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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA

CÍVEL DA COMARCA DE GUARULHOS/SP

SORAIA GOMES DE MENDONÇA, brasileira, casada,


analista de sistemas, portador do RG. nº. 41.344.792 SSP/SP, inscrito no
CPF/MF. sob nº. 307.423.248-00, residente e domiciliado na cidade de
Guarulhos/SP, Rua Luiz Coladello, nº.220, CEP: 07084-410, com apoio nos
artigos 560 e seguintes do Código de Processo Civil, bem como na Lei nº.
8.078/90, propor a presente
AÇÃO DE MANUTENÇÃO DA POSSE COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA
LOCADORA WINMOVE LOCADORA DE VEÍCULOS E
SERVIÇOS LTDA, sediada na cidade de Campinas, Estado de São Paulo, na
rua Umbu, nº 265, Sala 3, bairro Alphaville Campinas, Inscrita no CNPJ sob o
nº 11.265.024/0001-99, representado neste contrato, pelo sócio Daniel Amaral
Farias, CPF n° 219.045.738-60 e/ou Daniel de Freitas Pontes, CPF n°
373.269.798-39, ambos podendo assinar este presente contrato, juntos ou
separados.

I. FATOS
O requerente firmou, em 01/06/2021, contrato de aluguel
inteligente de veículo com cashback com a primeira requerida WINMOVE, com
prazo para devolução em 01/06/2025, tendo efetuado o pagamento total no
valor de R$29.990,00 (vinte e nove mil, novecentos e noventa reais), conforme
comprovantes anexos.
O objeto do contrato é o veículo ARGO DRIVE 1.0
PLACA: CUK0G89— ANO 2021 e MOD 2021 – COR: VERMELHO – 3.000 km
mês.
O instrumento estabelecido prevê cashback de 3% (três
porcento) ao mês sobre o valor total informado supra, que seria recebido pelo
requerente ao final do contrato, conforme cláusula 2.2:
O veículo objeto deste contrato é da marca CARRO:
ARGO DRIVE 1.0 PLACA: CUK0G89— ANO 2021 e
MOD 2021 – COR: VERMELHO – 3.000 km mês.
2.2. Cashback de 3% ao mês, sobre o valor total deste
contrato, a ser recebido pelo LOCATÁRIO no final deste
contrato, em uma conta corrente em nome do
LOCATÁRIO, desde que cumpridas todas as obrigações
assumidas no presente instrumento.
Conforme previsto no referido instrumento, a rescisão
antecipada por parte da Locadora, primeira requerida, importa no seguinte
(cláusula 4.3):
4.3. Em caso de rescisão antecipada por parte da
LOCADORA, a mesma fica na obrigação de ressarcir seu
cliente, descontando apenas o período de uso pro-rata
mensal, no valor de R$624,79, ao mês e efetuar o
reembolso ao cliente da diferença de valores contratuais,
acrescentando o cashback proporcional ao período de
contrato cumprido pela LOCADORA
Ocorre que, tendo o requerente efetuado o pagamento
integral do valor do contrato, conforme comprovantes e demais documentos
anexos, tomou conhecimento, em 01/06/2021, de matérias jornalísticas
veiculadas por várias emissoras sobre suposto golpe que estaria sendo
aplicado pela primeira requerida, como exemplificado pela notícia em
referência.
Basicamente, quando da assinatura do contrato em
comento, o requerente imaginava tratar-se de veículo de propriedade da
primeira requerida, o que não é verdade. Tempos depois, tomou conhecimento
de que, em verdade, os veículos são de propriedade da segunda requerida e
que, portanto, são sublocados pela WINMOVE e, por uma situação envolvendo
exclusivamente as duas empresas demandadas, os consumidores que fizeram
este mesmo negócio jurídico agora estão sendo lesados de diversas formas.
É que a WINMOVE, portanto, atua como sublocadora dos
veículos que locou junto à TRANSPASS e outras várias empresas do ramo. O
que se tem conhecimento é que, por ausência de pagamento das locações
entre as requeridas, inúmeros dos carros sublocados, que se encontram na
posse legítima de terceiro de boa-fé (consumidor), estão com restrições das
mais diversas, já tendo vários casos de busca e apreensão e, inclusive, outros
tantos em que há esbulho possessório de forma completamente ilegal.
Quando tomou conhecimento acerca do exposto, o
requerente lavrou Boletim de Ocorrência (nº. 0001410874 / 2022 – v. doc.
anexo), na intenção de se resguardar, bem como procurou o escritório dos
patronos infra assinados, buscando tomar medidas que lhe assegurem a
possibilidade de permanecer com o veículo até o final do contrato, que por sua
vez está vigente e foi completamente adimplido no que tange as obrigações do
consumidor, ou até posterior decisão terminativa nestes autos, a fim de que
possa se evitar maiores problemas aos que já vem sendo enfrentados por este
e outros tantos consumidores em situação análoga.
Como se pode observar de inúmeros casos envolvendo
as mesmas empresas demandadas, há situações em que o consumidor é
surpreendido com uma busca e apreensão do veículo que, legalmente, está em
sua posse, o que muitas vezes acarreta diversos prejuízos de ordens variadas.
Há outras situações, estas mais graves, em que a retomada da posse, por
parte das locadoras proprietárias, é feita de modo completamente ilegal.
Como é praxe, a maioria das empresas de locação de
veículos possuem, por uma questão de segurança, rastreador veicular que
possibilita, dentre outras coisas, bloquear o automóvel via satélite, de modo a
interromper o seu funcionamento, por exemplo através de intervenção direta na
bomba de combustível. Tal providência pode ser tomada a qualquer tempo por
essas empresas e mediante comandos extremamente simples.
Neste sentido, há relatos de clientes que, ao transitarem
com o veículo, foram surpreendidos com o bloqueio via satélite e,
posteriormente, com esbulho possessório, uma vez que, em algumas
situações, representantes de locadoras proprietárias dos automóveis em
questão primeiro efetuam o bloqueio e, isto feito, vão até o local e reintegram-
se na posse através do uso de chave reserva, ficando o consumidor
absolutamente desamparado e com prejuízos diversos, que podem tomar
formas bastante graves, a depender do caso.
Em busca por informações relativas ao veículo que está
na posse do requerente, nos sistemas do Detran/SP, foram encontradas as
seguintes restrições (doc. anexo):

Como se nota da imagem acima colacionada, consta


sobre veículo restrição de bloqueio por apropriação indébita. Isso decorre
exclusivamente de turbulências ocorridas no bojo da relação contratual
existente entre as requeridas, não tendo nenhuma relação o consumidor que,
nesta situação, fica exposto à apreensão administrativa em eventual blitz
policial, podendo ser tratado, inclusive, como se criminoso fosse dada a
anotação mencionada.
Evidentemente, trata-se de comunicação de ocorrência de
falso crime de apropriação indébita, uma vez que o veículo está sob posse
regular de terceiro de boa-fé (consumidor), não podendo a segunda requerida
alegar desconhecimento de que a primeira requerida realizava sublocação dos
veículos e que, portanto, tais bens encontram-se na posse legítima de
terceiros, como é o caso do requerente.
Sem esperanças de resolver a questão de forma amigável
com as empresas, tendo conhecimento de inúmeros casos parecidos que vem
causando nos consumidores danos dos mais variados, vem buscar amparo da
máquina judiciária a fim de ver seu direito efetivamente tutelado, inclusive
buscando obter ordem judicial em caráter antecipado que permita evitar
maiores danos aos que já experimentados.

II. DOS DIREITOS


II.I INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E INCIDÊNCIA DO CDC

A relação existente entre as partes, no presente caso, é


nitidamente de natureza consumerista, uma vez que o requerente e as
requeridas se enquadram, respectivamente, no dispositivo dos artigos 2º e 3º,
caput, do Código de Defesa do Consumidor. Em se tratando se relação de
consumo, importa mencionar que há a inversão do ônus da prova, em atenção
ao art. 6º, VIII do mesmo diploma legal.
Válido mencionar que é direito básico do consumidor a
informação adequada e clara sobre os diferentes tipos de produtos e serviços,
conforme preceitua o art. 6º, III do diploma consumerista. No caso em tela, não
há qualquer indicação de que os veículos objeto do negócio jurídico firmado
entre o consumidor e a fornecedora WINMOVE seriam de propriedade de outra
empresa, isto é, não houve indicação de que se tratava de sublocação.
Garante também, o mesmo dispositivo legal mencionado
(art. 6º, VI do CDC) a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos. No caso ora em apreço, o que se busca
é não só a prevenção de danos patrimoniais e morais que podem vir a ser
experimentados pelo requerente, como também a efetiva reparação dos que já
efetivamente se concretizaram, conforme se prestará demonstrar adiante.
De acordo com o que versa o art. 14, caput, do CDC, a
responsabilidade do fornecedor de serviços é objetiva, isto é, independe da
comprovação de culpa. Restando-se comprovado que houve falha na
prestação de serviço, se impõe o dever de indenizar pelos danos decorrentes
da conduta do agente. Destaca-se:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos.
§1° O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-
se em consideração as circunstâncias relevantes, entre
as quais:
I - O modo de seu fornecimento;
II - O resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
(…)
O que se nota do caso ora em exame é que a falha na
prestação do serviço resta devidamente enquadrada, especialmente, no
disposto nos incisos I e II do §1º do art. 14, acima destacado. Primeiro, o modo
de fornecimento do serviço em questão é inadequado por vários motivos,
especialmente por não prestar ao consumidor informação clara do tipo de
negócio jurídico que estaria sendo firmado (sublocação) e, consequentemente,
atrai riscos que não se esperam ocorrer, que restam consubstanciados, em
especial, na turbação da posse que vem sendo sofrida, somada a possibilidade
de prejuízos inclusive de ordem extrapatrimonial. Importante mencionar que a
responsabilidade entre as requeridas, que integram a cadeia de consumo, é
solidária.
Neste sentido, respondem igualmente pelas falhas na
prestação de serviços que ora se aponta, como bem prevê o dispositivo do art.
7º, parágrafo único, do diploma consumerista. Importa mencionar, por fim, que
somente estaria isento de responsabilização o fornecedor de serviços que
comprova (art. 14, §3º, I e II do CDC):
§3° O fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar:
I - Que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros.
Facilmente se percebe que, no caso em tela, o que há é
um prejuízo descabido sendo causado aos consumidores por situação externa
ao negócio jurídico que celebraram, que envolvem os fornecedores integrantes
da cadeia de consumo. Isto pois os esbulhos possessórios que vem sendo
verificados em inúmeras situações análogas ao caso exposto na presente
demanda vem sendo ocasionado por suposto descumprimento contratual entre
as requeridas. Não se verifica, portanto, nenhuma das hipóteses excludentes
de culpa dos fornecedores, sendo inexorável sua responsabilização.
Indispensável observar que aplicável se faz, na hipótese
dos autos, o dispositivo do art. 20 do CDC, que assim dispõe:
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios
de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou
lhes diminuam o valor, assim como por aqueles
decorrentes da disparidade com as indicações constantes
da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - A reexecução dos serviços, sem custo adicional e
quando cabível;
II - A restituição imediata da quantia paga,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço.
§1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a
terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.
§2° São impróprios os serviços que se mostrem
inadequados para os fins que razoavelmente deles se
esperam, bem como aqueles que não atendam as
normas regulamentares de prestabilidade.
Maior destaque merece o §2º, que classifica como
impróprio o serviço que se mostre inadequado para os fins que razoavelmente
dele se espera, bem como os que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade. No caso em apreço, resta evidente que o serviço prestado pela
primeira requerida é completamente inadequado e contrário à prestabilidade,
vez que – por culpa exclusiva dos fornecedores – os consumidores em
situações análogas estão perdendo a legítima posse – muitas vezes de forma
ilegal – sobre coisa objeto de contrato de locação devidamente adimplido, com
pagamento integral que asseguraria, via de regra, que a posse fosse livremente
exercida ao longo de 48 (quarenta e oito) meses.
Assim, o consumidor pode exigir, alternativamente e a sua
escolha, as opções trazidas nos incisos do já mencionado art. 20 do CDC. No
caso em tela, conforme se prestará demonstrar adiante, o consumidor pretende
permanecer com o veículo até o prazo final estabelecido no contrato de
locação (01/06/2025) ou, alternativamente, a rescisão do contrato com
devolução dos valores pagos, sem prejuízo do cashback devido e eventuais
perdas e danos.
Tendo-se por configurada a relação de consumo existente
entre as partes, bem como a hipossuficiência do requerente em relação às
requeridas, pugna-se, desde já, pela aplicabilidade do CDC, reconhecendo-se
a responsabilidade objetiva das rés, a inversão do ônus da prova e que os fatos
narrados sejam reputados como descumprimento expresso das normativas
consumeristas.

II.II MANUTENÇÃO DA POSSE DO CONSUMIDOR


Conforme já amplamente narrado, bem como comprovado
pelos documentos acostados juntos desta exordial, tem-se que há, no caso em
deslinde, relação contratual válida e que se encontra vigente, em que de um
lado houve a quitação e cumprimento integral das obrigações, por parte do
consumidor e ora requerente e, de outro, inadimplemento que vem gerando a
turbação da posse legítima deste terceiro de boa-fé (locatário), em função de
um desentendimento havido entre as requeridas/fornecedoras. O que há, em
resumo, é a iminência da possibilidade de perda da posse legítima do bem
locado por parte do requerente.
Neste sentido, todo o conjunto fático e probatório dos
autos indicam que o requerente, embora ainda detenha a posse do bem – por
sua vez, turbada – sofre com grande insegurança jurídica de evolução da
turbação para eventual esbulho possessório, como já ocorreu com inúmeros
consumidores em situação análoga. Já consta, como demonstrado
anteriormente, bloqueio de circulação por apropriação indébita, o que abre a
possibilidade de o requerente ser autuado em uma blitz de trânsito sem nada
ter promovido para o infortúnio.
Evidentemente, pela amplitude dos negócios realizados
entre as requeridas, bem como entre a requerida WINMOVE e outras locadoras
de veículos, que são as reais proprietárias, não se pode alegar
desconhecimento ou irresponsabilidade de nenhuma das fornecedoras, de
modo a prejudicar o consumidor e deixar sobre ele recair todos os ônus
decorrentes da atividade de locação perpetrada por ambas as requeridas.
Ainda que haja direito a ser cobrado de uma requerida a
outra, isto é, ainda que tenha havido descumprimento contratual do negócio
firmado entre as requeridas, não pode o consumidor, possuidor de boa-fé, ser
responsabilizado por isso, como vem ocorrendo. Isto pois o consumidor, como
já informado, possui contrato de locação válido e quitado, tendo adimplido com
todas as suas obrigações, como se observa dos documentos anexos (em
especial os comprovantes de pagamento).
Necessário se faz a observância ao dispositivo do art.
1.210 do CC:
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na
posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e
segurado de violência iminente, se tiver justo receio de
ser molestado.
§1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-
se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o
faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem
ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da
posse.
§2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a
coisa.
Ato seguinte, a manutenção da posse em caso de
turbação é autorizada pelo art. 560 do CPC, exigindo-se o art. 561 que o autor
faça prova de: 1) sua posse; 2) turbação ou esbulho praticado pelo réu; 3) data
da turbação ou esbulho e; 4) a continuação da posse, embora turbada, na ação
de manutenção ou a perda da posse, na ação de reintegração.
No caso dos autos, o requerente detém a posse do bem
móvel objeto de discussão desde o dia 01/06/2021, conforme bem comprovam
os documentos acostados, em especial o contrato de locação devidamente
assinado e os comprovantes de quitação integral, também anexos. A turbação
resta evidenciada pelo bloqueio de apropriação indébita que consta sobre o
bem, conforme pesquisa de débitos e restrições de veículos, promovida pelo
Detran/SP, bem como do Boletim de Ocorrência que a ela deu origem, todos
anexos.
O início da turbação data de 04/05/2022, momento em
que houve a lavratura do Boletim de Ocorrência (nº. BK5902-2/2022 – doc.
anexo) comunicando a suposta prática de apropriação indébita, em que consta
um rol de veículos e, dentre eles, o que está na posse do requerente, conforme
se nota da imagem abaixo mobilizada (fls. 07 do B.O.):

Ato seguinte, a turbação se renova diariamente, a cada


dia em que fica sobre o veículo referido bloqueio, pelo que a presente demanda
está dentro do prazo e de acordo com as normas processuais relativas ao
tema. Por fim, a continuação da posse resta evidenciada por todo o conjunto
fático-probatório constantes destes autos, de modo que o requerente
permanece exercendo seu direito até o presente momento, embora turbado.
Esclarece-se que as proprietárias lavraram Boletins de
Ocorrências em face da sublocadora (primeira ré) e não dos terceiros
possuidores de boa-fé. Não podem, por oportuno, as empresas proprietárias se
valerem da própria torpeza de modo a alegar, porventura, desconhecimento
acerca do negócio entabulado entre o requerente e a WINMOVE. Eventual
intervenção na posse legítima que exerce o consumidor/requerente deve ser
oriunda de decisão judicial em eventual ação de reintegração de posse, desde
que justificada, o que até o momento não ocorreu.
Não obstante, faz-se constar que está tramitando ação
judicial que visa a busca e apreensão do veículo que está sob posse deste
requerente, conforme faz prova a petição inicial anexa (Processo nº. 1019851-
88.2022.8.26.0114). Apesar de, até o momento, não ter sido proferida decisão
neste sentido. Conforme se nota, o veículo consta indicado nas fls. 31 da
exordial mencionada (doc. anexo).
Neste sentido e por todo o demonstrado, inclusive pelos
documentos anexos, é que se pleiteia, desde já, pela manutenção do veículo
na posse do requerente, uma vez que legítimo possuidor e terceiro de boa-fé,
conforme bem demonstram as provas carreadas aos autos, bem como todos
os fatos narrados, uma vez que cumpridos os requisitos legais.

II.III Princípio da Fungibilidade

Em se tratando de ação possessória, há de ser observado


o princípio da fungibilidade, disposto no art. 554, caput, do CPC, que assim
preconiza:
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez
de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e
outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados. (…)
Desta feita, pugna-se pela aplicação do princípio
mencionado, de modo que, caso entenda este D. Juízo que não seja cabível a
ação de manutenção de posse, conhecer-lhe-á do pedido de qualquer forma e
determinar-se-á a expedição do mandado adequado aos requisitos provados,
promovendo a adequação do que se mostrar necessário.

II.IV PEDIDO ALTERNATIVO – RESCISÃO DO CONTRATO E


DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS
Caso não entenda este D. Juízo pela possibilidade de se
exigir o adimplemento do contrato por parte das requeridas, surgir-se-á a
necessidade de rescindir o contrato de locação entabulado entre as partes,
assegurando ao consumidor a devida restituição das quantias pagas,
atentando-se, ademais, as cláusulas contratuais pertinentes, cujo maior
destaque merece:
4.3. Em caso de rescisão antecipada por parte da
LOCADORA, a mesma fica na obrigação de ressarcir seu
cliente, descontando apenas o período de uso pro-rata
mensal, no valor de R$624,79, ao mês e efetuar o
reembolso ao cliente da diferença de valores contratuais,
acrescentando o cashback proporcional ao período de
contrato cumprido pela LOCADORA
Neste sentido, nota-se que a locação se iniciou em
01/06/2021 e se estenderia até 01/06/2025. Não obstante, muito embora não
tenha o requerente sofrido – até o presente momento – esbulho possessório,
estando na posse do bem em questão, não pode ele circular livremente por
inúmeros motivos, sendo o principal oriundo do bloqueio de apropriação
indébita existente sobre o veículo, conforme já se demonstrou, além do fato de
existir a possibilidade de a locadora proprietária, segunda requerida, realizar –
a qualquer tempo – o bloqueio via satélite do automóvel por intermédio de
rastreador veicular instalado.
O que se verifica, portanto, é que a posse do requerente
sobre o veículo locado vem sendo turbada pelas requeridas, recaindo sobre o
bem em questão bloqueio de apropriação indébita, fator este que se soma ao
cenário atual de outros consumidores, cuja turbação evoluiu para esbulho
possessório, em situações em que houve a retirada arbitrária do veículo,
ficando os consumidores totalmente desamparados.
Para facilitar a visualização do quantum é devido a título
de reembolso, propõe-se a seguinte tabela:

PERÍODO DA LOCAÇÃO – 01/06/2021 A 22/06/2022 (12 MESES E 20 DIAS)


TOTAL PAGO – R$ 29.990,00
TOTAL A SE RETER – R$ 7.913,88
TOTAL A SE RESTITUIR – R$ 22.076,12
Neste sentido, tem-se que – caso entenda o D. Juízo pela
rescisão do contrato de locação inteligente entabulado entre as partes, devido
será o valor de R$ 22.076,12 (vinte e dois mil, setenta e seis reais e oitenta e
oito centavos), devidamente atualizado e acrescido de juros de mora. Ademais,
tal reembolso não prejudica o recebimento do valor de cashback no percentual
e forma contratados.

II.V DANO MATERIAL -CASBACK DE 3% AO MÊS

Sem prejuízo, o contrato objeto de discussão na presente


demanda prevê em sua cláusula 2.2 que haveria de ser recebido, ao final do
período de vigência, cashback de 3% (três porcento) ao mês sobre o valor total
da locação, desde que cumpridas todas as obrigações assumidas no
instrumento. Neste sentido, caso seja determinada a rescisão do contrato com
devolução dos valores adiantados, necessário se faz o cumprimento da
obrigação de pagamento dos percentuais equivalente a título de cashback.
Assim determina a cláusula 4.3, já mobilizada
anteriormente:
4.3. Em caso de rescisão antecipada por parte da
LOCADORA, a mesma fica na obrigação de ressarcir seu
cliente, descontando apenas o período de uso pro-rata
mensal, no valor de R$624,79, ao mês e efetuar o
reembolso ao cliente da diferença de valores contratuais,
acrescentando o cashback proporcional ao período de
contrato cumprido pela LOCADORA
Mobiliza-se abaixo plano de negócio fornecido ao
requerente pela requerida WINMOVE, que indica os valores que seriam ao final
recebidos (v. doc. anexo)

No caso dos autos, tem-se que a locação se iniciou em


01/06/2021 e até o presente momento se passaram 12 (doze) meses e 20 dias.
Neste sentido, em caso de determinação pela rescisão, necessária seria a
aplicação do percentual de 42% (quarenta e dois porcento) sobre o valor total
do negócio (R$29.990,00) que significaria um cashback de R$12.595,80 (doze
mil e quinhentos noventa e cinco reais e oitenta centavos).
Assim, na hipótese de ver rescindido o contrato de
locação inteligente entabulado entre o requerente e a primeira requerida,
pugna-se, desde já, pela condenação das requeridas ao pagamento dos
valores relativos ao cashback até o momento computados, sem prejuízo de
acréscimos posteriores caso o negócio jurídico se mantenha por maior lapso
temporal, que soma R$12.595,80 (doze mil e quinhentos noventa e cinco reais
e oitenta centavos).

II.VI TUTELA DE URGÊNCIA


Como já narrado nos fatos, o requerente depende do
veículo locado para trabalhar e para dar conta de suas necessidades pessoais
diárias. Ademais, utiliza do automóvel para visitar seus pais de tempos em
tempos, viajando para outra cidade, pelo que a não concessão de medida em
caráter liminar que lhe assegura ser mantido na posse do bem até posterior
deliberação deste D. Magistrado acarretará dano de incerta ou impossível
reparação. Importante mencionar que o automóvel em questão é o único que o
requerente dispõe, pelo que sua tomada se mostrará como verdadeiro
impeditivo de exercício de suas atividades cotidianas.
Resta claro, também, que a posse que detém sobre o
bem vem sendo turbada e que, ademais, inúmeros outros consumidores que
estavam em situação análoga tiveram a posse esbulhada por buscas e
reintegrações arbitrárias e ilegais, que se operaram por parte das locadoras
proprietárias dos veículos locados. Tal fato faz surgir crescente desespero por
parte de outros clientes que necessitam do veículo locado para realizar suas
atividades pessoais e profissionais diárias, sem mencionar a angústia de ter, a
qualquer tempo, a possibilidade de serem surpreendidos por uma busca e
apreensão ou, pior seria, ter contra si a imputação de conduta criminosa que,
em verdade, não lhes diga respeito.
Os automóveis constituem produto essencial ao
desemprenho das atividades cotidianas das pessoas, dada a grande
necessidade de locomoção que varia entre um e outro consumidor. Para
muitos – como é o caso do requerente – ficar impedido de utiliza-lo represente
verdadeiro prejuízo.
Por todos estes motivos é que se faz imprescindível a
observância do dispositivo do artigo 300 do Código de Processo Civil, que
assim dispõe:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando
houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.
(…)
§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será
concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão.
O dispositivo supramencionado autoriza a concessão de
tutela de urgência nos casos em que houver elementos que evidenciem: 1) a
probabilidade do direito e; 2) o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo, desde que, se de natureza antecipada, não haja perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
O caso em tela se amolda perfeitamente no dispositivo do
artigo mencionado, uma vez que a probabilidade do direito resta evidenciada
por todo o arcabouço probatório acostado com esta exordial, especialmente
pelo contrato devidamente assinado e os respectivos comprovantes de
pagamento pela locação que deveria ocorrer de 01/06/2021 a 01/06/2025.
Assim também ocorre com o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, concretizado pela turbação da posse que vem sendo
constante e resta comprovada pela restrição de apropriação indébita que
consta sobre o bem, bem como demanda objetivando a sua busca e
apreensão. Há, assim, risco ao resultado útil do processo, uma vez que pode
ser que ocorra a perda da posse, seja por busca e apreensão do veículo, seja
por atitude ilegal eventualmente a ser aplicada pelas requeridas (como já
ocorreu em outros casos idênticos).
O perigo de dano se mostra aparente na medida em que
o requerente utiliza do automóvel para possibilitar a execução de suas tarefas
profissionais e pessoais, de modo que a perda do bem ocasionará imediato
dano e progressivos desgastes, até de ordem psicológica.
Fato certo é que, caso não haja a devida tutela
antecipada que ora se pleiteia, poderá o requerente ter sua situação ainda mais
agravada, pela possibilidade de causação de maiores danos aos já
experimentados até o momento. Não há que se supor que justo seria a perda
da posse, pelo possuidor de boa-fé (requerente), por desavença ocorrida no
bojo do negócio jurídico celebrado exclusivamente entre as requeridas, tendo o
consumidor pago o valor integral da locação que se encontra vigente e
vigoraria até 01/06/2025. Permitir a concretização de tal cenário seria não só
ignorar os princípios consagrados no Código de Defesa do Consumidor – em
especial o princípio-motor, que é a vulnerabilidade – mas todo o ordenamento
jurídico pátrio e os princípios de maior valia, estes contemplados na
Constituição Federal de 1988.
Ademais, não há qualquer risco de irreversibilidade dos
efeitos da decisão, na medida em que o que se requer é a concessão da tutela
antecipada de urgência para determinar: (i) manutenção do autor na posse do
automóvel objeto do contrato descrito nesta exordial; (ii) que as rés se
abstenham de adotar quaisquer medidas tendentes à retomada do bem ou de a
ele impor quaisquer restrições ou gravames, de modo a dificultar o exercício da
posse pelo requerente e; (iii) que seja imediatamente levantado o bloqueio de
apropriação indébita constante sobre o bem. Tais pedidos não se mostram, em
hipótese alguma, irreversíveis, se concedidos.
II.VII NECESSIDADE DE FIXAÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA
Dada a potencialidade lesiva do contexto envolvendo as
requeridas, que poderá vir a causar prejuízo de difícil ou impossível reparação
ao requerente, necessário se faz a aplicação do art. 537 do Código de
Processo Civil, que assim dispõe:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e
poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela
provisória ou na sentença, ou na fase de execução,
desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e
que se determine prazo razoável para cumprimento do
preceito.
Trata-se aqui, da necessidade de aplicação de medida
coercitiva para que a ordem judicial que se busca, se concedida, seja cumprida
em sua integralidade, compelindo a parte ex adversa a respeitar a autoridade
deste D. Juízo. Pelo exposto, parece indispensável a aplicação de multa
cominatória a ser fixada pelo MM. Magistrado, que se mostre efetivamente
capaz de compelir as requeridas a: 1) se absterem de adotar medidas
tendentes à retomada do bem; 2) impor ao automóvel quaisquer restrições ou
gravames, de modo a dificultar o exercício da posse pelo requerente, inclusive
promovendo-se o levantamento imediato do bloqueio que sobre ele já consta,
referente a suposta apropriação indébita
Neste sentido, desde já se requer a concessão da tutela
antecipada de urgência, nos termos em que pleiteada, sob pena de multa diária
a ser fixada por este D. Juízo, em valor que se mostre apto a efetivamente
garantir o cumprimento da ordem judicial, sob pena de causar dano de difícil ou
impossível reparação ao requerente.

III. PEDIDOS
Ante o exposto, requer-se:
a) A concessão da tutela antecipada de urgência inaudita altera para
determinar a manutenção do autor na posse do automóvel objeto do
contrato descrito nesta exordial, bem como que as rés se abstenham de
adotar quaisquer medidas tendentes à retomada do bem ou de a ele
impor quaisquer restrições ou gravames, de modo a dificultar o exercício
da posse pelo requerente, sob pena de multa diária a ser fixada por este
D. Juízo, em valor que se mostre apto a efetivamente garantir o
cumprimento da ordem judicial, em atenção aos artigos 300 e 537,
ambos do Código de Processo Civil e; sucessivamente, requer-se a
determinação de imediato levantamento do bloqueio de apropriação
indébita que consta sobre o veículo, para que possa o requerente com
ele transitar livremente até o final do contrato ou, ao menos, até
sentença terminativa de mérito na presente demanda;
b) A citação das requeridas para, querendo, apresentar defesa no prazo
legal, sob pena de revelia;
c) A aplicação do Código de Defesa do Consumidor, por estar-se diante de
relação manifestamente consumerista, conforme amplamente
demonstrado no decorrer da presente exordial;
d) A inversão do ônus da prova, por se tratar de manifesta relação
consumerista, de acordo com o art. 6º, VIII do CDC;
e) Que a presente demanda seja julgada totalmente procedente no mérito
e em todos os seus requerimentos de tutela e de medidas assessórias,
especialmente para condenar as requeridas, determinando-se a
obrigação de cumprimento integral ao contrato para que, ao final, se
confirme a tutela de urgência pleiteada e seja o requerente mantido na
posse do veículo até findo prazo de vigência do contrato de locação
firmado, nos termos do artigo 560 e seguintes do CPC; ou
1. alternativamente, caso não entenda este D. Juízo pela possibilidade
de compelir as rés ao cumprimento das obrigações contratuais
estabelecidas, requer-se a rescisão do contrato com devolução dos
valores pagos e eventuais perdas e danos, bem como a condenação
das requeridas ao pagamento de valores contratuais de cashback,
que juntos integralizam R$42.595,80 (quarenta e dois mil mil,
quinhentos e noventa e cinco reais e oitenta centavos);
f) Seja aplicado o princípio da fungibilidade, de modo que, caso entenda
este MM. Juízo que não seja cabível a ação de manutenção de posse,
conhecerlhe-á do pedido de qualquer forma e determinar-se-á a
expedição do mandado adequado aos requisitos provados, promovendo
a adequação do que se mostrar necessário, em atenção ao art. 554 do
CPC;
g) O reconhecimento da responsabilidade solidária das requeridas, em
atenção ao dispositivo do art. 7º, parágrafo único, do CDC;
h) A condenação das requeridas ao pagamento das custas e despesas
processuais, bem como honorários advocatícios, nos termos dos artigos
82, §2º e 85, do Código de Processo Civil.
Protesta-se por provar o alegado por todo meio de prova
juridicamente possível.
Atribui-se à presente o valor R$42.595,80 (quarenta e
dois mil, quinhentos e noventa e cinco reais e oitenta centavos)
Por fim, requer-se que todas as publicações e intimações
sejam feitas em nome dos patronos que subscrevem a presente: FULANO DE
TAL - OAB/SP nº XXXX e FULANO DE TAL - OAB/SP nº XXXX, ambos com
escritório nesta cidade de GUARULHOS/SP, na Rua XXXX, nº XXXX, BAIRRO,
CEP XXXXX-XXX, sob pena de nulidade.
Termos em que,
Pedi Deferimento
Guarulhos, 5 de julho de 2022

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