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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA

VARA CÍVEL DA COMARCA DE CIDADE – MG.

PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO: IDOSO

Nome do cliente, qualificação e dados do advogado...., , onde


recebe intimações, procuração em anexo, vem respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C


DANOS MORAIS COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTS

Em face do BANCO CETELEM S.A., instituição financeira,


inscrita no CNPJ sob o nº 00.558.456/0001-71, com endereço para citação na
Alameda Rio Negro, nº 161, (17º andar), Bairro Alphaville Industrial, no
Município de Barueri, estado de São Paulo, CEP 06.454-000/SP, pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas.

I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer a V. Exª, seja deferido o benefício de


Gratuidade de Justiça, com fulcro na Lei nº 1.060/50, com as alterações
introduzidas pela lei nº 7.510/86, por não ter o Autor condições de arcar com as
custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do seu sustento.
O autor que recebe apenas um salário-mínimo de
aposentadoria, também possui empréstimos, inclusive este em que pleiteia a
1
alteração contratual e despesas pessoais que no total comprometem mais de
60% da sua renda.
Destarte, requer, portanto, com fundamento no art. 5º, inciso
LXXIV da Constituição Federal e no art. 98 e seguintes do Código de Processo
Civil, a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita.

II. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

Para fins do presente pedido, junta em anexo cópia do


documento de identidade comprovando que o Requerente é pessoa idosa,
contando com mais de 60 (sessenta) anos, razão pela tem direito à prioridade
da tramitação da presente demanda, nos termos da Lei nº 10.741/2013
(Estatuto do Idoso) e do art. 1.048, inciso I, do CPC.
Assim, considerando que o Requerente já dispõe de 78
anos, não dispondo de muita saúde para aguardar o trâmite normal do
processo, requer prioridade na tramitação dos atos processuais seguintes.

III. DO DESINTERESSE DA AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA (art.


331, § 4º, I CPC):

A parte Autora manifesta desinteresse na Audiência conciliatória,


requerendo desde já sua retirada da pauta.

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Menciona também que no prazo do artigo 335, I do CPC irá
apresentar sua réplica, caso haja a contestação da parte Ré.

Ademais, observa-se que presente demanda insere-se entre aquelas


em que, por sua natureza ou parte(s), é público, notório e incontestável, que a
tentativa de solução amigável do litígio costuma ser infrutífera.

Sendo assim, pode-se afirmar que a designação audiências de


conciliação e/ou instrução e julgamento não se mostram compatíveis com os
princípios da informalidade, celeridade, economia processual e simplicidade,
todos, previstos no art. 2º da Lei nº. 9.099/95, e nem com o princípio
constitucional da eficiência. Bom lembrar, ainda, que por força do advento do
NCPC, tal procedimento encontra-se, do mesmo modo, em conflito com os
princípios da adequação e cooperação.

IV. DOS FATOS

O Requerente, que é aposentado do INSS, contratou junto ao


Banco Réu, um empréstimo consignado, nº 97-819886018/16, na modalidade
consignação em folha de pagamento, em 09 de agosto de 2016.
O valor do empréstimo consignado foi de R$ 1.144,00 (um mil,
cento e quarenta e quatro reais), em uma oferta de 48 meses, com parcelas
fixas no valor de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais e vinte e cinco centavos).
O valor liberado foi depositado via TED na conta corrente em
que o Autor recebe o benefício previdenciário, nº 0000025194, agência 2513,
BANCO 237 - BRADESCO em nome do Autor.
Ocorre que, após o prazo de 48 meses de descontos, ao invés
de findar o contrato, as parcelas continuam sendo descontadas do benefício do
Autor.
Inconformado, o consumidor entrou em contato com o INSS,
para ter acesso ao seu histórico de crédito, e foi informado que os descontos
se referiam a contratação de empréstimo modalidade cartão de crédito RMC, o
qual é descontado mês a mês, sem data fim pré-fixada:

3
Em que pese a boa-fé, importante ressaltar que o Autor
celebrou SIM contrato de empréstimo consignado com desconto em seu
benefício junto ao Banco Réu. No entanto, NUNCA SOLICITOU OU
CONTRATOU CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO, pois fora em busca de
um empréstimo consignado COMUM e assim acreditou ter contratado. Até
porque a contratação do empréstimo se deu como todos os outros anteriores
que o aposentado já realizou. Ou seja, houve especificação do valor
liberado, parcelas fixas com data início e fim para acabar e o valor
contratado foi depositado na conta corrente em que o aposentado recebe
a sua pensão.
Ocorre que, o Réu, objetivando lucro a qualquer custo, embutiu
ao Autor um Cartão de Crédito Consignado maquiado de Empréstimo
Consignado, denominado de “Reserva de Margem Consignada (RMC), o qual
vem sendo descontado até então.
Cumpre destacar também que o Autor jamais autorizou tais
descontos em seu benefício previdenciário ou tinha interesse nesse tipo de
reserva, e, como de praxe, sequer foi informado pela instituição financeira
acerca da constituição da Reserva de Margem Consignável, inclusive sobre o
percentual que seria averbado em seu benefício previdenciário.
Dessa forma, por não ter autorizado o desconto, tampouco
recebeu/desbloqueou/utilizou cartão que justificasse o débito! Logo, o Banco
Réu NÃO DEVERIA estar descontando do consumidor valores a título de
Empréstimo sobre a RMC e de Reserva de Margem de Crédito (RMC).
O Autor acreditava que os valores descontados do seu
benefício eram referentes ao pagamento do empréstimo consignado comum
contratado, mas descobriu recentemente que foi ENGANADO, levado a crer,
durante os quatro anos a partir da contratação – 09/08/2016 -, que seu
empréstimo estava sendo amortizado mês a mês e findando as 48 parcelas
cessariam os descontos, reestabelecendo o valor da sua Aposentadoria.

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Excelência, o Autor jamais concordaria em contratar a
modalidade de cartão de crédito RMC ou descontar valores a maior de
seu benefício previdenciário, haja vista que ele necessita de cada centavo
para garantir sua subsistência, razão pela qual, assim que teve
conhecimento da conduta fraudulenta da instituição financeira, imediatamente
decidiu por ingressar com a presente ação no intuito de solicitar a alteração da
modalidade cartão de crédito RMC para empréstimo consignado comum e
reaver os valores descontados indevidamente e sem qualquer autorização.
Ademais, é sabido que a modalidade de empréstimo de cartão
de crédito RMC, sem a autorização do consumidor, se trata de DÍVIDA
ETERNA, haja vista que a reserva da margem de 5% (cinco por cento) e os
descontos do valor mínimo dos vencimentos previdenciários do Autor geram
lucro desmedido e exorbitante para o Banco e torna a dívida do Autor
IMPAGÁVEL. Frisa-se ainda que o valor que é descontado de 5%, para o
aposentado, é um valor muito expressivo, pois recebe apenas um salário-
mínimo e já possui o desconto de R$ 298,70 (duzentos e noventa e oito reais
e setenta centavos) de empréstimos consignáveis. Percebendo o valor total
de R$ 746,30 (setecentos e quarenta e seis reais e trinta centavos) para
arcar com dívidas alimentares, remédios e moradia.
Ora, o aposentado já recebe um valor extremamente
insuficiente para satisfazer todas as necessidades de uma subsistência digna.
Agora, por favor, digne-se Excelência, como esse mesmo aposentado
poderia contratar de própria vontade e consentimento um empréstimo
com anatocismo, cujas parcelas não têm data fim para acabar e o
montante pago no decorrer dos anos podem ultrapassar 3 vezes o valor
liberado? De fato, é inconcebível tal suposição.
A situação fatídica demonstra que desde agosto de 2016 até a
presente data o autor já pagou 53 parcelas de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais
e vinte e cinco centavos, totalizando R$ 2.769,25 (dois mil, setecentos e
sessenta e nove reais e vinte e cinco centavos) ao Banco Réu, ou seja,
quase 03 (três) vezes o valor depositado, cuja quantia sequer abateu o valor
liberado de R$ 1.144,00 (um mil, cento e quarenta e quatro reais), implicando
certamente em enriquecimento sem causa à Instituição Financeira e de
imensurável prejuízo a parte Autora.

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Portanto, Excelência, além do Banco Réu ter agido com
má-fé por embutir produto não contratado ao consumidor, o débito em
comento jamais será pago se prosseguir na modalidade Cartão de crédito
RMC, vez que os descontos mensais são apenas juros e encargos da
dívida, gerando descontos da verba remuneratória do consumidor por
prazo indeterminado.
Para elucidar melhor a situação, o referido empréstimo foi
submetido à análise pericial, conforme parecer técnico/jurídico juntado nos
autos, oportunidade em que se faz prova a planilha/cálculo demonstrativa
(documento anexo), apontando diversas irregularidades.
Destaca-se que a ANÁLISE PERICIAL, realizou o
comparativo entre as duas modalidades de empréstimos – consignado
tradicional (comum) e cartão de crédito RMC, sob o prisma de verificar as
reais condições praticadas pela instituição financeira.
Com o resultado de tal apuração financeira, feita consulta na
calculadora do cidadão no Site do Banco Central, ficou evidenciada, que o
negócio jurídico não foi pautado sob o princípio da boa-fé, vez que, o Banco
Réu convencionou ao Autor produto prejudicial e diferente do solicitado.
Conforme se comprova:

 Em consulta ao site do Banco Central – BACEN, baseado nos 20


melhores bancos, no mês em que foi celebrado o contrato, em
08/2016, na modalidade Pessoa física - Crédito pessoal
consignado INSS, a taxa média do mercado para as Instituições
Financeiras aplicar aos consumidores era de 2,12 % ao mês,
conforme demonstrado:

Taxa média de mercado entre os 20 melhores bancos

Classificadas por ordem crescente de taxa


Período: 09/08/2016 a 15/08/2016
Modalidade: Pessoa física - Crédito pessoal consignado INSS
Tipo de encargo: Pré-fixado

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Taxas de juros
Posição Instituição % a.m. % a.a.
1 BANC OOB 1,87 24,9
2 BC O BMG S.A. 1,88 25,11
3 BRB - BC O DE BRASILIA S.A. 1,96 26,23
4 GAZINC RED S.A. SC FI 2,03 27,27
5 BC O DO ESTADO DO RS S.A. 2,1 28,32
6 BC O DO EST. DO PA S.A. 2,12 28,55
7 BANC O INTER 2,13 28,76
8 BC O SAFRA S.A. 2,14 28,85
9 BC O BANESTES S.A. 2,15 29,06
10 BC O DAYC OVAL S.A 2,15 29,11
11 BC O OLÉ C ONSIGNADO S.A. 2,16 29,17
12 PARANA BC O S.A. 2,16 29,28
13 C C B BRASIL S.A. - C FI 2,17 29,38
14 BANC O BRADESC ARD 2,2 29,81
15 BANC O ITAÚ C ONSIGNADO S.A. 2,2 29,84
16 C REDIARE C FI S.A. 2,2 29,89
17 C AIXA EC ONOMIC A FEDERAL 2,21 29,96
18 BC O SANTANDER (BRASIL) S.A. 2,22 30,21
19 BC O MERC ANTIL DO BRASIL S.A. 2,23 30,32
20 BANC O SEMEAR 2,24 30,45
21 BC O BRADESC O S.A. 2,25 30,58
22 BANC O DIGIO 2,25 30,67
23 BC O INDUSTRIAL DO BRASIL S.A. 2,28 31,12
24 BC O VOTORANTIM S.A. 2,29 31,24
25 BANC O PAN 2,31 31,55
26 BC O DO NORDESTE DO BRASIL S.A. 2,31 31,56
27 MERC ANTIL BRASIL FIN S.A. C FI 2,33 31,83
28 BC O BRADESC O FINANC . S.A. 2,33 31,84
29 BC O DO BRASIL S.A. 2,33 31,87
30 BANC O BARI S.A. 2,34 31,92
31 BC O C ETELEM S.A. 2,34 31,97
32 ITAÚ UNIBANC O S.A. 2,36 32,26
33 AGIBANK FINANC EIRA 2,37 32,52
34 KIRTON BANK 2,39 32,7
35 FAC TA S.A. C FI 3,37 48,87

TAXA MÉDIA DO MERCADO 2,126 28,7235

FONTE:https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuros/?path=conteudo%2Ftxcred%2FReports%2FTaxasCr
edito-Consolidadas-porTaxasAnuais
Historico.rdl&nome=Hist%C3%B3rico%20Posterior%20a%2001%2F01%2F2012&exibeparametros=true

 Insta salientar, que o parecer aduz de maneira clara que se


a taxa de juros acordada no instrumento contratual respeitasse a taxa média
divulgada pelo banco central de 2,12 % a.m, o valor da parcela seria de R$
36,14 (trinta e seis reais e quatorze centavos), em 53 vezes, com valor liberado
de R$ 1.144,00 (um mil, cento e quarenta e quatro reais). Vejamos:

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 Ainda, utilizando a taxa média de mercado, à época, de 2,12%
ao mês, e valor de parcela de R$ 52,25 (cinquenta e dois reais e vinte e cinco
centavos), para liberação do valor de R$ 1.144,00 (um mil, cento e quarenta e
quatro reais), é possível perceber que o empréstimo do autor já foi quitado na
parcela de número 30:

FONTE:https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/
calcularFinanciamentoPrestacoesFixas.do

 Logo, é notório reconhecer que as demais 23 (vinte e três)


parcelas de R$ 52,25 foram cobradas indevidamente, uma vez que o
contrato de empréstimo foi quitado com 30 (trinta) parcelas. Devendo,
portanto, o Banco Réu, além de alterar a modalidade cartão de crédito RMC
para empréstimo consignado comum, também indenizar o autor pelo
indébito em dobro de R$ 2.403,50 (dois mil quatrocentos e três reais e
cinquenta centavos). Todos os detalhes dos cálculos estão elencados no
Parecer técnico/jurídico e planilhas anexas.

Diante disso, ora Excelência, a parte autora não quer de modo


algum levar vantagem contra o Banco Réu, porém não pode ser lesada
somente pela magnitude de atuação da instituição financeira. A intenção do
Autor não é se eximir de suas obrigações, mas, e está cabalmente
DEMONSTRADO e COMPROVADO com o CÁLCULO PERICIAL , que os
princípios de lealdade e de boa -fé não foram observados pelo Banco-Réu,
pois não resta dúvidas que a intenção do autor não era a contratação de um

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cartão de crédito consignado, mas sim de um empréstimo consignado
tradicional (comum) a ser pago em parcelas fixas e determinadas.
Por esta razão, serve a presente demanda para requerer
que seja declarado nulo o contrato de nº 97-819886018/16, com a
transformação da dívida em empréstimo consignado tradicional, devendo
assim, o contrato ser recalculado pela média do mercado posto que mais
vantajoso ao mutuário.
Portanto, Vossa Excelência, mediante a conduta ardilosa
apresentada pelo banco Réu, a parte Autora requer que seja aplicado a
esta operação a Taxa Média de juros utilizada no mercado e
consequentemente reconheça e reenquadre o valor ao contrato.

V. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente, cabe ressaltar que se trata de questões


circunstanciais às relações de consumo, justificando a escolha desse foro para
apreciá-la, a teor do artigo 101, I do CDC 1, prevendo a possibilidade de
propositura da demanda no domicílio do Autor porquanto reconhecidamente
hipossuficiente.
Entre os direitos básicos previstos no CDC está à garantia de
reparação dos danos patrimoniais e morais, o acesso à justiça e a inversão do
ônus da prova em favor do consumidor, nos termos do artigo 6º, incisos VI, VII
e VIII.
Cumpre destacar, em relação ao artigo 6º, VIII, do CDC, que o
Autor encontra-se em nítida desvantagem em relação ao Réu, o que por si só
1
Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II
deste título, serão observadas as seguintes normas:
I – a ação pode ser proposta no domicílio do Autor.
Dispõe a Constituição Federal de 1988 (CF/88) em seu artigo 5º, inciso XXXII, que “o Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor”. A defesa de seus direitos é, portanto, garantia constitucional.
Dessa forma, por meio da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Estado Brasileiro instituiu o CDC, que
regulamenta as formas de proteção do consumidor, com normas de ordem pública e interesse social, em
consonância com a CF/88

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autoriza a inversão do ônus probandi, uma vez que se trata de aplicação do
direito básico do consumidor, inerente à facilitação de sua defesa em juízo.
Sobre a relação de consumo, as partes enquadram-se nos
conceitos de consumidor e fornecedor conforme dispõem os artigos 2º e 3º do
CDC, vez que o Autor é consumidor final e o Réu instituição financeira, nos
termos da Súmula 297 do STJ.2
Sendo assim, inexistem maiores dificuldades em se concluir
pela aplicabilidade do referido Código, visto que a norma pretende aplicar-se a
todas as relações desenvolvidas no mercado brasileiro que envolvam um
consumidor e um fornecedor.
Portanto, requer desde logo que o caso seja analisado e
julgado sob o prisma da relação de consumo, deferindo-se em favor do Autor o
benefício da inversão do ônus da prova consoante artigo 6º, VIII, do CDC 3, ante
a manifesta hipossuficiência técnica e financeira em relação ao Réu.
Assim, o princípio da força obrigatória contratual (pacta sunt
servanda) deve ceder e se coadunar com a sistemática do Código de Defesa
do Consumidor.

a.1) Dos vícios de informação

O Código de Defesa do Consumidor, orientado pelo princípio


da boa-fé contratual, estabelece de forma clara, em seu art.6°, III, ser direito
básico do consumidor “a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
Decorrente deste direito à informação encontra-se a obrigação
legal do contratado de fornecer todo esclarecimento e informações ao
consumidor, possibilitando sua compreensão plena e real acerca dos termos
acordados.

2
O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.
3
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

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Ressalta ainda que a obrigatoriedade da transparência nas
relações jurídicas não precisa estar explicitada no contrato, porquanto o
comportamento probo dos contratantes na execução das obrigações
pactuadas constitui premissa maior inserida no padrão genérico exigível de
conduta. Neste sentido, vejamos:

“Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de
tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão
de seu sentido e alcance.”

O STJ já se posicionou diversas vezes sobre o tema,


decidindo que informação adequada, nos termos do art. 6º, III, CDC, é aquela
que se apresenta simultaneamente completa, gratuita, útil, vedada, neste
último caso, a diluição da comunicação efetivamente relevante pelo uso de
informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer serventia para o
consumidor (STJ, Resp 586.316, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJ
19/03/2009).
Não há que se negar que o Autor tenha mencionado
expressa autorização em permitir ser realizado o desconto consignado
em seu benefício previdenciário, mas somente da forma como fora
pactuado.
O consumidor, como tantos brasileiros, não detém (nem
deveria deter) conhecimento técnico apto a compreender todas as vicissitudes
do contrato.
Porquanto, é dever do BANCO, pela sua incomparável
estrutura técnica e econômica, esclarecer aos consumidores.
Vejamos o que diz o Código do Consumidor sobre o assunto:

“Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas
unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o

11
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo.
§ 3° Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos
claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua
compreensão pelo consumidor

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor


deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e
fácil compreensão.”

Por fim, veja-se da abusividade da prática elencada:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo


em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que


coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;”.

Do exposto, conclui-se que o Réu não presta a devida


informação aos consumidores impedindo a compreensão e questionamento
da modalidade de empréstimo contratada.
Como já afirmado, o não esclarecimento enseja vício
insanável destas cláusulas que não obedecem às regras legais de dever de
informação, podendo ser revistas, sem prejuízos de multa a ser cominada
para a Instituição Financeira descumpridora de suas obrigações.

b) DOS JUROS REMUNERATÓRIOS E A TAXA MÉDIA DE MERCADO


12
No julgamento do Recurso Especial Repetitivo n.º
1.061.530/RS, 2ª Seção, DJe de 10/03/2009, adotaram-se as seguintes
orientações quanto aos juros remuneratórios:

a) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos


juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF;
b) a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao
ano, por si só, não indica abusividade;
c) são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de
mútuo bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do
CC/02;
d) é admitida, em relações de consumo, a revisão das
taxas de juros remuneratórios em situações excepcionais,
desde que a abusividade (capaz de colocar o consumidor
em desvantagem exagerada – art. 51, §1º, do CDC) fique
cabalmente demonstrada, ante as peculiaridades do
julgamento em concreto.

Todavia, no referido julgamento, não foi abordada a legalidade


da cobrança de juros remuneratórios devidos em contratos bancários, quando
não há prova da taxa pactuada ou a cláusula ajustada entre as partes não
tenha indicado o percentual a ser observado.
Destarte, passa-se a analisar essa questão, nos termos do art.
543-C do CPC.
A 2ª Seção desta Corte pacificou o entendimento de que é nula
a cláusula contratual que prevê a incidência de juros remuneratórios, sem
precisar a respectiva taxa, visto que fica ao exclusivo arbítrio da instituição
financeira o preenchimento de seu conteúdo. A fixação dos juros, porém, não
fica adstrita ao limite de 12% ao ano, mas deve ser feita segundo a taxa
média de mercado nas operações da espécie.
A maioria dos Ministros que compõem esta 2ª Seção já teve a
oportunidade de apreciar o tema, conforme se verifica dos seguintes julgados:

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APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO

Relator Julgado Órgão


Aldir Passarinho AgRg no REsp 1.068.221/PR – Dje 4ª Turma
Junior 24/11/2008
Joã o Otá vio de AgRg no REsp 1.003.938/RS – Dje 4ª Turma
Noronha 18/12/2008
Luís Felipe AgRg no REsp 1.071.291/PR – Dje 4ª Turma
Salomã o 23/03/2009
Massami Uyeda REsp 1.039.878/RS - DJe 20/06/2008 3ª Turma
Nancy Andrighi AgRg no REsp 1.050.605/RS – Dje 3ª Turma
05/08/2008
Paulo Furtado AgRg no Ag 761.303/PR – Dje 3ª Turma
04/08/2009
Sidnei Beneti AgRg no REsp 1015238/RS – Dje 3ª Turma
07/05/2008
Vasco Della EDcl no Ag 841.712/PR – Dje 3ª Turma
Giustina 28/08/2009
Fernando AgRg no REsp 1.043.101/RS – DJe 4ª Turma
Gonçalves 17/11/2008

Sobre a matéria, nota-se que o precedente uniformizador da


jurisprudência é o REsp 715.894/PR, de minha relatoria, 2ª Seção, DJ de
19/03/2007, assim ementado:

“Direito bancário. Contrato de abertura de crédito em conta corrente.


Juros remuneratórios. Previsão em contrato sem a fixação do
respectivo montante.
Abusividade, uma vez que o preenchimento do conteúdo da cláusula
é deixado ao arbítrio da instituição financeira (cláusula potestativa
pura). Limitação dos juros à média de mercado (arts. 112 e 113 do
CC/02). Art. 6º da LICC.
Questão constitucional. Honorários advocatícios. Ação condenatória.
Estabelecimento em valor fixo.
Impossibilidade. Necessidade de observância da regra do art. 20,
§3º, do CPC.
- As instituições financeiras não se sujeitam ao limite de 12% para a
cobrança de juros remuneratórios, na esteira da jurisprudência
consolidada do STJ.

14
- Na hipótese de o contrato prever a incidência de juros
remuneratórios, porém sem lhe precisar o montante, está correta a
decisão que considera nula tal cláusula porque fica ao exclusivo
arbítrio da instituição financeira o preenchimento de seu conteúdo. A
fixação dos juros, porém, não deve ficar adstrita ao limite de
12% ao ano, mas deve ser feita segundo a média de mercado
nas operações da espécie. Preenchimento do conteúdo da cláusula
de acordo com os usos e costumes, e com o princípio da boa fé (arts.
112 e 133 do CC/02).
- A norma do art. 6º da LICC foi alçada a patamar constitucional, de
modo que sua violação não pode ser discutida em sede de recurso
especial. Precedentes.
- Tratando-se de ação condenatória, os honorários advocatícios têm
de ser fixados conforme os parâmetros estabelecidos no art. 20, §3º
do CPC. Merece reforma, portanto, a decisão que os estabelece em
valor fixo. Precedentes.
Recursos especiais da autora e do réu conhecidos e parcialmente
providos.”

Nesse precedente, declarou-se a nulidade da cláusula inserida


em contrato de abertura de crédito em conta corrente que previa a incidência
de juros remuneratórios sem definir a respectiva taxa, determinando-se a
aplicação da taxa média de mercado em operações da espécie. A nulidade
da cláusula em comento evidencia-se seja por abusividade (art. 51, X, do CDC)
seja por ser potestativa (art. 122, do CC/02; 115 do CC/16).

A jurisprudência do STJ tem utilizado para esse fim a taxa


média de mercado.

Essa taxa é adequada, porque é medida segundo as


informações prestadas por diversas instituições financeiras e, por isso,
representa o ponto de equilíbrio nas forças do mercado. Além disso, traz
embutida em si o custo médio das instituições financeiras e seu lucro médio, ou
seja, um spread médio.

15
A adoção da taxa média de mercado ganhou força quando o
Banco Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as taxas
médias, ponderadas segundo o volume de crédito concedido, para os juros
praticados pelas instituições financeiras nas operações de crédito realizadas
com recursos livres (conf. Circular nº 2.957, de 30.12.1999).

As informações divulgadas por aquela autarquia, as quais são


acessíveis a qualquer pessoa por meio da Internet (conforme
http://www.bcb.gov.br/?ecoimpom; ou http://www.bcb.gov.br/?TXCREDMES,
acesso em 07.04.2010), são agrupadas de acordo com o tipo de encargo
(prefixado, pós-fixado, taxas flutuantes e índices de preços), com a categoria
do tomador (pessoas físicas e jurídicas) e com a modalidade de empréstimo
realizada (hot money, desconto de duplicatas, desconto de notas promissórias,
capital de giro, conta garantida, financiamento imobiliário, aquisição de bens,
'vendor', cheque especial, crédito pessoal, entre outros).

Ausente a fixação da taxa no contrato, deve o juiz limitar os


juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo Bacen.
Esses são os usos e costumes, e é essa a solução que recomenda a boa-fé.

Ressalta-se que a taxa média somente não deverá


prevalecer nas hipóteses em que o efetivo índice praticado pelo banco se
mostrar inferior a ela e, portanto, mais vantajoso para o cliente.

É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é completo, na


medida em que não abrange todas as modalidades de concessão de crédito,
mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de tendência das taxas de juros.
Dessa forma, nas hipóteses em que não houver a divulgação pelo Bacen da
taxa média relativa a um contrato específico, nada impede o juiz de acolher,
com base em regras de experiência, a média adotada pelo mercado em
contratos similares.

No presente caso, a taxa média do mercado para a operação


realizada pelo autor/requerente encontra-se evidenciada na taxa média dos 20

16
melhores bancos para o período de contratação, e que evidenciou-se que a
média do mercado ficou em 2,12 % ao mês contrastando com as taxas que
vem sendo aplicada, é de, 3,99% ao mês. Corrobora também o entendimento
do STJ sobre a matéria:

STJ - Súmula 530

Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de


juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela falta
de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de mercado,
divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo
se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.

O Superior Tribunal de Justiça, consolidou o entendimento de


que:

a) nos contratos de mútuo em que a disponibilização do


capital é imediata, deve ser consignado no respectivo
instrumento o montante dos juros remuneratórios praticados.
Ausente a fixação da taxa no contrato, deve o juiz limitar os
juros à média de mercado nas operações da espécie,
divulgada pelo Bacen, salvo se a taxa cobrada for mais
vantajosa para o cliente.

b) em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa


média se for verificada abusividade nos juros
remuneratórios praticados.

No presente caso, de acordo com o Parecer, demonstra-se os


valores descontados no benefício do autor pela calculadora do cidadão do
BACEN para o período compreendido do contrato entabulado.

Nessa hipótese, o reconhecimento da abusividade na cobrança


dos juros conduz à aplicação da taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen.
17
Para o caso em concreto, a média dos 20 melhores bancos
para a época do contrato, encontrada no site:
https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuros/?path=conteudo%2Ftxcred
%2FReports%2FTaxasCredito-Consolidadas-porTaxasAnuais-
Historico.rdl&nome=Hist%C3%B3rico%20Posterior%20a
%2001%2F01%2F2012&exibeparametros=true ficou em 2,12% ao mês.

Devendo assim, o contrato ser recalculado pela média do


mercado posto que mais vantajoso ao mutuário, conforme entendimento
consolidado do STJ, nos ditames do Resp 715.894/PR e o excedente ser
devolvido com juros e atualização monetária.

Logo, as referidas taxas remuneratórias devem ser


ajustadas a média dos 20 melhores bancos (média do mercado) da época, ou
adequadas á taxa de juros informadas no site do Banco Central do Brasil á
época da contratação, consoante jurisprudência do STJ – Superior Tribunal de
Justiça, nos termos do REsp 715.894/PR..

c) DIREITO À RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO – VEDAÇÃO DO


ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.

Portanto, mediante a conduta ardilosa apresentada pela


instituição financeira, o autor requer o RESSARCIMENTO EM DOBRO dos
valores cobrados indevidamente, como a medida da mais lidima justiça.
Excelência, em sessão realizada dia 21 de outubro de 2020 a
Corte Especial do STJ chegou a um consenso sobre a matéria, uma das mais

18
controvertidas em instância especial. Os ministros aprovaram tese4 que visa
pacificar a interpretação do parágrafo único do artigo 42 do Código de Defesa
do Consumidor.
A norma diz que o consumidor cobrado em quantia indevida
tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável, restando a seguinte tese aprovada: “1. A restituição em
dobro do indébito (parágrafo único do artigo 42 do CDC) independe da
natureza do elemento volitivo do fornecedor que cobrou valor indevido,
revelando-se cabível quando a cobrança indevida consubstanciar
conduta contrária à boa-fé objetiva.”
Portanto, no caso sob comento, o direito do autor à restituição
de valores que foram descontados a mais do seu benefício, deverá ser em
dobro, como previsto no artigo 42 do CDC, estatuto que, ao contrário de lei
civil, não exige prova da má-fé no ato da cobrança da dívida, sendo suficiente o
pagamento indevido, por débito inexistente, até porque a obrigação só resta
excluída se comprovado que a cobrança decorreu de engano justificável, o que
não ocorreu.
Cláudia Lima Marques, refere, em Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor, que:

“(...) A devolução simples do cobrado indevidamente é para


casos de erros escusáveis dos contratos entre iguais, dois civis
ou dois empresários, e está prevista no CC/2002. No sistema
do CDC, todo o engano na cobrança de consumo é, em
princípio injustificável, mesmo o baseado em cláusulas
abusivas inseridas no contrato de adesão, ex vi o disposto no
parágrafo único do art. 42. Cabe ao fornecedor provar que seu
engano na cobrança, no caso concreto, foi justificado. Já em
caso de uso de método abusivo, como o envio do nome do
consumidor para os bancos de dados, sem aviso prévio, este é
– em minha opinião – sempre injustificado e abusivo, causando

4
EAREsp 676.608 (paradigma); EAREsp 664.888; EAREsp 600.663; EREsp 1.413.542; EAREsp 676.608;
EAREsp 622.697

19
dano moral puro (...)”.MARQUES, Cláudia Lima. in: Comentários ao
código de defesa do consumidor, 2. ed., RT, São Paulo-SP, 2006,
pág. 593. (grifo nosso)

Também dispõe o § único, do art. 42, do CDC:

Art. 42 (...)

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem


direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou
em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.

Ainda, de acordo com o CÁLCULO PERICIAL, é possível


perceber que o consumidor, quitou o contrato de empréstimo na 30ª
parcela. Dessa forma, todas as demais parcelas de R$ 52,25 foram
cobradas indevidamente, cabendo restituição do indébito em dobro no
valor de R$ 2.403,50 (dois mil, quatrocentos e três reais e cinquenta
centavos) a serem pagos ao consumidor prejudicado.

d) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Data vênia, torna-se necessário a declaração da inversão do


ônus da prova, devendo ser atribuída ao banco à incumbência de produzir
provas contrárias às alegações iniciais do autor.

Isso porque o autor está em condição de vulnerabilidade como


consumidor, pois, além de ser idoso e leigo, no momento da contratação, o
produto solicitado foi EMPRÉSTIMO CONSIGNADO COMUM, mas foi

20
concluída de forma ardilosa pelo Banco Réu a adesão ao cartão de crédito
consignado RMC.
Em que pese a questão da vulnerabilidade técnica, a
instituição financeira deveria instruir e informar corretamente todos os clientes,
principalmente àqueles consumidores que mais necessitam de clareza e que
geralmente são os segurados idosos, leigos, sem muita instrução escolar,
analfabetos e/ou as pessoas visivelmente “desesperadas” pelo valor ofertado.
Com o máximo respeito, Excelência, ser idoso não é
sinônimo de ser tolo, e em nenhum momento aferimos tratamento
discriminatório indevido, apenas enfatizamos que, pelo uso do bom
senso, a pessoa idosa, na sua grande maioria, possui pouco ou nenhum
esclarecimento ou discernimento sobre esse tipo de operação financeira.
De modo igual, até mesmo algumas pessoas bem instruídas e jovens não
possui total conhecimento sobre as funcionalidades do sistema bancário e seus
produtos/serviços.
Porém, o que se nota é que no momento da contratação houve
uma imposição de cláusulas em contrato padronizado, de adesão, redigidas
unilateralmente pelo Banco Réu, tornando-se, o consumidor, submisso, sem
poder alterar, ou mesmo opinar sobre as condições impostas coercitivamente.
Estando presente a vulnerabilidade (técnica jurídica ou fática –
socioeconômica) como demonstrada retro, não foi o autor tutelado pelos
preceitos do CDC., ficando “expostos” às práticas previstas nos capítulos V e
VI do CDC.
Com a inversão do ônus da prova estará o M.M. Juiz
garantindo a proteção legal/contratual e o acesso pelo autor parte mais fraca
na relação obrigacional, ao Poder Judiciário, facilitando o direito de ação
conforme preceito contido no art. 6º, VIII do CDC, que se requer seja declarado
ab initio em vista da oportunidade da instrução processual que objetivará
apurar o equilíbrio contratual e a licitude das cobranças ocorridas por parte do
banco.

e) ALTERAÇÃO CONTRATUAL

21
Conforme consta no Extrato de Empréstimos Consignados do
beneficiário, verifica-se que o Banco Réu, acabou por entregar produto diverso
do pretendido pelo Autor na contratação, o que afronta os princípios da
transparência e da informação dispostos no Código de Defesa do Consumidor.
Nesse sentido, observe-se que, aparentemente para o
consumidor, o empréstimo consignado e o saque em cartão de crédito
consignado em nada se diferem, visto que o aposentado busca a instituição
financeira, assina um contrato com autorização de desconto no benefício
previdenciário e recebe o numerário em sua conta corrente.
Contudo, em uma análise técnica (frise-se, impossível para o
consumidor no momento da contratação), observa-se apenas vantagens para
a instituição de crédito.
A situação foi compreendida e explanada pelo Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná5:

“Utilizando-me dos cálculos efetuados em autos outros, de minha


Relatoria, que discutia empréstimo com características praticamente
idênticas a este (apelação cível nº 0015084-25.2019.8.16.0173), fica
evidenciada a vantagem desproporcional que o Banco obtém
nessa modalidade de operação: “Em primeiro lugar, embora a
instituição financeira tenha colacionado diversos supostos depósitos
na conta corrente do mutuário (mov. 13.2 a 13.19), pelas faturas por
ela colacionadas (mov. 13.24) verifica-se apenas um saque em
10/11/2015 no valor de R$1.299,18 (mil duzentos e noventa e nove
reais e dezoito centavos), a uma taxa mensal de 3,06% (três vírgula
zero seis por cento) ao mês, no benefício previdenciário de nº
1321862382 (mov. 23.1). 48 Entretanto, com base nas faturas
fornecidas pelo Banco (mov. 13.23), observando-se os saldos
devedores e os valores médios dos descontos mínimos – R$54,20 –
entre os meses de [1] 10/07/2008 a 10/10/2008, obtém-se uma
amortização média mensal de R$ 1,18 (um real e [2] dezoito
5
Apelação Cível n° 0011730-94.2017.8.16.0194 15ª Vara Cível de Curitiba Apelante(s): IRACEMA DOS SANTOS
ONORATO Apelado(s): BANCO OLE BONSUCESSO CONSIGNADO S.A. Relator: Desembargadora Rosana
Andriguetto de Carvalho – data do julgamento: 28 de agosto de 2020

22
centavos), considerando apenas o saque de R$1.299,18 (mil
duzentos e noventa e nove reais e dezoito centavos). Com base
nessa amortização real, sem considerar qualquer correção de
valores, conclui-se que o consumidor adimpliria o valor do saque
– R$1.299,18 (mil duzentos e noventa e nove reais e dezoito
centavos) – em mais de 1.000 parcelas, ou seja, em cerca de 91
anos, bem como pagaria, no total, R$ 59.674,20 (cinquenta e nove
mil seiscentos e setenta e quatro reais e vinte centavos). Agora,
suponha que o consumidor obtivesse o numerário mutuado da
forma como pretendia – empréstimo consignado –, utilizando-se
as mesmas variáveis, ou seja, o empréstimo de R$1.299,18 (mil
duzentos e noventa e nove reais e dezoito centavos), a uma taxa
mensal de 3,06% (três vírgula zero seis por cento) ao mês, com
parcelas de R$54,20 (cinquenta e quatro reais e vinte centavos),
conclui-se que o consumidor adimpliria o valor mutuado em
cerca de 44 parcelas, ou seja, em menos de 4 anos, bem como
pagaria, no total, R$ 2.384,80 (dois mil trezentos e oitenta e quatro
reais e oitenta centavos)

Questiona-se: apresentados, da forma como feita acima, ambas as


formas de contratação ao consumidor – saque por meio do cartão de
crédito consignado ou empréstimo consignado – quem em sã
consciência optaria por pagar 1.000 parcelas a mais, por 87 anos
a mais e um valor R$ 57.289,40 (cinquenta e sete mil duzentos e
oitenta e nove reais e quarenta centavos) mais caro que a outra
forma de contratação?” Por óbvio, não há qualquer vantagem ao
consumidor. A contrário, do seu ponto de vista, só há
desvantagens em optar pelo saque em cartão de crédito
consignado em detrimento do empréstimo consignado, ainda

23
mais porque em ambos os casos receberia o mesmo valor
mutuado”. (grifo nosso)

Noutro canto, a prática mencionada não acarreta a nulidade da


contratação em si, uma vez que o contrato pode e deve ser preservado.
Nos termos do que dispõe o artigo 51, § 2º, do CDC, "a
nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto
quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus
excessivo a qualquer das partes".
Aplica-se ao caso o disposto no artigo 170 do Código Civil, que
estabelece que: "se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o
teriam querido se houvessem previsto a nulidade".

À vista disso, tem sido pacificado pela jurisprudência:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE


VALORES E INDENIZAÇÃO POR DANO ‘1 ‘MORAL -
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO -
CONTRATAÇÃO COMPROVADA - PEDIDO ALTERNATIVO -
READEQUAÇÃO DO CONTRATO - POSSIBILIDADE - DESCONTO
MINIMO EM FOLHA DE PAGAMENTO - ABUSIVIDADE - OFENSA
AO DEVER DE BOA-FÉ E DE INFORMAÇÃO - READEQUAÇÃO A
MODALIDADE DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. (...)Demonstrada
a ocorrência de erro na contratação, por força do art. 171 do
Código Civil é possível a readequação do contrato à modalidade
de empréstimo consignado. (grifo nosso)

Em consonância com o julgado acima e a situação de fato,


requer o Autor, a fim de se restabelecer o equilíbrio contratual, bem como
observando a vedação ao enriquecimento sem causa - artigo 884 do Código
Civil -, que seja determinada a revisão do contrato de cartão de crédito
consignado, adequando-o ao empréstimo consignado em folha de pagamento,
aplicando-se a taxa média de juros do empréstimo praticado pelo BACEN à

24
época da contratação do crédito, de modo a prestigiar a verdadeira vontade
das partes.

f) DO DANO MORAL

O pedido de indenização por danos morais está pautado no


fato de que houve ausência de boa-fé contratual por parte da Ré, quando da
realização do negócio jurídico, na taxa de juros pactuada e na falta de
interrupção do desconto, mesmo o contrato estando quitado.
Assim, estando evidente a conduta ilícita da instituição
financeira (impor ao consumidor produto diferente do solicitado) e o dano moral
(desvirtuar contrato de empréstimo consignado e submeter o consumidor à
dívida impagável), resta caracterizado o nexo de causalidade, uma vez que a
falha na prestação de serviço deu causa ao dano, ou seja, é uma relação lógica
jurídica, de causa e efeito.
A atitude ilícita realizada pelo Banco Réu, apesar de
caracterizar nítida má-fé, vem sendo repetida por várias instituições financeiras,
como se vê relatada na mídia:

25
Fonte: https://migalhas.uol.com.br/quentes/329401/aposentada-que-contratou-
emprestimo-consignado-mas-sofreu-desconto-de-cartao-sera-indenizada

26
A notícia acima, informa sobre abertura de processos
administrativos instaurados pelo Departamento de Proteção e Defesa do
Consumidor (DPDC) contra Instituições Financeiras, quanto as contratações de
empréstimos realizadas via telefone, todavia também enfatiza:

Fonte: https://extra.globo.com/economia/bancos-serao-investigados-por-se-
aproveitar-da-vulnerabilidade-de-idosos-para-oferecer-consignado-
23818748.html

27
As reportagens acima são apenas uma pequena demonstração
em meio há milhares de reclamações realizadas por consumidores e órgãos de
proteção que repudiam o engano, a má-fé e a ilegalidade cometida por
alguns Bancos referente à contratação de empréstimos consignados,
RESSALTA-SE NO CASO EM QUESTÃO, o cartão de crédito RMC.
Logo, a ilegalidade praticada é perfeitamente passível de
indenização por danos morais à vítima, nesse caso, ao Autor.
Quanto à previsão legislativa, o dever de indenizar é
fundamentado tanto pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso V, como
pelo Código de Defesa do Consumidor presente no artigo 14. Depreende-se
de seu texto, a imputação direta, independentemente de culpa, da reparação
do dano causado ao consumidor oriundo de “defeito” relativo à prestação do
serviço.
Tais situações deverão ser indenizadas independentemente de
prova, pois presumem-se. Além do que, o CDC consagra a responsabilidade
objetiva, onde somente se levará em consideração o nexo causal e o dano.
Ambos, in casu, estão sobejamente caracterizados. Dessa maneira, estando
presentes os pressupostos ensejadores do instituto jurídico da
responsabilidade civil, fundamentado está o pedido de reparação de danos,
seja ele motivado por prejuízo material ou moral.

Sobre o assunto, leciona Maria Helena Diniz:

“Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a)


fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de um dano
patrimonial ou moral; c) nexo de causalidade entre o dano e o
comportamento do agente”. (in Código Civil Anotado, 10 ed., São
Paulo, Editora Saraiva, 2004, p. 196 e 197).

O doutrinador Carlos Alberto Bittar conclui:

Assim sendo, para que haja ato ilícito, necessária se faz a


conjugação dos seguintes fatores: a existência de uma ação; a

28
violação da ordem jurídica; a imputabilidade; a penetração na esfera
de outrem. Desse modo, deve haver um comportamento do agente,
positivo (ação) ou negativo (omissão), que, desrespeitando a ordem
jurídica, cause prejuízo a outrem, pela ofensa à bem ou a direito
deste. Esse comportamento (comissivo ou omissivo) deve ser
imputável à consciência do agente, por dolo (intenção) ou por culpa
(negligência, imprudência, imperícia), contrariando, seja um dever
geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja uma obrigação em
concreto (inexecução da obrigação ou de contrato). [...] Deve, pois, o
agente recompor o patrimônio (moral ou econômico) do lesado,
ressarcindo-lhe os prejuízos acarretados, à causa do seu próprio,
desde que represente a subjetividade do ilícito. Bittar, Carlos
Alberto . A Responsabilidade Civil - Doutrina e jurisprudência,
Saraiva, 20 ed., p. 93/95 (grifo nosso)

Destaco, aqui também, que o autor é pessoa idosa e depende


do benefício previdenciário para seu sustento, sendo evidente que qualquer
quantia indevidamente descontada da sua aposentadoria é capaz de
comprometer sua subsistência e de sua família.
A esse respeito, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais
posiciona-se no sentido de que, havendo retenção indevida de salário ou de
proventos de aposentadoria, o dano moral tem caráter in re ipsa e independe
de comprovação, pois fere valores existenciais e compromete a verba
destinada à subsistência da família, vindo a causar dor, sofrimento,
humilhação, e preocupação pela perda injustificada de significativo montante
da fonte alimentar do ser humano.6
Constatado o ato do Banco Réu e o nexo de causalidade, resta
perquirir a extensão do prejuízo, não para garantir o recebimento da
indenização, mas para que o valor seja arbitrado com fundamento no artigo
944 do Código Civil, onde a indenização mede-se pelas circunstâncias do caso
concreto, a gravidade da conduta, o alcance da ofensa e a capacidade
econômica do ofensor e do ofendido.
6
(TJMG - Apelação Cível 1.0153.13.004951-0/001, Relator(a): Des.(a) José Arthur Filho , 9ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 20/06/2018, publicação da súmula em 10/07/2018)

29
Além disso, é certo que o valor da indenização deve atender
aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, mostrando-se suficiente
para compensar a vítima pelo dano sofrido e, ao mesmo tempo, para sancionar
o causador do prejuízo e servir de desestímulo à repetição do ato ilícito, sem,
contudo, causar locupletamento indevido.
Além do mais, o fato do Autor já ter adimplido mais do
dobro do valor incialmente contratado, é com certeza, um dano
significativo, que causou prejuízos para além da ordem patrimonial, motivo
que se requer a fixação da indenização no montante de R$ 15.000,00 (quinze
mil reais), consoante o abalo psíquico experimentado.

g) DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Requer a antecipação da tutela pretendida, para que se digne


V. Exa. em determinar, inaudita altera parte e nos termos do art. 300 do CPC 7,
bem como do art. 84 do CDC 8, à vista dos elementos trazidos aos autos e do
arcabouço de provas lançadas a configurar o “fumus boni juris”, e
principalmente o ´´periculum in mora´´ que seja determinada a consequente
suspensão dos descontos relacionados ao contrato nº 97-819886018/16,
em seus proventos da pensão por morte previdenciária, SOB CASO
HAVER DESOBEDIÊNCIA, seja aplicada multa diária enquanto não
comprovar a baixa do empréstimo, restabelecendo o valor dos proventos
recebidos pelo o autor.

Excelência, diante dos fatos narrados e com base no cálculo


pericial, restou claro que o consumidor solicitou contrato diferente do averbado

7
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

8
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.

30
pelo Banco Réu. Em nenhum momento houve a contratação do cartão de
crédito RMC, pois o produto solicitado foi o empréstimo consignado comum.

Ademais, de acordo com o CÁLCULO PERICIAL anexo, o


contrato de empréstimo já foi quitado. Resumidamente:

Conforme Taxa Média do Mercado:

Todavia, os descontos perduram até o momento. Por esse


motivo, caracteriza-se o PERICULUM IN MORA, na qual o risco da demora fica
demonstrado diante da continuidade da cobrança indevida e dos descontos no
benefício do Autor, fato que vem gerando inúmeros transtornos e
constrangimentos.

Se nos atentarmos tão somente, quanto ao valor da


parcela que vem sendo descontada, INDEVIDAMENTE, qual seja de R$
52,25, não será possível entender a extensão do dano que acomete ao
Autor, mas se levarmos em conta que o Autor, pessoa idosa, com
pouquíssimos recursos financeiros, recebe apenas um salário mínimo e
desse valor ainda são descontados outros empréstimos que teve a
necessidade de adquirir, V. Exa. Excelência perceberá que a falta dos
mesmos R$ 52,25 é de extrema importância à quem necessita garantir sua

31
subsistência com um pouco mais de R$ 700,00 (setecentos reais) que o
aposentado percebe líquido por mês.

Portanto Excelência, requer a cessação dos descontos da


parcela de R$ 52,25 referente ao contrato supracitado, uma vez que
COMPROVADAMENTE o Autor já pagou sua dívida, não restando nenhuma
pendência com a instituição financeira. De outro modo, como mencionado
acima, a manutenção do desconto continuará prejudicando, E MUITO, a
situação econômica do consumidor.

Dando continuidade, o instituto processual da tutela de


evidência está disciplinado no artigo 311 do CPC, in verbis:

Art. 311. A tutela da evidencia será concedida, independentemente


da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do
processo quando:

I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto


propósito protelatório da parte;

II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas


documentalmente e houver tese firmada em julgamento de
casos repetitivos ou em súmula vinculante;

III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental


adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a
ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;

IV - a petição inicial for instruída com prova documental


suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o
réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá


decidir liminarmente.(grifos nosso).

As normas que orientam o sistema jurídico vigente, expostas


no decorrer desta peça, não deixam dúvidas quanto à existência do direito
pleiteado – FUMUS BUNI IURIS -, corroborado com os dispositivos da Lei

32
Federal nº 8078/90, bem como o Código Civil e texto constitucional em seu art.
170, V e ADCT em seu art. 48, o que conduz à certeza de que o autor tem o
direito.

Como se observa, para que ocorra o deferimento da tutela da


evidência, cujo objeto é assegurar à parte um direito que, para sua concessão,
somente seria alcançado ao final da lide, é imprescindível que ocorra a
observância dos requisitos legais, os quais, conforme será demonstrado, estão
presentes no caso em apreço com farta documentação e decisões em casos
repetitivos, como já colacionados.

Por outro aspecto, verifica-se, ainda, que a matéria trazida à


discussão é eminentemente de direito, o que confere às alegações
deduzidas uma clareza incontroversa, não havendo necessidade de
produção de outras provas, nos termos do art. 355 do novo CPC, como in
verbis:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo


sentença com resolução de mérito, quando:

I - não houver necessidade de produção de outras provas;

II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver
requerimento de prova, na forma do art. 349.rizada diante da
demonstração inequívoca de que o débito junto ao Banco Réu já
foi quitado.

Assim, conforme destaca a doutrina, não há razão lógica para


aguardar o desfecho do processo, quando diante de direito inequívoco:

"Se o fato constitutivo é incontroverso não há racionalidade em


obrigar o autor a esperar o tempo necessário à produção da
provas dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos, uma
vez que o autor já se desincumbiu do ônus da prova e a
demora inerente à prova dos fatos, cuja prova incumbe ao réu
certamente o beneficia." (MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela
de Urgência e Tutela da Evidência. Editora RT, 2017. p.284)
33
A pretensão do requerente é legítima, vez que a manutenção
dos descontos no seu benefício previdenciário é ilícita e continuará o
prejudicando financeiramente até o deslinde do caso.

Por fim, cabe destacar que o presente pedido NÃO caracteriza


conduta irreversível, não conferindo nenhum dano ao réu.
Assim, verificando-se preenchidos os requisitos exigidos para o
deferimento da antecipação da tutela, quais sejam probabilidade do direito e o
perigo de dano bem como a contemporaneidade da urgência, requer seja, em
antecipação de tutela, o Banco Réu compelido a cessar os descontos
realizados mensalmente, referente ao contrato nº 97-819886018/16.
De mais a mais, a concessão da tutela antecipatória é
medida que se impõe.
Verifica-se, Excelência, que a situação do Autor atende
perfeitamente a todos os requisitos esperados para a concessão da medida
antecipatória, pelo que se busca, antes da decisão do mérito em si, a ordem
judicial para cessação dos débitos, e para tanto, requer-se de Vossa
Excelência, se digne determinar a expedição de Ofício ao Banco Réu, nesse
sentido.

VI. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, requer:

a. O recebimento da presente demanda, com todos os


documentos que a acompanham;

b. Seja deferido o benefício da Gratuidade Judiciária;

c. Seja deferida a prioridade no trâmite processual,


uma vez que o autor conta hoje com 78 anos de idade, fazendo, por

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isso, jus ao benefício da prioridade na tramitação de procedimentos
judiciais, nos termos do art. 1.048 do Código de Processo Civil e art. 71
do Estatuto do Idoso;

d. Seja deferida a concessão da Tutela Antecipada,


"inaldita altera parte", para que sejam suspendidos os descontos
realizados do referido cartão de crédito RMC, contrato nº97-
819886018/16 em conta corrente nº 0000025194, agência 2513,
BANCO 237 - BRADESCO em nome do Autor, no valor de R$ 52,25
(cinquenta e dois reais e vinte e cinco centavos) até final de
julgamento, oportunidade em que os mesmos serão declarados ilícitos,
ficando impedida a prática de qualquer ato direto ou indireto de
cobrança, em (03) três dias, sob pena de multa diária a ser
arbitrada por esse Douto Juízo;

e. A citação do Banco Réu, para, querendo, oferecer


sua defesa na fase processual oportuna, sob pena de revelia e confissão
ficta da matéria de fato, com o consequente julgamento antecipado da
lide;

f. O julgamento antecipado da lide, consoante o artigo


355, I do CPC, por constar nos autos provas documentais suficientes,
sendo seu o ônus probatório em conformidade com o artigo 6º, VIII do
CDC;

g. A condenação do Requerido a indenizar o Autor


pelos DANOS MORAIS sofridos no importe de R$ 15.000,00
(quinze mil reais), com atenção aos efeitos pedagógico e reparatório
da medida, usando como norte os preceitos acima mencionados,
principalmente o efeito do desestímulo tendo em vista se tratar de atos
lesivos aos direitos do consumidor, e com vista ao relevante poder
econômico da parte;

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h. A condenação do Banco Réu em custas judiciais e
honorários advocatícios, no importe de 20% sobre o valor da
condenação;

i. Requer a produção de todos os meios de prova em


direito admitidos, especialmente pela documentação que segue
acostada.

j. Seja aplicada, caso entenda cabível, a inversão do


ônus da prova;

k. Sejam julgados totalmente procedentes os pedidos,


condenando o Banco Réu à devolução em dobro dos valores
descontados indevidamente do benefício do autor, no importe de R$
2.403,50 (dois mil quatrocentos e três reais e cinquenta centavos);

l. Seja determinada a alteração do contrato de cartão


de crédito RMC, adequando-o ao empréstimo consignado em folha
de pagamento, aplicando-se a taxa média de juros do empréstimo
praticado pelo BACEN à época da contratação do crédito.

Dá-se à causa, o valor de R$ 17.403,50 (dezessete mil


quatrocentos e três reais e cinquenta centavos).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Poço Fundo, 02 de dezembro de 2020.

ADVOGADO
OAB

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