ações de amparo
assistencial é muito relevante. Nos meus casos concretos, as fotos e
imagens falam por si, com relação à miserabilidade daquele meu cliente.

Já atuei em Ação, em que a visita pela assistente social foi feita na cal-
çada, pois meu cliente sequer tinha um teto para morar.

OBS:

Salvo em casos extremos, essa pericia social “ in loco”, somente é


feita em sede judicial. Contudo, se constatadas muitas divergên-
cias de informações em sede de INSS, o próprio CRAS determina
uma visita da assistente social. Raridade, que já ocorreu comigo.

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Por fim, atentem-se sempre, se o Benefício foi concedido desde


a DER (Data de Entrada no Requerimento Administrativo), e se
não foi , certifiquem-se, de que o motivo merece prosperar.

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INTERPRETANDO
E APLICANDO AS PRINCIPAIS
SÚMULAS EM BPC/LOAS

Neste capítulo vamos estudar as principais súmulas em se tratando de


Benefício de Prestação Continuada, e como aplica-las no dia-a-dia da
advocacia previdenciária.

01. SÚMULA 11 DA TNU: A renda mensal, per capita, familiar, superior


a ¼ (um quarto) do salário mínimo não impede a concessão do
benefício assistencial previsto no art. 20, §3º da Lei nº. 8.742 de
1993, desde que comprovada, por outros meios, a miserabilidade
do postulante.

Ora, muito embora no âmbito administrativo o INSS seja objetivo na ava-


liação do critério de renda per capita, judicialmente é possível demons-
trar a necessidade de flexibilização deste critério devido a outros fatores
socioeconômicos.

Neste sentido, é importante lembrar do §11, do art. 20, da Lei 8.742/93:


“para a concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, po-
derão ser utilizados outros elementos probatórios da condição de mise-
rabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme
regulamento”.

02. SÚMULA 79 DA TNU: Nas ações em que se postula benefício as-


sistencial, é necessária a comprovação das condições socioeco-
nômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de cons-

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tatação lavrado por oficial de justiça, ou, sendo inviabilizados os


referidos meios, por prova testemunhal.

Gosto da aplicação desta súmula no seguinte sentido. É importante sem-


pre lembrar que no Direito não existe um conceito pleno e “fechado” de
prova. Ou seja, a vedação se dá em relação à prova ilícita, mas em não
sendo, tudo o que for possível é permitido para se demonstrar o direito
pleiteado.

Sendo assim, jamais esqueça que a audiência é também possível no


processo de BPC/LOAS, a fim de que se complemente as provas docu-
mentais e já constituídas nos autos do processo.

E no âmbito administrativo? Temos a justificação administrativa!

O art. 142 do Decreto 3.048/99 dispõe que “a justificação administrativa


constitui meio para suprir a falta ou a insuficiência de documento para
produzir prova de fato ou circunstância de interesse dos beneficiários
perante a previdência social.

03. SÚMULA 48 DA TNU: Para fins de concessão do benefício assis-


tencial de prestação continuada, o conceito de pessoa com defi-
ciência, que não se confunde necessariamente com situação de
incapacidade laborativa, exige a configuração de impedimento de
longo prazo com duração mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido no
caso concreto, desde o início do impedimento até a data prevista
para a sua cessação.

Já citamos esta diferenciação aqui no nosso guia prático, mas vale a


pena ressaltar, conforme dispõe a súmula, que o conceito de incapaci-

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dade não se confunde com o conceito de deficiência. Ou seja, o BPC


possui natureza assistencial, já os conceitos que envolvem incapacida-
de laborativa, via de regra, se aplicam aos benefícios previdenciários.

a) Incapacidade: Incapacidade laborativa é a impossibilidade de de-


sempenho das funções específicas de uma atividade, função ou
ocupação habitualmente exercida pelo segurado, em consequên-
cia de alterações morfopsicofisiológicas provocadas por doença ou
acidente (Manual Técnico de Perícia Previdenciária 2018, página
26, capítulo VII).

b) O conceito de deficiência está definido na Lei nº. 13.146/2015, que


dispõe:

Art. 2º. Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impe-
dimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualda-
de de condições com as demais pessoas.

04. SÚMULA 22 DA TNU: Se a prova pericial realizada em juízo dá


conta de que a incapacidade já existia na data do requerimento
administrativo, esta é o termo inicial do benefício assistencial.

Súmula importante, principalmente pelo fato de que precisamos “bata-


lhar” perante o Judiciário em relação à fixação da DER, ou melhor dizen-
do, a fixação dos efeitos financeiros, ou seja, Data de Início do Benefício
(DIB) e Data de Início dos Pagamentos (DIP).

Acontece que muitas vezes os Magistrados não concedem o benefício

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desde a DER (Data de Entrada do Requerimento), por haver decorrido


muito tempo desde então até a judicialização.;

No entanto, não há qualquer amparo legal para tanto. Importa unica-


mente demonstrar que à época do indeferimento administrativo, da pre-
tensão resistida, todos os requisitos estavam preenchidos.

05. SÚMULA 29 DA TNU: Para os efeitos do art. 20, § 2º, da Lei n.


8.742, de 1993, incapacidade para a vida independente não é só
aquela que impede as atividades mais elementares da pessoa,
mas também a impossibilita de prover ao próprio sustento.

Importante lembrar que na construção do BPC/LOAS o art. 20 da Lei


8.742/93, assim dispõe: Art. 20. O benefício de prestação continuada
é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e
ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida
por sua família.

Ou seja, é importante a demonstração de que não apenas o requerente


não possui meios de prover sua própria manutenção, mas também não
a pode tê-la provida por familiares.

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SOLUCIONANDO OS
PRINCIPAIS PROBLEMAS
EM BPC/LOAS

Neste capítulo quero pontuar e te orientar em relação às principais pro-


blemáticas que podem surgir no curso do seu processo BPC/LOAS ad-
ministrativo e/ou judicial e como solucioná-las.

01. QUESTÕES ENVOLVENDO CADASTRO ÚNICO

Como você já aprendeu, segundo o art. 20, §12 da Lei 8.742/93, “são
requisitos para a concessão a manutenção e a revisão do benefício as
inscrições no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico, conforme pre-
visto em regulamento”.

Neste sentido, portanto, quais seriam as principais e mais comuns situ-


ações que podem surgir e “atrapalhar” o seu processo, que sejam rela-
cionadas a CadÚnico?

a) Cadastro Único desatualizado: conforme você já aprendeu, é im-


portante sempre observar se o cadastro único de seu cliente se
encontra atualizado, uma vez que a obrigatoriedade de atualização
é à cada 2 (dois) anos ou sempre que houver alteração/mudança
no grupo familiar, na renda ou número de membros;

b) Outra situação que você poderá se deparar poderá ser o CadÚni-


co de seu cliente incoerente com a realidade: como assim? Imagi-

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na que ao verificar as informações constantes no Cadastro de seu


cliente estas estejam incompatíveis com a realidade, por exemplo,
do número de membros, da composição do grupo familiar, ou, o
mais comum, a renda per capita e renda total calculadas de forma
incorreta.

Atenção! Em ambos os casos será importante que se promova a atuali-


zação ou correção no Cadastro, a fim de que ele não contenha informa-
ções incoerentes com o que você apresentará no curso do processo.

A Portaria Conjunta nº 3 de 21 de setembro de 2018, no art. 8º, III,


dispõe que “a renda familiar per capita será calculada utilizando as
informações do Cadúnico bem como dados de outros registros admi-
nistrativos, quando necessário (...)”.

O que isso significa? Significa que o servidor do INSS poderá se utilizar


das informações constantes no Cadastro como meio de prova para fins
de concessão ou indeferimento do benefício pleiteado. Daí a importân-
cia da verificação e manutenção do Cadastro Único em coerência com
as demais provas apresentadas.

02. QUESTÕES ENVOLVENDO A COMPOSIÇÃO


DO GRUPO FAMILIAR

É possível que você também encontre dificuldades relacionadas à cons-


trução do grupo familiar do Requerente BPC/LOAS para fins de cálcu-
lo da renda familiar per capita. Portanto, aqui vão duas orientações de
ouro.

A primeira delas você já viu aqui no Guia Prático, mas só recapitulando:

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o §14 do art. 20 da Lei 8.742/93 dispõe que “o benefício de prestação


continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1 (um) salá-
rio-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de
idade ou pessoa com deficiência não será computado para fins de con-
cessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa
com deficiência da mesma família, no cálculo da renda a que se refere
o §3ªº deste artigo”.

Bom, como você já aprendeu, daí a importância de que na construção


do processo você verifique se existem integrantes que se enquadram
em uma destas hipóteses de dispensa acima elencadas.

Não obstante, a segunda orientação dentro deste tema encontra guari-


da na Portaria Conjunta nº. 3 de 21 de setembro de 2018, especialmen-
te no art. 8º, §1º, que assim dispõe:

§1º. Não compões o grupo familiar para efeitos de cálculo da


renda mensal familiar per capita:

I – o internado ou acolhido em instituições de longa permanên-


cia como abrigo, hospital ou instituição congênere;

II – o filho ou o enteado que tenha constituído união estável,


ainda que resida sob o mesmo teto;

III – o irmão, o filho ou o enteado que seja divorciado, viúvo


ou separado de fato, ainda que vivam sob o mesmo teto do
requerente; e

IV – o tutor ou curador, desde que não seja um dos elencados


no rol do §1º do art. 20 da Lei nº. 8.742/93.

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Sendo assim, além das possibilidades de despensa do computo de ren-


da para fins de fixação de renda per capita do grupo familiar, descritas
no §14 do art. 20 da Lei 8.742/93, é importante que você advogado (a)
tenha sempre em mente as figuras descritas acima que também não te-
rão suas rendas computadas para fins destes cálculos. Inclusive, chamo
a atenção principalmente para a figura do tutor ou curador, objeto de
dúvida de muitos previdenciaristas.

03. QUESTÕES ENVOLVENDO A ESTRUTURA FÍSICA DO LAR E BENS


DE VALOR

Um dos maiores temores, principalmente na esfera judicial, é ter o be-


nefício indeferido devido à estrutura física do lar do Requerente BPC/
LOAS. Infelizmente sabemos que muitas vezes a mera existência de um
eletrodoméstico de valor mais elevado, ou até mesmo uma despensa
um pouco mais abastecida, pode ser a “fundamentação” para uma im-
procedência em sede judicial.

Pensando nisto, desenvolvi uma metodologia prática que pode te ajudar


a trazer ao processo as devidas “explicações” em se tratando da realida-
de fática do seu cliente.

Bom, em um primeiro momento vale a pena ressaltar que na esfera ad-


ministrativa não existe a visita, ou perícia, domiciliar, sendo assim é me-
nos provável que esse tipo de “preconceito” ocorra. Contudo, é preciso
estar preparado para se antecipar (grave esta palavra) no que diz res-
peito à esfera judicial.

Conforme você já viu, um bom atendimento, uma boa entrevista ao clien-


te BPC/LOAS, é fundamental. Ou seja, é importante que o cliente esteja

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à vontade com você e não oculte nenhum tipo de informação.

Se possui bens em seu nome (imóvel, veículo); se possui algum eletro-


doméstico no lar de valor mais elevado e possa causar “estranheza” ao
Magistrado; se desenvolve algum tipo de pequeno negócio em seu lar
(bombons; costura; etc.).

É importante que você advogado (a), ao estar ciente destas informa-


ções, consiga trazer as devidas explicações de forma antecipada, não
demonstrando ter sido “pego de surpresa” na perícia social.

É comum, por exemplo, que alguém em situação de vulnerabilidade re-


ceba doações, ajuda de vizinhos, de comunidades do bairro. Muitas ve-
zes algum bem de mais valor, ou até mesmo alguma recente reforma
no lar, só foi possível por doação de alguém. Até mesmo “a sobra” de
materiais de construção de algum outro vizinho.

Neste sentido, desenvolvi 3 Perguntas Chave para explicar bens de va-


lor no lar:

a) Em que época adquiriu o Bem?


b) Como adquiriu o Bem?
c) Por que valor adquiriu o Bem?

Veja que com estas três perguntas chave você conseguirá entender e
fundamentar no processo que a mera existência destes bens não signifi-
cará, por si só, a inexistência de vulnerabilidade socioeconômica.

Muitas vezes o cliente adquiriu o bem em alguma época de sua vida que
era melhor financeiramente (pergunta “a”). Conforme já dito, talvez o

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cliente recebeu aquele bem através de alguma doação (pergunta “b”). É


possível até mesmo que aquele bem tenha sido adquirido por um valor
muito inferior ao que realmente vale (pergunta “c”).

04. COMO REALIZAR O LEVANTAMENTO DAS DESPESAS

Por fim, conforme você já aprendeu, na construção do processo BPC/


LOAS, tanto na esfera administrativa quanto judicial, é importante que
se faça o levantamento das despesas, a fim de que se demonstre que a
renda per capita do grupo familiar é insuficiente para custear a manuten-
ção da subsistência do Requerente (seu cliente).

Importância esta, inclusive, conforme citamos anteriormente, para fins


de flexibilização do critério de ¼ do salário-mínimo vigente.

SÚMULA 11 DA TNU: “A renda mensal, per capita, familiar, supe-


rior a ¼ (um quarto)do salário mínimo não impede a concessão
do benefício assistencial previsto no art. 20, §3º da Lei 8.742 de
1993, desde que comprovada, por outros meios, a miserabilidade
do postulante.

Neste sentido, quero te ajudar com uma metodologia prática para cons-
trução e levantamento das despesas do grupo familiar dividindo por nú-
cleos, da seguinte forma:

a) Despesas com Alimentação;


b) Despesas com Educação;
c) Despesas com Transporte;
d) Despesas com Vestuário;
e) Despesas com Higiene;

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f) Despesas com Tratamento Médico;


g) Despesas com a manutenção da residência (água, energia, alu-
guel, etc.);
h) Despesas com medicamentos;
i) Despesas com alimentação especial;
j) Despesas com exames médicos periódicos;
k) Despesas com consultas;
l) Outros.

Quero te deixar ainda com duas orientações de ouro. A primeira delas,


sempre levante despesas não apenas do seu cliente (o Requerente do
benefício), mas procure saber também se outros componentes do grupo
familiar não já possuem seus próprios gastos pessoais, inclusive extra-
ordinários, com medicação, tratamento, etc., para que você traga essa
informação a favor do seu pleito.

A segunda orientação se dá no fato de que alguns advogados encon-


tram dificuldades em levantar despesas, pois seu cliente sequer possui
condição financeira de arcar com a compra de medicamentos. Sendo
assim, desenvolvi a técnica de solicitar ao cliente os orçamentos destes
medicamentos e outros elementos que lhe sejam necessários e que
ele não possui condições financeiras de comprar por viver em vulne-
rabilidade.

Na prática, por exemplo, solicita ao teu cliente que possui receitas médi-
cas que vá até uma farmácia e pegue o orçamento da compra daqueles
medicamentos. Essa será, inclusive, uma boa argumentação que você
pode se utilizar no processo demonstrando que seu cliente sequer pos-

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sui condições de comprar os medicamentos que necessita.

Então grave essa palavra: orçamentos. O cliente não possui condição


de comprar? Não tem recibo de compra? Orçamento!

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CONSTRUINDO A DEFESA
MOB EM BPC/LOAS

Afinal de contas, o que é a DEFESA – MOB que tanto se fala?

O MOB significa “Monitoramento Operacional de Benefícios” e é o con-


trole operacional encarregado por fazer o acompanhamento dos benefí-
cios concedidos e detectar os casos em que exista indicação de irregu-
laridade.

Sendo assim, a APS, ao identificar indícios de irregularidades em bene-


fícios ou serviços previdenciários, deverá formalizar o processo de apu-
ração e análise dos procedimentos adotados.

O MOB também conta com o serviço para que o beneficiário apresente


defesa, dentro dos casos de apuração de irregularidade, a fim de que se
demonstre de fato fazer jus ao benefício.

DOS PRAZOS PARA APRESENTAÇÃO DE DEFESA

Art. 179, §1º, do Decreto 3.048/99:

§ 1º. Na hipótese de haver indícios de irregularidade ou erro


material na concessão, na manutenção ou na revisão do bene-
fício, o INSS notificará o beneficiário, o seu representante legal
ou o seu procurador para apresentar defesa, provas ou os do-
cumentos dos quais dispuser, no prazo de:

I - trinta dias, no caso de trabalhador urbano; ou

II - sessenta dias, no caso de:

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a) trabalhador rural individual;

b) trabalhador rural avulso;

c) agricultor familiar; ou

d) segurado especial.

(...)

§ 5º O INSS notificará o beneficiário quanto à suspensão do


benefício de que trata o § 4º, que disporá do prazo de trinta
dias, contado da data de notificação, para interposição de re-
curso.

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO PARA APRESENTAÇÃO


DA DEFESA

1.1 PLATAFORMA DO MEU INSS DO BENEFICIÁRIO

1.2 AGENDAMENTO/SOLICITAÇÕES

1.3 NOVO REQUERIMENTO

1.4 SERVIÇO: ”Apresentar Defesa – MOB”

1.5 PREENCHA OS DADOS NECESSÁRIOS E JUNTE OS DOCUMEN-


TOS PROBATÓRIOS (inclusive a petição)

DA PETIÇÃO ADMINISTRATIVA DE DEFESA

Inicialmente, importante identificar o objeto manifesto motivo da apura-


ção do indício de irregularidade, ou seja, quais os pontos a serem de-
fendidos.

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Em se tratando de BPC podem ser:

a) Ausência de atualização do cadúnico;


b) Renda per capita do grupo familiar ultrapassa o limite legal estabe-
lecido;
c) Ocultação de componentes do grupo familiar;
d) Requerente com algum vínculo empregatício em aberto;
e) Denúncia da parte de terceiros; ou até
f) Questões relacionadas à própria existência ou não da deficiência
de longo prazo.

Sendo assim, sua defesa será construída em cima de um ou mais destes


tópicos acima descritos. Deverá se ter em mente que o objetivo é de-
monstrar que o beneficiário de fato faz jus ao benefício, e cumpre com
os requisitos legais estabelecidos.

É possível que se tenha que trazer alguma explicação, ou apresentação


de documentação. Por exemplo, em se tratando de um vínculo empre-
gatício antigo em aberto, mas que o beneficiário de fato não possua
mais, será importante apresentar documento hábil demonstrando que
o beneficiário não possui mais este vinculo ativo.

Em se tratando de questões de renda e despesas, por exemplo, deverá


ser demonstrado novamente que a renda per capita do grupo familiar
não é suficiente para garantir a subsistência digna.

DA REPETIÇÃO DE VALORES DE NATUREZA ALIMENTAR – IMPOSSI-


BILIDADE

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Por fim, não menos importante, é possível que sua defesa não seja acei-
ta, ou procedente, e de fato se reste demonstrado que havia irregulari-
dade ao longo de todo o recebimento do benefício por parte do benefi-
ciário.

Neste sentido, será bem provável que a Autarquia instaure o procedi-


mento administrativo para fins de cobrança dos valores outrora auferi-
dos de forma irregular.

Sendo assim, será importante lembrar algumas fundamentações para


defender o direito de o beneficiário não ter de ressarcir:

Tema 979 do STJ

Questão submetida a julgamento: Devolução ou não de valores rece-


bidos de boa-fé, a título de benefício previdenciário, por força de in-
terpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração da
Previdência Social.

Tese Firmada: Com relação aos pagamentos indevidos aos segurados


decorrentes de erro administrativo (material ou operacional), não em-
basado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Adminis-
tração, são repetíveis, sendo legítimo o desconto no percentual de até
30% (trinta por cento) de valor do benefício pago ao segurado/benefi-
ciário, ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso con-
creto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de
que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.

Modulação dos efeitos:

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“Tem-se de rigor a modulação dos efeitos definidos neste representa-


tivo da controvérsia, em respeito à segurança jurídica e considerando
o inafastável interesse social que permeia a questão sub examine, e a
repercussão do tema que se amolda a centenas de processos sobres-
tados no Judiciário. Desse modo somente deve atingir os processos
que tenham sido distribuídos, na primeira instância, a partir da publi-
cação deste acórdão.”

Por fim, não menos importante, em se tratando da demonstração da bo-


a-fé objetiva, nas palavras de Maria Helena Diniz:

“A boa-fé subjetiva é atinente ao fato de se desconhecer algum


vício do negócio jurídico. E a boa-fé objetiva, prevista no artigo
sub examine, é alusiva a um padrão comportamental a ser segui-
do baseado na lealdade e na probidade (integridade de caráter),
proibindo o comportamento contraditório, impedindo o exercício
abusivo de direito por parte dos contratantes, no cumprimento
não só da obrigação principal, mas também das acessórias, in-
clusive do dever de informar, de colaborar e de atuação diligen-
te.” (2014, p. 418)

Portanto, ao se construir a demonstração da boa-fé objetiva é precisará


restar claro no processo que o cliente não tinha possibilidades de cons-
tatar que os pagamentos lhe eram indevidos, e ainda, exercer todos os
atos de boa-fé, nunca ocultando ou fraudando informações essenciais
para a concessão do benefício.

Bem- vindos à prática Previdenciária real! Nobres doutores.

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REQUERIMENTO DO BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA DA


ASSISTÊNCIA SOCIAL - BPC E COMPOSIÇÃO DO GRUPO FAMILIAR

CPF do Requerente:__________________ Pessoa com Deficiência Pessoa Idosa


Nome do Requerente:___________________________________________________________
Sexo:
Nome Social:__________________________ Data de Nasc.:___/___/_____ Masc. Fem.
Estado Civil: Solteiro Casado União Estável Divorciado Separado de Fato Viúvo
E-mail:_______________________________________________________________________

Local de Convívio: (Preencher este campo somente quando o requerente se enquadrar em uma
das situações abaixo.)
Vive em situação de rua. Vive internado em instituição, abrigo, asilo ou hospital.
Nome da pessoa de contato/equipamento ou entidade:________________________________
Endereço:______________________________ Cidade:________________________ UF:____

COMPOSIÇÃO DO GRUPO FAMILIAR


Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

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Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social:________________________________ CPF:_____________________________

Parentesco: Pai/Padrasto Mãe/Madrasta Cônjuge/Companheira Irmão(ã) Solteiro(a)


Filho(a) ou Enteado(a) Solteiro(a) Menor Tutelado

PREENCHER QUANDO REQUERENTE FOR O REPRESENTANTE LEGAL

Tipo de Representante: Pai Mãe Curador(a) Tutor(a) Procurador(a)


Diretor(a) de Instituição Administrador(a) Provisório(a) Termo de Guarda

Nome:______________________________________________ Data de Nasc.:___/___/_____


Sexo:
CPF:___________________ E-mail:_____________________________ Masc. Fem.
Endereço:____________________________________________ Tel.:( )_________________

Bairro:_______________________ Município:______________ UF:____ CEP:______________

Declaro sob as penas de lei, que as informações prestadas neste formulário são completas e verdadeiras, e que as infor-
mações constantes do Cadastro Único estão atualizadas, estando ciente das penalidades previstas nos artigos 171 e 299
do Código Penal Brasileiro.
Declaro que estou ciente de que devo atualizar as informações do Cadastro Único para fins de concessão e manuteção
do BPC.
Declaro que não recebo qualquer benefício municipal ou estadual no âmbito de Seguridade Social ou de outro regime,
inclusive o seguro-desemprego, ressalvados os de assistência médica e pensão especial de natureza indenizatória, nos
termos do art. 9º, inciso III, do Decreto nº 6.214, de 26 de Setembro de 2007.

Local:_____________ Data:___/___/_____ ____________________________________________


Assinatura do Requerente ou Representante Legal

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FORMULÁRIO ÚNICO DE ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO DO BENEFÍCIO

1. DADOS DO REQUERENTE

Nome:_______________________________________________________________________
Nome Social: _________________________________________________________________
CPF: ___________________________ E-mail: _______________________________________
Endereço:_____________________________________________________________________
Espécie em Benefício: ____________ Número do Benefício (NB): _______________________

2 . S O L I C I TAÇÃO

( ) Renúncia ao benefício espécie _______, NB ____________ para receber o Benefício de


Prestação Continuada da Assistencia Social - BPC.
( ) Suspensão do benefício em caráter especial em decorrência do ingresso no mercado de
trabalho a partir do dia ____/____/________.
( ) Cessação do benefício.
( ) Cessação do benefício para acessar outro benefício.
( ) Reativação de benefício suspenso/cessado. *
( ) Pagamento de valores não recebidos. *
*Os campos marcados deverão vir acompanhados de justificativa.

3 . J U S T I F I CAT I VA ( P R E E N C H E R A P E N A S S E F O R N E C E S S Á R I O

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Local:_____________ Data:___/___/_____ ____________________________________________


Assinatura

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