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Processo nº 50103105420208210022
CONTESTAÇÃO
1. SUMA DA DEMANDA
A Suplicante interpôs ação indenizatória contra a ora Suplicada e contra a corré
General Motors, objetivando que as mesmas sejam condenadas a ressarcir-lhe por
prejuízos materiais e danos extrapatrimoniais, em virtude de situação derivada da
aquisição de um veículo Chevrolet/GM Onix 1.O T, de propriedade da autora, adquirido
pelo valor de R$ 60.890,00 (sessenta mil, oitocentos e noventa reais), pagos através
da forma melhor descrita na exordial.
Em face de tal situação fática, o dito veículo teria sido removido algumas vezes
para as dependências da Uvel Ltda., desencadeando uma sucessão de fatos,
narrados de forma um tanto quanto fantasiosa na exordial.
Discorre sobre o fato de que o veiculo dado como parte do pagamento não ter
sido transferido de propriedade, na época, e em função disso, ter recebido uma
comunicação eletrônica de terceiros, sugerindo que o mesmo seria ainda de sua
propriedade.
2. PRELIMINARMENTE
Como prefacial, com base no art. 337, XI, NCPC, a corré Uvel sustenta a tese
de ilegitimidade passiva ad causam, pelas razões a seguir explanadas. Deixa de
cumprir o art. 339, NCPC, eis que a outra parte envolvida figura no pólo passivo.
Portanto, Douto Julgador, não há que se falar em conduta atípica e abusiva por
parte da empresa Ré, como falaciosamente consta na inicial.
Tal situação não deve, e não pode, passar incólume perante V.Exa.
3. DO MÉRITO
Portanto, Douto Julgador, não há que se falar em conduta atípica e abusiva por
parte da empresa concessionária. Todos os pleitos da Autora foram atendidos,
observados os prazos fixados pelo CDC, e a garantia legal das peças comercializadas
pela concessionária foi igualmente atendida. Ademais, as seguintes razões meritórias
servirão para elucidar ainda mais a questão, isentando a empresa ré de qualquer
responsabilidade pelo evento danoso.
- reparo do produto;
- substituição do produto;
Pelo exposto, resta de meridiana clareza que não houve agir culposo por parte
da primeira Suplicada, nem tampouco de seus prepostos, que tivessem o condão de
resultar em eventual indenização em favor do Suplicante.
E, corroborando nossa tese, nos parece que ainda que eventualmente seja
admitida a inversão do ônus da prova, a comprovação dos fatos constitutivos de seu
direito permanece sendo da Suplicante. Acerca do tema ônus probatório, leciona
Maristela da Silva Alves (Prova Cível, C. A. Álvaro de Oliveira et alii, Forense, RJ,
1999, 1ª ed):
“Como, no processo, a vontade concreta da lei só se afirma em prol de uma das partes, se
demonstrado ficar que os fatos, a partir dos quais promanam os efeitos jurídicos que
pretende, são verdadeiros, claro está que, não comprovados tais fatos, advirá para o
interessado, em lugar da vitória, a sucumbência e o não-reconhecimento do direito
pleiteado.
A necessidade de provar para vencer, diz Wilhelm Kisch, tem o nome de ônus da prova.
Não se trata de um direito ou de uma obrigação, mas de um ônus, uma vez que a parte a
quem incumbe fazer a prova do fato suportará as conseqüências e prejuízos da sua falta e
omissão.
(...).
Como os fatos indicados pelo autor são os elementos constitutivos do pedido que deduziu
em juízo, cabe-lhe o ônus de provar esses fatos para que sua pretensão seja acolhida e
julgada procedente. Quanto ao réu, os fatos que lhe incumbe provar são os que forem
invocados com impeditivos, modificativos ou extintivos do pedido do autor.
Donde dispor o art. 333 que o ônus da prova incumbe: ‘I – o autor, quanto ao fato
constitutivo do seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor’.” (In Manual de Direito Processual Civil, Millennium Ed., SP,
2000, 2ª ed., vol. II, pp. 267-9 – grifos no original).
4.2 - O que vimos nos dias de hoje é a chamada “indústria do dano moral”, forjando
e aumentando tal situação para levar vantagem monetária de tal acontecimento, não
tendo visivelmente o réu má intenção. Em artigo da cronista Martha Medeiros,
publicado em jornal da capital, sob o título “A LOTERIA DOS ESPERTOS”, onde em
subtítulo que resume o texto todo, afirma que “para não ter a dignidade colocada em
dúvida, é preciso parar com esses truques de dormir ofendido para acordar milionário”
Ainda que na remota hipótese de Vossa Excelência desconsiderar, por completo, os
argumentos antes esgrimidos, especificamente, no que tange aos alegados danos
extrapatrimoniais/morais postulados pelo Demandante em que pese a tentativa, não
logrou êxito em demonstrá-los, até porque inexistentes.
Em verdade, nenhum prejuízo que pudesse afetar a estabilidade emocional da
Demandante verificou-se nem muito menos foi provado, não estando presente
requisito indispensável para caracterização da responsabilidade civil, seja na disciplina
do Código Civil ou Código de Defesa do Consumidor, ou seja, o dano. Ademais, não
há porque responsabilizar-se a primeira demandada por pequenos infortúnios que
ocasionaram na remoção temporária do veículo à concessionária, onde sempre houve
o pronto atendimento dos pleitos da Autora.
No caso em análise, a Demandante postula indenização por supostos danos
extrapatrimoniais/morais, em razão de que afirma não ter sido reparado seu automóvel
na concessionária. Ressalte-se, não se está aqui a desconsiderar eventuais
transtornos suportado pelo Demandante/proprietário do veículo, ainda que a
ocorrência de alguns fatos narrados na exordial possam lhe ter trazido algum dissabor.
Todavia, tal dissabor e desconforto jamais poderá ser passível de ser indenizado a
título de danos morais, sob pena de flagrante enriquecimento sem justa causa, para
não dizer ilícito.
Portanto, resta por demais claro que os fatos narrados representam pequenos
transtornos, sem dúvida, mas não suficientemente hábeis a caracterizar dano moral
passível de indenização, já que, para tanto, deve restar configurado profundo gravame
na alma e psiquê humana que fuja da normalidade e interfira intensamente no
comportamento e no bem estar do indivíduo, o que, efetivamente, não se observa no
caso em tela.
Neste sentido, vem decidindo o Colendo Superior Tribunal de Justiça. Vejamos:
O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou
angústias no espírito de quem ela se dirige.
Recurso especial conhecido e provido.” (Recurso Especial 714.611/PB, 4ª turma do STJ, Relator
Ministro Cesar Asfor Rocha, publicado em 02/10/2006)
“Ressalto que o mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela
agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida causando fundadas aflições ou angústias no
espírito de quem ela se dirige, o que não se verifica na hipótese em comento.
Lembro, aqui, a lição de Sérgio Cavalieri Filho, em seu "Programa de Responsabilidade Civil" (Malheiros
Editores Ltda., 1996, p. 76), citando Antunes Varela pela qual "a gravidade do dano há de medir-se por um
padrão objetivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada caso), e não
à luz de fatores subjetivos (de uma sensibilidade particularmente embotada ou especialmente
requintada)" e "o dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de ordem
pecuniária ao lesado" .
Por isso é que, "nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento
ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente ao comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral" .
4.3 - Ocorre que, o dano moral não está existindo basicamente para resolver os
conflitos da sociedade, mas para benefício da própria parte visando seu benefício. Em
brilhante estudo sobre a matéria, o festejado Calmon de Passos assim nos ensina:
"Todo e qualquer dano insere em nosso existir um incômodo, algo que se soma à perda sofrida. Os
contratempos derivados do conserto do carro objeto de colisão, por exemplo, mesmo que sejam
pagas as despesas com a utilização de outro veículo, nosso quotidiano foi perturbado e algum
desconforto ocorreu que jamais teria ocorrido não fosse aquele ato causador do dano. O sofrimento e
o risco inerentes à cirurgia e ao tratamento a que tivemos de nos submeter etc. Assim sendo, é da
própria essência do dano esse acréscimo de desconforto e quebra de normalidade em nossa vida.
Será este o dano moral indenizável? Se a resposta for positiva, o correto seria acrescermos ao
gênero perdas e danos, além dos danos emergentes e dos lucros cessantes essa nova espécie,
representada pelo incômodo ou dor que todo dano determina. Seriam eles não danos morais, sim um
consectário inerente a todo dano material, devendo ser estimados em função desses mesmos danos
materiais. Se não é disso que cuidamos, o que será o dano moral puro, ou seja, possível de existir
inexistindo danos materiais ou que nenhuma relação mantém com os mesmos? Só nos resta afirmar
que nos situamos, aqui, no espaço do que se qualifica como valor, algo especificamente humano e
insuscetível de objetivação, salvo se considerado em sua legitimação intersubjetiva. Sem esse
consectário, torna-se aleatório, anárquico, inapreensível e inobjetivável. Não são os meus valores os
tuteláveis juridicamente, sim os socialmente institucionalizados, porque é da essência mesma do
direito seu caráter de regulação social da vida humana.
Essa minha percepção sempre me levou a não compreender o que seja a famosa reparação pela dor
experimentada por alguém, associada ao ato do sujeito a quem se atribui tê-la provocado e que, não
fora isso, jamais teria sido experimentada. Nada mais suscetível de subjetivizar-se que a dor, nem
nada mais fácil de ser objeto de mistificação. Assim como já existiram carpideiras que choravam a
dor dos que eram incapazes de chora-la, porque não a experimentavam, também nos tornamos
extremamente hábeis em nos fazermos carpideiras de nós mesmos, chorando, para o espetáculo
diante dos outros, a dor que em verdade não experimentamos. A possibilidade, inclusive, de
retiramos proveitos financeiros dessa nossa dor oculta, fez-nos atores excepcionais e meliantes
extremamente hábeis, quer como vitimas, quer como advogados ou magistrados. Para se ressarcir
esses danos, deveríamos ter ao menos a decência ou a cautela de exigir a prova da efetiva dor do
beneficiário, desocultando-a. Hipocritamente descartamos essa exigência, precisamente porque,
quando real a dor, repugna ao que sofre pelo que é insubstituível substituí-lo pelo encorpamento de
sua conta bancária. Daí termos também, na nossa sociedade cínica, construído uma nova forma de
responsabilidade objetiva – a responsabilidade por danos morais à base de standards de moralidade
abstrata, já que a moralidade concreta já nem consegue se fazer ouvir, de tão debilitada que está."
PASSOS, J. J. Calmon de. O imoral nas indenizações por dano moral . Jus Navigandi, Teresina, a.
6, n. 57, jul. 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2989>. Acesso em:
01 jul. 2003.
"Quem demanda pede justiça. Se, em vez de ser essa urgência de prestação
jurisdicional o que conduz ao foro o autor, é algum daqueles motivos que
prepondera, está composta a figura do abuso de direito, no campo processual. A
justa composição passou à segunda plana. Perverteu-se o processo. Conspurcou-
se o exercício da tutela jurídica ou a invocação da pretensão de declaração,
constituição, mandado ou execução. " (Comentários ao CPC, Ed. Forense, 1974, 1º
ed., pág. 388, tomo I).
4.6 - Não há, com o compulsar dos autos, qualquer alegação ou prova documental
que comprove ter havido uma verdadeira relação de causalidade entre os fatos
ocorridos e um "suposto dano moral" sofrido pelo Demandante. É requisito
indispensável que, para que se crie o dever de indenizar, tenha havido um fato
correlacionado à outro, o qual deu causa ao comportamento indesejado e que gerará
obrigação de indenizar.
Como nos ensina Yussef Said Cahali, em sua brilhante obra "Dano Moral", Ed.
Revista dos Tribunais, 2ª ed., 1998:
Termos em que
Pede e espera
DEFERIMENTO!