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EXCELENTÍSSIMO (a) SENHOR (a) DR (a) JUIZ (a) DE DIREITO DA ___ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE PELOTAS – RS.

ALVACYR GOMES DIAS, brasileiro, casado, aposentado, inscrito


no CPF n° 288.879.800-04, portador da carteira de identidade nº 3018814941,
residente e domiciliado na Rua Luiz Quevedo da Silva, 1LT, nº425, Bairro Três
Vendas, Pelotas – RS, por seus procuradores signatários, vêm
respeitosamente a presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO ORDINÁRIA c/c ANTECIPAÇÃO DE TUTELA


Em face de

IMPACTUM SOLUÇÕES FINANCEIRAS LTDA, pessoa jurídica


de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ nº 33.585.607/0001-30, na
pessoa de seu representante legal, com sede na Avenida Presidente Kennedy,
nº 735, sala 1004, Bairro Estrela do Norte, CEP 24.445-045, São Gonçalo – RJ,
e-mail: brenomelo64@gmail.com, e BANCO PAN S.A., pessoa jurídica de
direito privado, devidamente inscrita no CNPJ nº 59.285.411/0001-13, na
pessoa do seu representante legal, com sede na Avenida Paulista, nº 1374,
andar 16, Bairro Bela Vista, CEP 01.310-100, São Paulo - SP, pelos
pertinentes e relevantes argumentos fáticos e jurídicos à seguir elencados:

DA PRIORIDADE PROCESSUAL

Em primeiro plano, necessária se faz a observância da


prioridade processual no presente caso, uma vez que o autor possui mais de
60 (sessenta) anos, enquadrando-se no conceito de idoso, estabelecido pela

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Lei 10.741/03, com a previsão da referida garantia no art. 71 do citado
diploma legal.

DOS FATOS

A parte autora é aposentado pelo INSS – Instituto Nacional do


Seguro Social (NB nº 1528120865), recebendo seu benefício através do
Banrisul – Banco do Estado do Rio Grande do Sul.

Pois bem, até o mês de março de 2021 o autor possuía apenas um


empréstimo consignado junto ao banco daycoval no valor de R$ 18.000,00
(dezoito mil reais), pactuado em agosto de 2020, dissolvidos em 60 parcelas
de R$ 496,03 (quatrocentos e noventa e seis reais e três centavos).

Pelo fato de possuir margem consignável para realizar


empréstimos consignados, o autor e boa parte dos aposentados são alvos de
inúmeras ligações por parte das instituições financeiras oferecendo os mais
variados empréstimos consignados, até mesmo a portabilidade de empréstimos
já realizados.

Assim, no final do mês de janeiro do corrente ano, o autor recebeu


um telefonema da primeira demandada (IMPACTUM), oferecendo uma redução
no valor do empréstimo junto ao banco daycoval, sem qualquer tipo alteração
no prazo determinado naquele empréstimo consignado (60 meses), e ainda
sem a necessidade de realizar um novo empréstimo.

O primeiro demandado ofertou a redução do empréstimo junto ao


banco daycoval com parcelas de R$ 496,03, diminuindo para R$ 390,00
(trezentos e noventa reais).

Após o telefone, a suposta responsável pela demandada entrou em


contato via whatsapp, oferecendo a seguinte proposta:

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Num primeiro momento, por certo, o autor ficou desconfiado da
oferta, no entanto, após solicitar maiores informações da empresa, a
“funcionaria” enviou documentos que, em tese, dão ares de veracidade a toda
informação prestada. Senão vejamos:

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Nota-se, que o CNPJ indicado na conversa encontra-se ativo e
com os mesmos endereços disponibilizados no site da receita federal do brasil
(vide documento em anexo).

Assim, com o intuito de passar confiança ao autor, a empresa


demandada (IMPACTUM), enviou um contrato denominado “instrumento
particular de prestação de serviços c/c transação de crédito e dívida”, para que
o autor assinasse e enviasse com firma reconhecida em tabelionato.

Na Cláusula 1ª do referido contrato, consta que o autor teria que


realizar um crédito consignado no valor de R$ 11.385,74 (onze mil trezentos e
oitenta e cinco reais e setenta e quatro centavos), em 84 parcelas de R$
280,00 (duzentos e oitenta reais), realizado através do BANCO PAN, o qual
seria assumido pela ré (IMPACTUM), consignando que o autor teria que
devolver o valor creditado na sua conta corrente através de um boleto bancário.

Vejamos o objeto do contrato:

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Observa-se que segundo consta no “contrato”, a demandada iria
efetuar o desconto de R$ 142,32 (cento e quarenta e dois reais e trinta e dois
centavos), referente a parcela de R$ 496,03 do empréstimo consignado do
banco daycoval e posteriormente iria assumir as prestações de R$ 280,00
(duzentos e oitenta reais), junto ao BANCO PAN.

Em outras palavras, o requerente iria diminuir a parcela do seu


empréstimo de R$ 496,03 para R$ 390,00, ou seja, uma diminuição mensal
de R$ 106,03 (cento e seis reais e três centavos).

Após o crédito de R$ 11.385,74 na conta corrente do autor, a


preposta da primeira demandada enviou um boleto bancário, no mesmo valor
(R$ 11.385,74), para que o demandante realizasse o pagamento, afirmando
que somente após o pagamento do boleto é que o autor teria os descontos
previstos no contrato.

No dia 10.02.2021, o autor realizou o pagamento do boleto enviado


pela ré (IMPACTUM), e nunca mais obteve resposta da empresa.

Vejamos o boleto:

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Assim, na ânsia de ver uma redução do valor do empréstimo
consignado de R$ 493,03 para R$ 390,00, atualmente o autor encontra-se com
mais dois empréstimos do banco pan que somados chegam ao valor de
R$ 280,00 (duzentos e oitenta reais), com prazo de 84 meses, que subtrai da
sua aposentadoria o total de R$ 773,03 (setecentos e setenta e três reais e
três centavos).

Excelência, o autor foi vítima de um golpe por parte da


demandada, eis que achava que estaria realizando uma portabilidade.

Nesse contexto, o banco pan, enquanto prestador do serviço, é


quem mais está apto a impedir os efeitos das ações fraudulentas, pois é a
parte que controla tecnicamente o acesso ao referido serviço, acesso realizado
pela primeira demandada, podendo prevenir ataques de forma mais eficaz que
o consumidor e dessa forma, pela teoria do risco do empreendimento,
responde independentemente de culpa por transações realizadas
mediante fraude, ainda mais por não tomar os cuidados necessários no sentido
de garantir a segurança esperada, mostrando-se assim a falha na prestação do
serviço.

A instituição financeira deveria ter informado ao autor qual a


modalidade do crédito pactuado, uma vez que o demandante achava que
estava realizando uma portabilidade. Ainda, pelo fato da primeira demandada
estar cadastrada para realização de empréstimos junto ao banco pan, eis que
todo o contato foi através da primeira ré, não restando dúvidas quanto a
responsabilidade do banco no contrato em tela.

No caso dos autos, não restam dúvidas que trata-se de fraude


realizada pelo primeiro demandado juntamente com o banco demandado,
sendo que esse último, por certo, assume o promovido o risco do negócio,
respondendo de forma objetiva pelos prejuízos causados ao autor, em especial
pela devolução dos valores despendidos e o cancelamento dos contratos nº
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344195275-5 e 344195325-8, uma vez que há vicio de vontade/patente
configuração de vício de consentimento da real natureza do contrato.

Desse modo, requer que seja reconhecida a ilegalidade da


contratação dos empréstimos junto ao banco pan, contratos nº 344195275-5 e
344195325-8 e, por consequência a inexistência da relação jurídica, com a
restituição dos valores descontados em no benefício previdenciário do autor.

DA INVERSÂO DO ÔNUS DA PROVA

O Código de Defesa do Consumidor prevê, em seu artigo 6º,


inciso VIII, que diante da hipossuficiência do consumidor frente ao fornecedor,
sua defesa deve ser facilitada com a inversão do ônus da prova. É o que se
postula na presente demanda.

Considerando, sobretudo, a hipossuficiência técnica e econômica


da parte autora, encontram-se caracterizados os requisitos do art. 6º, VIII,
do CDC para se impor a inversão do ônus probatório e, por conseguinte,
promover o equilíbrio contratual entre os litigantes.

Assim, requer a inversão do ônus da prova.

DO DANO MORAL

É sabido que o dano extrapatrimonial configura-se não somente


pelo desgosto e apreensão ao descobrir que foi alvo de uma fraude, mas
também pelo fato de ter uma diminuição na sua renda mensal.

Vê-se, desde logo, que o art. 6 do CDC, já prevê a possibilidade


de reparação de danos morais decorrentes do sofrimento, do
constrangimento, da situação vexatória, do desconforto em que se encontrou
o autor.

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A jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça Gaúcho corrobora
este entendimento:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA.


EMPRÉSTIMOS OBTIDOS MEDIANTE FRAUDE. DESCONTOS. DEVER DE
INDENIZAR. DANO MORAL. Cuida-se de relação de consumo, uma vez que a
atividade bancária foi expressamente incluída como serviço no rol do art. 3º, § 2º,
do CDC. Dessa forma, a responsabilidade do réu é objetiva (art. 14 do CDC).A
responsabilidade da instituição bancária pela obtenção de empréstimos em nome
da autora, mediante fraude, dando causa ao indevido desconto de parcelas em
seu benefício previdenciário, é evidente.Os descontos indevidos de valores
diretamente da conta do demandante acarreta dano moral indenizável. As
adversidades sofridas, a aflição e o desequilíbrio em seu bem-estar, fugiram
à normalidade e se constituíram em agressão à sua dignidade.Majoração do
montante indenizatório fixado para R$ 7.880,00 (sete mil oitocentos e oitenta
reais), considerando o grave equívoco da ré, o aborrecimento e o transtorno
sofridos pela demandante, além do caráter punitivo-compensatório da
reparação.Não tendo a ré demonstrado a contratação dos empréstimos pela
autora, ônus que lhe competia, correto o cancelamento dos contratos que
ensejaram os descontos indevidos. Da mesma forma, havendo cobrança de
valores indevidos, impõe-se a devolução dos valores, conforme determinado na
sentença.Honorários advocatícios mantidos em 15% sobre o valor da
condenação. Percentual que se mostra adequado às operadoras do art. 20 do
CPC, além de remunerar condignamente o profissional de direito em atuação
neste feito.APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA RECURSO ADESIVO
PARCIALMENTE PROVIDO. (TJ-RS - AC: 70067268581 RS, Relator: Túlio de
Oliveira Martins, Data de Julgamento: 17/12/2015, Décima Câmara Cível, Data de
Publicação: 27/01/2016)

Deste modo, a parte autora pleiteia a condenação da instituição


financeira ao pagamento da quantia de R$ 8.000,00 (oito mil reais), a título de
danos morais.

DA TUTELA ANTECIPADA

Excelência, notória a necessidade da concessão de tutela


antecipada, tendo em vista o preenchimento de todos os seus requisitos, uma
vez que é demonstrada prova inequívoco, geradora de verossimilhança das
alegações, bem como perigo de dano grave ou de difícil reparação com base
no Art. 300 do CPC.
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Portanto, a parte autora pretende com a antecipação da
tutela IMPEDIR A EFETIVAÇÃO DOS DEMAIS DESCONTOS EM SEU
BENEFÍCIO por parte do segundo demandando (banco pan), para evitar que
mais danos sejam causados ao autor.

Assim, requer a antecipação de tutela para suspender os


descontos alusivos aos contratos do banco pan nº 344195275-5 e 344195325-
8, junto ao benefício previdenciário do autor.

DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, REQUER:

1) A antecipação de tutela para suspender os descontos alusivos


aos contratos do banco pan nº 344195275-5 e 344195325-8, junto ao benefício
previdenciário do autor (NB nº 1528120865);

2) Que seja julgado procedente os pedidos, com o fito de


reconhecer a ilegalidade da contratação dos empréstimos junto ao banco pan,
contratos nº 344195275-5 e 344195325-8 e, por consequência a inexistência
da relação jurídica, com a restituição dos valores descontados em seu
benefício previdenciário, bem como sejam os demandados condenados
solidariamente ao pagamento de R$ 8.000,00 a título de danos
extrapatrimoniais;

3) A citação das demandadas, na pessoa do seu representante


legal para que querendo contestem a presente ação, sob pena de revelia e
confissão;

4) A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII do


Código de Defesa do Consumidor;

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5) A concessão do benefício da gratuidade da justiça, por ser
pobre na acepção legal do termo, conforme declaração acostada, não podendo
prover as despesas do processo sem prejuízo do sustento próprio, conforme
determina o artigo 98 do CPC;

6) A condenação das requeridas ao pagamento de todas as


custas e despesas processuais, assim como honorários advocatícios aos
patronos da autora, a serem fixados em 20%, conforme o art. 85, § 2º do
Código de Processo Civil;

7) A parte autora não tem interesse na realização da audiência


de conciliação ou mediação prevista no art. 334 do CPC, eis que a
conciliação pode ser proposta a qualquer momento no processo;

Protesta por todos os meios de prova em direto admitidos.

Nesses termos,
Pede deferimento.

Atribui-se à presente causa o valor provisório de R$


11.385,74 (onze mil trezentos e oitenta e cinco reais e setenta e quatro
centavos).

Pelotas, 26 de abril de 2021.

____________________________ __________________________
MICHEL FURTADO BARNI ITTOR CORREA IDIARTE
OAB/RS 78.314 OAB/RS 84.627

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