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EXMO. JUÍZO DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVELDA COMARCA


DA CAPITAL / RJ

GRERJ XXXX

RENATO, (estado civil), (profissão), portador


da cédula de identidade nº xxx, inscrito no CPF sob o nº xxx, usuário do
email xxx, residente e domiciliado na Rua xxx, por seu advogado
regularmente constituído, com fundamento no art. 6º, VI, CDC e art. 18, §
1º, III, CDC, vem propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA

pelo rito comum, em face de FORNECEDOR S.A., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº xxx, com sede na Rua xxx, pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

Inicialmente, requer que as futuras publicações


e intimações sejam em nome de ADVOGADO – OAB XXX, com
escritório na RUA XXX, onde receberá toda e qualquer notificação.

DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Desde já, o Autor manifesta o desejo pela


designação da audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC.

DOS FATOS

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Em xx/xx/xxxx, o Autor contratou com o Réu a


instalação de GNV 5ª geração em seu veículo (marca xxx, modelo xxx, ano
xxx), pelo valor de R$xxx. O serviço foi executado no mesmo dia, tendo o
Autor ido para sua residência com o carro funcionando.

No dia seguinte, o Autor saiu com o veículo e


percebeu após algum tempo que este começou a apresentar problemas,
chegando a desligar sozinho em diversas ocasiões. Ao levá-lo a uma
oficina autorizada, o mecânico informou que o problema observado é por
causa da regulagem do GNV, principalmente por não ser um GNV de 5ª
geração.

Após a intervenção mecânica, o automóvel


funcionou perfeitamente, porém o Autor ficou inconformado por ter sido
ludibriado pelo Réu, instalando produto inferior ao contratado.

Então, o Autor o entrou em contato com o Réu


em xx/xx/xxxx (protocolo xxx) informando o ocorrido, exigindo imediata
providência para sanar o vício. O Réu se manteve inerte e não promoveu a
substituição do modelo instalado pelo de fato contratado.

Entendendo que seu automóvel funcionaria


bem com o modelo instalado, o Autor então exigiu abatimento proporcional
do preço pago, uma vez que há diferença de R$ xxx entre o modelo de fato
instalado e o efetivamente pago pelo Autor. Mais uma vez, o Réu se
manteve inerte.

DOS FUNDAMENTOS

Da relação de consumo

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De início, cumpre salientar que o Código de


Defesa do Consumidor consagrou a Teoria Finalista para caracterização da
condição de consumidor. Por tal teoria, todo aquele, pessoa física ou
jurídica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como usuário final fático
e econômico, deve ser considerado consumidor.

O Autor é o destinatário final, fática e


economicamente, eis que não há lucratividade para este na utilização do
produto adquirido. Assim, a relação jurídica travada entre Autor e Réu tem
natureza consumerista, na qual aquele figura como consumidor nos termos
do art. 2º do CDC1, enquanto este se apresenta como fornecedor nos
moldes do art. 3º do CDC2.

Desta forma, atrai-se para a presente lide todo


arcabouço protetivo ao consumidor, em especial a inversão do ônus da
prova ope legis (arts. 12, § 3º e 14, § 3º, ambos do CDC) 3 em razão dos
1
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

2
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

3
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 14 O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

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danos oriundos de falhas na prestação do serviço, sem prejuízo da inversão


ope judicis (art. 6º, VIII, CDC)4.

Do vício do produto e da restituição

Um dos principais direitos básicos garantido ao


consumidor é a efetiva prevenção e reparação de danos sofridos pelo
consumidor, inclusive dos danos morais (art. 6º, VI, CDC) 5. Este direito
concentra o cerne de todo o sentido da legislação consumerista: positivar
regras capazes de prevenir potenciais lesões ao consumidor e garantir a
escorreita reparação das que mesmo assim ocorrerem.

Como desdobramento deste princípio, o


Diploma Consumerista responsabiliza os fornecedores pelos vícios de
qualidade que tornem os produtos impróprios ou inadequados ao uso, bem
como os que aqueles que lhe diminuam o valor, nos termos do art. 18 do
CDC6, consagrando o vício do produto.

4
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências.

5
Art. 6º, VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;

6
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que
se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

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Ademais, o art. 18, § 3º, CDC 7 explicita que o


consumidor pode exigir imediatamente qualquer das opções legais quando
a extensão do vício implicar a qualidade do produto.

Tratando-se de produtos duráveis, o


consumidor deve reclamar do vício em até 90 dias (art. 26, I, CDC) 8. Se o
vício for aparente, esse prazo decadencial é contado a partir da entrega do
produto (art. 26, § 1º, CDC)9; caso se trate de vício oculto, o prazo passa a
transcorrer da evidenciação do defeito (art. 26, § 3°, CDC)10.

Identificado o vício e comunicado


tempestivamente, o fornecedor deve saná-lo em até 30 dias, após os quais o
consumidor pode exigir, dentre outras possibilidades, o abatimento
proporcional do preço pago, como se depreende do art. 18, §1º, III, CDC11.

A situação fática atual se subsume


perfeitamente à norma. O Réu forneceu produto de qualidade inferior ao
contratado, não promovendo a correção do problema e tampouco atendeu
ao pedido de abatimento proporcional manifestado pelo Autor, deixando-o
em situação de prejuízo, pagando a mais por produto inferior.

7
Art. 18, § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que,
em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

8
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

9
Art. 26, § 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do
término da execução dos serviços.

10
Art. 26, § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o defeito.

11
Art. 18, § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:
III - o abatimento proporcional do preço.

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Ressalte-se que o Autor confiou na


credibilidade e competência do Réu, estabelecendo relação jurídica calcada
no princípio da confiança, o qual foi exterminado pela atitude do Réu. Ao
se portar da maneira relatada, a conduta do Réu ofende diretamente o
princípio da boa-fé objetiva12, faltando com o dever anexo de lealdade
para com o Autor, não sanando o vício do produto no prazo de trinta dias e
deixando de providenciar o abatimento proporcional do valor pago pelo
produto quando exigida.

Não se pode deixar de observar também que


milita em favor do Autor, consumidor, o princípio vulnerabilidade13,
perante o Réu, empresa sólida e com anos de mercado. A vantagem
econômica, técnica, informacional e operacional do Réu é muito superior
às forças do Autor.

Por estas e outras razões, andou bem o


constituinte de consagrar a proteção do consumidor como um direito
fundamental (art. 5º, XXXII, CRFB/88)14, ganhando status de norma de
eficácia supralegal, conferindo assim maior efetividade a um dos
fundamentos primordiais da República, a dignidade da pessoa humana (art.
1º, III, CFRB/88)15, visto que todos são consumidores!
12
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades
dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações
de consumo, atendidos os seguintes princípios:
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da
proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre
com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

13
Art. 4º, I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

14
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

15
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

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Destarte, o Autor exige o abatimento


proporcional do valor pago e o valor do produto efetivamente instalado –
R$xxx.

Do dano moral

Outra implicação decorrente do direito básico à


efetiva reparação está prevista no art. 14 do CDC, o qual expressa a
necessidade de reparação dos danos sofridos quando o serviço prestado
pelo fornecedor for defeituoso ou falho, configurando fato do serviço.
Neste ponto importa dizer que a responsabilidade do fornecedor se dá de
modo objetivo, cabendo a este provar não ter ocorrido defeito na prestação
do serviço ou o rompimento do nexo de causalidade, como se impõe no art.
14, caput e § 3º, do CDC16.

No caso em tela, é notória a falha no serviço


prestado pelo Réu. O Autor pagou por produto novo, de última geração,
sendo-lhe entregue um de modelo inferior, e o Réu não foi capaz de sanar o
problema em 30 dias. Some-se a isso, a injusta recusa do Réu em restituir a
diferença entre o valor pago e o preço do produto de fato instalado, ao
arrepio do direito positivo.

Assim, a prestação do serviço foi


flagrantemente defeituosa, frustrando a justa expectativa do Autor de
possuir produto de última geração e, posteriormente, de pagar o preço justo
pelo produto efetivamente instalado.

III - a dignidade da pessoa humana

16
Vide nota 3.

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Em decorrência direta de tal defeito, é cristalino


dano moral sofrido pelo Autor, o qual pode ser descrito sucintamente como
a ofensa a qualquer direito da personalidade, dentre eles, o direito à
dignidade, à intimidade, à vida privada e à honra, dispostos
exemplificativamente no art. 5º, X, da CRFB/8817.

É inegável o sentimento de impotência e de


angústia experimentados pelo Autor, sendo ludibriado pelo Réu, que
instalou produto de tecnologia inferior, mas cobrando daquele o preço de
modelo de última geração. Maior ainda a revolta pelo descaso do Réu com
a situação.

Em que pese tal fato, a caracterização dessa


espécie de dano prescinde de demonstração/quantificação da angústia e do
sofrimento suportado. Provado o fato, presume-se o dano. Assim, situações
como a presente são reconhecidas esta E. Corte 18 como merecedoras de
reparação de dano moral in re ipsa.

A definição do quantum indenizatório é outro


ponto que merece atenção. O Réu é um fornecedor de atuação nacional,
amplamente conhecido e que registra vultuosa receita anual. Não ensejaria
a pacificação social, fim último do direito, a fixação de indenização em
valor inexpressivo, por não atender nem ao caráter punitivo tampouco ao
pedagógico.
17
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

18
Apelação cível. Direito do consumidor. Autora que contratou o serviço de instalação de gás veicular.
Defeitos constatados após a instalação. Pedido de restituição do valor gasto que fora recusado pela ré,
que não logrou êxito em desconstituir os fatos alegados pela autora. Laudo pericial que comprova que
houve o vício do produto. Falha na prestação do serviço. Violação da boa fé objetiva. Dano moral in re
ipsa devidamente caracterizado. Indenização majorada para o patamar de R$3.000,00 (três mil reais)
com a observância dos critérios da razoabilidade e proporcionalidade. Provimento do primeiro recurso e
desprovimento do segundo apelo. Sentença mantida nos demais termos. (TJRJ – APELÇÃO 0057386-
62.2014.8.19.0205 – Des(a). CELSO LUIZ DE MATOS PERES - Julgamento: 26/08/2020 - DÉCIMA CÂMARA
CÍVEL)

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Pelo exposto, configura-se o dano moral


indenizável reconhecido por esta corte entendendo-se por compensação
justa e razoável o valor de R$xxx.

DOS PEDIDOS

Ante o exposto, pede e requer a V. Exa.:

a) A citação do Réu para comparecer à


audiência de conciliação a ser designada pelo juízo;

b) A condenação do Réu a abater


proporcionalmente o valor pago pelo Autor e o efetivamente devido, sendo-
lhe restituída a importância de R$xxxx;

c) A condenação do Réu ao pagamento de


R$xxx a título de danos morais;

d) A condenação do Réu ao pagamento das


custas processuais e dos honorários de sucumbência.

DAS PROVAS

Para provar o alegado, requer a utilização de


todos os meios admitidos em direito, na amplitude do art. 369 do CPC,
especialmente a prova documental superveniente e prova pericial, sem
prejuízo da inversão do ônus da prova aplicável ao caso.

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DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à presente o valor de R$ xxxx.

E. deferimento.

Local, data.

ADVOGADO
OAB

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