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PODER JUDICIÁRIO

ESTADO DA PARAÍBA
COMARCA DE CONCEIÇÃO – 1ª VARA
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL

SENTENÇA
Vistos, etc.

Dispensado o relatório, ante o permissivo contido no


art. 38 da Lei Nº 9.099/95.

Fundamento e decido.

O diploma instrumental civil disciplina que o magistrado


deve velar pela rápida solução do litígio, bem assim que julgará antecipadamente o
pedido quando não houver necessidade de produção de outras provas, nos termos do art.
354, II, do NCPC1.

Na hipótese, não há necessidade de dilação probatória,


bem como é improvável a conciliação, de modo que em homenagem aos princípios da
economia processual e da celeridade, é imperativo julgar antecipadamente a lide.

É claro que, caso o magistrado entenda que a prova


carreada aos autos não é suficiente para firmar sua convicção, pode determinar a
produção de provas ou a dilação probatória normal do processo.

DO MÉRITO

Nesse instante necessário se mostra ressaltar que


dúvidas não restam de que a relação estabelecida pelas partes tem natureza
consumerista, razão pela qual se impõe a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.
Ressalte-se, ainda, a nítida desigualdade entres as partes contratantes, notadamente as
de caráter técnico e jurídico.

Narra o promovente, pessoa idosa, que nunca celebrou


os contratos que originarram as dívidas cobradas - 13,80 (Treze reais e oitenta centavos)
198,80 (Cento e noventa e oito reais e oitenta centavos) 18,50 (Dezoito reais e cinquenta
centavos) 27,58 (Vinte e sete reais e cinquenta e oito centavos) 41,51 (Quarenta e um
reais e cinquenta e um centavos) 17,60 (Dezessete reais e sessenta centavos) 143,15
(Cento e quarenta e três reais e quinze centavos) - alegando que foi surpreendido com os
desontos em seus parcos recursos, provenientes do benefício previdenciário que percebe
mensalmente, o que seguramente gerou prejuízo e constrangimento.
1
Art. 355.  O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
A instituição financeiroa promovida, no entanto, limita-se a
alegar que houve a celebração de contrato, sem no entanto, juntar ao autos qualquer
documento que demostre documentalmente o alegado.

Ademais, conforme declarado pela autora, em seu depoimento


pessal, não celebrou qualquer empréstimo com a promovida.

Assim, dúvidas não restam de que a negativação realizada


pela promovida mostrou-se indevida uma vez que o promovente nunca realizou qualquer
transação comercial para justificar a cobrança, mostrando como medida imperiosa o seu
imediato cancelamento.

Vejamos o seguinte julgado que oferecem respaldo ao


entendimento aqui adotado:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS DE CARTÃO DE CRÉDITO. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. DÉBITO INEXISTENTE. FRAUDE. AUSÊNCIA DE PROVA DE
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA/TERCEIRO. DESCONTOS INDEVIDOS.
INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. TERMO INICIAL. JUROS LEGAIS. - Do dever de
indenizar: são pressupostos da caracterização de dano moral a comprovação da
ocorrência do dano, a culpa ou o dolo do agente e o nexo de causalidade entre o
agir dos réus e o prejuízo causado à vítima. Presentes tais provas, viável deferir-
se a reparação, o que se verifica na hipótese dos autos quando ausente
prova da culpa exclusiva do autor e/ou de terceiro, por existentes
mecanismos aos demandados capazes de evitar a ocorrência da fraude
sofrida. Trata-se, em realidade, de risco inerente à própria atividade do réu,
inexistindo, outrossim, culpa exclusiva do consumidor, pois a falha nas
cautelas do demandado cooperou, de forma decisiva, para com a ocorrência
dos fatos. Dano moral in re ipsa. Sentença confirmada. - Do quantum: majorada
quantia arbitrada a título de indenização por danos morais, em face do caso
concreto e do entendimento adotado por esta Câmara. - Do termo inicial: os juros
de mora devem incidir a partir da prolação do acórdão, por ser o momento em que
o título executivo judicial se constitui, bem como, eventual mora do devedor. - Da
devolução de valores: havendo provas de que os descontos foram indevidos e,
ainda, que continuaram a serem realizados em descumprimento à decisão judicial,
correto se falar em devolução em dobro das quantias pagas indevidamente. - Da
sucumbência: redimensionados os ônus sucumbenciais, face ao resultado do
julgamento. PROVIDO PARCIALMENTE O RECURSO DO BANCO E PROVIDO O
RECURSO ADESIVO DA AUTORA. (Apelação Cível Nº 70050318344, Vigésima
Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Breno Beutler Junior,
Julgado em 11/09/2012)

Destarte, a compreensão aqui adotada encontra supedâneo na


Jurisprudência do STJ, nos termos do Enunciado Sumular nº 479 do C. STJ:

Súmula Nº 479: As Instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos


gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias".

Desta feita, a restituição é, pois, imperiosa. Resta perquirir se


esta deverá ser simples ou em dobro. O parágrafo único do artigo 42 do CDC estabelece
que “O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por
valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros
legais, salvo hipótese de engano justificável.”
Entretanto, é de bom alvitre colacionar o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, o qual sedimentou a orientação que compreende que a devolução
dos valores pagos indevidamente devem ser efetuadas em dobro, somente quando restar
evidenciado a má fé do credor, o que não se demonstrou nos autos.

Nesse sentido, trago à colação, o seguinte aresto:

RECLAMAÇÃO. DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃO DE TURMA RECURSAL


ESTADUAL E AJURISPRUDÊNCIA DO STJ. RESOLUÇÃO STJ N. 12/2009.
CONSUMIDOR.DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO. NECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DA MÁ-FÉDO CREDOR.(...)2. A egrégia Segunda Seção
desta Corte tem entendimento consolidado no sentido de que a repetição em
dobro do indébito, prevista no art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa
do Consumidor, não prescinde da demonstração da má-fé do
credor.42parágrafo único Código de Defesa do Consumidor3. Reclamação
procedente.(STJ RCl4892 PR 2010/0186855-4, Relator: Ministro RAUL ARAÚJO,
Data de Julgamento: 27/04/2011, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação:
DJe 11/05/2011)

Assim sendo, dúvidas não restam de que se impõe à ré a


obrigação de restituir a demandante, na forma simples, os valores indevidamente
descontados.

No que pertine ao requerimento de indenização por danos morais,


vislumbro a presença dos pressupostos para responsabilização civil.

Em se tratando de relação de consumo, a responsabilidade do


fornecedor ou prestador de serviço por fato do produto ou do serviço é objetiva, visto que,
conforme salientado alhures, o CDC adotou a teoria do risco da atividade econômica
como regente da responsabilidade civil.

Assim, irrelevante se mostra a existência ou não de culpa na


conduta, ação ou omissão, do promovido, posto que, no caso em tela, a culpa e/ou dolo
não integram os requisitos da responsabilidade civil.

Sabe-se, entretanto, em virtude de construção jurisprudencial e


orientação doutrinária, que a verba deve ser suficiente para compensar o lesado pelo
constrangimento sofrido, bem assim, no caso específico das relações de consumo, fixada
em patamar que desestimule o fornecedor a reincidir na lesão.

A jurisprudência recomenda ainda a análise da condição


econômica das partes, a repercussão do fato e a conduta do agente para a justa
dosimetria do valor indenizatório.

Tendo em conta tais critérios e, considerando que a promovida,


ao que consta da petição inicial e pelo que se extrai da instrução processual, fixo a verba
indenizatória em R$ 3.000,00 ( três mil reais).

DISPOSITIVO

Ante ao exposto, por tudo mais que dos autos consta, e com
fulcro no art. 487, I do NCPC, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado na inicial, pelo
que: 1. CONFIRMO a tutela de urgência anteriormente concedida; 2. DECLARAR
INEXISTENTE A DÍVIDA discutida nestes autos; 3. CONDENAR a empresa ré a pagar à
parte autora, na forma simples, o valor correspondente as parcelas, indevidamente
descontada nos proventos do promovente, correção monetária incidente desde o evento
danoso (observar as datas de pagamento) e juros de mora de 1% ao mês, incidente
desde a citação, por se tratar de responsabilidade contratual; 4. CONDENAR a empresa
ré a pagar à parte autora, a título de danos morais, indenização no valor de R$ 3.000,00
(três mil reais), valor esse a ser acrescido de juros moratórios de 1% (um por cento) ao
mês, à partir da data do fato sendo ainda corrigido pelo INPC, a partir da data desta
sentença2.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Sem custas e honorários, ex vi art. 55 da Lei Nº 9.099/95.

Retifico pólo passivo da lide, devendo figurar apenas o


BANCO BRADESCO S/A, inscrito no CNPJ/MF sob número 60.746.948/0001 -12.
Anotações cartorárias.

Aguarde-se o trânsito em julgado. Após, ARQUIVE-SE com


baixa na distribuição, independente de nova conclusão. Demais diligências necessárias.
CUMPRA-SE.

Conceição, assinatura eletrônica

Antonio Eugênio Leite Ferreira Neto


Juiz de Direito

2
STJ - SÚMULA Nº 362 - A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do
arbitramento.

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