Você está na página 1de 12

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA MM

VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ.

FABIO RENATO MENDONÇA SALGADO, brasileiro, servidor público federal,


portador do RG 1832071 SSP/PA e do CPF nº 351.981.412-91, residente e domiciliado a
Travessa do Chaco, 1568, apto. 202, Marco, Belém/PA, CEP: 66095-128, por seu advogado
que esta subscreve, com endereço profissional à Av. Alcindo Cacela, 700, sala 202, Umarizal,
Belém/PA, CEP: 66060-000 (email: pedrosarraffadv@gmail.com), vem, à presença de Vossa
Excelência, propor AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS E MATERIAIS, COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em
face de BANCO DAYCOVAL S.A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº
62.232.889/0001-90, com sede a Av. Paulista, 1793, Bela Vista, São Paulo/SP, CEP: 01311-
200 e L BILHOES SOLUCOES FINANCEIRAS LTDA, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ nº 44.021.652/0001-88, com sede a Av. Ministro Ary Franco,
02003, Lot 22 PAL 38713 QDRF, Bangu, CEP: 21.862-005, Rio de Janeiro/RJ, conforme os
motivos de fato e de direito a seguir.

1) DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA:

Inicialmente, o autor informa que, no momento, não está em condições financeiras de


arcar com as custas processuais, referentes ao presente feito, sem o prejuízo de seu sustento
próprio e o de sua família, razão pela qual faz jus ao benefício da assistência judiciária
gratuita.

Assim, requer a concessão da gratuidade da justiça, na forma do que prevê o art. 99,
§3º, do CPC/2015 e do art. 54 da Lei nº 9.099/95.

2) DOS FATOS:
O autor é servidor público federal e possui alguns empréstimos consignados junto a
sua instituição financeira de relacionamento, a saber Banco Bradesco, conforme demonstram
os documentos em anexo.

Ocorre, Excelência, que em 23/03/2022, o autor recebeu uma proposta, via ligação
telefônica e mensagens do número (11) 912949024, feita por uma pessoa chamada Felipe
Silva, o qual se apresentou como gerente de negociação do requerido Banco Daycoval,
conforme print de troca de mensagens, para realização de operação de portabilidade de seus
empréstimos do Banco Bradesco para o banco requerido Daycoval.

A proposta formulada pelo suposto gerente Felipe consistia em que o requerente


autorizasse a realização de portabilidade de seus empréstimos para o requerido Banco
Daycoval, o qual propunha uma diminuição na quantidade de parcelas do consignado e, ao
final, o demandante ainda ficaria com uma importância de R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais).

Ouvida a proposta, o requerente crendo que realmente se tratava de uma negociação


séria, aceitou a oferta. Seguindo instruções repassadas pelo mencionado suposto gerente, o
requerente foi induzido a fazer solicitação de um empréstimo junto ao Banco Daycoval, no
valor de R$ 11.597,48 (onze mil, quinhentos e noventa e sete reais e quarenta e oito
centavos), importância esta que foi depositada em sua conta bancária, conforme extrato em
anexo.

Ainda seguindo as instruções do suposto gerente do Banco Daycoval, o requerente


foi instruído a realizar a transferência de R$ 9.497,48 (nove mil, quatrocentos e noventa e sete
reais e quarenta e oito centavos) do valor recebido, via pix (Chave Celular – 11 912646553),
para uma conta de titularidade da ora demandada L Bilhões Ltda, permanecendo com um
saldo no valor de cerca de R$ 2.100,00 (dois mil e cem reais).

Segundo informações dadas pelo suposto gerente do Banco Daycoval, o valor de R$


9.497,48 (nove mil, quatrocentos e noventa e sete reais e quarenta e oito centavos) destinava-
se a amortização dos juros dos consignados do demandante junto ao Banco Bradesco.

Conforme demonstram os documentos em anexo, o ora requerente foi vítima de


fraude perpetrada pelo requerido L Bilhões Ltda e chancelada pelo banco demandado Banco
Daycoval, posto que o autor não teve a realização da portabilidade de seu consignado junto ao
Banco Bradesco, conforme prometido, e ainda acumulou mais um consignado, conforme
demonstram os contracheques em anexo. Ora, Excelência, o autor foi induzido a erro e sofreu
fraude perpetrada pelas ora demandadas.

Quando o requerente observou que foi vítima da referida fraude, tratou de formular
pedido administrativo de esclarecimentos e cancelamento da operação junto ao Banco
Daycoval, através do serviço de ouvidoria do Banco Central do Brasil. Não obstante, o banco
demandado, em resposta, afirmou que a operação foi realizada sem qualquer indício de fraude
e que o contrato celebrado seria mantido, assim como a cobrança das parcelas mediante
consignação em folha de pagamento.

Conforme é possível observar do contracheque o valor da parcela consignada é de R$


303,97 (trezentos e três reais e noventa e sete centavos), sendo que até o presente momento, o
requerente já quitou o valor correspondente a duas parcelas.

Por fim, depois de todos os fatos já extensivamente narrados, o autor teve


descontadas 02 parcelas e não tem dúvidas que nos meses seguintes serão as demais
consignadas em seu contracheque, razão pela qual busca a solução de sua controvérsia com os
demandados junto ao Poder Judiciário.

3) DO DIREITO:

3.1. DA RELAÇÃO DE CONSUMO:


É incontestável que a presente lide trata-se de uma relação de consumo, na medida
em que o autor é pessoa física e foi procurado pela requerida com vistas a oferecer os seus
serviços financeiros como destinatário final, de acordo com o art. 2° do CDC.
E as instituições financeiras, são pessoas jurídicas que oferecem seus serviços
financeiros de modo não habitual, enquadrando-se fielmente ao que dispõe o art. 3° §§ 1° e
2°, do Código de Defesa do Consumidor.
Esta matéria, inclusive, é objeto da súmula 297 do STJ que estabelece: O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
Portanto tal relação deve respeitar as regras estabelecidas pelo CDC, sobretudo os
Direitos Básicos do consumidor, dentre os quais destacamos:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(...)
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços,
asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com
especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e
preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas
no fornecimento de produtos e serviços;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos;
(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

No caso em tela, constatam-se graves violações aos direitos do consumidor, na


medida em que não houve prestação das informações claras e inequívocas a respeito do
serviço ofertado pelas demandadas.
Ademais, Excelência, conclui-se que o autor foi completamente enganado, pois a
oferta de portabilidade, com redução do valor do empréstimo, concretizou-se, na realidade,
em um novo empréstimo, praticado pela demandada Banco Daycoval.
Para o autor, as consequências foram somente negativas. Recebeu uma quantia
visando a quitação de seus empréstimos junto ao Banco Bradesco, que foi justamente por isso
que aquiesceu com a proposta feita, a qual porém não se concretizou.
Além de ainda estar pagando os antigos empréstimos, está sofrendo novos descontos
indevidos, que decorrem de um novo empréstimo que não quis. O requerente desejava a
realização da portabilidade e não um novo empréstimo. Não usufruiu e nem quer usufruir da
quantia depositada em sua conta.
Excelência, é importante repetir que o autor não desejou este novo empréstimo
consignado! Simplesmente ele foi ludibriado e induzido a erro.
Portanto constituem práticas extremamente abusivas e ilegais das instituições
financeiras, sendo imperiosa a efetiva reparação dos danos patrimoniais e morais causados ao
consumidor.
3.2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR DE SERVIÇOS:
As instituições financeiras, fornecedoras de serviços, são obrigadas a cumprir todas
as normas estabelecidas no CDC, ao passo que se porventura o consumidor sofrer qualquer
dano advindo desta relação de consumo, o fornecedor de serviços assumirá a responsabilidade
de reparar tais danos.
Para a configuração da responsabilidade civil nas relações de consumo, basta
comprovar a ocorrência de um dano e do nexo causal entre o dano e a situação fática. Não há
se falar em culpa, pois o fornecedor de serviços assume o risco do negocio. Portanto nas
relações de consumo, a responsabilidade civil é objetiva.
No caso em tela, o autor contratou os serviços da requerida, com vistas a refinanciar
os seus empréstimos feitos junto ao Banco Bradesco, no entanto, o que ocorreu foi um novo
empréstimo, de responsabilidade da demandada. Portanto o autor aquiesceu com uma
operação cujo objeto foi completamente desrespeitado, e impuseram à ele um novo
empréstimo, como se o autor tivesse contratado diretamente os serviços financeiros da
requerida banco Daycoval.
Nesse monta, a conduta da requerida perante o autor, configura-se como defeito na
prestação de serviços. É o que o Código de Defesa do Consumidor intitula Fato do Serviço.
Nesta situação, o CDC ampara aqueles consumidores que sofreram prejuízos e garante a
efetiva reparação dos danos patrimoniais e morais, independente da comprovação de culpa,
conforme dispõe o art. 6°, VII supracitado, bem como o art. 14, in verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele
pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

Excelência resta evidente o dano que sofreu e sofre o autor, na medida em que há um
novo desconto em seu contracheque, advindo do “novo contrato” entre o requerente e a
demandada Banco Daycoval, o qual não desejou, e este desconto sobrevém de um empréstimo
consignado que não contratou.
Destarte, configura-se o dano, bem como o nexo de causalidade, sendo necessária a
reparação dos danos causados ao autor. Ademais consideram-se os descontos como indevidos,
justamente porque o modo de fornecimento do serviço é completamente diverso do
contratado, pois o autor pensou que estivesse contratando um serviço de portabilidade, pelo
qual quitaria os empréstimos originais, no entanto a realidade mostrou que celebrou um novo
empréstimo, agora sob a responsabilidade da demandada Banco Daycoval. Ou seja, a
portabilidade não aconteceu!
Apresentamos o entendimento jurisprudencial de nossos Tribunais Superiores:
EMENTA: INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
FRAUDULENTO. DESCONTO DE VALORES EM CONTA CORRENTE DA
VITIMA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. CULPA CONCORRENTE DA VITIMA. NÃO
CARACTERIZADA. QUANTUM ARBITRADO PROPROCIONAL E RAZOÁVEL. 1
É cabível a condenação de instituição financeira ao pagamento de indenização por
abalo moral suportado pelo cliente face o constrangimento sofrido em decorrência
de empréstimo bancário fraudulento que originou descontos em sua conta corrente,
sem sua regular autorização, sendo inadmissível a exclusão da responsabilidade
quando não haja prova de culpa exclusiva da vitima, ex vi art. 14, § 3º, II, do Código
de Defesa do Consumidor; 2 Inadmissível a redução do valor da condenação por
culpa concorrente quando não haja provas da contribuição da vitima para o ilícito,
evidenciando-se proporcional e razoável o valor da indenização arbitrado na
espécie, porque condizente com o abalo moral suportado; 3 Recurso conhecido, mas
improvido à unanimidade.(200730081227 PA 2007300-81227, Relator: DAHIL
PARAENSE DE SOUZA, Data de Julgamento: 12/05/2008, Data de Publicação:
16/05/2008).
EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - DANO MORAL -
RESPONSABILIDADE CIVIL - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO - AUSÊNCIA DE
PROVA DA CONTRATAÇÃO - DESCONTO DE VALOR EM CONTA CORRENTE
ONDE A AUTORA RECEBE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - CONDUTA
INDEVIDA E ILEGÍTIMA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA - REPARAÇÃO DOS DANOS CAUSADOS AO CONSUMIDOR POR
DEFEITO RELATIVO À PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - INTELIGÊNCIA DO ART.
14 DO CDC - CABIMENTO DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO -
APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DO CDC - DANO MORAL -
VALOR ARBITRADO QUE ATENDE AOS CRITÉRIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA -
RECURSO CONHECIDO IMPROVIDO - UNANIME. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DE SERGIPE. ACÓRDÃO: 20128698. APELAÇÃO CÍVEL4562/2012.
PROCESSO: 2012211101. RELATOR:DES. ROBERTO EUGENIO DA FONSECA
PORTO.

Desta forma, as instituições ora requeridas devem ser responsabilizadas porque


efetuam descontos no contracheque do autor, sem respaldo contratual que os legitime.

3.3. DA NECESSIDADE DE ANULAÇÃO DO CONTRATO FIRMADO:


Como forma de proteção dos consumidores em face de práticas e cláusulas
contratuais abusivas, o CDC possibilita a anulação de pleno direito destas cláusulas. É o que
se verifica nos dispositivos legais seguintes:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;
(...)
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato,
de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias
peculiares ao caso.

Excelência, tendo em vista que o autor aquiesceu com uma operação cuja finalidade
não foi cumprida, além de impor uma obrigação desproporcional, exagerada e não pretendida,
faz-se necessária a declaração de nulidade do contrato celebrado com a requerida.
Vale notar que realizando uma leitura do contracheque do autor, serão descontadas
parcelas mensais, como pagamento do empréstimo, por um período de 84 (oitenta e quatro)
meses, totalizando o valor de R$ 25.533,48 (vinte e cinco mil, quinhentos e trinta e três reais e
quarenta e oito centavos).
Nesse diapasão, apresentamos a seguinte jurisprudência:
EMENTA: CIVIL E CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO NÃO AUTORIZADO. PRESTAÇÕES
IRREGULARMENTE DESCONTADAS DOS PROVENTOS DA APOSENTADORIA
DO APELANTE. COBRANÇA ILEGAL QUE ULTRAPASSA A HIPÓTESE DE
MERO ABORRECIMENTO. OFENSA À HONRA CONFIGURADA. QUANTUM
INDENIZATÓRIO NÃO CONDIZENTE COM O MAL PERPETRADO. SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE. PRECEDENTE DESTA CORTE. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e
discutidos estes autos em que são partes as acima identificadas: Acordam os
Desembargadores que integram a 3ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de
Justiça, à unanimidade de votos, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do
relator. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por Geraldo Cosme da
Silva, em face da sentença do Juiz da Comarca de Jucurutu que, na Ação
Declaratória de Nulidade de Ato Jurídico C/C Indenização por Danos Morais
0000679-27.2008.8.20.0118, ajuizada em desfavor de Oboé Crédito Financiamento
Investimento S/A, julgou "(...) PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado
pelo Autor, declarando nulo o empréstimo realizado. Em consequência, CONDENO
a parte Ré a pagar em favor daquele a quantia de R$ 744,80 (setecentos e quarenta
e quatro reais e oitenta centavos), a título de danos morais (...). Condeno, também, a
parte Ré a restituir em dobro ao autor o montante que fora efetivamente descontado
de sua aposentadoria, quantia esta a ser apurada em liquidação de sentença, por
simples cálculos do credor (...)" (fls. 51-55).

3.4. DO DANO MATERIAL E DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO:


No que concerne ao dano material, nota-se que, até o presente momento, houve
descontos considerados indevidos na remuneração da autora referente ao meses de abril e
maio de 2022, os quais, somados, totalizam o valor de R$ 607,94 (seiscentos e sete reais e
noventa e quatro centavos), até o presente momento.
Como consequência da cobrança indevida, o CDC instituiu a denominada repetição
de indébito, que consiste em uma espécie de multa a quem realiza cobranças indevidas, pois o
fornecedor de serviços deverá restituir em dobro os valores descontados indevidamente. É o
que dispõe o art. 42, parágrafo único:
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a
ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

No presente caso, a autora está sendo vítima de descontos indevidos os quais devem
ser ressarcidos em dobro, correspondendo ao valor total de R$ 1.215,88 (mil, duzentos e
quinze reais e oitenta e oito centavos), acrescido de correção monetária e juros legais, até o
presente momento.

3.5. DO DANO MORAL:


Excelência, pelos fatos narrados nos tópicos acima, verifica-se que o autor passou
por inúmeros constrangimentos, ante as diversas manobras e desculpas dos representantes da
demandada que teve de suportar.
Compromissos que não foram cumpridos, providências que não foram tomadas, má-
fé, informações obscuras. Tudo isso a requerente suportou. E lamentavelmente os serviços
contratados não foram prestados como deveriam.
Diante desta situação vexatória, o ordenamento jurídico pátrio admite a
responsabilização por danos morais àquele que ensejou tais danos. A garantia da
reparabilidade do dano moral, é absolutamente pacífica, quer na doutrina, quer na
jurisprudência, inclusive, porque a Carta Magna brasileira, no art. 5º, incisos V e X, assim
estabeleceu:
“Inciso V: é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem:” (grifo nosso).
“Inciso X: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação” (grifo nosso).

Neste sentido, apresentamos a seguinte jurisprudência:


APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS.
DESCONTOS INDEVIDOS. I- RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. RECONHECIDA. DESCONTO INDEVIDO NA FOLHA DE
PAGAMENTO DO AUTOR, COM BASE EM CONTRATO DE EMPRÉSTIMO NÃO
CELEBRADO. EXCLUDENTE DO ART. 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR NÃO COMPROVADA. II - DANOS MORAIS. PROVA
DESNECESSÁRIA. PEDIDO DE REDUÇÃO. AFASTADO. VALOR
INDENIZATÓRIO PROPORCIONAL E ADEQUADO ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO
CASO CONCRETO. I - Compete à instituição financeira demonstrar que os
descontos efetuados em folha salário estão devidamente respaldados em contrato
subscrito pelo autor, não podendo se esquivar de sua responsabilidade, suscitando
excludente de responsabilidade, não comprovada nos autos. II – No caso, basta que
seja comprovada a conduta irregular da ré, qual seja, o desconto indevido, para que
seja devida a indenização por danos morais, sendo inexigível a comprovação dos
danos morais ocasionado ao autor. Ademais, o quantum arbitrado a título de danos
morais deve ser mantido consoante fixado na r. sentença, visto que, diante das
peculiaridades do caso concreto, tal valor atende corretamente a repercussão do
fato danoso, a necessidade de compensação pelos danos sofridos, o desestímulo para
que o apelante não reincida no mesmo ato e o princípio da razoabilidade.
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E NÃO PROVIDA. Processo: AC 7175079 PR
0717507-9; Relator(a): Shiroshi Yendo; Julgamento: 23/02/2011. Órgão Julgador:
16ª Câmara Cível; Publicação: DJ: 592.

Portanto, requer que Vossa Excelência determine a condenação dos requeridos ao


pagamento de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a titulo de indenização pelos danos morais
suportados pelo autor, considerando o caráter sancionatório e inibitório desta condenação.

3.6. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA:


Encontram-se presentes os requisitos justificadores da concessão de Tutela de
Urgência, de acordo com o artigo 300 e seguintes do CPC/2015.
São claras as consequências negativas e de difícil reparação que o autor está sofrendo
e continuará a sofrer no decorrer da ação, na medida em que os descontos indevidos,
originário de um contrato fraudulento, permanecerão e o requerente é obrigado a suportá-los.
Resta evidente, destarte, a existência do requisito intitulado periculum in mora, haja
vista que os descontos permanecerão por um prazo longo, além da possibilidade de uma maior
majoração dos valores descontados. E quanto mais tempo os descontos indevidos
permanecerem, maiores serão os prejuízos do autor.
Ademais, demonstrou-se no decorrer de todos os tópicos desta exordial que o
requerido adotou condutas violadoras de princípios e regras estatuídas no CDC, além da
realização de descontos indevidos.
Portanto, Excelência, de acordo com os documentos acostados na presente exordial,
bem como o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, é imperioso que seja
concedida a tutela emergencial, por meio de liminar, a fim de que sejam suspensos, de
imediato, os descontos promovidos pelo banco demandado, mediante consignação em
contracheque do autor.
Neste diapasão, apresentamos a seguinte jurisprudência:
EMENTA: CONSUMIDOR, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE CONTRATO C/C OBRIGAÇÃO DE NÃO
FAZER E CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. APELAÇÃO CÍVEL INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. EMPRÉSTIMO BANCÁRIO CONSIGNADO FRAUDULENTO.
DESCONTOS INDEVIDOS EM SOLDO DO DEMANDANTE. OBSERVÂNCIA DA
LEI Nº 8.078/90. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO FORNECEDOR. PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO DEFICIENTE. EFEITOS DA REVELIA. PARTE AUTORA
COMPROVOU A EXISTÊNCIA DO NEXO CAUSAL ENTRE A CONDUTA DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DEMANDADA E O EVENTO DANOSO. REGRA
INSERTA DO ART. 333, I, DO CPC. DANO MORAL QUE SE IMPÕE.
RESTITUIÇÃO DEVIDA EM DOBRO DA QUANTIA DESCONTADA
INDEVIDAMENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

4) DOS PEDIDOS:
Portanto, Excelência, o demandante requer seja julgada totalmente procedente a
presente ação indenizatória, nos seguintes termos:
a) Que sejam as empresas requeridas devidamente citadas para, se assim desejarem,
apresentarem suas respostas no prazo legal, sob pena de ser declarada sua revelia
e ser aplicada a pena de confissão;
b) Que seja concedido ao requerente o beneficio da justiça gratuita, nos termos da
legislação pertinente;
c) Que seja deferida por Vossa Excelência, liminarmente, a tutela de urgência, no
sentido de que seja determinado aos requeridos que procedam a suspensão
imediata dos descontos em folha de pagamento do requerente das referidas
parcelas, sob pena de multa diária, a ser arbitrada por este ilustre juízo, em caso
de atraso no cumprimento da determinação;
d) Que ao final, seja confirmada a tutela de urgência, determinando-se que os
Requeridos suspendam definitivamente todo e qualquer desconto em folha de
pagamento do requerente das referidas parcelas, sob pena de multa diária;
e) Que seja determinado que o requeridos procedam ao cancelamento de todo e
qualquer negócio jurídico em nome do autor, uma vez que resta demonstrado que
os descontos em sua folha de pagamento são absolutamente indevidos, porque
decorrentes de contratação obtida mediante fraude, sob pena de multa diária;
f) Que sejam os requeridos condenados ao pagamento de indenização por danos
morais no valor máximo de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), como medida de
reparação civil e de medida pedagógica em relação ao demandado;
g) Que sejam os requeridos condenados a restituição do indébito no valor de R$
1.215,88 (mil, duzentos e quinze reais e oitenta e oito centavos), acrescido de
correção monetária e juros legais, acrescido de correção monetária e juros legais;

Protesta pela produção de todas as provas admitidas, em especial a documental,


depoimento pessoal das partes e oitiva de testemunhas, e todas as demais que se fizerem
necessárias.
Atribui-se a presente ação o valor de R$ 31.215,88 (trinta e um mil, duzentos e
quinze reais e oitenta e oito centavos), para os efeitos legais.

Nestes termos, pede deferimento.

Belém/PA, 24 de junho de 2022.

Pedro Sarraff Nunes de Moraes

OAB/PA 15519

Você também pode gostar