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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CÍVEL DE PELOTAS

Processo nº 50103105420208210022

UVEL UNISUL VEÍCULOS LTDA.,

pessoa jurídica de direito privado, estabelecida na cidade de Pelotas, na Av. Fernando


Osório, 1373, inscrita no CNPJ sob o nº 11.149.423/0001-94, nos autos da ação
indenizatória que lhe move BRUNA BRAGA DA SILVEIRA por seus procuradores
infrafirmados, vem à presença de V. Exa. a fim de apresentar a presente

CONTESTAÇÃO

pelas seguintes razões de fato e de direito:

Todas as alegações expendidas no corpo da peça exordial não comprovam o


suposto direito pleiteado pelo Suplicante, sendo que as assertivas contidas na inicial
não correspondem à verdade dos fatos, como se comprovará ao longo da presente
peça contestatória.

1. SUMA DA DEMANDA
A Suplicante interpôs ação indenizatória contra a ora Suplicada e contra a corré
General Motors, objetivando que as mesmas sejam condenadas a ressarcir-lhe por
prejuízos materiais e danos extrapatrimoniais, em virtude de situação derivada da
aquisição de um veículo Chevrolet/GM Onix 1.O T, de propriedade da autora, adquirido
pelo valor de R$ 60.890,00 (sessenta mil, oitocentos e noventa reais), pagos através
da forma melhor descrita na exordial.

Diante do relato da peça portal, vislumbra-se que o pedido do autor deriva de


situação principiada em meados de dezembro/2019, logo após a aquisição do veículo
perante a concessionária Uvel Ltda. Segundo sua narrativa, desde a aquisição do
veículo, foram encontrados alguns barulhos constantes advindos da coluna do cinto de
segurança do motorista e do passageiro, bem como ruídos no lado direto do painel e
acima do quebra-sol do passageiro. (sic). Discorre que houve uma sucessão de idas e
vindas até a concessionária, bem como promessa de troca de peças, culminando com
a não resolução satisfatória de tais problemas. Segue em seu relato, passando a
discorrer sobre outros defeitos/imperfeições do veículo, quais sejam: - acionamento
involuntário do limpador de pára brisa, não funcionamento correto do fechamento
automático dos vidros, defeito no ar condicionado, rachadura do vidro da central
multimidia, bem como um barulho em excesso na suspensão do mesmo.

Em face de tal situação fática, o dito veículo teria sido removido algumas vezes
para as dependências da Uvel Ltda., desencadeando uma sucessão de fatos,
narrados de forma um tanto quanto fantasiosa na exordial.

Pede o desfazimento do negócio, com a devolução do veículo.

Discorre sobre o fato de que o veiculo dado como parte do pagamento não ter
sido transferido de propriedade, na época, e em função disso, ter recebido uma
comunicação eletrônica de terceiros, sugerindo que o mesmo seria ainda de sua
propriedade.

Ainda, de forma alongada em sua exposição inicial, faz um relato dramático,


sugerindo ter havido dano moral. Entende que o veículo teria apresentado defeitos de
fabricação e que, de acordo com a legislação consumeirista, estaria coberto por
garantia legal e contratual. Por entender que estaria sendo lesado pelo fato de que,
tanto a GM como a concessionária Uvel não terem tido sucesso no integral reparo no
veículo, optou por buscar o Poder Judiciário.

Informa igualmente que em face de tais hipotéticos eventos danosos, teria


surgido o direito a ser indenizada por danos extrapatrimoniais, caracterizando uma
situação constrangedora e digna de ressarcimento, sugerindo 20 salários mínimos.

Obviamente, pede a concessão de Assistência Judiciária Gratuita.


De forma sintética, são estes os limites da lide, que ao final deve ser julgada
improcedente.

2. PRELIMINARMENTE

2.1 - ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

Como prefacial, com base no art. 337, XI, NCPC, a corré Uvel sustenta a tese
de ilegitimidade passiva ad causam, pelas razões a seguir explanadas. Deixa de
cumprir o art. 339, NCPC, eis que a outra parte envolvida figura no pólo passivo.

Como será demonstrado ao longo da presente contestação, não houve


contribuição alguma da ré Uvel para a ocorrência do fato danoso descrito na exordial.

Peca a Autora ao relatar “os fatos”, numa demonstração inequívoca de gratuita


animosidade, imputando negligência à ora ré, na condição de concessionária
autorizada da marca General Motors. Por essa afirmativa, resta evidente o desejo da
Autora em envolver na demanda pessoa jurídica completamente desvinculada de
qualquer relação jurídica com a mesma, em nítida afronta aos termos da legislação
consumerista.

Frise-se que a "legitimatio ad causam" é requisito essencial para o


desenvolvimento regular do processo.

Mister reproduzir as lições do doutrinador HUMBERTO THEODORO JÚNIOR,


"in verbis":

"Em síntese: como as demais condições da ação, o conceito da


"legitimatio ad causam" só deve ser procurado com relação ao próprio
direito de ação, de sorte que 'a legitimidade não pode ser senão a
titularidade da ação.' E, para chegar-se a ela, de um ponto de vista
amplo e geral, não há um critério único, sendo necessário pesquisá-la
diante da situação concreta em que se achar a parte em face da lide e do
direito positivo. "(in "Curso de Direito Processual Civil", vol. I, p. 58).

O artigo 17 do Código de Processo Civil dispõe:

"Art. 17 - Para postular em juízo é necessário ter interesse e


legitimidade.

Para uma melhor compreensão da alegação de ilegitimidade, imperioso que


adentremos no exame perfunctório do mérito da questão. Como será dissecado ao
longo da defesa, o veículo foi imobilizado na concessionária ré, tão logo surgiram as
primeiras reclamações da cliente/autora.

Como demonstram as ordens de serviço em anexo, sempre a consumidora


autora foi atendida na concessionária Ré, e em TODAS as ordens de serviço, constam
que não houve cobrança financeira alguma, já que consta identificação “V2-garantia”.
Ainda que a matéria litigiosa seja melhor dissecada quando adentramos ao mérito, a
concessionária entende que desenvolveu todos os esforços ao seu alcance, para
minimizar os prejuízos sofrido pela Autora.

Feito isso, tanto a fabricante como a concessionária entendem que cumpriram


com as disposições previstas no Código de Defesa do Consumidor, sanando os
pequenos defeitos. Contrário a isso, o que se nota – inclusive com a análise dos
vídeos trazidos aos autos – é que a autora já estava decidida a buscar indenização de
vulto perante o Poder Judiciário, e intenta criar uma situação que lhe seja favorável,
inclusive com a absurda sugestão de ter sofrido abalo moral!

Portanto, Douto Julgador, não há que se falar em conduta atípica e abusiva por
parte da empresa Ré, como falaciosamente consta na inicial.

Assim, sendo patente a ilegitimidade passiva da Ré, espera o acolhimento da


presente preliminar, pelo que REQUER a conseqüente extinção do feito, sem
julgamento do mérito, com fulcro no artigo 485, VI do Código de Processo Civil, com a
condenação do Autor nos ônus da sucumbência.

2.2– DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

Inicialmente, cabe salientar a total falta de comprovação da necessidade de


concessão da Assistência Judiciária Gratuita em favor da Autora. A autora é advogada
inscrita na OAB/RS sob número 106851, possui inúmeros processos cíveis em
tramitação, situação tal totalmente incongruente com os vencimentos referidos em
sua declaração de renda, e na inverídica declaração de pobreza.

Tal situação não deve, e não pode, passar incólume perante V.Exa.

O TJRS tem entendido assim, em casos similares:

 IMPUGNAÇÃO AO BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. CASO


CONCRETO. MATÉRIA DE FATO. A Constituição Federal recepcionou o instituto da
assistência judiciária gratuita, a qual poderá ser indeferida ou revogada pelo juízo quando
os elementos constantes dos autos demonstrarem capacidade econômica suficiente da
parte. A declaração de pobreza implica presunção relativa, que pode ser afastada se o
magistrado entender que há fundadas razões para crer que o requerente não se encontra
no estado de miserabilidade declarado. Exame do caso concreto que não evidencia a
alegada necessidade do benefício. Apelo provido. (Apelação Cível Nº 70074608472,
Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vicente Barrôco de
Vasconcellos, Julgado em 06/09/2017)

APELAÇÃO CÍVEL. SUCESSÕES. IMPUGNAÇÃO AO PEDIDO DE ASSISTÊNCIA


JUDICIÁRIA GRATUITA. DESCUMPRIMENTO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA E
DO DEVER DE COOPERAÇÃO PELA APELANTE. DESCONHECIMENTO EXATO DOS
VALORES AUFERIDOS PELA IMPUGNADA. SENTENÇA QUE REVOGOU O BENEFÍCIO
DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA. MANTIDA. Mérito. A concessão do benefício da
assistência judiciária gratuita, em caso de indeferimento ou impugnação, depende de
comprovação acerca da alegada necessidade. No caso concreto, a apelante não agiu de
acordo com a boa fé objetiva e com o dever de cooperação, uma vez que até o presente
momento não se sabe qual o valor que realmente aufere. Há nos autos apenas o valor
recebido a título de aluguel. Contudo, não veio seu comprovante de rendimentos. Diante da
ausência de comprovação da necessidade de litigar sob o manto do benefício em questão a
manutenção da revogação da AJG é a medida impositiva. NEGARAM PROVIMENTO AO
APELO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70071510770, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em 31/08/2017)

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. ASSISTÊNCIA


JUDICIÁRIA GRATUITA. INDEFERIMENTO. REMUNERAÇÃO SUPERIOR A CINCO
SALÁRIOS MÍNIMOS. I - Evidenciada a falta de impugnação específica dos fundamentos
da decisão agravada, e a reiteração das razões recursais nesta sede, em descompasso
com a disciplina do art. 1021, § 1°, do CPC de 2015. II- O benefício da gratuidade da justiça
- AJG - destina-se às pessoas sem capacidade financeira de arcar com as despesas
processuais. No caso, a percepção da remuneração superior a cinco salários mínimos,
consoante a posição das Câmaras separadas deste 2º Grupo Cível. Jurisprudência do e.
STJ e Tribunal. III - Diante da inexistência de elementos capazes de alterar o julgamento,
nada a reparar na decisão monocrática. Agravo interno desprovido. (Agravo Nº
70073912164, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo
Delgado, Julgado em 31/08/2017)

Assim, vai impugnado o deferimento do benefício concedido a autora, o que é


feito nos termos do art. 100, CPC.

3. DO MÉRITO

Adentrando no exame meritório, entendemos que o pedido autoral não merece


guarida.

3.1 - Na extensa inicial, a situação litigiosa adquire contornos desnecessários de


dramaticidade, sendo uma narrativa extensa e repetitiva.
Em efetivo, ocorreram alguns problemas após a entrega do veículo à autora, e
dentre os mais relevantes, foi relatado um ‘ruído excessivo’ nas colunas laterais do
veiculo, no ponto específico onde fixado os cintos de segurança. Foram todos
trocados, vide ordem de serviço anexa, sem custo algum para autora. No mesmo giro,
sobreveio reclamação sobre ‘barulho no volante ao trafegar em terreno de piso
irregular’, e os prepostos da concessionária diagnosticaram certa ‘folga’ na coluna de
direção, motivo pelo qual houve a troca, novamente, sem custo algum para a cliente.
Ato contínuo, no item do ‘acionamento involuntário’ do limpador de para-brisa, houve
uma primeira tentativa de solução do problema, ao final inexitosa. Posteriormente,
houve a troca integral da chave acionadora do mecanismo, o que em efetivo resolveu
a questão.

No seguimento, a autora insistia em afirmar que ainda assim, alguns ‘barulhos’


não eram condizentes com um veiculo novo. Os prepostos da empresa, por sua vez,
de tudo fizeram para minimizar os impactos negativos no veiculo da autora, sempre
relembrando que o péssimo calçamento nas ruas e avenidas da cidade de Pelotas é
questão incontroversa, ou seja, todo e qualquer veiculo que por elas transitem, com o
passar do tempo, irá desenvolver ‘barulhos indesejados’. Ao final, derradeira
reclamação da autora sobre o não fechamento automático dos vidros elétricos, lhe foi
repassado que o veiculo telado possui um sistema ‘anti-esmagamento’, que faz parte
do funcionamento do sistema de subida inteligente e fechamento automático do vidro.
Tal sistema monitora o fechar do vidro para ter certeza que nada será ‘esmagado’ no
fechamento, motivo pelo qual uma mera poeira ou sujeira afeta tal ponto, já que o
sistema entende que o vidro está com a ação de algum obstáculo. Tal ponto foi
detalhadamente repassado a autora, a qual, por motivos desconhecidos, insiste em
afirmar que isso seria um ‘defeito’ a mais em seu veiculo.

A partir de tal instante, entendemos que o veículo foi reparado nas


dependências da corré, mas que, como visto, não satisfez a Autora. De parte da corré
Uvel Veículos, todos os procedimentos aplicáveis ao caso foram atendidos, na
qualidade de fornecedora do veículo.

A documentação anexa refere que os pedidos acessórios da Autora – cinto de


segurança, limpador de pára brisa, dentre outros – foram todos solucionados, de
acordo com previsão do CDC.

Portanto, Douto Julgador, não há que se falar em conduta atípica e abusiva por
parte da empresa concessionária. Todos os pleitos da Autora foram atendidos,
observados os prazos fixados pelo CDC, e a garantia legal das peças comercializadas
pela concessionária foi igualmente atendida. Ademais, as seguintes razões meritórias
servirão para elucidar ainda mais a questão, isentando a empresa ré de qualquer
responsabilidade pelo evento danoso.

A Suplicante baseia sua pretensão indenizatória, em virtude do fato de que a


empresa ora Suplicada, não se sabe a que título, seria eventualmente responsável
pelos hipóteticos danos morais e por danos materiais não comprovados na extensa
narrativa da peça vestibular.
Assim, vislumbra-se que a Demandada, sempre que requisitada pelo
Demandante, supriu suas necessidades e procurou resolver imediatamente os
problemas apresentados, cumprindo integralmente com as disposições do Código de
Defesa do Consumidor, o qual estipula claramente que o fornecedor dispõe de trinta
dias para efetuar os reparos nos produtos. Nas ocasiões em que o veículo da
Demandante deu entrada na concessionária da Demandada, foram os pleitos sempre
atendidos em prazo razoável.

A jurisprudência conforta nossa tese, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO REDIBITÓRIA COM


PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. DEFEITOS EM VEÍCULO.
PERÍCIA. FALHAS NÃO CONSTATADAS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. O
fabricante e o fornecedor do produto/serviço respondem solidariamente pelos defeitos ou
vícios do produto, salvo quando comprovada a inexistência do defeito ou a culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro - exegese dos artigos 12 e 18 do Código de Defesa do Consumidor.
Caso em que a prova pericial não constatou os vícios narrados pelo adquirente do veículo.
Sentença de improcedência mantida. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70072112758, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege
Puricelli Pires, Julgado em 25/05/2017)

“RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS. CONSERTO DE VEÍCULO SINISTRADO.


RELAÇÃO DE CONSUMO. NOVOS REPAROS A CARGO DA SEGURADORA REALIZADOS
PELA OFICINA CONCESSIONÁRIA AUTORIZADA DA FIAT. SENTENÇA DE
IMPROCEDENCIA MANTIDA. Recurso improvido. (Recurso Cível Nº 71002327393, Primeira
Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Luís Francisco Franco, Julgado em
05/11/2009)”

“APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VEÍCULO. ACIDENTE. EVENTO COBERTO.


AUTORIZADO O CONSERTO EM OFICINA INDICADA PELO SEGURADO.
COMPLEMENTAÇÃO DE INDENIZAÇÃO. LUCROS CESSANTES. DANO MORAL.
DESACOLHIMENTO. Se a seguradora autorizou o conserto do automóvel sinistrado em
concessionária indicada pelo segurado, inclusive lacrando as peças que deveriam ter sido
trocadas, pagando os valores referentes aos serviços relativos a peças novas, e o mesmo vem
a apresentar problemas cerca de três meses após o acidente, somente será cabível a
complementação da indenização se demonstrado o nexo causal entre as avarias e o acidente
havido. Lucros cessantes. Desacolhimento do pedido de indenização por lucros cessantes, por
inexistir previsão contratual do ressarcimento respectivo e ausência de prova a lhe dar
embasamento, ônus processual do autor (art. 333, I, CPC). Danos morais. Improcedência da
pretensão indenizatória a este título, porque o dissabor pelo qual passou o autor pela negativa
da seguradora, por si só, não enseja indenização passível de reparação civil. APELO
DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70023938756, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 15/10/2009)”

“APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VEÍCULO. ACIDENTE. EVENTO COBERTO.


AUTORIZADO O CONSERTO. Se, tendo a seguradora autorizado o conserto do automóvel
sinistrado em concessionária autorizada, este vem a apresentar problemas de motor cerca de
um ano após o acidente, somente será cabível a complementação da indenização caso seja
demonstrado o nexo causal entre as avarias e o acidente havido. Ao contrário, não será devida
a cobertura requerida se as peças defeituosas decorrerem do próprio desgaste pelo uso do
veículo, hipótese que se verifica nos autos. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº
70019526300, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur Arnildo Ludwig,
Julgado em 18/09/2008)”

3.2 - No mesmo giro, frise-se que a legislação consumerista, especificamente no art.


18, § 1° do CDC disponibiliza ao consumidor as seguintes alternativas:

- reparo do produto;

- substituição do produto;

- restituição da quantia paga;

- abatimento proporcional do preço;

Pelo exposto, resta de meridiana clareza que não houve agir culposo por parte
da primeira Suplicada, nem tampouco de seus prepostos, que tivessem o condão de
resultar em eventual indenização em favor do Suplicante.

E, corroborando nossa tese, nos parece que ainda que eventualmente seja
admitida a inversão do ônus da prova, a comprovação dos fatos constitutivos de seu
direito permanece sendo da Suplicante. Acerca do tema ônus probatório, leciona
Maristela da Silva Alves (Prova Cível, C. A. Álvaro de Oliveira et alii, Forense, RJ,
1999, 1ª ed):

“As regras de distribuição do ônus da prova devem ser aplicadas no momento do


julgamento. O magistrado, diante de uma incerteza no resultado da prova da alegação das
partes, deve decidir contra quem esta incerteza prejudica. Resolverá em desfavor de quem
cumpria o ônus de provar o fato cuja prova é dúbia ou inexiste” – p. 84.

Do magistério de José Frederico Marques, colhe-se:

“Como, no processo, a vontade concreta da lei só se afirma em prol de uma das partes, se
demonstrado ficar que os fatos, a partir dos quais promanam os efeitos jurídicos que
pretende, são verdadeiros, claro está que, não comprovados tais fatos, advirá para o
interessado, em lugar da vitória, a sucumbência e o não-reconhecimento do direito
pleiteado.

A necessidade de provar para vencer, diz Wilhelm Kisch, tem o nome de ônus da prova.
Não se trata de um direito ou de uma obrigação, mas de um ônus, uma vez que a parte a
quem incumbe fazer a prova do fato suportará as conseqüências e prejuízos da sua falta e
omissão.

(...).

Como os fatos indicados pelo autor são os elementos constitutivos do pedido que deduziu
em juízo, cabe-lhe o ônus de provar esses fatos para que sua pretensão seja acolhida e
julgada procedente. Quanto ao réu, os fatos que lhe incumbe provar são os que forem
invocados com impeditivos, modificativos ou extintivos do pedido do autor.

Donde dispor o art. 333 que o ônus da prova incumbe: ‘I – o autor, quanto ao fato
constitutivo do seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor’.” (In Manual de Direito Processual Civil, Millennium Ed., SP,
2000, 2ª ed., vol. II, pp. 267-9 – grifos no original).

Ou seja, o encargo de comprovar os fatos constitutivos do direito, bem como a


manifestação de questões impeditivas, modificativas ou extintivas são matérias
pretéritas à inversão do ônus da prova e devem ser sobejamente comprovadas pela
parte que os alega, no caso a Autora.

Em relação aos danos materiais, não há que se falar em 'restituição do valor


pago e/ou troca de veículo”. Ora, Excelência, o veículo da Autora está em condição
plena de rodagem e funcionamento. Pelo visto, não houve satisfação integral da
cliente, mas não ao ponto de ser agraciada com a entrega de um veículo zero km,
nem tampouco receber vultosa quantia em dinheiro a título indenizatório. No mesmo
sentido, impugna-se totalmente os danos materiais, por indevidos e despidos de
comprovação.

Já em relação ao pleito indenizatório vinculado ao fato de ‘ter recebido um e-


mail de terceiros, dando a entender que o veiculo ainda estaria registrado em seu
nome’, nos parece que tal pleito está, também, fadado ao insucesso. Ora, não veio
aos autos comprovação de que ainda hoje, nos dias atuais, o veiculo esteja ele
registrado no prontuário do DETRAN em nome da autora e, que isso tenha causado-
lhe algum prejuízo. Ademais, como mostra os autos, foi fornecida procuração em favor
da empresa autora, e se houve alguma espécie de mau uso do instrumento de
mandato, a prova cabe sim a parte hipoteticamente lesada.

4. DO ALEGADO DANO MORAL E DO NEXO CAUSAL


4.1 - No que se atrela a reparabilidade do dano moral ao direito da personalidade
porventura lesado, individualiza-se desde logo uma enumeração exaustiva dos danos
morais possíveis, como também se tem como dificultosa qualquer tentativa de sua
classificação. Levando em conta os conflitos dentro da sociedade em que vivemos,
estaremos a beira de corromper os limites do que se diz respeito a boa conduta.

4.2 - O que vimos nos dias de hoje é a chamada “indústria do dano moral”, forjando
e aumentando tal situação para levar vantagem monetária de tal acontecimento, não
tendo visivelmente o réu má intenção. Em artigo da cronista Martha Medeiros,
publicado em jornal da capital, sob o título “A LOTERIA DOS ESPERTOS”, onde em
subtítulo que resume o texto todo, afirma que “para não ter a dignidade colocada em
dúvida, é preciso parar com esses truques de dormir ofendido para acordar milionário”
Ainda que na remota hipótese de Vossa Excelência desconsiderar, por completo, os
argumentos antes esgrimidos, especificamente, no que tange aos alegados danos
extrapatrimoniais/morais postulados pelo Demandante em que pese a tentativa, não
logrou êxito em demonstrá-los, até porque inexistentes.
Em verdade, nenhum prejuízo que pudesse afetar a estabilidade emocional da
Demandante verificou-se nem muito menos foi provado, não estando presente
requisito indispensável para caracterização da responsabilidade civil, seja na disciplina
do Código Civil ou Código de Defesa do Consumidor, ou seja, o dano. Ademais, não
há porque responsabilizar-se a primeira demandada por pequenos infortúnios que
ocasionaram na remoção temporária do veículo à concessionária, onde sempre houve
o pronto atendimento dos pleitos da Autora.
No caso em análise, a Demandante postula indenização por supostos danos
extrapatrimoniais/morais, em razão de que afirma não ter sido reparado seu automóvel
na concessionária. Ressalte-se, não se está aqui a desconsiderar eventuais
transtornos suportado pelo Demandante/proprietário do veículo, ainda que a
ocorrência de alguns fatos narrados na exordial possam lhe ter trazido algum dissabor.
Todavia, tal dissabor e desconforto jamais poderá ser passível de ser indenizado a
título de danos morais, sob pena de flagrante enriquecimento sem justa causa, para
não dizer ilícito.
Portanto, resta por demais claro que os fatos narrados representam pequenos
transtornos, sem dúvida, mas não suficientemente hábeis a caracterizar dano moral
passível de indenização, já que, para tanto, deve restar configurado profundo gravame
na alma e psiquê humana que fuja da normalidade e interfira intensamente no
comportamento e no bem estar do indivíduo, o que, efetivamente, não se observa no
caso em tela.
Neste sentido, vem decidindo o Colendo Superior Tribunal de Justiça. Vejamos:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL INEXISTENTE. VERBA


INDENIZATÓRIA AFASTADA.

O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou
angústias no espírito de quem ela se dirige.

Recurso especial conhecido e provido.” (Recurso Especial 714.611/PB, 4ª turma do STJ, Relator
Ministro Cesar Asfor Rocha, publicado em 02/10/2006)

Vale transcrever trecho do voto do Ministro Cesar Asfor Rocha no processo


supra citado, in verbis:

“Ressalto que o mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida causando fundadas aflições ou angústias no
espírito de quem ela se dirige, o que não se verifica na hipótese em comento.

Lembro, aqui, a lição de Sérgio Cavalieri Filho, em seu "Programa de Responsabilidade Civil" (Malheiros
Editores Ltda., 1996, p. 76), citando Antunes Varela pela qual "a gravidade do dano há de medir-se por um
padrão objetivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada caso), e não
à luz de fatores subjetivos (de uma sensibilidade particularmente embotada ou especialmente
requintada)" e "o dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado" .

Por isso é que, "nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento
ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente ao comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral" .

Não se vislumbra como os fatos articulados na inicial poderiam ocasionar à


Demandante sensações mais duradouras e perniciosas ao psiquismo humano, além
do aborrecimento, do transtorno ou do contratempo, característicos da vida moderna.

A jurisprudência gaúcha assim nos preleciona: (grifo nosso)

APELAÇÃO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO REDIBITÓRIA C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. VEÍCULO ZERO QUILÔMETRO.
DEFEITOS APRESENTADOS NOS PRIMEIROS MESES DE USO. CONSERTOS
REALIZADOS PELA CONCESSIONÁRIA. AUSÊNCIA DE RESISTÊNCIA. DANOS
MORAIS INOCORRENTES. SENTENÇA MANTIDA. 1. Embora, de fato, não se espere que
o um veículo adquirido "zero quilômetro" apresente defeitos nos primeiros meses de uso, tal
situação, por vezes, ocorre, o que não enseja automaticamente o dever de indenizar. Não
há nada nos autos que indique que a autora tenha sido destratada ou que não tenha sido
atendido com a devida atenção. Ocorre que o fato de os defeitos não terem sido sanados
nas primeiras oportunidades em que o veículo foi encaminhado para conserto, não é motivo
para caracterizar abalo moral. Tal situação ressalta-se, não é incomum. Não são raras às
vezes em que os defeitos não são constatados de pronto, necessitando de algumas visitas
para a verificação da origem. 2. O mero descumprimento contratual, desprovido de
características que lhe confiram excepcionalidade, não tem o condão de ensejar reparação
por dano moral. Inocorrente qualquer afronta a direito da personalidade, não resta
configurado o abalo moral. Sentença mantida. DESPROVERAM O RECURSO. (Apelação
Cível Nº 70069121382, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Eduardo Kraemer, Julgado em 13/07/2017)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REDIBITÓRIA C/C PERDAS E DANOS. AQUISIÇÃO DE


VEÍCULO ZERO KM. DEFEITO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. Não se tratando a
hipótese dos autos de dano moral in re ipsa, é do demandante o ônus de comprovar o
abalo psicológico decorrente da falha na prestação do serviço, mas que ficou na orfandade.
Aborrecimentos pelos defeitos apresentados no automóvel adquirido que não acarretam
prejuízo moral ao demandante. Dizem com ilícito contratual, sem qualquer ofensa aos
direitos da personalidade do consumidor. Afastada a condenação indenizatória. Sentença
reformada para julgar improcedente a ação. Sucumbência redimensionada. DERAM
PROVIMENTO AOS APELOS. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70066005521, Décima
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Giuliano Viero Giuliato, Julgado
em 23/02/2017)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. VÍCIO DE QUALIDADE. MOTOR QUE


APRESENTOU PROBLEMA. TROCA PELA CONCESSIONÁRIA. TRANSTORNO QUE
NÃO CONFIGURA DANO MORAL. - Compra de veículo novo, que logo nos primeiros
meses de uso, apresentou problemas no motor, o qual, embora com  uma demora
aproximada de 30 dias, teve solução dada pela concessionária vendedora. Oferta de um
veículo locado ao consumidor durante parte do período do conserto.
- Dano moral inocorrente. Situação que não ultrapassa o mero dissabor. Não ocorrência de
alterações psíquicas ou lesão à parte social ou afetiva do patrimônio moral do autor. -
Segundo a doutrina, "não será toda e qualquer situação de sofrimento, tristeza, transtorno
ou aborrecimento que ensejará a reparação, mas apenas aquelas situações graves o
suficiente para afetar a dignidade humana em seus diversos substratos materiais, já
identificados, quais sejam, a igualdade, a integridade psicofísica, a liberdade e a
solidariedade familiar ou social, no plano extrapatrimonial em sentido estrito". NEGARAM
PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70069759751, Décima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado
em 15/12/2016)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE RESCISÃO


CONTRATUAL. RESSARCIMENTO DE VALORES E INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. NÃO CABIMENTO. 1. No que tange ao ônus da prova, enquanto ao autora cabe
comprovar os fatos constitutivos do seu direito, ao réu cabe  fazer prova dos fatos
impeditivos, modificaticos ou extintivos do direito alegado pela parte autora, conforme
disposto no artigo 333, I e II, do CPC. Ainda que se trate de relação de consumo, onde
possível a inversão do ônus prova, tal circunstância não exime o autor de comprovar
minimamente os fatos constitutivos do seu direito. 2. Responsabilidade civil da vendedora.
Afastamento. Prova nos autos produzida que não aponta para a inadequada solução pela
concessionária dos defeitos apresentados no veículo. 3. Improcedência dos pedidos de
rescisão contratual e de restituição de valores. Da mesma forma, não demonstrada a
prática de ato ilícito a ensejar indenização por danos morais. PRELIMINARES
AFASTADAS, APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70071318745, Décima
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Heleno Tregnago Saraiva, Julgado
em 24/11/2016)

4.3 - Ocorre que, o dano moral não está existindo basicamente para resolver os
conflitos da sociedade, mas para benefício da própria parte visando seu benefício. Em
brilhante estudo sobre a matéria, o festejado Calmon de Passos assim nos ensina:
"Todo e qualquer dano insere em nosso existir um incômodo, algo que se soma à perda sofrida. Os
contratempos derivados do conserto do carro objeto de colisão, por exemplo, mesmo que sejam
pagas as despesas com a utilização de outro veículo, nosso quotidiano foi perturbado e algum
desconforto ocorreu que jamais teria ocorrido não fosse aquele ato causador do dano. O sofrimento e
o risco inerentes à cirurgia e ao tratamento a que tivemos de nos submeter etc. Assim sendo, é da
própria essência do dano esse acréscimo de desconforto e quebra de normalidade em nossa vida.
Será este o dano moral indenizável? Se a resposta for positiva, o correto seria acrescermos ao
gênero perdas e danos, além dos danos emergentes e dos lucros cessantes essa nova espécie,
representada pelo incômodo ou dor que todo dano determina. Seriam eles não danos morais, sim um
consectário inerente a todo dano material, devendo ser estimados em função desses mesmos danos
materiais. Se não é disso que cuidamos, o que será o dano moral puro, ou seja, possível de existir
inexistindo danos materiais ou que nenhuma relação mantém com os mesmos? Só nos resta afirmar
que nos situamos, aqui, no espaço do que se qualifica como valor, algo especificamente humano e
insuscetível de objetivação, salvo se considerado em sua legitimação intersubjetiva. Sem esse
consectário, torna-se aleatório, anárquico, inapreensível e inobjetivável. Não são os meus valores os
tuteláveis juridicamente, sim os socialmente institucionalizados, porque é da essência mesma do
direito seu caráter de regulação social da vida humana.
Essa minha percepção sempre me levou a não compreender o que seja a famosa reparação pela dor
experimentada por alguém, associada ao ato do sujeito a quem se atribui tê-la provocado e que, não
fora isso, jamais teria sido experimentada. Nada mais suscetível de subjetivizar-se que a dor, nem
nada mais fácil de ser objeto de mistificação. Assim como já existiram carpideiras que choravam a
dor dos que eram incapazes de chora-la, porque não a experimentavam, também nos tornamos
extremamente hábeis em nos fazermos carpideiras de nós mesmos, chorando, para o espetáculo
diante dos outros, a dor que em verdade não experimentamos. A possibilidade, inclusive, de
retiramos proveitos financeiros dessa nossa dor oculta, fez-nos atores excepcionais e meliantes
extremamente hábeis, quer como vitimas, quer como advogados ou magistrados. Para se ressarcir
esses danos, deveríamos ter ao menos a decência ou a cautela de exigir a prova da efetiva dor do
beneficiário, desocultando-a. Hipocritamente descartamos essa exigência, precisamente porque,
quando real a dor, repugna ao que sofre pelo que é insubstituível substituí-lo pelo encorpamento de
sua conta bancária. Daí termos também, na nossa sociedade cínica, construído uma nova forma de
responsabilidade objetiva – a responsabilidade por danos morais à base de standards de moralidade
abstrata, já que a moralidade concreta já nem consegue se fazer ouvir, de tão debilitada que está."
PASSOS, J. J. Calmon de. O imoral nas indenizações por dano moral . Jus Navigandi, Teresina, a.
6, n. 57, jul. 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2989>. Acesso em:
01 jul. 2003.

4.4 - Em magnífica síntese a respeito dessa matéria, o então desembargador do


Tribunal de Justiça do RGS, Exmo. Sr. Dr. Décio Antônio Erpen, sustenta que “o direito
veio para viabilizar a vida, e não truncá-la”. O entendimento está exposto em acórdão
de uma demanda que tramitou na Comarca de Caxias do Sul-RS, onde ficou decidido:

“...A prevalecer a tese de sempre que houver mora, ou qualquer contratempo um


contrato, haveria o dano moral respectivo, estaríamos gerando um verdadeira indústria
dessas ações. Em breve teríamos um tribunal para decidir causas, e um Tribunal
especializado talvez denominado Tribunal do Dano Moral. A vida vai ser insuportável...
O direito existe para viabilizar a vida, e a vingar a tese generosa do dano moral sempre
que houver contratempo, vai culminar em truncá-la mercê de uma criação artificiosa.
Num acidente de trânsito haverá dano material, sempre seguido do moral. No atraso do
vôo haverá a tarifa, mas o dano moral será maior. Nessa nave do dano moral em
praticamente todas as relações humanas, não pretendo embarcar. Vamos atingir os
namoros desfeitos, as separações, os atrasos nos pagamentos. Ou seja, a vida a
serviço dos profissionais do Direito. Devemos pôr em prática mecanismo tal que
simplifique a vida, sem se estar gerando um estado generalizado de neurose do
suspense” (Apelação Cível nº 596.185.181, 6ª Câm.Civ. do TJRS j.05.11.96).

4.5 - O que se vê, no caso em tela, é uma verdadeira tentativa de enriquecimento


ilícito, às expensas da concessionária corré, empresa de reconhecida idoneidade e
que goza de elevado prestígio junto à comunidade pelotense e estadual.
Existe uma figura denominada como "abuso de direito", consubstanciada em
casos semelhantes, e brilhantemente definida pelo mestre Pontes de Miranda, senão
vejamos:

"Quem demanda pede justiça. Se, em vez de ser essa urgência de prestação
jurisdicional o que conduz ao foro o autor, é algum daqueles motivos que
prepondera, está composta a figura do abuso de direito, no campo processual. A
justa composição passou à segunda plana. Perverteu-se o processo. Conspurcou-
se o exercício da tutela jurídica ou a invocação da pretensão de declaração,
constituição, mandado ou execução. " (Comentários ao CPC, Ed. Forense, 1974, 1º
ed., pág. 388, tomo I).

4.6 - Não há, com o compulsar dos autos, qualquer alegação ou prova documental
que comprove ter havido uma verdadeira relação de causalidade entre os fatos
ocorridos e um "suposto dano moral" sofrido pelo Demandante. É requisito
indispensável que, para que se crie o dever de indenizar, tenha havido um fato
correlacionado à outro, o qual deu causa ao comportamento indesejado e que gerará
obrigação de indenizar.
Como nos ensina Yussef Said Cahali, em sua brilhante obra "Dano Moral", Ed.
Revista dos Tribunais, 2ª ed., 1998:

"Como em qualquer área da responsabilidade civil, põe-se em evidência como


pressuposto da obrigação de reparar o dano moral o nexo de causalidade entre a
ação ou omissão voluntária e o resultado lesivo;
...Portanto, em sede indenizatória por danos patrimonial e moral, mesmo levando-se
em conta a teoria da distribuição do ônus da prova, a cabência desta está ao encargo
do autor a provar o nexo causal constituidor da obrigação ressarcitória, pois,
inexistindo causalidade jurídica, ausente está a relação de causa e efeito, mesmo
porque actore non probante, reus absolvitur."

Ainda,, nunca a indenização pleiteada, - na eventualidade que seja concedida,


é bom frisar – poderá aproximar-se do pedido de 20 salários mínimos. Não há
razoabilidade alguma para que seja a Autora agraciada com tal vultoso valor.
Assim sendo, inexistindo comprovação fática e documental que existiu um
dano à moral da então Suplicante, é mister que se decrete a improcedência do feito.
EX POSITIS, com o auxílio da farta doutrina e jurisprudência mencionados,
bem como com o socorro dos princípios basilares do direito que constituem nosso
ordenamento jurídico, REQUER o acolhimento da preliminar e/ou, a total
IMPROCEDÊNCIA do feito, com a conseqüente condenação da Demandante nas
custas e honorários advocatícios, eis que deve ser revogado o beneplácito concedido.
Protesta pela produção de provas , oitiva de testemunhas, juntada de
documentos, depoimento pessoal da Autora, dentre outros.
Requer que todas as intimações sejam feitas em nome dos patronos Sérgio
José Abreu Neves, OAB/RS 2.636, Luís Otávio Aleixo Neves, OAB/RS 21.963, e
Eduardo Sayão Lobato Chapon, OAB/RS 48.029 sob pena de nulidade. Salienta, para
os fins legais, que seus procuradores recebem intimações na Rua Sete de Setembro,
178, Pelotas-RS, endereço eletrônico eduardochapon@advocacianeves.com.br

Termos em que
Pede e espera
DEFERIMENTO!

Pelotas, 04 de novembro de 2020

pp. Eduardo Sayão Lobato Chapon


OAB/RS 48.029

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