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O INSS informou que houve descontos no benefício previdenciário da parte autora, promovidos pela parte
ré (id. 72070156).
O juízo determinou à ré informar como se deu o levantamento do valor depositado na conta da parte autora,
no entanto, aquela apenas informou não possuir mais imagens ou vídeos do fato.
Após sucessivas tentativas de se ouvir o gerente José Pedro Costa dos Santos, o banco não forneceu os
dados necessários para a intimação daquele, sob a alegação de que este já não mais atua na instituição.
É o relatório. Decido.
Preliminares afastadas.
Friso, ainda, que é de rigor a aplicação ao caso dos ditames do código de defesa do consumidor.
O objeto da lide cinge-se a aferir se existe contrato válido e regular apto a justificar os descontos no
benefício previdenciário da parte autora.
A parte requerente afirma que não celebrou o(s) negócio(s) jurídico(s) debatido(s) nos autos.
Quanto ao(s) contrato(s) que alega não ter assinado, registro, inclusive, que não há como exigir da parte
Em caso como o dos autos, em que se questiona a existência de negócio jurídico, cabe àquele que sustenta a
sua validade, comprovar a sua existência através de documentos hábeis. Destaco, até mesmo, os termos da
súmula nº 132 do TJPE, que leciona que “é presumida a contratação fraudulenta quando, instado a se
manifestar acerca da existência da relação jurídica, deixa o réu de apresentar o respectivo contrato”, sendo
certo que, diante da fraude, é de aplicar-se os termos da súmula nº 479 do STJ que informa que “as
instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a
fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias”.
Citada, a instituição financeira alegou que age no exercício regular de direito. Para comprovar sua tese,
mesmo diante da alegação da parte autora de que teria sido vítima de fraude perpetrada por funcionário da
instituição, apontando inclusive quem teria sido, de forma nominada, a ré limitou-se a juntar aos autos
contrato que teria dado origem ao negócio jurídico objeto da lide.
Cumpre salientar que embora tenha sido realizada perícia grafotécnica, a qual atestou que a assinatura foi da
autora, a sua alegação convicta de fraude, a qual sustentou inclusive indicado especificamente o funcionário
que teria assim procedido com ela, fragiliza a tese da parte ré, diante das circunstâncias do caso concreto,
muito peculiar, por sinal, sendo certo ainda que ao juiz cabe avaliar os elementos probatórios constantes dos
autos mediante livre convencimento fundamentando, não se vinculando a eventual perícia declinada no
processo. Este juízo determinou cumprimento de diligências em despacho, não obstante, a ré não juntou
fotos e vídeos do momento da celebração do contrato.
Outrossim, caberia à própria instituição fornecer os elementos necessários, como endereço ou, pelo menos,
CPF do gerente, indicado pela autora, que teria procedido à contratação fraudulenta, uma vez que, se não é
mais seu funcionário, já foi, de modo que devia possuir os dados pessoais daquele. No entanto, apesar de
expressamente intimada, inclusive sendo-lhe concedida prazo dilatado, não forneceu o requisitado por este
juízo.
Diante de tais fatos, é curial a declaração de inexistência da relação jurídica, devendo as partes voltar ao
status quo ante.
Da restituição em dobro:
Quanto ao pedido de repetição de indébito, tenho que também merece prosperar. Nesse contexto, deverá a
parte requerida proceder com a restituição em dobro dos valores indevidamente descontados do benefício
previdenciário da parte autora, na forma do art. 42, parágrafo único, do CDC, a ser apurado na fase de
execução.
Registro, inclusive, que o STJ uniformizou entendimento, ao concluir o julgamento dos Embargos de
Divergência 1.413.542, definindo que a devolução em dobro é cabível "quando a cobrança indevida
consubstanciar conduta contrária à boa-fé objetiva" – ou seja, independentemente da demonstração de má-fé
por parte do fornecedor, situação que vislumbro no caso, ante o descompromisso da instituição bancária,
Há, inclusive, afetação do Recurso Especial 1.823.218 para fixação de tese vinculante, no sentido acima
esposado.
Destaco, inclusive, que, não obstante tenha assessoria jurídica altamente qualificada, o que implica na
impossibilidade de alegação de desconhecimento dos preceitos legais, a parte requerida, ainda assim,
procede com conduta indevida, causando prejuízos a consumidores hipossuficientes. Também é de se frisar
que não estamos diante de hipótese de engano justificável, sendo certo que a restituição em dobro deve
prevalecer.
Nesse contexto:
Noutro prisma, quanto aos danos morais, não resta dúvida de que a parte autora sofreu mais do que
aborrecimentos e dissabores com a conduta da ré, que procedeu a descontos em seu já minguado benefício
previdenciário, limitando, por consequência, seu poder aquisitivo, bem como a possibilidade de aquisição de
produtos materiais para melhor satisfazer suas necessidades pessoais, o que por cento finda por violar a o
princípio da dignidade da pessoa humana.
Neste contexto, deve o Judiciário atuar prontamente, buscando a compensação do contratempo sofrido, além
de objetivar coibir novas ações ilícitas do réu.
Podemos dizer que a ofensa moral, que se manifesta intrinsecamente na vítima, é o prejuízo absorvido pela
própria alma humana, como dor, angústia, tristeza, sofrimento, insônia e afins, sendo tal reparação tutelada
no art. 5º, incisos V e X, da CF/1988.
Tem-se entendido hodiernamente que a indenização por dano moral representa uma compensação, ainda que
pequena, pela tristeza infligida injustamente a outrem.
No caso, basta a comprovação do comportamento lesivo do réu para a caracterização do dano moral (Dano
moral in re ipsa).
Nesse sentido:
Quanto ao valor da indenização pelo dano moral sofrido, entendo, de acordo com o posicionamento da
doutrina e jurisprudência dominante, que não deverá ser determinado de forma exagerada, caracterizando
um enriquecimento sem causa da vítima ou um empobrecimento injusto do ofensor.
Acrescenta ainda:
”De igual forma deve o magistrado se atentar para a posição social da pessoa ofendida, o grau
de culpa do ofensor, verificando, ainda, a capacidade econômico-financeira do causador do
dano, de modo a não se fixar uma quantia irrisória em favor do ofendido, o que demonstraria
efetiva injustiça.” (V. Ob. Cit., p. 69)
Não havendo critérios específicos para determinar o valor do dano moral sofrido pela autora, deve-se adotar
para o caso em particular a regra preconizada no Código Civil, segundo o qual, nos casos não previstos no
capítulo que dispõe sobre liquidação das obrigações resultantes de atos ilícitos, a indenização será fixada por
arbitramento.
Deve, pois, ser arbitrado em valor que sirva tanto de punição e desestímulo para o infrator, como de
compensação à vítima pelos danos sofridos:
Deve a instituição financeira, sob o prisma da responsabilidade objetiva, sofrer as consequências dos danos
causados em virtude da natureza por ela desenvolvida. Aplicação da teoria do risco do empreendimento. O
ônus decorrente do desempenho da atividade deve ser suportado pelo banco, não pelo cidadão de bem, como
a autora.
Nesta linha, flagrante o dano moral suportado pela parte demandante, que teve parte de seus minguados
rendimentos descontados indevidamente, limitando seu poder de compra e dificultando o dia-a-dia dos já
sofridos aposentados.
Ante o exposto, em face da conduta indevida da parte ré, englobando os dois processos aqui analisados, o
pedido de indenização por danos morais merece ser atendido, para condenar o demandado ao pagamento de
indenização por danos morais em favor da autora, que arbitro no valor R$ 8.000,00 (oito mil reais), ante a
exacerbada conduta da parte ré.
Outrossim, vale lembrar que nos termos da Súmula 326 do STJ, “Na ação de indenização por dano moral, a
condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica em sucumbência recíproca”.
Isto posto, atento ao mais que dos autos consta, com fulcro no art. 487, I, do CPC, JULGO
PROCEDENTES os pedidos deduzidos pela parte autora, para o fim de:
A fim de evitar enriquecimento sem causa, eventual valor que tenha sido depositado na conta da autora
deverá ser objeto de compensação.
Em juízo de cognição exauriente, ratifico a decisão que concedeu a tutela de urgência nos autos do PJe n.º
377-67.2019..17.2390, e defiro o pedido de tutela de urgência formulado nos autos do PJe n.º 378-
52.2019.8.17.2390, fixando o prazo de 10 (dez) dias para que a demandada proceda à suspensão das
cobranças oriundas do contrato objeto da lide, bem como se abstenha de inserir apontamento do nome da
autora em órgãos de proteção ao crédito em virtude deste, sob pena de multa de R$ 200,00, limitada ao teto
de R$ 10.000,00. Outrossim, terá o mesmo prazo para suspender eventuais descontos, sob pena de multa de
R$ 500,00, limitada ao teto de R$ 20.000,00, para cada desconto implementado após o lapso. Intimem-se as
partes acerca desta decisão. Diante da fixação de astreinte, deverá a parte requerida ser intimada
pessoalmente.
Intime-se a parte requerida para pagamento da taxa e custas processuais no prazo de 15 dias, contados do
trânsito, sob pena de acréscimo de multa de 20%, na forma do art. 22 da Lei estadual 17.116/2020. Não
havendo pagamento, acrescida a multa, comunique-se à fazenda pública estadual para inscrição em dívida
ativa. Havendo enquadramento à hipótese normativa, comunique-se, ainda, ao Comitê Gestor de
Arrecadação do TJPE.
Advirta-se a parte autora que eventual cumprimento de sentença deve ser protocolado apenas no PJe n.º 378-
52.2019.8.17.2390.