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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL

DA COMARCA DE SABARÁ – MINAS GERAIS.

AUTOS N.º: 5011315-79.2022.8.13.0567

JOSE VELOSO DE OLIVEIRA, já devidamente


qualificado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar
IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO, nos termos que passa a expor:

I. BREVE RELATO DOS FATOS

Trata-se de Ação de Nulidade Contratual c/c Indenização por Danos


Morais por empréstimo consignado, onde o Autor achou estar contratando um
produto e lhe foi entregue outro e devolveu o dinheiro que NÃO queria tomar
emprestado.

As partes contrárias falam sobre regularidade da contratação, mas este não


é o cerne da questão. Estamos diante de um vício de vontade que o autor pensou ter
corrigido com a devolução do dinheiro (conforme comprovante anexado à peça
exordial).

O Requerente foi vítima de um golpe. O que na verdade acreditava ser


cartão de crédito, era um empréstimo consignado não solicitado e não autorizado no
valor de e R$ 10.337,98 (dez mil e trezentos e trinta e sete reais e noventa e oito
centavos).

Ou seja, não estamos aqui a tratar apenas se a assinatura era dele ou não.
Isto é incontroverso. Ele assinou um contrato pensando ser uma coisa e era outra e
quando percebeu, devolveu o dinheiro e pensou ter resolvido o problema.

Meses se passaram quando o banco começou a debitar o empréstimo que


ele contratou sem querer (FOI LUDIBRIADO PELO REPRESENTANTE DA
REQUERIDA) E a preocupação dele foi majorada por que devolveu o dinheiro e
estão dizendo que ele está devendo.
II. DAS PRELIMINARES APRESENTADAS

DA EXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO – INTERESSE DE AGIR

Suscita a Requerida na preliminar de falta de interesse de agir e


requer a extinção do processo sem julgamento de mérito sob a alegação de que não
houve pretensão resistida.

No entanto, razão não lhe assiste! Ao contrário do que alega a Ré, o


Requerente entrou em contato via WhatsApp com o representante do BANCO PAN e
como ele contesta o pedido, é óbvio que há pretensão resistida. Estamos diante de uma
empresa que alega ser credora de um valor que foi devolvido.

Ademais, Decisão do CNJ no processo nº 0004447-26.2021.2.00.0000,


determinou que não pode ser exigido comprovação de tentativa prévia de negociação
pela parte, tendo em vista o Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição prevista no Art.
5º XXXV da CF, o qual garante que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito.

Desta feita, resta afastada a preliminar de falta de interesse de agir


suscitada pela Ré.

III- DA NÃO OCORRÊNCIA DE INÉPCIA A INCIAL

Alega ainda a Requerida, que a Parte Autora limita-se a alegar apenas


irregularidades, sem cotejar aos autos a mais simplista prova que pudesse respaldar a
instauração da lide. Os argumentos improcedem.

Nada mais equivocado que entender pela inépcia da inicial, eis que foi
expressamente relatado os valores do empréstimo consignado, os extratos dos
descontos no benefício do INSS, bem como o comprovante da devolução dos valores
no CNPJ da Requerida.

Percebe-se que a Requerida limitou-se apenas a levantar argumento


infundado, na tentativa de desviar o foco da questão – o empréstimo fraudulento.

IV- DA RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA

O autor, de fato, é considerado consumidor. Narrado na exordial, o Autor


contratou serviços de Cartão de Crédito, bom, acreditava ser de cartão de crédito, por
si só já configurado a relação de consumo, bem como a má prestação do serviço.
A falha na prestação de serviço da empresa quando unilateralmente,
realiza negócio diverso do pretendido, traduz-se em abusividade pela violação do
direito à informação adequada, é o que se extrai do art. 6°,IV, do CDC.

A relação jurídica havida entre as partes é essencialmente e flagrantemente


de consumo, pois se amolda perfeitamente às exigências do Art. 2º e 3º do CDC, razão
pela qual deve ser aplicado disposto no artigo 6º, inciso VIII do CDC que possibilita a
inversão do "onus probandi" em favor da parte inferiorizada, qual seja, o consumidor:

Artigo 6º: São direitos básicos do consumidor; (...);

Inciso VIII: A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive


com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências;

Outrossim, a inversão do ônus da prova é medida que se impõe, visto que o


autor não possui condições de produzir qualquer outro tipo de prova.

Neste sentido, enunciado das Turmas Recursais dos Juizados Especiais, no


que diz respeito à inversão do ônus da prova:

Enunciado 17: É cabível a inversão do ônus da prova, com


base no princípio da equidade e nas regras de experiência
comum, a critério do Magistrado, convencido este a
respeito da verossimilhança da alegação ou dificuldade
da produção da prova pelo reclamante. Sendo assim,
deverá ser aplicado do Código de Defesa do Consumidor
bem como mantida a inversão do ônus da prova.

V. DA NECESSIDADE RESTITUIÇÃO EM DOBRO/MÁ-FÉ

Conforme já demonstrado, o Requerente não realizou o empréstimo


consignado. Tamanha má-fé.
Dessa maneira, os valores descontados diretamente no benefício do autor
do devem ser devolvidos em dobro, por se tratarem de descontos ilegais, em
conformidade com o art. 42 do CDC.

A devolução em dobro é a restituição de indébito prevista no Código de


Defesa do Consumidor (CDC), conforme o artigo 42, parágrafo único do CDC, devida
quando o consumidor paga uma quantia proveniente de cobrança indevida.

É o que se lê do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor


inadimplente não será exposto a ridículo, nem será
submetido a qualquer tipo de constrangimento ou
ameaça. Parágrafo único. O consumidor cobrado em
quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido
de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de
engano justificável.

Verifica-se que houve descontos indevidos no benefício da parte autora, e,


nesta hipótese, não há que se falar em engano justificável por parte dos bancos réus,
haja vista que a má-fé está clara.

O Código de Defesa do Consumidor dispõe que a relação de consumo deve


ter como base o princípio da boa-fé objetiva, que representa o valor da ética, veracidade
e correção dos contratantes, devendo ser observado em todos os momentos do
contrato, desde a negociação até a execução.

Ainda disposto no CDC, em seu Art. 39, III, enviar ou entregar ao


consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço. O
que se reflete no caso em tela, uma vez que não houve solicitação dos valores
creditados em contato.

III. RESPONSABILIDADE CIVIL – DANO MORAL

Prevê o art. 6º, inciso VI, do Código de Defesa do Consumidor, que “são
direitos básicos do consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais
e morais, individuais, coletivos e difusos”. Diante da situação apresentada, e dos
documentos que acompanham a inicial, não resta dúvida quanto ao dever de
indenizar.

O Réu não agiu no exercício regular de seu direito ao efetuar descontos


mensais.
Vejamos: Tanto o ato ilícito quanto o ato abusivo são fonte do dever de
indenizar, quando o comportamento do agente seja passível de um juízo de censura. O
que se vê no caso presente, no momento em que a conduta das rés, na falha prestação
de seus serviços, causa danos ao autor que ultrapassam o mero dissabor cotidiano.

Aquele que por ação ou omissão viola direito ou causa dano a outrem, comete ato
ilícito, ainda que tal dano seja tão somente moral, de acordo com o Código Civil, em
seus arts. 186 e 187. Consequentemente, o causador do dano fica obrigado a repará-lo,
nos moldes do art. 927 do Código Civil.

A moral é reconhecida como bem jurídico, recebendo dos mais diversos


diplomas legais a devida proteção, inclusive amparada pelo art. 5º, V, da Constituição
Federal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, o Autor impugna todos os fatos e documentos colacionados nas


Contestações, eis que todo conjunto probatório dos presentes autos é claro ao
demonstrar a responsabilidade dos Requeridos.

Ademais, requer a condenação do réu em litigância de má-fé, pelos motivos


já expostos, e requer a procedência de todos os pedidos da inicial.

Termos em que,
Pede deferimento.

Belo Horizonte/MG, 02 de março de 2023.

DANIEL DIAS ARAÚJO DE OLIVEIRA PAIVA

OAB/MG 108.638

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