Você está na página 1de 17

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA


DE XXXXXX.

XXXXXX , brasileira, estado civil, profissã o, inscrita no RG: X, CPF X, com residência no
endereço: X/UF, CEP: X, com endereço eletrô nico: X.com.br, neste ato representado por sua
procuradora que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência propor:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO c/c INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS com pedido de concessão de medida liminar
Em face da requerida: XXXXXXX, pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ sob o
nº X, com sede situada na X, CEP X, conforme fatos e fundamentos a seguir expostos:

I - DO REQUERIMENTO DOS BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA


Requer a parte autora os benefícios da gratuidade da Justiça, nos termos da Lei n. 1.060/50,
do art. 5º, in caput e incisos XXXIV, LXXIV, LXXVI e LXXVII da Constituiçã o Federal, bem
como do artigo 98 e seguintes do Có digo de Processo Civil, por nã o dispor de condiçõ es de
arcar com as custas processuais.
Ressalte-se que o benefício da gratuidade da justiça é direito conferido a quem nã o tem
recursos financeiros de obter a prestaçã o jurisdicional do Estado, sem arcar com os ô nus
processuais correspondentes. Trata-se de mais uma manifestaçã o do princípio da isonomia
ou igualdade jurídica ( CF, Art. 5º, caput), pelo qual, todos devem receber o mesmo
tratamento perante a lei, sem distinçã o de qualquer natureza.
Assim, requer a parte autora que Vossa Excelência defira o presente pedido de gratuidade
com base e fundamento nas normas legais acima elencadas, por ser questã o de direito e de
justiça.
II – DOS FATOS E FUNDAMENTOS
A Requerente alugou o veículo XXXX 1.8 16V Flex 4 portas, na agência de locaçã o XXX ,
através do contrato de nú mero XXX, no dia X de X de X, data esta em que o veículo seria
retirado no local...
Ocorre que, a Requerente sofreu um grave acidente no dia XXX, aproximadamente
(HORÁ RIO), (LOCAL), quando trafegava pela rodovia e se deparou com um veículo na
contramã o, enquanto este desviava de um pedestre, causando a colisã o frontal ao veículo
da Requerente e aos familiares que ali estavam.
Veja Excelência, a Requerente arcou com cobrança de reboque, despachante,
despesas órgãos competentes e cobranças de itens do contrato.
Todavia, apesar de ter quitado todos os débitos da locaçã o no ato da entrega do veículo,
algum tempo apó s a entrega do veículo, a autora passou a receber cobranças da empresa
ré, cobrança esta relativa a uma suposta “indenizaçã o por custos operacionais e taxa de
12%, totalizando o valor de R$X (POR EXTENSO).
Ora Excelência, a Requerente vem se socorrer dos préstimos de Vossa Excelência, pois é
obrigada a conviver diariamente com esse transtorno criado pela atitude da Requerida, que
liga insistentemente, envia mensagens de texto e e-mails, realizando cobrança indevida,
ignorando a informaçã o que lhe é passada todas as vezes, de que a cobrança nã o consta no
contrato e que foi contratado seguro que cobriu integralmente os danos ao veículo.
Diariamente, as ligaçõ es e envios de mensagens de textos se repetem, transformando a vida
da requerente num verdadeiro inferno, a ponto perder a concentraçã o no trabalho quando
o telefone toca e nã o mais desejar atender o telefone, dado o estado de nervos em que se
encontra. As ligaçõ es feitas no seu celular, interrompem o seu trabalho, bem como ocorrem
também no período da noite, inclusive, aos sá bados e domingos.
Verifica-se ainda o descaso da Requerida frente a toda situação mencionada que,
após dois meses do acidente, exigiu por diversas vezes a devolução do veículo,
inclusive ameaçou a Requerente de responsabilizá-la pelo crime de Apropriação
Indébita (artigo 168 do Código Penal), conforme comprova os telegramas enviados
pela Requerida à Requerente ora juntados aos autos. O que comprova a má
administração das cobranças e exigências da Requerida.
Segundo a Requerida (comprovantes anexados à inicial), embora o carro tenha sofrido
perda total e o veículo estivesse coberto pela seguradora XXX, a cobrança em comento
(CONTRATO) se trata de valor de sinistro, pois houve contrataçã o de seguro para cobertura
de despesa de até R$X (VALOR).
Verifica-se que a cobrança nã o se encontra especificada nas clá usulas contratuais, sendo
que há apenas uma mençã o obscura no corpo do contrato e, afirmar isso, se trata de uma
suposta “clá usula contratual” em que a Requerente se quer pô de ou nã o concordar,
vejamos:
Assim, começou uma insistente e habitual cobrança do valor a título de “custos
operacionais” do valor contratado de seguro em R$X (VALOR) e uma “taxa de 12%” no
valor de R$X (VALOR) que, segundo a Requerida, encontra-se prevista em contrato e pode
ser exigida sob todos os serviços contratados.
Entretanto, Excelência, a conduta da requerida feriu a boa-fé exigível no curso da relaçã o
contratual e, em consequência a violaçã o de deveres ínsitos ao contrato e os reflexos dela
decorrentes geraram, também, aborrecimento e desconforto à autora logo apó s ter sofrer
um grave acidente com sua família que levou a perda total do veículo, que estava sob
cobertura do seguro.
É que no â mbito da relaçã o jurídica decorrente da existência de contrato incide, como em
qualquer outra, o princípio geral da boa-fé, que vai redundar na necessá ria observâ ncia
dos deveres de proteçã o, informaçã o e lealdade. Tais deveres nã o foram observados na
espécie. Assim, caracterizada a abusividade e violaçã o ao Có digo do Consumidor, quando a
Requerida passou a exigir valores nã o avençados, partindo para cobranças vexató rias que
agridem a honra e moral da Requerente, causando afliçõ es e angú stias diá rias.
Nã o bastasse passar por um momento tã o difícil como ocorrido com o grave acidente que
deu perda total no veículo, ainda sofre constantes cobranças por parte da Requerida de um
débito que desconhece e somente apó s vá rias tentativas de tentar descobrir a origem do
débito, foi possível perceber a ilegalidade do ato da Requerida que, aparentemente, força o
recebimento de uma suposta “tarifa de acidente” em que insiste em chamar de custos
operacionais, por ter causado danos ao veículo.
Veja, aparentemente, a Requerida exige o pagamento da franquia do veículo pela
perda total no acidente ocorrido, mesmo a seguradora cobrindo todos os danos,
forçando passar pelo nome de “custos operacionais”, agindo de forma contrária ao
que resta regulamentado.
Ora Excelência, a apó lice contratada pela Requerente é exatamente para indenizar os danos
materiais causados ao veículo, para isso foi contratado o seguro do veículo, caso contrá rio
poderia a Requerida exigir os referidos valores. Além disso, a SUSEP – Superintendência
dos Seguros Privados, ó rgã o responsá vel por regulamentar essa prestaçã o de serviço,
determina na circular nº 269/04, que a cobrança de franquia em casos de danos
promovidos por queda de raios, incêndios, explosõ es ou que promovam perda total é
vedada.
Portanto, resta claro que a cobrança, se considerada exigência de “franquia”, é
cobrança ilegal, pois é expressamente proibida a cobrança de franquia quando
ocorre perda total do veículo (Circular SUSEP nº 269 anexo). Por outro lado, se
considerada como suposta cobrança por “indenização dos custos operacionais e a
taxa de 12%”, a cobrança é indevida, pois não há cláusula contratual em que a
Requerente concorde expressamente com tal exigência e mesmo que Vossa
Excelência concorde ser uma cláusula contratual, é considerada abusiva, pois a
Requerida recebeu a indenização integral do veículo e não se justifica a cobrança de
valor a título de custos operacionais sem especificá-los, como definido pela
jurisprudência pátria.
Ora se a fatura XXX se refere ao valor de “franquia”, como parece, resta claro que a
cobrança fere frontalmente a legalidade, visto que a Circular SUSEP nº 269, de 30 de
setembro de 2004, em seu artigo 6º, veda expressamente a cobrança de franquia nos casos
de indenizaçã o integral do veículo, como ocorreu no presente caso (circular anexa):
Por outro lado, mesmo que seja considerada como custos operacionais e taxa de 12%,
trata-se de clá usula contratual abusiva, sendo injusto que a parte autora pague por um
valor que nã o foi especificado, no momento da contrataçã o e da cobrança. Forçoso,
portanto, reconhecer indevido o valor cobrado a título de custos operacionais e taxa de
12% como fatura do valor contratado de seguro.
Diante disso, visto as diversas vezes que a Requerente buscou esclarecer a inexigibilidade
do referido débito sem êxito, nã o houve outra maneira senã o a via judicial para que seja
declarada a inexigibilidade do referido débito, para que seja determinada a imediata
suspensã o das cobranças vexató rias, bem como a justa reparaçã o pelo dano moral sofrido
pela Requerente.
III - DAS CONSIDERAÇÕES INICIAIS
III. 1 - DA CONFIGURAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO
In casu, há uma relaçã o consumerista lato sensu, conforme o art. 2º e 3º do Có digo de
Defesa do Consumidor.
Em regra, o ô nus da prova incumbe a quem alega o fato gerador do direito mencionado ou a
quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme disciplina o artigo 333, incisos
I e II do Có digo de Processo Civil, mas, o Có digo de Defesa do Consumidor, representando
uma atualizaçã o do direito vigente e procurando amenizar a diferença de forças existentes
entre polos processuais onde se tem num ponto, o consumidor, como figura vulnerá vel e
noutro, o fornecedor, como detentor dos meios de prova que sã o muitas vezes buscados
pelo primeiro, e à s quais este nã o possui acesso, adotou teoria moderna onde se admite a
inversã o do ô nus da prova justamente em face desta problemá tica.
Havendo uma relaçã o onde está caracterizada a vulnerabilidade entre as partes, como de
fato há , este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei no. 8.078/90,
principalmente no que tange aos direitos bá sicos do consumidor, e a letra da Lei é clara.
Ressalte-se que se considera relaçã o de consumo a relaçã o jurídica havida entre fornecedor
(artigo 3º da LF 8.078-90), tendo por objeto produto ou serviço, onde nesta esfera cabe a
inversã o do ô nus da prova. É incontestá vel que a empresa Requerida é fornecedora de
serviços à autora que é consumidora desses serviços, caracterizando-se assim a relaçã o de
consumo, e a consequente aplicaçã o do Có digo de Defesa do Consumidor.
Este é categó rico ao classificar como fornecedor aquele que presta serviço de qualquer
natureza, ressalvando expressamente no § 2º do art. 3º, que serviço é qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneraçã o, inclusive as de natureza da
Requerida, vejamos:
CDC - Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneraçã o, inclusive as de natureza bancá ria, financeira, de crédito e securitá ria, salvo
as decorrentes das relaçõ es de cará ter trabalhista.
O Có digo do Consumidor, reforçando, impõ e o dever de fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e contínuos. Veja Excelência, a empresa Requerida não cumpriu com
os termos do contrato firmado a partir do momento que passou a exigir valores não
acordados, desta forma, deverá indenizar à autora os prejuízos sofridos.

Conforme se vê no caso em tela a responsabilidade da Requerida é objetiva, ou seja,


independe de culpa. Nesse diapasã o colacionamos a magistral liçã o do mestre Rui Stocco, in
Tratado de Responsabilidade Civil, 5ª ediçã o - Sã o Paulo - Editora Revista dos Tribunais,
2001, p. 500, vejamos:
“se o fornecedor - usada a expressão em seu caráter genérico e polissêmico - se propõe a
explorar atividade de risco, com prévio conhecimento da extensão desse risco; se o prestador
de serviços dedica-se à tarefa de proporcionar segurança em um mundo de crise, com
violência exacerbada da atividade criminosa, sempre voltada para os delitos patrimoniais, há
de responder pelos danos causados por defeitos verificados nessa prestação,
independentemente de culpa, pois a responsabilidade decorre do só fato objetivo do serviço e
não da conduta subjetiva do agente”.
Diante do exposto, estando evidente a relaçã o de consumo, as partes se fazem legítimas ao
dissídio, deve a presente demanda ser regida pelo Có digo de Defesa do Consumidor.
III. 2 - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
Diante da hipossuficiência técnica da Requerente, a inversã o do ô nus da prova ante as
verossímeis alegaçõ es apresentadas, juntamente com as provas documentais acostada aos
autos, é medida que se impõ e, conforme previsto no artigo 6º, VIII, do Có digo de Defesa do
Consumidor:
Art. 6º Sã o direitos bá sicos do consumidor:
[...]
VIII – a facilitaçã o da defesa de seus direitos, inclusive com a inversã o do ô nus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando a critério do juiz, for verossímil a alegaçã o ou quando
for ele hipossuficiente, seguindo as regras ordiná rias de expectativas.
Posto isto, requer, desde já , a aplicaçã o da inversã o do ô nus da prova, para que seja juntado
aos autos as gravaçõ es das ligaçõ es telefô nicas, bem como todo acervo referente aos
serviços prestados, visto ser a detentora de todo material probante.

IV – DO DIREITO
IV.1 – DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E DA COBRANÇA INDEVIDA
A priori, a Requerente contratou os serviços da Requerida nos termos já informados
inicialmente, qual seja, a locaçã o do veículo em epígrafe vindo a sofrer grave acidente de
trâ nsito ocorrendo a perda total do veículo, porém, embora tenha cumprido com a parte
que lhe cabia na relaçã o, apó s essa enorme dor do acidente, passou a sofrer insistentes
cobranças de valores desconhecidos contratualmente, mesmo depois de ter recebido da
seguradora a indenizaçã o integral do veículo.
Como dito, o Có digo de Defesa do Consumidor determina que “É direito bá sico do
consumidor a efetiva prevençã o e reparaçã o de danos patrimoniais e morais” (art. 6º, VI,
CDC).
Por sua vez, o Có digo Civil de 2002 é cristalino quando dispõ e sobre a necessidade de
reparar os danos causados, conforme se observa no artigo 186, vejamos: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Igualmente e de forma complementar, o art. 927, do mesmo có dex, reitera a previsã o do
dever de reparar, consubstanciado na responsabilidade civil objetiva, senã o vejamos: “Art.
927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
É cediço, que o direito de resposta e de indenizaçã o moral, material ou à imagem é oriundo
da Carta Magna de 1988, em seu artigo 5º, V, ao dispor que “É assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem”.
Destarte, sob os â ngulos jurisdicional, legal e constitucional, nota-se que o ato ilícito
praticado pela empresa Requerida nos moldes de que fora apresentado inicialmente sã o
fatores gravíssimos e suficientes a ensejar o dever de indenizar, e que, embora
desnecessária a comprovação de culpa em situaçõ es desta índole, é certo que ela
constitui, ao menos, capacidade elementar de agravar as consequências do ato, fatos
presentes no presente pleito.
Sabe-se que o credor pode inscrever o nome do devedor inadimplente nos ó rgã os de
proteçã o ao crédito, visto que age no exercício regular de um direito ( CC, art. 188, I).
Contudo, se a inscriçã o é indevida (v. G., inexistência de dívida ou débito quitado), o credor
é responsabilizado civilmente, sujeito à reparaçã o dos prejuízos causados, inclusive quanto
ao dano moral.
No caso dos autos, a Requerente nã o deixou de cumprir com sua obrigaçã o para que
pudesse originar dívidas com a requerida, tendo em vista que todos os negó cios jurídicos
firmados com a ré sã o decorrentes de contrato de locaçã o de veículo mediante ou nã o a
cobertura de seguro e, diante da escolha da Requerente pelo pagamento do seguro no ato
da contrataçã o, quaisquer danos ao veículo encontrava-se sob a cobertura da apó lice de
seguro.
Com efeito, a ré, ao cobrar serviços de locaçã o, tinha o conhecimento de que o veículo
estava segurado, sendo que ainda fez constar no contrato firmado entre a Requerida e a
Requerente (Clá usula 4ª, 4). Entretanto, apó s receber indenizaçã o integral do veículo pela
Seguradora, praticou ato abusivo em desacordo com os princípios informadores do Có digo
de Defesa do Consumidor e de todo o ordenamento jurídico, a partir do momento que
passou a exigir da Requerente o pagamento de indenizaçã o por “custos operacionais” e
“taxa de 12%” sobre todos os serviços contratados.
Acontece Excelência, que a Cliente optou por aderir ao Seguro do Carro e ser isenta
de reembolsar a Locadora por eventuais danos materiais causados exclusivamente
ao carro alugado, e a cobrança de Indenização por Custos Operacionais não se
encontra prevista no contrato firmado entre as partes, sendo que, apesar disso,
insiste a Requerida que tal cobrança foi previamente pactuada.

A vista disso, questiona-se ainda do que se trata tais custos operacionais, pois nã o houve
excesso do prazo de entrega, houve pagamento de todos os custos e despesas do veículo,
como afirmado pela pró pria Requerida: “...” (e-mail anexo). Além da locaçã o do veículo e o
pagamento das despesas apó s o acidente, o que a Requerida cobra a título de custos
operacionais?
Ora Excelência, se aceitares que consta no contrato a referida cobrança, apenas por
ter a menção de forma obscura no quadro acima do contrato sem constar nas
cláusulas contratuais, resta evidente que a cobrança é abusiva, sendo injusto que a
parte autora pague por um valor que não foi especificado, no momento da
contratação e da cobrança.

Veja que após várias tentativas de esclarecimento em relação ao referido débito, não
foi especificado o que se trata esse “custo operacional”, mesmo após a Requerente
ter pago todos os custos após o acidente, ter realizado o pagamento da locação do
veículo, bem como a contratação do seguro que cobriu integralmente os danos ao
veículo.

Ora, a lei apenas quer dizer que as regras valem, no presente caso da mesma forma deve
ser interpretada e aplicada considerando a falha na informaçã o, caso em que a Requerida
deveria ter mais cautela em exigir valores que não são pactuados, muito menos de
forma insistente e incômoda.

Na verdade Excelência, parece que a Requerida exige o pagamento da franquia do


veículo pela perda total no acidente ocorrido, mesmo a seguradora cobrindo todos
os danos, forçando passar pelo nome de “custos operacionais”, agindo frontalmente
contrário ao que resta estabelecido. Vejamos o entendimento deste Egrégio Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais – TJMG sobre o tema:

Ementa: Açã o de cobrança. Locaçã o de veículo. Perda total. Franquia. Pagamento indevido.
1 - Verificada a perda total do veículo, objeto de contrato de lo-cação havido entre as
partes, desaparece a obrigatoriedade do pagamento da franquia do seguro
correspondente ao mesmo, sendo indevida sua cobrança.
2 - Recurso improvido. (TJMG - Apelaçã o Cível 2.0000.00.315588-8/000, Relator (a): Des.
(a) Nilson Reis , Relator (a) para o acó rdã o: Des.(a) , julgamento em 26/09/2000,
publicaçã o da sumula em 14/10/2000) (Destaques acrescidos)

APELAÇÃ O CÍVEL - SEGURO - COBRANÇA - AUSÊ NCIA DE CAUSA EXCLUDENTE -


INDENIZAÇÃ O DEVIDA - FRANQUIA - DEDUÇÃ O
O Có digo Civil permite à seguradora (notadamente nos arts. 757 e 760) eleger os riscos aos
quais dará cobertura e excluir aqueles que nã o terã o cobertura, devendo a referida clá usula
estar disposta claramente no contrato, sob pena de ser considerada abusiva.
Mesmo tendo restado comprovado que o filho do segurado estava embriagado, nã o há falar
em exclusã o da cobertura porque nã o restou comprovado que o segurado agravou
intencionalmente o risco do contrato, conforme art. 768 do CC, pois referida clá usula
aplica-se diretamente ao segurado.
Não é possível deduzir o valor da franquia do valor indenizado, quando se tratar de
indenização por perda total e, sobretudo, se o próprio contrato veda tal dedução.
(TJMG - Apelação Cível 1.0024.06.246462-3/001, Relator (a): Des.(a) Luciano Pinto ,
17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2007, publicação da sumula em
23/11/2007) (Destaques acrescidos)

EMENTA: AÇÃ O DE COBRANÇA. SEGURO. INDENIZAÇÃ O. RECUSA. AGRAVAMENTO DO


RISCO. AUSÊ NCIA DE COMPROVAÇÃ O. PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃ O. DEVIDO. PERDA
TOTAL. DESCONTO DA FRANQUIA. NÃ O INCIDÊ NCIA.
Verificando-se que nã o houve agravamento do risco e que o furto do bem deu-se com
rompimento de barreiras, nã o há que se falar em perda do direito indenizató rio por
agravamento do risco.
Em se tratando de sinistro com perda total do bem, indevido o abatimento da
indenização do valor referente à franquia. (TJMG - Apelação Cível 1.0428.14.000149-
9/001, Relator (a): Des.(a) Aparecida Grossi , 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
03/02/2016, publicação da sumula em 26/02/2016) (Destaques acrescidos)
Logo, qualquer resposta dada pela ré em relaçã o à referida cobrança é interpretaçã o em
sentido contrá rio ao que resta evidenciado em lei e por este próprio tribunal e, portanto,
viola frontalmente o Princípio da Interpretaçã o mais Favorá vel ao Consumidor, previsto no
art. 47, do CDC: “Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor”.
Ora, in casu, nã o houve comunicaçã o prévia a Requerente de que haveria tal cobrança
posteriormente, motivo pelo qual nã o há que se falar em mero dissabor, mas de total
irresponsabilidade da Requerida que, quando podia e devia ter comunicado a Requerente,
manteve-se inerte, nã o se preocupando com os danos que seriam causados com uma nova
cobrança que se quer consta nas clá usulas contratuais.
Além disso Excelência, cumpre relembrar que o contrato é negó cio jurídico bilateral,
sinalagmá tico, ou seja, institui direitos e obrigaçõ es correlatas para ambas as partes,
regendo-se pelos princípios da autonomia da vontade e da força obrigató ria de suas
clá usulas, que é a pedra angular para a segurança do comércio jurídico.
Vejamos o entendimento sob a ó tica do ilustre mestre Orlando Gomes:
“O princípio da força obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as
partes. Celebrado que seja, com observância de todos os pressupostos e requisitos necessários
à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais
imperativos. O contrato obriga os contratantes, sejam quais forem as circunstâncias em que
tenha de ser cumprido. Estipulado, validamente, seu conteúdo, vale dizer definidos os direitos
e obrigações de cada parte, as respectivas cláusulas têm, para os contratantes, força
obrigatória.” (Contratos - 10ª Edição, pág. 38).
Diante disso, nã o pode uma das partes alterar unilateralmente as clá usulas contratuais,
tentando mudar o ajuste nã o autorizado, pois, os princípios da liberdade de contratar e da
força que vinculam os contratos, devem ser respeitados sob pena de violar-se o equilíbrio
contratual e desestabilizar-se o comércio jurídico, trazendo insegurança à s relaçõ es
contratuais.
Frisa-se que o contrato firmado entre as partes está em perfeita consonâ ncia com o Có digo
de Defesa do Consumidor, pois suas clá usulas nã o estabelecem obrigaçõ es iníquas ou
abusivas que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, sendo que as
disposiçõ es ali versadas estã o compatíveis com a boa-fé e a equidade.
No caso em tela, a atuaçã o da Requerida foge aos padrõ es da boa-fé e equidade, na medida
em que pretende se beneficiar da Requerente, que apó s cumprir com sua parte da
obrigaçã o, exige cobranças fora dos moldes contratados, conduta essa nã o prevista no
instrumento contratual pactuado, tã o pouco protegida em lei.
Ora Excelência, é notoriamente sabido que o contrato é lei entre as partes e uma vez
celebrado deve prevalecer as clá usulas ali contidas, sob pena de jogar por terra toda a
teoria do pacta sunt servanda, e incorrer em uma insegurança jurídica para a Autora que,
por sua vez, nã o se programou comercialmente e financeiramente para as condiçõ es
alteradas pela Requerida.
O respeitado Sílvio de Salvo Venosa sabiamente lecionou em sua 3ª ediçã o da obra “Teoria
Geral das Obrigaçõ es e Teoria Geral dos Contratos” sobre a força obrigató ria dos Contratos,
o que corrobora com os argumentos ora ventilados:
“Um contrato vá lido e eficaz deve ser cumprido pelas partes: pacta sunt servanda. O acordo
de vontades faz lei entre as partes.
Essa obrigatoriedade forma a base do direito contratual. O ordenamento deve conferir à
parte instrumentos judiciá rios para obrigar o contratante a cumprir o contrato ou a
indenizar pelas perdas e danos. Nã o tivesse o contrato força obrigató ria e estaria
estabelecido o caos”.
“Decorre desse princípio a intangibilidade do contrato. Ninguém pode alterar
unilateralmente o conteú do do contrato, nem pode o juiz intervir nesse conteú do. Essa é a
regra geral. As atenuaçõ es legais que a seguir estudaremos alteram em parte a substâ ncia
desse princípio. A noçã o decorre do fato de terem as partes contratado de livre e
espontâ nea vontade e submetido sua vontade à restriçã o do cumprimento contratual
porque tal situaçã o foi desejada.”
Nesse sentido, este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais entende:
EMENTA: APELAÇÃ O CÍVEL - AÇÃ O DE RESCISÃ O DE CONTRATO DE CONSÓ RCIO -
CONHECIMENTO PARCIAL DO SEGUNDO RECURSO - FALHA NA PRESTAÇÃ O DE SERVIÇOS
- AUSÊ NCIA DE COMPROVAÇÃ O - RESCISÃ O DO CONTRATO POR CULPA DO
CONSORCIADO DESISTENTE - RESTITUIÇÃ O DAS PARCELAS PAGAS E DOS LANCES
OFERTADOS - MOMENTO - RESP Nº 1.119.300/RS - ART. 543- C, DO CPC/1973 - ATÉ 30
DIAS APÓ S O ENCERRAMENTO DO GRUPO - DEDUÇÃ O DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃ O E
DA CLÁ USULA PENAL, TAL COMO PREVISTAS NO CONTRATO - INCIDÊ NCIA DE CORREÇÃ O
MONETÁ RIA E JUROS DE MORA - SÚ MULA Nº 35 DO STJ - FUNDO DE RESERVA -
IMPOSSIBILIDADE DE RETENÇÃ O - CONTRATAÇÃ O DE SEGUROS - CARACTERIZAÇÃ O DE
VENDA CASADA - DANOS MORAIS NÃ O CONFIGURADOS.
- De uma aná lise detalhada nos autos, observa-se o autor/segundo apelante promoveu
verdadeira inovaçã o recursal ao insurgir-se contra a validade do negó cio jurídico, o que é
vedado pelo ordenamento jurídico, mostrando-se imperioso o conhecimento parcial do
recurso aviado.
- Ausente prova robusta da suposta falha na prestaçã o de serviços pela ré, deve ser mantida
a rescisã o do contrato de consó rcio, por culpa do consorciado desistente.
- O contrato, ainda que seja de adesão, é um acordo de vontades, regido pelos
princípios da boa-fé, da função social e do "pacta sunt servanda". Assim, ausente
qualquer vício, obriga as partes contratantes a seguir seus ditames.
[...] (TJMG - Apelaçã o Cível 1.0702.15.069652-5/001, Relator (a): Des.(a) Sérgio André da
Fonseca Xavier , 18ª CÂ MARA CÍVEL, julgamento em 28/05/2019, publicaçã o da sumula
em 31/05/2019) (Destaques acrescidos)
Assim sendo, a Requerida tinha plena e total consciência de suas obrigaçõ es e do valor que
estava sendo cobrado à Requerente que se encontra destacado no contrato, onde consta o
valor da diá ria e dos seguros contratados e, alterar as condiçõ es preestabelecidas e anuídas
pelas partes, é ilegal e abusivo, como pretende in casu.
Dito isto, vale ainda lembrar o art. 5º, inciso II, da Constituiçã o Federal, “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senã o em virtude de lei”, é um comando
geral e abstrato, do qual concluímos que somente a lei poderá criar direitos, deveres e
vedaçõ es, ficando os indivíduos vinculados aos comandos legais, disciplinadores de suas
atividades.
Em outras palavras, podemos dizer que o princípio da legalidade é uma verdadeira garantia
constitucional e, através deste princípio, procura-se proteger os indivíduos contra os
arbítrios cometidos pelo Estado e até mesmo contra os arbítrios cometidos por outros
particulares. Assim, os indivíduos têm ampla liberdade para fazerem o que quiserem desde
que nã o seja um ato, um comportamento ou uma atividade proibida por lei.
Ao realizar o serviço para qual se prestou, a Requerida assumiu os riscos como contratada.
Esta responsabilidade se traduz simplesmente no fato concreto de dever a mesma prestar
um serviço à altura da dignidade do ser humano, o que não aconteceu no presente
caso, já que uma grande sequela emocional foi deixada, resultada do serviço
defeituoso oferecido por parte da Requerida. Esses fatos por si só evidenciam o defeito
na prestaçã o do serviço de maneira inquestioná vel.
Ato contínuo, além de ser um verdadeiro abuso por parte da Requerida em realizar tal
cobrança, a Requerente sofre pelo descaso da mesma que se quer respeitou seu momento
de dor apó s sofrer o grave acidente e passou a realizar cobranças insistentemente, via
mensagens de texto, e-mails e ligaçõ es, de forma indevida.
Ademais, as cobranças sã o sempre acompanhadas de ameaças de negativação do nome
da requerente no SERASA, o que até o momento nã o ocorreu, permanecendo somente no
campo da ameaça, até porque a Requerida sabe que a dívida inexiste, pois jamais teve
contrataçã o de tais custos por parte da Requerente (COMPROVANTE ANEXO).
Fato é que a requerida não deveria se quer exigir os valores a título de custos
operacionais e taxa de 12% e, além da conduta indevida, ainda expõe a Requerente à
situação vexatória diária, quando, de forma abusiva, realiza cobranças demasiadas,
inoportunas ligações, as quais ocorrem inclusive aos sábados e domingos, até mesmo
à noite, a requerente continua sendo importunada várias vezes ao dia, inclusive
durante o seu expediente de trabalho, causando-lhe enorme constrangimento e
dissabores.
Entende-se, portanto, que ocorreu o cumprimento das obrigaçõ es contratadas nos moldes
exigidos pela Requerida e impor qualquer valor além do que foi contratado pela
Requerente é evidente ausência de boa-fé e no cumprimento do que resta definido por este
próprio Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, há de ser
responsabilizadas pelos danos causados aos Requerentes, senã o vejamos:
EMENTA: APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
REPETIÇÃ O DE INDÉ BITO. CANCELAMENTO DE RESERVA DE VIAGEM. CANCELAMENTO
DOIS DIAS ANTES DA VIAGEM. QUEBRA DE EXPECTATIVA. RELAÇÃ O DE CONSUMO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SOLIDÁ RIA. PRINCIPIO DA BOA-FÉ . PRINCIPIO DA
TRANSPARÊ NCIA/INFORMAÇÃ O. ATO ILÍCITO. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃ O.
FIXAÇÃ O DO QUANTUM INDENIZATÓ RIO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
CIRCUNSTANCIAS DO CASO EM CONCRETO. Toda contratação deve observar a boa-fé,
tanto nas tratativas preliminares, quanto na celebração e em seu cumprimento.
Configura-se o dano moral pela simples e objetiva violação a direito da
personalidade. A fixação do quantum a ser solvido a tal título deve ser feita com
lastro nas circunstancias do caso em concreto e em observância aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. (TJMG - Apelaçã o Cível 1.0701.14.013178-3/001,
Relator (a): Des.(a) Amauri Pinto Ferreira , 17ª CÂ MARA CÍVEL, julgamento em
04/07/2019, publicaçã o da sumula em 16/07/2019) (Destaques acrescidos)
Depreende-se que a Requerente foi vítima da negligência da Requerida pela prática
de atos ilegais perpetrados, experimentou o desrespeito, aflição e transtornos
enquanto consumidora, fatos que por si só traduzem na clara obrigação da
Requerida de indenizar, a título de dano moral em razão da cobrança indevida que
deve ser declarada a inexigibilidade dos débitos e, por conseguinte determinada a
imediata paralização das cobranças abusivas.
IV. 2 – DO DEVER DE INDENIZAR

Do ponto de vista da lei, vale salientar que, o Có digo de Defesa do Consumidor nã o traz
oposiçã o alguma a realizaçã o de cobrança das dívidas pelas empresas credoras. O que se
pode punir e é isso que se busca na presente lide, é a maneira abusiva com que as
cobranças sã o realizadas. Em especial quando dívida não há.
O CDC busca evitar os excessos cometidos em tal ato. Em conformidade com o artigo 42,
“Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto à ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça”.

É nesse momento, das cobranças reiteradas e invasivas por parte da Requerida, que
surgem os excessos e abusos, uma vez que a tá tica utilizada requerida, através de sua
contratadas, aborda os clientes em seus lares, trabalhos e até mesmo em momentos de
lazer, nos finais de semana.
Neste caso, a requerida inclusive expõ e a requerente a situaçõ es vexató rias, ligando
incessantemente em momentos que estava com familiares e amigos, bem como em
momentos de descanso. Por isso, vem ajuizar a presente açã o, buscando indenizaçã o pelos
danos morais que lhe formam causados.
Insta salientar que o credor tem sim todo o direito de cobrar sua dívida, quando lhe é
devida. Porém, que se faça dentro dos limites da lei, é claro.
Esses problemas causados pela negligência da ré, decorrente da falta de assistência
adequada no momento da contrataçã o, em que DEVERIA ter esclarecido à Requerente os
valores a serem pagos, inclusive, deixado para exigir tais débitos no momento em que a
Requerente realizou o pagamento da locaçã o.
Além disso Excelência, o fato da Requerida ter exigido por diversas vezes a
devolução do veículo após dois meses da devolução, inclusive ameaçou a Requerente
de responsabilizá-la pelo crime de Apropriação Indébita (artigo 168 do Código
Penal), comprovados pelos telegramas enviados pela Requerida à Requerente ora
juntados aos autos, demonstra os abalos e sofrimentos causados pela má
administração das cobranças e exigências da Requerida.
Por sua vez, a responsabilidade civil visa reprimir o dano causado pelo agente em face do
indivíduo lesado material ou moralmente. Vê-se que a responsabilidade civil apresenta
duas espécies distintas, sendo a responsabilidade subjetiva e a responsabilidade objetiva.
A responsabilidade civil subjetiva emana do ato ilícito, além de trazer a necessidade de
caracterizar como requisitos fundamentais a culpa, o dano e o nexo causal entre este e
aquela. No caso em tela, é evidente a existência da responsabilidade objetiva, como sendo
aquela em que o dano deverá ser reparado independente de culpa, conforme os ditames do
pará grafo ú nico do artigo 927 do Có digo Civil:
Artigo 927. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
O Có digo de Defesa do Consumidor dispõ e ainda, por seu artigo 14, que a responsabilidade
do fornecedor de serviços é objetiva, prescindindo da demonstraçã o de culpa:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela
reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestaçã o dos
serviços, bem como por informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiçã o e
riscos.
Diante do exposto, fica evidenciado o ato ilícito, a lesividade e a necessidade de
reparar o dano, que se dá independentemente da existência de culpa por parte das
Requeridas. Assim, a falta de justificativa pela Requerida para as cobranças
indevidas e abusivas, deve ser identificada como dano causado a outrem, sem contar
a forma de realizar suas cobranças, na forma preconizada no artigo 927, do Código
Civil, a jurisprudência pátria há muito vem reconhecendo de forma pacifica o dano
moral em circunstância análoga a relatada nos autos.
Isto posto toma-se imperativa a apuraçã o dos danos morais em favor da Requerente,
devidamente arbitrados por esse Juízo e mensurados.
Inexistindo critérios objetivos traçados em lei para chegar-se diretamente ao valor da
indenizaçã o, e porque é mesmo da essência do dano moral nã o possuir medida material ou
física correspondente, o nosso ordenamento pá trio adotou o arbitramento como melhor
forma de liquidaçã o do valor indenizató rio.
A regra está contida no artigo 944 do Có digo Civil: "A indenização mede-se pela extensão do
dano." A moderna noçã o de indenizaçã o por danos morais, quanto aos seus objetivos
imediatos e reflexos, respectivamente, funda-se no binô mio 'Valor de desestímulo e valor
compensató rio".
O valor de desestímulo deve se atrelar sobremaneira a intimidar o reclamado a evitar a
prá tica de novos atos neste mesmo sentido, ou ainda, a prestar os esclarecimentos e
atendimentos primordiais aos seus clientes caso ocorra fatos aná logos.
Por seu turno, o valor compensató rio deve pautar-se pelo fato de compensar os danos
sofridos no â mago íntimo por parte do reclamante.
Isto posto, para evitar maiores erros por parte da Requerida, inclusive na sua má intençã o e
evitar novamente que cometa abusos, imperioso se faz em fixar o montante referente à
indenizaçã o por danos morais no valor equivalente a R$ X (X reais), do qual deverá ser
corrigidos monetariamente pelo INPC, mais juros morató rios de um por cento desde a data
do evento danoso ( CC, art. 398), somente assim irá respeitar os ditames consumerista.
A jurisprudência deste Egrégio Tribunal de Justiça reconhece a existência de dano moral
nesses casos:
EMENTA: APELAÇÃ O CÍVEL - AÇÃ O DE PROCEDIMENTO COMUM - INEXISTÊ NCIA DE
DÉ BITO - INDENIZAÇÃ O POR DANO MORAL - SERVIÇOS NÃ O PRESTADOS DE TELEVISÃ O
POR ASSINATURA - COBRANÇAS INDEVIDAS E MASSIVAS - AMEAÇAS REITERADAS DE
INCLUSÃ O DO NOME DO CONSUMIDOR EM CADASTROS DE RESTRIÇÃ O AO CRÉ DITO -
DÉ BITO QUITADO - REPARAÇÃ O DEVIDA - QUANTUM INDENIZATÓ RIO - REPETIÇÃ O DE
INDÉ BITO. 1- A cobrança excessiva e vexatória de dívida inexistente configura ato
ilícito gerador de dano moral, mormente quando somada a ameaças reiteradas de
inclusão do nome do consumidor nos cadastros de restrição ao crédito, acarretando
inequívoco abalo psicológico, quebra da paz de espírito e interferência negativa na
vida da vítima. 2- Para o arbitramento de reparaçã o pecuniá ria por dano moral o juiz deve
considerar circunstâ ncias fá ticas e repercussã o do ato ilícito, condiçõ es pessoais das partes,
razoabilidade e proporcionalidade. 3- Para a repetiçã o de indébito em dobro faz-se
necessá rio prova do pagamento indevido e que a cobrança decorra de comprovada má -fé.
(TJMG - Apelaçã o Cível 1.0000.19.016927-6/001, Relator (a): Des.(a) José Flá vio de
Almeida , 12ª CÂ MARA CÍVEL, julgamento em 07/08/2019, publicaçã o da sumula em
12/08/2019) (Destaques acrescidos)
EMENTA: APELAÇÃ O CÍVEL - AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS -COBRANÇA
VEXATÓ RIA - LIGAÇÕ ES TELEFÔ NICAS INSISTENTES E DESRESPEITOSAS - DÍVIDA
INEXISTENTE - EXCESSO - CONSTRANGIMENTO -DANO MORAL CONFIGURADO - FIXAÇÃ O
DO VALOR - RAZOABILIDADE.
- A injustificada e reiterada atitude da requerida em insistir na cobrança indevida de
dívida, acarreta danos morais que ultrapassaram a esfera de mero dissabor do
cotidiano.
- Mostra-se desnecessária a produção de prova dos danos morais, uma vez que foi
comprovado o nexo causal entre o dano e o ato ilícito, representando modalidade de
dano 'in re ipsa', que decorre do próprio fato.
- O 'quantum' indenizatório por dano moral não deve ser a causa de enriquecimento
ilícito nem ser tão diminuto em seu valor que perca o sentido de punição. (TJMG -
Apelaçã o Cível 1.0027.13.003659-6/001, Relator (a): Des.(a) Domingos Coelho , 12ª
CÂ MARA CÍVEL, julgamento em 06/07/2016, publicaçã o da sumula em 14/07/2016)
(Destaques acrescidos)
Vale lembrar que a Constituiçã o Federal de 1988, em seu art. 5º, consagra a tutela do
direito à indenizaçã o por dano material ou moral decorrente da violaçã o de direitos
fundamentais, tais como a honra e a imagem das pessoas: " Art. 5º inciso X - São invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; (...) ".
A previsã o normativa para a reparaçã o por danos, inclusive de ordem moral, está também
elencada no artigo 927 do Có digo Civil, como dito, estabelecendo a obrigaçã o em indenizar
a quem causar dano a outrem, mediante ato ilícito. Cumpre ressaltar que o ato ilícito está
disciplinado no artigo 186 do Có digo Civil, in verbis: “Art. 186 - Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito. ”
Ante o exposto, tem-se como caracterizados os requisitos necessá rios configuradores do
dano moral indenizá vel, quais sejam: o ato ilícito da ré que consiste na insistente cobrança
indevida, exigindo pagamento de custos nã o especificados apó s o adimplemento de todos
os valores previamente contratados, os contratempos advindos de tal situaçã o vexató ria
que consiste no dano efetivo; e por fim, o nexo de causalidade, posto que tais
constrangimentos decorreram diretamente das cobranças abusivas e indevidas por parte
da Requerida.
Requer-se, pois, seja a demandada condenada em R$ X (X reais), a título de danos morais.
V - DA CONCESSÃO DA LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
A requerente deseja ver cessada a tortura diá ria de ligaçõ es e envio de mensagens de texto
e e-mails das cobranças indevidas, bem como a retirada de seu nome do cadastro de
inadimplentes do banco de dados do SERASA, caso haja. Para a concessã o da liminar
pleiteada, os dois requisitos bá sico estã o presentes:
i) DO FUMUS BONI IURIS - Meritíssimo Juiz, como outrora explanado, inexiste justa causa
para as insistentes cobranças indevidas e ameaças de negativaçã o do nome da requerente
no Serasa, vez que, resta claro que a cobrança, se considerada exigência de pagamento
de franquia, é cobrança ilegal, pois é expressamente proibida a cobrança de franquia
quando ocorre perda total do veículo. Por outro lado, se considerada como suposta
“indenização por custos operacionais e a taxa de 12%”, a cobrança é indevida, pois
não há cláusula contratual em que a Requerente concorde expressamente com tal
exigência e mesmo que Vossa Excelência concorde ser uma cláusula contratual
apenas a menção no corpo do contrato, é considerada abusiva, pois a Requerida
recebeu a indenização integral do veículo e valores de todas as despesas e não se
justifica a cobrança de valor a título de custos operacionais SEM ESPECIFICÁ-LOS.
ii) DO PERICULUM IN MORA - O periculum in mora consiste nos prejuízos advindos da
demora na resoluçã o da questã o, cabendo ressaltar, que estes prejuízos podem ser
irrepará veis, visto que a requerente nã o pode ter o seu nome negativado nos ó rgã os de
proteçã o ao crédito de forma indevida. A delonga aumenta ainda mais o constrangimento
que a requerente vem sofrendo em decorrência da injusta cobrança, repercutindo tal fato,
em sua vida social, profissional e familiar.
Ademais, caso haja a negativaçã o, sempre que fizer alguma tentativa de crédito, com a
restriçã o, fica impedida de contrair empréstimos ou realizar financiamentos, sem falar na
ameaça de corte de limite do cheque especial no banco em que é correntista e bloqueio dos
cartõ es de crédito.
A despeito de tudo isso, conforme se verifica nos documentos juntados, a requerente fez o
pagamento dos valores contratados e nã o há nenhum outro valor de despesas a serem
pagos, nã o podendo a Requerida criar uma cobrança de custos operacionais sem especificá -
los e cobrar um valor a título de “taxa de 12%” sem a Requerente ter contratado.
Há verossimilhança nos fatos alegados e a “boa-fé” da Requerente que buscou dirimir as
desavenças de forma administrativa, pois nã o contratou tais serviços com essa cobrança, o
que denota a sua INTENÇÃ O EM SANAR O PROBLEMA RAPIDAMENTE.
Esperando desse douto Magistrado a providência necessá ria para a concessã o de medida
liminar, a fim de determinar a imediata suspensã o da cobrança, bem como a nã o inclusã o
do seu nome no banco de dados do SPC/SERASA.
VI – DOS PEDIDOS
EX POSITIS, requer a autora que Vossa Excelência adote as cautelas legais de estilo, se digne
em:
1. Conceder-lhe os benefícios da justiça gratuita, assegurados pela Constituiçã o Federal,
artigo 5º, LXXIV e artigo 98 e seguintes do Có digo de Processo Civil de 2015;
2. O acolhimento do pedido de concessão de medida liminar, inaudita altera parte,
para determinar a imediata suspensão das insistentes cobranças indevidas, bem
como a não inclusão do seu nome no banco de dados do SPC/SERASA, sob pena de
multa diária fixada por Vosso Juízo para o caso de descumprimento.

3. Requer, desde já , a aplicaçã o da inversã o do ô nus da prova, para que seja juntado aos
autos as gravações das ligações telefônicas, bem como todo acervo referente aos
serviços prestados, visto ser a detentora de todo material probante.
4. Determinar a citaçã o da Requerida, na pessoa do seu representante legal no endereço
anteriormente indicado, a fim de que a mesma, querendo, apresente defesa, no prazo
assinalado em lei, sob pena de confissã o e revelia;
4. Julgar totalmente procedente o pedido formulado para:
I - DECLARAR A INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO à título de “custos operacionais” e “taxa
de 12%”, devendo a parte ré se abster de efetuar novas cobranças ou negativar o nome
da parte autora por conta do débito mencionado, sob pena de multa desde já arbitrada no
dobro do valor que vier a ser cobrado ou inscrito.
II - Condenar a promovida ao pagamento de indenização por danos morais no valor de
R$ X (X reais), observando-se o cará ter pedagó gico-punitivo da indenizaçã o;
5. Condenar a Requerida ao pagamento das custas e dos honorá rios advocatícios de
sucumbência, em eventual improvimento de recurso por ele interposto, estes ú ltimos, no
valor de 20% do valor da causa, em conformidade com o art. 85 do CPC (JUIZADO
ESPECIAL);
Protesta pela produçã o de todos os meios de prova admitidos em direito, notadamente a
documental, testemunhal e pericial;
Dá -se à causa o valor de R$ X (X reais).
Nestes termos;
Pede deferimento.
Local, data.
Advogado (a)
OAB/UF

Você também pode gostar