Você está na página 1de 7

https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

1 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

JUIZADO ESPECIAL CIVEL E CRIMINAL DE CRATO/CE

PJEC 0046982-86.2015.8.06.0072

ACIONANTE: JADER OLIVEIRA MAGALHAES FILHO

ACIONADOS: B2W COMPANHIA DIGITAL

SENTENÇA

Dispensado o relatório, nos termos do art. 38 da Lei 9.099/95. Decido.

Em caso de fato do serviço, a inversão do ônus da prova decorre de lei, nos termos do art. 14 do CDC.

Afasto a preliminar de ilegitimidade passiva levantada, tendo em vista que a responsabilidade por vício do produto alcança todos os fornecedores, incluído o
comerciante, conforme art. 18, do Código de Defesa do Consumidor. “Coerente com esta observação, entendemos que o consumidor, ao constatar que o produto
apresenta vício que o torna inadequado ao fim desejado ou que lhe acarreta diminuição do valor, tem o direito de ir ao comerciante que lhe vendeu o bem e exigir,
alternativamente, à sua escolha, a substituição do produto por outro em perfeitas condições, a restituição imediata da quantia paga ou o abatimento proporcional do

preço”.1

Indefiro, também, a preliminar de complexidade da matéria, uma vez que a prova constante no processo é suficiente ao julgamento da lide. Ademais, toda a prova é
produzida para convencimento do juízo, que pode aprofundá-la ou não, devendo considerar os elementos elucidativos suficientes à formação de seu convencimento.

No caso dos autos, o fornecedor não se preocupou em elucidar os reclamos efetivamente comprovados pelo consumidor. Isto é, não trouxe ao processo qualquer
prova acerca da inexistência do vício alegado. Ainda assim, entende necessária a realização de perícia.

A arguição de suposta necessidade de realização de perícia mostra-se muito mais uma forma de protelar o feito (nesse caso extingui-lo), do que o exercício do
direito de defesa. Desta forma, rejeito a preliminar levantada na forma dos dispositivos colacionados:

As disposições da Lei 9.099/95:

2 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente,
podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.

Conforme disciplina o Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor dispõe do prazo máximo de 30 dias para solucionar o vício de qualidade, substituindo as
partes viciadas, conforme disciplina do art. 18 do CDC. Caso contrário, o consumidor pode optar pela substituição do produto, restituição da quantia paga ou
abatimento do preço.

Colacionamos o dispositivo legal para aferição:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade
ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

Anotamos que o aparelho celular é produto essencial nos dias de hoje e, como tal, deve ser substituído imediatamente pelo fornecedor, não se aplicando sequer o
prazo mencionado no § 1º do art. 18 do CDC, mas a disciplina do § 3º do mesmo artigo.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício,
a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar
de produto essencial. (grifo nosso).

Sobre o assunto, colaciono a conclusão da NOTA TÉCNICA Nº 62, oriunda do DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR, do MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, de 15 de junho de 2010:

“ III. CONCLUSÃO

Ante o exposto, este Departamento entende que:

1. à luz do Código de Defesa do Consumidor, o serviço de telefonia móvel é considerado essencial, por ser imprescindível ao atendimento das necessidades
dos consumidores e indispensável para a proteção de sua dignidade, saúde e segurança;

3 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

2. os aparelhos celulares são produtos essenciais, pois constituem o único meio de prestação dos serviços essenciais de telefonia móvel;

3. é direito do consumidor, em caso de vício em aparelho celular, exigir de imediato as medidas previstas no art. 18, § 1º, da Lei 8.078/90 perante
quaisquer fornecedores, inclusive varejistas, importadores e fabricantes;

4. quando ao fornecedor não for possível, de imediato, precisar a causa do vício ou comprovar a culpa do consumidor, devem ser presumidas a boa-fé deste
e a veracidade de suas alegações.

Nesse sentido, a jurisprudência:

DIREITO DO CONSUMIDOR. NEGATIVA DE SUBSTITUIÇÃO DE APARELHO CELULAR DEFEITUOSO VENDIDO A


CONSUMIDOR. PRODUTO ESSENCIAL. PROCON. MULTA.

1. Os consumidores têm direito à reparação integral ou à substituição de produtos de consumo duráveis ou não duráveis que
apresentem vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo exigir a
substituição das partes viciadas (art. 18, §§ 1° e 3º do Código de Defesa do Consumidor). É dizer, a lei possibilitou a
substituição imediata a duas categorias de produtos: a) aqueles cuja reposição de partes possa provocar perda de qualidade ou
diminuição do valor; b) os essenciais.

2. O DPDC - Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão vinculado à Secretaria de Direito Econômico
do Ministério da Justiça, considera que os aparelhos celulares são produtos essenciais, na medida em que se prestam a
viabilizar o acesso ao serviço de telecomunicações SMP (Serviço Móvel Pessoal), também essencial, nos termos da Lei n.
7.783/89, que qualifica expressamente os serviços de telecomunicações como serviço essencial.

3. Independentemente da suspensão dos efeitos da nota técnica do DPDC, por decisão proferida em agravo de instrumento
interposto no TRF da 1ª Região, mostra-se certo o DPDC em considerar o aparelho celular como bem essencial.

4. A telefonia móvel, nos dias atuais, tornou-se tão essencial quanto à telefonia fixa, de modo a evidenciar o seu papel social na
comunicação da população. Nessa perspectiva, como assentado pelo DPDC, não se pode admitir que o consumidor seja privado
do acesso à telefonia móvel em razão de vício de qualidade, seja na prestação do serviço em si, seja no produto que viabiliza
sua fruição, ou seja, o aparelho celular. Ademais, malgrado as trocas dos aparelhos implicarem perdas financeiras para os
fabricantes e fornecedores, a aplicação da norma consumeirista que admite a imediata substituição do produto serve como
incentivo às empresas para melhorarem a fabricação de seus produtos e, consequentemente, para reduzirem o número de
reclamações aos órgãos de proteção ao consumidor.

5. Recurso conhecido e provido. Unânime.

(Acórdão n.612415, 20080111373637APC, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, Revisor: J.J. COSTA CARVALHO,
2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 15/08/2012, Publicado no DJE: 23/08/2012. Pág.: 86)

Direito do Consumidor. Vício do produto. Danos morais. Apelação provida. 1. A privação do uso de bens duráveis essenciais ao
mundo moderno (televisão, geladeira, máquina de lavar, celular, etc.) causa danos morais, ultrapassando o mero aborrecimento.
2. Indenização fixada em R$ 3.000,00, quantia necessária e suficiente à reparação da ofensa, destacando-se seu caráter
pedagógico-punitivo e levando-se em conta o tempo de duração da ofensa. 3. Apelação a que se dá provimento. (APELACAO
0325708-88.2011.8.19.0001, DES. HORACIO S RIBEIRO NETO - Julgamento: 05/03/2013 - DECIMA QUINTA CAMARA
CIVEL TJRJ)

Analisando detidamente o processo, apresentado o vício, o autor buscou a solução do problema, mas não obteve êxito, e até a presente data não foi consertado o

4 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

produto, o que lhe causou danos, os quais devem ser reparados, em face da responsabilidade objetiva e solidária, prevista pelo parágrafo único do art. 7º e art. 18
do Código de Defesa do Consumidor, que traduzem a TEORIA DO RISCO DA ATIVIDADE.

Vislumbro no presente caso os elementos da responsabilidade civil, quais sejam: 1) ato ilícito, consubstanciado na ausência de cooperação e proteção ao
consumidor, abandonado-a à própria sorte no pós-venda; 2) nexo causal, pois os danos sofridos situam-se na linha de desdobramento causal normal da conduta do
acionado; 3) danos materiais e morais experimentados pelo consumidor.

Configurado o dano moral reclamado, dispensada sua comprovação, posto que in re ipsa, sendo suficiente a ação substantiva e derivado nexo causal, não sendo o
caso de mero aborrecimento ou capricho, pois é perceptível na situação fática o prejuízo de ordem emocional, ante a frustração da expectativa do consumidor em
usufruir de produto essencial nos dias atuais, somado à renitência do fornecedor em cumprir suas obrigações legais.

Carlos Alberto Bittar, define dano moral:

"Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas físicas ou jurídicas, em certos aspectos de sua personalidade, em razão de
investidas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimentos,
vexames, dores, enfim sentimentos e sensações negativas."

Sobre esse assunto, trago a coleção trecho da sentença prolatada no dia 30 de abril de 2010, pela Juíza Cibele Mourão Barroso de Figueiredo Oliveira, do Juizado
Especial de Contagem/MG, no bojo do Processo 0079.09.960417-9:

“ Nessa hipótese, não é o defeito do produto em si que gera o dano moral, mas, sim, o descaso das fornecedoras de produtos,
o sentimento de impotência do consumidor que escolheu e pagou o produto, mas depende da diligência das requeridas para
utilizá-lo.

O ilustre doutrinador Sérgio Cavalieri Filho (Programa de Responsabilidade Civil. Atlas, 8.ed., 2009, p. 499), explica a
dinâmica do dano moral em casos análogos:

A expressão latina extra rem indica vínculo indireto, distante, remoto tem sentido de fora de, além de, à exceção de.
Consequentemente, o dano extra rem é aquele que apenas indiretamente está ligado ao vício do produto ou do serviço porque,
na realidade, decorre de causa superveniente, relativamente independente, e que por si só produz o resultado. A rigor, não é o
vício do produto ou do serviço que causa o dano extra rem – dano material ou moral -, mas sim a conduta do fornecedor,
posterior ao vício, por não dar ao caso a atenção e solução devidas. O dano moral, o desgosto íntimo, está dissociado do
defeito, a ele jungido apenas pela origem. Na realidade, repita-se, decorre de causa superveniente (o não atendimento pronto e
eficiente ao consumidor, a demora injustificável na reparação do vício). (Grifei).”

O Código Civil estabelece a base da responsabilidade pelo ato ilícito:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

5 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

A fixação da indenização por danos morais deve atender ao princípio da razoabilidade, observando-se o grau de culpa do fornecedor, bem como o seu porte
econômico e as peculiaridades do caso. Considera-se que a indenização além de servir como compensação à vítima do dano moral, deve servir como desestímulo a
condutas abusivas, revestindo-se de caráter pedagógico.

Face ao exposto, julgo procedente o pedido inicial e condeno a B2W COMPANHIA DIGITAL , nos seguintes termos:

1. RESTITUIR a quantia de R$ 458,10 (quatrocentos e cinquenta e oito reais e dez centavos), paga pelo produto, devendo o valor ser corrigido
monetariamente pelo INPC, desde o desembolso, acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, contados a partir da citação.

2. PAGAR indenização por danos morais no valor de R$ 2.000 (dois mil reais), com correção monetária a partir dessa data (SÚMULA 362 DO STJ),
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, contados a partir da citação.

A fim de evitar enriquecimento sem causa determino que, tão logo seja pago os valores apontados nesta decisão, o consumidor disponibilize o produto com todos os
seus acessórios ao fornecedor, para que buscá-lo em sua residência, sem qualquer ônus ao consumidor.

Sem custas ou honorários advocatícios em primeiro grau, ante a disposição do art. 55 da Lei 9.099/95.

Intimem-se as partes.

Defiro o pedido de gratuidade da justiça em favor do promovente.

Crato, CE, 11 de maio de 2016.

Ângelo Bianco Vettorazzi

Juiz de Direito

6 de 7 17/05/2016 18:31
https://pje.tjce.jus.br/pje1grau/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsu...

1Saaed, Eduardo Gabriel – Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada – 6ª edição, São Paulo, LTr, 2006, pág. 374.

7 de 7 17/05/2016 18:31

Você também pode gostar