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PRELIMINARMENTE
Requer os benefícios da justiça gratuita, por ser pobre na forma da lei, conforme
dispositivos insertos na Lei Federal 1.060/50 e do Código de Processo Civil (CPC).
SINOPSE FÁTICA
FUNDAMENTOS JURÍDICOS
Sabe-se que a vulnerabilidade do consumidor (artigo 4º, inciso I) está patente nos
contratos ditos de adesão, como é o caso sub judice, pois sempre haverá uma parte
proeminente e a outra em condição de fragilidade ou vulnerabilidade.
Descumpridas foram, portanto, as disposições do Código de Defesa do Consumidor –
CDC, notadamente aquelas insertas no parágrafo 1º do artigo 18 de tal comando legal,
que assim dispõe:
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:
Pensando nisso o legislador definiu como padrão a responsabilidade civil objetiva nas
relações consumeiristas, fundamentado na teoria do risco, que é uma das características
da relação empresarial. Nestes casos é excluída a existência de culpa para a verificação
da responsabilidade do fornecedor.
O texto da lei é bastante claro ao dispor que caberá ao CONSUMIDOR, e somente a ele
a escolha alternativamente das possibilidades abertas pelos incisos do artigo em
comento, não cabendo ao fornecedor opor a este.
E, como diz a norma, cabe a escolha das alternativas ao consumidor. Este pode optar
por qualquer delas, sem ter de apresentar qualquer justificativa ou fundamento, bastando
a manifestação de vontade, apenas sua exteriorização objetiva. É um querer pelo
simples querer manifestado.
Prevalecem, in casu, as regras da solidariedade passiva, e por isso, a escolha não induz
concentração do débito: se o escolhido não ressarcir integralmente os danos, o
consumidor poderá voltar-se contra os demais, conjunta ou isoladamente. Por um
critério de comodidade e conveniência o consumidor, certamente, dirigirá sua pretensão
contra o fornecedor imediato, quer se trate de industrial, produtor, comerciante ou
simples prestador de serviços.
O civilista Sílvio de Salvo Venosa em sua doutrina referente à responsabilidade civil,
também entende da seguinte forma:
[…]
Resta, portanto, a autora postular a restituição do valor que pagou pelo bem adquirido
ou mesmo receber um novo automóvel, de que tanto necessita para suas atividades
diárias. Vejamos, neste sentido, os pretórios pátrios:
Entre os direitos básicos do consumidor sobressai aquele previsto no artigo 6º, inciso
IV, que o protege contra práticas abusivas. Vejamo-lo:
(…)
Por sua vez, o inciso V do artigo 39 do CDC veda a vantagem excessiva em desfavor do
consumidor, como no caso em apreço, uma vez que a requerente pagou o preço por um
produto viciado e de uso impossível, enquanto que as requeridas não lhe
disponibilizaram a troca, ficando em vantagem excessiva, já que quem suportou o risco
do negócio foi o consumidor, ora requerente.
Destarte, mais que justificada e provada está a vantagem excessiva obtida pelas
empresas requeridas, uma porque a segunda vendeu à requerente um produto viciado,
impróprio à sua destinação; a terceira, porque escolheu mal seu parceiro comercial,
devendo, a teor do artigo 18 do Digesto Consumerista, responder solidariamente, como
forma de se coibir práticas semelhantes futuras. Nesse sentido, vejamos alguns julgados:
Por outro ângulo, o Código Civil Brasileiro dispõe regra cogente para o trato comercial,
trazendo à ilação de que a autonomia da vontade das partes, por vezes, não é absoluta,
pois que é limitada por princípios que regulam as relações entre as pessoas. Vejamos, a
propósito, o que diz o artigo 422 do NCCB:
“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa fé.”
Assim sendo, a quebra desses deveres principiológicos gera uma violação contratual e,
consequentemente, a responsabilização civil do infrator por falta do dever de lealdade e
probidade.
Sabe-se que a boa-fé é um princípio normativo que exige uma conduta das partes com
honestidade, correção e lealdade. O princípio da boa-fé, assim, diz que todos devem
guardar fidelidade à palavra dada e não frustrar ou abusar da confiança que deve
imperar entre as partes.
No caso sub judice, tais acontecimentos vetorizam-se em ato ilícito que, na lição do
inolvidável Orlando Gomes é:
Assim, sabendo do vício e já tendo recebido o valor do bem integralmente, praticou ato
ilícito e quebrou a boa-fé objetiva, que deve imperar entre os contratantes, além de que
se enriquecimento sem causa, a teor do que prescreve o artigo 884 do NCCB, ipsis
verbis:
“Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a
restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.”
O dano causado pelo ato ilícito aqui praticado rompeu o equilíbrio jurídico-econômico
anteriormente existente entre os contratantes. Assim, busca-se restabelecer o equilíbrio,
recolocando as partes no status quo ante. Aplica-se o princípio restiutio in integrum.
Indenizar pela metade seria fazer as vítimas suportarem o dano, os prejuízos.
Por isso mesmo – e diferentemente do Código Civil de 1916 – o novo Código, no artigo
944, caput, positivou o princípio da reparação integral, segundo o qual o valor da
indenização mede-se pela extensão do dano. Assim, quando alguém comete um ato
ilícito, há infração de um dever e a imputação de um resultado. E a consequência do ato
ilícito é a obrigação de indenizar, de reparar o dano, nos termos da parte final do artigo
927 do NCCB, in verbis:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”
O conceito de ato ilícito, por sua vez, está insculpido no artigo 186 do NCCB, senão
vejamos:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
E essa atitude acintosa da segunda requerida em descumprir o contrato, uma vez que
soube dos vícios do bem que vendeu à requerente, mas negou-lhe o direito de utilização
do mesmo bem sem tais vícios, redundou em golpeamento da boa-fé, causando-lhe
danos materiais e morais, sem ressaibo de dúvidas, que deverão ser arcado por todas que
estão no polo passivo, pois solidárias são no evento danoso.
Aliada ao ato ilícito praticado pelas acionadas está a quebra da boa-fé objetiva, repita-
se, que reside na conduta leal dos contratantes nos deveres ante e pós contrato. Aliás, é
o próprio Código Civil Brasileiro que exige tal boa-fé na formação e cumprimento dos
contratos, in textus:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Com efeito, a consequência jurídica do ato ilícito aqui vivenciado é, portanto, o dever
de ressarcir os danos que causaram à requerente por conta do abuso de seu direito e da
quebra da boa-fé. Assim, dispõe o NCCB em seu artigo 247, in verbis:
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a
prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.
Enfim, é extreme de dúvidas de que a requerente foi submetido a prejuízo que não deu
causa, sendo-lhe reconhecido a indenização pelos danos materiais e morais sofridos,
tanto no Código de Defesa do Consumidor (artigo 6º, inciso VI) como no Código Civil
(artigos 186 e 927).
O veículo automotor pela autora adquirido apresentou defeito acobertado pelo manto da
garantia legal e contratual, o que fez levá-la à assistência técnica por inúmeras vezes,
ficando privado de seu uso por vários dias, onerando sobremaneira as suas atividades
diárias, além da perturbação, do desconforto, das ofensas, do desgaste emocional com
tal situação, o que gerou, sem ressaibos de dúvida, dano moral suscetível de
indenização, tal como assegura o artigo 5ª, V da Constituição Federal de 1998 e o artigo
6º, VI, do Código de Defesa do consumidor.
“Não se pode perder de vista que o ressarcimento por dano moral não objetiva somente
compensar à pessoa ofendida o sofrimento que experimentou pelo comportamento do
outro, mas também, sobre outra ótica, punir o infrator, através da imposição de sanção
de natureza econômica, em beneficio da vítima, pela ofensa á ordem jurídica alheia.”
“…o dano moral não está necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da
vítima. Pode haver ofensa à dignidade da pessoa humana se, dor, sofrimento, vexame,
assim como pode haver dor, sofrimento, vexame sem violação da dignidade….a reação
química da vítima só pode ser considerada dano moral quando tiver por causa uma
agressão à sua dignidade.” (Programa de Responsabilidade Civil, 10ª edição, Atlas,
2012, São Paulo, pág.89).
A reparação do dano moral não visa, portanto, reparar a dor no sentido literal, mas sim,
aquilatar um valor compensatório que amenize o sofrimento provocado por aquele dano,
sendo a prestação de natureza meramente satisfatória. Assim, no caso em comento,
clarividente se mostra a ofensa a direitos extrapatrimoniais, haja vista toda a angústia e
transtorno que a requerente e sua família vêm sofrendo com os malsinados débitos e
inscrições indevidas.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
“…o dano moral está ínsito na própria ofensa, decorre da gravidade do ilícito em si. Se
a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de
ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva
inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto
está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural…” (Ob. cit. pág.97).
Coerente se faz a doutrina que indica que além de respeitar os princípios da equidade e
da razoabilidade, deve o critério de ressarcibilidade do dano moral considerar alguns
elementos como: a gravidade e extensão do dano, a reincidência do ofensor, a posição
profissional e social do ofendido e as condições financeiras do ofendido e ofensor.
Apenas para supedanear a decisão meritória, o parâmetro que entende razoável o
requerente é o de que o valor não deverá ser abaixo de cinquenta (50) salários mínimos
e de forma solidária entre as empresas requeridas.
Assim, no caso em comento, é parâmetro que se revela justo para, primeiro, compensar
o autor pela dor sofrida, sem, no entanto, causar-lhe enriquecimento ilícito, e, segundo,
servir como medida pedagógica e inibidora, admoestando os estabelecimentos réus pela
prática dos atos ilícitos em evidência.
DA TUTELA ANTECIPADA
Art. 84 – Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não
fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 2º – A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (artigo 287 do
Código de Processo Civil).
Com efeito, a tutela antecipada é a decisão provisória que satisfaz total ou parcialmente,
imediatamente o direito material deduzido. Exige verossimilhança baseada em prova
segura, inequívoca. A tutela antecipa os efeitos do provimento final.
Quanto ao fumus boni juris, presente se faz, às escâncaras, evidente razoabilidade das
alegações do requerente, convertidas em enriquecimento sem causa das empresas
requeridas e na suas obrigações legais de ressarcirem os danos causados àquele. Por
tudo que foi exposto, há um iniludível vulcão em erupção de verdade na redação fática
externada pelo requerente, bem como prova material robusta e apta ao acolhimento da
tutela pretendida.
(…)
(AI 2002000146584 CE- 2ª Câmara Cível – Rel. Des. Gisela Nunes Costa –
j.31.03.2004 – grifamos)
Requer-se, desse modo, que seja, liminarmente, concedida a tutela cautelar na presente
demanda, a fim de determinar a imediata troca do veículo viciado por outro da mesma
espécie ou, não sendo possível, a devolução da pecúnia utilizada pelo autor para a
aquisição de um outro, além de outras questões urgentes aplicáveis à lide.
2.1) determinar à segunda requerida a imediata substituição do veículo viciado por outro
da mesma espécie, totalmente desembaraçado, para que a requerente possa dele utilizar-
se sem sobressaltos, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais) e indiciamento
em crime de desobediência;
3) A citação das requeridas, por meio de seus representantes legais, para que, querendo,
possam responder a presente ação, sob pena de revelia;
5) Intimar o Douto Representante do Ministério Público, para acompanhar este feito até
o final já que se trata de norma de interesse social conforme artigo 1º do Código de
Defesa do Consumidor – CDC;
Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito,
juntada de novos documentos, perícias, depoimentos pessoais e inquirição de
testemunhas (oportunamente arroladas), tudo desde já requerido.
Nesses termos.
Pede e Espera Deferimento.
OAB/UF XXXXXX