Você está na página 1de 51

Dra.

Rosana Schneider Poersch


OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CIVEL DO FORO CENTRAL


DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/ RS

PEDIDO DE LIMINAR E
JUSTIÇA GRATUITA

GABRIEL SCHNEIDER ALMEIDA, brasileiro, solteiro, estudante universitário, Carteira de


Identidade nº 3108806302 C.P.F. nº 024.158.920-76, residente e domiciliado na Rua
General Auto, 266/501, bairro Centro Histórico, Cep 90.010-380, Porto Alegre/RS,
endereço eletrônico: gabriel@ans.com, vem perante Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL


C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO e ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em face de BV FINANCEIRA S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n.


01.149.953-0001-89, com sede na Avenida das Nações Unidas, 14.171, Torre A - 8º andar,
conj. 82, Vila Gertrudes, São Paulo/SP, CEP. 04.794-000, e, MGRR COMERCIO DE
VEÍCULOS LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ n. 23.450.161/0001-
82, com sede na Avenida Castelo Branco, 1180, anexo 02, Engenho Velho, Torres/RS, CEP
95.560-000, endereço eletrônico: márcio.02@globo.com, com os seguintes fundamentos
fáticos e jurídicos a serem deduzidos a seguir:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

1 – PRELIMINARMENTE

1.1 - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Preliminarmente, requer a V. Exª, sejam deferidos os benefícios da


GRATUIDADE DE JUSTIÇA ao Requerente, por não ter condições de arcar com a custa
processual e honorária sem prejuízo do próprio sustento e de sua família.

Vale salientar ainda que para a concessão do benefício da justiça gratuita


basta o pedido do Autor uma vez que se trata de presunção iuris tantum. De tal sorte que
este é o entendimento consagrado no §2º do Art. 99 do NCPC, bem como na Lei nº. 1.060,
de 05 de fevereiro de 1950 no seu Art. 2º.

Que sejam deferidos os benefícios da GRATUIDADE DE JUSTIÇA ao


Requerente, por não ter condições de arcar com os custos, despesas processuais e
honorários, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família com o entendimento
consagrado da Lei nº. 1.060, de 05 de fevereiro de 1950 no seu Art. 2º.

Por tais razões, requer, preliminarmente, a concessão dos benefícios da


ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA, para exercer o seu direito constitucional de
submeter ao Judiciário lesão e ameaça de lesão aos seus direitos.

1.2 – DO DESINTERESSE DA AUDIÊNCIA CONCILIATÓRIA (art. 331, § 4º, I CPC):

A parte Autora manifesta desinteresse na Audiência conciliatória, requerendo


desde já sua retirada da pauta. Menciona também que no prazo do artigo 335, I do CPC
irá apresentar sua réplica, caso haja a contestação da parte Ré.

Ademais, observa-se que presente demanda se insere entre aquelas em que,


por sua natureza ou parte(s), é público, notório e incontestável, que a tentativa de solução
amigável do litígio costuma ser infrutífera.

Sendo assim, pode-se afirmar que a designação audiências de conciliação


e/ou instrução e julgamento não se mostram compatíveis com os princípios da
informalidade, celeridade, economia processual e simplicidade, todos, previstos no art. 2º
da Lei nº. 9.099/95, e nem com o princípio constitucional da eficiência. Bom lembrar, ainda,
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

que por força do advento do NCPC, tal procedimento encontra-se, do mesmo modo, em
conflito com os princípios da adequação e cooperação.

1.3 - DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Inicialmente cumpre destacar que o Superior Tribunal de Justiça, por meio


da edição da Súmula 297, consolidou o entendimento de que: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras.”

O caso em ela é uma típica de relação de consumo, portanto, regida pelo


Código de Defesa do Consumidor, desta forma garantindo uma serie de proteções e
direitos ao Consumidor como forma de equipará-los aos fornecedores.

A atividade bancária encontra-se no âmbito do CDC, seja por força do que


dispõe o art. 2º (a Atividade Bancária é um serviço), seja por aplicação da regra extensiva
do art. 29 pela incidência nas relações que expõe as pessoas às práticas comerciais.

Outrossim, as instituições financeiras se enquadram na tipificação legal de


fornecedores por operar e intermediar o crédito: produto que elas oferecem, sendo
remuneradas pela restituição de dinheiro com juros e taxas.

No presente caso, sem qualquer dúvida, temos uma relação de consumo e,


por consequência, o contrato objeto da presente contenda deve ser absolutamente regido
pelos artigos 46 a 54 do CDC, em conformidade com todos os postulados da Teoria Geral
do Direito do Consumidor inserta nos artigos 1 a 7 do CDC.

A pretensão autoral está albergada no Código de Defesa do Consumidor,


principalmente no que tange ao princípio da vulnerabilidade do consumidor, da proteção
contra métodos comerciais coercitivos, da exigência de vantagem manifestamente
excessiva, do constrangimento na cobrança de débito e da prática abusiva patrocinada
pela empresa requerida.

Nas precisas palavras da Ministra Nancy Andrygui, do Superior Tribunal de


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Justiça:
“A relação jurídica qualificada por ser "de consumo" não se
caracteriza pela presença de pessoa física ou jurídica em seus polos,
mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado
(consumidor), e de um fornecedor, de outro.” (REsp 476.428/SC, Rel.
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
19/04/2005, DJ 09/05/2005 p. 390).
Registre-se, nesta ansa, os comandos insertos no artigo 4º e 6º do CDC,
aplicáveis à presente contenda:
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
(…)
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;”

Sobre contrato de consumo, leciona o Ministro HERMAN BENJAMIN:


“(...) toda a vulnerabilidade do consumidor decorre, direta ou
indiretamente, do empreendimento contratual e toda proteção é
ofertada na direção do contrato (...). Consequentemente, o direito do
consumidor não contesta a validade da liberdade contratual (da
mesma forma que não ataca o regime da propriedade privada), mas
simplesmente se insurge contra a forma como ela tem se
manifestado, em especial no mercado de consumo.”

É preciso se enxergar que quando uma pessoa simples e jovem, como no


caso vertente, busca adquirir seu primeiro veículo e financiado, contudo, não tem a
compreensão das diferenças e tipo de contratos existentes no mercado. De forma que,
para o Autor como Consumidor, a questão é bem simples: cumprida a obrigação de
pagamento de todas as suas prestações ao final adquiri o veículo.

Tudo isto demonstra, sem qualquer dúvida, que a proteção do consumidor


abrange os contratos de veículos, tal qual o presente. O Autor é absolutamente
vulnerável e para o contrato de consumo objeto destes autos deve ser aplicadas
todas as regras do Código Brasileiro de Proteção e Defesa do Consumidor.

1.4 - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Indubitavelmente, a matéria discutida nesse processado tem natureza


consumerista, aí se capta à prima facie ser indispensável a inversão do critério do ônus da
produção da prova em respeito ao princípio constitucional da isonomia entre as partes,
pois patente ser o Autor a parte mais fraca e vulnerável nessa relação de consumo, (CDC,
art. 4º, I), vejamos:
“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
com a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendendo os seguintes princípios:
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado
de consumo;
(...)”

Dentro da presente moldura fática vivenciada, impõe-se, uma forma


diferenciada no tratamento da instrução do processo como forma de se alcançar a
igualdade real na relação de consumo in quaestio.

Assim, dispõe o artigo 6º da Lei 8.078/90:


“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências;”

Logo, o Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado ao caso em


exame, inclusive, com a inversão do ônus da prova em favor do Autor, face a sua
hipossuficiência frente as Rés.

1.4 - DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS RÉS

Nos termos do CDC, afigura-se indubitável a solidariedade passiva das Rés.


A concessionária e financeira que atuam em parceria respondem solidariamente pelos
danos causados ao consumidor, posto que são integrantes da cadeia produtiva, de modo
a configurar a solidariedade prevista no artigo 7º, parágrafo único, do Código de Defesa
do Consumidor.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

A responsabilidade solidária das Rés no presente caso é manifesta, cujo


entendimento é pacífico nos tribunais pátrios.
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO DE
AMBOS OS RÉUS. REVENDEDORA DE VEÍCULOS. ALEGADA
ILEGITIMIDADE PASSIVA. NÃO ACOLHIMENTO.
CONCESSIONÁRIA QUE FUNCIONOU COMO CORRESPONDENTE
BANCÁRIA.INTEGRANTE DA CADEIA DE CONSUMO QUE POSSUI
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA PELOS DANOS
CAUSADOS AO CONSUMIDOR. PRECEDENTES DO STJ E DESTA
CORTE. DISCUSSÃO A RESPEITO DO VALOR DAS PRESTAÇÕES
MENSAIS DO FINANCIAMENTO. EMISSÃO DE CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO EM DUPLICIDADE. TÍTULOS IDÊNTICOS,
COM EXCEÇÃO DO VALOR DAS PARCELAS. ALEGAÇÃO DE SE
TRATAR DE MERA PROPOSTA. INSUBSISTÊNCIA. BANCO
APELANTE QUE NÃO LOGROU ÊXITO EM COMPROVAR SUAS
ALEGAÇÕES, TAMPOUCO DERRUIR A AUTENTICIDADE DA
CÉDULA QUE SE ENCONTRA EM POSSE DO APELADO.
PREVALÊNCIA DAQUELA MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 47 DO CDC. DECLARAÇÃO DE
INEXISTÊNCIA DO DÉBITO. PEDIDO INICIAL APENAS PARA
DECLARAR O VALOR CORRETO DAS PARCELAS DO
FINANCIAMENTO. SENTENÇA REFORMADA NO PONTO.
COBRANÇA EXCESSIVA. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO
DE INADIMPLENTES. ABALO ANÍMICO PRESUMIDO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁRIA DOS APELANTES,
NOS TERMOS DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. QUANTUM
COMPENSATÓRIO. FIXAÇÃO EM R$ 15.000,00. VALOR
PROPORCIONAL E RAZOÁVEL. REDUÇÃO INCABÍVEL. DANOS
MATERIAIS. INEXISTÊNCIA DE PEDIDO. OFENSA À
DIALETICIDADE. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DO BANCO
NO TÓPICO. MULTA COMINATÓRIA. REVISÃO EX OFFICIO DO
VALOR. POSSIBILIDADE SOMENTE QUANTO AOS VALORES
VINCENDOS. NORMA CONTIDA NO ART. 537, § 1°, DO CPC.
IMPOSSIBILIDADE NO CASO. HONORÁRIOS RECURSAIS.
CABIMENTO DA CONDENAÇÃO APENAS EM RELAÇÃO A UMA
DAS RÉS.RECURSO DO BANCO CONHECIDO EM PARTE E,
NESTA, PARCIALMENTE PROVIDO. RECURSO DA REVENDEDORA
DE VEÍCULOS CONHECIDO E DESPROVIDO. (STJ-AgInt no AREsp:
1778138 SC 2020/0278816-9, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Data de Julgamento: 26/04/2021, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de


Publicação: DJe 28/04/2021).

Assim, tendo ocorrido a pactuação vinculada da compra do veículo com o


financiamento bancário, não há como se dissociar o contrato firmado com a revendedora
da avença de financiamento celebrada com a casa bancária, eis que atrelada a obrigação
acessória pactuada.

Sobre o tema, extrai-se do no art. 184 do CC, in verbis: "(...) a invalidade da


obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal". Sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, reza o parágrafo
único do artigo 7º, combinado com o art. 18, caput:
“Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o
Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do
direito, analogia, costumes e equidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos
responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.”
“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo
a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes
do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.”

Nesta linha é a jurisprudência do nosso E. Tribunal de Justiça de Santa


Catarina:
“APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE RESCISÃO
DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA.
APELO DO BANCO RÉU. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO QUE FOI FIRMADO EM
DECORRÊNCIA, UNICAMENTE, DA COMPRA DE VEÍCULO
PERANTE A REVENDEDORA. ACESSORIEDADE ENTRE OS
CONTRATOS RECONHECIDA. PRECEDENTES DA CORTE.
RESCISÃO DO CONTRATO DE FINANCIAMENTO QUE ENVOLVE
O BANCO MUTUANTE. LEGITIMIDADE
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

EVIDENCIADA. POSTULAÇÃO DE DEVOLUÇÃO, PELA


REVENDEDORA, DO VALOR DO EMPRÉSTIMO BANCÁRIO
OBTIDO PELA DEMANDANTE E MANUTENÇÃO DO VEÍCULO
COM AQUELA. QUESTÃO NÃO LEVANTADA EM CONTESTAÇÃO
E QUE NÃO FOI OBJETO DE CONTRADITÓRIO. NECESSIDADE
DE DISCUSSÃO EM AÇÃO AUTÔNOMA. RECURSO ADESIVO DA
AUTORA. PLEITO DE CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA DOS RÉUS AO
PAGAMENTO DAS INDENIZAÇÕES RECONHECIDAS NA
SENTENÇA. SUBSISTÊNCIA. PESSOAS JURÍDICAS
INTEGRANTES DA CADEIA DE FORNECIMENTO. OBSERVÂNCIA
AO DISPOSTO NOS ARTS. 14 E 18 DO CDC. SENTENÇA
REFORMADA, NO PONTO. HONORÁRIOS RECURSAIS.
PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS. CABIMENTO EM
FAVOR DO ADVOGADO DA DEMANDANTE. RECURSOS
CONHECIDOS. APELO DO BANCO RÉU DESPROVIDO E
RECURSO ADESIVO DA AUTORA PROVIDO.” (TJSC, Apelação
Cível n. 0301394-21.2014.8.24.0038, de Joinville, rel. Cláudia
Lambert de Faria, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 04-08-2020).

De tudo quanto acima exposto sobre a relação de consumo, vê-se que a


responsabilidade solidária dos fornecedores e/ou comerciantes atinge fabricante,
produtor, construtor, importador, intermediário, vendedor e todos aqueles que
contribuam para implementação do fornecimento da mercadoria ou do bem ou da
prestação do serviço.

Pelo revelado, clara e límpida fica a responsabilidade solidária legal das Rés,
visto que atuaram em conjunto explorando a mesma situação, de forma
comercial, auferindo lucro, configurado assim a cadeia de fornecedores e, portanto,
devendo haver a responsabilidade solidária.

2. DOS FUNDAMENTOS FÁTICOS

Na data de 18/06/2018, o Autor adquiriu junto a concessionária de veículos


MGRR VEÍCULO, segunda requerida, o veículo modelo LIFAN X-60, TALENT, ANO
2018/2019, 0KM, COR PRETA, avaliada em R$ 74.900,00 (setenta e quatro mil e
novecentos reais), foi recebido como parte do pagamento, a título de entrada um veículo
usado, modelo LIFAN X-60, TALENT, ANO 2015/2016, vermelha, placa QHW-5337, que
naquela data encontrava-se em nome registral de terceira pessoa, porém quitada.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

O saldo remanescente de R$: 50.429,00 (cinquenta mil, quatrocentos e vinte


e nove reais), foi financiado junto a primeira Ré em 48 parcelas de R$: 1.569,00 (um mil,
quinhentos e sessenta e nove reais), com primeiro vencimento em 19/07/2018, conforme
cópia do “contrato de compra de veículo usado e venda de veículo novo” e “resumo
da negociação”, abaixo:

No momento da contratação, a segunda Ré apresentou oferta ao Autor que


aceitou a proposta, aderiu às condições contratuais demonstradas conforme “resumo da
negociação” e “contrato de compra de veículo usado e venda de veículo novo”, cabendo
frisar que os referidos documentos foram os únicos entregues ao Autor na data da
contratação, pela segunda Ré.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Em outubro de 2020, o Autor contatou a financeira, primeira Ré para obter


informações acerca do seu contrato de financiamento, e descobriu que o modelo de seu
veículo junto ao sistema de cadastro da primeira Ré divergia do modelo que havia
adquirido na concessionária de veículos, segunda requerida.

Razão pela qual solicitou a cópia completa da negociação da compra ao


vendedor da segunda requerida, o que levou a descobrir que houve descumprimento das
tratativas de negociação entabuladas na data da compra do veículo. Verifica-se que os
valores lançados no “resumo da negociação” assinado pelo Autor no momento da compra
divergem daqueles lançados no contrato de financiamento do veículo.

Dentre as irregularidades que foram verificadas no contrato em questão está


o modelo do veículo que foi adquirido pelo Autor, que não é o mesmo que consta no
contrato de financiamento, ou seja, no sistema da primeira Ré consta que o veículo
adquirido foi o modelo “LIFAN X-60 VIP”, quando na realidade o veículo adquirido pelo
Autor, foi o modelo “LIFAN X-60 TALENT”.

De acordo com os documentos fornecidos junto a primeira Ré em outubro


de 2020, pode-se verificar que o modelo do veículo diverge do pacto negocial.

O Autor comprova pelas juntada da fotografia do veículo abaixo que o modelo


adquirido é o modelo “LIFAN X-60 TALENT”, vejamos:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

O veículo adquirido era zero quilometro e foi encaminhado para o


emplacamento pela própria concessionária, conforme consta no CRLV emitido pelo
DETRAN/SC e entregue pela segunda Ré ao Autor na data da retirado do veículo em
19/06/2018, não resta dúvida de que o modelo exato do veículo é o modelo “LIFAN X-60
TALENT”, conforme documento oficial abaixo:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Logo, de prima face, já se verifica a existência de uma grave irregularidade.


Contudo, ao comparar o contrato firmado com a segunda Ré na data da compra em
18/06/2018, com a cópia do contrato fornecido pela primeira Ré, em outubro de 2020,
verificou-se que as Rés adulteraram as condições pactuadas e pré-estabelecidas entre as
partes na fase negocial, de maneira absurda!

O Código de Defesa do Consumidor é rígido sobre os alicerces da boa-fé


objetiva que, aliás aparece explicitamente em seu corpo normativo, art. 4º, III e 51, IV.
Houve no presente caso tratativas preliminares, onde a segunda Ré ofertou o veículo, ou
seja, houve uma proposta de preço e condições, que por sua vez foram aceitas pelo Autor,
nos moldes do artigo 427, do CCB/2020:

“Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o


contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou
das circunstâncias do caso.

Conforme demonstrado, é obrigação das Rés, respeitar os termos e


condições pactuadas. E o Autor não adquiriu nenhum outro produto. Assim como não
autorizou incluir no valor do financiamento.

O contrato firmado entre o Autor e a segunda Ré, sob a ótica do Código de


Defesa do Consumidor, deve ser visto integralmente, integra a fase pré-contratual. De
modo que as Rés alteraram as condições de financiamento pactuadas inicialmente,
incluindo ao financiamento taxa e tarifas não autorizadas e a venda casada de produtos de
terceiros.
O art. 30 do Código de Defesa do Consumidor, dispõe:
“Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada
por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos
e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser
celebrado”.

O fornecedor não pode se afastar do que foi prometido na ocasião da


celebração do contrato propriamente dito (fase pré-contratual), conforme estipulado no
art. 48 do CDC:
“Art. 48, CDC. As declarações de vontade constantes de escritos
particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução


específica [...]”.
“Art. 35, CDC. “Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor
poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e
danos.”

O objetivo do Autor é de apenas readequar o contrato nos moldes da lei, para


que sejam excluídos os as taxas, tarifas e produtos de terceiros, incluídos ao financiamento
sem autorização, devolvendo o equilíbrio do contrato.

II. DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Antes de qualquer consideração, cumpre definir a natureza jurídica da


relação existente entre o Autor e a instituição financeira Requerida. Neste ponto, o Superior
Tribunal de Justiça, aliás, consolidou tal entendimento ao editar a Súmula n. 297: “O
Código de Defesa do Consumidor é aplicável às Instituições Financeiras”.

Logo, o Código de Defesa do Consumidor deve ser aplicado ao caso em


exame, inclusive, com a inversão do ônus da prova em favor do Autor, face a sua
hipossuficiência frente a Requerida.

III. DO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL E DA VIOLAÇÃO DA BOA FÉ


CONTRATUAL PELA RÉS

As instituições financeiras atuam como prestadores de serviços públicos, nos


termos do §6, do art. 37 da Constituição Federal, têm responsabilidade objetiva, posto que
são estruturadas de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos
interesses da coletividade.

Com efeito, todas as instituições financeiras prestam um serviço público,


respondendo pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, sendo a sua
responsabilidade objetiva, ou seja, “na conduta das partes, que devem agir com correção
e honestidade, correspondendo à confiança reciprocamente depositada”. (FIUZA, 2008)
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

O princípio da boa-fé contratual é um dever imposto às partes: agir com


lealdade e retidão (com correção) durante todas as etapas de um contrato – tratativa
pré-negocial, execução e conclusão do contrato.

Esta é a conotação dada pelos artigos 113, 187 e 422 do atual Código Civil
pátrio; vejamos:
“Artigo 113 CC/2002 – “Os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração.”

“Artigo 187 CC/2002 – “Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes”.

“Artigo 422 CC/2002 – “Os contratantes são obrigados a guardar,


assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé”.

Como amplamente demonstrado, as Rés desrespeitaram os princípios


basilares de probidade e boa-fé desde as tratativas e fase pré-negocial, deixando de
prestar informações claras, corretas e precisas sobre o contrato.

As Rés ao descumprirem com o pactuado no resumo da negociação, feriram


os princípios da transparência e da confiança, modificaram as condições pré-estabelecidas
na fase negocial e negaram ao Autor o direito as informações claras e corretas, em
flagrante prática ilícita de enriquecimento sem causa.

Assim sendo, cláusulas que estabelecem vantagem manifestamente


exageradas a uma das partes, bem como aquelas que transfiram os riscos do negócio ao
consumidor e afrontam o “equilíbrio contratual”, previsto no artigo 51, § 1º, do CDC, devem
ser consideradas nulas de pleno direito pelas razões acima expostas.

Sabe-se que a boa-fé é um princípio normativo que exige uma conduta das
partes com honestidade, correção e lealdade. O princípio da boa-fé, assim, diz que todos
devem guardar fidelidade à palavra dada e não frustrar ou abusar da confiança que deve
imperar entre as partes. A atitude intransigente das Rés, aqui vetorizada, geraram a quebra
da confiança que deve sempre permear as relações contratuais.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

E a boa-fé objetiva faz incidir a intitulada "teoria dos deveres laterais do


contrato", segundo a qual a idoneidade negocial deve ser perenizada antes, durante e após
a formação e cumprimento do contrato, viabilizando, assim, a possibilidade de discussão
dos termos do negócio jurídico após o seu integral cumprimento, respeitado, obviamente,
o prazo prescricional.

Vê-se, portanto, que as Rés não se portaram com vistas a atender a boa-fé
objetiva, haja vista que não levaram em consideração os deveres laterais de conduta, mas,
ao contrário, traíram a confiança e a lealdade esperadas, pois incorreram em falta gravosa
quando se aproveitaram do domínio do fato para, sorrateiramente, não cumprirem as
determinações contratuais e legais.

No magistério de Sérgio Cavalieri Filho:

“A nova concepção contratual está essencialmente estruturada


sobre os princípios da equidade e boa-fé. A afronta a estes princípios
rompe o desejado e justo equilíbrio econômico da relação jurídica de
consumo, fazendo ruir o Direito e passa a representar uma vantagem
excessiva para o fornecedor e um ônus não razoável para o
consumidor.
O sistema protetivo do consumidor está estruturado sobre os
princípios da equidade, da boa-fé e da função social do contrato, dos
quais decorrem os que vedam a lesão e o enriquecimento indevido,
tudo como corolário do resgate da dignidade da pessoa humana.
(Programa de Direito do Consumidor, 3. edição, Atlas, 2011, págs.
102 e 103).

E ainda acrescenta o emérito magistrado:


“A nova concepção dos contratos repudia, de modo veemente e
absoluto, a lesão, o prejuízo não razoáveis. A primazia não é mais da
vontade, mas, sim, da justiça contratual.” (ob. cit. pág. 117).

Segundo a doutrina dominante, a confiança é a credibilidade que o


consumidor deposita no produto ou no vínculo contratual como instrumento adequado
para alcançar os fins que razoavelmente dele se espera.

A segunda Ré ofertou o veículo modelo “LIFAN X-60 TALENT”, ao Autor, que


aceitou a oferta e condições. A oferta foi alterada pelas Rés, sem o conhecimento do Autor,
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

a primeira Ré concedeu o financiamento ao Autor, contudo o modelo do veículo é diverso,


ou seja, modelo “LIFAN X-60 VIP”, sendo inclusive emitido nota fiscal de venda no modelo
diverso do adquirido pelo Autor.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

No entanto no dia seguinte para que o veículo fosse emplacado junto ao


departamento de trânsito, foi emitida uma nota fiscal de correção, alterando o modelo do
veículo, conforme comprova-se abaixo:

Destaca-se ainda, que as Rés agiram de maneira ardilosa, ao aprovar um


contrato de financiamento com taxas e formas de pagamento bem acima das reais
condições do mercado financeiro, e incluíram ao financiamento a cobrança de:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Ao perceber que as informações contidas nos contratos divergiam, o Autor


submeteu os dados do contrato da primeira Ré a perícia de cálculo, que atestou que as
taxas descritas nos campos ‘5.1’ a ‘5.4’, supra, divergiam da taxa de juros realmente
aplicada no contrato, qual seja 1,77% ao mês, conforme laudo em anexo e fundamentos a
seguir expostos.

No contrato em estudo, embora a cláusula B.6 deixe transparecer a opção


de contratar, ou não, o seguro de proteção financeira (Super proteção financeira), no valor
de R$ 979,00 (novecentos e setenta e nove reais) e um título de capitalização (Brasil Cap)
no valor de R$: 342,05 (trezentos e quarente e dois reais e cinco centavos).

As Rés não permitiram ao Autor escolher a companhia de seguros que


melhor lhe conviesse, pois impingiu-lhe a contratação do seguro prestamista junto a
CARDIF DO BRASIL VIDA E PREVIDENCIA S.A. e um título de capitalização junto a
BRASILCAP, sem o conhecimento e anuência do Autor, conforme segue:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Ao revés, houve a inclusão da contratação de dois produtos sem a


concordância do Autor, ou seja, as Rés efetuaram a famosa venda casada com o contrato
de financiamento do veículo, prática proibida por lei, vedado pelo Código de Defesa do
Consumidor:
“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre
outras práticas abusivas:

I - Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao


fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;”

O artigo 36, § 3º, XVIII da Lei nº 12.529/2011, define a venda casada como
Infração à Ordem Econômica, e prevê multas para os casos de sua ocorrência, vejamos:

“Art. 36. Constituem infração da ordem econômica,


independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma
manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os
seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:
(...)
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

§ 3o As seguintes condutas, além de outras, na medida em que


configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos,
caracterizam infração da ordem econômica:
(...)
XVIII - subordinar a venda de um bem à aquisição de outro ou à
utilização de um serviço, ou subordinar a prestação de um serviço à
utilização de outro ou à aquisição de um bem; e Trata-se de serviços
cobrados ao longo de toda contratualidade que não foram
contratados, ou seja, o autor não concordou expressamente com a
cobrança de tais valores. Para cobrança de rubricas a título de
seguro ou qualquer serviço adicional ao contrato de financiamento,
deve existir a expressa concordância com tal contratação.”

A par disso, merece ser declarada a nulidade da cobrança do seguro


prestamista e do título de capitalização, no caso presente, afastando do valor final do
contrato os valores constantes na cláusula B.6., que totalizam o valor total nominal de R$:
1.321,05 (um mil trezentos e vinte e um reais e cinco centavos) e que foram somados ao
valor do financiamento, sem autorização do Autor e onerando o contrato.

Dessa forma, a cobrança de tarifas, seguro ou quaisquer outros serviços


adicionais, sem a anuência do consumidor caracteriza abusividade que enseja não só o
cancelamento da cobrança, como também a repetição do valor pago. Insta salientar, que
a instituição financeira desrespeitou o pacto contratual, violou seu dever de lealdade
contratual, manipulou os índices das taxas de juros efetivamente praticada na operação
financeira, incluindo produtos não autorizados, e financiando os valores destes produtos
ao valor principal, elevando e ocultando os juros, de maneira ardilosa, conforme cópia
do documento abaixo:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Em virtude do ocorrido, o Autor almeja analisar o contrato principal, à luz


do Código Consumerista, artigo 39, Inciso V, em especial a forma de composição das
cláusulas, de modo a postular, por vias próprias, a readequação dos valores pagos nos
ditames autorizados pela legislação brasileira, vejamos:

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:

(...)

V - Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;”

IV. DO CÁLCULO PERICIAL QUE COMPROVA A VIOLAÇÃO DA BOA FÉ


CONTRATUAL POR PARTE DAS RÉS

O cálculo pericial a seguir apresentado, comprovará que desde a fase pré-


negocial as Rés pretendiam levar vantagem sobre o Autor. O Autor foi enganado pelas
Rés, acreditando que as Rés honrariam com o pactuado, e sendo surpreendido ao se
deparar com as informações constantes nos documentos.

Ao submeter o valor da parcela fixa descrita no contrato de adesão à


calculadora do cidadão no site do Banco Central do Brasil, verificou-se que na verdade a
taxa de juros efetivamente aplicada no contrato de financiamento do veículo não confere
com a informada no contrato, conforme abaixo:

JUROS EFETIVAMENTE PRÁTICADOS NO CONTRATO


Financiamento com prestações fixas

Simule o financiamento com prestações fixas


Nº. de meses 48

Taxa de juros mensal 1,772810


%
Valor da prestação
(Considera-se que a 1a. prestação não 1.569,00

seja no ato)
Valor financiado
(O valor financiado não inclui o valor da 50.429,00

entrada)

Fonte: https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularFinanciamentoPrestacoesFixas.do
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Restando comprovado pelo cálculo pericial em anexo, que a real taxa média
praticada no contrato de financiamento do veículo foi de 1,77% ao mês e de 23,48% ao
ano, ou seja, diversa daquela pactuada na data da contratação de 1,40% ao mês e 18,16%
ao ano, resta evidente o desequilíbrio contratual por onerosidade excessiva.

Conforme dados oficiais obtidos no site do Banco Central do Brasil, fonte:


https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuroshistorico a taxa média de juros das
operações de financiamento com prestação fixas, para pessoa física, para aquisição de
veículos, efetivamente praticadas na data da contratação, de acordo com os 20 (vinte)
melhores bancos foi de 1,25% ao mês e 16,10% ao ano.

TAXA MÉDIA DO MERCADO (20 MELHORES BANCOS)


Classificação por ordem crescente
Período: 18/06/2018 a 22/06/2018
Modalidade: Pessoa Física ´Aquisição de Veículo
Tipo de encargo: Pré-fixado
Taxas de juros
Posição Instituição % a.m. % a.a.

1 CCB BRASIL S.A. – CFI 0 0

2 BCO RCI BRASIL S.A. 0,98 12,37

3 BCO PSA FINANCE BRASIL S.A. 1,08 13,73

4 BCO MERCEDES-BENZ S.A. 1,08 13,8

5 SCANIA BCO S.A. 1,11 14,11

6 BANCO CNH INDUSTRIAL CAPITAL S.A 1,13 14,47

7 BCO GM S.A. 1,14 14,54

8 BCO VOLKSWAGEN S.A 1,18 15,16

9 BCO TOYOTA DO BRASIL S.A. 1,27 16,35

10 BMW FINANCEIRA S.A. – CFI 1,29 16,62

11 BCO RODOBENS S.A. 1,35 17,39

12 FINANC ALFA S.A. CFI 1,35 17,47

13 BRB - CFI S/A 1,4 18,09

14 BCO SANTANDER (BRASIL) S.A. 1,43 18,6

15 BCO VOLVO BRASIL S.A. 1,43 18,62

16 BCO BANESTES S.A. 1,53 20,04

17 BCO BRADESCO S.A. 1,56 20,34

18 BCO ITAUCARD S.A. 1,57 20,5

19 BCO BRADESCO FINANC. S.A. 1,57 20,55


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

20 SINOSSERRA S/A – SCFI 1,58 20,74

MÉDIA DOS 20 MELHORES 1,25 16,10


BANCOS
21 BCO. J.SAFRA S.A. 1,59 20,77

22 BCO DO BRASIL S.A. 1,62 21,26

23 PORTOSEG S.A. CFI 1,64 21,49

24 ITAÚ UNIBANCO S.A. 1,64 21,61

25 BCO HONDA S.A. 1,64 21,61

26 BCO DO ESTADO DO RS S.A. 1,71 22,61

27 BV FINANCEIRA S.A. CFI 1,8 23,82


28 BANCO MONEO S.A. 1,83 24,35

29 AYMORÉ CFI S.A. 1,92 25,57

30 CAIXA ECONOMICA FEDERAL 2,04 27,37

31 GAZINCRED S.A. SCFI 2,1 28,39

32 GOLCRED S/A – CFI 2,1 28,39

33 BECKER FINANCEIRA SA – CFI 2,11 28,42

34 BCO YAMAHA MOTOR S.A. 2,15 29,13

35 BCO DIGIMAIS S.A. 2,22 30,2

36 BANCO PAN 2,25 30,63

37 FINAMAX S.A. CFI 2,5 34,56

38 BCO DAYCOVAL S.A 2,72 37,98

39 SANTANA S.A. – CFI 2,73 38,09

40 PORTOCRED S.A. – CFI 3,57 52,32

41 OMNI SA CFI 3,93 58,74

42 DACASA FINANCEIRA S/A – SCFI 4,08 61,62

Fonte: https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuroshistorico

Diante da inconsistência da taxa de juros aplicada efetivamente ao contrato,


e aquelas informadas no pacto, seguindo a orientação da parte final da súmula retro, em
consulta ao site do Banco Central do Brasil, a taxa média de juros, na modalidade Pessoa
Física, Financiamento de veículo na data da contratação, 18/06/2018 era de 1,25% ao mês.

Assim, partindo dos dados oficiais obtidos através da consulta no site do


Banco Central, e se utilizando da mesma metodologia para averiguar a real taxa aplicada
no contrato, fazendo uso da calculadora do cidadão, disponível também no mesmo sítio
virtual, foi possível apurar que o valor correto da parcela mensal do financiamento do
veículo que deferia constar no contrato de financiamento, se respeitado a real taxa média
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

de juros na data da contratação de 1,25% ao mês, seria de R$: 1.403,29 (um mil,
quatrocentos e três reais e vinte e nove centavos).

VALOR DA PARCELA COM A TAXA MÉDIA DE MERCADO REAL


Financiamento com prestações fixa
Simule o financiamento com prestações fixas

Nº. de meses 48

Taxa de juros mensal 1,250000


%

Valor da prestação 1.403,48


(Considera-se que a 1a. prestação não seja no ato)

Valor financiado 50.429,00


(O valor financiado não inclui o valor da entrada)

Fonte: https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularFinanciamentoPrestacoesFixas.do

Em que pese conste no contrato de financiamento da primeira Ré que a taxa


do financiamento seria de 1,40% ao mês, conforme se verifica no quadro acima, a taxa de
juros efetivamente praticada no contrato foi de 1,77% ao mês, contudo a taxa de juros
mais vantajosa para o devedor foi a apurada pela média dos 20 (vinte) melhores
bancos na data da contratação.

Imperioso, no caso em comento, que a divergência seja analisada sob a ótica


da legislação consumerista e de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, aplicando-se ao presente caso a parte final da súmula 530:

“Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa


de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou
pela falta de juntada do instrumento aos autos aplica-se a taxa média
de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da
mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para
o devedor.”

Além das Rés aplicarem no financiamento taxa diversa daquela informada no


contrato, ou seja, foi aplicado na verdade uma taxa de 1,77% ao mês e 23,48% ao ano,
segundo consulta ao site do Banco Central, pode ser apurado que na data da
contratação a taxa média de juros era diversa daquela informada no contrato e
diversa daquele realmente praticada no contrato de financiamento.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Restando comprovado através da calculadora do cidadão que o contrato em


apreço possui três taxas de juros diversas, devendo ser aplicada a mais benéfica ao
consumidor, vejamos:

TAXA PACTUADAS TAXAS APLICADAS TAXA DO BACEN


1,40% a.m. – 18,16% a.a. 1,77% a.m. – 23,48% a.a. 1,25% a.m. – 16,10% a.a.

E, dentre as disposições fundamentais do Código de Defesa do Consumidor


está o artigo 47, bem como o artigo 423, do CCB/2002, o qual prevê que, “quando houver
no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a
interpretação mais favorável ao aderente” (grifamos)

“Art. 47, CDC. As cláusulas contratuais serão interpretadas de


maneira mais favorável ao consumidor.”

“Art. 423, CCB/2002. Quando houver no contrato de adesão


cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a
interpretação mais favorável ao aderente.”

Ademais, de acordo com a Constituição Federal, no art. 192, o sistema


financeiro nacional deve se estruturar de forma a promover o desenvolvimento
equilibrado do país e servir aos interesses da coletividade, devendo o conteúdo bancário
ser regulado por leis complementares.

Ocorre que, as Rés, fixaram uma taxa mensal de juros de forma


EXORBITANTE, e em desconformidade com o quanto fixado em contrato, conduzindo o
contrato de forma inconstitucional, senão vejamos:

“Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a


promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos
interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem,
abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do
capital estrangeiro nas instituições que o integram.”

As Rés violaram todos os princípios constitucionais previstos na legislação


pátria, uma vez que restou comprovado por simples cálculo pericial que as Rés violaram o
princípio da boa-fé objetiva do contrato quando na verdade aplicou ao contrato uma taxa
média diversa daquela informada, e incluiu ao financiamento valores não autorizados pelo
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Autor, sobretudo produtos de terceiros configurando venda casada, e com isso obtendo
mais lucros as custas do Autor.

Ademais, as Rés, não agiram em favor da coletividade, visto que ao cobrar


juros diversos do pactuado e excessivos, não servindo aos interesses sociais, o que gera
superendividamento em massa e consequente restrição da circulação do dinheiro,
trazendo prejuízos à economia. Em suma, as Rés, agiram tão somente visando lucro,
mesmo que para isso fosse necessário violar princípios constitucionais.

E diligência ao site do Banco Central do Brasil, especificamente no endereço


https://www.bcb.gov.br/estatisticas/reporttxjuroshistorico de acordo com os 20
melhores bancos, na data da contratação a taxa média do mercado era de 1,25% ao
mês e 16,10% ao ano!

Assim de conhecimento da real taxa média de juros efetivamente


aplicada na data da contratação foi possível aplicar o índice de forma correta ao valor
financiado, e assim obter o valor incontroverso devido a primeira Ré. Conforme
cálculo que segue:

AUTOR: GABRIEL SCHNEIDER ALMEIDA


COBRADO DO
CONTRATO 371299320 CLIENTE BACEN
TAXA ANUAL CONTRATADA 23, 48% a.a. 16,10% a.a.
TAXA MENSAL CONTRATADA 1,77% a.m. 1,25% a.m.
PARCELA FIXA PAGO A
ÓRDEM MÊS / ANO PAGA DETERMINADO MAIOR
CONTRATO BACEN INDÉBITO
1 19/07/2018 R$ 1.754,45 R$ 1.403,48 R$ 350,97
2 19/08/2018 R$ 1.674,64 R$ 1.403,48 R$ 271,16
3 19/09/2018 R$ 1.711,77 R$ 1.403,48 R$ 308,29
4 19/10/2018 R$ 1.846,99 R$ 1.403,48 R$ 443,51
5 19/11/2018 R$ 1.704,35 R$ 1.403,48 R$ 300,87
6 19/12/2018 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
7 19/01/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
8 19/02/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
9 19/03/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
10 19/04/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
11 19/05/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
12 19/06/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
13 19/07/2019 R$ 1.622,65 R$ 1.403,48 R$ 219,17
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

14 19/08/2019 R$ 1.645,11 R$ 1.403,48 R$ 241,63


15 19/09/2019 R$ 1.860,14 R$ 1.403,48 R$ 456,66
16 19/10/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
17 19/11/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
18 19/12/2019 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
19 19/01/2020 R$ 1.610,32 R$ 1.403,48 R$ 206,84
20 19/02/2020 R$ 1.869,49 R$ 1.403,48 R$ 466,01
21 19/03/2020 R$ 1.875,32 R$ 1.403,48 R$ 471,84
22 19/04/2020 R$ 1.842,49 R$ 1.403,48 R$ 439,01
23 19/05/2020 R$ 1.876,88 R$ 1.403,48 R$ 473,40
24 19/06/2020 R$ 1.807,94 R$ 1.403,48 R$ 404,42
25 19/07/2020 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 165,52
26 19/08/2020 R$ 1.800,59 R$ 1.403,48 R$ 421,53
27 19/09/2020 R$ 1.735,95 R$ 1.403,48 R$ 332,47
28 19/10/2020 R$ 1.735,95 R$ 1.403,48 R$ 332,47
R$
TOTAIS R$ R$ 47.234,03 R$ 39.297,44 7.960,97
29 19/11/2020 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
30 19/12/2020 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
31 18/01/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
32 19/02/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
33 19/03/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
34 19/04/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
35 19/05/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
36 19/06/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
37 19/07/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
38 19/08/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
39 19/09/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
40 19/10/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
41 19/11/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
42 19/12/2021 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
43 19/01/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
44 19/02/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
45 19/03/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
46 19/04/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
47 19/05/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
48 19/06/2022 R$ 1.569,00 R$ 1.403,48 R$ 0,00
INDÉBITO = R$7.960,97
TOTAL R$77.045,03 R$ 67.367,04

Entretanto, segundo o entendimento da Súmula 530 do STJ, havendo


divergência “... aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

operações da mesma espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o
devedor.”

Assim, diante da evidente ilicitude praticada pelas Rés, não resta opção ao
Autor senão buscar no Poder Judiciário para reconhecer que houve descumprimento
contratual pela prática de ato ilícito diante da violação do princípio da boa-fé objetiva do
contrato, que em consequência implicou na onerosidade excessiva do contrato de
financiamento do veículo trazendo ao Autor prejuízos de ordem material e moral.

O contrato necessita ser reequilibrado e readequação conforme determina


a Súmula 530 do STJ e artigo 47, bem como o artigo 423, do CCB/2002, na forma mais
benéfica ao Autor/Consumidor. Com a aplicação da taxa média mais benéfica ao Autor a
parcela mensal passa ser no valor de R$:1.403,49 (um mil, quatrocentos e três reais e
quarenta e nove centavos).

V. DAS ILICITUDES E ILEGALIDADES PRATICADAS PELO BANCO RÉU

Conforme o cálculo pericial em anexo, verifica-se que a real taxa de juros


praticada no contrato de financiamento foi de 1,77% ao mês, taxa de juros diversa da que
consta no contrato de 1,40% ao mês. Comprovando que a primeira Ré cobra efetivamente
os juros remuneratórios do contrato de financiamento firmado pelo Autor com Ré, possui
capitalização mensal de juros, configurando evidente anatocismo.

Diante disso, a medida judicial que se impõe é o afastamento dos encargos


contratuais ilegais em razão da ausência de previsão contratual para capitalização mensal
de juros e a redução dos juros remuneratórios visto que a real taxa cobrada de 1,77% ao
mês, ultrapassa a taxa oferecida no contrato de 1,40% ao mês à da contratação em
18/06/2018.
Insta salientar que segundo consulta no site do Banco Central, a taxa média
de juros na data da contratação, na modalidade financiamento de veículo, pessoa física,
segundo os 20 (vinte) melhores bancos é de 1,25% ao mês. Conforme cálculo pericial em
anexo.
De acordo com a Constituição Federal, no art. 192, o sistema financeiro
nacional deve se estruturar de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

servir aos interesses da coletividade, devendo o conteúdo bancário ser regulado por leis
complementares.

Ocorre que, as Rés, ao fixarem uma taxa mensal de juros, diversa, e em


desconformidade com o pactuado no contrato, fere o dispositivo constitucional, pois, está
cobrando taxa diversa da oferecida, senão vejamos:

“Art. 192 - O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a


promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses
da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as
cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que
disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas
instituições que o integram.”

No caso dos Autos, as Rés violaram todos os princípios constitucionais


previstos no art. 192, visto que há evidente desequilíbrio contratual por onerosidade
excessiva na cobrança de taxa mensal de 1,77% ao mês, conforme cálculo pericial em
anexo, obtido através da calculadora do cidadão do BACEN, que flagrantemente identificou
que na realidade a referida taxa encontrada sequer está prevista no contrato.

A primeira Ré também não agiu em favor da coletividade, visto que,


descumpriu o contrato, cobrando a taxa diversa daquela que ofertou, não servido aos
interesses sociais o que gera superendividamento em massa e consequente restrição da
circulação do dinheiro o que traz prejuízos à economia.

Em suma, a primeira Ré agiu tão somente visando alto lucro e no crescimento


apenas da sua instituição bancária.

Igualmente agiu em evidente ilegalidade ao capitalizar os juros no contrato em


comento, visto que o art. 28 da Lei 10.931/04 é inconstitucional ao permitir a capitalização
de juros em desacordo com a súmula 121 do STF, e o art. 7 da Lei Complementar 95/98,
senão vejamos:

“Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e


representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma
nela indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha de
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

cálculo, ou nos extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto


no § 2º.

§ 1º Na Cédula de Crédito Bancário poderão ser pactuados:

I - os juros sobre a dívida, capitalizados ou não, os critérios de sua


incidência e, se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem
como as despesas e os demais encargos decorrentes da obrigação;”

Verifica-se que a única lei que faculta a capitalização de juros é ORDINÁRIA e


por isso não poderia dispor sobre matéria de conteúdo bancário, segundo que inexiste lei
complementar que autorize a capitalização de juros por instituições bancárias, pois o
respectivo processo legislativo não se iniciou, e porque a lei ordinária que faculta a
capitalização de juros dispõe sobre diversos objetos, não somente a CCB, vejamos:

“Art. 7. O primeiro artigo do texto indicará o objeto da lei e o respectivo


âmbito de aplicação, observados os seguintes princípios:

I - Excetuadas as codificações, cada lei tratará de um único objeto;

II - a lei não conterá matéria estranha a seu objeto ou a este não vinculada
por afinidade, pertinência ou conexão;

III - o âmbito de aplicação da lei será estabelecido de forma tão específica


quanto o possibilite o conhecimento técnico ou científico da área
respectiva;

Súmula 121 STF: É vedada a capitalização de juros, ainda que


expressamente convencionada.”

Já a Lei 10.931/04 possui diversos objetos distintos, quais sejam: a afetação


de incorporação imobiliária, Letra de Crédito imobiliário, CCI mobiliário, Cédula de Crédito
Bancário, em evidente contrariedade ao quanto disposto no art. 7 da Lei Complementar
95/98 que por sua vez está em consonância com o art. 59 e 192 da Constituição Federal.

Portanto a fixação de juros de forma capitalizada no importe de 1,77% ao mês


e de 23,48% ao ano, como no caso do contrato em comento, máxime porque as Rés
lesaram o Autor ao acreditar que estava contratando pela taxa prevista de 1,40% ao mês e
18,16% ao ano, carece da intervenção do Poder Judiciário para readequar o presente e
assim corrigir a onerosidade excessiva a que as Rés submeteram o Autor.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Assim, diante da evidente ilicitude praticada pelas Rés, não resta opção ao
Autor senão buscar no Poder Judiciário para reconhecer que houve descumprimento
contratual pela prática de ato ilícito diante da violação do princípio da boa-fé objetiva do
contrato, que em consequência implicou na onerosidade excessiva do contrato de
financiamento do veículo trazendo ao Autor prejuízos de ordem material e moral.

O contrato necessita ser reequilibrado e readequação conforme determina


a Súmula 530 do STJ e artigo 47, bem como o artigo 423, do CCB/2002, na forma mais
benéfica ao Autor/Consumidor.

Diante disso, a medida judicial que se impõe é o afastamento dos encargos


contratuais ilegais em razão da ausência de previsão contratual para capitalização mensal
de juros e a redução dos juros remuneratórios visto que a taxa cobrada 1,77% ao mês e de
23,48% ao ano, sequer está prevista no contrato, e ultrapassa demasiadamente a taxa
média do mercado fixada pelo Banco Central que é de 1,25% ao mês e de 16,10% ao ano,
conforme cálculo pericial em anexo, dos 20 melhores bancos na data da contratação, em
18/06/2018.

Portanto, tal taxa deve ser modificada, como o determina de modo expresso,
o art. 6º, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor, repelindo a excessiva onerosidade
impostas ao Autor.

V.1. DA CAPITALIZAÇÃO DE JUROS – REVISÃO DA TAXA COBRADA - DEVOLUÇÃO


EM DOBRO DO VALOR PAGO A MAIOR

Inicialmente cumpre destacar a má-fé da primeira Ré ao fixar o contrato uma


taxa de 1,40% ao mês, que não é verdade, conforme o cálculo pericial em anexo, o Autor
foi submetido a uma taxa de 1,77% ao mês, visto que foram pagas 28 (vinte e oito) parcelas
totalizando o valor de R$: 47.234,03 (quarenta e sete mil, duzentos e trinta e quatro reais e
três centavos).

Inclusive a real taxa mensal de 1,77% ao mês, somente foi descoberta através
do cálculo pericial que segue em anexo, assim como foi descoberto que a taxa média
mensal na data da contratação, na modalidade financiamento de veículo, pessoa física era
de 1,25% ao mês.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

No entanto, com a real taxa cobrada de 1,77% ao mês, com evidente


capitalização dos juros do contrato, a parte Autora arcou com o valor de R$ 165, 52 (cento
e sessenta e cinco reais e cinquenta e dois centavos) a mais por parcela, totalizando o
pagamento a maior no período da normalidade de R$: 7.960,97 (sete mil, novecentos e
sessenta reais e noventa e sete centavos).

Pode parecer pouco para estar movendo a máquina judiciária, porém,


vejamos, se a parte autora fosse a instituição financeira para pagar uma prestação e faltasse
um centavo ele não pagaria e ficaria inadimplente, e com certeza teria seu nome inscrito no
órgão de proteção ao crédito ou até mesmo futuramente ser movido contra si uma ação de
cobrança.

Portanto excelência, para quem é assalariado e com o pouco que sobra depois
de cumprir com todas as suas obrigações precisa sustentar a família e comprar
medicamente, este valor representa muito no final do mês.

Portanto, o Código de Defesa do Consumidor permite que seja revisto o


contrato quando ocorrer fato superveniente que o desequilibre, tornando-o excessivamente
oneroso para o consumidor, e o descumprimento contratual como no contrato em apreço
nos termos do (art. 6º c/c art. 51, inc. IV, § 1º, inc. III, da Lei nº. 8.078/90).

A cláusula de capitalização, por ser de importância crucial ao


desenvolvimento do contrato, ainda que ajuste eventualmente existisse nesse pacto, deve
ser redigida de maneira a demonstrar exatamente ao contratante do que se trata e quais os
reflexos gerarão ao plano do direito material.

Em razão do descumprimento de todos os preceitos acima destacados, não


resta dúvidas do descumprimento contratual devendo o contrato ser readequado para que
seja restabelecido seu equilíbrio.

Pelo exposto acima, e destacado, conclui-se que a parte Autora pagou R$:
7.960,97 (sete mil, novecentos e sessenta reais e noventa e sete centavos), a mais do quanto
fixado pela taxa média do Banco Central, portanto de forma INDEVIDA.

Considerando a má-fé da primeira Ré ao fixar em contrato taxa mensal de juros


remuneratórios diverso do quanto realmente cobrado, cabe perfeitamente a incidência do
§ único do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 42. (...)


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito


à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese
de engano justificável.”

Assim, considerando que inexiste previsão contratual de capitalização de


juros, o Autor deve ser restituído a título de indenização por danos materiais no dobro do
valor cobrado indevidamente que totaliza R$ 15.921, 94 (quinze mil, novecentos e vinte e
um reais e noventa e quatro centavos), haja vista a onerosidade excessiva a qual foi
submetido.

O contrato, à luz do princípio consumerista da transparência, que significa


informação clara, correta e precisa sobre o contrato a ser firmado, mesmo na fase pré-
contratual, teria que necessariamente conter:

1) redação clara e de fácil compreensão (art. 46);

2) informações completas acerca das condições pactuadas e seus


reflexos no plano do direito material;

3) redação com informações corretas, claras, precisas e ostensivas,


sobre as condições de pagamento, juros, encargos, garantia (art. 54,
parágrafo 3º, c/c art. 17, I, do Dec. 2.181/87);

4) em destaque, a fim de permitir sua imediata e fácil compreensão, as


cláusulas que implicarem limitação de direito (art. 54, parágrafo 4º);

V.2 - DA NULIDADE DA CLÁUSULA QUE FIXA A COBRANÇA DE TARIFAS DE


REGISTRO DO CONTRATO NO ÓRGÃO DE TRÂNSITO - FALHA NO DEVER DE
INFORMAÇÃO

O Superior Tribunal de Justiça firmou tese em sede de recurso repetitivo no


sentido de que são válidas as tarifas de avaliação do bem dado em garantia e de
ressarcimento de despesa com o registro do contrato. No entanto, essa cobrança é
considerada abusiva quando:

a) o serviço não for efetivamente prestado;

b) houver onerosidade excessiva (tema nº 958).


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Como no contrato em debate não há prova específica da efetiva prestação


de nenhum desses serviços, desde já requer que as Rés, apresentem aos autos
comprovantes do gasto com o registro do contrato junto ao órgão de trânsito.

Contudo, o caso em tela merece atenção, visto que o Autor ao firmar com a
segunda Ré as condições para a aquisição do veículo mediante entrada e saldo
remanescente financiado com a primeira Ré, sequer foi informado ao Autor da existência
da tarifa, e de que tal valor seria incluso ao valor principal financiado!

Neste sentido, o Autor não foi informado pelas Rés de que haveria cobranças
extras de qualquer natureza, o contrato pactuado não dispõe acerca de quaisquer
cobranças extras, somente o financiamento do valor de R$: 50.429,00 (cinquenta mil,
quatrocentos e vinte e nove reais).

Contudo, no contrato de financiamento foram incluídos diversos produtos não


autorizados dentre eles a presente tarifa de confecção de cadastro, sem qualquer
informação ao Autor, reputa-se as Rés a falha no dever de informação, devendo ser
declarada nula a cobrança da tarifa de cadastro para início de relacionamento no presente
caso, pois não consta na negociação pactuada.

V.3 - DA COBRANÇA DA TARIFA DE CONFECÇÃO CADASTRO PARA INÍCIO DE


RELACIONAMENTO FINANCIADO

A tarifa de confecção de cadastro para início de relacionamento possui


entendimento sumulado que autoriza sua cobrança pelas instituições financeiras, apenas
em uma única oportunidade, ou seja, no início do relacionamento entre o consumidor e a
instituição financeira.

Contudo, igualmente a tarifa supra o Autor não foi informado pelas Rés de que
haveria cobranças extras de qualquer natureza, o contrato pactuado não dispõe acerca de
quaisquer cobranças extras, somente o financiamento do valor de R$: 50.429,00 (cinquenta
mil, quatrocentos e vinte e nove reais).

Tal encargo ofende o art. 46, do Código de Defesa do Consumidor, assim


como o art. 51, inciso IV, do mesmo diploma. Ademais, a cobrança se manifesta nula, pois
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

o contrato não traz explícita a razão da cobrança desta taxa, pois nele apenas consta o seu
valor, e também porque transfere o custo administrativo da operação financeira ao
financiado, colocando-o em desvantagem exagerada.

Não sendo este o entendimento, subsidiariamente, também aqui se aplica a


lógica de que o valor da tarifa de cadastro não pode exceder desproporcionalmente a
tarifa média divulgada pelo Banco Central do Brasil. A referida tarifa somente pode ser
cobrada uma única vez e no início do relacionamento. E mais, a tarifa deve ser proporcional
à média de mercado.

No caso em estudo, a tarifa de cadastro está prevista na seguinte cláusula da


CCB: D.1 - opção pela contratação da tarifa de cadastro, no valor de R$ 659,00
(seiscentos e cinquenta e nove reais) e foi incluída no financiamento.

Ocorre que, a tarifa média praticada pelos 20 (vinte) melhores bancos,


divulgada pelo Banco Central do Brasil, no último dia útil do mês antecedente ao mês da
realização do contrato em estudo, 30/05/2018, o valor da tarifa de confecção de cadastro
para início de relacionamento/CADASTRO, serviço 11.1- Pessoa Física, era de R$: 34,64
(trinta e quatro reais e sessenta e quatro centavos), conforme planilha em anexo.

V.4 – DO IOF FINANCIADO

No caso dos autos, contrariando entendimento exposto por nossos Tribunais


Superiores, a Requerida realizou financiamento acessório ao mútuo principal, para
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

pagamento do referido imposto (IOF), utilizando, no entanto, a tarifa de 3,00% ao mês,


conforme se depreende do contrato.

TESE STJ: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto


sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de
financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos
encargos contratuais (tese julgada sob o rito do artigo 543-C do CPC
— tema 621).

Neste ínterim, com fundamento no art. 51 do Código de Defesa do


Consumidor, bem como na tese apresentada pelo Superior Tribunal de Justiça, a qual nos
filiamos, o Autor requer a adequação da taxa de juros remuneratórios aplicados sobre o
financiamento acessório, ao mesmo patamar aplicado ao contrato principal.

Precedentes: Precedentes: AgRg no REsp 1532484/PR, Rel. Ministro


RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
08/09/2015, DJe 11/09/2015; AgRg no AgRg no AREsp 597241/RS,
Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
23/06/2015, DJe 03/08/2015; AgRg no AREsp 264054/RS, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
18/12/2014, DJe 06/02/2015; AREsp 733504/RS (decisão
monocrática), Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, julgado em
07/08/2015, DJe 13/08/2015; AREsp 641017/RS (decisão
monocrática), Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, julgado em 16/06/2015,
DJe 19/06/2015; AREsp 599270/RS (decisão monocrática), Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, julgado em 03/02/2015,
DJe 12/02/2015; REsp 1289286/RS (decisão monocrática), Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, julgado em 04/04/2014, DJe
07/05/2014. (VIDE INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA N. 531)

V.5 - DA VENDA CASADA

Assim, é abusiva a cobrança de seguro imposta ao consumidor, por


configurar venda casada, nos termos do art. 39, I, do CDC. (grifei).
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

TESE STJ: O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de matéria


de Recursos Repetitivos (REsp nº 1.639.320/SP), decidiu que, em
contratos bancários celebrados a partir de 30/04/2008, o consumidor
não pode ser compelido a contratar seguro com a instituição
financeira ou com seguradora por ela indicada.

A obrigação em contratar com a própria instituição financeira ou outra por ela


indicada, retira do consumidor a liberdade em contratar com instituição mais vantajosa.

Dessa forma, a cobrança de tarifas, seguro ou quaisquer outros serviços


adicionais, sem a anuência do consumidor caracteriza abusividade que enseja não só o
cancelamento da cobrança, como também a repetição do valor pago.

E, além de realizar a venda casada, aplicou juros remuneratórios sobre à


referida cobrança, em patamar superior ao valor acordado para o financiamento principal,
em desacordo com entendimento adotado por nossos Tribunais Superiores.

V.6 - DA ILEGALIDADE DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

A cobrança de Comissão de Permanência vai de encontro aos termos do art.


122 do Código Civil de 2002, e art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, porquanto
o devedor fica à mercê das disposições da instituição financeira, face a ausência de um
índice oficial.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Esta é a posição do Superior Tribunal de Justiça:


“Inadmissíveis as estipulações contratuais que prevejam encargos
financeiros vinculados a taxas ou índices sobre cuja aferição uma das
partes contratantes exerça influência em maior ou menor medida, a
exemplo da denominada ´taxa ANBID´” (RSTJ, 75/169).

Ainda, no caso em exame, evidencia-se que o contrato contraria a Súmula 294


do Superior Tribunal de Justiça, que assentou que a comissão de permanência só não é
potestativa se for calculada pela taxa média de mercado, apurada pelo Banco Central do
Brasil.

O contrato, por outro lado, permite que a taxa seja apurada pela própria
instituição financeira, o que é vedado pelo Superior Tribunal de Justiça, caracterizando a
abusividade na cobrança da comissão de permanência.

Ao que se verifica da análise da Cédula de Crédito Bancário em anexo,


evidencia-se que a instituição financeira Requerida vem aplicando, cumulativamente, multa,
juros, comissão de permanência e correção monetária. Senão vejamos:

“15. Encargos em razão de inadimplência. A falta de pagamento de


qualquer parcela do Montante devido, no seu vencimento, obrigar-me-
á ao pagamento de, cumulativamente, (I) multa de 2% (dois por cento)
sobre o Montante Devido e (II) comissão de permanência calculada
pela taxa de mercado conforme dados informados pelo Banco Central
do Brasil ou pela taxa de juros estabelecida nesta cédula, a que for
maior.”

No tocante à comissão de permanência, conforme decidido pela 2ª Seção do


Egrégio Tribunal de Justiça, no julgamento do Agravo Regimental n.º 706.368/RS, no qual
foi Relatora a Ministra Nancy Andrighi, tal encargo é admitido durante o período de
inadimplemento contratual.

Contudo, não poderá ser cumulada com a correção monetária (Súmula


30/STJ), com os juros remuneratórios (Súmula 296/STJ) e moratórios, tampouco com a
multa contratual.

VI - DA DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

De outro bordo, não há que se falar em mora do Autor. A mora reflete uma
inexecução de obrigação diferenciada, maiormente quando representa o injusto
retardamento ou o descumprimento culposo da obrigação.

Assim, na espécie incide a regra estabelecida no artigo 394 do Código Civil,


com a complementação disposta no artigo 396 desse mesmo Diploma Legal. CÓDIGO CIVIL
“Art. Art. 394 – Considera-se em mora o devedor que não efetuar o
pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.
Art. 396 – Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não
incorre este em mora”

Do mesmo teor a posição do Superior Tribunal de Justiça:


“Nos contratos bancários, a mora do devedor é descaracterizada tão
somente quando a índole abusiva decorrer da cobrança dos
chamados encargos do “período da normalidade”, juros
remuneratórios e capitalização dos juros (AgInt no AREsp
1595931/RS, DJe 07/12/2020).

Nesse sentido é a doutrina de Washington de Barros Monteiro:

“A mora do primeiro apresenta, assim, um lado objetivo e um lado


subjetivo. O lado objetivo decorre da não realização do pagamento no
tempo, lugar e forma convencionados; o lado subjetivo descansa na
culpa do devedor. Este é o elemento essencial ou conceitual da mora
solvendi. Inexistindo fato ou omissão imputável ao devedor, não incide
este em mora. Assim se expressa o art. 396 do Código Civil de 2002.“
(MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 35ª Ed.
São Paulo: Saraiva, 2010, vol. 4. Pág. 368);

Como bem advertem Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald:

“Reconhecido o abuso do direito na cobrança do crédito, resta


completamente descaracterizada a mora solvendi. Muito pelo
contrário, a mora será do credor, pois a cobrança de valores indevidos
gera no devedor razoável perplexidade, pois não sabe se postula a
purga da mora ou se contesta a ação. “(FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações. 4ª Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010. Pág. 471).

Na mesma linha de raciocínio, Silvio Rodrigues averba:


“Da conjunção dos arts. 394 e 396 do Código Civil se deduz que sem
culpa do devedor não há mora. Se houve atraso, mas o mesmo não
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

resultar de dolo, negligência ou imprudência do devedor, não se pode


falar em mora. “(In Direito civil: parte geral das obrigações. 32ª Ed.
São Paulo: Saraiva, 2002. p. 245).

Por fim, colhe-se lição de Cláudia Lima Marques:


“Superadas as dúvidas interpretativas iniciais, a doutrina majoritária
conclui que a nulidade dos arts. 51 e 53 é uma nulidade cominada de
absoluta (art. 145, V, do CC/1916 e art. 166, VI e VII, do CC/2002,
como indica o art. 1º do CDC e reforça o art. 7º, caput, deste Código.
(...) Quanto à eventual abusividade de cláusulas de remuneração e das
cláusulas acessórias de remuneração, quatro categorias ou tipos de
problemas foram identificados pela jurisprudência brasileira nestes
anos de vigência do CDC: 1) as cláusulas de remuneração variável
conforme a vontade do fornecedor, seja através da indicação de vários
índices ou indexadores econômicos, seja através da imposição de
‘regimes especiais’ não previamente informados; 2) as cláusulas que
permitem o somatório ou a repetição de remunerações, de juros sobre
juros, de duplo pagamento pelo mesmo ato, cláusulas que
estabelecem um verdadeiro bis in idem remuneratório; 3) cláusulas de
imposição de índices unilaterais para o reajuste ou de correção
monetária desequilibradora do sinalagma inicial; cláusulas de juros
irrazoáveis. “(MARQUES, Cláudio Lima. Contratos no Código de
Defesa do Consumidor. 6ª Ed. São Paulo: RT, 2011. Págs. 942-1139).

Em face dessas considerações, conclui-se que a mora cristaliza o


retardamento por um fato, quando imputável ao devedor. É dizer, quando o credor exige o
pagamento do débito, agregado com encargos excessivos, retira-se do devedor a
possibilidade de arcar com a obrigação assumida. Por conseguinte, não pode lhes ser
imputados os efeitos da mora.

Entende-se, que uma vez constatado a cobrança de encargos abusivos


durante o “período da normalidade” contratual, restará afastada eventual condição de mora
do Autor. Por fim, sendo o contrato em exame eivado de cláusulas abusivas, ilegais e
excessivamente onerosas decorrentes da normalidade do contrato, não se constituiu
validamente a mora “debendi”, já que os valores cobrados não são os efetivamente devidos.

VI - DO DANO MORAL.

Todos os bancos, são prestadores de serviços públicos, nos termos do § 6, do


art. 37 da Constituição Federal, têm responsabilidade objetiva, posto que são estruturadas
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos interesses da


coletividade.

Com efeito, os bancos prestam um serviço público, respondendo pelos danos


que seus agentes causarem a terceiro, se sendo a sua responsabilidade objetiva, que existe
independentemente de culpa, basta a comprovação do nexo causal e do dano, para que
nasça o dever de indenizar.

Demonstrado que a forma de cobrança empregada pela primeira Ré afronta


princípios basilares do Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista a evidente má-fé
ao fixar uma taxa no contrato, e na execução aplicar taxa de juros remuneratórios diverso e
maior do acordado, favorecendo-se da vulnerabilidade do consumidor, não restando
dúvidas da prática ilícita de enriquecimento sem causa.

Registre-se também que a ilicitude reside no largo espaço temporal que a


ilicitude acima descrita permaneceu sobre a vida financeira do Autor, que sofreu por (28)
meses, a aplicação de uma taxa extorsiva que reduziu demasiadamente o seu poder de
compra e a liquidez do seu salário com os descontos consignados elevados praticados pelas
Rés.

No entanto, o Autor foi enganado pelas Rés de forma ardilosa, e através do


cálculo pericial foi possível descobrir que a real taxa mensal de juros aplicada no contrato
foi diversa da pactuada e muito mais onerosa, inclusive com capitalização de juros sem
previsão no contrato, o que constitui não só a falta do dever básico de informação, mas ato
ilícito, previsto no art. 39, inciso V do CDC.

É, público e notório que os contratos bancários são todos, sem exceção,


redigidos (quando não impressos) unilateralmente pelas instituições financeiras, sem que
haja a ingerência ou a participação do financiado na sua redação, na razão de que eles já
estão elaborados por ocasião da sua assinatura. Restringindo, assim, participação do
contratante em aceitá-los ou não. Não passando estes de meros contratos de ADESÃO, os
quais, podendo se afirmar de serem em sua grande maioria ILEGÍTIMOS, por não
observarem as normas pertinentes.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Isso porque não é uma prática aceitável que a dignidade da pessoa humana
seja minimizada para a aferição de lucro acentuado por parte do banco.

Nesse sentido, os transtornos anormais sofridos pelo Autor, com seu direito
violado, devem ser reparados por meio da aplicabilidade da responsabilidade civil objetiva,
conforme dispõe o art. 14 do CDC, e o art. 186 e 927 do CC:

“Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.”

“Art. 186 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“Art. 927 - Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Uma vez constatada a prática do ato ilícito, impõe a sua devida reparação, de
forma que a condenação deve ser feita com moderação para evitar o enriquecimento sem
causa, de forma proporcional ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do Autor, o porte
econômico das Rés, a extensão do dano gravidade da conduta, a natureza do direito violado
e o caráter pedagógico e compensatório da indenização.

Delimitadas em tais circunstância, faz-se justa a reparação por danos morais


no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), justos a compensar todo o sofrimento suportado
pelo Autor durante todo esse tempo de supressão do seu salário.

VII – DA TUTELA DE URGENCIA

No caso em liça, encontram-se presentes os requisitos para a concessão da


tutela provisória de urgência, uma vez que os elementos carreados aos autos evidenciam o
direito da parte autora, baseado em legais e consumeristas, amparados pelos princípios
constitucionais típicos da proteção do consumidor, havendo iminente perigo de dano ou o
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

risco ao resultado útil do processo, caso a tutela provisória não venha a ser concedida, nos
termos do art. 300 e seguintes do NCPC.

O contrato de financiamento do veículo que foi inicialmente pactuado entre o


Autor e a segunda Ré na ocasião da aquisição do veículo foi expressamente alterado pelas
Rés sem o conhecimento do Autor no momento da sua finalização.

Haja vista que os elementos coligidos na inicial sumariamente


demonstram a verossimilhança dos fatos deduzidos na exordial, assim como também
trazem à tona plausibilidade jurídica dos pedidos formulados pelo Autor. Ou seja, há
evidência de que a primeira Ré aplicou efetivamente uma taxa de juros que sequer está
prevista no contrato de 1,77% a. m., de maneira que não condiz com a taxa de juros indicada
no contrato da primeira Ré de 1,40% a. m., assim como também não condiz com a C.E.T
mencionada de 1,75% a.m.

Independentemente da natureza da tutela provisória de urgência (antecipada


ou cautelar), os pleitos de tutela provisória possuem amparo no art. 300 e seguintes do CPC,
uma vez que se fazem presentes os requisitos de provisoriedade e de evidência.

1. Do depósito do valor incontroverso

Conforme se denota da análise do cálculo pericial anexo, o Autor entende que,


adequada a taxa de juros remuneratórios a média do mercado na época da contratação
(1,77% a.m. para 1,25% a.m.), o valor das parcelas deveria corresponder a R$ 1.403,48 (um
mil, quatrocentos e três reais e quarenta e oito centavos) cada uma, totalizando o contrato
no valor final de R$ 67.367,04 (sessenta e sete mil, trezentos e sessenta e sete reais e quatro
centavos).

Até o momento o Autor pagou o valor total de R$ 47.234,03 (quarenta e sete


mil, duzentos e trinta e quatro reais e três centavos) quantia que deverá ser abatida e
compensada no débito acima indicado.

Considerando que seja readequado o contrato de financiamento do veículo, e


afastada a cobrança das taxas, tarifas administrativas e venda casada de produtos de
terceiros, todas não autorizados pelo Autor, com a aplicação correta da taxa média de juros
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

de acordo com a Súmula 530 do STJ, no percentual de 1,25% ao mês, o valor financiado
de R$: 50.429,00 (cinquenta mil, quatrocentos e vinte e nove reais) em 48 parcelas de R$
1.403,48 (um mil, quatrocentos e três reais e quarenta e oito centavos), mensais, e o valor
total do contrato no seu termo, em junho de 2022, será de R$ 67.367,04 (sessenta e sete
mil, trezentos e sessenta e sete reais e quatro centavos).

O art. 330, §§ 2º e 3º, do CPC, preceitua que a parte deverá QUANTIFICAR O


VALOR INCONTROVERSO, ou seja, sinalizar de forma inequívoca que o incontroverso é
aquilo que a parte entende como devido e não o constante no contrato, até porque, se fosse
o valor do contrato, a parte não precisaria quantificar, pois já declarado no negócio!

“Art. 330 – A petição inicial será indeferida quando:


(...)
§ 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação
decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens,
o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial,
dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter,
além de quantificar o valor incontroverso do débito.
§ 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser
pago no tempo e modo contratados.”

Frisa-se, que o parágrafo segundo do art. 330 CPC, DETERMINA QUE A


PARTE PAGUE O VALOR INCONTROVERSO, mas NO TEMPO e FORMA CONTRATADOS.

E, considerando que até a presente data, o Autor já efetuou o pagamento do


montante de R$: 47.234,03 (quarenta e sete mil, duzentos e trinta e quatro reais e três
centavo), ou seja, 70% (setenta por cento), restando a pagar o valor incontroverso de 14
(quatorze) parcelas de R$ 1.403,48 (um mil, quatrocentos e três reais e quarenta e oito
centavos).

Para fins de evidenciar a boa-fé do Autor, requer seja aceito o depósito judicial
do valor incontroverso R$ 1.403,48 (um mil, quatrocentos e três reais e quarenta e oito
centavos), para fins de concessão da liminar e suspensão da cobrança e os demais reflexos.

2. Do Afastamento da Mora do Devedor


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Conforme explicitado anteriormente, resta, no presente caso, a


descaracterização da mora da parte autora. Isso porque, conforme entendimento
consolidado do Superior Tribunal de Justiça, bem como do Tribunal de Justiça Estadual,
havendo indícios de abusividade nos encargos incidentes no período na normalidade
contratual, a mora do devedor resta fragilizada.

O afastamento da mora é medida que se impõe no caso em questão,


ensejando no deferimento dos pedidos liminares a seguir descritos.

Consequentemente, preenchidos estão os requisitos descritos no artigo 300


do CPC/2015, quais sejam a probabilidade de direito e o perigo de dano, haja vista o cálculo
pericial identificou divergência entre a taxa de juros remuneratórios descrita no contrato, a
efetivamente praticada no financiamento e a real taxa média obtida no site do Banco Central,
devendo ser aplicada a taxa mais benéfica ao Autor, nos moldes da Sumula 530 do STJ.

Os elementos coligidos na inicial sumariamente demonstram a


verossimilhança dos fatos deduzidos na exordial, assim como também trazem à tona
plausibilidade jurídica dos pedidos formulados pelo Autor.

Ou seja, há evidências de que a taxa de juros efetivamente praticada de 1,77%


a. m., e questionado na presente demanda não condiz com a taxa de juros indicada pela Ré
no contrato de 1,40% a. m. O que levou o Autor a descobrir que a real taxa de juros
divulgada pelo Banco Central na data da contratação era de 1,25% a. m.

Prova real da taxa de juros praticada no contrato, obtida na calculadora do


cidadão do Banco Central:
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Simule o financiamento com prestações fixas


Nº. de meses 48

Taxa de juros mensal 1,772810


%
Valor da prestação
(Considera-se que a 1a. prestação não seja no 1.569,00

ato)
Valor financiado 50.429,00
(O valor financiado não inclui o valor da entrada)

https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/calcularFinanciamentoPrestacoesFixas.do

Inclusive, a probabilidade de procedência dos pedidos também é traduzida


pelo reconhecimento da inclusão das cláusulas de cadastro junto ao órgão de trânsito, tarifa
de cadastro, e da prática ilícita de venda casada de seguro prestamista e título de
capitalização sem anuência e conhecimento do Autor.

Ademais, ficou constatado através do cálculo pericial que as Rés, violaram a


boa-fé contratual e agiram de má-fé ao aplicar uma taxa de juros diferente da entabulado
no contrato.

O segundo requisito, que pode ser sintetizado como sendo perigo da


demora, exsurge dos elementos juntados nesta peça inaugural, na medida em que a espera
por um provimento jurisdicional final (em sede de cognição exauriente) prejudicará
sobremaneira, ou quiçá tornará imprestável, o direito da parte demandante buscado nesta
demanda. Isto porque o abuso do direito pelas Rés compromete o cumprimento do contrato
e a própria subsistência mensal do Autor.

Certamente, se for antecipada a tutela para que o Autor passe a pagar o valor
incontroverso da parcela, não haverá risco de descumprimento do contrato, como também
não privará o Autor de parte de sua remuneração mensal. Mas se for mantido como está o
contrato, indubitavelmente o Autor ficará privado do acesso ao mínimo existencial, sendo
que a concessão da tutela não prejudicaria a primeira Ré, instituição de crédito de elevado
potencial econômico.

3. Da caução fidejussória e da reversibilidade da medida


Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

Por fim, tem-se como plenamente reversível a medida a ser concedida, haja
vista que a retomada dos pagamentos no valor contratual pode ser feita a qualquer
momento. Contudo, conforme autoriza o §1º do já citado artigo 300 do CPC o Autor
como prova de boa-fé oferece caução fidejussória representada por fiança a ser
outorgada por ROSANA VALIM SCHNEIDE POERSCH, brasileira, casada pelo regime de
participação final dos aquestos, advogada, inscrita na OAB-RS 96.221, CPF nº. 612.037.180-
04, residente e domiciliada na Rua. General Auto, 266, apto. 501, Centro Histórico, Porto
Alegre/RS, CEP. 90.010-380, endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com

4. Da Negativação da Parte Autora nos Cadastros de Proteção ao Crédito

Considerando que o contrato gerador da dívida da parte autora com o Banco


réu está sub judice, não é admissível que o nome do Autor seja incluído em rol de
inadimplentes ou lá permaneça por débito sobre o qual paira controvérsia.

Da mesma forma quanto ao pleito liminar anterior, o presente pedido preenche


os requisitos legais para concessão de tutela antecipada.

Dito isso, a parte autora requer a exclusão de seu nome dos órgãos de
proteção ao crédito (SPC, Serasa, SISBACEN e afins), no prazo de cinco dias, sob pena
de multa diária no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) por dia, a título de astreintes,
limitado ao total de R$:3.000,00 (três mil reais), nos moldes do art. 231, § 3º, do CPC;
Assim como a proibição de nova inclusão até o julgamento final da lide.

5. Da Manutenção Da Posse Do Bem

Assim diante da autorização das parcelas incontroversas, do oferecimento


da caução fidejussória pelo Autor, imperiosa a autorização da manutenção da posse do
veículo em poder do Autor. Isso porque sendo a mora o fundamento para que o bem seja
retirado da posse do devedor.

E sendo deferida a antecipação de tutela pretendida para os devidos


depósito em conta judicial, não haveria motivos ou fundamentos para impedir a
permanência da posse do bem até decisão final da presente demanda.
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

É nesse sentido que entendo o Egrégio Tribunal de Justiça, veja-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


REVISIONAL DE CONTRATO. DECISÃO MONOCRÁTICA. A
TUTELA DE URGÊNCIA SERÁ CONCEDIDA QUANDO HOUVER
ELEMENTOS NOS AUTOS QUE EVIDENCIEM A PROBABILIDADE
DO DIREITO RECLAMADO E/OU HOUVER PERIGO DE DANO OU
RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO, NOS TERMOS DO
QUE DISPÕE O ART. 300 DO NOVO CPC. Na hipótese dos autos
restou evidenciada, em sede de cognição sumária, a existência
de abusividades na pactuação, de modo que deve ser concedida
a tutela provisória pleiteada. MANUTENÇÃO DE POSSE. CASO
CONCRETO. Tem o devedor o direito de permanecer na posse do
veículo enquanto tramita a ação revisional, eis que fragilizada a
mora que permitiria ao Banco a retomada do bem. [...]. (Agravo de
Instrumento Nº 70072279268, Décima Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angela Terezinha de Oliveira
Brito, Julgado em 19/12/2016).

Logo, oportuno é o deferimento em caráter de tutela provisória de urgência


da manutenção de posse do veículo ao Autor, até o julgamento final da presente demanda,
decorrência do afastamento da mora e do preenchimento dos demais requisitos legais
tocantes ao pedido antecipatório.

Diante do exposto, requer-se que seja deferido os pedidos de tutela


antecipada em caráter liminar.

VIII - DOS PEDIDOS:

Em face do exposto, a parte autora REQUER a Vossa Excelência:

1) A concessão da TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars , nos


termos do artigo 300 do CPC, diante da manifesta presença dos requisitos autorizadores
de sua concessão, diante do inequívoco descumprimento contratual praticado pelas Rés,
para determinar:

a) seja determinado o afastamento da mora do devedor diante das irregularidades


verificadas nos termos do contrato, até o julgamento final da lide, de acordo com o
julgamento do Resp. nº 1.061.530/RS;
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

b) seja determinado a suspensão dos efeitos das cláusulas contratuais que autorizam a
execução extrajudicial do contrato pela instituição financeira, ficando indubitavelmente
determinado a proibição de cobrança por vencimento antecipado da dívida, até que se
resolva o mérito da presente lide;
c) Seja deferido em caráter liminar autorização para que o Autor deposite o valor
incontroverso conforme cálculo pericial em anexo, no valor de R$: 1.403,48 (de modo
a possibilitar desde já o deferimento dos pedidos de tutela de urgência;
d) Seja recebida a caução fidejussória nomeando a pessoa da sra. ROSANA VALIM
SCHNEIDER POERSCH, como fiadora pessoal da dívida;
e) seja deferida, em caráter de tutela provisória de urgência, a MANUTENÇÃO DE POSSE
DO VEÍCULO do veículo LIFAN X-60 TALENT, placa QJC-4195 ao Autor, até o julgamento
final da presente demanda;
f) seja deferida, ainda, a exclusão do nome do Autor dos órgãos de proteção ao crédito, no
prazo de cinco dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais)
por dia a título de astreintes, limitado ao total de R$:5.000,00 (cinco mil reais), nos
moldes do art. 231, § 3º, do CPC;

2) No mérito, seja recebida e devidamente processada a presente ação declaratória de


descumprimento contratual c/c repetição de indébito e tutela de urgência e julgar totalmente
procedente a presente demanda para:
a) A procedência da ação para declarar a violação das Rés aos princípios da boa-fé
contratual e descumprimento contratual, para confirmar os pedidos das tutelas provisórias
e a determinação da readequação do contrato nos termos do cálculo pericial, e devolver ao
contrato, seu equilíbrio constitucional, nos termos do artigo 192, CF/88, e para tanto aplicar
a súmula 530 do STJ, que determina que na incerteza da de juros, seja aplicada, “... a taxa
mais vantajosa ao devedor”, aplicando ao contrato a taxa média de juros de 1,25% a.m.,
confirmando o valor incontroverso do cálculo pericial.
b) A procedência da ação para que seja completamente afastada a capitalização de juros,
por ausência de previsão contratual;
c) A procedência da ação para que seja declarada ilegal a cláusula de cobrança de tarifa
administrativa de registro de contrato no órgão de trânsito por não haver previsão legal no
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

contrato principal, falha no dever de informação pelas Rés, e assim incorrer em onerosidade
excessiva (tema nº 958), ao Autor.
d) A procedência da ação para que seja declarada ilegal a cláusula de cobrança de tarifa
administrativa de início de relacionamento por não haver previsão legal no contrato
principal, falha no dever de informação pelas Rés, e assim incorrer em onerosidade
excessiva (tema nº 958), ao Autor, ou, alternativamente, a limitação da taxa/tarifa de
cadastro ao valor médio de mercado conforme taxa média obtida no site do Banco Central,
conforme apresentado no laudo pericial, no valor de R$: 34,64 (trinta e quatro reais e
sessenta e quatro centavos).
e) A procedência da ação para que sejam declaradas ilegais as cláusulas prevendo a
cobrança do IOF e IOF adicional, por não haver previsão legal no contrato principal, falha
no dever de informação pelas Rés, e assim incorrer em onerosidade excessiva ao Autor;
f) A procedência da ação para que sejam limitados os juros moratórios em 1% e a multa
moratória em 2% sobre o valor da prestação, nos termos do art. 52, 1º, do CDC, com o
consequente afastamento da comissão de permanência incidente de forma cumulada com
outros encargos;
g) Ainda, a procedência da ação para que seja decretada afastada a mora da parte
financiada;
h) A procedência da ação para que sejam as Rés condenadas solidariamente a devolver
os valores pagos em excesso pelo Autor no decorrer do contrato, pelo INDÉBITO no valor
de R$: 15.921,94 (quinze mil, novecentos e vinte e um reais e noventa e quatro centavos),
na forma corrigida e atualizada, ou a compensação dos mesmos sobre eventual débito
remanescente, se houver;
i) Não sendo entendimento pela condenação em dobro requerido no item supra, a
procedência da ação para que sejam as Rés condenadas solidariamente, a devolver os
valores pagos em excesso pelo Autor no decorrer do contrato pelo INDÉBITO na forma
simples do valor de R$: 7.960,97 (sete mil, novecentos e sessenta reais e noventa e sete
centavos);
j) A procedência da ação para que sejam as Rés condenadas solidariamente, a reparação
por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), justos a compensar todo o
sofrimento suportado pelo Autor em decorrência da má-fé e violação da boa-fé contratual
das Rés;
Dra. Rosana Schneider Poersch
OAB/RS 96221

Endereço eletrônico: rosanapoersch@gmail.com - cel. 51.9.9335.1717

k) Em atendimento ao disposto nos termos do art. 319, inciso VII do CPC/2015, vem a parte
autora comunicar que não tem interesse na realização de audiência preliminar ou
conciliatória;
l) Ademais, requer que seja concedido à autora o benefício da gratuidade judiciária ,
nos termos da Lei n.º 1060/50 e do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal, ante a
sua hipossuficiência e ausência de condições de demandar em juízo sem prejuízo de seu
sustento, nos termos da declaração e documentos anexos;

m) Por fim, embora a matéria ventilada seja essencialmente de direito, na eventualidade de


dilação probatória, pugna-se pela inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º,
inciso VII, da Lei nº 8.078/90, por se tratar de demanda de consumo e, desde já, pela
juntada de novos documentos, produção de prova testemunhal, pericial e pelo depoimento
pessoal do representante legal da ré, sob pena de confissão;
n) A citação das Rés por correio, nos endereços informados na qualificação, para, querendo,
responderem de forma solidária a presente ação dentro do prazo legal, sob pena de revelia
e confissão, com o devido prosseguimento até o julgamento de procedência da ação;
o) Requer seja intimada a primeira Ré a apresentar o contrato de financiamento nos
autos, na forma do artigo 396 do CPC/2015;
p) A condenação das Rés de forma solidária ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios, estes em percentual não inferior a 20%, diante da complexidade
que a causa apresenta, observadas as diretrizes legais e jurisprudenciais;

Protesta-se provar todo o alegado, por meio de todas as provas lícitas, em


especial a documental;

Dá-se a causa o valor de R$ 37.609,69 (trinta e nove mil, seiscentos e nove


reais e sessenta e nove centavos).

Nestes termos, pede deferimento.

Porto Alegre, 27 de maio de 2021.

ROSANA V. SCHNEIDER POERSCH


OAB/RS 96.221

Você também pode gostar