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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO CÍVEL


DA COMARCA DE ACREÚNA, ESTADO DE GOIÁS

ALBERTO RODRIGUES MENEZES, brasileiro, solteiro,


aposentado, portador da CIRG 3799520 2ª via SSP GO, inscrita no CPF sob o n. º 846.410.531-
20, residente e domiciliado na Rua Paulo Saddi, QD. 19, LT. 27, nº 14, Vila Núria, CEP 75.960-
000, Acreúna-GO, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, através de sua
procuradora judicial signatária propor a presente, com fundamento na Lei n° 9.099/95, combinado
com o inciso II e Parágrafo Único do art. 311 do Código de Processo Civil e Arts. 186, 876, 927
todos do Código Civil e ainda do art. 42 do Código de Defesa do consumidor, propor a presente
AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS/MORAIS E TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA em face de BANCO
BMG S.A. CNPJ 61.186.680/0001-74, por seu representante legal, com sede situada na Avenida
Presidente Juscelino Kubitschek, 1.830, Torre 2, 10° Andar, Vila Nova Conceição, CEP 04543-
900, na cidade de São Paulo- SP, pelos fatos e fundamentos a seguir transcritos:

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Rua 101, N° 387, Sala 406, Edifício Columbia – Setor Sul – Goiânia – GO - CEP 74.080-150
Cel.: (64) 9 9923-4653
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I - DOS FATOS.

A parte Autora é pessoa humilde, honesta que sempre


buscou com seus deveres e obrigações, mora nesta cidade, onde goza de
conceito e probidade, sem máculas, recebe a título de benefício previdenciário
do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, o valor de R$ 954,00
(Novecentos e cinquenta e quatro reais), necessitando de recursos financeiros
para suas necessidades básicas, obteve junto ao Requerido empréstimo
consignado, do valor aproximado de R$ 1.304,00, (Mil, trezentos e quatro
reais), ficando estabelecido que as parcelas seriam descontadas diretamente em
seu Benefício previdenciário.

Interessante ressaltar Exª., que a modalidade


contratada pela parte Requerente junto ao Requerido não passou de uma
simulação fraudulenta, criada pelo agente Réu para lesionar os servidores
públicos aposentados e pensionistas do INSS, usando-se uma máscara, uma
camuflagem de empréstimo consignado em forma de cartão de crédito, os
mesmos diziam oferecer empréstimo consignado e foram surpreendidos com
cobranças e faturas de cartões de crédito com juros e taxas altíssimas, o que lhe
fora concedido, é totalmente contrário do que lhe foi oferecido, se tratava de
“empréstimo pela modalidade cartão de crédito” onde há a constituição de uma
Reserva de Margem Consignada (RMC).

Para melhor entendimento segue ilustração da


resolução 1.333, de 28/09/17.

Resolução N°. Limite de taxa de juros empréstimo consignado. %


1.333, DE 28/09/17 2,08% Ao mês

Após uma pesquisa superficial, concluiu que, na


verdade, o empréstimo realizado junto ao Réu se tratava de “empréstimo pela
modalidade de cartão de crédito” de forma que em tal modalidade, há a
constituição da RMC onde o Réu fez uma VENDA MALICIOSA E
MALÉFICA.

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Enfatizando o que já foi mencionado, o Réu se vale da


vulnerabilidade técnica do consumidor, ora Requerente, em razão deste não
possuir conhecimentos específicos sobre o serviço e, portanto, é mais facilmente
enganado quanto às suas características e consequências.

Tal fato, além de gerar outras implicações, destaca-se


pela imobilização do crédito da parte Requerente, já que o
comprometimento do RMC impede ou diminui a margem de outros
empréstimos que pretenda a parte Autora tomar, restringindo-se assim,
sobremaneira, a liberdade de escolha e de decisão quanto à tomada de
empréstimo na modalidade de crédito consignado, cuja decisão, somente
compete a parte Autora, e não à instituição financeira, ora Ré que, sem
qualquer autorização, vinculara o empréstimo a um Cartão de Crédito.

Somente por esse motivo, a condenação do Réu já se


justificaria, ante a sua evidente má-fé.

E veja bem, Insigne Magistrado, essa modalidade de


empréstimo jamais fora explicada a parte Autora, que é sem maiores
conhecimentos acerca de tais matérias, de forma que, estava convencido
(a) de que seu empréstimo seria realizado como na maioria das vezes
ocorre, qual seja o desconto das parcelas, diretamente em seu benefício
previdenciário, portanto, com data estipulada para início e fim dos
descontos, o que não é o caso do “empréstimo consignado pela modalidade
cartão de crédito RMC”, que tem descontos infinitos.

CONCLUI-SE AINDA QUE A PARTE REQUERENTE


ESTÁ PAGANDO SEMPRE A PARCELA (1/1; 1/1; 1/1; 1/1) DE UMA
DÍVIDA INFINITA, NÃO HAVENDO PREVISÃO PARA O FIM DOS
DESCONTOS!

Como se não bastasse induzir a parte Requerente ao


erro, ou seja, induzi-la a contrair algo que sequer tinha solicitado, o requerido
fez sucessivos descontos sem jamais ter abatido ao menos uma parcela de
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sua dívida. A parte Requerente paga sempre à primeira parcela (1/1),


conforme se comprova, (Documentos Anexos).

Tal modalidade de empréstimo não era o pretendido


pela parte Autora, pois sequer conhecia, e, em verdade, somente é benéfica ao
Réu, tanto assim que fora objeto de AÇÃO CIVIL PÚBLICA NO ESTADO DO
MARANHÃO, conforme adiante se verá, justamente em razão da sua
abusividade onerosa em detrimentos dos aposentados e pensionistas.

Nessa mesma matéria, Jean Carlos Nunes Pereira,


“O cliente busca o representante do banco com a finalidade de
obtenção de empréstimo consignado e a instituição financeira,
nitidamente, ludibriando o Consumidor, realiza outra
operação, ou seja: a contratação de cartão de crédito com
RMC”. Na sua folha de pagamento será descontado apenas o
correspondente a 6% do valor obtido por empréstimo e o
restante desse valor e mais os acréscimos é enviado para
pagamento sob a forma de fatura que chega mensalmente à
casa do Consumidor. Se este pagar integralmente o valor da
fatura, que é o próprio valor do empréstimo, estará quitada a
dívida; se, entretanto, como ocorre em quase todos os
casos, o pagamento se restringir ao desconto consignado
no contracheque (6% apenas do total devido), sobre a
diferença não paga, isto é, sobre 94% do valor devido,
incidirão juros que são duas vezes mais caros que no
empréstimo consignado normal. “Jean Carlos esclarece que,
na prática, todos os meses em que a fatura não é paga em sua
integralidade, ocorre novo empréstimo e incidem juros sobre
juros.” (grifei).

Com efeito, não obstante a parte Autora jamais ter


solicitado e ou, recebido o aludido cartão de crédito decorrente da
modalidade do empréstimo, que de forma subvertida, o Requerido realizou
mensalmente descontos no benefício previdenciário da parte Autora
equivalente a R$ 46,85 (Quarenta e seis reais e oitenta e cinco centavos),
sendo até o momento, a importância de aproximadamente R$ 1.452,35 (Mil
quatrocentos e cinquenta dois reais e trinta e cinco centavos), valor referente à
RMC.

Destarte, como se vê, MD. Julgador, não se trata de


engano justificável perpetrado pela instituição financeira, o que poderia excluir
a sua responsabilidade, mas de verdadeira conduta ilícita perpetrada com

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extrema má-fé, com o fito de lesar a boa-fé objetiva que deve existir em
todas as relações contratuais, pois, o Consumidor, sempre acredita que a
instituição financeira agirá com transparência e lealdade, inexistente, no
caso em tela.

Tais fatos, não são novos!

Na internet, não é preciso muito esforço para verificar


a gigantesca quantidade de reclamações de consumidores que tiveram o mesmo
problema. A título de exemplo, citam-se alguns endereços de sites para
comprovação:

1°- Banco BMG S.A

No entanto, somente agora, nestes últimos meses que


se têm intensificado o número de ações de igual jaez que tramitam perante a
justiça. Quanto ao tema, o Tribunal de Justiça do Paraná, através de sua
Colenda Turma Recursal, já teve a oportunidade de enfrentá-lo, quando
sedimentaram as seguintes teses:

É ilegal o contrato de empréstimo consignado quando não faz


referência a Reserva de Margem de Crédito (RMC), bem como
ao percentual, gerando o dano moral;
É ilegal a RMC, quando não há comprovação da
disponibilização de valores, bem como a prova da entrega do
Cartão de Crédito, gera dano moral;
É ilegal o desconto da RMC, quando não provado a
contratação. Aplicação da Súmula nº 532 do STJ (envio de

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cartão de crédito não solicitado) dá azo à condenação ao


dano moral;
É ilegal a imobilização do crédito do Autor em razão da RMC
por cartão de crédito não solicitado;

No Tribunal de Justiça de Goiás também está


sedimentada a matéria, veja decisões recentes abaixo:

APELAÇÃO CÍVEL Nº 144026-23.2015.8.09.0137


(201591440262). COMARCA DE RIO VERDE. APELANTE:
BANCO BMG S/A APELADO: SAMUEL EVANGELISTA DO
NASCIMENTO. RELATOR: Dr. JOSÉ CARLOS DE OLIVEIRA.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C RESCISÃO CONTRATUAL E
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. SERVIDOR PÚBLICO. CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. PRINCÍPIOS DA TRANSPARÊNCIA
E INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. DESCONTO DO MÍNIMO DA
FATURA. REFINANCIAMENTO MENSAL DO DÉBITO.
ABUSIVIDADE. CONVERSÃO PARA MODALIDADE
EMPRÉSTIMO PESSOAL. POSSIBILIDADE. JUROS
REMUNERATÓRIOS. PERCENTUAL. SEM PREVISÃO.
INCIDÊNCIA DA TAXA MÉDIA DE MERCADO. TAXAS. NÃO
PACTUADAS. COBRANÇA VEDADA. RESTITUIÇÃO SIMPLES.
DANO MORAL. I- A relação jurídica firmada entre a instituição
financeira requerida e a parte autora é de consumo, incidindo
as disposições do Código de Defesa do Consumidor, o que
permite a manifestação acerca da existência de eventuais
cláusulas abusivas, relativizado o argumento escorado na
ausência de vício de consentimento. II- Os contratos firmados
entre consumidores e fornecedores devem observar os
princípios da informação e da transparência, nos termos
dos artigos 4º e 6º do CDC. Verificada, na hipótese, a
omissão das principais características da operação, em
afronta aos princípios em destaque, deve as cláusulas
contratuais serem interpretadas de maneira mais favorável
ao consumidor (art. 47, CDC). III- Ao consumidor, no
momento da contratação, não foi dada ciência da real
natureza do negócio, modalidade contratual que combina
duas operações distintas, o empréstimo consignado e o
cartão de crédito. IV- Para o contratante o pacto é um
empréstimo nos moldes tradicionais, contudo, o desconto
mensal somente no valor mínimo da fatura, leva ao
refinanciamento do restante da dívida, além de não ser
amortizado o débito principal, apresentando um
crescimento vertiginoso, gerando uma dívida vitalícia,
caracterizando a abusividade. V- Deve ser restabelecido o
pacto na modalidade crédito pessoal consignado (servidor
público), no intuito de restabelecer o equilíbrio entre as partes
contratantes. VI- É admitida a revisão dos juros
remuneratórios em situações excepcionais, desde que
caracterizada a relação de consumo e que a abusividade fique
cabalmente demonstrada. Ante a inexistência de previsão de

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taxa mensal e anual, os juros remuneratórios devem ser


fixados segundo a taxa média de mercado apurada pelo BACEN
para o período. VII- Não havendo, in casu, previsão de
pactuação de taxas, referido encargo deve ser afastado. VIII- À
luz do princípio que veda o enriquecimento sem causa do
credor, após o recálculo da dívida, tendo em vista a solução da
lide, caso seja apurado que a parte autora efetuou algum
pagamento a maior, a ela deverá ser compensada e/ou
restituída, na forma simples, podendo ser apurado em sede de
liquidação de sentença. IX- Em relação ao pedido de dano
moral, inexiste interesse recursal do apelante, neste ponto,
porquanto o apelante não fora condenado a indenizar o autor
por danos morais. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(Grifamos).

Infelizmente esta é uma prática comum, vitimando


principalmente pessoas idosas e de pouca instrução como a parte Demandante,
onde não há a devida fiscalização por parte de todos os componentes do sistema
de fundo da consignação em benefício previdenciário, para a contenção e
prevenção de fraude ou crime.

Portanto, constata-se claramente a atitude reprovável e


abusiva por parte do Requerido, não tendo mais forças e a quem recorrer vem
perante este juízo, requerer propositura da presente demanda a fim de buscar
respeito a sua integridade física e moral Art. 5°, XLIX, CF, em vias judiciais.

III. DOS FUNDAMENTOS.

a) APLICABILIDADE DO CDC. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.

É unânime o entendimento de que o Código de Defesa


do Consumidor – CDC é aplicável nas relações envolvendo instituições
bancárias e particulares, e, neste sentido, o STJ já sedimentou seu
entendimento com a edição da Súmula 297, considerando o que preveem os
Arts. 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor – CDC.

Nesse sentido, ante a relação de consumo entre as


partes, perfeitamente cabível o brilhante instituto da inversão do ônus da prova

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em favor da parte Autora, tal qual prescreve o inc. VIII do Art. 6º do CDC, como
direito básico do Consumidor, ainda, em consonância ao diploma consumerista,
o novel diploma processual civil prevê em seus Arts. 5º e 6º o renomado
instituto da cooperação processual.

A Súmula nº 297 do STJ é conclusiva quando diz que o


“o Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”. Veja
a jurisprudência do STJ nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO


DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
REVISIONAL DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. COMISSÃO DE
PERMANÊNCIA. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO. SÚMULAS 5 E
7 DO STJ. REVISÃO DO PACTO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO.
POSSIBILIDADE NA FORMA SIMPLES. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1.(...). 2. A submissão das
instituições financeiras ao CDC e a possibilidade de revisão
judicial do contrato são reconhecidas pela reiterada
jurisprudência do STJ (Súmula 297). 3. A jurisprudência
iterativa da Terceira e Quarta Turma orienta-se no "sentido
de admitir, em tese, a repetição de indébito na forma
simples, independentemente da prova do erro, ficando
relegado às instâncias ordinárias o cálculo do montante, a
ser apurado, se houver" (AgRg no REsp 749830/RS, Rel. Min.
Fernando Gonçalves, DJU de 05.09.2005) 4. Agravo regimental
a que se nega provimento. (STJ - AgRg no Ag: 1404888 SC
2011/0043690-3, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
Data de Julgamento: 04/11/2014, T4 - QUARTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 10/11/2014). (grifo nosso).

No julgamento do REsp: 57974 RS 1994/0038615-0, o


ministro Ruy Rosado, afirmou no que tange aos bancos: “está submetido às
disposições do CDC, não por ser fornecedor de um produto, mas porque presta
um serviço consumido pelo cliente, que é consumidor final desses serviços. (...)
nas relações bancárias há difusa utilização de contratos de massa e onde, como,
mas evidência, surge a desigualdade de forças e a vulnerabilidade do usuário”.

Logo, está boa-fé processual, sob o viés da cooperação,


à luz do que dispõe o § 1º do Art. 373 do CPC e jurisprudências citadas, deverá
ser invertido, também o ônus da prova, vez que o Réu é quem melhor detém
propriedades técnicas a fim de corroborar com a verdade processual.

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b) DA AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO DE QUE O EMPRÉSTIMO SE DAVA


NA MODALIDADE DE CARTÃO DE CRÉDITO. VIOLAÇÃO DO CDC E DA
INSTRUÇÃO NORMATIVA DO INSS 28/2008 – ART. 3º INC. III E ART. 15
§1º - DESCUMPRIMENTO – PRÁTICA ILEGAL (DANO MATERIAL E
MORAL EVIDENCIADOS).

Pois bem, como demonstrado, a causa versa sobre a


RMC (Reserva de Margem de Crédito), vinculada ao Cartão do Crédito, não
solicitado pela parte Autora, o que contraria frontalmente o CDC e o inc. III do
Art. 3º da Instrução Normativa do INSS 28/2008, alterada pela Instrução
Normativa 39/2009, que assim aduz, veja:

“Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão


por morte, pagos pela Previdência Social, poderão autorizar o
desconto no respectivo benefício dos valores referentes ao
pagamento de empréstimo pessoal e cartão de crédito
concedido por instituições financeiras, desde que: (Alterado
pela INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRESS Nº 39, de 18 de
junho de 2009) (...)
III - a Autorização seja dada de forma expressa, por escrito
ou por meio eletrônico e em caráter irrevogável e
irretratável, não sendo aceita Autorização dada por
telefone e nem a gravação de voz reconhecida como meio
de prova de ocorrência. (Alterado pela INSTRUÇÃO
NORMATIVA INSS/PRESS Nº 39, de 18 de junho de 2009)”
(grifamos).

Ora, além da ausência de Autorização expressa em


caráter irretratável e irrevogável do Consumidor algo imprescindível, que deve
ser somente a ele informado por si só, contraria disposição legal cogente inc.
III do art. 3º da Instrução Normativa do INSS 28/2008, alterada pela Instrução
Normativa 39/2009, a parte Requerente também não fora cientificada de que o
empréstimo realizado se dava na modalidade de cartão de crédito, implicando
também na violação dos incisos. III e IV do art. 6º do CDC. Gize-se, a mesma foi
induzida a erro, crente de que contratava um serviço, quando, em verdade,
outro lhe era vendido, imbuída a parte Ré, pela mais firme má-fé contratual.
Não houve consentimento da parte Autora por nítida omissão de
informações!!!

“Art. 6º São direitos básicos do Consumidor:

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III - A informação adequada e clara sobre os diferentes


produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
“IV - A proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços” (grifamos).

Excelência, não bastasse a frontal contrariedade,


supra narrada, a prática ainda vai contra o Art. 15 § 1°, da mesma Instrução
Normativa, que assim prevê:

Art.15. Os titulares dos benefícios previdenciários de


aposentadoria e pensão por morte, pagos pela Previdência
Social, poderão constituir RMC para utilização de cartão de
crédito, de acordo com os seguintes critérios, observado no que
couber o disposto no art. 58 desta Instrução Normativa:
I - A constituição de RMC somente poderá ocorrer após a
solicitação formal firmada pelo titular do benefício, por
escrito ou por meio eletrônico, sendo vedada à instituição
financeira: emitir cartão de crédito adicional ou derivado e
cobrar taxa de manutenção ou anuidade. (grifamos).

A propósito, brilhantes os Acórdãos proferidos


recentemente sobre idêntica matéria, que bem entenderam pela ilegalidade da
prática e fixando, inclusive os danos morais, vejamos:

(RECURSO INOMINADO: 0011806-17.2015.8.16.0024


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA. FORO REGIONAL DE
ALMIRANTE TAMANDARÉ RECORRENTE: INDIANARA LAMEK
DA SILVA, RECORRIDO: AGIPLAN FINANCEIRA S.A. -
CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO) “Relatório em
sessão”. II. Passo ao voto. Presentes os pressupostos de
admissibilidade, o recurso deve ser conhecido. Na petição
inicial, a Reclamante pede o cancelamento de cartão de
crédito e de Reserva de Margem Consignada, bem como
indenização por danos morais. Diz nunca ter firmado
contrato com o reclamado e que, ao fazer um empréstimo,
tomou conhecimento da Reserva de Margem Consignada sobre
seu benefício. Na contestação, o reclamado diz que a
Reclamante firmou contrato que autoriza a reserva da margem
consignável. Então na impugnação à contestação, a
Reclamante afirma que celebrou contrato de empréstimo
consignado junto à Ré, reconhecendo ter assinado o
contrato de mov. 14, mas que jamais foi sua intenção
contratar cartão de crédito. Diz que o contrato é de adesão,
estando incluída de maneira camuflada e pouco clara que a
contratação de empréstimo implicaria a contratação de
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cartão de crédito. Pois bem. Bem analisando o contrato de


mov. 14.4, afere-se realmente a existência de contratação de
cartão de crédito consignado: Todavia, o contrato nada
dispõe a respeito da constituição da Reserva de Margem
Consignada (RMC) inclusive sobre o percentual da reserva a
ser averbado. Sendo assim, deve-se reconhecer que de fato
ficou obscura a contratação no contrato a respeito da RMC.
Ainda que ela seja decorrente da contratação de crédito
consignado, a Consumidora ficou sem compreender qual seria
o limite de comprometimento de sua margem consignável que,
no caso, segundo a Reclamante, foi de 5%. Ausente a
informação clara ao Consumidor quanto ao comprometimento
da margem consignável, deve-se reputar que a RMC
constituída padece de ilegalidade. Frisa-se que isso em nada
afeta o empréstimo pessoal contratado pela Reclamante no
mesmo instrumento contratual em que está assumiu 12
parcelas de R$ 181,07, as quais inclusive estão sendo
regularmente descontadas em sua conta corrente (como
convencionado no contrato) Mov. 29.2: Sendo assim, pelo
exposto, cabe acolher o pedido de cancelamento do cartão
de crédito (este pode ser feito a qualquer momento pelo
Consumidor) e da margem consignável. A Reserva de
Margem Consignada sem Autorização contratual constitui
ato ilícito gerador de dano moral, prejudicando o
Consumidor ao acesso de outros créditos no mercado
capazes de lhe proporcionar melhores condições de
subsistência. Portanto, também comporta acolhimento o
pedido de indenização por danos morais. Diante do exposto,
o voto é pelo provimento do recurso, para o fim de: a)
determinar ao reclamado que promova o cancelamento do
cartão de crédito consignável em cinco dias úteis; b) determinar
o cancelamento da Reserva de Margem Consignada relativo ao
contrato em discussão, mediante a expedição de ofício ao INSS;
c) condenar o reclamado ao pagamento de indenização por
danos morais ao Reclamante, de R$ 7.000,00 (sete mil
reais), corrigidos monetariamente pela média do INPC e do
IGPD-I desde este julgamento e com juros de mora de 1%
ao mês desde a citação. III. Dispositivo Ante o exposto, esta
Turma Recursal resolve, por unanimidade de votos,
CONHECER E DAR PROVIMENTO ao recurso. Curitiba, 12 de
maio de 2016. Manuela Tallão Benke, Juíza Relatora.”
(grifamos).

No mesmo sentido, temos:

“(RECURSO INOMINADO Nº 0000215-37.2016.8.16.0052


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE BARRACÃO-
RECORRENTE: BANCO BMG S.A RECORRIDO: ARÍLSON
FORTES RELATORA: MANUELA TALLÃO BENKE)”. AUSÊNCIA
DA ENTREGA DO CARTÃO E DISPONINILIZAÇÃO DE
VALORES. II. Passo ao voto. Presentes os pressupostos de
admissibilidade, o recurso deve ser conhecido. Da análise dos
autos, verifica-se que a controvérsia cinge acerca da
contratação e recebimento de cartão de crédito consignado.

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Pois bem. Restou comprovado nos autos, a contratação do


cartão de crédito consignado através do contrato devidamente
assinado pelo Reclamante (mov. 29.2), o qual não foi
impugnado pelo Autor, razão pela qual, afasta-se qualquer
hipótese de realização de fraude por terceiros. Ainda, restou
comprovado o bloqueio da Reserva de Margem Consignada e os
descontos no benefício da parte Reclamante, contudo, não
restou comprovado pelo Réu a disponibilização dos valores e a
entrega de tal cartão ao Autor. O desconto de valores junto a
benefício previdenciário sem anuência da parte Reclamante
causa dano moral, eis que suprime do beneficiário o direito
de usufruir totalmente de sua verba alimentar. (Grifo
nosso).

Desta feita, assim como entendimento da nossa


legislação e de nossa jurisprudência, deverá o cartão de crédito da parte Autora,
caso emitido, ser cancelado, bem como lhe ser restituído tudo o que fora
indevidamente pago/descontado em seu benefício, de forma dobrada e ser
fixado dano moral;

c) DA IMOBILIZAÇÃO DO CRÉDITO DA AUTORA PELA RESERVA DE


MARGEM DE CRÉDITO EM RAZÃO DE EMPRÉSTIMO VINCULADO À
CARTÃO DE CRÉDITO VENDA CASADA.

É ilegal a imobilização do crédito da parte Autora


em razão da RMC reserva margem de crédito por empréstimo consignado
vinculado a cartão de crédito, mesmo na hipótese em que o Banco junta o
contrato, pois como exposto, a parte Requerente jamais fora cientificada de que
estava contratando um empréstimo vinculado ao cartão de crédito, que como se
sabe, somente traz vantagens ao Banco em razão dos juros serem maiores.

E, se não fora cientificado ou informado acerca desta


modalidade de crédito consignado, por motivos óbvios que a parte Autora,
Consumidora, não é obrigada a se resignar com o contrato firmado, mormente,
por se tratar de venda casada, que como que se sabe, é uma prática bastante
usual de que tem se valido as instituições financeiras no intuito de aumentar
ainda mais os seus lucros.

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No nosso Tribunal de Justiça de Goiás, o


entendimento sobre o assunto é o mesmo, vejamos:

APELACAO CIVEL PROTOCOLO: 103967-


95.2015.8.09.0006(201591039673) COMARCA: ANAPOLIS
RELATOR: DR. FERNANDO DE CASTRO MESQUITA 1
APELANTE (S): BANCO BONSUCESSO S/A ADV (S):
30961/GO -VALDINE RODRIGUES MENDES 1 APELADO (S):
MAURO SERGIO NOVAIS DE JESUS ADV (S): 34908/GO -
JULIO RIBEIRO SAMPAIO EMENTA: EMENTA: APELAÇÃO
CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE REVISÃO CONTRATUAL
C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. EMPRÉSTIMO E CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. DESCONTO MÍNIMO DA
FATURA MENSAL. DÍVIDA INSOLÚVEL. ABUSO E
ONEROSIDADE EXCESSIVOS. JUROS REMUNERATÓRIOS.
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. PERIODICIDADE MENSAL.
FALTA DE PACTUAÇÃO. AFASTAMENTO. REPETIÇÃO NA
FORMA SIMPLES. 1. Inequívoca a relação de consumo travada
entre os litigantes, fazendo incidir as normas protetivas
contempladas pela Lei n. 8.078/90, nos termos do enunciado
da Súmula 297/STJ. 2. O fato do termo de adesão ao contrato
de fornecimento de
cartão de crédito e o contrato de empréstimo consignado terem
sido firmados na mesma data e na mesma proposta, associado
a outras peculiaridades do caso, dá suporte à alegação de que
o autor jamais pretendeu utilizar o serviço de cartão de crédito,
a configurar operação de venda casada, prática vedada pela
legislação consumerista. 3. Inexistindo no contrato a taxa de
juros pactuada, estes devem ser fixados de acordo com a taxa
média de mercado e estabelecida pelo BACEN. 4. A
capitalização mensal dos juros somente é permitida se
expressamente pactuada no contrato, sendo que, inexistente a
manifestação, possível apenas sua periodicidade anual, e desde
que nos ajustes posteriores à edição da MP n. 1.963-17 de
31.03.2000, reeditada pela MP n. 2.170-36 de 23.08.2001. 5.
Repetição de indébito, cabimento se houve saldo após a
compensação. APELAÇÃO CONHECIDA E DESPROVIDA.
DECISAO: O Tribunal de Justiça, por sua Segunda Turma
Julgadora da Terceira Câmara Cível, à unanimidade de votos,
conheceu do recurso e negou-lhe provimento, tudo nos termos
do voto do relator juiz de direito Fernando de Castro Mesquita,
substituto do desembargador Walter Carlos Lemes. Custas de
lei. (Grifo nosso).

Mas, o que salta aos olhos, está no fato de que a


instituição financeira, abusando da boa-fé objetiva da parte Requerente, pois o
Consumidor sempre acredita que o Contratado está agindo nos limites da lei,
máxime, por ser uma instituição financeira de grande porte, vinculara o
empréstimo consignado ao cartão de crédito que, repita-se, jamais fora

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solicitado pela parte Autora, e tampouco lhe fora cientificado de que o cartão
lhe comprometeria pelo menos 5% da margem de crédito consignável. E a
consequência disso é nefasta, já que o cliente busca o representante do Banco
com a finalidade de obtenção de empréstimo consignado e a instituição
financeira, nitidamente, ludibriando o Consumidor, realiza outra operação: a
contratação de cartão de crédito com RMC.

Somente este fato, já é o suficiente para fundamentar o


direito à indenização aos danos morais.

Nessa hipótese, há casos ainda que na folha de


pagamento seja descontado apenas o correspondente a 6% do valor obtido por
empréstimo e o restante desse valor e mais os acréscimos é enviado para
pagamento sob a forma de fatura que as vezes chega, mensalmente à casa do
Consumidor. De forma que, “se houver o pagamento integral do valor da fatura,
que é o próprio valor do empréstimo, estará quitada a dívida; se, entretanto,
como ocorre em quase todos os casos, o pagamento se restringe ao
desconto consignado no contracheque (6% apenas do total devido), sobre a

diferença não paga, isto é, 94% do valor devido, incidirão juros que
são três vezes mais caros que no empréstimo consignado
normal.

Concluindo, sob qualquer viés a parte Autora é


lesada:
1) em razão da ausência de informações quanto à modalidade de crédito;
2) pela imobilização da margem de crédito sem ciência e Autorização;
3) pelo fato de que o empréstimo pago via cartão de crédito ser mais
oneroso em razão da taxa de juros serem bem maiores do que o
empréstimo feito de forma convencional;

Por este motivo, a responsabilização civil da instituição

Financeira pelos danos causados à parte Autora, torna-se medida que se impõe.

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d) DA APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 532 DO STJ E ENUNCIADOS 1.8 E


2.10 - DANO MORAL “IN RE IPSA.

Seguindo no mesmo sentido, dada à notória


abusividade das instituições financeiras que insistem em cobrar por serviços
não contratados, o STJ pacificou seu entendimento acerca da ilegalidade do
envio não solicitado de cartões, editando a Súmula 532, que constitui o
chamado dano moral presumido ou “in re ipsa”, veja:

“Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de


crédito sem prévia e expressa solicitação do Consumidor,
configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de
multa administrativa.” (grifamos)
Manifestou também assim:
“Sempre que demonstrada a ocorrência de ofensa injusta à
dignidade da pessoa, dispensa-se a comprovação de dor e
sofrimento para configuração de dano moral. Segundo
doutrina e jurisprudência do STJ, onde se vislumbra a violação
de um direito fundamental, assim eleito pela CF, também se
alcançará, por consequência, uma inevitável violação da
dignidade do ser humano. A compensação nesse caso
independe da demonstração da dor, traduzindo-se, pois, em
consequência in re ipsa, intrínseca à própria conduta que
injustamente atinja a dignidade do ser humano. Aliás, cumpre
ressaltar que essas sensações (dor e sofrimento), que
costumeiramente estão atreladas à experiência das vítimas de
danos morais, não se traduzem no próprio dano, mas têm nele
sua causa direta”. (REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 4/12/2012).

Também no Tribunal de Justiça de Goiás, não é


diferente, a matéria está pacificada, veja:

RELATOR: DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ REVISOR: DR.


MARCUS DA COSTA FERREIRA 1 APELANTE (S): BANCO
BONSUCESSO S/A ADV (S): CARLA LUIZA DE ARAUJO
LEMOS 1 APELADO (S): SIMONE RODRIGUES DA SILVA ADV
(S): YURI FERREIRA AZEVEDO. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS POR
ATO ILÍCITO, REPETIÇÃO DE INDÉBITO E PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. DESCONTOS CONTÍNUOS EM
FOLHA DE PAGAMENTO, REFERENTES ÀS PARCELAS DE
EMPRÉSTIMO DO CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO.
COBRANÇA A MAIOR. ILEGALIDADE. I - É lídima a
pretensão da parte autora em que seja declarada a nulidade
da cobrança a partir dos descontos indevidos realizados em
sua folha de pagamento, oriundos de valores

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disponibilizados por meio do contrato de cartão de crédito.


II - Impõe-se a restituição em dobro da importância
descontada indevidamente (artigo 42 do Código de Defesa
do Consumidor), bem como indenização por dano moral,
independentemente de prova da lesão sofrida (in re ipsa),
máxime quando a requerida não se desincumbe do ônus de
que lhe compete (artigo 333, II, do Código de Processo
Civil). III - Mantida a sentença que condenou o banco a
ressarcir a autora, bem como fixou a indenização em R$
8.000,00 (oito mil reais). RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. DECISAO: Acordam os integrantes da Segunda
Turma Julgadora da Sexta Câmara Cível do Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em
conhecer e desprover o apelo, nos termos do voto do Relator.
Custas de lei.

Na hipótese de ter sido desbloqueado o cartão, ainda


assim tal fato não teria o condão de afastar a responsabilidade civil da
instituição financeira, isto porque, como alhures exposto, o Réu abusara da
boa-fé objetiva da parte Requerente, pois esta confiava que a instituição atuaria
nos limites da legalidade, o que não ocorrera na hipótese dos autos, já que
realizara o empréstimo consignado vinculado a um cartão de crédito, sem que
tivesse sido solicitado pela parte Autora.

E a pior falha na prestação de serviço, não informar


a ela de que haveria o comprometimento de pelo menos 5% da margem de
crédito consignável.

Destarte, sob esta perspectiva, a instituição financeira


também praticara ato ilícito passível de responsabilização.

Desta forma, especialmente sob o prisma da


uniformização da jurisprudência, o novel instituto preconizado pelo art.
926 e seguintes do CPC/2015, não deve ser outro o entendimento deste Douto
Juízo acerca da incidência de danos materiais e morais, de forma que aqueles
devem ocorrer na sua forma de restituição em dobro, nos termos do Parágrafo
Único do art. 42 do CDC.

“art. 42. Na cobrança de débitos, o Consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O Consumidor cobrado em quantia
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indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual


ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável”.

e) DO ILÍCITO E SUA REPARAÇÃO – ARTS. 186 E 927 DO CPC.

Indubitável que a parte Ré cometeu ato ilícito e


abusivo em desfavor da parte Autora, de forma que deverá, então, ser
condenada ao pagamento de danos materiais e morais, sendo aquele em sua
modalidade dobrada, como demonstrado acima, além da fixação de danos
morais em favor da parte Requerente, nos termos dos Arts. 186 e 927 do
CPC/15, que assim aduzem:

“art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“art. 927. Aquele que, por ato ilícito arts. 186 e 187, causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

No entanto, cumpre-nos fazer algumas considerações


acerca da fixação do dano moral, que, conforme exaustivamente foi
demonstrada, é certa em casos assim.

Primeiramente, deve-se observar que a prática de


induzir o Consumidor em erro é rotineira por parte do Réu, inclusive
objeto de Ação Civil Pública no Estado do Maranhão, que nos leva a
induzir, “data vênia”, que as fixações no importe de R$ 7.000,00 (sete mil
reais) não estão sendo suficientes para coibir novos ilícitos, razão pela qual
devem ser majorados para o valor de no mínimo dez vezes o valor do crédito da
parte Autora.

Em segundo lugar, acresça-se o fato de que o público-


alvo dessa prática são pessoas idosas, em sua maioria sem entendimento
sobre a questão, que acreditam contratar um empréstimo, quando em verdade,
contratam outro serviço, que muitos ônus lhe trazem, tudo isso na

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obscuridade, sempre omitindo informações, induzindo essas pessoas em


erro.

Diante disso, não é forçoso perceber, que o aspecto


corretivo/punitivo e inibidor de novos ilícitos não está sendo alcançados pelos
Tribunais de Justiça, razão pela qual, deve-se haver a majoração dos danos
morais a fim de evitar que tais práticas perpetuem.

Ainda em relação aos danos experimentados pela parte


Autora, mister frisar que, mensalmente, lhe é descontado em média o valor de
aproximadamente R$ 46,85 (Quarenta e seis reais e oitenta e cinco
centavos), completamente indevido, de forma que, nos termos da
fundamentação supra-a ventada, especialmente com amparo no Parágrafo
Único do Art. 42 do CDC, deverá se dar a restituição em sua forma dobrada.

Isto posto, dada a nítida presença dos ilícitos


perpetrados pela parte Ré, por uma questão de respeito ao ordenamento pátrio
e, acima de tudo, à dignidade da pessoa, como sujeito de direitos que é, não
dever ser outra à medida que não seja a de condenação do Réu, nos exatos
termos dos pedidos, adiante elencados.

f) DA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS PELO BANCO – NECESSIDADE DE


APRESENTAÇÃO DA CÓPIA DO CONTRATO.

O inciso VIII do art. 6º do CDC prevê:


“VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;”

Nessa toada, o art. 396 do CPC dispõe: “O juiz pode


ordenar que a parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder.”

Pois bem DD. Julgador, o caso em questão se amolda


com perfeição a hipótese legal em questão, isto porque, o fato constitutivo do
direito da parte Requerente será provado pelos documentos que estão em poder
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do Requerido, finalidade para qual deverá este último ser intimado para trazer
aos autos tal documentação inc. I do art.373 do CPC/2015.

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - Ao Autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

Desse modo, impõe-se seja determinado ao Requerido


exiba nos autos a cópia do contrato de empréstimo consignado em questão,
tendo em vista que as contratações ocorrem via telefone e que o Banco não
envia aos clientes o referido contrato.

IV. DAS CONCLUSÕES

Diante de todo o exposto, conclui-se que,


precipuamente, a lide versa sobre vínculo consumerista dada as condições da
parte Requerente e do Réu, o que invariavelmente atrai para si a guarida do
CDC e, por óbvio, todas as benesses disto decorrentes, especialmente, da
inversão do ônus da prova, tal qual já embasado pela Súmula 297 do STJ e
seguida pelas jurisprudências citadas.

Sob a égide do CDC para o deslinde do feito, cumpre-


nos, breve debruço no que tange ao nítido descumprimento do inc. III e IV do
Art. 6º do CDC e a Instrução Normativa 28/2008, especialmente em relação ao
inc. III do Art. 3º e §1º do Art. 15 da mesma Instrução, vez que a prática da
parte Ré, pautada pela obscuridade e omissão, fez induzir o Consumidor em
erro, pois conforme demonstrado, o empréstimo consignado pela modalidade de
cartão de crédito lhe é por demais onerosa, sendo benéfico apenas ao Réu,
conforme reiteradamente tem decidido a Colenda Turma Recursal do Paraná e
outros Tribunais.

Seguindo as arbitrariedades e ilegalidades perpetradas,


temos a emissão de um cartão que sequer foi requerido e ou enviado a parte
Autora, mas que ainda assim, paga pelo mesmo, por intermédio da RMC,
conforme se denota do extrato acostado aos autos.

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Com efeito, tal conduta incide na aplicação da Súmula


532 do STJ, nos enunciados 1.8 e 2.10 da TRU/PR e TJ de Goiás , que, por si só,
incorre no chamado dano moral presumido – “in re ipsa”.

Ainda, mesmo nos casos em que o cartão é usado, a


responsabilidade da instituição não pode ser afastada, por ausência de
informação, já que a parte Requerente, no ato da contratação, não fora
informado que haveria uma reserva na margem de crédito consignável.

Destarte, inquestionável o dever de indenização por


danos morais e a restituição em dobro de todo valor que foi cobrado a mais
indevidamente, nos exatos termos do Parágrafo Único do Art. 42 do CDC, dada a
existência da quebra da boa-fé contratual, com a atuação obscura e omissa do
Réu.

Ainda em relação a fixação dos danos morais, este deve


ser fixado visando, especialmente, inibir novos ilícitos e punir os já
perpetrados, como é o caso, em razão dos descontos indevidos no benefício
da parte Autora, que serve como sua verba alimentar.

VI. DOS PEDIDOS.

Exposto os motivos fáticos, requer a parte Autora, que


se digne Vossa Excelência:
a) O RECEBIMENTO, e julguem-se totalmente
procedentes os pedidos desta peça vestibular, em especial;
b) DEFERIDA LIMINARMENTE A TUTELA
ANTECIPADA, inaudita altera pars e initio litis, nos moldes do art. 303,
CPC/2015, para que seja remetido Ofício ao BANCO BMG S.A, determinando a
suspensão dos descontos referentes à RMC descontado diretamente no benefício
da parte Autora sobre, benefício previdenciário N° 100.415.749-2, no prazo
de 5 (cinco) dias após oficiado, fixando-se, para tanto multa pecuniária diária no
importante de R$ 800,00 (Oitocentos Reais) devendo ser depositada em juízo,

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permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença


favorável à parte art. 537, §3°, CPC/2015;
c) A CITAÇÃO DO RÉU, na pessoa de seus
representantes legais, no endereço declinado no preâmbulo desta para,
querendo, no prazo da lei, responder aos termos da presente ação, sob pena de
revelia e confissão, art. 238, CPC/2015 ;
d) MANIFESTA DESINTERESSE NA
DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, uma vez que pelas diversas
vezes que tentou resolver a pendenga com a promovida restaram todas
infrutíferas;
e) CONDENAR O RÉU A REPETIÇÃO DO
INDÉBITO, ao pagamento de R$ 1.079,14 (Mil e setenta e nove reais e
quatorze centavos), concernente ao ressarcimento em dobro do que foi cobrado
indevidamente, diante do saldo pago a mais pelo promovente, assim como da
MÁ-FÉ pelas atitudes da promovida, bem como os que vierem a serem
descontado no decorrer desta ação, acrescidos de juros e correção monetária de
acordo com legislação vigente, art. 42 parágrafos único do CDC, Art. 491,
CPC/2015 e art. 524 §§ 3º, 4°, 5° CPC/2015;
f) CONDENAR O RÉU, ao pagamento do ato ilícito
que deverá ser restituído a parte Autora R$ 37.080,86 (Trinta e sete mil e
oitenta reais e oitenta e seis centavos), a título de danos morais, face aos
transtornos experimentados, não somente em caráter punitivo, bem como, em
caráter preventivo pedagógico, art. 292, V, CPC/2015 e súmula 54 do STJ;
g) INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO CONTRATUAL,
em fase do Réu, exonerando a parte Autora de qualquer vínculo com os
contratos onde constam os descontos fraudulentos;
h) EXTINÇÃO DO CONTRATO, do valor
aproximado de R$ 1.020,00 (Mil e vinte reais);
i) A APRESENTAÇÃO DOS CONTRATOS, pelo
Réu, sob pena de não o fazendo seja aplicada a inversão do ônus da prova, art.
6°, VIII, CDC;

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j) A APRESENTAÇÃO DO COMPROVANTE, de
depósito efetuado pelo Réu em conta da parte Autora, para trazer mais
transparência a este pleito;
k) REQUER A APLICAÇÃO DA SÚMULA N° 63
TJGO, o empréstimo concedido na modalidade cartão de credito consignado são
revestidos de abusividade, em ofensa ao CDC, consequentemente o valor
excedente será feita devolução de forma simples ou em dobro, havendo
condenação e reparação por danos morais;
l) A INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, ante a
verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica da parte Autora,
art. 6º, VIII da Lei 8078/90;
m) AS CUSTAS PROCESSUAIS, a condenação do
Réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, no valor
de 20% da ação, art. 82, ss. CPC/2015;
n) INCIDÊNCIA DE JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA, na forma da lei em vigor, desde sua citação assim espera
condenação do Réu. Súmula 43 do STJ – Incide correção monetária sobre dívida
por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo, Súmula 54 do STJ – Os juros
moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual. art. 491, CPC/2015;
o) Das PROVAS, o direito de provar o alegado por
todos os meios de prova em direito admitidos, notadamente pela produção das
provas especificadas no bojo desta petição, juntada de documentos novos,
vistorias, perícias e quaisquer outras necessárias ao deslinde da questão, art.
369, CPC/2015;

Dá-se à causa o valor de R$ 38.160,00 (Trinta e oito


mil cento e sessenta reais) para fins de custas processuais.

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

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Acreúna-GO, 06 de dezembro de 2018.

(Assinado Eletronicamente)
Nome do Advogado
OAB/GO nº

Acompanham à presente os seguintes documentos:

- Procuração “ad judicia et extra”;

- Declaração de Hipossuficiência;

- Documento de Identidade e CPF da Autora;

- Comprovante de residência;

- Histórico de empréstimo consignado;

- Planilha referente a descontos RMC;

- Dados básicos da concessão do benefício;

- Informações do benefício;

- Questionário;

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